Móvel Capixaba: Passado & Presente

Page 1

curadoria de AdĂŠlia Borges




DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP) Biblioteca Pública do Estado do Espírito Santo “Levy da Rocha Cúrcio” B732m BORGES, Adélia Móvel capixaba: passado e presente / Adélia Borges. - Vitória: Studio Ronaldo Barbosa, 2018. 96 p. : fot. ; 23 cm x 28 cm. ISBN: 978-85-68574-03-4 1. História - Móveis - Espírito Santo (Estado). 2. Design - Contemporâneo Capixaba. 3. Indústria moveleira - Espírito Santo (Estado). 4. Sesi/ES I. Borges Adélia. II. Título.

PRODUÇÃO

REALIZAÇÃO

CDD. 745.098152


curadoria de Adélia Borges

Vitória - ES 2018 Studio Ronaldo Barbosa



“Aprendi que a madeira tem duas vidas. A primeira, como árvore; a segunda, como mesa e cadeira, cama e armário; assoalho e vassoura, gamela e colher de pau, casa e curral, berço e caixão. A madeira vive sua primeira vida para si mesma, deixando-nos colher suas frutas, que os passarinhos disputam conosco e com outros bichos. As florestas compõem chuvas, rios, cachoeiras e se alimentam de si mesmas e dos raios de sol. A segunda vida da madeira é gerada pela mão e pelo espírito humanos. São objetos de madeira que saem da nossa imaginação e ganham formas reais, passando a conviver conosco e continuam assim durante gerações, transformando-se, impregnando-se de vivência, servindo de testemunho e mantendo a utilidade.” José Zanine Caldas


8


Sistema Findes O Sistema Findes é uma organização composta por sete entidades que trabalham de forma integrada para o desenvolvimento da indústria capixaba, com a promoção de ações de defesa e representação dos interesses da indústria, além de oferecer serviços e produtos às empresas associadas e à sociedade em geral, contribuindo para um ambiente de desenvolvimento econômico equilibrado. Juntos, a Federação das Indústrias do Estado do Espírito Santo (Findes), o Centro da Indústria do Espírito Santo (Cindes), o Serviço Social da Indústria (Sesi-ES), o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai-ES), o Instituto Euvaldo Lodi (IEL-ES), o Instituto de Desenvolvimento Educacional Industrial do Espírito Santo (Ideies) e o Instituto Rota Imperial (IRI) trabalham sinergicamente com atribuições bem definidas e complementares: Educação e Qualificação, Difusão Tecnológica, Desenvolvimento Industrial, Saúde e Lazer, além da Representação Institucional. Por meio das Diretorias Regionais da Findes, que cobrem todo o Estado, as indústrias associadas a um dos sindicatos filiados têm o Sistema Findes como um grande impulsionador do desenvolvimento do setor industrial e da economia estadual.

9


10


Sesi O Serviço Social da Indústria (Sesi) tem a missão de promover a qualidade de vida do trabalhador, de seus dependentes e da população, com foco em educação, segurança, saúde e lazer. A história do Sesi no Espírito Santo começou em 1951, durante o governo de Jones dos Santos Neves, que reconheceu a importância da entidade e colaborou para o seu desenvolvimento por vislumbrar que o Sesi era uma ferramenta fundamental para ajudar a solucionar os entraves sociais da população capixaba. Após 67 anos em atividade, o Sesi-ES continua trabalhando intensamente na promoção de projetos para a indústria capixaba, atuando a partir de suas 15 unidades operacionais, seis unidades de saúde, teatros e uma galeria de arte. Com padrão internacional de excelência, na área da educação, o foco é dividido entre: a educação infantil, o ensino fundamental e médio, educação continuada e o protagonismo na reforma do Ensino Médio, sendo o único Estado da região Sudeste a ter um projeto piloto de integração Sesi-Senai utilizando as novas metodologias de Educação. O Sesi-ES é a maior rede de ensino privado do Espírito Santo, atendendo anualmente cerca de 12 mil alunos. Na área da saúde, diversos serviços são oferecidos, entre eles atendimento médico, diagnósticos, odontologia, laboratório de análises clínicas e segurança do trabalho. Tudo isso com uma infraestrutura moderna e profissionais altamente qualificados. A cultura e o estilo de vida também são pensados no intuito de valorizar o trabalhador e facilitar o seu acesso e o de sua família às manifestações artísticas, esportivas e culturais. A década de 80 para o Sesi-ES foi marcada por diversos investimentos e a cultura passou a ter um papel relevante.

11


Investir em cultura tornou-se fundamental não apenas sob o aspecto lúdico, do lazer, mas como um elemento parceiro na formação educacional dos alunos a Rede Sesi de Ensino, dos trabalhadores da indústria e da população de um modo geral. A cultura começou a ser lembrada como um vetor de prazer, inspiração e comunicação com o público. Atualmente, o Sesi-ES possui uma série de ações para promover a cultura e facilitar o acesso à sociedade capixaba, em especial aos trabalhadores da indústria: Teatro do Sesi, Projeto Teatro na Empresa, Orquestra Camerata Sesi e também o Sesi Arte Galeria, última inauguração cultural da entidade. Com o propósito de oferecer programas culturais e artísticos de alto nível, o Sesi Arte Galeria é um dos principais endereços culturais da capital capixaba. Localizado na Avenida Nossa Senhora da Penha, o espaço possui área total de 800m², além de eficiência acústica, iluminação artificial, acessibilidade e ambiente climatizado. O projeto arquitetônico dispõe de espaço para todas as expressões artísticas e visa a unificar o setor industrial e cultural pela mescla da arte com a história dos segmentos industriais capixabas, bem como reforçar a missão do Sesi-ES de promover a qualidade de vida do trabalhador da indústria. Na exposição “Móvel Capixaba: Passado e Presente”, vamos resgatar a história da tradição moveleira no Espírito Santo, mostrando o desenvolvimento do setor que hoje é referência no cenário nacional.

12


13



O FIO DE UMA HISTÓRIA SINGULAR por Adélia Borges A história do móvel brasileiro vem sendo contada na dimensão nacional. Pouco espaço tem sido dedicado a como cada estado tem contribuído para o segmento e, em consequência, como pode contribuir para o seu futuro. “Móvel capixaba: Passado e presente” apresenta um olhar panorâmico sobre a produção moveleira do Espírito Santo, num percurso ao longo do tempo. Num tema amplo, decidimos colocar o foco em peças que tenham a madeira e seus derivados como matéria-prima principal, pois esse é o material que historicamente se vê mais representado no Estado. Na medida do possível, quisemos também privilegiar aquelas que revelem um esforço criativo próprio, valorizando seu design. A mostra inclui uma grande diversidade de tipologias, tais como cadeira, poltrona, banqueta, carteira escolar, arca, berço, cama, criado-mudo, escrivaninha, aparador, sapateira, armário e divisórias de ambientes. Elementos fixos de arquitetura abrangem porta, veneziana e cuba. E até o segmento religioso se faz presente com um confessionário e altares. O mobiliário do Espírito Santo possui características únicas, derivadas de sua história. Optamos por um percurso expositivo cronológico, de tal forma que ele permita perceber o fio temporal ao longo de cerca de 170 anos, numa evolução em que não se observam grandes rupturas, e sim continuidade.

15


O LEGADO DOS IMIGRANTES O Espírito Santo teve um desenvolvimento tardio comparado aos outros estados do Sudeste. Durante o século 18, o governo português determinou que a região permanecesse quase intocada para criar uma faixa de isolamento de Minas Gerais, então no auge do ciclo do ouro. A situação só mudou em meados do século 19, quando a cafeicultura, que já estava disseminada em estados vizinhos, começou a chegar às terras no momento dominadas por florestas tropicais (até o final do século 19, calcula-se que cerca de 85% do território capixaba ainda permanecia coberto pela Mata Atlântica). Para tocar a produção agrícola, o Estado abriu as portas para imigrantes que eram expulsos de uma Europa em forte crise econômica e social. O primeiro contingente chegou em 1847, vindo da Alemanha, e se instalou às margens do rio Jucu, na Colônia Imperial de Santa Isabel. Em 1873, chegaram a Santa Leopoldina 413 colonos vindos da Pomerânia, um ducado integrante da então Confederação Germânica (no final do século 19 a Pomerânia deixaria de ser um estado independente e passaria a fazer parte da Prússia; depois da Segunda Guerra Mundial, foi dividida entre a Polônia e a Alemanha). Eles foram para a região de Santa Maria de Jetibá. Em 1874, chegaram os primeiros italianos, formando o Núcleo Timbuy – hoje município de Santa Teresa, que se auto-intitula a “primeira cidade de colonização italiana no Brasil”. Em menor escala, chegaram holandeses, portugueses, belgas, austríacos, suíços, espanhóis e, por fim, poloneses, já no intervalo entre as duas grandes guerras mundiais. Eram predominantemente imigrantes pobres, que fugiam da miséria. Eles se estabeleceram em pequenas propriedades familiares, pois não havia no Espírito Santo latifúndios com mão de obra escrava – o que o diferencia de outros estados. Sua atividade principal era o cultivo de café. Dispersos em locais ermos e sem acesso a bens de consumo, praticavam também culturas de subsistência e faziam eles próprios suas casas, móveis e utensílios domésticos. A procedência principal dos italianos era o norte do país, justamente onde a tradição moveleira era maior. Juntas, as regiões do Vêneto, Lombardia, Trentino-Alto Ádige, Emilia-Romagna, Piemonte, Friuli-Venezia Giulia, Liguria e Vale d’Aosta foram responsáveis por 92% dos imigrantes que aportaram no Espírito Santo. Um fato significativo é que a primeira casa de Santa Teresa – hoje transformada em museu – foi construída ainda em 1875 pelos irmãos Virgílio e Antonio Lambert, que eram carpinteiros na Itália. 16


De forma geral, a cultura imigrante se baseava em forte espírito de coletividade. Há relatos de que os irmãos Lambert, por exemplo, forneceram móveis e janelas para a comunidade, inclusive para a igreja que ergueram no local. A arquiteta Maria Isabel Perini Muniz, cuja tese de doutoramento em 1996, na Universidade de São Paulo, foi “Cultura e arquitetura: Casa rural do imigrante italiano no Espírito Santo”, destaca detalhes apurados da arquitetura em madeira, como o encaixe asa de andorinha, em V, em que a peça entra como uma gaveta, e as trancas e tramelas das portas e janelas de madeira. Entre os móveis, predominavam as cômodas – “só pai e mãe tinham armário para roupas penduradas; os outros as guardavam nas gavetas”. Na arquitetura pomerana, havia um arranjo mais simples na junção de peças de madeira, segundo Maria Isabel, com o predomínio da fixação por tarugos (parafusos de madeira). A localização das janelas permitia um grande conforto térmico, de forma que as casas esquentavam no inverno e ficam mais frescas no verão. Os móveis pomeranos apresentam um forte senso de utilidade e funcionalidade, mas sem renunciar ao desejo de beleza. Eram frequentes os recortes em babados e corações, e o uso da pintura em todo o exterior. Marchetarias e entalhes também ocorrem, embora com menor frequência. “Mesmo com a deficiência de ferramentas, faziam coisas maravilhosas”, diz o antiquário Manoel Martins. Na tipologia, destacam-se os baús, cabideiros para pendurar roupas, guarda-louças e mesas. “Cadeira era mais raro, eles sentavam em bancos, magníficos.”

MARCENARIA PRIMOROSA Os descendentes dos imigrantes prosseguiram a tradição, de tal forma que se assiste no início do século 20 ao trabalho de marceneiros que primam pelo rigor da confecção artesanal. Um exemplo é o de Abílio de Tassis. Seu pai, Pietro de Tassis, trouxera de sua Trento natal um livro sobre altares datado de 1855. Abílio produziu, principalmente entre os anos 1930 e 40, cerca de uma dezena de retábulos, com ornamentos entalhados à mão. Frente à escassez de materiais no local, Abílio usava papel laminado para dar brilho aos elementos decorativos, entre eles pináculos, rendilhados, vazados, arcos e medalhões. Capelas em municípios como Conceição do Castelo e Castelo ainda hoje exibem os retábulos. A Tassis & Cia – posteriormente Marcenaria e Carpintaria São José – também confeccionou mobiliário para a clientela local, a exemplo de conjuntos para fazendas, para os quais transpunha a riqueza de detalhes aprendida com os altares. 17


Atuante nos anos 1940, o português Maia foi um pioneiro na manufatura de peças em estilos europeus e brasileiros variados. Nos anos 1960, seu irmão Joaquim seguiu no ofício, chegando a empregar 30 funcionários, entre maquinistas, lixador, lustrador, entalhador e empalhador. O brasileiro João Menezes, mulato, foi projetista de Maia e manteve sua própria oficina dos anos 1950 a meados dos anos 70, quando se esgota o ciclo de extração do jacarandá-da-bahia. Como nos móveis de seu antigo empregador, os desenhos denotam técnicas apuradas e tempo na elaboração das peças. Das duas oficinas, instaladas no bairro Jardim América, Cariacica, saíram os conjuntos de mobília para as casas de boa parte da elite de Vitória e Vila Velha. As solicitações alcançariam ainda Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia, São Paulo, a região Nordeste e, segundo o ex-funcionário João Alves de Oliveira, até mesmo o Japão. Os estilos de Maia e Menezes incluíam o Híbrido, Eclético, Neorrococó, Diretório e Béranger, e também uma mistura dessas referências. Os clientes de João Menezes, em sua maioria recém-casados, costumavam encomendar por fotografias ou mostruários em um escritório adjacente à oficina, e podiam esperar de seis meses a um ano para receber os móveis, muitas vezes livres interpretações artísticas das vontades de cada um.

MESTRES DO MODERNO A arquitetura moderna, que desponta com força no Brasil nos anos 1940, pedia interiores coerentes com a limpeza de suas formas. Os móveis deveriam ser simples, despidos de ornamentos. A tríade mais eminente do mobiliário moderno nacional – Joaquim Tenreiro, José Zanine Caldas e Sergio Rodrigues – teve atuação destacada no Espírito Santo. No início dos anos 1960, Joaquim Tenreiro desenvolveu todos os móveis da residência do empresário Camilo Cola em Cachoeiro do Itapemirim, que teve projeto de arquitetura de Maria do Carmo de Novaes Schwab (1930, Vitória, ES). Formada em 1953 pela Faculdade Nacional de Arquitetura da Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro, Schwab trabalhou com Affonso Eduardo Reidy durante sua formação, e foi responsável por introduzir a arquitetura moderna no Espírito Santo. Foi também a primeira mulher a atuar na área de arquitetura e urbanismo no estado. Ela levou seu cliente para visitar designers no Rio de Janeiro alinhados com o pensamento moderno de seus projetos. Foi assim que Cola conheceu o português Joaquim Tenreiro. Filho 18


e neto de marceneiros, ele trouxera da Serra da Estrela grande conhecimento técnico, que aplicava inicialmente em móveis de estilo para a elite carioca. Na década de 1940, inicialmente a convite de Oscar Niemeyer, começou a gestar o móvel moderno brasileiro que, em sua opinião, deveria estar baseado na honestidade de propósitos, na eliminação do supérfluo, no ajuste de função e na limpeza plástica. Tenreiro desenvolveu uma linguagem adaptada aos trópicos, usando abundantemente a palhinha e extraindo das madeiras brasileiras seus limites de resistência com o menor material possível. Para ele, o móvel brasileiro deveria ser formalmente leve. “Uma leveza que nada tem a ver com o peso em si, mas com a graciosidade, a funcionalidade dentro de seus espaços.” Uma das preciosidades de nossa exposição é cadeira suspensa de balanço (apresentada em foto), da qual não encontramos registro na bibliografia sobre o designer, e que pode ter sido criada especialmente para a casa. Ela tem encosto móvel, ligado a corrediças, para adequar-se ao usuário, e seu volume retangular acompanha a proposta arquitetônica. Em 1984, José Zanine Caldas projetou toda a arquitetura, os interiores e os móveis da Pousada Pedra Azul, no município de Domingos Martins, na qual a madeira tem papel protagonista. Estrutura, forros, móveis, guarda-corpos, portas, escadas, todos são feitos com pinus e eucalipto retirados da região, ou com espécies buscadas por Zanine no sul da Bahia, sobretudo paraju. Com 39 apartamentos e em formato de uma libélula, a obra é destaque na produção do arquiteto e designer, e uma das raras feitas por ele para uso coletivo. Os móveis foram feitos sob medida para o empreendimento. Entre o projeto (plantas assinadas em julho de 1984) e a abertura da pousada, em 1986, o designer passou largas temporadas instalado numa casinha que ele próprio projetou, perto da sede do empreendimento. Uma de suas paredes é feita de caules de eucalipto e argila. A singeleza da porta de madeira, com tramela em lugar de fechadura, lembra os móveis dos imigrantes europeus na região. Foi montada uma serraria no terreno e nela os trabalhadores beneficiavam as madeiras que chegavam em toras. Ainda nos anos 1980, Zanine Caldas projetou uma capela em residência particular em Guarapari. A construção vazada permite grande integração com a natureza ao redor. O altar é feito de pequi. O designer continuou bem ligado ao Espírito Santo e passou os três últimos anos de sua vida residindo em Vila Velha.

19


Entre 1981 e 1984, o carioca Sergio Rodrigues projetou os interiores e os móveis das dependências de outra casa da família de Camilo Cola em Cachoeiro do Itapemirim, nesse caso, com projeto de reforma elaborado por Maria do Carmo Schwab. Sergio montou uma marcenaria e produziu os móveis in loco. A composição dos ambientes reflete a busca de toda uma vida da expressão deliberada da identidade brasileira no mobiliário.

DESIGN CONTEMPORÂNEO CAPIXABA Passam de três centenas os profissionais que projetam móveis hoje no Espírito Santo. A estimativa é de Rita Garajau, e se refere principalmente àqueles que desenvolvem peças sob medida para seus projetos de casas, apartamentos, escritórios e espaços institucionais. Para a definição dos interiores como um campo de ação próprio, foi essencial a criação em 1951 da então Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), que compreendia, ao lado dos cursos de Pintura, Gravura e Professorado de Desenho, também o de Decoração - o primeiro do país, seguido pelo do Rio de Janeiro, dez anos depois. O curso se valeu da qualidade e empenho de precursores e professores como Gerusa Samú, Marcelo Vivacqua, Maria Cecília Jahel Nascif, Márcia Morais, Cristina Barbosa, Maurício Salgueiro, João Vicente Salgueiro e Freda Cavalcanti Jardim. Num mercado com oferta restrita de mobiliário de qualidade disponível para compra em lojas, os decoradores capixabas passaram a desenhá-los, o que contribuiu muito para o aperfeiçoamento das marcenarias. Como não poderíamos dar conta de um número tão grande de profissionais na exposição, o foco da curadoria se tornou o de peças que, se concebidas para um projeto específico, pudessem ter vida própria e inserção no mercado posteriormente. A seleção incluiu, dos nomes seminais, Luizah Dantas e Rita Garajau, ambas ex-alunas da Escola de Belas Artes. Da nova geração, pinçamos dois exemplos, Marília Celin e a Creato Arquitetura e Interiores, da dupla Cintia Chieppe e Márcia Paoliello. Certamente o segmento merece mostras independentes, que evidenciem a sua tradição e força no estado. Nosso olhar se demorou no design de produto como atividade autônoma, desvinculada da gênese de um ambiente específico, embora essas fronteiras muitas vezes sejam imprecisas. O arquiteto José Daher Filho, por exemplo, faz desenhos sob medida para seus projetos e foi consultor da criação do Espaço Brumatti entre 2001 e 2005, loja para a qual desenvolveu 40 peças que foram comercializadas ao lado de outras marcas brasileiras. 20


Uma das vertentes desse segmento é o de pessoas que projetam e também executam seus móveis, seguindo tradições moveleiras familiares. É esse o caso de Irenêo Joffily Bisnetto, que trabalha com madeira e artes manuais desde criança, e com a marcenaria profissional desde 1986, e de Jorge Zuccolotto, que herdou o ofício do pai e, desfeita a sociedade com os irmãos na empresa familiar, fundou em 2007 a Marcenaria Espírito Santo. Numa prática que combinou a mão-de-obra com o ensino e qualificação de pessoas, entre 2012 e 2016, Zuccoloto manteve sua produção dentro da Penitenciária Estadual de Vila Velha, no Xuri. Paulo Cesar Casate se formou em Engenharia Elétrica na Ufes e trabalhou 35 anos no setor elétrico. Em 2011 decidiu retomar a tradição herdada do pai, o marceneiro Cesar Casate, descendente de italianos, e abriu um atelier na zona rural de Marechal Floriano. Já Edu Silva trabalhou como engenheiro mecânico durante 35 anos na empresa Vale e, aposentado, foi morar num sítio, em Pedra Azul, onde instalou uma pequena marcenaria, inspirado pelas lembranças do avô. Cezar Guedes graduou-se no Instituto de Arte e Design da Universidade Federal de Juiz de Fora em 1981 e trabalhou por 17 anos como designer da Garoto, empresa para a qual criou as embalagens dos chocolates Mundi e Talento. Em paralelo à atuação como professor de cursos de design em faculdades capixabas, produziu uma centena de projetos de móveis de marcenaria tradicional, com atenção à elaboração de curvas e à combinação de diferentes madeiras. Autodidata, Rusimar Antônio atua desde o início dos anos 1980 na produção de mobiliário e esquadrias sob medida para projetos de arquitetos e de mobiliário assinado para designers de produto, além de criar seus próprios desenhos – todas na faixa da classe A de consumo. Entre 1986 e 2013, teve a empresa Brumol; de 2005 a 2007, foi fabricante licenciado da marca italiana MisuraEmme; e, desde 2013, é sócio da Demuner, além de manter a marcenaria artesanal Painel Verde. O trabalho de Rusimar, 100% focado no setor moveleiro, é marcado por um forte componente de inovação e de pesquisa de materiais e técnicas. Outro nome que conjuga projeto e produção em tempo integral é Rubens Szpilman, que desde 1988 tem uma bem sucedida empresa de design e produção de acessórios, cubas e lavatórios para banheiros, e de cadeiras e bancos em resina de poliéster. Ele já representou o Espírito Santo em várias mostras nacionais de design. 21


Outros profissionais preferem se dedicar prioritariamente ao projeto e delegam a produção. Graduado em 1975, na Escola Superior de Desenho Industrial (Esdi), no Rio de Janeiro, Ronaldo Barbosa foi professor de design da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) por 27 anos e, desde o início dos anos 1970, atua como designer em várias frentes, sobretudo design gráfico, editorial e expositivo. Suas incursões no design de mobiliário incluem trabalhos em pedras ornamentais e a reedição de banqueta de madeira feita nos anos 1930 por seu avô. Na geração mais jovem, Ana Paula Castro, com formação mista em Desenho Industrial e Artes Plásticas, atua em design gráfico, estamparia para moda, objetos decorativos, uma linha de porcelanato e elementos vazados em cimento ou madeira. Formado em design pela Universidade do Estado de Minas Gerais, Ricardo Freisleben tem uma pequena oficina experimental em Afonso Cláudio, na qual faz protótipos já premiados, e gostaria de delegar à indústria a reprodução em série de seus objetos. A contratação de profissionais com formação específica ocorre também nas indústrias. A Serpa Marcenaria mantém uma equipe interna de desenvolvimento com oito profissionais, entre designers e arquitetos, sediados em Cariacica e no Rio de Janeiro. Além de assessorar os arquitetos e designers de interiores em seus projetos de móveis para ambientes específicos, a equipe também cria produtos próprios. O grupo que elabora o design de produtos para o setor moveleiro de Linhares inclui Flavia Galon, formada em desenho industrial, Adriza Rigoni e Simone Cypreste Santos Oliveira, graduadas em arquitetura. Flavia gerenciou a área de desenvolvimento de produtos da Movelar entre 2004 e 2013, à época uma das maiores indústrias de móveis do país, e Simone Cypreste foi contratada durante anos pela Panam. Hoje, ambas prestam consultoria para empresas como Cimol, Permobili, Docelar, Panam e MGM, todas voltadas à produção industrial seriada. Adriza Rigoni dirige desde 2002 a equipe interna de desenvolvimento de produtos da Rimo, a maior indústria moveleira do estado. Atualmente o núcleo reúne oito pessoas, entre arquitetos, designers, engenheiros e marceneiros, desenvolvendo mais de 210 itens por ano, entre produtos e variações, sem incluir os móveis planejados, ainda mais numerosos. A empresa é premiada frequente do prêmio Top Mobile, de abrangência nacional, e em 2018 conquistou o primeiro lugar na categoria “móveis modulados”, o segundo em “móveis planejados” e o terceiro em “camas e complementos”. 22


ALCANCE NACIONAL O alto padrão da marcenaria capixaba tem atraído a atenção de arquitetos e designers de interiores de outros estados, que procuram no Espírito Santo fornecedores capazes de executar com primor os móveis que projetam. André Piva, Claudia Moreira Salles, David Bastos, Eliane Pinheiro, Gisele Taranto, Ivan Rezende, João Armentano, Lia Siqueira, Mauricio Nobrega, Miguel Pinto Guimarães, Roberto Migotto e Thiago Bernardes são alguns dos profissionais reconhecidos no mercado brasileiro que, embora baseados em estados como Rio de Janeiro, Belo Horizonte, São Paulo e Bahia, escolhem com frequência fornecedores do Espírito Santo. Para se chegar a essa situação, contaram as iniciativas de promoção da marcenaria capixaba. A mais marcante foi, sem dúvida, a sociedade informal Companhia Capixaba de Marcenaria, criada em 1994 pelas empresas Serpa, Brumol, Brumatti e Zucolotto. “Partimos do pressuposto de que nossa marcenaria era boa e tínhamos potencial e interesse em exportar”, relata Domingos Depollo, diretor da Serpa Marcenaria, de Cariacica. “Na primeira Casa Cor de Vitória trouxemos arquitetos da Bahia, São Paulo, Distrito Federal, Minas Gerais e Rio de Janeiro, e palestrantes de fora. O coordenador era o José Roberto Dente. Fizemos um grande trabalho de padronização de processos nas quatro empresas. O cliente não sabia previamente qual fábrica iria fazer”, relata. O empreendimento permaneceu por oito anos. A Serpa continua investindo no mercado de fora do estado, e em 2014, abriu um showroom em Ipanema, no Rio de Janeiro. A maior parte da produção para outros estados é de armários, estantes, balcões e divisórias sob medida, integrados aos interiores de residências e escritórios. Alguns projetam também peças que, embora muitas vezes nascidas de um projeto de arquitetura, passam a ser incorporadas ao mercado nacional de mobiliário. Para esse núcleo da exposição, selecionamos alguns exemplos dessa produção autônoma.

A POTÊNCIA DA INDÚSTRIA A herança dos imigrantes chegou até os dias de hoje não só com os profissionais que se dedicam a repetir, em linguagens atuais, o fazer manual, mas também com uma indústria de alta performance 23


tecnológica. Em sua sala, em Linhares, Luiz Rigoni, presidente da Rimo, a maior indústria de móvel do Espírito Santo, aponta para uma pintura que mostra uma cena no povoado de Queixada, município de Vila Valério, de uma igreja feita por seu pai, imigrante italiano, para a comunidade, em 1961. Os componentes de madeira da arquitetura e os bancos foram feitos com um serrote, um formão e um enxó. Hoje, no Polo Moveleiro de Linhares, essas ferramentas rústicas foram substituídas por máquinas de última geração controladas por computadores. Um marco histórico que desencadeou a criação do polo é o ano de 1962, quando foi instituído o Plano Diretor do Grupo Executivo de Racionalização da Cafeicultura (Gerca). Frente a uma crise provocada pela queda brusca do preço internacional do café, seu objetivo era erradicar os cafezais improdutivos no Brasil. A medida levou à destruição de mais de 50% dos cafezais capixabas. Muitos cafeicultores – pequenos produtores, com propriedades com no máximo 50 alqueires de terra – foram obrigados a vender suas terras no sul do estado e decidiram passar à exploração da madeira como uma alternativa econômica. Os descendentes dos imigrantes se deslocaram para a região norte, rica em madeiras nobres da Mata Atlântica. As serrarias se multiplicaram para a venda do material bruto a outros estados, e simultaneamente, algumas pequenas marcenarias familiares também se instalaram. Linhares se tornou o epicentro dessa transformação, enquanto em Colatina se instalou a indústria de confecções, resultando numa nova configuração econômica do estado, com o início de sua industrialização. “Apesar do caráter predatório da iniciativa, Linhares sustentou o ciclo da madeira do Espírito Santo do final dos anos 1950 à década de 1970”, afirma Paulo Cezar Pinheiro Guedes em sua dissertação de mestrado de 2008, sobre a emergência e caracterização do Arranjo Produtivo Local Moveleiro de Linhares. Segundo ele, nos anos 1960 havia mais de 200 serrarias em Linhares. Não se vendia mais somente a madeira em toras, mas se fazia o seu desdobramento. O iniciador, prossegue, foi José Dalvi, que em 1959 abriu em Linhares a Fábrica de Artefatos de Madeira. “Nessa pequena fábrica ele e mais três empregados, com uma máquina de desempeno da marca Invicta, de fabricação nacional – as outras máquinas foram desenvolvidas pelo próprio José Dalvi, que, além de exímio marceneiro, é muito habilidoso em mecânica –, desenvolveram móveis em geral, com técnica apurada de marcenaria clássica, como torneados, com entalhes e inserção de marchetaria e um trato artístico para a madeira que se aproxima bastante dos 24


móveis desenvolvidos pela Morris & Co. de William Morris, Inglaterra, em 1907.” O empreendimento funcionou até 1980. Nas várias marcenarias locais, as técnicas artesanais foram aos poucos sendo substituídas. A mão de obra também se valeu de programas de qualificação técnica e as empresas se beneficiaram de uma intensa modernização tecnológica. Em 1987, os empresários do setor se uniram e criaram o Sindicato das Indústrias da Madeira e do Mobiliário de Linhares e Região Norte do Espírito Santo (Sindimol). Em 2016, o segmento faturou 350 milhões de reais e gerou 1.400 empregos. A indústria moveleira local se encontra altamente mecanizada e apta à produção em altas séries de móveis modulados e planejados. Suas características principais são a tecnologia de ponta, com o uso de máquinas CNC (Controle Numérico Computadorizado) importadas da Itália e da Alemanha, capazes de realizar usinagens precisas; a adoção de processos racionalizados de produção (design modular, linha de montagem, não-desperdício de matéria-prima); a otimização do transporte (sistemas construtivos pensados para diminuir as embalagens); mão-de-obra qualificada; e a produção de bens acessíveis e democráticos para o estrato mais significativo/numeroso de nossa população. O acesso às classes C e D se vale da adoção de poucos detalhes de acabamento (torneamento, vernizes etc.) com faces retilíneas, acarretando um processo mais veloz. As tipologias são segmentadas por área: dormitório (cama, roupeiro, cômoda, criado-mudo, modulados), sala de jantar (cadeira, aparador, buffet, mesa), sala de TV (home, rack, escrivaninha), banheiro (armário, espelheiro) e quarto de bebê (berço, roupeiro, cômoda). Os projetos procuram atender à demanda de melhor otimização possível dos espaços cada vez menores das residências brasileiras. A montagem tem sido transferida para a comercialização – o lojista monta o móvel na residência do comprador – o que traz enormes vantagens para a indústria.

MATERIA, PRINCÍPIO DAS COISAS A madeira protagoniza a exposição “Móvel capixaba: Passado e presente” como um material plural. Trata-se de matéria-prima primordial na civilização humana – sua etimologia vem justamente do latim materia, matéria, princípio das coisas. 25


Em suas pesquisas, o antiquário Manoel Martins notou a predileção dos pomeranos pelo cedro, resistente a cupins e mais parecido com as madeiras europeias em seu tratamento – as espécies tropicais, como jacarandá e caviúna, por serem difíceis de manejar com plaina e formão, eram usadas para os tarugos e em alguns poucos móveis. Abílio de Tassis utilizou cedro e peroba, e provavelmente foi aparelhando suas ferramentas, pois a filha Alba de Tassis lembra-se de relatos de que escolheu diretamente na mata nos arredores de Castelo toras de jacarandá para fazer os móveis de uma residência. A área original de ocorrência do jacarandá-da-bahia (Dalbergia nigra) estendia-se do sul da Bahia ao Espírito Santo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo, Paraná e Santa Catarina. As portentosas árvores chegavam a 50 metros de altura, com até 1,20 m de diâmetro. Joaquim Tenreiro declarou certa vez que “a ninguém interessa plantar jacarandá, que para atingir seu crescimento ideal leva cerca de 200 anos”. A espécie era apreciada no Brasil e no exterior por ser extremamente durável. Por sua dureza, permitiu a feitura de entalhes rebuscados, com curvas e espessuras limítrofes. Sua coloração escura – que alguns chamam de chocolate, e outros veem como um roxo quase negro – é uma de suas qualidades, que foram devidamente exploradas pelos marceneiros capixabas dos anos 1940 a 1970. João Alves de Oliveira, que trabalhou na marcenaria do português Maia, em Campo Grande, de 1961 a 1971, relata que, quando entrou, utilizavam jacarandá, depois vieram peroba, vinhático e gonçalo-alves. O jacarandá foi muito empregado também entre os anos 1960 e 1970 por Joaquim Tenreiro e Sergio Rodrigues em terras capixabas. José Zanine Caldas extraiu dos arredores da Pousada Pedra Azul as espécies para erguer a estrutura e componentes arquitetônicos e os móveis. Mas a intensidade da exploração pelas serrarias logo esgotou as reservas naturais do estado. Segundo Paulo Cezar Pinheiro Guedes, “ao final dos anos 1970, a extração já não tinha maior importância no contexto de renda interna estadual, mesmo porque todo o norte do estado já estava com suas reservas florestais totalmente ou grandemente comprometidas. Encerrando o ciclo madeireiro no norte do Espírito Santo, as populações locais adotaram outras opções de vida e os madeireiros se deslocaram para o sul da Bahia ou outras regiões, como o Pará e Rondônia”. No final da década de 1960, tem início o processo de reflorestamento no estado. A Aracruz começou a cultivar eucalipto em 1967, e criou um híbrido das espécies Eucalyptus grandis e Eucaliptus urophyla destinado à produção 26


de celulose. Em 1999, conseguiu desenvolver o híbrido com densidade suficiente para ser madeira de corte (superior a 0,500g/cm³), que recebeu o nome comercial de Lyptus. No início dos anos 1990, chegou o MDF (Medium Density Fiberboard). Segundo seu diretor, Domingos Depollo, a Serpa foi uma das primeiras empresas do Brasil a usá-lo, importado do Chile. O material tem seu miolo composto por fibras de madeira reflorestada, sobretudo pinus e eucalipto;e propicia fácil usinagem, em vários formatos, inclusive em curvas sinuosas. Costumava ser finalizado com lâminas de madeira; hoje, além das lâminas, em algumas linhas de produção, a placa é revestida por papel melamínico; em outras, ela recebe impressão por rolos e secagem ultravioleta. Assim, é possível imprimir qualquer padrão – inclusive os simulacros das madeiras nobres. Há também MDF que vem com acabamento melamínico. Outro material muito utilizado ali é o MDP (Medium Density Particleboard), que tem seu miolo composto por partículas de madeira, e também deriva de pinus, eucalipto e outras espécies reflorestadas. Há muitas variações de tipos e acabamentos. A expectativa é de que a Placas do Brasil S.A., fábrica de MDF inaugurada em junho de 2018, no município de Pinheiros, vai significar um grande ganho para a cadeia produtiva dos móveis no Espírito Santo. Ela recebeu investimento de R$ 480 milhões e foi criada por um consórcio de 40 empresários locais, segundo um deles, Paulo Joaquim do Nascimento, também presidente da Panam. No polo de Linhares, a predominância do uso dos materiais compostos não significa exclusividade. A ex-serraria Esquadrias São Rafael, por exemplo, continua usando angelim pedra, peroba mica e garapa maciços, vindos de Mato Grosso e Rondônia. O uso de madeiras maciças é predominante no trabalho dos designers-marceneiros. Nas entrevistas para a preparação desta exposição, foram citadas as espécies amarelinho, angelim pedra, cedro, cerejeira, cumaru, freijó, imbuia, ipê, jaqueira, louro preto, macanaíba, paraju, peroba-do-campo, peroba mica, roxinho, vinhático, formando uma admirável gama de cores. O agrupamento de mais de uma espécie no mesmo móvel, iniciado no Brasil por Joaquim Tenreiro em sua célebre poltrona Três Pés, de 1947, ocorre com frequência nessa produção. “Sem escala de valores, toda madeira é nobre”, diz o carioca Ivan Rezende, que produz suas criações na Cap Israel, em Colatina, tais como o aparador Floresta, que integra freijó, cumaru, peroba mica e roxinho. 27


Vários designers se referem ao aproveitamento de sobras de marcenaria, restos de postes, esteios de pontes de madeira a serem substituídas por concreto, cruzetas retiradas de redes elétricas, dormentes de antigas ferrovias, galhos caídos no chão, troncos escavados e madeiras encontradas em leitos de rios e riachos. “Como a disponibilidade de cada madeira é sazonal, apenas no momento da encomenda consigo saber qual tipo está disponível para a produção de uma peça”, esclarece Ana Paula Castro, enquanto Edu Silva diz que a criação de novas peças muitas vezes surge da observação dos pedaços de madeira que obtém. Edu Silva vem empregando bastante a garapa reutilizada de antigos barcos. Rita Garajau aproveitou o desmonte do piso de uma clínica este ano para conceber mesas e bancos com tacos de jacarandá e peroba. Entre as espécies reflorestadas maciças utilizadas, estão pinus, teca e Lyptus. Vários usam simultaneamente as madeiras maciças e os compostos. A Serpa Marcenaria, por exemplo, utiliza tanto peroba do campo, cumaru e freijó maciços legalizados e madeiras de demolição, quanto MDF com certificação FSC – sigla para Forest Stewardship Council ou Conselho de Manejo Florestal, uma organização independente, não governamental, criada para promover o manejo florestal responsável ao redor do mundo. Independente de governos e empresas, a organização tem o mais respeitado sistema de certificação de produtos florestais, entre eles a madeira. A combinação de vários materiais é prática cotidiana também na Demuner, onde Rusimar Antônio utiliza madeiras maciças de reuso, MDF, MDP e outros. Na porta projetada em 2003, por exemplo, a colmeia tamburato (uma colagem intercalada de papelão) fica no interior e é revestida de metacrilato cinza brilhante, enquanto a estrutura utiliza pinus ou eucalipto. Rusimar tem uma intensa busca de unir maior desempenho e durabilidade com o menor uso possível de matérias-primas que possam impactar o ambiente. Um dos materiais que utiliza em vários puxadores e perfis é o alumínio. Por sua leveza, ele possibilita criar peças esbeltas e resistentes, muitas vezes revestido de lâminas de madeira. Outros agregam madeira a ferro, aço inox, aço carbono e latão. Já Rubens Szpilman se destaca entre os designers brasileiros pela utilização de resina de poliéster pigmentada, em 24 opções de cores.

28


MÃOS E MÁQUINAS No período pós-Revolução Industrial, acreditava-se que a indústria iria fazer o artesanato desaparecer. Não é o que se assiste hoje no mundo. Em pleno século 21, os meios de produção artesanais e industriais parecem conviver cada vez mais. Destinados a públicos distintos, ambos se complementam, cada qual correndo na sua raia. Nos países desenvolvidos, cresce o movimento dos makers, nome que surgiu para designar a valorização do feito à mão nas sociedades altamente tecnológicas. Nesse sentido, é ilustrador ler a descrição do arquiteto e designer paulistano Arthur Casas sobre a sua poltrona Trançada, de 2006. Ele começou a desenvolver a peça nas mesmas proporções da clássica poltrona Barcelona, de Mies van der Rohe, de 1929, porém com estrutura, resolução de encaixes e materiais completamente diversos. Diz ele: “A Barcelona celebra o período da industrialização em massa, da estandartização. Essa poltrona é a antítese disso. A execução é quase artesanal, o material é natural: madeira – que provém de manejo sustentável – couro e tecido produzido em tear manual. O homem que já aprendeu a conviver com os benefícios da industrialização, hoje procura se aproximar mais do carinho proporcionado pela natureza e pelas peças artesanais”. Para executá-la, teve a parceria de Rusimar Antônio, então na Brumol. Arthur queria uma cor acinzentada, como se a madeira tivesse sido queimada. Rusimar criou um procedimento para isso e o batizou de saara. O processo foi replicado por madeireiras de vários estados que mantiveram o nome de saara em seus catálogos. Hoje a produção e comercialização da linha são feitas com exclusividade pela empresa norte-americana Danao Living. No território capixaba, convivem as tecnologias de última geração de algumas fábricas com os procedimentos básicos como encaixe, justaposição, moldagem e cola praticados por alguns designers-marceneiros. Em alguns casos, combinam-se no mesmo móvel alta tecnologia e acabamentos ou etapas artesanais. Na Demuner, por exemplo, pode haver o corte de um tampo numa máquina CNC complementado pela ranhura manual da superfície da madeira com o intuito de abrir seus poros e, assim, evidenciar a beleza dos veios. Naturalmente, os procedimentos artesanais e industriais se destinam a distintas faixas de público. O aparador Elis, projeto de Flavia Galon para a Cimol, é voltado ao público C, com cerca de duas mil unidades produzidas anualmente, e chega ao cliente final a em média R$ 280,00, vendido em 29


e-commerces como Casas Bahia, Marabraz, Magazine Luiza e Americanas. Sem dúvida é um ganho para todos que exista uma produção de qualidade destinada à população de baixa renda. Para a definição do preço final de um produto, contam também os complementos escolhidos, tais como a maior ou menor sofisticação das ferragens.

APROXIMAR A PRODUÇÃO DA CRIAÇÃO Em nossas pesquisas para esta exposição, pudemos constatar que há uma grande capacidade produtiva no estado, de um lado, e uma grande capacidade criativa, de outro. As pontes entre os dois, contudo, ainda têm um longo caminho pela frente, que certamente trará resultados positivos para ambos os lados. Há muitos profissionais bem preparados e com formação sólida no estado. Vários jovens complementaram seus estudos no exterior. A Itália acolheu para cursos de especialização Ricardo Freisleben (em design sistêmico pela Politécnica de Turim); Marilia Celin (desenho de mobiliário em Florença, Itália) e Adriza Rigoni (mini master na Politécnica de Milão, focado em design de mobiliário para a indústria). Vários designers capixabas acumulam prêmios nacionais. Cezar Guedes foi distinguido na categoria Exterior e Lazer pela Abimóvel em 2001. José Daher Filho foi premiado pela Abimóvel em 1999 e pela loja Artefacto em 2005. Ricardo Freisleben conquistou o primeiro lugar na categoria Mobiliário do Prêmio Salão de Design Casa Brasil, em 2013, em conjunto com Andrei Pedrini, pela arara Nômade, um dos vários projetos que levam em conta as demandas por flexibilidade do modo de vida contemporâneo. Desmontável, pode ser transportada facilmente, pois a gaveta se transforma em caixa de embalagem. Nomes como esses e muitos outros estão atentos às necessidades e desejos dos consumidores. Faz parte da expertise de um designer não seguir tendências, mas as antecipar, com base na observação dos consumidores e cidadãos. Por causa disso, eles que podem contribuir no aporte de inovação. É claro que não é uma atividade isolada. Os designers devem estar necessariamente aliados e alinhados a outros profissionais da área produtiva. Relatando suas experiências em indústrias de Linhares, a jovem Flavia Galon conta que o que mais aprendeu foi “a importância do designer estar próximo ao chão de fábrica e a capacidade produtiva de cada indústria. Criar pensando sempre na eficiência dos processos e inovar dentro desses parâmetros”. 30


A indústria teria muito mais a aproveitar dos profissionais do que efetivamente tem feito. A prática mais difundida na indústria é a “inspiração” – muitas vezes eufemismo para cópia – em móveis vistos nas feiras de Milão e de Colônia. Os próprios empresários dizem que “pegam as tendências e adaptam”. Quem sabe a nova geração de empresários tenha olhos mais abertos para a ideia do design. Em nossas pesquisas, observamos que em algumas empresas a contratação de designers é vista como um gasto, e não como um investimento.

USUFRUIR DA SINGULARIDADE Ao reunir nesta exposição um percurso tão rico, de meados do século 19 até hoje, gostaríamos de propiciar uma valorização maior da singularidade do Espírito Santo no segmento. Ela configura um imenso potencial no que se tornou conhecido, no século 21, como indústrias criativas. Não nos move um propósito nostálgico, mas o reconhecimento de um passado e um presente preciosos, que podem alimentar ações no futuro – imediato, de preferência. A mostra se insere no esforço de muitos para manter essa memória viva. Não é demais lembrar que o reconhecimento do valor do móvel pomerano como um relevante patrimônio cultural do estado se deve muito ao escritor Elmo Elton (1925 – 1988) e ao antiquário Manoel Martins, que nos anos 1970 e 1980 percorreram os municípios de Domingos Martins e Santa Leopoldina com o intuito de reunir exemplares do mobiliário criado por alemães e pomeranos. Assim formaram uma coleção com mais de 128 peças que o governo do Estado adquiriu, incluindo móveis, ferramentas, cartas e outros documentos, hoje dividida em instituições pelo estado. O reconhecimento extravasou as fronteiras e resultou, entre outras ações, na exposição de móveis pomeranos que o marchand carioca Cesar Aché fez nos anos 1970 no Rio de Janeiro, com grande sucesso. Importantes colecionadores do Rio e de São Paulo mantêm móveis pomeranos em suas residências, graças a essa difusão. Vários museus e centros de memória municipais conservam móveis e objetos que testemunham suas histórias. A maioria daqueles com os quais mantivemos contato lida com muitas dificuldades para manter seu acervo e para oferecer ao público condições dignas de visitação. Gostaríamos de agradecer a todos eles e especialmente àqueles que emprestaram peça 31


para a exposição – o Museu do Imigrante Polonês, de Águia Branca; Casa Lambert, de Santa Teresa; Casa da Cultura, de Domingos Martins; além da Secretaria de Estado da Cultura (Secult). Aproximar os mundos da excelência produtiva e da capacidade criativa nos parece ser uma vocação natural de um espaço como o Sesi Arte Galeria, a quem agradecemos o convite para realizar esta mostra. Ao demonstrar como as origens da imigração resultaram numa atividade moveleira de grande capacidade, gostaríamos de contribuir para a difusão da cultura do projeto no segmento e fomentar o segmento no Estado. Passado e presente, assim, apontam para renovadas possibilidades do futuro.

Adélia Borges é crítica e curadora de design. Vive em São Paulo. O texto teve pesquisa e colaboração de Livia Debbané ***

32







O LEGADO DOS IMIGRANTES Nesta página e nas anteriores, louceiro da imigração pomerana. Madeira crua, com entalhes. O vidro das portas recebeu pinturas decorativas e a inscrição “Der Engel des HERRN lagert sich um die her, so ihn fürchten, und hilft ihnen aus”, ou seja “O anjo do Senhor é sentinela ao redor daqueles que o temem, e os livra.” O original em pomerano é retirado dos Salmos 34:7 da Bíblia Luterana, em sua segunda revisão oficial, em vigor entre 1912 e 1937. Coleção Rita Garajau.




Louceiro, imigração pomerana. Provavelmente em cedro, tem vestígios de flores nas portas inferiores e suportes para talheres na parte superior. Coleção Ronaldo Barbosa.


Armário, imigração pomerana. Madeira pintada, portas com bordados. Coleção Secretaria de Estado da Cultura do Espírito Santo.



MARCENARIA PRIMOROSA Retábulo na capela São Bento, em Montevideo, município de Conceição do Castelo. Produção: Abílio de Tassis (1916, Alfredo Chaves, ES – 2001, Vitória, ES). Corpo em cedro maciço com ornamentos entalhados à mão e papel laminado em detalhes de elementos decorativos.






Retábulo em capela de Morro Vênus, município de Castelo, c. 1930/40. Produção: Abílio de Tassis (1916, Alfredo Chaves, ES – 2001, Vitória, ES. Em cedro maciço envernizado e detalhes de pintura dourada.


Cadeira, anos 1950. Produção: João Menezes. Em jacarandá maciço com entalhes e assento em palhinha. Coleção Família Debbané.




Cama, anos 1950. Produção: João Menezes. Em jacarandá maciço com entalhes e palhinha. Coleção Família Debbané.



Cama, anos 1950. Produção: João Menezes. Estrutura em jacarandá maciço, com medalhões em palhinha. Coleção Família Debbané.





MESTRES DO MODERNO Nas páginas anteriores, chaise-longue de embalo, c. 1947. Design: Joaquim Tenreiro (1906, Melo, Portugal – 1992, Itapira SP). Estrutura em madeira maciça com almofadas removíveis sobre uma base de balanço. Painel de azulejos de Paulo Fonseca, 1962. Ao lado, balanço, c. 1962. Design: Joaquim Tenreiro. Raro exemplar de assento suspenso de balanço, em madeira maciça, correntes de metal e estofado, com encosto móvel. Acima, banco, década de 1960. Design: Joaquim Tenreiro. Duas toras de madeira na horizontal são unidas por suportes em L. Coleção Camilo Cola.


Cadeira curva com varetas, c. 1960/ 62. Design: Joaquim Tenreiro. Estrutura em peroba, pés torneados, encosto com varetas encaixadas em arco e assento de palhinha. Coleção Camilo Cola.



Acima, conjunto de estar para varanda, anos 1980; à direita, cadeira de jantar em madeira maciça, estofado e palhinha, anos 1980. Design: Sergio Rodrigues (1927, Rio de Janeiro – 2014, Rio de Janeiro). As peças integram projeto de residência em Guarapari desenvolvido entre 1981 e 1984. Coleção Família Cola.




Acima, vista aérea da Pousada Pedra Azul, em Domingos Martins. Projeto de José Zanine Caldas (1919, Belmonte, BA – 2001, Vitória, ES), anos 1983-1985. À esquerda, casinha em que o arquiteto e designer morou durante a construção.


Detalhes de guarda-corpos na Pousada Pedra Azul. Nas pรกginas seguintes, parede de eucalipto e argila e tramela de porta da Pousada Pedra Azul.





Mesinha de gamĂŁo em madeira, com uma gaveta voltada para cada lado. Projeto para a Pousada Pedra Azul / FamĂ­lia TristĂŁo.



Capela na residência da família Tristão em Guarapari, anos 1980. José Zanine Caldas (1919, Belmonte, BA – 2001, Vitória, ES).




DESIGN CONTEMPORÂNEO CAPIXABA À esquerda, arara Nômade, 2012. Design: Ricardo Freisleben (1984, Afonso Cláudio, ES) e Andrei Pedrini (1974, São Paulo). Produção: Marceneiro Gilmar Leite, de Afonso Cláudio. Em pinus de reflorestamento, aço carbono e compensado naval laminado. A gaveta se transforma em caixa de embalagem para facilitar o transporte e armazenamento. Banqueta Dulcora, 2007. Design: Rubens Szpilman (1961, Rio de Janeiro). Produção: R.Szpilman Design e Bisnetto Marcenaria. Tampo em resina polida de poliéster e base em eucalipto Lyptus envernizada.



À esquerda, elemento vazado Listra, 2014. Design: Ana Paula Castro (1970, Vitória, ES). Produção: Painel Verde. Madeira cerejeira de descarte. Estante, 2013. Design: Luizah Dantas (1948, Rezende, RJ). Produção: Marcenaria Zanetti. Prateleiras de MDF revestido com laminado melamínico, colunas de madeira maciça revestida de aço inox.



À direita, mesa Zeta, 2016. Design: Paulo Cesar Casate (1952, Ibiraçu, ES). Produção: Casate Peças Decorativas. Em roxinho e amarelinho. Banco Charlotte Bandeira, 2018. Design e produção: Edu Silva (1958, Aimorés, MG). Assento e laterais em peroba mica e travessas em garapa manchada.


Bancada de pia de lavabo, 2012. Design e produção: Serpa Marcenaria. Em pranchão de peroba do campo esculpida. Ao lado, mesa Trapézio, 2018. Design: Marilia Celin (1959, Castelo, ES). Produção: Demuner. Base e pés em aço carbono e tampo em teca maciça reflorestada.



Aparador Elis, 2018. Design: Flavia Galon (1977, Colatina, ES). Produção: Cimol. MDF com pintura UV, pés em tauari e puxadores em ABS. Ao lado, mesa de centro Flor, 1993. Design: José Daher Filho (1956, São Mateus, ES). Produção: Maison Móveis (Álvaro Miranda). Coleção: Marta e Arlindo Quintão. Lâmina de imbuia sobre MDF, com pinos de fixação em aço inox polido.



Criado-mudo Porto, 2017. Design: Creato Arquitetura e Interiores / Cintia Chieppe e Márcia Paoliello. Produção: Demuner. MDF pintado com microtextura, base de latão e puxador de couro. Ao lado, mesa lateral Lunar, 2018. Design: Rita Garajau (1951, Vitória, ES). Tampo de tacos descartados de jacarandá e peroba e pés de barras de ferro parafusadas. Na próxima página, tampo de mesa, 2014. Design: Rusimar Antônio (1966, Colatina, ES). Produção: Demuner. A cerejeira é ranhurada para a abertura dos poros e tonalizada em bronze escuro.






À esquerda, base de mesa Carrossel Mag, 2016. Design: Jorge Zuccolotto (1954, Cachoeiro do Itapemirim, ES). Produção: Marcenaria Espírito Santo. Lâmina de peroba do campo sobre base de compensado. Banqueta Vô João, 1930/ 2015. Redesign: Ronaldo Barbosa (1951, Vitória, ES). Produção: Francischetto Marcenaria. Em cedro encerado.



Ao lado, cadeira de balanço, 2000. Design e produção: Irenêo Joffily Bisnetto (1954, Rio de Janeiro, RJ). Madeira maciça de aparas de marcenaria. Cadeira Etnos II, 2005. Design: Cezar Guedes (1953, Recreio, MG). Produção: Irenêo Joffily Bisnetto. Madeiras maciças Lyptus e roxinho.


ALCANCE NACIONAL Mesa de centro Infinitus, 1994. Projeto: Eliane Pinheiro (1954, Belo Horizonte, MG). Produção: Demuner. Em angelim pedra ranhurado e tonalizado em preto. As ripas intercaladas permitem que a mesa seja retrátil. Ao lado, aparador Floresta, 2015. Design: Ivan Rezende (1956, Rio de Janeiro, RJ). Produção: Cap Israel. Em freijó, cumaru, peroba mica e roxinho maciços.




Ao lado, painel Diversidade, 2011. Projeto: Miguel Pinto Guimarães Arquitetos Associados. Produção: Cap Israel. Cubos de freijó maciço cortados em diagonal. Poltrona Trançada, 2006. Design: Arthur Casas (1961, São Paulo, SP). Produção de época: Brumol. Em freijó saara maciço, percintas de couro soleta e estofado revestido de linhão.


Biombo Bandeirista, 2008. Projeto: Estúdio CMS / Claudia Moreira Salles. Produção: Cap Marcenaria. Em sarrafos rotatórios de madeira na cor natural e pintados de branco. Ao lado, portaria do edifício residencial Rêve Ipanema, 2016. Projeto: Gisele Taranto Arquitetura. Produção: Marcenaria Inove. Parede e teto em freijó.





EXPOSIÇÃO E CATÁLOGO Coordenação e direção geral Ronaldo Barbosa Curadoria Adélia Borges Pesquisa Livia Debbané Textos Adélia Borges Livia Debbané Design expográfico e design editorial Ronaldo Barbosa Jarbas Gomes Produção executiva Ronaldo Barbosa

Vídeo Lupino Filmes Diego Locatelli (direção) William Rubim (fotografia) Thiago Barreto (assistente) Fábio Shineider (assistente) Pedro Martins (produção) Marcos Colnago (edição) Fotografias e making of Claraboia Imagens Felipe Amarelo

Montagem Tuca Sarmento Montagens

Fotografias Alexssandro Lyrio André Nazareth André Pedrini & Ricardo Freisleben Carol Quintanilha Edu Silva Felipe Amarelo Felipe Araújo Gabriel Taquete Teixeira Galeria Passado Composto Século XX Jorge Conopca MCA Estúdio Oppa Romulo Fialdini Rubens Szpilman

Revisão de texto Toronto College of Languages

Impressão do catálogo Gráfica GSA

Produção técnica Jarbas Gomes Marcenaria cênica Francischetto Marcenaria Pintura cênica ACS Acabamentos Adalto Correa dos Santos Impressão cênica Imagiton Ideias Tangíveis


Coleções públicas Casa de Cultura de Domingos Martins Casa Lambert / Secretaria de Turismo e Cultura de Santa Teresa Museu do Imigrante Polonês Secretaria de Estado da Cultura do Espírito Santo Coleções particulares Aldezir e Zana Bachour Camilo Cola Família Cola de Tassis Família Debbané Família Leal Reis Família Meyer Musso Família Tristão Marta e Arlindo Quintão Pousada Pedra Azul Rita Garajau Ronaldo Barbosa Empresas em exposição Cap Israel Demuner Francischetto Marcenaria Maison Móveis Marcenaria Bisnetto Marcenaria Espírito Santo Marcenaria Gilmar Leite Marcenaria Zanetti Painel Verde Rimo Serpa Marcenaria Agradecimentos Adriza Rigoni Alba Cola Tassis Andrezza Coser Andrea Cola Balbino Miguel Nunes Bianca Corona Casa Lambert / Secretaria de Turismo e Cultura de Santa Teresa Casa de Cultura de Domingos Martins

Cirene Debbané Galeria Passado Composto Século XX Graça Bueno Ilze Meyer e Fernando Musso João Alves de Oliveira João Gualberto Moreira Vasconcellos José Daher Luiz Carlos Cuerci Fedeszen Luiz Vancea Manoel Martins Maria Isabel Perini Muniz Mary Gualandi Monika Meyer Museu do Imigrante Polonês Paula Nunes Costa (Secult) Paulo Cezar Pinheiro Guedes Patricia Tristão Pierre Debbané Rita Tristão Secretaria de Estado da Cultura do Espírito Santo Simone Cypreste Santos Oliveira Ula Meyer Musso Vera Pimentel Leal Reis Victor Hugo Oliveira Fedeszen Agradecimento especial Luiz Carlos Vieira Referências bibliográficas MUNIZ, Maria Isabel Perini. “Cultura e arquitetura: Casa rural do imigrante Italiano no Espírito Santo”. Tese de doutorado em 1996 na Universidade de São Paulo (USP). GUEDES, Paulo Cezar Pinheiro. “Emergência do Pólo Moveleiro de Linhares e políticas para o setor no Espírito Santo (1960-1995)”. Dissertação de mestrado em 2008 na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).

Saiba mais sobre designers e empresas incluídos na exposição em rb.vix.br/mcpp


Presidente Leonardo Souza Rogerio de Castro Representantes do Ministério do Trabalho Titular: Alcimar das Candeias da Silva Suplente: Carlos Eduardo Santos do Rosário Representante do Governo do Estado Titular: Neucimar Ferreira Fraga Representantes da Indústria Titulares: Gilmar Guanandy Régio Jose Carlos Bergamin Manoel de Souza Pimenta Neto Mariluce Polido Dias Suplentes: Eduardo Dalla Mura do Carmo Marcos Roberto Casagrande Binda Sebastião Constantino Dadalto Sérgio Rodrigues da Costa Representantes dos Trabalhadores Titular: Luiz Alberto de Carvalho Suplente: Lauro Queiroz Rabelo Superintendente do Sesi/ES Mateus Simões de Freitas Apoio Unidade de Comunicação Integrada do Sistema Findes Realização Unidade de Cultura

Capa - Criado-mudo Porto, 2017. Design: Creato Arquitetura e Interiores. Produção: Demuner. Contracapa – Louceiro, imigração pomerana.



PRODUÇÃO

REALIZAÇÃO


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.