Duna n 11

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N. 11, 2017

DUNA

Eros X Tanathus

BELCHIOR NÃO CANTA MAIS Francis Amaral CARTÕES POSTAIS Kézia Lenderly PARTITURAS RARAS Schafer Junior

MEMORIAIS Carmen Fossari

FULGAZ Carla Gradin


Martin Copertari – In Excess of love.


Tanathus, Estรกtua do Museu de Florence


EDITORIAL

DUNA

Amar e morrer, uma sina humana tão impregnada em

nossas essências quanto respirar. Os encontros e despedidas são tantos e tão marcantes, nada será esquecido. As almas se encontrarão? Pois nós queremos estar para sempre juntos. Nestes pensamentos de intensidade, finitude e paixão foi onde a revista DUNA buscou inspiração para a sua décima primeira edição, intitulada: Eros X Tanathus. Como matéria de capa, a jornalista Francis Amaral nos emociona com uma carta de despedida do maior cantor que poderíamos perder nesse momento, Belchior que nos deixa, e se despede nos presenteando com um gigantesco patrimônio cultural. Aplaudido internacionalmente, desconhecido por muitos. Um místico, um mistério. No Caderno de Viagens, temos ainda uma produção original de cartões postais produzidos por Kézia Lenderly, que ilustram um pouco da magia de Florianópolis. No Caderno de Estilo & Moda Carla Gradin inova com ousadia e bom gosto, muita atitude e inovação. Participação dos modelos: Fernando Weber, Jan Migdał, Mariana Peña e Morgana Neuls Mayer. Propomos para esta edição um caderno de coleções, onde Schafer Junior nos mostra um pouco de suas seleções de operas raras. Temos capas e trechos de partituras de clássicos, encontrados em poucos catálogos do mundo. Encerramos sempre com a nossa amiga Carmen Fossari, com a poesia: Memoriais.


SUMÁRIO CAPA Francis Amaral, p. 01 BELCHIOR NÃO CANTA MAIS ESTILO & MODA Carla Gradin, p. 12 FULGAZ COLEÇÃO Schafer Junior, p. 27 PARTITURAS RARAS

DUNA

VIAGENS Kézia Lenderly, p. 08 PRODUÇÃO DE CARTÕES POSTAIS TEATRO & POESIA Carmen Fossari, p. 35 MEMORIAIS


EROS X

TANATHUS

NORMAS PARA PUBLICAÇÃO: A revista DUNA publica originais de autores convidados e também daqueles que desejam submeter seus trabalhos por iniciativa própria. As contribuições são avaliadas pela Comissão Editorial, por meio de revisão às cegas, reservando-se o direito da revista de propor modificações com a finalidade de adequar os artigos e demais trabalhos aos seus padrões editoriais. Os interessados em participar publicando nas futuras edições podem enviar seus arquivos para o endereço de email: studiofelinos@gmail.com.


DUNA N. 11, 2017

EXPEDIENTE PUBLISHER

Fernando Weber

DIRETOR GERAL

Régis Rodrigues

EDITORA DE ESTILO Carla Gradin

COLABRADORES

Studio Felinos

Endereço R. NATALINO CAMPOS SCHAIMANN, 1339. GUARDA DO CUBATÃO, BL. E 304. PALHOÇA-SC. CEP: 88135-383 PUBLICAÇÃO MENSAL studiofelinos@gmail.

Carmen Fossari Francis Amaral Kézia Lenderly Jan Migdał Mariana Peña Morgana Neuls Mayer Schafer Junior


Francis Amaral, BELCHIOR NÃO CANTA MAIS poderia

começar esse texto dizendo que ele se chamava Antônio Carlos Belchior e que nasceu em Sobral, em 26 de outubro de 1946. Poderia contar um pouco sobre sua infância, suas referências familiares, seus casamentos. Listar sua discografia e seus prêmios. Resumir sua biografia. Entretanto, aqui, nada é sobre relatar, narrar ou resumir. É sobre amplificar, olhar além, sair do lugar comum, ser grande. Como Belchior.

Entre 2007 e 2008 ele se afastou de todos que a mídia reconhecia como os seus próximos. Surgiram histórias e especulações. Dívidas, momento difícil, necessitado de ajuda, depressivo. Foi o que disseram e continuaram repetindo por quase dez anos, mesmo depois de ele dizer onde e o que estava fazendo. 01


“Não quero lhe falar Meu grande amor Das coisas que aprendi nos discos Quero lhe contar como eu vivi E tudo que aconteceu comigo, [...]”

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Durante décadas, escutaram suas músicas. Choraram e riram com elas. Compraram seus discos aos milhares. Mas não lhe ouviram, parece. Porque lá estava, nas suas letras, em todas elas, o pêndulo eterno entre o amor e a dor. A dor da busca. A alegria por tudo que há de simples e belo. O direito de viver, de viver bem. A urgência em ser feliz. O apego à vida real. O direito e o prazer de ser quem ele queria realmente ser.

Enclausuraram o poeta livre numa prisão de julgamentos que não findaram nem mesmo quando seu corpo deixou este mundo, para habitar orbes mais leves, onde talvez ele seja mais feliz. Reviraram seu passado, mas não para refazer o caminho cheio de esperança que ele trazia na voz rouca. Ninguém pensou que, talvez, seu exílio fosse apenas um longo dia de prazer e sossego, numa tão cantada rede branca.

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“Se você vier me perguntar por onde andei No tempo em que você sonhava De olhos abertos lhe direi Amigo eu me desesperava [...].”

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Dono de uma poesia simples, mas longe de ser simplória, Belchior cantou dores e amores de uma forma tão plena que tornaria clara as teorias de Freud e Garcia-Roza para o mais simples sertanejo. Sua voz, no tom exato para falar aos corações mendicantes de um mundo menos opressor, já cantava o dia a dia de moças da noite e rapazes alegres que cantavam e requebravam, numa época que isso nem era moda. Ele falou cedo,

“Foi por medo de avião Que eu segurei pela primeira vez na tua mão Um gole de conhaque, aquele toque em teu cetim que coisa adolescente, James Dean, [...]”

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Seu jeito de amar e mudar as coisas, de lutar pela esperança de um lugar melhor, sempre foi levar a esperança de um lugar melhor onde ela parecia difícil de encontrar. Fosse no desejo insatisfeito de outro corpo que não vem, fosse numa mesa de casa de família onde o diálogo já se foi, fosse longe de casa, nos tantos exílios experimentados diariamente pelos pretos pobres.

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Estava tudo ali, nas suas músicas. Sem eruditismos, sem rimas elaboradas, sem métricas calculadas, sem palavras bonitas de dicionários. Tudo gritado em português, em bom e rotineiro português. Um país inteiro se acostumou a ouvir seu canto e quando só havia discos a reproduzir indefinidamente, clamaram por mais. Não pensaram que, talvez, naquele momento, o poeta quisesse apenas estar entre folhas de papel e músicas velhas. Entre a delícia e a tranquilidade de se transportar para um lugar onde as dores cantadas não fossem mais tão suas. Belchior não sumiu. Deu a si mesmo a liberdade que sempre quis para todos. E que todos lhe negaram. Agora esses "todos" sabem onde ele está. Ou acreditam que sabem. Um dia ele disse que não era feliz, mas não estava mudo: que cantava muito mais. Hoje ele não canta mais. Talvez esteja, enfim, feliz.

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VIAGENS: CARTÕES POSTAIS - Kézia Lenderly

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ESTILO & MODA CARLA GRADIN- FULGAZ

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Reconvexo “Eu sou o vento que lança a areia do Saara Sobre os automóveis de Roma Eu sou a sereia que dança A destemida Iara Água e folha da Amazônia Eu sou a sombra da voz da matriarca da Roma Negra Você não me pega Você nem chega a me ver Meu som te cega, careta, quem é você? Que não sentiu o suingue de Henri Salvador Que não seguiu o Olodum balançando o Pelô E que não riu com a risada de Andy Warhol Que não, que não e nem disse que não Eu sou um preto norte-americano forte Com um brinco de ouro na orelha Eu sou a flor da primeira música A mais velha A mais nova espada e seu corte Sou o cheiro dos livros desesperados Sou Gitá Gogóia Seu olho me olha mas não me pode alcançar Não tenho escolha, careta, vou descartar Quem não rezou a novena de Dona Canô Quem não seguiu o mendigo Joãozinho BeijaFlor Quem não amou a elegância sutil de Bobô Quem não é Recôncavo e nem pode ser reconvexo”

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Fernando Weber

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Mariana PeĂąa

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Jan Migdał

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Morgana Neuls Mayer

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COLEÇÃO: Schafer Junior - PARTITURAS RARAS

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TEATRO & POESIA: Carmen Fossari MEMORIAIS Na memĂłria trago partes Oh partes repartidas Que nunca em geografia As unificarei Nem bĂşssolas Que me levem mar adentro de minha alma De procuras Nem barcos repletos de fantasmas Que duelam ao nevoeiro Na imagem que se esvai

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Oh partículas Refratárias Dos sonhos que não alcancei E, assim sabendo Adormeço de não ser Do não ter Do não saber

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Só o instante me abraça E nele minha fração Em, sendo agora, Beija a vida Como um vento, Uma chuva Uma aurora boreal...

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REFERÊNCIAS facebook.com/carla.gradin instagram.com/gradincarl carmenfossarintatuagem.blogspot.com.br facebook.com/carmen.fossari instagram.com/fernandomweber facebook.com/fernando.weber facebook.com/ Morgana.Neuls.Mayer facebook.com/regis.rodrigues instagram.com/studiofelinos facebook.com/JanMigdał facebook.com/infolio.bazar facebook.com/mariana.pena.31 artedolivro.blogspot.com.br web.facebook.com/infolio.bazar facebook.com/schaferjunior.schafer facebook.com/fritzhelmut.hemmerich www.imdb.com/title/tt0067445 39


PUBLICAÇÃO DUNA - EDIÇÃO N. 11. FLORIANÓPOLIS-SC - BRASIL - 2017

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APOIO CULTURAL

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