Domingos Totora

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Domingos T贸tora

Maria Sonia Madureira de Pinho



Domingos T贸tora

Aos artes茫os da minha equipe que materializam a minha ideia. To the artisans on my team, who turn my ideas into matter.


Coordenação geral | General Coordination PAPEL & TINTA

AGRADECIMENTOS | ACKNOWLEDGMENTS

Texto | Text MARIA SONIA MADUREIRA DE PINHO

Americo Géza Dénes, Benoît d’Iribarne,

Prefácio | Preface ADÉLIA BORGES

Mar tins, Maria do Rosário Gondim Mot ta,

Apresentação | Presentation SILVANA TÓTORA

Pereira, Roberto Luiz Hecksher Corrêa Netto

Catarina Peres, Clarice Magalhães, Eron Maria Rita Costa Simões, Paulo Cezar e EVCOM.

Fotografias | Photographs DOMINGOS TÓTORA Design gráfico | Graphic Design SERGIO LAKS Produção executiva | Executive Producer BRÍGIDA MOREIRA Revisão e padronização de texto | Proof reading and Standardization ARNALDO MARQUES Versão para o Inglês | Translation into English ANNA LUISA ARAUJO Assessoria de imprensa | Press Office MEIO E IMAGEM COMUNICAÇÃO Tratamento gráfico de imagens | Graphic Treatment of Images Pré-impressão | Preprint TRIO STUDIO Produção gráfica | Graphic Production PAPEL & TINTA Impressão | Printer GRÁFICA SANTA MARTA

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE

T662d Tótora, Domingos. Domingos Tótora / [texto] Maria Sonia Madureira de Pinho ; prefácio Adélia Borges ; Versão para o inglês Anna Luisa Araujo. - 1. ed. - Rio de Janeiro : Papel & Tinta, 2013. 200 p. : il. ; 31 cm Texto bilíngue, português e inglês ISBN 978-85-86177-14-9 1. TÓTORA, DOMINGOS. 2. DESIGNERS - BRASIL. 3. DESENHO (PROJETOS) - BRASIL. 4. ARTISTAS - BRASIL. 5. ARTE brasileira - SEC. XX. I. Pinho, Maria Sonia Madureira de, 1960-. II. Borges, Adélia, 1951-. III. Título. 13-07.

CDD: 741.6 CDU: 741

05.05.2013 Cleide Sancho CRB 5843

® Direitos de reprodução total ou parcial desta obra pertencem a Domingos Tótora. ® The rights of total or partial reproduction of this work belong to Domingos Tótora.


Maria Sonia Madureira de Pinho

Domingos Tótora

Prefácio | Preface

Adélia Borges

Rio de Janeiro 2013


PATROCINADOR | SPONSOR


Verallia: qualidade e responsabilidade ambiental em um só lugar

Verallia: quality and environmental responsibility in one single place

Conhecida internacionalmente por oferecer soluções inovadoras, personalizadas e sustentáveis de embalagens de vidro para a indústria de alimentos e bebidas, a Verallia mantém seu padrão com a filosofia de ter sempre a melhor qualidade possível do vidro. A divisão de embalagens de vidro do Grupo Saint-Gobain é uma das empresas mais proeminentes deste segmento, graças à forte base industrial instalada no Brasil. A companhia possui três unidades fabris no país: Campo Bom, no Rio Grande do Sul; Porto Ferreira, no interior de São Paulo; e Água Branca, na capital paulista. A atenção com a sustentabilidade e o meio ambiente – temas fundamentais para a organização – completam a estrutura industrial oferecida pela Verallia aos seus clientes e colaboradores. Como parte disso, a empresa participa de diversas ações e campanhas com cooperativas parceiras da reciclagem, funcionários e moradores, com a intenção de divulgar e estimular a coleta seletiva de lixo, e de esclarecer a importância do vidro como produto 100% reciclável. Nas fábricas da empresa, a redução de emissão de CO 2, o aumento da utilização de cacos (reciclagem), o menor consumo de água e de energia são tratados como desafios constantes. Para a Verallia, toda essa responsabilidade também é traduzida na oferta de educação, saúde e segurança a seus funcionários. Todos esses pilares estão representados artisticamente no trabalho de Domingos Tótora – que faz nascer beleza de materiais e objetos simples do nosso cotidiano, transformando-os em obras admiradas no mundo todo. Prestigiado pela Verallia, assim como ele utiliza papelão como matéria-prima para seus trabalhos, a empresa transforma areia, calcário e barrilha em garrafas e embalagens que abrigam, conservam e encantam. Para manter a qualidade e conseguir inovar sempre, a Verallia conta, ainda, com uma área especializada de engenharia interna, que desenvolve novas tecnologias e faz toda a manutenção necessária na área industrial da empresa. Trata-se do Centro de Excelência Tecnológica Verallia América do Sul, composto por uma equipe de 45 profissionais dentre engenheiros e técnicos responsáveis por acompanhar os processos, desde a concepção de um novo produto até a inclusão deste item na linha de produção dos clientes, envolvendo diferentes aspectos. Neste Centro de Excelência são atendidas vidrarias brasileiras e empresas Verallia espalhadas pela América do Sul, Estados Unidos e França. Esta possibilidade de oferecer serviços ocorre em função da soma de dois fatores positivos: equipamentos de ponta e equipe altamente capacitada. Com essa cultura ambientalmente responsável, agregada aos investimentos e ao know-how já existente na área industrial, a Verallia se consolida como o principal player do segmento de embalagens de vidro. Uma empresa pronta para todos os desafios que o mercado possa oferecer.

Known internationally for offering innovative, customized and sustainable solutions in glass packaging for the food and beverage industry, Verallia maintains its standards with the philosophy of always having the best quality glass. The glass packaging division of the Saint-Gobain Group is one of the most prominent companies in this segment, thanks to its strong industrial base installed in Brazil. The company has three production units in the countr y: Campo Bom, in the state of Rio Grande do Sul; Porto Ferreira, in the interior of the state of São Paulo; and Água Branca, in the city of São Paulo. The attention to sustainability and the environment – essential themes for the organization – complete the industrial structure offered by Verallia to its clients and employees. As a part of this, the company participates in several actions and campaigns with recycling cooperatives partners, employees and residents, with the intention of disseminating and stimulating waste selective collection, and explains the importance of glass as a product that is 100% recyclable. In the company’s plants, the reduction of CO 2 emissions, the increase of the use of cullet (recycling), the lower water and energy consumption are considered constant challenges. For Verallia, all this responsibility is also manifested in the offer of education, health and safety to its employees. All these pillars are represented artistically in the work of Domingos Tótora – who makes beauty out of simple materials and objects from our daily lives, transforming them into works admired all around the world. Esteemed by Verallia, which like him uses cardboard as a raw material in his works, the company transforms sand, limestone and soda ash into bottles and packages that shelter, protect and enchant. To maintain the quality and innovate continually, Verallia also features a specialized internal engineering area which develops new technologies and performs all the necessar y maintenance in the company’s industrial area. It is the Verallia Technological Excellence Center of South America, made up of a team of 45 professionals between engineers and technicians responsible for overseeing the processes, from the conception of a new product to the inclusion of this item in the clients' production line, involving different aspects. This Technological Excellence Center renders services to Brazilian glassworks and Verallia companies spread throughout South America, the United States and France. This possibility of offering services occurs as a result of the sum of two positive factors: cutting edge equipment and a highly trained team. With this environmentally responsible culture, added to the investments and the existing know-how in the industrial area, Verallia is being consolidated as the main player of the glass packaging segment. A company ready to face all the challenges the market can offer.




PREFテ,IO | PREFACE


Tocante integridade

Touching integrity

Quando se escreve sobre alguém, a objetividade é uma característica que não precisa ser sequer perseguida, porque impossível de conseguir. A avaliação que fazemos de uma pessoa parte de um conjunto de valores que temos para nós mesmos e parte também da relação que estabelecemos com o outro. Portanto, a subjetividade é intrínseca, sempre existirá. O que varia é a sua dose. Esse preâmbulo serve para deixar claro, já desde o início, que meu texto sobre Domingos Tótora terá uma alta carga de subjetividade. E isso vai acontecer porque realmente gosto muito do trabalho dele. Razões para isso não faltam. A meu ver, Domingos Tótora é um designer completo. Ele começa por inventar a matéria-prima com a qual vai trabalhar. Incomodado com as caixas e mais caixas de papelão que via descartadas em lojas e supermercados, quis reutilizálas. Desenvolveu um processo em que o papelão é cortado em pedaços pequenos; misturado a água, sacos de cimentos vazios e cola; transformado em polpa e prensado. A massa resultante é aplicada sobre moldes e finalmente é posta para secar ao sol. Trata-se, é verdade, de uma espécie de papel machê, técnica de domínio público. No entanto Domingos desenvolveu uma variação, para a qual inclusive requereu patente, na modalidade de “modelo de utilidade”. Em sua versão, o resultado não é frágil, como costuma ocorrer com a técnica, mas de uma surpreendente rigidez. Como ele mesmo diz, é como se o papelão – material que vem da árvore – voltasse à sua origem, tornando-se madeira de novo, resistente e durável. Soa paradoxal que, de detritos industriais, Domingos extraia peças que estabeleçam, em quem as vê, uma conexão direta com a natureza. Isso ocorre pelas formas orgânicas de suas criações. A mimese se dá com a paisagem muito particular do lugar onde nasceu e vive – a cidadezinha de Maria da Fé, no sul de Minas Gerais. É possível sentir, nos objetos, a imanência da luminosidade da Serra da Mantiqueira, os cheios e os vazios dos morros, os volumes das plantações e das matas, a placidez ou o encrespar das águas de um pequeno lago, todos ao alcance de seus olhos no cotidiano. Não se trata de mera imitação, mas de uma absorção do sumo da natureza e sua devolução em outro estado. Ao contrário da sinfonia de verdes ao seu redor, acrescidos dos mil tons das flores e do azul do céu, suas peças exibem uma não-cor: sutis variações do bege escuro da própria matéria-prima. E, ao contrário da prática habitual no papel machê, em que as superfícies dos objetos recebem um revestimento que disfarça o recheio (por meio de pintura ou da aplicação de uma camada de algum material, em geral reluzente), na produção de Domingos Tótora a matéria é deixada tal qual é – sem pele, sem subterfúgios, sem mediações. As formas também não têm subterfúgios. Embora curvas e sinuosas, as formas são diretas, parecem criadas num exercício de depuração de tudo o que se possa prescindir, até se chegar à essência. Nada é fortuito ou dispensável. Essa simplificação nos leva a outro atributo importante da produção do designer – a sustentabilidade. Perdoem-me os que, cansados da repetição irresponsável e gratuita, não suportam ouvir esta palavra, mas não dá para falar de Domingos Tótora sem mencioná-la.

When you write about someone, objectivity is a characteristic that does not even need to be sought, because it is impossible to achieve. The evaluation we make of a person is based on a set of values we have for ourselves and is also part of the relationship we establish with the other. Therefore, subjectivity is intrinsic, it will always exist. What varies is its dosage. This preamble is just to make clear, right from the start, that my text about Domingos Tótora will have a large dose of subjectivity. And this will happen because I really like his work. There is no shortage of reasons for this. To my mind, Domingos Tótora is a complete designer. He begins by inventing the raw material with which he will work. Bothered by all the cardboard boxes and boxes he saw discarded in stores and supermarkets, he wanted to reuse them. He developed a process in which the cardboard is cut into small pieces; mixed with water, empty cement bags and glue; transformed into pulp and pressed. The resulting paste is applied over molds and is finally placed to dry in the sun. It is, actually, a kind of papier mâché, a technique in the public domain. However, Domingos developed a variation, for which he actually requested a patent, in the modality of “utility model”. In his version, the result isn't fragile, as usually happens with the technique, but of a surprising rigidity. As he himself says, it is as if the cardboard – a material that comes from trees – went back to its origins, becoming wood again, resistant and durable. It sounds paradoxical that, from industrial debris, Domingos can extract pieces that establish, in those who see them, a direct connection with nature. This occurs because of the organic forms of his creations. The mimesis occurs with the very singular landscape of the place where he was born and raised – the small town of Maria da Fé, in the south of Minas Gerais state. It is possible to feel, in the objects, the immanence of the luminosity of the Mantiqueira mountain range, the fulls and empties of the hills, the volumes of the plantations and forests, the serenity or the roiling of the waters of a small lake, all within reach of his eyes in daily life. This is not a mere imitation, but an absorption of the essence of nature and its return in another state. Contrar y to the symphony of greens around him, to which are added the thousand accents of the flowers and the blue of the sky, his pieces show a non-color: subtle variations of dark beige of the raw material itself. And, contrary to the habitual practice in papier mâché, in which the surfaces of the objects receive a veneer that disguises the stuffing (through painting or the application of a layer of some material, usually shiny), in Domingos Tótora’s production, matter is left just as it is – without a skin, without subterfuges, without mediation. The shapes also do not have subterfuges. Although curved and sinuous, the shapes are direct, they seem created in an exercise of purification of all that can be discarded, until one reaches the essence. Nothing is fortuitous or disposable. This simplification leads us to another important attribute in the designer's production – sustainability. Forgive me those who, tired of the irresponsible and gratuitous repetition, cannot stand to hear this word,


Tal como está conceituado pelos organismos internacionais, o desenvolvimento sustentável pressupõe o ambientalmente responsável, o economicamente inclusivo e o socialmente justo. Tótora preenche todos esses requisitos, que não são fáceis de encontrar reunidos na mesma pessoa ou trabalho. Do ponto de vista ambiental, ele usa matéria reciclada, obtida em sua própria cidade ou nas localidades vizinhas – sem gastos ou com gastos ínfimos de deslocamento e, portanto, com custo energético baixo ou nulo. O processo empregado é limpo, com o aproveitamento de 100% do material, sem qualquer sobra. Feito para durar bastante tempo, o produto não é descartável. A longevidade é assegurada pela qualidade tanto técnica quanto estética da produção. Do ponto de vista econômico, deve-se levar em conta não só a dezena de pessoas que o designer emprega diretamente em sua oficina, mas a diferença que sua atuação fez em Maria da Fé. Nos anos 1990, uma crise na produção de batata, até então a principal fonte de renda do município, provocou sérias dificuldades econômicas. Nessa ocasião, ele incentivou um grupo de donas de casa a desenvolverem seus dons artesanais – até então restritos ao tricô, crochê e bordado praticados por hobby – a se organizarem com o objetivo de gerar recursos para o sustento da família. Compartilhou com essas mulheres a técnica da transformação do papelão e abriu seus olhos para outras possibilidades, como a do aproveitamento da fibra de bananeira, tão abundante na região, criando linhas em conjunto com elas. Batizado de Gente de Fibra, o grupo se formalizou em 1999 e desde o início obteve grande sucesso, com vendas para lojistas em várias partes do país. Simultaneamente a seu trabalho autoral, Tótora continua acompanhando-as – em alguns momentos, mais de perto; em outros, mais distante –, pois as mulheres sem dúvida alçaram voo próprio. Do ponto de vista social, pode-se imaginar a valorização pessoal que essas artesãs, antes limitadas ao papel de donas de casa, agora têm. O empreendedorismo levou-as a uma nova inserção na sociedade. Vale lembrar que, além das dimensões ambiental, econômica e social, recentemente os estudiosos e militantes do desenvolvimento sustentável acrescentaram um quarto fator – o cultural. Este quesito está relacionado à noção de identidade cultural, que comporta, dentre outras práticas, avaliar até que ponto as criações materiais de um determinado lugar têm a ver com as vocações locais. Também nesse ponto a atuação de Domingos Tótora é significativa. Seu trabalho está imbuído da tradição manual do sul de Minas. Ele é, sem dúvida, filho do artesanato local, filho da tradição artesanal brasileira. Mas a identidade não se constitui como conceito congelado no tempo e, sim, sujeito à dinâmica e às transformações pelas quais tudo o que está vivo obrigatoriamente passa. Nesta identidade em movimento, o quinhão oferecido por sua atuação não é desprezível. Tive a oportunidade de visitar Maria da Fé em seu Festival de Inverno de 2010. Em meio às barracas que oferecem artesanato de todo tipo, vi uma que vendia santos católicos revestidos de papel. Não me pareciam do Gente de Fibra, e muito menos da criação autoral de Tótora. “Quem fez?” – perguntei. “O vigário da cidade” – respondeu com orgulho a vendedora. Sorri internamente ao constatar a extensão da influência que o trabalho de uma pessoa pode atingir. Caminhando pelas ruas, pude ver também que, ao pioneirismo de Tótora, juntaram-se outros artesãos, artistas e designers. Ao final da

but it is impossible to speak of Domingos Tótora without mentioning it. Such as it is defined by international organizations, sustainable development presupposes the environmentally responsible, the economically inclusive and the socially fair. Tótora fulfills all these requirements, which are not easy to find gathered in the same person or work. From the environmental point of view, he uses recycled matter, obtained in his own city or in the neighboring areas – without expenditures or with very low transportation expenditures and therefore, with a ver y low or non-existent energy cost. The process employed is clean, with the use of 100% of the material, without any waste. Made to last a long time, the product is not disposable. Longevity is assured by the technical as well as aesthetic quality of production. From the economic point of view, one must take into account not only the ten people that the designer employs directly in his workshop, but the difference that his work has made in Maria da Fé. During the 1990s, a crisis in the potato production, until then the main source of income in the city, caused serious economic difficulties. On this occasion, he encouraged a group of housewives to develop their artisanal gifts – until then restricted to knitting, crochet and needlepoint practiced as a hobby – to organize themselves with the objective of generating resources to support the family. He shared with these women the technique of the transformation of the cardboard and opened their eyes to other possibilities, like that of the use of the banana fiber, so abundant in the region, creating lines together with them. Called Gente de Fibra, the group was formalized in 1999 and from the beginning achieved great success, with sales to store owners in several parts of the country. Simultaneously with his authorial work, Tótora continued to follow them – sometimes closer, sometimes more distant –, for the women without a doubt have reached their independence. From the social point of view, one can imagine the personal valuing that these artisans, previously limited to the role of housewives, now have. Entrepreneurship led them to a new insertion in society. It is worth remembering that, besides the environmental, economic and social dimensions, recently the scholars and militants of sustainable development added a fourth factor – the cultural. This issue is related to the notion of cultural identity, which comprehends, among other practices, to evaluate up to which point the material creations of a certain place have to do with the local vocations. Also in this point, Domingos Tótora's work is significant. His work is imbued with the manual tradition of southern Minas. He is, without a doubt, the son of the local arts and crafts, the son of the Brazilian artisanal tradition. But identity does not constitute itself as a concept frozen in time but subject to the dynamics and the transformations through which everything that is alive necessarily goes through. In this identity in movement, the parcel offered by his work is not negligible. I had the opportunity of visiting Maria da Fé during its 2010 Winter Festival. Amid all the stands that offer arts and crafts of all kinds, I saw one that sold Catholic saints covered in paper. They didn't seem to be made by Gente de Fibra, and much less were the authorial creation of Tótora. “Who made it?” – I asked. “The city vicar” – the saleswoman answered with pride. I smiled inwardly as I realized the extent of the influence that the work of one person can have.


visita, tive a impressão de que Maria da Fé tem um perfil bem próprio, diferente das cidades vizinhas: não há nem a modorra das cidadezinhas do interior paradas no tempo, que perdem população para os centros urbanos maiores, nem a brutal expulsão dos moradores locais pela especulação imobiliária derivada da transformação das cidades em estâncias de férias para “endinheirados”. Maria da Fé trilha um caminho próprio para a cidade, que tem no design/artesanato/arte um de seus polos, ao lado da não menos importante produção agropecuária, seguindo em frente orgulhosa de proezas tais como a primeira produção de azeite extravirgem orgânico no Brasil. A nostalgia da pequena cidade ou da roça perpassa o imaginário de muitos moradores das metrópoles. Eles alegam que saíram de sua região de origem por falta de oportunidades locais. Parte do encanto que Domingos Tótora exerce, a meu ver, é que ele não precisou abdicar de seu lugar para ser o que é. E, com sua ação, alargou as possibilidades de sua “aldeia”, ajudando a forjar uma vocação digna para sua terra. O ateliê de Tótora, vizinho à plantação de azeitonas, guarda uma enorme coerência com a sua produção. Ao rememorar o espaço todo branco, com pé direito generoso, janelas de vidro que se abrem para o entorno, me vêm outras palavras para falar dele, dos objetos que cria e do local onde vive: consistência e integridade. Tudo é uno, tudo se relaciona. Os objetos e o ambiente ecoam a corrente estética japonesa wabi-sabi (da qual Tótora é fã confesso), que busca a beleza por meio da quietude e da inspiração na natureza. Apesar do rigor que salta aos olhos, objetos e ambiente deixam claro que não há uma procura obsessiva pelo perfeito. Antes, a imperfeição é assumida como parte constitutiva do trabalho. Os objetos são feitos em séries, partem de um molde sobre o qual é aplicada a massa de celulose. Mas os trabalhadores usam as suas mãos para aplicar a massa e, assim, nenhum objeto é totalmente idêntico a outro – são irregulares, têm a “boniteza torta” de que falou certa vez a escritora Cecília Meireles, ao descrever potes de barro. E aí entra o principal: al di là das boas práticas de sua feitura, as obras de Domingos Tótora falam por si. Suas formas essenciais exercem um inegável fascínio sobre as pessoas, que se sentem tocadas pelos objetos. E o verbo tocar, aqui, é usado em seu sentido amplo. As peças exercem uma forte atração tátil, convidam à apreciação não apenas com os olhos, mas também com as mãos. Contudo tocam também o coração, a alma, estabelecendo com as pessoas um tipo de conexão que vai além do uso puro e simples, ligado à função que desempenham, para permitir uma fruição estética – o que as posiciona no interstício entre o design e a arte.

Walking around the streets, I could also see that, to Tótora's pioneering initiative, other artisans, artists and designers were added. At the end of the visit, I had the impression that Maria da Fé has a very singular profile, different from that of neighboring cities: there isn't the sleepiness of cities in the interior, stuck in time, that have lost their population to the larger urban centers, nor the brutal expulsion of the local residents because of real estate speculation derived from the transformation of the cities into vacation towns for “moneyed” people. Maria da Fé is following its own path as a city, which has in design/handicrafts/art one of its hubs, next to the not less important agricultural production, going forward proud of achievements such as the first production of organic extra virgin olive oil in Brazil. The nostalgia of the small town or the rural area runs through the imagination of many residents of the metropolis. They allege that they left their region of origin because of the shortage of local opportunities. Part of the charm that Domingos Tótora exerts, to my mind, is that he didn't abandon his place to be who he is. And, with his work, expanded the possibilities of his “village”, helping to forge a dignified vocation for his land. Tótora’s studio, neighboring the olive plantation, maintains an enormous coherence with its production. In remembering the space all white, with the very high ceiling, glass windows that open up to the surroundings, other words come to me to speak of him, of the objects he creates and the place where he lives: consistency and integrity. Ever ything is one, everything is related. The objects and the environment echo the Japanese wabi-sabi aesthetic current (of which Tótora is a great fan), which seeks beauty through stillness and of the inspiration in nature. Despite the rigor that catches the eye, objects and environment make it clear that there isn’t an obsessive search for perfection. Imperfection is taken as a constitutive part of the work. The objects are made in series, they come from a mold upon which is applied cellulose paste. But the workers use their hands to apply the paste and, therefore no object is totally identical to another – they are irregular have the “crooked beauty” of which writer Cecília Meireles spoke once while describing clay pots. And then comes the main thing: al di là of the good practices of its making, the works of Domingos Tótora speak for themselves. His essential shapes exert an undeniable fascination upon people, who feel touched by objects. And the verb touch here, is used in its wider meaning. The pieces exert a strong tactile attraction, invite the appreciation of not only the eyes, but also with the hands. However, they also touch the heart, the soul, establishing with people a kind of connection that goes beyond the pure and simple use, linked to the function that they perform, to allow an aesthetic fruition – which positions them in the interstices between design and art.

Adélia Borges Jornalista, curadora especializada em design e professora de história do design Journalist, a curator specialized in design and professor of design history




APRESENTAÇÃO | PRESENTATION


A arte de Domingos Tótora de promover encontros

Domingos Tótora’s art of promoting encounters

Acompanho o trabalho artístico do Domingos há quatro décadas e partilhei com ele inúmeros momentos de criação. Sua obra – podemos afirmar que se trata de uma obra – foi marcada pela descontinuidade, característica de uma arte que segue o fluxo caótico da matéria, dobrando suas forças e produzindo diferenças. Como artista indomesticável, Domingos recusa qualquer representação que possa ligar sua arte à imitação, cópia ou modelo. Sempre lhe incomodou a referência a uma obra sua com a afirmação: “Parece uma pedra!” Diante dessa situação, num gesto de desagrado, ele torcia a boca e soltava um “Ah!”. Ora, intuo o seu pensamento: a matéria não imita nada, é pura força que cria um percurso próprio e que confirma a inadequação da forma na matéria. A primeira não cabe na segunda; os aparentes limites da forma transbordam os contornos e se esparramam em invenção. É próprio de uma atitude preguiçosa – ou de um olhar acostumado ao mesmo – referir-se à criação como algo conhecido ao alcance de uma interpretação. Incapazes de sentir a força provinda do inédito, o espectador comum opera por analogias tais como “Parece com...”. Mas criar algo novo é encontrar outro sentido ao modo de lidar com expressões brutas dadas de antemão: papelão, terra, cera, lonas usadas e descartadas – todos estes materiais tornam-se, nas mãos do artista, esculturas insustentáveis! Para dispararem afetos apreensíveis aos olhares sensíveis. As peças de Domingos Tótora apresentam-se como um convite à experimentação tátil; são feitas para tocar e atraem não somente as mãos, mas o olhar e o atiçamento do prazer. E, ainda mais, nos levam a experimentar novas sensações – percepções e afetos – forças imprescindíveis para a existência. A arte é isso, tem a potência de tornar sensíveis forças outras que se tornam visíveis por mediação de um trabalho intenso. Somos gratos aos artistas, e especialmente ao Domingos, por nos aproximarem das potências poderosas da vida, que abalam nosso cotidiano repetitivo e testemunham que algo mais forte é possível e presente. Tamanha força, às vezes, nos desmorona. Que forças movem o artista que – em sentido contrário, a despeito de tudo e de todos – lança-se à sua criação? Domingos nem sempre foi entendido. Por cerca de duas décadas, sua arte foi de difícil aceitação na cidade de Maria da Fé (MG). Aliás, como compreender alguém que se dedica a colher coisas inúteis? Era comum ouvir-se na cidade: “Isso aí não presta para nada!” Somente Domingos e outros artistas fortes se interessam por coisas abandonadas. Sua arte vivia de descarte e restos. Domingos, na atualidade, é um artista nacional mundialmente conhecido, e pode viver dos recursos econômicos de sua arte. Sua produção artística promove o encontro de jovens artesãos e artesãs na oficina que dirige. Seus ganhos garantem a todos eles seus direitos de trabalhadores. O artista é, também, uma força que abala o lugar de onde provém. A história da pequena cidade mineira de Maria da Fé, nas últimas duas décadas, foi afetada pela obra de Domingos. Dedicada à monocultura da batata, Maria da Fé, desde os anos 60 do século passado, teve forte e rápido destaque econômico. Nos anos 80, com a perda do monopólio da produção de batata, seus habitantes amargaram a perda do poder aquisitivo e, então, as décadas de 80 e 90 foram períodos

I have followed Domingos’ artistic work for the last four decades and shared with him many moments of creation. His body of work – we can state this is a body of work – was characterized by discontinuity, an attribute of an art that follows the chaotic flow of matter, doubling its strengths and producing differences. As an untamable artist, Domingos refuses any representation that may connect his art to imitation, copy or model. He was always bothered by a reference to his work with the statement: “It looks like a rock!” In face of this situation, in a gesture of displeasure, he would twist his mouth and release an “Ah!” Well, I sense his thoughts intuitively: matter does not imitate anything, it is pure force that creates its own path and confirms the inadequacy of form in matter. The first doesn’t fit in the second; the apparent limits of form overflow the contours and spread out in invention. It is proper of a lazy attitude – or of an eye accustomed to the same – to refer to creation as something known and within reach of an interpretation. Incapable of feeling the strength that comes from the new, the ordinar y spectator operates by analogies, such as “It looks like...” But creating something new is to find another meaning in the manner one deals with coarse expressions provided in advance: cardboard, soil, wax, used and discarded tarpaulins – all these materials become, in the hands of the artist, unsustainable sculptures! To provoke understandable affections from sensitive eyes. Domingos Tótora’s pieces present themselves as an invitation to tactile experimentation; they are made to be touched and attract not only the hands, but the eyes and the incitement of pleasure. And, more than that, lead us to experience new sensations – perceptions and affections – forces indispensable to our existence. This is art, it has the power to make sensitive other forces that become visible through the mediation of an intense labor. We are grateful to the artists, and especially to Domingos, for bringing us closer to the powerful forces of life, which shake up our repetitive routine and witness that something stronger is possible and present. Such power, sometimes, collapses. What forces move the artist who – in the opposite direction, despite everyone and everything – launches himself at his creation? Domingos wasn't always understood. For about two decades, his art was hard to accept in the city of Maria da Fé (MG). Actually, how to understand someone who dedicates himself to collecting useless things? It was common to hear around town: “That is totally useless!” Only Domingos and some other strong artists interest themselves for abandoned things. His art lived off discards and scraps. Domingos, actually, is a Brazilian artist known internationally, and can live off the economic resources of his art. His artistic production promotes the meeting of young artisans, men and women, in the workshop he manages. His income guarantees to all of them their rights as workers. The artist is, also, a force that shakes up the place where he comes from. The history of the small town in Minas Gerais state called Maria da Fé, during the last two decades, was affected by the work of Domingos. Dedicated to the potato monoculture since the 1960s, Maria da Fé has undergone a strong and quick economic growth. In the 1980s, with the loss of the


de bastante desolação. Domingos, neste período, inicia, de forma solitária, a produção de uma arte contemporânea, selecionada posteriormente para várias exposições coletivas e individuais. São inúmeros os começos de uma história e alguns deles escapam à consciência ou se perdem no tempo. O acontecimento que fez de Domingos Tótora o designer premiado e conhecido que é hoje teve proveniências diversas. Seus objetos arrastam memórias de paisagens vivas do local de onde provêm. Por algumas décadas, como a maioria dos artistas, Domingos não podia viver exclusivamente de sua arte. Refiro-me, aqui, às necessidades econômicas de sustento. Por este motivo contou, neste período, com a ajuda de amigos e familiares que, também, passavam por dificuldades advindas da perda do poder econômico, em decorrência da precarização das lavouras de batata. Testemunhei, durante este tempo, a batalha do Domingos para levar sua arte para fora do município de Maria da Fé. O encontro com os galeristas de São Paulo terminavam com elogios ao seu talento artístico, acenando com a possibilidade de promovê-lo, um dia, no mercado de arte. Durante esta espera, produzia séries completas de objetos artísticos que sustentariam uma exposição inteira. A maioria deles foi destruída. O artista não se apega. Ele se nutre do processo de criação, de um trabalho intenso, exaustivo, de noites de insônia e fracassos em relação àquilo que se pode esperar. Em meados dos anos 90, Domingos reúne, em um barracão improvisado, mulheres de meia-idade que, embora dotadas de enorme talento manual, jamais saíram de suas casas para trabalharem. O momento de crise da produção da batata exigia a busca de novas alternativas econômicas – o que culmina, por iniciativa do Domingos, na inauguração da oficina Gente de Fibra que, por sua vez, neste ano de 2013, completa 15 anos. Domingos, com a generosidade que compete a um artista, cede o seu talento para criar peças que ganharam o Brasil e, depois, o mundo. Multiplicaram-se as oficinas de artesãos/artesãs, e famílias inteiras retiravam o seu sustento do artesanato. A oficina Gente de Fibra agregava cerca de 20 famílias. Algumas delas cederam a sua criação para compor as peças como, por exemplo, as cordas confeccionadas com fios de bananeiras. Desde o começo da oficina, o núcleo das artesãs configurara uma autogestão: tanto na produção quanto na partilha dos rendimentos obtidos. Mais do que constituir um ganho financeiro, a oficina tornouse um local de experiências e vivências de uma sociabilidade até então inédita na vida destas mulheres e, quiçá, nos processos de trabalho vigentes na sociedade capitalista. Elas experimentaram a alegria do processo de trabalho desprovido de hierarquia e chefias, e com liberdade de criação. Acompanho desde o início o trabalho das oficinas. Na atualidade, elas se multiplicaram. Inclusive o próprio Domingos criou um novo espaço de trabalho que reúne jovens artesãos e artesãs. Cumpre salientar que todos(as) aprendem este ofício com o Domingos. Tal empreendimento ressoa por toda a cidade, criando uma nova atmosfera no espaço. Pouco a pouco, a monocultura da batata – responsável pela riqueza e miséria de tantas famílias – vai cedendo lugar para uma diversidade de produção agrícola. Destaco a produção de azeitonas, com a fabricação do primeiro azeite extravirgem brasileiro, e a cooperativa de produtos orgânicos.

monopoly of the production of potatoes, its inhabitants felt the loss of their buying power and, as a result, the 1980s and the 1990s were periods of great desolation. Domingos, during this period, begins, in a solitar y manner, the production of a contemporar y art, later selected for several group and one person shows. There are innumerable starts to a story and some of them escape consciousness or lose themselves in time. The event that made of Domingos Tótora the award-winning and well-known designer he is today had several origins. His objects drag memories of live landscapes of the place from where they come. For some decades, like most artists, Domingos could not live just off his art. I refer here to the economic needs of making a living. For this reason, during this period, he counted on the help of friends and family who were also suffering the difficulties provoked by the loss of buying power, as a result of the decline of the potato harvests. I witnessed, during this period, Domingos’ battle to take his art outside the city of Maria da Fé. The meeting with gallery owners from São Paulo ended with praise for his artistic talent, beckoning with the possibility of promoting him, one day, in the art market. During this waiting period, he produced complete series of artistic objects that could sustain an entire exhibition. Most of them were destroyed. The artist is not attached to his work. He is nourished by the creative process, an intense, exhaustive work, of sleepless night and failures about what can be expected. During the mid-1990s, Domingos brings together, in an improvised shed, middle-aged women who, despite being gifted with great manual talent, had never left their houses to work. The moment of the potato production crisis demands the search for new economic alternatives – which culminates, by Domingos’ initiative, in the launching of the Gente de Fibra workshop which, by its turn, in 2013, will complete 15 years. Domingos, with the generosity that is proper of an artist, lends his talent to create pieces that have gone to all of Brazil and then the world. The artisan workshops multiplied and entire families made their living from handicrafts. The Gente de Fibra workshop brought together 20 families. Some of them gave up their creation to compose pieces like, for example, the ropes made with banana tree threads. From the beginning of the workshop, the group of artisans has configured a worker’s self-management: in the production as much as in the division of the revenue obtained. More than constitute a financial gain, the workshop became a place for experiments and experiences of a sociability previously unheard of in the lives of these women and, perhaps, in the work processes dominant in the capitalistic society. They experienced the joy of the work process deprived of a hierarchy and bosses, and with freedom of action. I have accompanied the work in the workshops from the beginning. Currently they have multiplied. And actually, Domingos himself created a new work space that brings together young artisans, men and women. It is worth pointing out that they all learn this craft with Domingos. This project has resonance all around the town, creating a new atmosphere in the space. Little by little, the potato monoculture – responsible for the wealth and misery of so many families – is giving way to a diversity of agricultural production. I highlight the production of olives, with the fabrication of the first Brazilian extra virgin olive oil, and the organic products cooperative.


Se, contudo, menciono estas mudanças na vida econômica da cidade, é porque diviso uma nova cultura que se gesta lentamente diante da alternância desses ciclos de cultivo e de trabalho. Tributo aos artistas e, especialmente, ao trabalho do Domingos – o elemento disparador desta história que, longe de almejar um ponto originário, confere por seus próprios meios que as verdadeiras mudanças não se dão por atos conscientes ou por vontades pessoais, tampouco por acontecimentos ruidosos que só levantam poeiras e deixam tudo como dantes. Operam, portanto, por pequenas iniciativas que vão se alastrando e contagiando as pessoas presentes neste espaço-tempo. Atesto que Maria da Fé difere suas estratégias políticas daquelas adotadas por inúmeras cidades do interior que passaram por crises econômicas nos anos 1980. Aliás, por muitos especialistas, a década de 80 do século passado foi nominada como “a década perdida”. Muitos são os exemplos de pequenas cidades que se abriram para uma população rica, que emigra das grandes metrópoles em busca dos ares montanhosos e da segurança do interior rural. Assistimos recorrentemente, em Minas, o exílio dos habitantes nativos de algumas cidades. Estes se tornaram incômodos, porque tidos como “sem hábitos” para aqueles que se reputam como “refinados”. Nessa cadência, propriedades rurais e as casas nelas presentes são vendidas por valores exorbitantes. Mais uma vez, repete-se a história do ganho rápido. Porém, Maria da Fé segue construindo a sua própria história, incorporando os seus moradores nativos às transformações impostas pelo tempo e pelo trabalho. Trata-se de uma história de resistência e de produção de um percurso histórico próprio. Sua localização espacial, rodeada de montanhas, além do clima frio que aproxima as pessoas, seduz seus visitantes. O ateliê do Domingos está sempre aberto à visitação e sua presença encanta as pessoas também pelo modo com o qual as recebe. Chegam, em seu ateliê, pessoas de todo o mundo, não somente para adquirir suas peças mas para vê-las de perto e, principalmente, para conhecer o artista. E, neste ponto, aqui segue uma confidência: os habitantes de cidades pequenas são bastante vaidosos de sua terra e do que dela provém. Às vezes, contam com uma ponta de exagero – o que não é oculto por esta autora. Para terminar, pois não devo me alongar para não adiar por mais tempo a cena dedicada à obra do Domingos, vale destacar que seu trabalho é entrelaçado por um desdobramento artístico ainda não mencionado antes: a fotografia. Por esta razão e por outras aqui destacadas, trago como veio construtor deste pequeno texto o percurso artístico de Domingos Tótora, assim como a inserção de sua obra num espaço-tempo específico de uma pequena cidade do interior mineiro. Sua obra apresenta-se como produtora daquilo que os gregos denominavam de tékhne toû bíou (“arte de viver”). Faço esta inferência, por meio deste texto, em razão da potência da arte de Domingos em criar uma sociabilidade pautada num estilo artístico de viver: com alegria, com invenção e com beleza. Por isso, e por mais tantas outras razões aqui apontadas: vale conferir.

If, however I mention these changes in the economic life of the city, it is because I can envision a new culture that is slowly being born from the rotation of these cycles of farming and work. Tribute to the artists and, especially, to the work of Domingos – the trigger element in this stor y that, far from desiring a starting point, verifies by its own means that true change does not occur through conscious acts or personal wills, nor through noisy events that only raise a lot of dust and leave everything as it was before. They operate, therefore, through small initiatives that spread and contaminate the people present in this space-time. I can attest that Maria da Fé differs in the political strategies adopted by innumerable rural cities that underwent the economic crises of the 1980s. By the way, for many specialists, the 1980s were considered the “lost decade.” Many are the examples of small cities that opened themselves to a rich population that emigrates from the large metropolis in search of the mountain air and the safety of the rural interior. We watch recurrently, in Minas, the exile of the native inhabitants of some cities. These have become bothersome, because they are considered “without habits” by those who consider themselves “refined”. At this rhythm, rural properties and the houses present on them are sold at exorbitant prices. One more time, the history of quick gains is repeated. However, Maria da Fé continues to create its own histor y, incorporating its native residents to the transformations imposed by time and by work. It is a history of resistance and production of its own historic path. Its spatial location, surrounded by mountains, besides the cold climate that brings people together, seduces its visitors. Domingos’ studio is always open to visitors and his presence enchants people also for the manner in which they are received. People from all over the world arrive at the studio not only to acquire his pieces, but to see them from up close and, mainly, to get to know the artist. And, at this point, here is a secret: the inhabitants of small cities are very proud of their land and what comes from it. Sometimes they exaggerate a bit – which is not hidden by this author. To finish, for I shouldn’t go on for too much longer the scene dedicated to the work of Domingos, I should point out that his work is entwined by an artistic unfolding that still hasn't been mentioned: photography. For this reason and for many other mentioned here, I bring as a constructing vein of this small text, the artistic path of Domingos Tótora, as well as the insertion of his work in a specific space-time of a small city in the Minas Gerais interior. His work presents itself as a producer of that which the Greeks called tékhne toû bíou (“the art of living”). I make this inference, by means of this text, as a function of the potency of the art of Domingos in creating a sociability based on an artistic style of living: with joy, with invention and with beauty. For this, and for many other reasons pointed out here: it is worth checking out.

Silvana Tótora Professora do Programa de Estudos Pós-graduados em Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP) e pesquisadora do Núcleo de Estudos em Arte, Mídia e Política, na mesma universidade. Professor of the Post-Graduate Studies Program in Social Sciences of the Pontifícia Universidade Católica of São Paulo (PUC-SP) and researcher of the Center in Art, Media and Politics, at the same university.


INTRODUÇÃO | INTRODUCTION


Domingos e eu nos encontramos no momento em que colocamos maçãs verdes no tampo da mesa de madeira, em 1995. Nesta narrativa, traço um caminho de tramas como as fibras do papel que, antes, eram árvores e, quando são amassadas, viram peças “DT” – conto a história do que livremente chamo de “campo de papel”. Neste campo – no começo, a semeadura –, a observação dá vez à germinação e ocorrência da ideia transcorrendo pela seiva, pelo sangue, até o caule que dá acesso à atmosfera, na terra brotando. Segue-se a colheita. Safra ou coleção de peças colhidas ou criadas – é tempo de replantio, de novas criações. Assim vejo o processo do Domingos: um moto-contínuo, natural, fluido. A matriz da criação desabrocha no esteio do sonho, do espontâneo, e nasce na imaginação por meio de um olhar capturado pela vivência. Resultado de uma profunda observação da natureza. O objeto se realiza com a materialização da percepção. Como o instante da água correndo no rio, que vira “mesa água”. A marca na terra, no muro, se transforma em textura para dar vez à existência de uma cadeira. Domingos acredita na natureza, assim como tem fé no mundo visível e invisível, nos poderes espirituais, e nas influências que se seguem por intermédio do destino. Sensível ao que vê e ao que não vê. Por isso, de vez em quando, se pega observando – em suas criações – um pedaço de natureza então objeto. Aparentemente a natureza não inspira o autor, já que respiram em sintonia, são iguais, se confundem. Domingos, água e cachorros são oriundos da mesma ordem ambiental e, em todos os casos, andam juntos alimentando-se. Assim é como ele faz: água vira mesa e terra, cadeira. Tal qual uma relação de transmutação, tal qual um alquimista.

Domingos and I met at a moment when we would put green apples on the top of a wood table, in 1995. In this narrative, I draw a path of patterns like the paper fibers that, before, were trees and when crumpled up, become “DT” pieces – I tell the stor y that I freely call the “field of paper”. In this field – in the beginning, the sowing –, observation gives way to sprouting and the occurrence of the idea running through sap, blood, to the stem which gives access to the atmosphere, sprouting in the soil. The harvest follows. A harvest or a collection of pieces reaped or created – it is time to plant again, for new creations. This is how I see Domingos’ process: perpetual motion, natural, fluid. The matrix of creation blossoms in the wake of the dream, of spontaneity, and is born in the imagination by means of an eye captured by experience. The result of a deep observation of nature. The object is realized with the materialization of perception. Like the instant of water running in the river, which becomes “água table”. The mark on the land, on the wall, becomes a texture to give way to the existence of a chair. Domingos believes in nature, and also has faith in the visible and invisible world, in the spiritual powers, and in the influences that come through the interference of destiny. Sensitive to what is seen and to what is not seen. That is why, once in a while, he catches himself observing – in his creations – a piece of nature then an object. Apparently, nature doesn’t inspire the author, since they breathe in harmony, they are the same, are mixed with each other. Domingos, water and dogs come from the same environmental order and, in all cases, walk together, feeding each other. That is how he does it: water turns into a table and earth, a chair. Just like a relationship of transmutation, just like an alchemist.

Maria Sonia Madureira de Pinho Arte Educadora, Especialista em Patrimônio Imaterial. Pesquisadora de Artesanato e Arte Popular. Art Educator, Specialist in Intangible Heritage. Researcher in Arts and Crafts and Popular Art.


REFERÊNCIAS | REFERENCES


Mescla de som, cheiro, olhar, sonho, visĂŁo, ĂĄrvore, grama, Domingos acorda no escuro e dorme quando escurece; vive Ă luz do dia, a noite preserva para armazenar os sonhos e fantasias que materializa com a claridade.

Mixture of sound, smell, look, dream, vision, tree, grass, Domingos wakes up in the dark and sleeps when it gets dark; he lives in the light of day, the night preserves to store the dreams and fantasies that materialize with the brightness.












MATÉRIA-PRIMA | RAW MATERIAL


Em Maria da Fé, a agricultura vigorosa se amplia sob outra forma de cultura e a linguagem – aglutinação de massa de papel com cola entre segredos do autor – produz a inédita massa moldável “DT”. A batata – raiz das profundezas da terra – deu passagem à massa feita com aproveitamento do excesso de consumo: o lixo, descarte de papelão. Um novo cenário de riqueza, na localidade, mediante a potencialidade criativa do Domingos.

In Maria da Fé, the vigorous agriculture expands under another form of culture and language – agglutination of the paper mass with glue among the secrets of the author – produces the new “DT” molding paste. The potato – root from the depths of the earth – gave way to the paste made by exploring the excess of consumption: trash, waste cardboard. A new scenario of wealth, in the locality, through the creative potentiality of Domingos.








EXPERIMENTAÇÃO | EXPERIMENTATION


Celebra com a massa de papel transformando o descarte em veículo de estética e comunicação, faz design como quem respira; cria, num espaço entre o sonho e o desejo físico, a imagem onírica. Rumina ensaios na mente e sai pela curva da montanha. Inicia o processo construtivo – na sequência, sai a peça.

Celebrates with the paper paste transforming waste into a vehicle of aesthetics and communication, makes design like someone breathes; creates, in a space between dream and physical desire, the oneiric image. Ruminating essays in the mind and leaving by the curve on the mountain. Begins the construction process – in the succession, the piece is born.








TEXTURAS | TEXTURES


Percebe, no portão vermelho triturado pelas intempéries, traços de beleza; vagando nos armazéns de batata, é capaz de saber a memória de cada porta, as ranhuras mais indesejáveis, o machucado do tempo, a desintegração do ferro – este composto de mobílias perde o viés da decadência para se tornar textura. Faz pesquisa por captação sensível.

Perceives, in the red gate destroyed by the weather, vestiges of beauty; wandering in the potato warehouses, is capable of knowing each door by heart, the most desirable grooves, the hurt of time, the disintegration of iron -- this composite of furniture loses the bias of decadence to become texture. To research through a sensitive capture.






















PROCESSO | PROCESS


A criação espontânea aqui traçada reconhece, no autor, originalidade. A sofisticação dos detalhamentos, os acabamentos apurados, cuidados e seriedade na produção. Detém a marca assinada num processo que só tem ares de simplicidade para que se estruture numa realização estética de fino gosto, afinado com a contemporaneidade.

The spontaneous creation drawn here recognizes, in the author, originality. The sophistication in the detailing, the sophisticated finishings, care and seriousness in production. Holds a mark signed in a process that only seems to have airs of simplicity so that an aesthetic realization of fine taste, in line with contemporaneity.


















BASTIDOR/OFICINA | BACKSTAGE/WORKSHOP


Cerca de 90 peças resultam das coleções e criações deste tempo. O processo é apurado no fazer, no coletar, na formação de equipe, na integração de habilidades e talentos individuais. Na oficina convivem – num ambiente de trabalho – as expectativas, a versatilidade humana, os cachorros muito estimados e o olhar cuidadoso de um comprometimento coletivo. As atenções ao mercado comercial, conquistas e premiações buscam efetivamente dialogar com o desejo alheio.

About 90 pieces result from the collections and creations from this time. The process is refined in the making, the collecting, the creation of the team, in the integration of abilities and individual talents. In the workshop, come together – in a work environment – the expectations, the human versatility, the dearly loved dogs and the careful eye of a committed collective. The attentions to the commercial market, achievements and awards effectively seek to carry on a dialog with someone else's desire.






















PEÇA ACABADA | FINISHED PIECE


Quando faz, da peça-matriz, uma elaboração apurada em desdobramentos complementares, faz pelo gosto do conjunto. Gosta dos agrupamentos, da visão do coletivo. A equipe trabalha com profundo rigor nos acabamentos para conseguir o resultado final.

When, from the matrix piece, a refined preparation in complementary consequences, it is done for the taste of the whole. It likes the groups, the vision of the collective. The team works with the greatest rigor in the finishings to obtain the final result.
































BANCO VEREDA | VEREDA BENCH


Sinuosidade, linhas montanhosas e papel達o vergado s達o sempre misturados para, no fim, virarem objeto.

Sinuosity, mountainous lines and bent cardboard are always combined to, in the end, become an object.




MESA ÁGUA | ÁGUA TABLE


O instante da água corrente no rio vira “mesa água”.

The instant of water running in the river becomes “Água Table”.








BANCO SOLO | SOLO BENCH


A pedra casual encontrada no leito do rio, se aquece em banco solo, para estar no coletivo.

The casual rock found in the river bed, gets warm in the solo bench, to be in the collective.










BANCO KRAFT | KRAFT BENCH


Banco da praça prensado em lascas nos acolhe em ondulação, na sinuosidade da montanha. Como um corte do recorte que se assenta.

Street bench pressed in chips that receives us in undulation, in the sinuosity of the mountain. Like a cut of the line that settles.












BANCO TERRテグ | TERRテグ BENCH


Tem banco que diz, em letras dissipadas, a linguagem de grĂŁos de papel das embalagens que, aleatoriamente, se espalharam na superfĂ­cie de sentar.

There is a bench that says, in faint letters, the language of the paper grains of the packages that randomly, spread out on the sitting surface.






GENTE DE FIBRA | PEOPLE FIBER


A cooperativa Gente de Fibra produz peças artesanais em fibra de bananeira, papel e cola desde o ano 1999, em compartilhamento tÊcnico do Domingos.

The Gente de Fibra cooperative produces artisanal pieces in banana fiber, paper and glue since 1999, in technical sharing with Domingos.




O ESPAÇO | THE SPACE


Em maio de 2005, no jardim da casa redonda ao sopé do córrego que faz fronteira com as oliveiras, surge o primeiro Espaço/oficina – o lugar para realizar o trabalho. Ali, neste Espaço, transitam amigos, visitantes, vinhos no deque, clientes, jornalistas, estudantes e artesãos; cachorros, socós, corujas e até – certa vez – um lagarto que comia muitos ovos.

In May 2005, in the garden of the round house at the foot of the stream that borders the olive trees, the first Space/workshop is created – the place to execute the work. There, in that Space, come friends, visitors, wine on the deck, clients, journalists, students and artisans; dogs, herons, owls and even – once – a lizard that ate a lot of eggs.






MARIA DA FÉ (MG)


15 mil habitantes.

15 thousand inhabitants.




Centro de Mesa Bowl Vazado 50cm diâmetro x 13cm Domingos Tótora com | with Centro de Mesa Vazado

Mesa Água 150cm diâmetro x 30cm

Sketches na mesa de trabalho Sketches on the work table Artesão | Artisan Jaderson com | with Disco Plano Relevo

Artesão | Artisan Jaderson

Artesãos trabalhando na oficina | Artisans working in the workshop Disco Plano Frisos, Vaso Orgânico Liso Modelo 3 (29cm x 18cm x 45cm) e | and Vaso Orgânico Liso Modelo 4 (24cm x 18cm x 50cm)

Artesãos dando acabamento no | Artisans finishing the Centro de Mesa Vazado (45cm x 12cm x 24cm) e | and Centro de Mesa Bowl Vazado Modelo 1 (50cm diâmetro x 13cm) Artesão | Artisan Geraldo moldando | molding Disco Vazado 2cm x 112cm diâmetro

Artesão | Artisan Izaquiel finalizando a | finishing Poltrona | Chair Leiras 92cm x 78cm x 45cm

José Joaquim colocando frisos no | gluing friezes on Centro de Mesa Orgânico Frisos G 54cm x 49cm x 16cm

Interior da oficina | Inside of the Workshop Artesão | Artisan Izaquiel com | with Placas Vazadas Verticais

Artesã Vilma dando acabamento em | doing the finishing on Centro de Mesa Bowl Vazado

Daniely e José Joaquim organizando a produção | organizing production

Disco Plano Relevo Kraft Modelo 2 (dimensões variáveis) | (variable dimensions) e | and Disco Vazado Modelo 4 (112cm diâmetro x 2cm) Centro de Mesa Vazado 45cm x 12cm x 24cm Vaso Friso G Terra (15cm x 15cm x 68cm), Vaso Friso P Terra (14cm x 14cm x 44cm) e | and Vaso Oval Frisos Terra (21cm x 21cm x 33cm)


Ânfora Ânfora Ânfora Ânfora

G (9cm x 73cm), M (9cm x 65cm), P (9cm x 49cm) e | and P com Bico (9cm x 49cm)

Centro de Mesa Bowl Vazado Terra Modelo 1 50cm diâmetro x 13cm

Centro de Mesa Orgânico Frisos P 30cm x 28cm x 11cm Centro de Mesa Frisos 58cm diâmetro x 13cm

Vaso Escultura Liso Modelo 3 22cm x 18cm x 82cm

Vaso Esfera Frisos P 18cm x 18cm x 18cm

Vaso Escultura Liso Modelo 4 29cm x 22cm x 64cm Vaso Orgânico Casca Modelo 1 56cm x 25cm x 19cm

Banco Pinhão Modelo 2 93cm x 39cm x 43cm

Disco Plano Relevo Kraft Modelo 2 (dimensões variáveis) | (variable dimensions)

Centro de Mesa Oval Frisos 52cm x 34cm x 11cm

Disco Plano Frisos (dimensões variáveis) | (variable dimensions)

Banco Pinhão Modelo 1 com almofada em couro 87cm x 37cm x 45cm

Mesa Talos (peça única) | (single piece)

Banco Zoë Terra 42cm diâmetro x 45cm

Vaso Orgânico Friso Inteiro Modelo 2 (20cm x 20cm x 46cm), Vaso Oval Frisos (21cm x 21cm x 33cm), Vaso Orgânico Friso Inteiro Modelo 4 (30cm x 17cm x 38cm), Vaso Friso G (15cm x 15cm x 68cm), Vaso Orgânico Friso Inteiro GG (20cm x 20cm x 91cm) e | and Vaso Orgânico Friso Inteiro Modelo 3 (22cm x 22cm x 39cm)

Mesa Hastes 150cm diâmetro x 30cm

Disco Plano Relevo Kraft Modelo 1 (dimensões variáveis) | (variable dimensions)

Centro de Mesa Vazado 45cm x 12cm x 24cm

Artesão colocando | Artisan putting Centro de Mesa Frisos para secar | to dry


Vaso Escultura Vazado semipronto Poltrona | Chair Semine 1 82cm x 82cm x 44cm

Poltrona | Chair Semine 2 96cm x 81cm x 44cm

Poltrona | Chair Casca 96cm x 81cm x 44cm

Poltrona | Chair Leiras 92cm x 78cm x 45cm

Artesãos | Artisans João Carlos e Joilson dando acabamento nas pedras da | doing the finishing on the rocks of Mesa Água

Banco Vereda (210cm x 60cm x 45cm)

Vaso Escultura Vazado G (23,5cm x 23,5cm x 70cm) e | and Vaso Escultura Vazado P (24cm x 24cm x 56cm)

Artesãos | Artisans João Carlos e Joilson montando o | putting together the Banco Solo

Banco Solo 210cm x 64cm x 43cm

Artesão | Artisan Allan dando acabamento no assento do | doing the finishing on the seat of the Banco Solo

Banco Kraft (180cm x 50cm x 45cm)

Placas do | Plates of the Banco Kraft secando ao sol | drying in the sun

Artesão | Artisan Jaderson dando acabamento no | doing the finishing on the Banco Kraft Terra


Banco Kraft Terra 180cm x 50cm x 45cm

Banco Kraft sem encosto 180cm x 50cm x 39cm

Banco Kraft P 50cm x 50cm x 45cm

Banco Terrão (205cm x 51cm x 45cm)

Artesãos moldando o | Artisans molding the Banco Terrão

Cordinha de fibra de bananeira pronta | Banana fiber rope ready

Bowl Carijó G (36cm x 29cm x 17cm) e | and Bowl Carijó M (27cm x 23cm x 13cm)

Artesã | Artisan D. Fiica fabricando cordinha da fibra de bananeira | fabricating the banana fiber rope

Estúdio Domingos Tótora | Domingos Tótora Studio

Jardim do Estúdio Domingos Tótora | Garden of the Domingos Tótora Studio

Artesã fabricando | Artisan producing the Prato Trama D (46cm diâmetro)

Interior do Estúdio Domingos Tótora | Interior of the Domingos Tótora Studio




Patrocínio

Realização


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