Constelações: Hilal Sami Hilal

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Neusa Mendes curadoria 2016



Arte e vida O professor e pensador italiano Nuccio Ordine, num atualíssimo livro sobre o papel da cultura na construção da dignidade humana e da civilidade – “A utilidade do inútil” –, reporta: “Assim como o amor, a cultura não tem o poder de constranger. Não oferece garantias. Não obstante, a única possibilidade de conquistar e defender nossa dignidade de seres humanos nos é oferecida pela cultura e pela educação livre”. Como a temática aqui é cultural, fiquemos neste âmbito, mas não sem destacar que a educação é um fundamento central da civilidade. Aviso feito, resta sublinhar enfaticamente que a cultura é o que nos torna mais humanos, aptos a conviver e fazer dos impossíveis da vida expressões de sensibilidade que comunicam mesmo sem falar, criando laços onde muitas vezes se firmariam abismos ou trincheiras. Tem esse condão o fazer artístico posto que dialoga com recônditos de nossas vidas acerca dos quais muitas vezes não temos palavras para dizer com objetividade e racionalidade, ou seja, com sentido pleno e pactuado pelas formas consagradas de comunicação. Isso sem mencionar o papel da arte na função de ocupar-se de afetos, sentimentos e emoções muitas vezes intraduzíveis. Assim está lá a arte e pronunciar percepção, dúvida, excitação, dor, angústia, paixão, desejo... Hilal Sami Hilal é um mestre em dizer do que na alma muitas vezes não temos palavras para bem dizer. Sua trajetória como artista já o levou ao estrelato – no melhor uso desta palavra – das artes capixaba e nacional. Assim, nada mais interessante do que fazer a conexão dessa sua trajetória com o nome dado à exposição que temos a honra de receber aqui no Espaço Cultural do Palácio Anchieta, “Constelações”. Quando executamos a primeira restauração completa do Palácio Anchieta, entre 2004 e 2009, num diálogo nada casual com o processo de reconstrução capixaba (2003-2010), fizemos questão de garantir um ambiente qualificado dedicado às expressões culturais. Este palácio, que nasceu sob o signo da manifestação católica jesuítica, assumiu por séculos um posto de referência político-administrativa. Pudemos, assim, a partir de 2009 restaurar também uma porção de seu uso inaugural, mas com o eixo cultural laico, buscando apresentar à alma dos capixabas expressões artísticas que se pautam do viver humano, demasiadamente humano, como observou Nietzsche, para o qual não há saída digna sem a cultura. Paulo Hartung Governador do Estado do Espírito Santo 3




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ya’ayuni (luz dos meus olhos) Papel feito à mão de fibra de algodão, pigmento, tela de arame e dobradura, 2015. Salão do Piano, Palácio Anchieta. à direita

aviãozinho papel feito à mão de fibra de algodão e pigmento sobre chapa de inox dobrada, 2015. Salão Nobre, Palácio Anchieta.




Hilal e a memória do afeto O grande público que visita as exposições do Palácio Anchieta terá mais uma experiência artística profunda e instigante. Um misto de poesia, memória e introspecção convida a todos para o passeio poético de Hilal Sami Hilal. Passeio que conta com três grandes instalações em que pedrinhas brilhantes no chão e espelhos no teto se unem a papeis artesanais com dez mil nomes escritos por 2.500 jovens alunos de escolas públicas da Grande Vitória. Esta instalação inclusive é a que dá nome à exposição “Constelações” que o Governo do Estado, por meio da Secretaria de Estado da Cultura (Secult), oferece à população no Espaço Cultural do Palácio Anchieta. As constelações a que o artista se refere representam a nossa memória afetiva materializada em organzas brancas onde “Marias, Anas, Alfredos, Josés, Joanas, Pedros…”, se transformam em um emaranhado de sentimentos ternos. Uma trama onde o amor, o carinho e as lembranças boas e por ventura, ruins, são os personagens principais. Em outro ambiente da exposição ao colocar espelhos em toda a extensão do teto, Hilal coloca também o próprio espectador para fazer parte desta constelação. É um convite para que todos possam expor seu inventário de memórias e afetos continuamente remexidos em um processo dinâmico de construção, reconfiguração e evolução.

João Gualberto Secretário de Estado da Cultura

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diário Papel feito à mão de fibra de algodão e pigmento, 2010. Salão Dourado, Palácio Anchieta. à direita

roda Madeira, pintura automotiva e corte à laser, 2015 Salão São Thiago, Palácio Anchieta.




para o meu amor passar

Ladrilho hidráulico, cristal e música. Área aproximada de 300 m2, 2016.













A Prosa do Mundo Neusa Mendes Verão, ano de 2016. Um calor assolador, por volta dos 40 graus. Durante todo esse período, o artista Hilal Sami Hilal (brasileiro, 1952) encontrou-se comigo para conversar sobre seu novo trabalho, que será apresentado no Palácio Anchieta, em Vitória, Espírito Santo, e que contém a instalação denominada Constelações, resultante de sua incursão artística à cidade de Bagé, região situada ao sul do pampa rio-grandense, em 2013. Hilal foi convidado a residir e auscultar as memórias daquele lugar. Essa obra soma quase dez mil assinaturas, evocando história, num entrelaçamento de linguagens, de cidades, de pessoas, como se, intencionalmente, ordenasse o tempo. Tais assinaturas, realizadas em papel artesanal, aplicadas sobre organza branca cobrindo toda a extensão da parede da galeria, tendem a diminuir o tamanho do espectador diante de sua escala e sua monumentalidade. Desse gesto único evoca-se um grande manto. As caligrafias tornam-se contágios, um campo propício para a multiplicação de relações que vão além de redes de significantes; evocam conceitos, corpos, gestos, imagens, sons, odores e sentidos da comunidade de Bagé; adentrando nelas mesmas, e nos outros, por meio de autoimagens, trazendo consigo memórias afetivas inundadas de lembranças e marcas vividas, estereótipos étnicos, sociais e geográficos que se legitimam nas letras de tantos Pascoais, Rauis, Dorilas, Martins, Niltons, Eulálias, Zuleikas, Elfas, Emersons, Maximilianos, Ariovaldos,

Constantinos, Arquimedes, Igos, Rositas, e tantas outras Dóris e Devas. Tomando o caminho das Constelações e caminhando em direção ao levante, na distância aproximada de 2.377 km, encontra-se a cidade de Vitória, capital do Espírito Santo, onde o artista Hilal Sami Hilal nasceu e reside. A cidade começa 34 anos depois de o Brasil ter sido descoberto, em 1500. Pode-se descrevê-la de duas maneiras: uma cidade feita de sucessão de ruas, casas, pontes e navios, ou de ilhas banhadas por mar, rio e manguezais. Possui um recinto com geografia muito delicada, riquíssima e respirante, com afloramentos graníticos, ventania e estrelas. Mas é certo que todos os caminhos levam ao mar. Pode-se ainda dizer que as luzes das casas refletem-se nas águas da baía, por isso é chamada “Cidade Presépio”. Entretanto, a cidade não é feita só disso, mas também substanciada no alargamento do diálogo entre as pessoas, das experiências vividas e sonhadas, nas relações entre a medida de seu espaço e os acontecimentos capazes de engendrar regimes de relacionamentos, proximidades, distâncias, desejos e sonhos. É na relação espaçotempo que o mundo humano constituise como sociedade: geografia tornada história, natureza e cultura, lugar e território. São as marcas que o humano imprime na natureza que conferem a ele identidade e pertencimento; é na maneira como os habitantes ordenam as suas relações com a terra, o céu, a água e os outros homens, camadas sobre camadas, sobrepostas, que se faz o espaço-lugar de trocas sociais e simbólicas. É nesse lugar que se constrói a paisagem, lugar onde a memória inscrevese como oposição ao tempo recortado em presente, passado e futuro, onde cada ser humano é uma enciclopédia, um inven-

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tário, uma amostragem de estilos, onde tudo pode ser continuamente remexido e reordenado de várias maneiras. É possível, sim, conferir novamente ordem à vida, mas isso passa forçada e simultaneamente pelos valores da cultura — um povo sem passado não guarda valores para o futuro — e é o que possibilita ao homem a transformação dos seus impulsos e ideais. Dessa forma, evidencia-se que somos constituídos por representações, sendo essencial compreendermos o mundo por esse olhar, em que as mudanças acontecem, as culturas misturam-se e as certezas são inconstantes. Somos compostos por uma identificação passível de mudança e transformação. O Palácio Anchieta é uma das sedes de governo mais antigas do Brasil: é utilizado como sede do governo do estado do Espírito Santo desde o século XVI. Situa-se em um maciço rochoso, exatamente em frente ao porto de Vitória, na entrada da Cidade Alta, um dos bairros mais antigos da capital. Abriga memórias e guarda, hoje, importantes patrimônios edificados, como, sem dúvida, um dos mais importantes marcos de nossa história: resguarda aquela que foi a Morada dos Jesuítas, de 1551 a 1759, e mantém o túmulo, simbólico, do padre José de Anchieta, que empresta seu nome ao Palácio – antes Igreja e Colégio de São Tiago. Essa edificação histórica passou por duas grandes reformas, a primeira no governo de Jerônimo Monteiro (19111912) e a segunda durante o governo de João Punaro Bley (1935-1936).

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A primeira grande obra de restauro deu-se em 2005, no governo de Paulo Hartung (2003-2010), que coordenei como secretária de Cultura do Espírito Santo, com estudo de novos usos, unindo caráter e vocação. Assim, permaneceram no Palácio apenas as atividades administrativas vincu-

ladas diretamente ao gabinete do governador do Estado e os demais espaços abertos para visitação pública. Também foi totalmente restaurado e revitalizado um espaço cultural, no primeiro piso, que corresponde à localização anterior da Igreja de São Tiago. O prisma é delimitado pelas paredes lateral e do Arco Cruzeiro, remanescente daquela Igreja. Contém registro do sistema construtivo e de configuração da época dos jesuítas, mantendo os traços do Arco Cruzeiro e do Altar-Mor, cuja parede guarda vestígios de um altar com decoração em “esgrafito”. Essa técnica é uma pintura em afresco, que consiste em aplicar sobre um fundo preto de estuque uma camada de tinta branca, arranhada posteriormente com estilete, de modo que o fundo apareça à maneira de sombras. Sua forma evocada por linhas curvas desenha arabescos delicados e fluidos na cor branca – são ecos de um passado árabe. Esses espaços do Palácio reúnem, hoje, exposições de caráter político, social, histórico, arquitetônico e cultural, narrativas simbólicas, da estética à poética. Ao meditar sobre o tema dessa exposição proposta por Hilal Sami Hilal para o Palácio Anchieta, penso que existem frases que abrem janelas para o entendimento de muitos valores do homem. Por meio delas é possível redescobrir-se e redefinir-se; avizinhar-se de símbolos, que os olhos não veem, mas figuram coisas que significam muitas outras coisas, à semelhança de Ítalo Calvino, em As cidades invisíveis. A memória é redundante: repete os símbolos para que a cidade comece a existir. A mostra Constelações permite refletir principalmente sobre o indivíduo pela via urbana, em uma incursão do eu e do outro, no seu século/tempo. Evoca o desejo de desorganizar para organizar,


estetizar, depurar a cidade na história do estado. Hilal incorpora o patrimônio cultural, com capacidade de remeter ao passado e lançar o olhar para o presente, compatibilizando conteúdo e ocupação. Cada instalação representada por seus atributos, símbolos de memória e reconstrução, que implicam reviver conteúdos que estão na base da construção da nossa identidade, traz a capacidade de recuperar algum lugar que reflui das recordações e que se dilata com outros símbolos. Coloca em questão idiossincrasias e convergências entre patrimônio, memória, pertencimento, identidade, arte e desejo. Oferece-se como chave de interpretação, investigação e significação mediada pela arte contemporânea. Não por acaso, Hilal Sami Hilal põe-se a incrustar repetidamente infinitas pedrinhas de brilhante, organizadas em cerca de oito mil ladrilhos hidráulicos, na cor cinza chumbo, medindo 20 x 20 cm, que revestem toda a extensão do piso, localizado anteriormente na Igreja de São Tiago, e intitula essa instalação de Para o meu amor passar. De certa forma, essa obra aproxima-se da primeira estrofe de uma das maiores criações do nosso cancioneiro popular: uma cantiga de roda de autoria desconhecida, de origem portuguesa, mas diretamente relacionada à invenção e à prática que vêm desde o período colonial e que fazem parte da nossa memória afetiva. A letra, recheada de rimas, repetições e trocadilhos, constitui patrimônio cultural imaterial, que nos remete aos antigos mosaicos bizantinos. A partir da inversão da ordem das palavras – “[...] eu mandava, eu mandava ladrilhar com pedrinhas, com pedrinhas de brilhantes [...]” – está aí representada, por centenas de strass que aparecem como pontos cintilantes e como se fossem

campos celestes, uma galáxia: espaço cósmico ao qual pertencem o sol e mais de cem bilhões de estrelas. Refletindo tal cidade, Hilal busca inscrever o invisível num circuito da rua, tenciona os limites entre interior e exterior, tomando como ponto o paradoxo de ver e apreciar o que nos olha. Assim, a exposição Constelações efetiva seu primeiro espaço expositivo, uma instalação denominada Para o meu amor passar, concebendo uma rua de sentido a ser descoberta pelo visitante. Nota-se que, a despeito do enunciado na letra da música, o próprio gesto do artista configura-se numa situação contrastante e quase contraditória a uma compreensão de rua que atravessa séculos. Enveredando pela literatura, adentrando pelo cinema e percorrendo a história da arte, a rua mostrou-se, num certo imaginário, como lugar do vício e do perigo; evidencia a desordem, traz à lembrança algo da natureza do conflito, da confusão, com a sua volátil mistura de pessoas e tráfegos, negócios e residências. Transcendendo a concepção de moradia, a rua é território intenso, pródigo de muitas sensações, e/ ou uma metonímia, como a inviabilidade da cidade. Tal rua “[...] tem um bosque, que se chama, que se chama solidão. Dentro dele, dentro dele mora um anjo, que roubou, que roubou meu coração.”. Qual seria a nossa surpresa ao depararmonos com uma das variantes dessa ciranda de domínio público que vai inscrevendose por meio do mito, pela força de sua dimensão narrativa? Aprisionado na malha da floresta, o indivíduo é condenado a viver no isolamento, à sombra e na pele da lembrança. A experiência dessa aparição, que se apresenta como símbolo de força solene da natureza, abre-se como uma fresta para o

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funcionamento da nossa imaginação. Há, aí, e muito perfeitamente, a construção de dois tempos: real e simbólico, vivido e sonhado, paixões e ódio, desejos e afetos, compaixão e sofrimento. Bem simplificadora é a letra dessa cantiga de roda, mas impressionante é o modo como Hilal Sami Hilal conduz o espantoso mistério do tempo. Na construção de sua obra, o artista vai atribuir à ação a discussão estética, e à ciranda, a dimensão política. Qual cidade?

Pouco importa a duração do tempo que a obra de Hilal nos proporciona, não terá, naturalmente, o grão da vida em comum. O viajante tem que se localizar nessa cidade, nas dimensões carregadas de índices definidores de todas as permanências, deslocamentos, martírios, amores, desamores, cruzamentos, vivências e injunções. Complexidades das relações de um social ao outro, de um indivíduo a outros. Ampliação da experiência humana ao alcance dessa poética, que se abre como uma decifração do que somos (conflitos permanentes de correntes identitárias, pacificação ou exacerbação) e do que pode ser (confronto, passagem, conjunto de diferenças e de aproximação, às vezes nunca preenchidos). Sensibilidade que nos leva a desvendar parte de nosso cotidiano e os mistérios do entendimento da imagem que fazemos de nós e do outro que nos habita.

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Esses sentimentos expressam-se por meio de pequeninas pedrinhas brilhantes instaladas em toda a superfície ladrilhada, que transferem para cada exemplar, de tiragem única, delicadeza e originalidade, cujo fio condutor perpassa pela memória coletiva. Instalados os ladrilhos, transformam-se em luz numa imensidão

negra, uma insistência entre a emoção e a imagem, um misto de memória e invenção, imantado por tudo aquilo que está inseparavelmente contido na natureza desse objeto. Se por um lado há êxtase, por outro há melancolia. É importante revelar, contudo, que a sutileza do trabalho potencializa a sua pulsão imaginária, a ressonância reativa o silêncio, cujo princípio é um querer ver, um poder ver e um saber ver. Certo é que muitas vezes tendo partes omitidas ou formas esquecidas e transformadas, entrecruzam-se, e as duas confirmam e validam a memória. É dessa massa que nós somos feitos, resistências e pertença, memória que faz persistências vivificadas, perenes ou abstratas. Para o nosso olhar superar os abismos das cidades – que emergem dos sistemas naturais, valores que continuam a prevalecer nas nossas ciências sociais e humanas, e também na vida da sociedade contemporânea –, é necessário pensar com o coração. E não tenho dúvidas de que o próximo salto humanístico terá de ser sob o signo da convergência, sob o signo da paz e da fraternidade. A esperança precisa povoar nossos reflexos e provocar o desenvolvimento dos nossos sentidos. Assim, com efeito, a canção para depois do ódio, de Marcelo Yuka – “[...] eu tô lá na esquina esperando o seu rosto passar. Só os encontros vão salvar” –, é um bom contraponto. Pode ser que essa rua, rua única, que seja minha, que vejo brilhar ali, sob as estrelas, promova outra espécie de lugar, imaginário, que se cumpra na observação de que todo esse fascínio aproxima-nos com um belo aceno, diante da dificuldade da vida, de perceber a esperança. Pode-se dizer, ainda, que a grande chave dessa instalação curiosa e notável de Hilal Sami Hilal, Para o meu amor passar, seja o AMOR.


Cabe indicar, para futuros estudos, que boa parte da obra de Hilal presta-se a ser analisada a partir de conceitos, suportes e linguagens que transcendem a ordem. O autor é um virtuoso do desenho, aprofundou-se na fabricação do papel artesanal e investigou a gravura adentrando-se pelo objeto. Tal cruzamento subverte técnicas e códigos, justapõe e entrelaça outros campos de conhecimento ao trabalho de arte, infringe as técnicas milenares do papel japonês, da gravura, do desenho e da pintura, de tal modo que o gosto pela destreza do trabalho manual é paciencioso e funde-se às técnicas industriais de última geração. Torna-se possível pensar que Hilal busca certa e irrevogavelmente traduzi-las, “transportar entre fronteiras”, amplificar seu trabalho ao pensar de maneira arquitetônica, visando estabelecer diálogos com o espaço expositivo e, mesmo historicamente, instaurar um encontro social, político, delicado e poético. É importante notar que, seguindo em direção às Constelações, encontramos outros dois trabalhos, que pertencem à série Deslocamentos, como delicadas pistas entre elas – como se uma obra preparasse o terreno para a outra, ou seja, como se quaisquer afirmação e aproximação constituíssem uma sugestão a se seguir. O trabalho que está ao lado direito da instalação Para o meu amor passar denominada ‘Um é uma grande circunferência de madeira, com diâmetro de 4,0 m, contendo água, trapo macerado, glicerina e pigmento: iluminados. É matéria pura, não se vale de nenhum processo alheio, nem pintura, nem gravura, nem desenho. Traz, em si, memórias da manufatura do papel artesanal, que podem ser rastreadas, por ora, pelo uso do elemento que se vê – é só

fibra em suspensão –, e revela sensações cartográficas que se desdobram numa miríade de reflexos. Entretanto, o que se vê é um jogo de equilíbrio entre o vazio e o cheio, repouso e deslocamento, tradição e contemporaneidade, que assumem um relevo particular. Mas não é só um componente na geometria. Seria legítimo indagar, então, se há certa compreensão que nos permite ampliar os limites para além do processo tradicional de fabricação do papel artesanal? Equivale a saber se as matrizes culturais e os contornos dos legados são fundamentalmente desafiados pelos imperativos de forjar-se uma nova autointerpretação baseada nas heranças culturais. O deslocamento, a diferença, o hibridismo, as novas ecologias humanas e ambientais têm efeito pluralizante sobre as novas identidades, produzindo uma variante de possibilidades e outras posições identitárias na era da globalização, tornando as identidades mais posicionais, mais políticas, mais plurais e diversas, menos fixas, trans-históricas. Essa obra de Hilal está, assim, ancorada na incerteza sobre o que vem a seguir, visto que sua poética inscreve-se sob a metáfora da “globalização como fábula” (como ela nos é contada): várias identidades culturais que não são fixas, mas estão suspensas em transições, entre diferentes posições, e que, irrevogavelmente traduzidas e transferidas, são transportadas pelos êxodos humanos, ecológicos e culturais – produtos de novas diásporas criadas pelo deslocamento planetário. De tal modo, a obra de Hilal Sami Hilal promove outra espécie de lugar, mapas imaginários, entre o ser que a obra exprime ao fazê-lo desaparecer e a aparência de ser que ela reúne em si mesma, para que a invisibilidade do sentido adquira

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forma e mobilidade no campo aberto da linguagem. O vazio (deslocamento), o lugar (matrizes culturais) e o exprimível (sujeito) estarão no centro de cada tentativa de enunciá-los e contêm sempre alguma coisa que não conseguimos abordar ou dizer. Porque nem sempre haverá palavra adequada para dar conta de uma experiência de sentido, da sensação pura, do deslumbramento e, sobretudo, do fascínio visual. Porque nem tudo é passível de ser expressado, há interstícios que não alcançamos por meio da linguagem, entrelinhas que se sobrepõem às linhas, mas que não conseguem ser ditas. E a obra de Hilal seria esses interstícios que escondem mistérios e, com sorte, alguns dos melhores achados, uma espécie de pele que dá a dimensão do mundo. Estamos diante do indivisível!

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O terceiro trabalho que compõe a exposição Constelações também faz parte da série Deslocamentos e tem a forma de um objeto-livro. Sami Hilal utiliza-se da parede para instalar, numa inclinação de 30º, uma reunião de pranchas imensas de papel artesanal, medindo 1,5 x 2 m, encadernada em capa dura, que parece passível de constituir um legado da potência contida na obra anterior. Não há frente ou verso; as imagens que simultaneamente brotam dessas páginas resultam de uma ação continuada da própria superfície, engendrada pela pasta de trapo macerada, carboximetilcelulose, glicerina, água e pigmento. Tanto a fusão da massa quanto a mescla de cores prolongar-se-ão por todo o espaço – é papel. Além disso, produzem direções próprias e estabelecem ritmos, fazem manchas e linhas – cor – do chumbo ao azul, claro e escuro, da luz às suas incidências nas grandes lâminas de papel artesanal com pouquíssima interferência

externa pelo gesto do artista, que acolhe do preto, do branco e dos azuis o que lhe convém e lhe fornece cheios e vazios. Trata-se de um trabalho que resulta da aproximação mediatizada entre um planejamento preciso que define etapas antes de sua execução – um método “prospectivo” de invenção. Tal ação busca algo que não se conhece ainda, é pesquisa intransitiva. E a matéria não é, nunca, consequentemente, técnica posta a serviço de uma ideia prévia e acabada, ou transformada em imagem por algum motivo. É mecanismo de construção de conhecimento que ignora essa precedência, assumindo a hesitação como elemento central de sua feitura e acolhendo, como coisa natural, os sinais visíveis que essa investigação deixa na textura porosa do papel artesanal. Dispostas, lado a lado e costuradas, essas páginas, espelhadas, invertidas ou multiplicadas, dizem respeito à hermenêutica do trabalho em face cumulada das infinitas ordens da visualidade sedimentada. O que está em jogo é o corpo do visitante no abrir e no virar das páginas desse objeto-livro. Convida-nos a perscrutar, desde as lisas, transparentes e calmas, força colidente da organicidade matérica à travessia da cor. Ilumina-se de algo imaterial, cujo vigor sabe-se mais do que se conhece, razão pela qual a obra torna-se sempre indeterminável do que terá sido. Aí estamos no terreno fascinante da sofisticação exercida com maestria pelo artista Hilal Sami Hilal – muito próximo a prognósticas paisagens. É bem verdade que, no início da carreira, Hilal passou por um vácuo de brasilidade que o levou a pesquisar referências do país. O Brasil tem uma história importante de transformação da paisagem, em cor e em luz, conforme preconizado em 1921 com a estética da vida de Graça Aranha,


e reafirmado, em 1922, por meio das questões da modernidade brasileira, por Mário de Andrade. O artista Sami Hilal traz a memória da imigração do Oriente Médio com expressão nos seus paradigmas simbólicos na cultura do ornamento, no mundo árabe, mas carrega, sobretudo, outras culturas que funcionam como tradutores: “filtros” através dos quais transpõe de sua forma original para a construção de outras matrizes culturais, e se faz herdeiro dessas tradições; considera a natureza não como esta é, mas como aparenta ser. Talvez por essa razão, Hilal Sami Hilal, uns dos grandes artistas brasileiros, apresenta ampla exposição neste ano, no Palácio Anchieta, sede do governo do estado do Espírito Santo – tente-se dizer, para além deste território, “lugar” real ou utópico, vivido e idealizado. A partir da configuração de que entre o universal e o local somos todos viajantes, Hilal Sami Hilal promove outra espécie de lugar, imaginário, contrapondo-se à monumentalidade da instituição, patrimônio cultural e sede de governo, o Palácio Anchieta, e sua imponente arquitetura, a potência do arrebatamento imaginário de Constelações. E assim chegamos ao quarto e último momento desse percurso. Tal é a obra homônima da exposição: episteme balizada pelo artista, demarcada pela propriedade de um outro devir arquitetônico, torna-se a partir de situações escultóricas, nomes masculinos e femininos feitos em papel artesanal, repousados em organzas brancas, leves, transparentes e translúcidas, descem do teto e tocam suavemente o chão em toda amplitude das paredes da sala. Instalados, esses nomes parecem um grande mosaico, todavia não se trata do mosaico tradicional; na

verdade, seus princípios técnicos, que permanecem na tradição antiga, e sua linguagem espacial originam ideias inovadoras por meio das tesseras. Desse modo, Hilal constrói uma constelação de histórias e as expande a proposições da instalação sobre a mescla arte/memória/patrimônio. Por conseguinte, reduz, temporariamente, a planta original da sala a um âmago luminoso, por meio de milhares dessas escritas em espectro colorido, que se faz em minúsculos e estreitos intervalos entre uma e outra, de fina espessura coladas uma em cima da outra, dispostas em formas curvilíneas. Algumas parecem pequenas vírgulas; outras, indiscutíveis curvas entre pequenos espaços de repetição ritmada. Cada novo olhar está intimamente ligado à disposição subjetiva do observador e, desse modo, realiza-se o jogo interpretativo fazendo uma analogia à obra “A noite estrelada” de Vincent Van Gogh. A única forma de ligação possível dessa “constelação” está na potência e no poder singular de cada assinatura pessoal que lhe ocorre no instante da descoberta e da feitura dos nomes. Tal como na cidade de Bagé (RS), a metodologia fez-se caminhando e repensando a relação memóriasujeito por meio da cidade. Entretanto, o que o artista apresenta-nos aqui em Vitória (ES) postulou outras estratégias. Numa primeira etapa, durante um dia inteiro, Hilal Sami Hilal – com uma equipe composta pela psicanalista Ruth Ferreira Bastos, o educador Laércio Ferracioli e eu, curadora – ministrou workshops para os diretores e professores de sete escolas da rede estadual de educação de Vitória e região metropolitana, com o intuito de acercá-los da experiência com a arte, da “constelação”, da evocação da memória pessoal ou coletiva, articulando a noção de identidade: como mito, ou um conceito

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que não cabe da realidade de tantos deslocamentos no nosso dia a dia. Na segunda etapa, realizaram-se oficinas diretamente nas escolas. Uma das passagens mais bonitas das obras de Paulo Freire é a que ele escreveu sobre o sonho e a utopia. Paulo Freire era um educador voltado para o futuro e, tomando de empréstimo as suas palavras, nos diz que o seu sonho era de uma sociedade mais justa. Ele retoma o tema sempre acrescentando alguma ideia nova. E acrescenta que “[...] não é possível sonhar e realizar o sonho se não se comunga este sonho com as outras pessoas”. Ver, durante dois meses, centenas de alunos das escolas Zumbi dos Palmares, Clotilde Rato, Zaíra Manhães de Andrade, Maria Ortiz, Catharina Chequer e Escola Viva Dr. José Moysés escrevendo uma constelação de nomes e memórias afetivas, inundada de lembranças e marcas vividas, por meio da técnica do papel artesanal, legitimando em caligrafias os seus nomes e dos seus familiares: isso é um sonho do presente.

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São cerca de dez mil assinaturas masculinas e femininas que operam num outro lugar, num território distinto, e nessas constelações são circunscritas outras Lúcias, Marias, Lucas, Claras, Fernandas, Marcos, Guilhermes, Felipes, Anas, Pedros, Carlos, Vanessas, Rodrigos, Clarissas, Angélicas, Lucianos, Marcos, Paulos, Sérgios, Rutes, Ronaldos, Amandas, Jéssicas, Elianes, Mateus, Ivos, Rodrigos, Jonas, Joyces, Amarildos, Paulos, Sônias, Luisas, Douglas, Souzas e tantos outros Joões, Josés, Franciscos, esparramados pelos bairros Cidade Continental e Fátima, na Serra (ES). Esses nomes alastraram-se também em Cariacica (ES), nos bairros Nova Rosa da Penha I e Santa Catarina II, e disseminaram-se no Novo México, em Vila Velha (ES), chegando

ao bairro de São Pedro, em Vitória. Com esses nomes postos, acumulados num grande pano de organza, Hilal Sami Hilal utiliza-se da noção global de identidade e sublima, em contraponto, a individualidade do material. Ao mesmo tempo, esses nomes líquidos e coloridos colocados ao sol e ao tempo para secagem – a luz e a matéria – transformam-se em papel-objeto, habitam as paredes do Palácio Anchieta e constroem uma pequena catedral para o sentido profano da arte. Nesse trabalho, a questão de identidade é perpassada por uma sensação de pertencimento e deslocamento que beira a impetuosidade, apontando para a situação contemporânea limítrofe em que se encontra o ser humano contemporâneo que vive na periferia dos grandes centros. Assim, Hilal propõe uma nova e extraordinária dinâmica para a obra Constelações ao instalar espelhos em toda a extensão do teto. Essa estratégia apaga toda a linha limite e marca a continuidade, absorvendo a atenção do visitante pelo ver-se nesse espelho, que brilha suavemente através, pelo abaixar-se e elevar-se para penetrar nos imaculados registros nominais. O artista oferece, enfim, esse encantamento do duplo – tanto os registros quanto a presença do espectador assemelhamse. Contudo, não é a homologia que os assinala, pois a distinção da sua condição desvaneceria no semelhante que é tratado; versa-se de outra analogia, uma similitude vizinha e de outro tipo, que serve para reconhecer, na primeira, a natureza das coisas: as caligrafias que tomaram corpo por meio da pasta de trapos macerados que se integram de maneira rítmica sobre a superfície da parede – que, por sua vez, é patenteada por uma segunda, que pode ser reconhecida na coexistência do visitante: presença enunciativa, e os encadeamentos que as


vinculam, requerendo-se umas às outras. Elas indicam que existe um perímetro que narra a sintaxe que as liga. Há, nesses trabalhos do artista Hilal Sami Hilal, uma pulsão plástica visual muito próxima à estética da mosaicista Freda Cavalcante Jardim (1926-2000), ao dar conta dos jogos de efeitos dinâmicos produzidos pelos nomes/mundo: são como tesseras presas por colagem, revestindo a superfície plana do tecido, ou como as pedrinhas incrustadas nos ladrilhos com texturas; falam-nos do céu estrelado móvel, cujas mudanças de efeito são realizadas pelo próprio espectador ao deslocar-se diante das obras, iluminando-as. E, pela mesma razão, o ato de escolher, de reunir coisas, fala por si. Dar forma às ideias no espaço é nato do homem, no entanto, o que Hilal e Freda fazem, além de eleger, agrupar e unir pedacinhos de “coisas”, aproxima-se do invisível que pede o visível, o que implica, necessariamente, um exercício de localização na profundidade do mundo e das múltiplas tesseras espaciais, que surgem do amálgama da terra. Entre a obra Constelações e a edificação do Palácio Anchieta é possível estabelecer outras possibilidades de percepção do sensível e de renovação simbólica desse espaço ainda marcado por murmúrios, pequenos rastros e registros da sua antiga função religiosa. Não devemos ignorar o sentido semântico que resulta da tensão entre a história do espaço e do seu apagamento, que foi efetivando-se ao longo da história. Todavia, é pelo signo do Espírito Santo, símbolo português da tolerância e da compreensão entre religiões, culturas e etnias, que a grande diversidade cultural do estado é marcada; por matrizes culturais ainda intactas e imbricadas por uma efervescente produção artística contem-

porânea. Uma parcela, entretanto, tem suas raízes nas tradições dos portugueses colonizados. Da mesma forma, os índios e os escravos negros africanos legaram-nos forte registro de sua cultura e, no final do século XIX, também os imigrantes europeus, principalmente os italianos, alemães, sírio-libaneses, suíços, belgas, luxemburgueses, poloneses e holandeses. Essas questões transpõem fronteiras e colocam em evidência o estado, em interfaces com muitos Brasis: elementos essenciais de nossa identidade cultural – pois é por meio da mutação constante que o tudo penetranos, atravessa-nos e ganha novos estatutos de significante... “É por isto que o texto poético significa o mundo”.1 Ao munir-se dessas estratégias, Hilal Sami Hilal, importante artista contemporâneo, torna-nos participantes de sua própria memória, a dos seus semelhantes, e da história que ele conta. Oferece, em troca, um jogo com sutilezas, delicada e preciosa operação que envolve a fatura na confecção dos seus trabalhos, movendose, de certa forma, para uma conexão, retratando uma arqueologia especial de todas as coisas, entre pessoas e cidades, intervalo que preserva, contudo, a possibilidade de vivenciarmos a transcendência e a prosa do mundo. Neusa Mendes outono de 2016 * * *

1

ZUMTHOR, Paul. A letra a e voz: a “literatura” medieval. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.

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‘um (mãe)

Fibra de algodão, pigmentos, CMC, água e glicerina. Diâmetro 4,70 m, 2016.

















atlas

Papel de fibra de algodĂŁo feito Ă mĂŁo e pigmentos. 2,00 x 3,00 m (livro aberto), 2015.










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Constelações, na Astronomia, são agrupamentos de estrelas aparentemente próximas umas das outras. Elas podem estar a anos luz de distância, mas, de certo ponto de vista, se organizam num enquadre, compondo, para aquele que as observa, um conjunto, um todo. Também é assim na constituição da imagem do corpo. A vivência primeira do bebê humano é de desamparo e despedaçamento. Ele precisa de cuidados essenciais para sua sobrevivência e sua existência. Sozinho não pode ter a experiência de existir. A percepção de unidade corporal lhe falta. Para que o eu se constitua é preciso que exista alguém que o olhe e veja aí o futuro sujeito que virá. Esse olhar, num primeiro momento, fará dos pedaços um corpo, uma unidade, “uma constelação”. Esse enquadre num olhar será nomeado; em seguida, por uma voz. E esse nome será carregado de memórias e afetos, dores e alegrias, desejo e gozo daquele que nomeia. Qual a origem do meu nome? Por que este nome foi escolhido para mim? Indago os poetas a esse respeito em busca de um bem dizer. Encontro em Mia Couto a história de uma pequena tribo, no litoral de Moçambique, onde “o nome do recémnascido vem de um sussurro que se escuta antes de nascer”. Na barriga da mãe, afirma o narrador, “não se tece apenas um outro corpo”. Fabrica-se a alma a partir das vozes dos antepassados. O pai recebe a incumbência de ouvir e traduzir o que dizem essas vozes sabendo que “atribuir um nome é um ato de poder, a primeira e mais definitiva ocupação do território alheio”. Nesta exposição, as constelações se formam com uma reunião de nomes e caligrafias numa instalação proposta pelo

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artista. Esses que escreveram o próprio nome, numa oficina de papel, podem se perguntar sobre a razão dessa nomeação, imaginar e supor algo sobre o desejo desse outro que lhe ofertou um lugar no mundo, uma moldura proposta nesse olhar. Os nomes escolhidos para deixar na exposição, ao lado do seu, também podem trazer lembranças, rememoradas para justificar esta escolha. Tudo isso interessa nesse mundo onde tantas vezes faltam palavras, oportunidades de reflexão e elaboração simbólica.Qual a importância de uma oficina de papel que visa a contribuir para a exposição de um artista? Em que a passagem ao público, deste trabalho, interessa às crianças e adolescentes que nele estiveram envolvidos? O que será para cada um a escrita do nome e a presença desta caligrafia numa exposição? Acreditem, uma oficina de papel pode, sim, mudar o papel de alguém na vida. E precisamos pensar sobre os possíveis efeitos da experiência com a arte na sua passagem ao público.

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A Psicanálise nos ensina que dependemos do olhar e da voz de um Outro na constituição da imagem, do corpo, do eu, e no nascimento de uma subjetividade. A criança é capturada pela imagem constituída no olhar da mãe, função desse primeiro outro que acolhe o bebê e faz da imagem a matriz do que será a sua possibilidade de ser. Este filho pode ser para sua mãe um objeto maravilhoso; um objeto supérfluo ou algo que ela não deseja. Um objeto onde ela condensa amores e mágoas dirigidas a seu marido ou sua mãe; um objeto que sobrevém de um bom ou um mau momento. Tudo depende do enquadre do seu olhar. É a imagem proposta pelo olhar materno que

recobre o pedaço de carne, antecipando o sujeito a advir a partir dessa identificação imaginária primordial. A imagem – inconsciente – com que a mãe recobre seu filho é decisiva para o seu futuro. É uma marca que ele porta, o enquadre que determina sua posição no mundo pela vida afora. Ser objeto para o desejo materno implica em possibilidade de vida e mortificação. Ser tudo para a mãe representaria para o futuro sujeito um aprisionamento excessivo ao visgo do seu olhar. Por isso é necessário um corte. E quem cumpre esta função é o pai, este que ocupa um lugar terceiro que rompe a relação dual da mãe com o seu bebê. A tradução, pelo pai, do desejo da mãe introduz na vida do filho um funcionamento pela via do significante. Esta é a operação metafórica que possibilita a articulação da subjetividade. A significação do que seria o desejo da mãe, indicada pelo pai, a partir do erotismo do casal, nomeia o lugar suposto de objeto ocupado pela criança. Essa nomeação, junto com o nome que o distingue, desloca o filho do lugar de alienação ao gozo materno, e do aprisionamento ao signo de seu olhar, para o lugar de significante do seu desejo. A presença deste significante permite um jogo muito diferente daquele que se faz com as imagens, o jogo simbólico. O sujeito surge como um dos efeitos deste acesso ao simbólico. Temos aqui a identificação simbólica. Muitas das nossas crianças, na contemporaneidade, apresentam enquadres muito precários pela falta ou pelo excesso de visgo do olhar materno. As identificações imaginárias prevalecem onde a identificação simbólica se constitui precariamente nos indivíduos. A imagem, por não ser de


fato internalizada, exige sua confirmação nos atos que asseguram sua existência e confirmam, incessantemente, sua posição. Podemos verificar isto nos atos violentos e no que se refere às tatuagens, onde se evidencia a necessidade de renovação da marca, aquela que convoca o olhar do outro, para a confirmação do signo de inserção no campo do desejo do outro. Em todos os tempos, as transgressões são, para os adolescentes, a possibilidade de aventura e risco que garante ares de liberdade, a possibilidade de contar histórias e vantagem, dando provas do abandono de uma postura infantil. A oposição às determinações familiares na busca de uma imagem exterior de identificação leva o adolescente a personagens que convocam o olhar de reprovação na família, mas o incluem num novo grupo, para um novo enquadre.

experiência do artista. Ao criar, o artista é capaz de se deixar levar pelas entonações de voz sem nenhum sentido, grunhidos e afetos enigmáticos impressos no corpo, sem tradução possível em palavras. O artista é capaz de se defrontar com esse ilegível, destacar letras embaralhadas para compor um quadro, um texto, uma sinfonia, uma instalação. Foi supostamente assim, que o artista Hilal Sami Hilal pode propor suas Constelações.

Ruth Ferreira Bastos Psicanalista Membro da Escola Lacaniana de Psicanálise de Vitória Coordenadora do Espaço de Conexões: Psicanálise e Arte

Participar da instalação Constelações poderia ser para alguns a possibilidade de enquadre numa cena de brilho? O adolescente, propício a rearranjos na constituição da subjetividade, pode encontrar nessa experiência uma oportunidade para talvez estabelecer fissuras na fixação ao olhar materno ou na versão paterna inscrevendo um novo enquadre para dizer de si. Alguns artistas relatam a importância de fazer um nome de artista, ter reconhecimento no público. Creio que algo dessa ordem pode se dar na montagem desta exposição. Ser uma estrela, uma luz, uma voz, entre outros, no enquadre das Constelações, será certamente um acontecimento. Reconhecer ali memórias e afetos, dores e alegrias ligados ao próprio nome não será sem conseqüências. Imprescindível destacar que a experiência dessas crianças e adolescentes difere da

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constelações

Papel de fibra de algodão feito à mão, pigmentos e música para coro, 2016. Esta obra foi realizada com a participação de alunos e professores da rede pública estadual de ensino.





















Constelações: Arte & Ciência na Busca de Identidades e Pertencimentos Laércio Ferracioli 1. Ciência: Um olhar Desde o alvorecer da humanidade o homem busca entender e explicar o mundo ao seu redor. Observando o que ocorre à sua frente, analisa o observado e, baseando-se em suas ideias e crenças ele constrói modelos explicativos que dão conta de desvelar o mundo observado. Nesse processo o homem constrói uma estrutura de redes de significados que vem a constituir o seu conhecimento sobre o mundo no qual está inserido.

A ideia da Terra como centro do universo foi aceita por quase 2500 anos até o final da Idade Média por volta do ano de 1500, quando Nicolau Copérnico (1473-1543), baseando-se em observações mais cuidadosas e precisas, entendeu a limitação dessa ideia e propôs um novo modelo trazendo o Sol para o centro do universo: o modelo Heliocêntrico. O homem deixava o centro, a Terra passava a ser apenas mais um planeta orbitando o Sol.

Buscando compreender o significado dos trovões, o homem da antiguidade os associava à ira dos deuses. Essa mesma fúria era atribuída aos deuses quando em plena luz do dia o Sol desaparecia durante um eclipse solar.

Esse novo modelo cosmológico foi entendido por Galileu Galilei (1564-1642) que utilizando um novíssimo dispositivo tecnológico vindo dos Países Baixos, a luneta, obteve novas evidências que o corroboravam.

Na busca do entendimento do local de sua morada, Aristóteles (384-322 a.C.), partindo da observação do movimento das estrelas, constelações e do Sol no firmamento, colocou o Terra no centro do universo em um dos primeiros modelos cosmogônicos da humanidade. Ptolomeu (90-168 d.C.) imprimiria a forma final desse modelo denominado Geocêntrico.

Na esteira desses avanços sobre o entendimento do mundo Isaac Newton (16431727) formalizou matematicamente esse modelo unindo em uma só teoria física a explicação para os fenômenos da Terra e do universo: a Teoria da Gravitação Universal. 103


Assim, com esse modelo o homem passou a entender o mundo que estava inserido e o universo ao seu redor com suas estrelas e constelações distantes da Terra na abóbada celeste sem, no entanto, ter a real dimensão do tamanho e da distância dessas constelações à Terra. Somente no início do século XX, passados quase 400 anos, é que Edwin Hubble (1889-1953) utilizando um telescópio de última geração tecnológica para a época obteve evidências de que o universo era muito maior do se imaginava. E mais, o universo estava expandindo com suas constelações se afastando umas das outras a uma velocidade jamais imaginada o que o levou a conjecturar a hipótese de que o universo teria tido um início, o Bing Bang. Essas evidencias revelaram que a espécie humana, nosso mundo, nossas preocupações tinham se tornado cosmologicamente insignificante: nós somos apenas um pequeno planeta em uma imensa galáxia no meio de bilhões de outras imensas galáxias. O universo se revelava vasto e, talvez, sem limites! Seguindo a esteira desses avanços sobre o entendimento do universo Albert Einstein (1879-1955) formalizou matematicamente um novo modelo explicativo e mais abrangente para a leitura do universo e estabeleceu uma pauta de investigação de suas implicações até os dias de hoje. Em Einstein emergiu a possibilidade da viagem a um tempo futuro, sonho eterno do homem.

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Esse rápido olhar pela história da humanidade no recorte da Ciência nos mostra que o homem em sua constante busca pelo entendimento do mundo ao seu redor, sempre se baseou nas evidências reveladas pelo seu olhar inquiridor

e construiu seu conhecimento sobre o universo. A evolução desse conhecimento, via de regra, não se deu de forma cumulativa de evidências, na perspectiva de que o conhecimento anterior justificasse e alavancasse o conhecimento porvir: por vezes, como em Copérnico e Einstein, a evolução do conhecimento se deu como uma revolução científica, por rupturas catárticas não aceitas inicialmente e duramente questionadas até seu estabelecimento definitivo. Definitivo até o surgimento de novos olhares e evidências para a construção de um novo modelo para continuar a leitura do universo. Assim, pode-se compreender que nesse processo de construção de um conhecimento que lhe assegurasse a qualidade, a fidedignidade e a validade de suas conclusões, o homem estabeleceu rotinas de pensamento que lhe permitiu construir estruturas de significados mínimas que lhe garantissem o desvelar seguro do mundo a sua volta1. Enfim, o pensamento científico. Apesar da crítica ao suposto excesso de limites imposto pelo pensamento científico ao olhar do homem sobre o mundo ao seu redor, o que provocaria uma consequente limitação ou tolhimento de sua criatividade, imaginação, espontaneidade e emoção, a história da Ciência nos mostra que os modelos explicativos construídos ao longo do caminhar da humanidade apresentam momentos de exuberância de capacidade criativa e imaginativa. De Aristóteles a Einstein, passando por Galileu, as soluções apresentadas jamais teriam sido

1 BAPTISTA, J. P.; FERRACIOLI, L. (2004) Da Physis à Física: Uma História da Evolução do Conhecimento da Física. 01. Vitória: Edufes - Editora da Universidade Federal do Espírito Santo, 292p.


construídas sem o toque de genialidade e envolvimento emocional desses homens.

2. Movimentos Trazendo esse olhar da Ciência para a exposição Constelações de Hilal Sami Hilal, ele pode nos insinuar o ordenamento intencional do tempo, o tempo de cada um de nós na busca de nosso universo particular, de nossa identidade e de nosso pertencimento a esse universo que se desvela no firmamento. Na medida que hoje entendemos que observar o firmamento é olhar para o passado, as fotos do telescópio Hubble, construído em homenagem a Edwin Hubble, nos revela os primórdios da origem do universo há 13,7 bilhões de anos. Assim, nos parece que desde a proposição dos primeiros modelos cosmogônicos o homem busca entender o seu universo particular, a sua identidade e o pertencimento desse seu universo ao universo que se desvela na abóboda celeste. Quanto mais aprofunda seu conhecimento do universo, maior é o entendimento do homem de sua ninguendade, como nas palavras de Darcy Ribeiro (1922-1997). Da Terra aos confins da origem do universo me desvelo, me descubro ninguém. Poeira. Cósmica. O entendimento dessa minha ninguendade me gera a necessidade de buscar minha identidade própria e de meu senso de pertencimento a todos esses universos. Essa necessidade me traz de volta à Terra, em uma viagem através de Constelações desses universos. De volta à Terra me encontro na Minha

Identidade. Novamente, poeira. No afluxo e refluxo, um processo arqueológico: a Arqueologia de Meu EU. A antiguidade me pertence intrinsicamente. O meu EU é a contemporaneidade do meu tempo presente. Como aponta Hilal, identidade não é substantivo. É verbo. Identidade é movimento. Nesse contínuo movimento construo/ reconstruo a minha Identidade, na medida em que nada nesse mundo é permanente, exceto a mudança e a transformação, como apresentou Heráclito (535-475 a.C.). Como, por suas palavras, nenhum homem pode banhar-se duas vezes no mesmo rio, a cada mergulho (re)construo minha Identidade como uma Constelação de recortes, momentos, vivências, sabores, pensares e fazeres. Assim, na minha contribuição para as Constelações de Hilal, ao terminar de escrever meu nome com a tinta de papel fabricado de retalhos de celulose, me revelo em minha escrita. Ali me basto. Mas o processo de complementariedade do meu EU pode surgir e começo a escrever nomes de pessoas queridas e próximas. Nesse momento saio de mim em direção ao outro: pai(s), mãe(s), filha(o) s, irmã(o)(s), companheira(o)s, amiga(o) s, enfim, toda(o)s aqueles que carrego comigo. A cada nome, uma estrela na Constelação de meu EU que se compõe com a Constelação do outro em um grande universo (sem limites?) pela multi-

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plicidade de nomes: a minha multiplicidade ambulante. Do individual ao coletivo. Na contribuição das diferenças é que construo a minha originalidade. Minha identidade. Somos mestiços ao inventar nossa maneira de ser e estar no mundo, como aponta Darcy Ribeiro.

3. Constelações: Ciência e Arte na Construção de Minha Identidade Nesse processo de eu ME pensar insinuado pelas Constelações de Hilal, me enveredo pelo processo de busca de evidências tão caro e familiar à Ciência para sua construção e desenvolvimento. Nesse enveredar me pergunto: tal como na Ciência, onde esse processo é disparado por uma pergunta que leva à organização de ideias e à construção de um modelo explicativo que desvele o mundo, ao pensar a minha identidade, não poderia esse processo de busca de minhas evidências, ser entendido como que disparado por uma pergunta sobre mim mesmo que me auxiliaria na organização de minhas diferenças e à construção de minha originalidade que desvele meu mundo interior, meu universo particular? Se assim for possível, inicialmente não poderiam ser as clássicas questões da filosofia a me disparar e nortear nesse processo? Seria o recorrente questionamento: Quem sou EU? De onde EU venho? Para onde EU vou?

Ciência, para responder a essas questões, devo buscar evidências que me subsidiem na organização e construção de minha originalidade. Partindo da questão que dá origem ao processo de busca de evidências, podemos entender o avanço da Ciência baseado em mais três elementos básicos, eventos, conceitos e fatos. Na observação de eventos eu examino o que ocorre na natureza ou o que é provocado artificialmente pelo homem e, de modo geral, representam a origem da produção do conhecimento: um evento natural gera uma questão a ser respondida ou para responder a uma questão anterior um evento é criado pelo homem. Os conceitos representam o conhecimento já existente e auxiliam a interpretar o que é observado no evento. Os fatos representam o que observo propriamente dito no evento e tomo nota para posterior análise e julgamento. Na tentativa de trazer essas definições para o meu cotidiano, uma vez colocada a questão e vislumbrado um evento para respondê-la posso associar Conceitos ao refletir, ao Pensar o evento. De maneira similar posso associar Fatos ao anotar, analisar, julgar, enfim, ao Fazer do evento. Continuando essa transposição das ideias da Ciência para o meu dia-a-dia, posso representar esses quatro elementos por um diagrama V2 onde a seta de ponta dupla informa uma contínua e recorrente interação entre esses quatro elementos básicos, como em uma engrenagem onde o movimento de uma peça altera, ao mesmo tempo, cada peça subjacente e o

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FERRACIOLI, L. (2005) O V Epistemológico como Instrumento Metodológico para o Processo de Investigação. Revista Didática Sistêmica (Online),

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Seguindo adiante o paralelo com a

Rio Grande, RS, v. 01, p. 106-125.


todo das peças, em direção a resposta à questão formulada. Enfim, a construção do meu conhecimento.

quatro elementos básicos, a sequência aqui apresentada poderia ser feita em qualquer ordem, sempre em direção ao encontro da resposta à questão inicial.

O que acontece com a temperatura da água com gelo quando aquecida?

Princípios Hipóteses Conceitos

Analisando uma situação simples do cotidiano apresentada às crianças do ensino fundamental no estudo de Ciências. O professor deseja estudar o efeito do aquecimento de um copo de água com cubos de gelo. Ele pode chegar em sala de aula e apresentar a questão “O que acontece com a temperatura da água com gelo quando aquecida?”. A partir daí, ele pode criar o evento apresentando um copo de água com cubos de gelo sendo aquecido por uma chama. Inicialmente o professor pode levar a criança a pensar o evento buscando refletir e explorar o que ela já sabe sobre essa situação, levantando as hipóteses sobre o que ocorrerá. Na sequência ele poderá levar a criança a fazer o evento, registrando o observado, analisando e julgando o resultado para chegar a uma conclusão, ou seja, respondendo a questão proposta pelo professor. Um diagrama V explicitando esse processo é apresentado a seguir. De qualquer forma, devido à seta de ponta dupla informando a contínua e recorrente interação entre esses

Conclusões Análise Registro

Da mesma forma, no desejo de criar artisticamente, me questiono sobre o que quero produzir. Para a escolha de minha criação, começo a pensar sobre meu desejo, o que conheço, o que sei para a realização de minha escolha. Dessa escolha vislumbro o evento para sua produção, a criação propriamente dita. Para produzi-la devo fazer, realizá-la concretamente a partir da técnica, emoção, criatividade e imaginação, para, enfim, ter minha criação artística. O diagrama V que segue tenta explicitar esse processo da criação artística.

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de alguma forma, EU me mimetizo em cada EU (re)construído, me revelando o meu EU contemporâneo de meu tempo presente. ME respondo a minha questão inicial.

O que quero criar?

Reflexão: O que conheço O que sei

Técnica Emoção Criatividade Imaginação

Quem sou Eu?

A obra

No caso da Constelações, há uma questão latente sobre o que, quem ou quais serão as estrelas de nossas Constelações. Hilal nos leva a refletir, pensar, consciente ou inconscientemente, quais nomes farão parte de nossas Constelações. A sequência nos leva ao evento da oficina sobre a técnica de fabricação de papel, com a preocupação de nos instrumentalizar para o fazer da escrita dos nomes que escolheremos para nossas Constelações. Ao final, cada um de nós terá construído a nossa constelação pessoal para compor as Constelações de Hilal.

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Nessa tentativa de aproximação desses pensares e fazeres da ciência e da arte posso utilizar os elementos básicos da Ciência para construir um diagrama V da busca de meu universo particular, de minha identidade e de meu senso de pertencimento aos meus universos. Assim, me coloco à questão Quem sou EU?. Para respondê-la posso começar a Pensar em meus Sonhos, Ideais, Princípios, Crenças, chegando aí ao evento Minha Vida. Passando pelo Fazer me rebusco nos confins de minha história, de minha antiguidade, anotando o que vivi, por onde andei, o que fiz. A partir desse processo,

Sonhos Ideias Princípios Crenças

O que vivi Por onde andei O que fiz

Minha Vida

Nesse movimento, por instantes, saio de minha ninguendade. Encontro minha originalidade. Minha Identidade Meu verbo. Meu Movimento. Novamente, poeira.

4. Constelações: Arte, Ciência & Cultura Esse exercício de caminhar pela arte de Hilal com o auxílio dos meus óculos da Ciência é um passo na/de aproximação dos pensares e fazeres da ciência e da arte


na direção de uma terceira cultura3, como proposta por C. P. Snow em 1959 em uma conferência da Rede Lecture da Universidade de Cambridge, Inglaterra, que acontece desde 1593: o título da conferência foi As Duas Culturas. Para Charles Percy Snow (1905-1980), físico e romancista inglês, ou como ele se auto-definia, físico de formação e escritor por vocação, as “culturas” a que se referia estão associadas a cultura científica e a cultura humanística, pelas quais transitou por mais de 30 anos. Sua tese central é de que esses dois pilares da civilização ocidental caminham por veredas divergentes, aprofundando o falso abismo entre cientistas e não-cientistas no curso da história. Essa polarização extremada leva a uma situação onde cada cultura se mantém deliberadamente ignorante da outra resultando em uma perda cultural para a sociedade como um todo.

por Einstein, como aponta Holton (1978)4: “A teoria do conhecimento da atualidade tem as digitais de Einstein devido ao fato de suas primeiras publicações sobre relatividade e mecânica quântica terem auxiliado a dar forma ao estilo moderno de fazer ciência – movendo-se com ousadia e livre imaginação mas mantendo as amarras ancoradas a alguns princípios básicos.” (Holton, 1978, p. 275) Por outro lado, trazendo um pouco das humanidades, partindo de uma postura operacional arrojada como o modus operandi de Einstein, devemos adotar a imaginação como instrumento do saber, como operacionaliza Ítalo Calvino5: “A imaginação como instrumento do saber, segundo a qual a imaginação, embora seguindo outros caminhos que não os do conhecimento científico, pode coexistir com esse último, e até coadjuvá-lo, chegando mesmo a representar para o cientista um momento necessário na formulação de suas hipóteses.” (Calvino, 1994, p.103)

Implementando seu pensamento, mais tarde ele sugeriu que uma nova cultura, uma terceira cultura, emergiria com a promoção do estreitamento da comunicação entre intelectuais de ambas as culturas. Uma comunicação cultural pautada pelo princípio de inseparabilidade entre a prática, o intelectual e a criatividade. Para isso, trazendo um pouco da Ciência, para a emergência dessa terceira cultura é necessário que sejamos ousados, livres e imaginativos, mas sempre partindo de princípios básicos mínimos, rota seguida

Seguindo um pouco mais adiante com Calvino, a terceira cultura deveria fazer o exercício de uma Pedagogia da Imaginação:

4 3 FERRACIOLI, L. (2010) Albert Einstein: Ciência,

sity Press.

Cultura e Arte. In: Marcelo Knobel; Peter Schulz. (Org.). Einstein: Muito Além da Relatividade. 1ed. São Paulo: Instituto Sangari, v. 1, p. 151-173.

HOLTON, G. (1978) The Scientific Imagination: case studies. Cambridge, Mass: Harvard Univer-

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CALVINO, I. (1994) Seis Propostas para o Próximo Milênio. São Paulo: Companhia das Letras.

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“Uma pedagogia da imaginação que nos habitue a controlar a própria visão interior sem sufocá-la e sem, por outro lado, deixá-la cair num confuso e passageiro fantasiar, mas permitindo que as imagens se cristalizem numa forma bem definida, memorável, auto-suficiente, ‘icástica’.” (Calvino, 1994, p.108) No contexto da Constelações, ao me permitir trazer quatro elementos da construção da ciência - questão, evento, pensar e fazer - mantenho minhas amarras ancoradas à princípios básicos de onde eu venho. Ao adentrar pela Constelações faço da imaginação meu instrumento do saber, seguindo caminhos outros que os do pensamento científico na formulação de hipóteses sobre o meu eu e minhas constelações. Desta forma, o convite de Hilal, através de sua Constelações, dispara o estreitamento da comunicação entre arte e ciência e se constitui, nela mesma, em uma instrumentalização da terceira cultura. Resta-nos seguir no exercício de construção de uma pedagogia da imaginação para a continuar a operacionalização de uma terceira cultura, nos habituando a guiar nossos próprios caminhos interiores sem nos sufocar em nossos próprios princípios, nem cair num confuso e passageiro fantasiar, ultrapassando os limites da efemeridade desse diálogo. constelações: ciência e arte na busca de identidades e pertencimentos

Laércio Ferracioli Vitória, abril de 2016 110

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Translations


Art and life In his quite actual book about the role of culture in the construction of human dignity and civility – The Usefulness of the Useless –, Italian scholar and thinker Nuccio Ordine states that ‘just as with love, culture does not have the power to constrain. It offers no guarantees. And yet, the only possibility of conquering and defending our dignity as human beings is offered to us by culture and free education’. Since our theme here is culture, let us circumscribe ourselves to this sphere. But let us still highlight how education is a central foundation of civility. With this warning, let us still emphatically underline that culture is what makes us more human, more capable of coexisting and of rendering the unattainable aspects of life into expressions of sensibility, which can communicate without speaking and create links where one would most often find abysses or trenches. Art does have this magic wand, since it dialogues with deep recesses of our lives, which we are generally incapable of voicing

out in an objective and rational way, i.e. with the full and unequivocal meaning of the established forms of communication. Not to mention the role of art in dealing with affections, feelings and emotions that frequently cannot be construed. Thus is art - and the utterance of perception, doubt, excitement, pain, anguish, passion and desire. Hilal Sami Hilal is a master in his ability to enunciate what in the human soul we are frequently incapable of expressing with words. His trajectory as an artists has already taken him to stardom – in the best sense of this word – in the art of Espírito Santo and nationally. Most interesting for us, therefore, is to trace the linkage between his career and the name of this exhibition we are honored to receive at Espaço Cultural do Palácio Anchieta, “Constelações” – “Constellations”. When we executed the first complete restoration of Palácio Anchieta from 2004 to 2009, in a dialogue with the Capixaba reconstruction (2003-2010), which was by no means casual, we made it a point to guarantee the existence of a quality setting for cultural expressions. This palace, which was first built under the sign of Jesuit Catholicism, became for centuries a reference for the local politico-administrative life. Starting in 2009, we were also able to restore a part of its original motif, now with a secular cultural axis, in order to present the souls of Capixabas with artistic expressions based on the human, all too human experience – to recall the words of Friedrich Nietzsche, for whom a dignified path cannot be found without culture. Paulo Hartung Governor of the State of Espírito Santo * * *

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Hilal is an example of a capixaba artist with vast production and professional experience, a member of significant events for the visual arts in Brazil and abroad, and participation in exhibitions in Germany, the United States, Spain and France, as well as various cultural institutions in Brazil, like the Museums of Modern Art of Rio de Janeiro and Sao Paulo. The importance of democratizing access to various artistic expressions of Espirito Santo, together with the promotion mission to the artistic and cultural development, the exhibition provides an overview of stories and processes in the artist’s career, some reconstructed and resignified ways with public participation largely made up of young students from various schools in the state of Espirito Santo.

Hilal and the affection memory The Cultural Space Anchieta Palace and the Secretary of State for Culture present the exhibition “Constellations” from the celebrated capixaba artist Hilal Sami Hilal. The whole project reveals the joining of diverse voices and memories from the collaborative construction between the artist and the public, encouraging sensitivity and new aesthetic and cultural perceptions about the world.

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“Constellations”, designed specifically for the Anchieta Palace’s space, discusses relations between science and art, making the exhibition facility also a part of the work, taking the visitor on a poetic immersion in the artist and in its diversity of means and possibilities. Fruit of many years of research on handmade paper work, Hilal Sami Hilal reveals in his work many facets of the contemporary artist, sharing his references, his poetic and meanings, his memories and his desire of having the effective participation of public, also authors of the work.

As a structural foundation, the exhibition offers the powerful integration between art and the public throughout the process, from collaboration in making the work and the participation through its educational program, to meetings with teachers and workshops. When thinking of art and education as guiding elements of a critical and transformative thinking, the Cultural Space Anchieta Palace proposes to stimulate the appreciation of cultural identity without denying facing the world and the complexity of life in contemporary society. João Gualberto Moreira Vasconcellos Secretary of State for Culture * * *


get inside themselves and others through self-images, conjuring affective memories soaked with remembrances and marks of life, ethnical, social and geographical stereotypes that legitimize themselves in the handwriting of so many Pascoais, Rauis, Dorilas, Martins, Niltons, Eulálias, Zuleikas, Elfas, Emersons, Maximilianos, Ariovaldos, Constantinos, Arquimedes, Igos, Rositas, and many other Dóris and Devas.

Summer 2016. A sweltering heat of 40C. That was when artist Hilal Sami Hilal (Brazil, 1952) met up with me to talk about his new work to be exhibited at Palácio Anchieta in Vitória, Espírito Santo, which includes the installation called Constelações. The latter was the outcome of a 2013 artistic incursion in the city of Bagé, which lies to the south of the pampa region in Rio Grande do Sul State. Hilal was invited to reside in Bagé and listen to the memories of the place. This piece includes almost 10,000 signatures of local people, evoking history in an entwining of languages, cities, people as if it intentionally ordered time. The signatures, printed on artisanal paper and applied on white organza covering the whole extension of a wall, tend to reduce the size of the spectator in relation to its scale and grandeur. It evokes a huge mantle. The calligraphies are contagious, a vessel of multiplication of relations that go beyond the networks of signifiers: they evoke concepts, bodies, gestures, images, sounds, odours, and senses of Bagé’s community. They

Moving towards Constelações and walking eastwards over a distance of around 2.377 km, we arrive at the city of Vitória, the capital of Espírito Santo where Hilal was born and is based. The city was founded 34 years after Brazil’s discovery in 1500. It can be described in two ways: a city made of a sequence of streets, houses, bridges and ships, or a collection of islands surrounded by sea, river and mangrove swamps. Its geography is delicate, very rich and breathing, with granite levels, windstorms and stars. All paths certainly lead to the sea. It can also be said that the lights of the houses are reflected in the water of the bay, and for that reason Vitória is called “Cidade Presépio” (“Nativity Scene City”). However, the city is not made of only that, but it is also fleshed out in the broadening of the dialogue between people, lived and dreamed experiences, the relationships between the size of its space and the events that can engender relationships, proximities, distances, desires and dreams. It is in the time-space relationship that the human world becomes society: geography turned into history, nature and culture, place and territory. It is the human footprint on nature that gives us our identity and sense of belonging; it is in the way that a city’s inhabitants order their relationships with the earth, sky, water and other people, layer juxtaposed on layer, that we create the site for social and symbolic exchanges. It is here where landscape is built upon, the place where

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memory inscribes itself as opposition to time shaped into present, past and future, where each human being is an encyclopaedia, an inventory, a display of styles, where everything can be continuously stirred and reordered in various ways. It is possible to impart order to life again, but this necessarily goes through the values of culture - a nation without past does not keep values for the future - and this is what enables humankind to transform its impulses and ideals. This way, it becomes evident that we are made of representations, and it is essential to understand the world through this gaze, in which changes take place, cultures overlap and certainties are inconstant. We are made of an identification that is prone to change and transformation. Palácio Anchieta (Anchieta Palace) is one of the oldest governmental headquarters in Brazil. It has been used as the house of Espirito Santo’s government since the XVI century. It stands on a solid rocky hill right opposite Vitória harbor at the gateway to the upper city, one of the oldest districts in the capital. It houses memories and important construction assets, undoubtedly one of most important marks of local history: it keeps the remnants of the former abode of Jesuit priests between 1551 and 1759. It also lodges the symbolic tombstone of José de Anchieta, the Jesuit priest the Palace is named after – it was formerly called Colégio de São Tiago. This historical building underwent two major revamps. The first one was during the Jerônimo Monteiro government (1911-1912) and the second one during the João Punaro Bley tenure (1935-1936).

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The first major restoration project was carried out in 2005 during the Paulo Hartung administration (2003-2010), which I coordinated as Secretary of Culture of Espírito Santo. We looked into new ways of using the venue, linking character and vocation. Therefore, the Palace kept only the

administrative activities of the governor’s office; the remaining spaces were open to public visitation. A cultural venue on the first floor was also completely overhauled – this space corresponds to the former site of São Tiago church. The roof prism is bordered by sidewalls and an arc, relics of the old church. It features records of the construction system and the configuration from the time of the Jesuits, keeping characteristics of the arc and the altar, whose wall keeps remnants of decoration in sgraffito. This technique is a painting in fresco, which consists in applying on a black stucco background a layer of white paint, later scratched with a cutter so that the background resembles shadows. Its curvy lines draws delicate and fluid white arabesques, echoes of an Arabian past. These spaces within the Palace now gather exhibitions of a political, social, historical, architectural and cultural nature, symbolic narratives from aesthetics to poetry. When I think about the exhibition proposed by Hilal Sami Hilal for Palácio Anchieta, I conclude there are sentences that open windows to the understanding of many of humankind’s values. Through them, it is possible to rediscover and redefine oneself; to surround oneself with symbols the eyes cannot see, but which feature things that mean many other things, like what Ítalo Calvino said in Invisible Cities. Memory is redundant: it repeats symbols so the city can start being. The show Constelações allows us to reflect on the individual through the urban route, in an incursion through ‘I’ as well as ‘the other’, in his century/time. It evokes the desire to de-organize in order to organize, to aestheticize, distill the city in the history of the state. Hilal incorporates this cultural asset, with a capacity to revisit the past and cast a gaze on the present time, matching content and occupation. Each installation represented by its attributes, symbols of memory and reconstruction that imply in reviving contents that are the base of our identity, brings up the capacity to recover some place that flows again


from the remembrances and that expands itself through other symbols. It questions idiosyncrasies and convergences between asset, memory, belonging, identity, art and desire. It offers itself as a key to interpretation, investigation and signification as mediated by contemporary art. Not incidentally Hilal Sami Hilal sets about to embed small shiny pebbles in eight thousand, dark grey cement tiles of 20 x 20 cm, covering the whole extension of the floor area in the anteroom to the São Tiago Church. This piece is called Para o meu amor passar (For my love to walk by). In a way, this piece is similar to the first stanza of one of Brazil’s most popular folk songs, a nursery rhyme of Portuguese origin that is directly linked to invention and practice and dates back to the country’s colonial period. It is part of our affective memory. The lyrics, full of rhymes, repetitions and puns, is part of our immaterial cultural heritage that throws us back to old Byzantine mosaics. By inverting the word order – “[...] I would order it to be tiled with sparkling little pebbles [...]” – it is here represented by hundreds of scintillating dots that resemble celestial fields, a galaxy: a cosmic space where the sun and more than 100 billion stars belong. Reflecting the city, Hilal sets out to inscribe the invisible on a circuit of streets, stretching the limits between interior and exterior, assuming the paradox of seeing and appreciating what gazes at us. Therefore, the exhibition Constelações fills out its first exhibitive space with an installation called Para o meu amor passar, conceiving a street of meanings to be discovered by visitors. It can be noted that despite what the lyrics of the song say, the artist’s gesture becomes a contrasting and almost contradictory situation in relation to the understanding of the streets that survives centuries. Venturing through literature and cinema, going through the history of art, the street captured the artistic

imagination as a place of danger and addiction; it highlights disorderliness, and it brings back to memory the remembrance of something from the nature of conflict and confusion, with its volatile mix of people and transits, trading places and residences. Transcending the concept of dwelling, the street is an intense territory, prodigal in sensations and/ or a metonymy, like the unviability of the city. That street “[...] has a patch of wood called loneliness.” How surprised would we be with one of the variations of this ciranda (a folk circle dance), which inscribes itself through myth, through the force of its narrative dimension? Imprisoned within the mesh of the forest, the individual is fated to live in isolation, in the shade and skin of remembrance. The experience of this apparition, which presents itself as a symbol of the solemn force of nature, opens itself up so our imagination can flow. Therein we find the perfect construction of two types of zone: real and symbolic, lived and dreamed, passions and hatred, desires and affections, compassion and suffering. The lyrics of this old nursery rhyme is very simplifying, but what is impressive is the way Hilal Sami Hilal leads the astonishing mystery of time. In the construction of his piece, the artist attributes action to the aesthetic discussion, as well as a political dimension to the ciranda. Which city? It is of small importance the length of time that Hilal’s work occupies us with; granted, it won’t have the grain of life in common. The traveler needs to find themselves in this city, in the loaded dimensions of the defining indicators of all permanence, displacement, suffering, love, disaffection, crossings, experiences and injunctions. The complexities of the social relations, between one individual and others. The amplifying of human experience within reach of this poetic experience, which opens itself up like a deciphering of what we are (permanent conflicts of identity currents,

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pacification or exacerbation) and what it can be (confrontation, passage, a set of differences and approximation, sometimes never fulfilled). Sensitivity that leads us to partially unveil our daily life and the mysteries of the understanding of the image we have of ourselves and the other that inhabits us. These feelings express themselves through small shiny pebbles studded over the tiled surface. They transfer to each unique item delicateness and originality, whose common thread goes through collective memory. The tiles, once laid down, turn into light in the dark space, an insistence between emotion and image, a mix of memory and invention, magnetized by everything that is inseparably contained within the nature of this object. While on one hand there is ecstasy, on the other hand there is melancholy. It is important to reveal that the subtlety of the work powers up its imaginary pulse, resonance reactivates silence, whose principle is wanting to see, being able to see and knowing how to see. Many times when its parts are omitted and shapes forgotten and transformed, they cross each other, and both of them confirm and validate memory. It is from this substance we are made of, resistances and belongingness, memories that give life to deeds of perennial or abstract persistence. In order for our eyes to overcome the abyss of cities – the ones that emerge from natural systems, values that continue to prevail in our social and human sciences, as well as in the life of contemporary society – it is necessary to think with the heart. I have no doubt that the next major leap for humanity will be under the sign of convergence, under the sign of peace and fraternity. Hope needs to fuel our reflexes and cause our senses to develop. Thus, Marcelo Yuka’s song for post-hatred – “[...] I am standing on the corner waiting to see your face. Only meetings can save” – is a good counterpoint. It can be that this street, this unique street of mine that I see shining under the stars, creates another kind of imaginary

place that comes into being in the realization of hope waving at us. One could argue that Hilal Sami Hilal’s curious and outstanding installation, Para o meu amor passar, is LOVE. It is worth stressing, for future reference, that most of Hilal’s body of work is better analysed from concepts, support materials, and languages that transcend the order. The author is a virtuoso draughtsman; he has gone deep into artisanal papermaking and has explored engraving inserted in the object. This crosspollination subverts techniques and codes, juxtaposes and intertwines other fields of knowledge to the work of art, it infringes upon ancient Japanese paper techniques, engraving, drawing and painting. It shows the painstaking dexterousness of manual work and fuses it with cutting-edge industrial techniques. It is possible to think that Hilal unequivocally seeks to translate them, “carry them across borders”, magnifying his work by thinking about it on an architectural level, trying to establish dialogues with the exhibition space and set up a social, political, delicate and poetic meeting. It is important to note that, when we turn towards Constelações, we find another two pieces from the Deslocamentos series, like delicate lanes between them – as if one piece had laid the ground for the other ones, and any assertion and approximation represented a suggestion to be followed. The work on the right of the installation, Para o meu amor passar, denominated ‘UM is a large wood circle with a diameter of 4m. It contains lit up water, macerated rag, glycerin and pigment. It is pure matter. It does not resort to any external process, such as painting, engraving or drawing. The suspended fiber resembles the manufacturing of artisanal paper while the piece reveals cartographic sensations that unfold into a myriad reflexes. However, what is on display is a game of the balance between the empty and the full, stillness and movement,


tradition and contemporaneity, all of which take on a particular relevance. However, it’s not just a component in the geometry. It would be legitimate to ask, then, if we can understand what allows us to expand the limits of the traditional process of making artisanal paper. This equals to knowing whether the cultural matrix and the contours of the legacy are fundamentally challenged by the imperatives of forging a new self-interpretation based on cultural heritage. Displacement, difference, hybridity, the new human and environmental ecologies have a pluralizing effect on new identities, producing various possibilities and other identity positions in the age of globalization, making identities more positional, political, plural and diverse, also less fixed, trans-historical. This way, this piece is anchored in the uncertainty of what comes next. Its poetics is a metaphor of “globalization as fable” (how it is told): several cultural identities that are not fixed, but are suspended in transitions, different positions which, irrevocably translated and transferred, are transported by human, ecological and cultural exodus, producers of new diasporas created by planetary displacement. This way, Hilal’s work conjures a new type of space, imaginary maps between the state of being the work expresses when it makes it disappear, and the appearance of being that it gathers on itself, so that the invisibility of meaning acquires shape and mobility in the open fields of language. Emptiness (displacement), place (cultural matrix) and the expressible (subject) are at the center of each attempt to enunciate them and always contains something we cannot address or say. Because there is not always a suitable word to cover the experience of meaning, of pure sensation, dazzle and, above all, visual

fascination. Because not everything can be expressed; there are interstices we cannot reach through language. Hilal’s work would be these interstices that hide mysteries and, with luck, some of the best revelations, a kind of skin that gives the world dimension. We are standing in front of the indivisible! The third piece in the exhibition Constelações is also part of the series Deslocamentos, presented as book-object. Sami Hilal uses the wall to install the piece at an angle of 30º, a collection of enormous boards made of artisanal paper of 1.5m x 2m, bound with a hard cover. It has the potential to represent a legacy of the power the previous work contains. There is no front or back; the images that simultaneously spring from these pages are the outcome of a continuous action on the surface itself, engendered by the macerated rag paste, carboxymethyl cellulose, glycerin, water and pigment. Both the fused paste and the mix of colours stretch through the whole of the space – it is paper. Besides, they produce their own directions and establish rhythms, create smudges and lines – colour – from dark grey to blue, dark and light, from light to its incidence on the great blades of artisanal paper with very little external interference from the artist’s gesture, who incorporates black, white, shades of blue, everything that suits him and provides him with empty and full spaces. It is a piece that results from the mediated approximation between a precise planning that defines stages before its execution - a prospective method of invention. This action looks for something that is not known yet; it is intransitive research. Therefore, matter is not, ever, a technique at the service of a previous and finished idea, or transformed into image for a reason. It is a mechanism of knowledge scaffolding that ignores this precedence, taking on hesitation as a central element of

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its making and accepting as natural elements the visible signs that this investigation leaves on the porous texture of the artisanal paper. Displayed side by side and sewed on, these mirrored, inverted and multiplied pages refer to the hermeneutics of the work on the accumulated face of the infinite orders of the sedimented visuality. What is at play is the body of the viewer and the leafing through of the pages of this book-object. It invites us to scrutinize the soft, transparent, calm, colliding strength of the material organicity as well as the crossing of the colour. It lights itself up with something immaterial, whose power is better known of than actually known. This is the reason the work becomes indeterminable of what will have been. Here we enter the fascinating terrain of sophistication played with masterful skill by Hilal Sami Hilal – very close to prognostic landscapes. It is true that early in his career Hilal went through a void of brazilianness that prompted him to research references of the country. The artist bears the memory of Middle East immigration, which he expresses in his symbolic paradigms in the culture of adornment that is present in the Arab world. But he also conveys other cultures that work as translators: “filters” through which he transposes from their original form to other cultural matrixes. This way, he makes himself an heir to those traditions; he considers nature not as it is, but how it appears to be. Perhaps for that reason, Hilal Sami Hilal, one of Brazil’s greatest artists, presents a major exhibition this year at Palácio Anchieta, Espírito Santo State government headquarters - beyond this territory, a real or utopian “place”, lived or idealized.

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Departing from the assertion that between the universal and the local we are all travelers, Hilal Sami Hilal creates another type of place, an imaginary one, creating a counterpoint

to the monumentality of the institution and its imposing architecture, with the power of Constelações’ imaginary rapture. And so we arrive at the fourth and last moment of this route, the homonymous piece in the show, an episteme beaconed by the artist, demarcated by him for its architectural repurposing. From sculptural situations, it becomes male and female names made in artisanal paper, resting on white, light, transparent and translucent garlands. They wind their way down from the ceiling until they can touch the ground, down every wall in the room. The installed names look like a massive mosaic, although not a traditional one; in fact, its traditional technical principles and its spatial language give birth to innovative ideas through tesserae. This way, Hilal builds a constellation of histories and expands the concept of the show on the art/memory/asset combo. He temporarily reduces the original floorplan to a luminous core through thousands of pieces of writing in every colour, separated by miniscule and narrow intervals. Of very fine thickness and glued on top of each other, they are arranged in curvy shapes. Some of them look like commas; others, curves between small spaces at rhythmic repetition. Each new gaze is intimately linked to the subjective willingness of the viewer. This way, the interpretative game is played out like an analogy to Vincent Van Gogh’s “The Starry Night”. The only possible connection into this ‘constellation’ is the singular power that comes from discovering each name that has been printed on it. Like in the city of Bagé (RS), the methodology was conceived through the relationship between memory and subject through the city. However, what the artists presented in Vitória (ES) employed other strategies. Initially, in a partnership with psychoanalyst Ruth Ferreira Basto, education expert Laércio Ferracioli and


me as curator, Hilal Sami Hilal carried out a day-long workshop with directors and teachers from state-funded schools in Vitória and the metropolitan area. The aim of the workshop was to acquaint them with the experience of art, of “constellation”, the evocation of personal and collective memories, so as to articulate the notion of identity as myth, or a concept that does not fit in the reality of so many displacements in daily life. That was followed by a second round of activities that included workshops inside the participating schools. One of the most beautiful excerpts from Paulo Freire’s body of work is the one in which he writes about dream and utopia. Paulo Freire was an education intellectual with a futureoriented vision. To borrow his words, he said his dream was a fairer society. He always goes back to this topic, adding new ideas to it. He says, “[...] it is not possible to dream and make the dream come true if we don’t share this dream with other people”. To see, during two months, the students from the schools Zumbi dos Palmares, Clotilde Rato, Zaíra Manhães de Andrade, Maria Ortiz, Catharina Chequer and Escola Viva Dr. José Moysés writing a constellation of names and affective memories, laden with remembrances and experiences, through the technique of artisanal paper, validating in handwriting their names and their family members’: this is a dream in the present. There are approximately ten thousand male and female signatures that operate in another place, a distinct territory, and in these constellations are circumscribed other Lúcias, Marias, Lucas, Claras, Fernandas, Marcos, Guilhermes, Felipes, Anas, Pedros, Carlos, Vanessas, Rodrigos, Clarissas, Angélicas, Lucianos, Marcos, Paulos, Sérgios, Rutes, Ronaldos, Amandas, Jéssicas, Elianes, Mateus, Ivos, Rodrigos, Jonas, Joyces, Amarildos, Paulos, Sônias, Luisas, Douglas, Souzas and many other Joões, Josés, Franciscos, spread

across districts such as Cidade Continental and Fátima, in Serra (ES). These names also spread across Cariacica (ES), through the districts Nova Rosa da Penha I and Santa Catarina II, and disseminated through Novo México, in Vila Velha (ES), finally reaching São Pedro, in Vitória. With these names laid down and piled up on a giant piece of organza fabric, Hilal Sami Hilal uses the idea of a global notion of identity and sublimates, as counterpoint, the individuality of the material. At the same time, these liquid and colourful names placed under the sun and the weather to dry up - light and matter – turn into paper-object, live on the walls of Palácio Anchieta and build up a small cathedral for the profane meaning of art. In this piece, the question of identity is underscored by a feeling of belongingness and displacement that verges on impetuosity, pointing to the neighbouring situation in which contemporary humans find themselves in when they live in the outskirts of metropolitan regions. This way, Hilal proposes a new and extraordinary dynamic for the piece Constelações when he installs mirrors along the length of the ceiling. This strategy erases limits and creates continuity, catching the viewer’s attention who can see themselves in the glittering mirror as they duck and stand up to read the names. The artist offers this double enchantment – the recording and the presence of the viewer resemble each other. However, it’s not homology that underscores them. The distinction of the condition would fade away through the similar in question; another analogy is required, a familiar similitude and one of a different kind, one which can recognize in the first one the nature of things: the calligraphies fleshed out with macerated rag paste and embedded in a rhythmic fashion on the surface of the wall, which, in its turn, is patented by a second one, which can be recognized in the coexistence of the visitor: enunciating presence and the lock that links

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them, so one requires the other. They indicate there is a perimeter that narrates the syntax that links them. In these pieces by Hilal Sami Hilal, there is a plastic pulse that is close to the aesthetics pursued by the mosaic artist Freda Cavalcanti Jardim (1926-2000), as it deals with the games of dynamic effects produced by names/world. They are like tesserae bound together though collage that covers the flat surface of the fabric, or the little stones studded on textured tile; they tell us about the mobile starry sky, whose changes of effects are carried out by the viewer as they move around the pieces, lighting them. For the same reason, the act of choosing, gathering things, speaks by itself. Giving shape to spatial ideas is native to humankind. However, Hilal and Freda, besides selecting and grouping little pieces of things, bridge the visible and invisible. This results in an exercise of locating the depth of the world and various spatial tesserae springing from the amalgam of the earth.

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Between the Constelações piece and the building that houses Palácio Anchieta, it is possible to establish other possibilities of perception of the sensitive and the symbolic renewal of this space marked by murmurs, small trails and recordings of its former religious role. We should not ignore the semantic meaning that results from the tension between the history of the space and its erasing, which took place throughout its history. However, it is under the sign of Espírito Santo, Portuguese symbol of tolerance and understanding between different religions, cultures and ethnicities, that the great regional diversity is stamped; through intact cultural patterns that are juxtaposed against an ebullient contemporary artistic output. A part of it is rooted in the traditions of the colonized Portuguese. Similarly, indigenous people and African black slaves bequeathed us with a

strong cultural heritage. In the late XIX century, so did the European immigrants who arrived here, namely the Italians, Germans, SyrianLebanese, Swiss, Belgians, Luxembourgeois, Polish and Dutch. These questions break down barriers and put the State in evidence, interfacing with many facets of Brazil: essential elements of our cultural identity. It is through this constant mutation that the whole penetrates us, traverses us and gets new signifier laws… “This is the way the poetic text signifies the world”.1 By equipping himself with these strategies, Hilal Sami Hilal makes us participants in his own memories, the memories of his peers and the history that he tells. He offers, in exchange, a game of subtleties, moving towards a connection, portraying a special archaeology of all things, amongst people and cities, an interval that preserves the possibility of living the transcendence and the prose of the world. Neusa Mendes Fall 2016 * * *

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ZUMTHOR, Paul. A letra a e voz: medieval “literature”. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.


regard in search of a good saying. I find in Mia Couto the story of a small tribe on the coast of Mozambique, where “the newborn’s name comes from a whisper heard before birth.” In the womb, says the narrator, “not only does it weave another body.” It weaves the soul from the voices of the ancestors. The father receives the mandate to hear and translate what these voices say knowing that “nominating is an act of power, the first and most definitive occupation of a foreign territory.”

Constellations, in Astronomy, are star clusters apparently close each other. They may be light years away, but from a certain point of view, organized in a fit, making for one who observes them, a set, and a whole. So it is like this in the constitution of the body image. The first experience of the human baby is being helpless and dismembered. He needs essential care for his survival and existence. Alone, it may not have the experience to exist. The perception of body unit lacks in him. For the self to be constituted there must be someone to look and see where the future subject is coming from. That look, at first, will make the pieces become a body, a unit, “a constellation.” This fit of a look will be nominated; then, by a voice. And that name will be loaded with memories and emotions, pain and joy, desire and enjoyment of the one who nominated it. What is the origin of my name? Why this name was chosen for me? Inquire poets in this

In this exhibition, the constellations are formed with a union of names and handwritings in a facility proposed by the artist. Those who wrote the name itself, a workshop paper, may wonder about the reason for this appointment, imagine and assume something about the desire of the one who offered him a place in the world, a framework proposal in that look. The names chosen to be left out of the exhibition, alongside him, can also bring memories recollected to justify this choice. They are all that matters in this world where many times it lacks words, opportunities for reflection and symbolic elaboration. What is the importance of a paper workshop that aims to contribute to the exhibition of an artist? In the passage to the public, does this work interest children and adolescents who were involved in it? What will be the important for each of the handwriting of names and the presence of their calligraphy in an exhibition? Believe me; a paper workshop can indeed change the role of someone in life. And we need to think about the possible effects of the experience with art in its passage to the public. Psychoanalysis teaches us that we depend on the look and the voice of the Other in the constitution of the image, the body, the self, and the birth of a subjectivity. The child is captured by the image formed in the mother’s look, the function of that first one that welcomes the baby

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and makes the image matrix of what will be its ability to be. This child may be to his mother a wonderful object; a superfluous object or something she does not want. An object where it condenses loves and sorrows addressed to her husband or her mother; an object which comes from a good or a bad time. Everything depends on the fit of your look. It is the image in the maternal gaze that covers the piece of meat in anticipation of the subject to come from that primary imaginary identification. The image unconscious - with which the mother covers her child is decisive for its future. It is a brand that he holds, the setting that determines its position in the world through life. Be a subject to the maternal desire implies the possibility of life and mortification. Be all for the mother would represent for the future subject an excessive imprisonment visgo of her gaze. For this reason a break is required. And who fulfills this function is the father, who occupies a third place that breakes the mother’s dual relationship with her baby. The translation, by the father, of the mother’s desire introduces in the son’s life by means of the signifier. This is the metaphoric operation that enables the articulation of subjectivity. The significance of what would be the mother’s desire, indicated by the father, from the couple eroticism, names the alleged place of the object envisioned in the child. This appointment, along with the name that distinguishes it, moves the child from the place of maternal joy, and imprisonment from her gaze to the place of a signifier of her desire. The presence of the signifier enables a very different game to be done with the images, a symbolic game. The subject emerges as one of the effects of this access to the symbolic. Here we have a symbolic identification.

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Many of our children, nowadays, have very precarious framings for the lack or the excess of the lime mother’s look. The imaginary

identifications prevail where the symbolic identification is precariously constituted of individuals. The image, not to be in fact internalized, requires confirmation in acts that ensure their existence and incessantly confirm its position. We can see this in violent acts and with regards to the tattoos, where it highlights the need for rebranding, one that summons the gaze of the other, to confirm the inclusion of sign in the realm of desire of the other. At all times, the transgressions are for teens, the possibility of adventure and risk that ensures an air of freedom, the ability to tell stories and lead, giving evidence of abandonment of children’s posture. Opposition to family determinations in search of outdoor picture identification leads the adolescent characters that summons the reproachful look in the family, but include a new group for a new fit. Could the participation in the Constellations facility be the ability to fit a brightness of scene for some? The teenager, prone to rearrangements in the constitution of subjectivity, can find this experience a chance to maybe establish cracks in the attachment to mother or father looking version inscribing a new fit for him. Some artists, who report the importance of an artist’s name, have recognition in public. I believe that something of this order can occur in mounting this exhibition. Be a star, a light, a voice, among others, the fit of the Constellations, will certainly be an event. Recognizing their memories and emotions, pains and joys connected to the name will not be without consequences. It is essential to emphasize that the experience of these children and adolescents differs from the artist’s experience. When creating, the artist is able to get carried away by the voice intonations senselessly, grunts and enigmatic affections printed in the body without possible


translation into words. The artist is able to confront this garbled, jumbled letters out to compose a picture, a text, a symphony, a facility. It was supposedly so that the artist Hilal Sami Hilal could propose his Constellations. Ruth Ferreira Bastos Psychoanalyst Member of the Lacanian School of Psychoanalysis in Vitoria Coordinator of Connections Space: Psychoanalysis and Art * * *

Constellations: Art & Science in Search of Identities and Affiliations LaĂŠrcio Ferracioli 1. Science: A look Since the dawn of humanity man seeks to understand and explain the world around him. Observing what happens in front of him, analyzing what he has observed and, based on his ideas and beliefs he builds explanatory models that enable him to unveil the observed world. In this process, man builds a structure of networks of meaning that becomes his knowledge about the world in which he is inserted. Trying to understand the meaning of the thunder, the ancient man associated it to the rage of the gods. That same rage was attributed to the gods when the Sun disappeared during a solar eclipse in broad daylight.

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In the search of understanding the environment around his house, Aristotle (384-322 BC), by observing the movement of the stars, constellations and the Sun in the sky, he placed the Earth at the center of the universe in one of the first cosmogony models of humanity. Ptolemy (90 -168 A.D.) would print the final form of this known as Geocentric model. The idea of the Earth as center of the universe was accepted for nearly 2500 years and it went until the late Middle Ages around the year 1500, when Nicolas Copernicus (1473 -1543), based on more careful and accurate observations, understood the limitation of this idea and proposed a new model bringing the Sun to the center of the universe: the Heliocentric model. The man left the center, the earth became just another planet orbiting the Sun. This new cosmological model was understood by Galileo Galilei (1564 -1642) who, by using a brand new technological device from the Netherlands, the telescope, obtained new evidence that corroborated it.

Following the wake of these advances in the understanding of the universe, Albert Einstein (1879-1955) mathematically formalized a new explanatory and comprehensive model for reading the universe and established a research agenda of its implications to the present day. In Einstein the possibility of time travel came up, an eternal dream of man.

Therefore, with this model, man came to understand the world in which he was inserted and the universe around him with its stars and distant constellations from Earth in the sky without, however, having the real dimension of size and distance of these constellations to Earth.

This quick look through the history of mankind in the cut of Science shows us that man, in his constant search for understanding the world around him, has always been based on the evidence revealed by his inquisitive gaze and with that he built his knowledge of the universe. The evolution of this knowledge, as a rule, given cumulatively evidence, in view of the prior knowledge justified and leveraged the future knowledge: sometimes, as with Copernicus and Einstein, the evolution of knowledge was like a scientific revolution, by cathartic breaks not initially accepted and harshly questioned until its definitive establishment. Final, until the emergence of new looks and evidence to build a new model to continue reading the universe.

Only in the early twentieth century, after almost 400 years, it is that Edwin Hubble (1889 -1953), by using a last generation technology telescope for the time, obtained evidence

Thus, one can understand that this process of building a knowledge that assures him/her of the quality, reliability and validity of his/her conclusions, man established thought routines

In the wake of these advances in the understanding of the world, Isaac Newton (1643-1727) mathematically formalized this model together with, in one physical theory, the explanation for the phenomena of the Earth and the universe: the Theory of Universal Gravitation.

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that the universe was much larger than previously thought. Moreover, the universe was expanding with its constellations moving away from each other at a speed never imagined, which led him to surmise the hypothesis that the universe would have had a beginning, the Bing Bang. These evidences revealed that the human species, our world, our concerns had become cosmologically insignificant: we are only a small planet in a vast galaxy among billions of other immense galaxies. The universe was revealed as a vast and perhaps limitless place!


that allowed him to build minimum meaning structures that would guarantee him safe unveiling of the world around him. Finally, the scientific thinking. Despite the criticism of the alleged excess of limits imposed by scientific thought to the man’s gaze on the world around him, which would cause a consequent limitation or stunting his creativity, imagination, spontaneity and excitement, the history of science shows us that the explanatory models built along the walk of humanity have moments of creative and imaginative capacity exuberance. From Aristotle to Einstein, passing by Galileo, the solutions offered would never have been built without the touch of genius and emotional involvement of these men.

Understanding that my nobodyness generates me the need to find my own identity and my sense of belonging to all these universes. This need brings me back to Earth on a journey through the Constellations of these universes. Back to Earth I find myself in My Identity. Again, dust. In the inflow and outflow, an archaeological process: the Archaeology of My SELF. The antiguity belongs to me intrinsically. My SELF is the contemporarity of my present time. As pointed by Hilal, identity is not a substantive. It is a verb. Identity is movement.

2. Movements Bringing the look of Science to Constellations exhibition from Hilal Sami Hilal; it can insinuate us the intentional planning time, the time of each one of us in the pursuit of our particular universe, our identity and our belonging to the universe that unfolds in the sky. As we now understand that the the sky we observe is a look at the past, the pictures of the Hubble telescope, built in honor of Edwin Hubble, reveal the beginnings of the origin of the universe 13.7 billion years ago. Thus, it seems that since the proposition of the first cosmogonic models, man seeks to understand his particular universe, his identity and belonging to his universe, which is revealed in the heavenly vault. The more he deepen his knowledge of the universe, the greater the man’s understanding of his nobodyness, as in the words of Darcy Ribeiro (1922 -1997). From Earth to the ends of the origin of the universe I reveal myself, I find myself a nobody, dust. Cósmica.

In this continuous movement, I build/rebuild my Identity, in that nothing in this world is permanent except change and transformation, as presented by Heraclitus (535 - 475 BC). As for his words, no man can bathe twice in the same river, every dive (re)builds my identity as Constellation clippings, moments, experiences, tastes, thoughts and doings. So, in my contribution to the Constellations of Hilal, to finish by signing my name with the paper ink made from pulp flaps, I reveal myself in my writing. In there, I am enough. But the complementary process of my SELF can come and I start writing names of dear and close people. As this moment I leave myself toward others: father(s), mother(s), son(s), daughter(s), brother(s), sister(s), partner(s), friend(s), in short, everyone that I carry with me. To every name, a star in the constellation of my SELF that is equipped with the Constellation of the other in a large (unlimited?) universe by the multiplicity of names: my walking multiplicity.

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From the individual to the collective. In the differences contribution is where I build my originality. My Identity. We are mestizos to invent our way of being in the world, as pointed out by Darcy Ribeiro. 3. Constellations: Science and Art in Building My Identity In this process I think about MYSELF insinuated by the Constellations of Hilal, I begin the process of searching for an evidence so dear and familiar to science for its construction and development. In this plunge into wonder, as in science, where this process is triggered by a question that leads to the organization of ideas and the construction of an explanatory models to account the unveiling of the world, when thinking about my identity could not this process of seeking my evidences be understood as one triggered by questions about myself that would help me to organize my differences and build my originality that could reveal my inner world, my private universe?

knowledge production: the observation of an event that raises questions to be answered or an event that is created to answer a previous question. The concepts represent existing knowledge and help us interpret what is observed in the event. The facts represent what I observe itself in the event and take note for further analysis and judgment. In an attempt to bring these definitions to my daily life, once the question is asked and I envision an event to answer it, I can associate concepts to reflect, to Think about the event. Similarly, I associate facts to annotate, analyze, judge, and finally, to Make the event. Continuing this transposition of Science ideas to my daily life, I can represent these four elements with a V diagram1 where the double arrowhead reports a continuous and recurring interaction between these four basic elements, such as a gear where the movement of a workpiece changes, at the same time, each underlying part and all the parts toward the answer to the question asked. Finally, the construction of knowledge.

If it is possible, initially could not be the classic questions of philosophy to shoot me and guide this process? It would be the recurring questioning:

To think

Who am I? Where do I come from? Where am I going?

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Moving forward parallel to Science, to answer these questions, I find evidence that support me in organizing and building my originality. Starting from the question that gave rise to the process of searching for evidence, we can understand the Advancement of Science based on three basic elements, events, concepts and facts. In the event I observe what occurs in nature or which is artificially caused by man and, in general, represent the origin of

To do

Question

Concepts

Facts

Event

1

FERRACIOLI, L. (2005) O V Epistemológico como Instrumento Metodológico para o Processo de Investigação. Revista Didática Sistêmica (Online), Rio Grande, RS, v. 01, p. 106-125.


Analyzing a simple everyday situation presented to elementary school children in the study of science. The teacher wants to study the effect of heating a glass of water with ice cubes. He can enter the classroom and ask the question “What happens to the temperature of ice water when heated?.� From there, he can create the event by presenting a glass of water with ice cubes being heated by a flame. Initially the teacher can lead the children to think the event aims to reflect and explore what they already know about this situation, raising hypotheses about what will happen. In sequence it may lead the child to make the event himself, by memorizing what he observed, analyzing and judging the result to come to a conclusion, that is, the answer to a question posed by the teacher. A V diagram explaining this process is presented below. In the same way, due to double arrowhead informing ongoing and recurring interaction between these four basic elements, the sequence presented here could be performed in any order, always towards answering an original question.

To think

Question

To do

What does it happen with water temperature with ice when warmed?

Principles Hipothesis Concepts

Conclusions Analysis Register

Similarly, the desire to create artistically, I question myself about what I want to produce. For the choice of my creation, I start thinking about my desire, what I know, what I understand for the realization of my choice. From this choice, I glimpse the event for its production, the creation itself. To produce it, I should do it, make it concretely from the technique, emotion and imagination, to finally have my artistic creation. The V diagram below attempts to explain the process of the artistic creation.

What do I want to create?

Reflection: What I know

Technique Emotion Criativity Imagination

Event The work

In the case of Constellations, there is a latent question of what, who or which will be the stars of our constellations. Hilal leads us to reflect, think, consciously or unconsciously, what names will be part of our Constellations. Then, he takes us to the workshop event on the papermaking technique, with a view to equip us for writing the names we choose for our Constellations. At the end, each of us will have built our personal constellation to compose the Constellations of Hilal.

Event

In this attempt to approach these thoughts and doings of science and art, I can use the basics of science to build a V diagram of the search for my particular universe, my identity and my sense of belonging to my universes. So I pose myself the question: Who am I?.

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To answer that, I can begin to Think in my Dreams, Ideals, Principles, Beliefs, arriving there at the event My Life. Passing through Making, I labor myself in the confines of my story, my past, writing down what I have done, where I went, what I did. From this process, somehow I mimetize myself in every (re)built SELF, revealing me in my contemporary SELF of my present time. I answer my initial question.

Quem sou Eu?

Dreams Ideias Principles Beliefs

What I lived Where I went What I did

Event My Life

In this movement, for a moment, I leave my nobodyness. Meeting my originality. My Identity My verb. My Movement. Again, dust.

of the thoughts and doings of science and art in the direction of a third culture2, as proposed by CP Snow in 1959 in a conference network lecture at the University of Cambridge, England, held since 1593: the title of the conference was the Two Cultures. To Charles Percy Snow (1905 -1980), English physicist and novelist, or how he selfdefined himself, physicist to be and writer by vocation, the “cultures” to which he referred are associated with scientific culture and humanistic culture, the ones which he has moved for more than 30 years. His central thesis is that these two pillars of Western civilization walk through different paths, deepening the false gulf between scientists and non-scientists in the course of history. This extreme polarization leads to a situation where each culture remains deliberately ignorant of the other resulting in a cultural loss for society as a whole. Implementing his thinking, he later suggested that a new culture, a third culture, emerge with the promotion of closer communication between intellectuals of both cultures. Cultural communication guided by the principle of inseparability of practice, and intellectual creativity. For this, bringing a little bit of science, the emergence of this third culture it is necessary for us to be bold, free and imaginative, but always starting from minimum basic principles, route followed by Einstein, as pointed out by Holton (1978)3: 2

Cultura e Arte. In: Marcelo Knobel; Peter Schulz. (Org.). Einstein: Muito Além da Relatividade. 1ed.

4. Constellations: Art, Science & Culture

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This exercise of walking by Hilal art with the help of my Science glasses is a step/approach

FERRACIOLI, L. (2010) Albert Einstein: Ciência,

São Paulo: Instituto Sangari, v. 1, p. 151-173. 3

HOLTON, G. (1978) The Scientific Imagination: case studies. Cambridge, Mass: Harvard Univer-


“The present-day knowledge of the theory has Einstein’s fingerprint due to the fact that his first publications on relativity and quantum mechanics have helped shape the modern style of doing science - moving boldly and freeing imagination but keeping moorings anchored to some basic principles.” (Holton, 1978, p. 275) On the other hand, bringing a little of the humanities, from an operating bold stance as the modus operandi of Einstein, we must adopt the imagination as an instrument of knowledge, as operationalized by Italo Calvino4:

In this context, to the extent that this dialogue is built through Hilal’s invitation, your Constellations promote closer communication between art & science and constitute, in itself, a instrumentalization of the third culture. Constellations: Science & Art in search of Identities and Affiliations Laércio Ferracioli Vitoria, April 2016 * * *

“The imagination as a tool of knowledge, according to which the imagination, while following other paths than those of scientific knowledge, can coexist with the latter, and even assist it, even showing the scientist a necessary moment in the formulation of your hypothesis.”(Calvin, 1994, p.103) Going a little further with Calvin, the third culture should make the exercise of a Pedagogy of Imagination: “A Pedagogy of Imagination that we get used to control one’s inner vision without choking it and without, on the other hand, dropping it in a confused and passenger fantasy, but allowing images to crystallize in a well-defined, memorable, self-sufficient icastiche.” (Calvin, 1994, p.108).

sity Press. 4

CALVINO, I. (1994) Seis Propostas para o Próximo Milênio. São Paulo: Companhia das Letras.

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Curriculum Vitae Resumido HILAL SAMI HILAL, 1952, Vitória ES Graduado em Artes plásticas UFES – 1976 Gravura: metal e lito – Festival de Inverno Minas 1973/74 Papel feito à mão – 1981 / 88 Japão Raku – Cerâmica – Festival de Verão – Nova Almeida – ES 1993

INDIVIDUAIS (INDIVIDUAL EXHIBITIONS) Galeria de Arte do Teatro Carlos Gomes Galeria Usina Galeria Tina Zápoli Galeria UFF Galeria de Arte e Pesquisa da UFES Galeria Marília RazukMuseu Vale Galeria HAP Galeria Manuel macedo Galeria Referência Galeria Spectrum Museu Vale - Seu Sami MAM – RJ - Itinerância Seu Sami Palácio das Artes - Itinerância Seu Sami SESC Pompéia - Itinerância Seu Sami Galeria Marilia Razuk OÁ Objeto Arte - Fotogramas Museu Lasar Segall - Atlas Galeria Marília Razuk Solar da Baronesa Galeria Marília Razuk Museu Chácara do Céu Da Maya Espaço Cultural MDM Gallery Centro Cultural Caixa Galeria Marilia Razuk - Exposição Ya’ayouni Palácio Anchieta - Constelações

Vitória/ES Vitória/ES Porto Alegre/RS Niterói/RJ Vitória/ES São Paulo/SP Vila Velha/ES Rio de Janeiro /RJ Belo Horizonte/MG Brasília/DF Germany Vila Velha/ES Rio de Janeiro/RJ Belo Horizonte/MG São Paulo/SP São Paulo/SP Vitória/ES São Paulo/SP São Paulo/SP São João Del Rei/MG São Paulo/SP Rio de Janeiro/RJ Bagé/SP Paris/France Brasília/DF São Paulo/SP Vitória/ES

1974 1986/87 1988 1989 1990 1998/2000/2003 1998 2001/2004 2002 2003 2003 2007 2008 2008 2008 2009 2010 2010 2011 2012 2013 2013 2013 2013 2014 2015 2016


Abridged Curriculum Vitae HILAL SAMI HILAL, 1952, Vitória, ES, Brazil Bachelor’s Degree in Visual Arts, Federal University of Espírito Santo (UFES), 1976 Engraving: Metal and Litho, Festival de Inverno Minas 1973/74 Handmade Paper Sculpture, 1981 / 88, Japan Raku – Ceramic Art, Festival de Verão Nova Almeida, ES, 1993

COLETIVAS (GROUP EXHIBITIONS) Panorama de arte brasileira - MAM FUNARTE - Papeis do papel MAM - Salão Nacional Um olhar sobre Beuys Mostra Brasil - Papel feito à mão Mostra Brasil-Papel feito à mão Mostra Brasil MAM - Panorama de arte brasileira Arte/identidade El Museo del Barrio - O fio da trama 8ª Bienal do papel - Prêmio Bienal O sal da terra - Museu Arquivo Geral Paralela Bienal A linha - Casa de Cultura de Israel Espaço Brasil - Carreau de Temple Casa Andrade Murici Museum of Arts & Design - Radical Lace & Subversive Knitting Espaço Brasil – Madri – ARCO Espaço ECCO - Prêmio Marco Antonio Vilaça H.A.P Galeria - Coordenadas Poéticas SCentro Cultural UFSJ - Solar da Baronesa - Sherazade Museu de Arte do Rio/ MAR Casa Cor/ES - Expo Arte 2014 “Resistência e Transgressão” Museu da Casa Brasileira - Exposição Op-Art MAC-SP - Exposição Prêmio Marcantônio Vilaça

São Paulo/SP Rio de Janeiro/RJ Rio de Janeiro/RJ Brasília/DF Ecuador India Lebanon São Paulo/SP Siegburg/Germany Nova Iorque/EUA Duren/Germany Vila Velha/ES Rio de Janeiro/RJ São Paulo/SP São Paulo/SP Paris/France Curitiba/PR New York/USA Madrid/Spain Brasília/DF Rio de Janeiro/RJ São João Del Rei/MG Rio de Janeiro/RJ Serra/ES São Paulo/SP São Paulo/SP

PARTICIPAÇÃO EM FEIRAS INTERNACIONAIS (PARTICIPATION IN INTERNATIONAL EXHIBITIONS) ARCO / BASEL – Miami / FIAC

1984 1984 1984 1993 1996 1997 1997 1997 2000 2001 2002 2003 2004 2004 2005 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2012 2014 2014 2015 2015


Ficha Técnica

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GOVERNO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO Governador Paulo Hartung Vice-Governador César Colnago Secretário de Estado da Cultura João Gualberto Moreira Vasconcelos Subsecretário de Estado da Cultura Ricardo Savacini Pandolfi Gerente do Sistema Estadual de Cultura Anna Saiter Secretária de Estado de Governo Angela Maria Silvares Chefe do Cerimonial do Governo Angela Pitanga Pinto Espaço Cultural Palácio Anchieta Áurea Lígia Miranda Bernardi Secretário de Estado da Educação Haroldo Rocha

INSTITUTO SINCADES Presidente Idalberto Luiz Moro Vice-Presidente Carlos Antônio Marianelli 1º Tesoureiro Renato Vianna Maia Gerente Executivo Dorval Uliana Coordenadora de Programas e Projetos Ivete Paganini Coordenadora de Projetos Lívia Caetano Brunoro Assistente de Projetos Patrícia Soares Lucio

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EXPOSIÇÃO CONSTELAÇÕES HILAL SAMI HILAL Projeto 4 Art Produções Culturais Curadoria Neusa Mendes Textos Críticos Laercio Ferracioli Ruth Bastos Direção de Produção Daiana Castilho Dias Produção Executiva Carla Roncarati Joana Bentes Projeto Expográfico Aline Cruz Montagem Cláudio Vitor de Araújo Danilo Almeida Josué Sarmento Juan Victor Gonçalves Luca Peçanha Rafael Dias Rauêna Dias Oficina da obra “Constelações” Carla Roncarati (Coordenação) Beatriz Bueno Herbert Baioco Rafael Dias Preparação técnica das galerias Construtora Pimentel Classic Modulados e Planejados ACS Pintura Vidraçaria São Pedro Nossa Casa Ladrilhos 152

Iluminação Antonio Mendel

Programação Visual e Design Editorial Studio Ronaldo Barbosa Fotografia Vicente de Mello Tati W. Franklin Vídeo Tati W. Franklin Suellen Vasconcelos Trilha sonora original obra Constelações Sérgio Benevenuto Trilha sonora adaptada obra Para o meu amor passar Marcos Bentes Assessoria de Imprensa Meio e Imagem Ação Educativa Stela Maris Sanmartin Mediação da exposição Arthur de Moraes Augusto Mello Barbara Carnielli Marina Vieira Nathalia Rodrigues Paula Rocha Rafael Dias Rauêna Gouvea Servare Mediadores efetivos

Leidyane Mattos Endlich Vedova (Supervisora) Alessandro Torrezani Ana Paula da Silva Almeida Elisa Zamboni Gabriel Angra Ghidetti Henrique Sepulchro Furtado Leidyane Mattos Endlich Vedova Maykon Correia da Silva Mykaelle Aguiar dos Santos Renato de Lima Stelzer Roberta de Freitas Gomes


Vanessa Rodrigues do Rosário Wesley Frigem Eugenio Santos PERFORMANCE CANÇÃO NOMES Coral Escola Viva (CEEMTI – São Pedro) Regente Marcelo Zanon Alunos Jean Carlo Barroso Prado Renan Ventura Braz Esmeralda Hermes do Nascimento Daniela Lames Taveira Lays Samara Matheus Conceição de Souza Enzo Dos Santos Silva Fellype S. Souza Luiz Fernando Elisabeth Vitória de Jesus Gabriel Barbosa Sotero Yuri Rangel da Silva Jennifer Keila da P. Ribeiro Jolyana Cardoso Sallles Meirelles Luan Carvalho Figueiredo Evelyn Kimberly do N. Werneck Jefferson Pauzem Fontes Serafim Hugo Conceição de Oliveira Carla Júlia Gonçalves Julya Rainha Torquato Isabel Reis Da Rós Antonio Remilton Gastaldi Junior Elayne Dos Santos Costa Camila Joana Pizzol Fim Moreto Fernanda Arantes Couto Miranda Isaque Miranda Pereira Marcelo Henrique Novais

Professores Colaboradores Danilo Fernandes Sampaio de Souza Vanessa Cristina Casulo Falcão Jefferson Ferreira Cláudia Vieira Kátia Regina Zuchi Guio Equipe Técnica Saulo Andreon – Diretor Eliana Bravim – Coordenadora Pedagógica Sandra Flores – Pedagoga Elisangela Lima Guedes – Pedagoga Agradecimentos especiais para todos os que participaram desta exposição especialmente os alunos das escolas estaduais: Catharina Chequer, Clotilde Rato, Dr. José Moisés, Maria Ortiz, São Pedro – Escola Viva, Zaira Manhães de Andrade e Zumbi dos Palmares. ***

Convidadas Ana Luíza Batista Magalhães Iane Rocha Profª de Arte Responsável Jéssica Galon da Silva Macedo

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Palácio Anchieta - Vitória/ES de 04 de agosto a 06 de novembro de 2016

PRODUÇÃO

APOIO INSTITUCIONAL

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Dados Internacionais para Catalogação na Publicação (CIP) Biblioteca Pública do Espírito Santo - BPES H641c

Hilal, Sami Hilal, 1952Constelações / Hilal Sami Hilal ; curadoria de Neusa Mendes ; comentário de João Gualberto Vasconcellos ; apresentação do Governador Paulo Hartung. Textos críticos de Laércio Ferracioli e Ruth Bastos.- Vitória : Secult, 2016. 147p. : il. : color. ISBN: 978-85-8087-164-7 Texto bilíngue: Português-Inglês. Exposição “Constelações”: realizada no Espaço Cultural do Palácio Anchieta no período de 04 de agosto a 06 de novembro de 2016.

1. Arte - Exposição. 2. Artes plásticas. I. Mendes, Neusa. II. Título



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