Mário Zavagli

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Mรกrio Zavagli GRAVURAS & AQUARELAS


Exposição: 18 de março a 14 de junho de 2015 terça a sábado - 10h às 20h Minas Tênis Clube Centro Cultural domingo e feriado 11h às 19h Rua da Bahia, 2211 Funcionários Entrada gratuita Belo Horizonte-MG informações: centroculturalminastc.com.br Galeria de Arte do Centro Cultural Minas Tênis Clube


É com satisfação que a Galeria de Arte do Minas Tênis Clube, que integra o Centro Cultural da instituição, recebe a mostra do artista Mario Zavagli, “Gravuras e Aquarelas” ,que apresenta especialmente paisagens do interior das Minas Gerais, inspiradas em peças feitas pelos viajantes que percorreram o Brasil no século XIX. Nesse período da história do país foram organizadas, por missões diplomáticas, expedições científicas com o objetivo de responder à curiosidade dos povos europeus acerca da exuberância natural de flora e fauna do Brasil. Os pintores e desenhistas produziam, sob a técnica da aquarela e do óleo, obras que mostravam para o velho mundo o território brasileiro com sua riqueza. Para o Minas Tênis Clube, “Gravuras e Aquarelas” é uma exposição que representa uma homenagem às Minas Gerais . Desde o seu nascimento, há 80 anos, o clube leva o nome de nosso estado para todo o país, e essa mostra faz o mesmo, a partir do momento em que o artista escolheu retratar cenários cotmo a Serra da Mantiqueira e a cadeia do Espinhaço. As 36 obras de Zavagli compõem a quinta exposição da Galeria de Arte do Minas Tênis Clube, que se consolida na capital mineira como um importante espaço de exposição e valorização das artes visuais. O sucesso das mostras ocorridas aqui vem afirmar a importância da cultura como um dos quatro pilares de nossa instituição octogenária. Aprecie as gravuras e aquarelas, e faça uma viagem nos céus e nas árvores, nas cores e caminhos de nossas paisagens . Luiz Gustavo Lage Presidente do Minas Tênis Clube


Serra do Espinhaço com o Pico do ItambÊ - Diamantina


A cifra do visível Angelo Oswaldo de Araújo Santos Desde o início da era moderna, ao deixar o patamar metafísico e religioso sobre o qual se sagrara nas origens, a arte ganhou nova função e um lugar outro na consciência cultural dos povos. Tornou-se ciência, na construção hegeliana da estética, e distanciou-se da transcendência do belo absoluto. A reflexão conceitual e o juízo teórico passaram a prevalecer sobre a emoção e a admiração ancestrais, gerando um novo “pathos”. Na contemporaneidade, o olhar que mira a obra de arte se adestra nas normas técnicas pertinentes às aparições variadas das formas artísticas em simulação plana ou volumétrica, pintura ou escultura. Logo recolhidas aos registros do enciclopedismo virtual da era cibernética, as obras de arte se enredam na ação espetacular e efêmera das performances e instalações. As manifestações constituem, assim, conteúdos do universo documentário da cultura do nosso tempo, conforme acentua o estudioso francês Jean-Claude Chirollet , em Les mémoires de l’art (1998). Mas, no imenso mosaico da criação atual, expressões que advêm da tradição do fazer artístico parecem renovadas, em frescor e vitalidade, ao ultrapassarem as barreiras interpostas seja pela arte conceitual, seja pela arte de massa. O aparente esgotamento de determinados meios e suportes é contraditado pela plenitude vital que a realidade vem revelar no desempenho de artistas que sustentam a energia de linguagens como o desenho e a pintura. É nesse espaço, bem mais amplo e arejado do que se imagina, que Mário Zavagli desenvolve seu trabalho com a aquarela.


O desenho de Zavagli, ao construir paisagens das terras altas brasileiras, buscadas, sobretudo, nos panoramas do Sul de Minas, perturba o espectador, inquieta-o, despertando-o para uma dimensão que parecia distante ou perdida, aprofundada, agora, de modo fascinante, em manchas de água sobre papel. Em suas aquarelas, Zavagli recoloca a questão primordial da pintura, cuja interrogação se dirige, como diz Merleau-Ponty, à “gênese secreta e fervorosa das coisas do nosso corpo”. Marx Ernest afirma que “o papel do pintor consiste em cercar e projetar o que nele se vê”. Por isso mesmo, completa Merleau-Ponty, tantos pintores dizem que as coisas os olhavam, pintando porque o mundo gravou neles “a cifra do visível”. Mário Zavagli traz em si as paisagens que desenha. Mineiro de Guaxupé, o artista conviveu, na infância, com a intensa luminosidade em que se suspendem e flutuam as montanhas de sua região natal. “É a própria montanha que, dali, se dá a ver ao pintor, é ela que ele interroga com o olhar”, pedindolhe que “desvele os meios, apenas visíveis, pelos quais ela surge monttanha aos nossos olhos”. As palavras do crítico francês, em seu derradeiro ensaio (O olho e o espírito, 1960), iluminam a visão do pintor e traduzem à perfeição o fenômeno da sua criação artística. “O olho é que foi comovido por um certo impacto do mundo e o restitui ao visível através dos traços da mão”. A devolução, na série de aquarelas de Zavagli, reveste-se de uma aura de radioso encantamento. A paisagem montanhosa e verdejante que se deixa captar vai produzir, na mirada do artista e no seu gesto criador, uma nova existência visual, que aos olhos do espectador se entrega em sedutora cumplicidade.





Não há alusões ao hiperrealismo. Tampouco se trata de ilusionismo ou academicismo, que o pintor exerceria em favor de lances virtuosísticos, senão prática da pintura em sua essência. Mário Zavagli é pintor e foi para continuar a sê-lo que se devotou à aquarela. Adotou-a no momento em que se viu obrigado, por irrecusável determinação médica, a se afastar das tintas que começavam a impregnar-lhe o organismo, tal como fizeram com Cândido Portinari (1903-1962). Zavagli reagiu pictoricamente, pensando pintura, como Cézanne. Caindo em suas mãos, de modo providencial, um livro sobre a obra do austríaco Thomas Ender (1793-1875), que veio para o Brasil em 1817, na comitiva da arquiduquesa e futura imperatriz Leopoldina, o pintor mineiro foi arrebatado pelas aquarelas que ali se reuniam, enquanto a memória da luz, das sombras, reflexos, formas e cores do Sul de Minas significava-lhe que tudo parece ter só mesmo existência visual. Era preciso empreender o resgate e a restituição daquelas imagens tão intimamente caras que se tinham abrigado no fundo de suas lembranças. Sobre o jovem Ender, recorde-se que chegou ao Rio de Janeiro ao lado dos cientistas Spix e Martius e do pintor francês Pallière, integrando a missão artística que acompanhou a noiva austríaca do príncipe dom Pedro. A paisagem brasileira instigou-o de tal forma que realizou dezenas de aquarelas, fixando esplêndidos cenários das províncias do Rio de Janeiro e São Paulo. Teria feito uma única vista de Ouro Preto, provavelmente a partir de desenho que lhe fora passado por outro artista.


Serra da Mantiqueira - Muzambinho


A aquarela, que é pintura sendo desenho, permitiu a Mário Zavagli a permanência desejada no território da cor. Inspirada nos registros do viajante europeu deslumbrado ante a visão do trópico, a obra atual contrapôs ao acento cientificista do Oitocentos uma sensual e prazerosa contemplação da natureza, fonte de repouso sereno e delicioso alumbramento, igualmente transferidos ao espectador no flagrante da nova visualidade. Sobre o rigor do naturalista, eis que prevalece a dimensão poética da criação plástico-visual. A exasperação em que hoje se debate a produção da arte absorve e expele sintomas graves de saturação da indústria cultural e de aprofundamento da crise civilizatória. Quando amplas vertentes se aproximam do vazio, ou nele mergulham, esse nada parece indicar, antes de reações radicais no rumo da hipocrisia, o reabastecimento de energia encontrável em caminho como o que trilha Mário Zavagli. A outrem talvez tivesse sido mais propícia, longe do veneno dos óleos, a viagem ao mundo das instalações e dos computadores, em torno do qual gravitam as tendências da hora. Fiel à pintura, Zavagli confere à aquarela uma vibração impressionante, fruto da própria seiva que ela lhe veio purificar. O escapismo virtual não seria resposta à sensibilidade de um artista como Mário Zavagli. As aquarelas vieram traduzir, e o fazem cada vez mais entranhadamente, a paixão da pintura. A arte, para ele, é a expressão visível do visto e do imaginado, quer nas paisagens trazidas para as aquarelas, quer nas telas grandes que voltou a compor. Para tanto, é necessário pintar, entregar-se à pintura como exercício vital e irrevogável.


Cachoeira Grande - Serra do Cip贸


legenda das aquarelas pico do ItambĂŠ



Há uma atmosfera rica de sentimento nas imagens de Zavagli. A qualidade do desenho prepara o advento da cor, através das sutilezas da aquarela. A memória insinua o sopro de uma brisa nostálgica a correr pelos vales verdes, e uma tensão oblíqua, quase imperceptível, percorre a cumeada dos morros. A luz explora todos os recursos generosos da aquarela para se deleitar em sua claridade sem igual, aproveitando as nuanças da cor que o papel absorve, como a relva à pequena chuva na tarde de sol. É nessa silenciosa vibração que as aquarelas alcançam o potencial extremo de sedução, atraindo o espectador pela magia da visualidade que lhe é descortinada sobre “o instante do mundo” que a obra de arte continuará a emitir pelo tempo. É um prazer ver de novo essas obras à disposição do público. O espectador vai fruir, entre surpreso e emocionado, na beleza das paisagens mineiras que se estendem nas aquarelas de Mário Zavagli, sensações que irão remetê-lo ao mítico enlevamento da obra de arte, recuperando a alegria do belo belo sob o manto da indizível angústia de que se tecem a luminosidade e as vastidões montanhosas de Minas.


Serra do Espinhaรงo - Itabirito


Cachoeira dos Cristais - Diamantina





CemitĂŠrio do Carmo - Diamantina I


CemitĂŠrio do Carmo - Diamantina II



Cachoeira da Sentinela - Diamantina


Serra do Itatiaiuรงu


Serra do Espinhaço com Pico do ItambÊ - Diamantina


Serra do Espinhaรงo com Caminho dos Escravos - Diamantina






Quatro árvores – três pinheiros e um cipreste


Cachoeira da Toca -Diamantina


Serra do Espinhaรงo com Caminho dos Escravos - Diamantina



Serra em Guaxupé



Mário Zavagli Guaxupé (MG) Pintor,desenhista e gravador,é professor adjunto dos ateliers de Pintura da Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais. Ao longo de sua carreira realizou 36 exposições individuais, participando de mostras coletivas e salões de arte em vários estados brasileiros, e também na Alemanha, Áustria, França, Bélgica, Espanha, Portugal, Grécia, Argentina, entre outros países. Vive e trabalha em Belo Horizonte.


CENTRO CULTURAL DO MINAS TÊNIS CLUBE Luiz Gustavo Lage Presidente Sílvia Rubião Diretora de Cultura Wanderleia Magalhães Gerente de Cultura CRÉDITOS: Projeto expográfico: Mário Zavagli e Guilherme Horta Digitalização e impressão das gravuras: Studio Anta Montagem: Gestalt Apoio à montagem: Gerência de Cultura Projeto gráfico/Programação visual: Mário Zavagli e Guilherme Horta Assessoria de imprensa Gerência de Comunicação Impressão de catálogo: Rona Editora


Essa exposição é dedicada à Dulce Maria Ribeiro

Agradecimentos especiais: Angelo Oswaldo de Araújo Santos Guilherme Horta Paulo Laender

Agradecimentos: Fabrício Fernandino Helvécio Belizário Maxwell Telles

realização:


Centro Cultural Minas TĂŞnis Clube Galeria de Arte - CF5 - Rua da Bahia, 2244 30.160-012 - Lourdes - Belo Horizonte - MG www.centroculturalminastc.com.br


capa: Cachoeira da Sentinela- Diamantina (detalhe)



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