COMPANHIA SIDERÚRGICA DE TUBARÃO A HISTÓRIA DE UMA EMPRESA
COMPANHIA SIDERÚRGICA DE TUBARÃO * CST (1973 - 2005) A história de uma empresa
PRODUÇÃO E COORDENAÇÃO
Studio Ronaldo Barbosa TEXTO
Francisco Aurelio Ribeiro SUPERVISÃO TÉCNICA
Angela Morandi PESQUISA HISTÓRICA
Cassius Gonçalves Carolina Julia Davidson Nicchio Santos Thais Rubert Machado PROJETO GRÁFICO
Ronaldo Barbosa Jarbas Gomes Rodrigo Resende EQUIPE COORDENADORA DA CST
Airton Flávio Diesel Jussara Souza Maia Maerce P. T. de Oliveira Márcia X. M. de Oliveira Ruslana F. C. Avelar EPÍGRAFES
Mensagem, Fernando Pessoa e Cantos de Fernão Ferreiro, Renato Pacheco
Dados Internacionais de classificação na publicação (CIP) (Companhia Siderúrgica de Tubarão - CST, ES, Brasil)
RIBEIRO, Francisco Aurélio, Companhia Siderúrgica de Tubarão: a história de uma empresa./ Francisco Aurelio Ribeiro. Serra: CST, 2005. 140 p.: il.
1. Companhia Siderúrgica de Tubarão – história 2. Siderurgia – história I. Ribeiro, Francisco Aurelio II. Companhia Siderúrgica de Tubarão – CST III. Título.
CDU 622.060.81 ISBN 85-7551-043-6
COMPANHIA SIDERÚRGICA DE TUBARÃO A HISTÓRIA DE UMA EMPRESA Francisco Aurelio Ribeiro
“O que acho importante é a gente olhar sempre para a frente. A história da Empresa não está completa e ela vai continuar nos próximos 5, 10, 15, 20 anos. Nós só estamos passando por aqui; somos temporários na Empresa. Temos uma curta passagem e a CST é muito maior que a nossa permanência.” (José Armando F. Campos. Diretor-presidente da CST)
COMEÇO DE HISTÓRIA 11
Encontro de destinos
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Caminhos do homem: do osso ao aço.
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Percursos brasileiros do aço A INDUSTRIALIZAÇÃO NO ESPÍRITO SANTO: A PRESENÇA DA CST
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De “Vilão Farto” a nenhuma fartura
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Dos apitos dos índios ao ouro verde e aos apitos dos trens
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Industrialização ainda que tardia
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A criação da CST A CST: DA CONCEPÇÃO À IMPLANTAÇÃO (1973-1983)
27
O difícil começar
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Os parceiros: Mistura que deu samba
33
A implantação: muita lama, muito homem e três mulheres
40
A Vila Operária: Em busca da ‘terra prometida’
42
A Construção: Arrumando a casa
46
A questão ambiental: o papel precursor da CST
52
No calor da crise: ou tudo ou nada O PERÍODO ESTATAL (1983-1992)
57
Consolidação da CST: os primeiros passos
63
A fase dos recordes
64
Desenvolvimento tecnológico
68
Benefícios sociais: qualidade de vida
70
CST: Cartão de visitas da Siderbrás
71
Planos frustrados de expansão: a crise político-econômico-social.
75
Transição: de empresa estatal à privatização PÓS-PRIVATIZAÇÃO (1992-2002): UM NOVO RECOMEÇAR
79
Os donos-banqueiros
83
Os investimentos pós-privatização (fase 1)
88
Investimentos no ser humano
90
O plano real e suas repercussões
91
Mais investimentos (fase II)
94
Programa de comunicação ambiental (PCA)
98
Nova Fase, novos sócios, nova crise
102
Relações com a comunidade
94 A CST HOJE (2003-2005): PERSPECTIVAS FUTURAS 109
Nova expansão: rumo ao futuro
111
Expansão para 7,5M/toneladas/ano
114
Desenvolvimento sustentável
115
De “patinho feio” ou “elefante branco” a pérola capixaba
116
Indicadores de desempenho e eficiência
118
Vega do Sul
120
Rota do aço
122
Arcelor Brasil
125
ARREMATES FINAIS
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COMEÇO DE HISTÓRIA
Brasão da Família Coutinho. Arquivo Público do Estado do Espírito Santo.
Todo começo é involuntário. Deus é o agente. O herói a si assiste, vário e inconsciente. (Fernando Pessoa)
ENCONTRO DE DESTINOS Agora tudo é novo e ao longe nos conduz. (Renato Pacheco)
Os antigos romanos acreditavam em Vulcano, deus do fogo, dos vulcões e da metalurgia. Cultuado em Roma desde a fundação da cidade, é identificado ao deus grego Hefestos. Cícero diz que havia vários Vulcanos e sua figura mais comum é a de um homem forte, barbudo, tendo na mão o malho e um gorro cônico à cabeça. Era ele quem forjava as armas para as guerras como espadas, lanças e escudos. Os nativos habitantes das terras capixabas, muito antes da chegada das caravelas portuguesas, acreditavam ser o Espírito Santo a “Aua’ Mbaê Porã” – Terra sem males, crença correspondente ao da Terra de Canaã, da Bíblia. Por coincidência, o escritor maranhense, Graça Aranha, em sua obra clássica, Canaã, de 1902, localiza, no Espírito Santo, a terra de Canaã, sonhada pelo povo judeu, por imigrantes de todas as épocas, e por “sem terras” de todos os lugares.
Índios Botocudos do Rio Doce, Imagem de Walter Garber. Arquivo Público do Estado do Espírito Santo.
No Espírito Santo, exatamente no planalto serrano, nos limites dos municípios de Vitória e Serra, tendo a montanha do Mestre Álvaro como testemunha e o Oceano Atlântico como via natural, surgiu um dos mais ousados projetos industriais brasileiros da segunda metade do século xx, a Companhia Siderúrgica de Tubarão (cst), uma realização atual do mito clássico de Vulcano, da tradição bíblica de Canaã e da crença nativa da Terra Sem Males, como veremos a seguir. 11
CAMINHOS DO HOMEM: DO OSSO AO AÇO Colombo ainda tarda a chegar e o Paraíso - como tantos , mais um falso paraíso – lá está, está lá, a oeste, no poente (Renato Pacheco). Diferente da concepção criacionista, predominante em meios religiosos, acredita-se que, através da evolução terrestre, o homem “sapiens” surgiu há cerca de 150.000 anos. Em milhares de anos, o homem primitivo, através de vagarosíssimas evoluções e de uma inteligência inquieta, descobriu o fogo, aprendeu a conservá-lo e a produzilo; aprendeu o uso da pedra bruta aguçada, descobriu e aperfeiçoou o sílex como arma e instrumento de ponta e corte. O primeiro instrumento de trabalho foi o osso, utilizado como ferramenta, seguido pela pedra, sua fragmentação em estilhas, sua ruptura e lascamento. Do Paleolítico, em que os sílex eram brutos e lascados, passou-se ao Neolítico, a idade da pedra polida. Às grandes eras da Pré-História (Paleolítica e Neolítica) e aos rudimentos dos materiais de trabalho, segue-se a idade dos metais: Idade do Cobre, Idade do Bronze e Idade do Ferro. Este já era conhecido e trabalhado no Oriente e seu uso desabrochou no Ocidente em torno do ano 1000 a.C., incorporando-se ao desenvolvimento das civilizações históricas e tornando-se o principal produto da inteligência humana, por mais de 2000 anos. A descoberta do uso dos metais constituiu grande revolução tecnológica e humana, pois propiciou o desenvolvimento da agricultura, a descoberta de novas e poderosas armas de defesa e de conquista e a criação de utensílios domésticos e decorativos, elevando o nível de vida das moradias e das cidades. Com o advento da Idade do Bronze e do Ferro, surgem as manufaturas primitivas para a produção de objetos utilitários, bacias, enxadas, machadinhas, vasos, arados; de armas, lâminas, e de objetos decorativos e artísticos. O progresso das diferentes civilizações associou-se à sua habilidade técnica e ao desenvolvimento dessas produções. Com o passar do tempo, o ser humano evoluiu em sua relação com os elementos da natureza, ao substituir habilidades humanas por dispositivos mecânicos; ao usar fontes inanimadas de energia (vapor, elétrica, atômica) em lugar das tradicionais forças humana e animal; ao melhorar os métodos de extração e transformação de matérias-primas; ao criar novas formas de organização de trabalho, definindo e redefinindo os papéis das classes sociais frente ao processo de produção e de distribuição da riqueza material. Nesses aspectos, a Revolução Industrial, ocorrida na Inglaterra, na segunda metade do século xviii, marcou uma profunda transformação na história do homem, já que os avanços do comércio e da produção manufatureira e a prosperidade de algumas cidades na época medieval não provocaram mudanças qualitativas e econômicas na sociedade como um todo. A era industrial, sim, provocou um grande complexo de mudanças econômicas, sociais, políticas e culturais, com um enorme aumento da produção e da variedade de bens e serviços. É o início do processo de modernização, alavancado no final do século xix, com o que se convencionaria chamar de “Era do Aço”, a quarta idade dos metais. O aço é um tipo superior de ferro, com todas as vantagens deste, em grau elevado: elasticidade, plasticidade e dureza. Mas, qual a diferença entre ferro e aço? Eles se distinguem pelo teor de carbono: enquanto o ferro-gusa apresenta uma variação entre 2,5 e 4,0% de carbono, o aço varia de 0,1 a 2,0%. “Quanto mais elevado o teor carbônico, mais duro e menos maleável é o metal e, quanto menor aquele teor, mais ele é macio, maleável e dúctil” (morandi, 1997, p. 27). 12
Forja com fole utilizada para produção de instrumentos de ferro.
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PERCURSOS BRASILEIROS DO AÇO Importa pouco uma grande siderúrgica ou o maior posto de minério do mundo, a busca é nova, a busca é de luz e de suor. (Renato Pacheco)
No Brasil, já se conhecia a existência das riquezas em minério-de-ferro desde o século xvi, já que, em 1554, Anchieta dava notícia de sua existência, mas as tentativas de aproveitamento do ferro, no início da colonização portuguesa, tiveram pouco resultado. Ainda no século xvi, Afonso Sardinha instalava em Sorocaba uma pequena fundição, mas, um mercado consumidor disperso e a falta de meios de transporte, além da precariedade da tecnologia atualizada na manufatura do ferro, fizeram com que o Brasil não aproveitasse, por muitos anos, suas imensas jazidas de ferro. No início do século xix, houve pequenas iniciativas de implantação da siderurgia no Brasil, nos estados de São Paulo e de Minas Gerais. Foi o Barão de Mauá, João Evangelista de Sousa, quem, de fato, concretizou o primeiro empreendimento siderúrgico significativo, em uma fundição instalada em Niterói, de vida efêmera. No início do século xx, criaram-se pequenas siderúrgicas, no Brasil. A primeira produção de aço, no Brasil, ocorreu em 1917, com um forno Siemens-Martin1, em São Caetano, SP. Também nesse ano criou-se a Companhia Siderúrgica Mineira, logo transformada na Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira, construtora da Usina de Sabará, MG. A Siderúrgica de Ribeirão Preto, SP, em 1922, foi a primeira com forno elétrico, e, também, a primeira da América Latina a fabricar laminados, a partir do ferro-gusa2 por ela produzido, que operou por algum tempo. A partir de 1937, a Usina de Monlevade, MG, tornou-se a maior siderúrgica a carvão vegetal no mundo (Larousse Cultural, 1998, p. 5367-8). Em 1930, criou-se a Comissão Nacional de Siderurgia, e, em 1939, a Comissão Preparatória do Plano Siderúrgico, seguida da Comissão Executiva do Plano Siderúrgico, de que resultou o projeto da Companhia Siderúrgica Nacional (csn), em Volta Redonda, RJ, com alto-forno convencional a coque3. Nessa época, Vitória foi sugerida, pela Comissão Nacional de Siderurgia, logo depois de Volta Redonda, para sediar a grande indústria siderúrgica nacional (veloso, 1962). Inaugurada em 1946, a csn foi a primeira grande siderúrgica do Brasil, com um altoforno para 1.000 t/dia, pioneira na fabricação de chapas de aço, folhas-de-flandres4 e perfis pesados5 . Essa obra provocou melhorias, dentre outras, em minas de carvão e em portos de Santa Catarina, e no sistema de transportes. A produção de laminados 6, no Brasil, atingiu 775.000 t em 1951, contra 26.000 em 1930 (rosa, 2003). Em 1953, foi fundada a Companhia Siderúrgica Paulista (Cosipa), em Cubatão, SP; e, em 1956, a Usina Siderúrgica de Minas (Usiminas), em Ipatinga, MG. 14
1 Forno Siemens-Martin: Processo criado pelos irmãos alemães Frederick e Wilhelm Siemens, que consiste na utilização do princípio da regeneração, pelo qual os gases de oxidação desperdiçados eram usados para aquecer uma estrutura de tijolos refratários, a qual, por sua vez, superaquecia o ar e o combustível gasoso em combustão. [...] O resultado foi a obtenção de temperaturas muito altas e uma economia substancial de combustível. (landes, David S. 1999. p. 264-5) 2 Ferro-gusa: O que se obtém diretamente do alto-forno, contendo mais de 90 % de ferro e, em geral, com elevada proporção de carbono e diversas impurezas.z(dicionário aurélio básico da lingua portuguesa, 1994, p.622) 3 Alto-forno convencional a coque: Fornalha para fundir minérios de ferro e produzir ferro-gusa. O coque, ou carvão de coque, utilizado como combustível, é a forma mais ou menos impura do carvão grafítico, contém 85 a 90% de carbono e é usado nos altosfornos. (dicionário rossetti de química)
Em discurso proferido na Câmara dos Deputados, em 13/07/1971, o deputado capixaba Parente Frota fez referência a um relatório de técnicos norte-americanos sobre a indústria siderúrgica na América Latina, publicado na revista World Business, do Chase Manhattan Bank, segundo o qual, a Usiminas deveria ter sido construída no porto de Vitória, por ser mais vantajoso, e não em Minas, como o foi (frota, 1971, p. 3-9).
4 Folha-de-flandres: é uma folha de aço revestida com estanho em uma ou ambas as faces. Esta camada aumenta a resistência à corrosão e possibilita a utilização desta chapa estanhada na fabricação de latas para acondicionamento de certos alimentos e de óleos, além de utensílios domésticos e industriais.
As três grandes siderúrgicas estatais, csn, Cosipa e Usiminas, representaram o núcleo da intervenção federal no setor siderúrgico e um alto nível de atualização tecnológica, tanto pela configuração integrada a coque quanto pelas escalas de produção de aços planos. Em 1983, entrou em operação a cst, e, em 1986, a Açominas, situada em Ouro Branco, MG, as últimas grandes siderúrgicas estatais implantadas no Brasil. Com isso, o Brasil entrava, definitivamente, no “Ciclo do aço”, depois de ter passado pelo “Ciclo da cana-de-açúcar” (séc. xvii), “Ciclo do ouro” (séc. xviii) e pelo “Ciclo do café” (séc. xix). Iniciava-se uma outra etapa na história sócio-econômica brasileira e que iria mudar, radicalmente, a história do Espírito Santo e a do povo capixaba.
5 Perfis pesados: Aços longos, utilizados na construção civil, serralheria, mecânica pesada, etc. (morandi, 1997, p. 33). 6 Laminados: Chapas de metal que se obtêm por laminação. Podem ser: planos comuns, não-planos comuns e em aço especial. (morandi, 1997. p. 32-33).
Companhia Siderúrgica Nacional, primeira siderúrgica de grande porte no Brasil. Volta Redonda, Rio de Janeiro. Acervo CSN.
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Operários e engenheiros na construção da Estrada de Ferro Vitória a Minas. Acervo Museu Vale do Rio Doce.
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A INDUSTRIALIZAÇÃO NO ESPÍRITO SANTO: A PRESENÇA DA CST Deus quer, o homem sonha, a obra nasce. (Fernando Pessoa)
DE “VILÃO FARTO” A NENHUMA FARTURA A caravela de Coutinho volta à Prainha, junto com os supergraneleiros de Tubarão. (Renato Pacheco)
O processo de colonização portuguesa no Espírito Santo iniciou-se em 1534, com a doação de 50 léguas de terras por D. João III a Vasco Fernandes Coutinho, que aqui chegou em 23/05/1535, em sua caravela “Glória”, com cerca de 60 aventureiros. Os nativos capixabas resistiram, bravamente, à invasão de suas terras e só dezesseis anos depois, em 1551, Vasco Coutinho pôde dar o nome de Vila de N. Srª da Vitória à capital escolhida para sua capitania do Espírito Santo, bem como a ela referir-se como “meu Vilão Farto”. No entanto, somente em 1558, sua capitania foi considerada “pacificada”, após o massacre de milhares de nativos, no que se chamou “Batalha do Cricaré”, no norte do Estado. Com a descoberta de ouro nas Minas Gerais, no século xvii, o Espírito Santo tornou-se, por decreto real, uma barreira natural, e Vitória, uma fortaleza, para proteger a riqueza mineral descoberta a oeste. O engrandecimento das “Minas Gerais” e o controle da saída do ouro pelo Rio de Janeiro tiveram como conseqüência o esvaziamento do Espírito Santo e a sua ruína como capitania promissora. O sonho da Terra Sem Males, da tradição Guarani, ou da Terra Prometida, da crença bíblica, permaneceu com os nativos, sobretudo os do noroeste do estado, acima do Rio Doce, que resistiram à dominação até o final do século xix e início do século xx. No século xviii, o Espírito Santo tornou-se “Capitania Real”, deixando de ser governado por particulares. Século de abandono, de tragédias, de rebeliões indígenas e de exploração de trabalho escravo, da expulsão dos jesuítas, da Inquisição. Na tentativa de colonização do interior capixaba, foi decretada uma guerra generalizada aos “botocudos”, como eram chamados os habitantes das regiões inexploradas da 17
divisa entre o Espírito Santo e Minas Gerais, cujos últimos remanescentes foram dizimados com a construção das estradas-de-ferro Vitória a Minas (1902-1904), e Minas-Bahia (medeiros, 1978, p. 12-20). A penúria do Estado do Espírito Santo prolongou-se até a metade do século xix, quando a expansão da cultura do café promoveu alguma prosperidade e alterações na estrutura econômica e social. Na segunda metade do século xix, o vale do rio Itapemirim converteu-se em importante pólo econômico, financeiro e demográfico do Espírito Santo, concentrando metade da população capixaba e grande número de escravos. O primeiro censo brasileiro realizado, o de 1872, apresentava o Espírito Santo com uma população de 82.137 habitantes, dos quais um terço eram escravos (oliveira, 1975). Com o término da escravidão, iniciou-se a grande imigração predominantemente européia, sobretudo de italianos e alemães, mas também de libaneses, pomeranos, poloneses, austríacos, que vieram ocupar o trabalho dos escravos nas lavouras e a terra dos nativos expulsos e/ou massacrados (schayder, 2002). Novamente, era o sonho da Terra Prometida revivido por novos capixabas.
Transporte de café no rio Santa Maria. Acervo da Biblioteca Municipal de Vitória.
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DOS APITOS DOS ÍNDIOS AO OURO VERDE E AOS APITOS DOS TRENS Até aqui cheguei, o porto final tarda. É preciso limpar a trilha, capinar, e de novo parar, sempre que à nona estação chegar. (Renato Pacheco)
A economia capixaba baseou-se, por mais de um século (1850-1960), na produção de café. O Espírito Santo foi, por muitos anos, o terceiro exportador de café, após São Paulo e Minas Gerais, sendo, atualmente, o segundo produtor nacional. Ao final da década de cinqüenta, houve o esgotamento do sistema agro-exportador com base no café. A erradicação dos cafezais, de 1964 a 1968, reduziu em cerca de 70% a área plantada, num total de 300 milhões de pés erradicados, e provocou um impacto social de 60.000 desempregados rurais, equivalendo a 200 mil pessoas que saíram do campo para a cidade, das quais 120 dirigiram-se para a região da capital e 80 deixaram o estado (morandi; rocha, 1989). No início do século xx, no governo de Jerônimo Monteiro (1908-1912), além da atividade cafeeira, iniciou-se, no Vale do Itapemirim, o processo de industrialização capixaba, com fábrica de tecidos, de cimento, de papel, de óleo vegetal, de açúcar e serraria industrial. Foi construída uma usina hidrelétrica e criada a “Companhia Industrial do Espírito Santo”. No entanto, tais iniciativas endividaram o Estado, comprometendo a receita adquirida com o café. Dessa época, surgiu a idéia de se instalar uma usina siderúrgica no Espírito Santo, à beira-mar, visando à exportação. Em 1928, o prof. Fernando Laboriau sustentava a idéia de se localizarem as usinas siderúrgicas à beira-mar (altoé, 1989). O engenheiro Henrique de Novaes, em 1937, fez uma conferência perante o conselho Diretor do Clube de Engenharia do Rio de Janeiro, em que destacou o vale do Rio Doce e o porto no litoral espírito-santense como pontos básicos para a solução do importante assunto da exportação de minério-de-ferro e da sua industrialização. Segundo ele, para se atingir a meta de transportar grandes toneladas de ferro com tarifas baixas, dever-se-ia utilizar a estrada-de-ferro Vitória a Minas, devido ao perfil suave de seu traçado, e construir-se um porto em Santa Cruz, ES, local onde também as novas siderúrgicas deveriam ser implantadas (novaes, 1937, p. 5-40). A estrada-de-ferro Vitória a Minas foi encampada pela Companhia Vale do Rio Doce, criada em 1942, e os portos da baía de Vitória foram ampliados, especializando-se na exportação de minério-de-ferro. Em 1952, a cvrd conseguiu modernizar as operações do complexo mina-ferrovia-porto e atingir a meta de 1,5 milhão de toneladas de ferro exportadas. Na gestão de Jones dos Santos Neves (1951-1954), elaborou-se o “Plano de Valorização Econômica do Estado”, que resultou na reconstrução do porto de Vitória, na construção de hidrelétricas, na ampliação e no asfaltamento da malha rodoviária, na construção da ponte de Linhares, de residências populares e da primeira Universidade do Espírito Santo, a futura ufes. Nas terras onde, antes, os nativos ecoavam seus apitos, tentando, à sua maneira, imitar os sons dos pássaros, restaram os apitos dos trens, anunciando a chegada do minério-de-ferro e do ‘progresso’, mas também trazendo a poluição e provocando o desmatamento indiscriminado. 19
Construção do Porto de Tubarão. Década de 60. Acervo Companhia Vale do Rio Doce.
INDUSTRIALIZAÇÃO AINDA QUE TARDIA Virei ferro, e virei vento, e virei chuva, pelos caminhos de sombra levito sobre pauis. (Renato Pacheco)
A primeira siderúrgica capixaba foi a Companhia Ferro e Aço de Vitória (Cofavi), operando desde 1945, construída com um Alto-forno a carvão vegetal, com capacidade para 40 toneladas diárias. Em 1959, iniciou-se a execução de seu plano de expansão, conjugado com o plano de expansão da Usiminas. Seu excedente de blooms7 era destinado à Cofavi, que transformava essa matéria-prima em perfis8, cantoneiras9 ou em outros materiais. A Cofavi teve um aumento de sua produção de perfis com esse excedente proveniente da Usiminas (veloso, 1962). Na década de cinqüenta, o grau de industrialização da economia capixaba era extremamente baixo, registrando-se o predomínio amplo de pequenos empreendimentos transformadores de matérias-primas provenientes do setor primário (beneficiamento de cereais, madeira, mobiliários, bebidas, minerais nãometálicos). Os dados sócio-econômicos capixabas mais representativos, em 1950, eram: PIB: agricultura: 50,3%; indústria: 7,1%; serviços: 42,6%. População: 957.238 habitantes, sendo 79% localizados na zona rural (Espírito Santo, 1978, p. 28). No governo Juscelino Kubitschek (1956-1960) houve um salto no processo de industrialização no Brasil. O seu Plano de Metas previa a expansão da capacidade siderúrgica brasileira. O Espírito Santo já contava com a Cofavi desde 1945. Em 1962, estudos para a sua ampliação apontaram para a construção de uma nova usina a ser localizada na Ponta de Tubarão, localização privilegiada para uma siderúrgica, desde os estudos realizados pela Comissão Nacional de Siderurgia, na década de quarenta (veloso, 1962). A construção do Porto de Tubarão pela cvrd, de 1963 a 1966, e a duplicação da ferrovia Vitória a Minas (1971-1977), permitiram o aumento da exportação de minériode-ferro para 100 milhões de toneladas por ano. Eliezer Batista, ex-presidente da cvrd, disse que o salto colossal de produção e exportação da cvrd, de 1,5 milhão t/a para atingir uma meta de mais de 100 milhões, se deveu ao acordo entre a cvrd e as usinas de aço japonesas, o que provocou a transformação de uma distância física em distância econômica. Isso só foi possível com a construção do Porto de Tubarão, visto que o porto de Vitória (Péla-macaco), devido ao assoreamento, com o tempo, só permitia a entrada de navios de pequeno ou médio porte (batista, 13 fev. 2004). 20
7 Blooms: Bloco – tarugo quadrado laminado a quente, com seção geralmente superior a 6”x6”. (taylor, James L., 1963, p. 27.). 8 Perfis: Peças de metal laminadas, cuja seção reta tem forma de L,T, I, U ou Z. (dicionário aurélio básico da lingua portuguesa, 1994, p. 1068). 9 Cantoneiras: Peça ou perfil metálico em forma de L. (dicionário aurélio básico da lingua portuguesa, 1994, p.272).
Estrada de Ferro Vitória a Minas duplicada. Década de 70. Acervo Museu Vale do Rio Doce.
Eliezer Batista, em reportagem que comemora os seus 80 anos e o chama de “um idealista com pés no chão”, considera o Porto de Tubarão o marco de uma nova fase nas relações externas do Brasil. Segundo ele, Tubarão não só garantiu o crescimento futuro da Vale do Rio Doce, construindo uma ponte entre a mineradora e o resto do mundo, como permitiu aumentar significativamente as exportações brasileiras. [...] O porto ficou pronto em 1966 e produziu uma grande confiança do Japão em relação ao Brasil. A conseqüência foi uma enxurrada de investimentos japoneses, no país, nas décadas seguintes, incluindo a construção da Companhia Siderúrgica de Tubarão (cst), a instalação de usinas de pelotização e de várias companhias de mineração (Valor Econômico, 2004).
Durante o regime militar (1964-1985), o Brasil elevou-se à condição de oitava economia mundial, mas com alto custo social e uma das mais injustas concentrações de renda do mundo. No Espírito Santo, a política de erradicação dos cafezais, nos anos sessenta, provocou um elevado êxodo rural, o esvaziamento do campo e o inchaço das periferias urbanas, com o aumento da miséria e da violência. Era, novamente, a perda do sonho na Terra Prometida, que trouxe tantos imigrantes para o Estado e, hoje, leva seus descendentes a procurá-lo no caminho inverso. Em 1965, o Espírito Santo registrava um dos mais baixos graus de industrialização estadual no país, 6,7%, e a participação capixaba na indústria nacional era irrelevante. Problemas de infra-estrutura como os de energia elétrica e de transportes eram as principais causas dessa baixa representatividade (Espírito Santo, 1978, p. 28). A cst era, ainda, um sonho distante, apenas uma longínqua “estrela prometida” como a sugerida no hino capixaba, vislumbrada no II Plano Siderúrgico Nacional , em 1968. Nos governos de Christiano Dias Lopes Filho (1967-1971) e de Arthur Carlos Gerhardt Santos (1971-1974), iniciou-se o processo de recuperação da economia capixaba, com a criação de incentivos fiscais locais como o Decreto-lei 880/1968, que constituía o Grupo Executivo para Recuperação Econômica do Estado do Espírito Santo – Geres – e o Fundo de Recuperação Econômica do Espírito Santo – Funres – e, posteriormente, pela Lei 2508/70, o Fundo de Desenvolvimento de Atividades Portuárias-Fundap. A criação do Centro Industrial de Vitória (Civit), em dezembro de 1970, localizado no município de Serra, no Planalto de Carapina, destinou uma 21
Cais do Atalaia (Péla-macaco), Baía de Vitória. Página ao lado: Construção do Cais de Capuaba. Baía de Vitória, década de 70. Acervo Instituto de Pesquisa do Espírito Santo.
área de 7 milhões de m2, para abrigar instalações industriais e empresas de serviço capixabas. Tais medidas tiveram como objetivo impulsionar a indústria capixaba (Espírito Santo, 1978, p. 28). A principal voz discordante era a do naturalista capixaba Augusto Ruschi que afirmava: Está ocorrendo um grande erro em Vitória implantar o Distrito Industrial na região de Carapina, justamente o local menos poluído da Capital, pois os ventos que atingem Vitória e Vila Velha, levando a poluição de Tubarão, raramente chegam a Carapina [...] O governo vai justamente construir lá um Distrito Industrial para enchê-lo de fábricas e poluir o lugar mais aprazível da Capital (ruschi, p. 20-4, 1972).
No entanto, desde os governos de Carlos Fernando Monteiro Lindenberg (194750 e 1951) e de Jones dos Santos Neves (1951-1954), o Espírito Santo já recebia importantes investimentos federais como a conclusão do cais de exportação de minérios e a reconstrução da estrada-de-ferro Vitória a Minas, pela cvrd; a estrada rodoviária Vitória-Rio de Janeiro, em 1947, e a ponte sobre o Rio Doce, em Linhares, inaugurada em 1954. Arthur Carlos Gerhardt Santos lembra, em seu depoimento, que foi um dos jovens conselheiros -“tinha do arcebispo ao Marechal”- no Conselho de Desenvolvimento do Espírito Santo implantado por Carlos Lindenberg (gerhardt, 04 fev. 2004). A Petrobrás, criada em 1953, e a Aracruz Celulose, fundada em 1972, passaram a atuar, significativamente, no Espírito Santo, em suas áreas de produção. A expansão do Sistema Portuário, que envolveu a expansão do Porto de Tubarão, liderado pela cvrd, a construção do cais de Capuaba, em Vila Velha, a construção do porto de Praia Mole, para a cst, do porto de Portocel, da Aracruz Celulose, e do porto da Samarco em Ubu, tornaram o Espírito Santo um dos principais complexos portuários do país (bittencourt, 1987). Desde 1962, Veloso já afirmava: “... A grande vantagem de uma indústria siderúrgica localizada na região de Vitória é, de um lado, o fácil acesso ao mar para o recebimento de carvão e embarque dos produtos acabados e, de outro, o escoamento natural para o minério que o vale do Rio Doce proporciona, permitindo a construção de uma estradade-ferro em condições excepcionais para o tráfego pesado” (veloso, 1962, p. 885). 22
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GRANDES PROJETOS: SONHOS E PESADELOS. A CRIAÇÃO DA CST. É lá no hemisfério norte que mexem os pauzinhos. Os navios no porto, as águas no mar, o prédio em obras, o Convento no morro até o Convento todos aguardam ordem para se mexerem. (Renato Pacheco)
O jornalista José Carlos Monjardim Cavalcanti, em 1968, saudava a realização de uma grande siderúrgica no Espírito Santo com a seguinte nota publicada na coluna Negócios & Investimentos” da Revista Capixaba: Os capixabas receberam com viva euforia a notícia de que o Plano Siderúrgico Nacional escalonou para Vitória, nas imediações da Ponta do Tubarão, a implantação de uma usina de semi-acabados de aço, reunindo no seu comando, a cvrd e o bnde. A nova unidade, que vem dar ênfase à tese histórica da implantação de uma usina de aço, fato que se espera há trinta anos nos mais adiantados círculos siderúrgicos nacionais e internacionais, terá capacidade para produzir 1,5 milhão de toneladas anuais, poderá abrir oportunidades para 8 mil novos empregos e exigirá investimentos da ordem de 200 milhões de dólares. Portanto, a importância deste investimento é capital para o nosso esquecido e preterido Espírito Santo, que estranhou e se colocou de pé contra o ‘protesto’ que a Assembléia Legislativa de Minas Gerais encaminhou ao Presidente e ao Ministro Macedo Soares. Não se justifica, em hipótese alguma, o atendimento das pretensões de Minas Gerais, que chega a afirmar, com falsa brasilidade, que o governo federal estaria, ao determinar a instalação da usina de semi-acabados em Ponta do Tubarão, contra a tese da ‘interiorização do desenvolvimento’, que é válida sob alguns aspectos, mas completamente dispensável, no que concerne ao aço, pois em Tubarão o Brasil poderá produzir o aço mais barato do mundo. (Revista Capixaba, p. 14, 1968).
Na época, ainda se pensava na ampliação da Cofavi, visto que sua área, em Jardim América, era pequena. Ela, então, comprou, em associação com a cvrd, uma área de 14 milhões de m2, na ponta de Tubarão, terreno ideal para se fazer uma grande siderúrgica. Esta, de acordo com estudo de viabilidade de técnicos norte-americanos, teria uma capacidade de 500 mil t/a. O Presidente do bnde, da época, não aprovou o projeto, pois queria uma usina maior, de 2 milhões t/a. A Cofavi refez o projeto, mas o Banco avaliou que não dispunha do dinheiro para financiar um projeto de tal porte, segundo Edward Merlo, engenheiro civil que trabalhou na implantação da Cofavi e da cst. Ele afirma que: A Cofavi desenvolveu um estudo de viabilidade para instalar, em Tubarão, uma usina siderúrgica. [...]. Só que este estudo previa a instalação de uma usina de 500 mil t/a. Levamos este estudo ao presidente do bnde, que era o Jaime Magrassi de Sá, e ele disse: “Não vou dar apoio porque a usina é pequena demais; eu queria uma usina grande”. O presidente da Cofavi, que era o Gen. Ésio de Melo Aurim, imediatamente desenvolveu um estudo para 2 milhões t/a. Voltamos ao bnde e o banco disse que não tinha dinheiro. [...] Quando se criou a Siderbrás, o gen. Ésio associou-se a uma empresa do Japão, a “Kobe Steel”, e se fez um estudo de 2 milhões t/a, aqui para este terreno, a Ponta do Tubarão. [...] Mas, aí, foi a Siderbrás que não quis. A Siderbrás disse: “Quem vai fazer a usina somos nós” (merlo, 25 mar. 2004)
A partir da década de setenta, intensificaram-se os esforços para atrair grandes capitais nacionais e estrangeiros, como forma de aproveitamento da localização do Espírito Santo e das condições geradas com as leis de incentivos fiscais, para o que se convencionou chamar de “Grandes Projetos Industriais”. Estes tinham como base 24
o desenvolvimento industrial do Espírito Santo, com a industrialização de minerais em trânsito pelo sistema portuário estadual. Aí se incluía a cst, a ampliação da cvrd e a Samarco, uma usina de pelotas de ferro, em Ubu. A cst foi criada no bojo dos “Grandes Projetos Industriais para o Espírito Santo”. Três agentes distintos intervieram para a realização da cst: a) o capital externo, representado pela Kawasaki Steel Corporation, do Japão, e pela Finsider, estatal italiana; b) o governo federal, acionista majoritário representado pela Siderbrás; c) os agentes locais, através do governo estadual, com suas leis de incentivo e, sobretudo, vontade política. Uma série de fatores favoreceu a implantação da cst no Espírito Santo, dentre os quais: a crise do setor cafeeiro; vantagens locacionais, como a presença da cvrd, a estrada-de-ferro Vitória a Minas e o Porto de Tubarão; demanda mundial aquecida de produtos siderúrgicos; interesse particular dos investidores estrangeiros e a disposição do governo federal na ampliação da siderurgia nacional (morandi, 1997). A profecia do jornalista Monjardim Cavalcanti seria cumprida, mas, a duras penas, e se confirmaria o verso de Fernando Pessoa, da epígrafe, pois, quando “Deus quer, o homem sonha, a obra nasce”. Estava preparado o terreno em terras capixabas, que, em sua origem tupi, significa, “roçado, preparação da terra para o plantio”, para a implantação da primeira siderúrgica de grande porte, no Espírito Santo, voltada para a exportação, a cst. Era o mito clássico de Vulcano, integrando-se à crença bíblicoliterária da Terra de Canaã e ao sonho guarani da Terra sem males, na fértil terra do Espírito Santo, sob as bênçãos de Nossa Senhora da Penha, Tupanci e Yemanjá, mães espirituais do mestiço povo capixaba. Mas, até quando?
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A CST: DA CONCEPÇÃO À IMPLANTAÇÃO (1973-1983) E assim, passados os quatro Tempos do ser que sonhou A terra será teatro Do dia claro, que no atro Da erma noite começou. (Fernando Pessoa)
O DIFÍCIL COMEÇAR Há gente que acredita e que faz. Há gente que duvida e pára. Há, sobretudo, gente que dorme e que sonha. (Renato Pacheco)
Sr. Eliezer Batista, 2004.
Eliezer Batista, Presidente da cvrd na época da Revolução de 1964, relata, em seu depoimento, que, desde 1964-1965, a cvrd começou a pensar em adicionar valor ao produto que exportava, o ferro, já que era muito criticada por só exportar matérias-primas. A idéia corrente era a de que o futuro da siderurgia seria o de estar junto às matérias-primas e à energia, que o Brasil tinha, e não junto ao mercado. Com a inauguração do Porto de Tubarão, em 1966, que, segundo ele, influenciou a navegação mundial pelo barateamento de granéis sólidos e líquidos, a cvrd começou a pensar na exportação de placas e a não se restringir, somente, à de minério. Para a realização desse projeto, passou-se à busca de parceiros na iniciativa privada, já que, na época, ele havia saído da cvrd e trabalhava no grupo Antunes. São suas palavras: Havia uma idéia geral no mundo de que o futuro da siderurgia era o de se situar não mais junto ao mercado, mas junto às matérias-primas e à energia. E o Brasil, embora não tivesse a energia que tem hoje sob a forma de gás natural, era uma grande fonte de minério-de-ferro, ou melhor, o melhor minério-de-ferro do mercado era o nosso, além de ter uma geografia conveniente para o mercado americano e o mercado europeu. [...] A outra idéia é que a siderurgia deveria ir para países detentores das matérias-primas e da energia, ou os dois, como o Brasil é hoje. Então, começamos a pensar: por que, ao invés de exportar só minério, não exportar placa? (batista, 13 fev. 2004).
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Vista aérea da Ponta de Tubarão. Primeiro plano, Porto de Tubarão. Em segundo plano, a área verde onde hoje se encontra a CST. Acervo Museu Vale do Rio Doce.
No governo dos militares, foi criado, em 1967, o Grupo Consultivo da Indústria Siderúrgica (gcis), com a finalidade de propor um programa de expansão para o setor. Este grupo, presidido por Macedo de Moraes, e com representantes da csn, Usiminas, Cosipa, bb, cvrd, elaborou, em dezembro de 1967, o I Plano Siderúrgico Nacional, criando o Conselho Nacional da Indústria Siderúrgica (Consider), que representou, na prática, a institucionalização do planejamento estatal no setor siderúrgico. O Consider era presidido pelo Ministro da Indústria e Comércio e foi implementado no II Plano Nacional de Siderurgia, em 1968 (moreira, 2000). Ainda em 1967, em trinta de março, tomou posse na presidência da Cofavi, Antônio Dias Leite, que, em seu discurso, focalizou a importância de se construir uma siderúrgica no Espírito Santo, localizada no Porto de Tubarão, área já pertencente à Cofavi. Um mês depois, no Congresso Nacional, o deputado Parente Frota defendeu a implantação da usina integrada da Cofavi, na região de Tubarão, considerando sua importância, no cenário local, para tirar o Espírito Santo da dependência econômica do café e diversificando o setor produtivo, de primário para secundário (frota, 1970, p. 17-20). Em 1971, em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo, o Ministro da Indústria e Comércio, Marcus Vinícius Pratini de Moraes, anunciou a construção de uma grande usina siderúrgica, que poderia ser instalada em Tubarão, no sul, ou no nordeste, para atender o mercado externo e exportando 1 milhão e 500 mil toneladas anuais (O Estado de São Paulo, p. 23, 08 set. 1971). Uma comissão mista do Senado presidida pelo senador capixaba Carlos Lindenberg, em 1973, autorizou a constituição da Siderúrgica Brasileira S.A. (Siderbrás), uma holding para coordenar as estatais do setor: csn, Cosipa e Usiminas eram as principais. Luiz Fernando Sarcinelli Garcia destaca, na criação da Siderbrás, a participação importante do Senador capixaba Carlos Lindenberg, que foi o relator da Lei que a instituiu, e a idéia de que “A Siderbrás vinha para viabilizar, principalmente, o projeto da Siderúrgica de Tubarão” (garcia, 16 abr. 2004). Era, ainda, a fase do “milagre econômico”, em que a política governamental para o setor siderúrgico sofreria adaptações, de modo a atender as demandas internas sempre crescentes de consumo do aço. Estudos do Consider, em 1971, projetaram 28
para 1980, uma demanda de 20 milhões de toneladas de aço, o que exigiria um aumento da capacidade produtiva das empresas existentes (csn, Cosipa, Usiminas) e a criação de novas siderúrgicas. A meta era elevar a capacidade produtiva do parque siderúrgico nacional de 5,0 Mt/a para 20,0 Mt/a de aço, em uma década (moreira, 2000). Os primeiros estudos de implantação da cst previam uma capacidade de 12 Mt/a, o dobro da produção brasileira da época, com o maior alto-forno do mundo, tirando o da Rússia, com 5 mil m3 (garcia, 16 abr. 2004). A cst foi gerada, portanto, a partir do I Plano Siderúrgico Nacional, de 19671968, que incluía a implantação de uma usina, em Vitória, voltada para o mercado externo. O governo brasileiro elaborou diversos estudos de viabilidade, destacandose o “Projeto Tubarão”, concluído em 1973. Era Governador do Espírito Santo o Dr. Arthur Carlos Gerhardt Santos e Presidente da República o Gen. Emílio Garrastazu Médici. Os parceiros internacionais do governo brasileiro foram a japonesa Kawasaki Steel Corporation e a italiana Finsider (Societá Finanziaria Siderúrgica). Ambas as parcerias foram obtidas pela intermediação da cvrd, após contatos mantidos, desde a década anterior, por Eliezer Batista. O estudo de pré-viabilidade da Usina de Tubarão foi concluído em setembro de 1973, considerando-se uma capacidade de seis milhões de toneladas/ano de aço (cst, Pré-projeto de Viabilidade, 1973). Na Câmara dos Deputados, o Deputado José Carlos Fonseca saudava o projeto Tubarão como “o grande sonho de aço do capixaba”, afirmando que a solução técnica prevaleceu sobre a política e que a história, que sempre esteve em desencontro com o Espírito Santo, poderia, enfim, reencontrar-se conosco (fonseca, 1973). A assinatura do “Protocolo Geral de Intenções” foi feita pelos acionistas, em 09 de novembro de 1973. Neste, protocolou-se, entre outras coisas, que a integralização do capital social deveria corresponder a 25% dos investimentos fixos, mais o capital de giro necessário para o primeiro estágio, representado por ações com e sem direito a voto. Das ações com direito a voto, 51% pertenceriam à Siderbrás; as outras 49% Protocolo que deu origem aos estudos da usina de Tubarão.
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seriam divididas entre as duas parceiras, Kawasaki e Finsider, em cotas iguais. O preâmbulo do Protocolo assim dizia: “Considerando a rápida expansão do mercado brasileiro de aço e a necessidade de incrementar as exportações, o Governo Brasileiro decidiu promover a construção de uma usina siderúrgica, com capacidade anual de seis milhões de toneladas de placas na área de Tubarão, no Estado do Espírito Santo. Este projeto e a usina são doravante denominados ‘projeto tubarão’ e ‘usina de tubarão’, respectivamente”. Este protocolo é a certidão de nascimento da cst (cst, Protocolo Geral de Intenções, 09 nov. 1973). Conforme o Protocolo, “As finalidades de construir-se a Usina de Tubarão são: Atender a sempre crescente demanda de aço no Brasil, contribuir na promoção das exportações e desenvolvimento econômico do Brasil, bem como assegurar um fornecimento contínuo de semi-acabados de aço para cada Associado, a preço conveniente e a longo prazo” (cst, Protocolo Geral de Intenções, Art.I, item 1.2). A decisão de produzir, inicialmente, placas de aço, um produto com reduzido grau de diferenciação, baixo valor adicionado e sujeito a oscilações de preços pouco previsíveis, favorecia as aspirações iniciais dos sócios, já que estes seriam os principais compradores do produto, mas recebeu críticas, assim como a opção pelo lingotamento convencional10 , em vez do lingotamento contínuo11 . Tais opções e as mudanças procedentes revelaram-se, no entanto, corretas, conforme estudo de Angela Morandi. Citando-a: A cst foi construída para ser uma usina de placas para as siderúrgicas de seus sócios e, a certa altura, perdeu essa função e teve que entrar no mercado internacional com um produto semielaborado (de baixo valor adicionado), sem um mercado estruturado – já que pode ser produzido por inúmeras outras siderúrgicas – e com uma capacidade de produção considerável. Por outro lado, essa mudança foi acompanhada de uma opção tecnológica – lingotamento convencional – que limita a capacidade da empresa de ofertar produtos de melhor qualidade e de maior aceitação pelos demandantes. Apesar dessa limitação, a empresa conseguiu obter bons resultados operacionais e se apoderar de fatias expressivas do mercado de placas (morandi, 1997, p. 138-9).
Em janeiro de 1974, foi assinado o Primeiro Acordo de Acionistas, definindo-se a subscrição do capital social em cr$ 20 milhões, sendo cr$ 19,4 milhões em ações ordinárias e cr$ 600 mil em preferenciais. Em novembro de 1974, no estudo de viabilidade, prevaleceram as principais características do projeto inicial. O investimento para o primeiro estágio seria de aproximadamente us$ 3 milhões e a usina teria pátios para estocagem de minério-de-ferro e de carvão, coqueria12, sinterização13, um alto-forno14, dois convertedores LD 15 e equipamentos para o lingotamento convencional. Para o segundo estágio, o investimento adicional seria menor, prevendo-se mais um alto-forno, mais um convertedor LD na aciaria, dois equipamentos de lingotamento contínuo e pequena expansão na coqueria. Conforme Angela Morandi, a produção siderúrgica se processa em quatro etapas bem demarcadas e por unidades industriais separadas, embora interligadas: A primeira prepara as principais matérias-primas – minério-de-ferro e carvão – para o uso posterior; a segunda, através do processo de redução, transforma o minério-de-ferro em ferrogusa; a terceira é a etapa do refino, que consiste na transformação do ferro-gusa em aço; e a quarta etapa cuida do acabamento dos produtos siderúrgicos, dando-lhes a conformação final para os diferentes usos (morandi, 1997, p. 35).
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10 Lingotamento convencional: O aço é despejado em lingoteiras de várias formas e tamanhos e, após o resfriamento e retirada do molde, é transportado para fornos-poços onde é reaquecido a uma temperatura uniforme, passando pelo laminadordesbastador e transformado em placas. (morandi, 1997, p.39). 11 Lingotamento contínuo: O aço líquido é despejado diretamente nos moldes e guilhotinado em tamanhos específicos [...] com a dispensa de equipamentos como fornos-poços, lingoteiras e laminador-desbastador (Id. Ibid.) 12 Coqueria: Unidade onde o carvão mineral é queimado para eliminar o gás e o alcatrão, obtendo-se o coque como principal produto. (Id. Ibid.) 13 Sinterização: Consiste na aglomeração dos finos de minério, por um processo em que duas ou mais partículas sólidas se aglutinam pelo efeito do aquecimento, obtendo-se o sínter como produto final. (Id. Ibid.) 14 Alto-forno: unidade onde o minériode-ferro, já convertido em sínter, se transforma em ferro-gusa, através da remoção do oxigênio pelo carbono contido no carvão. (Id. Ibid.) 15 Convertedor ld: Processo que consiste no carregamento de sucata, ferro-gusa líquido e fundentes para grandes convertedores inclinados, nos quais, depois de serem colocados em posição vertical, é injetado oxigênio puro por meio de lanças resfriadas a água, obtendo-se o aço líquido como produto final. (Id. Ibid.)
OS PARCEIROS: MISTURA QUE DEU SAMBA Em 1974, a cst foi constituída como empresa estatal, representada pela Siderbrás, associada à Kawasaki e à Finsider. Foi o engenheiro Eliezer Batista o principal responsável pelo convencimento dos parceiros japoneses e italianos da viabilidade da construção de uma usina siderúrgica voltada à exportação, no Espírito Santo. São suas palavras: Como nós estávamos viajando pelo mundo inteiro por causa do marketing da cia vale do rio doce (cvrd), no Japão, propus ao Fujimoto, que era o Presidente da Kawasaki, que se entusiasmou com a idéia também. — O senhor, ao invés de importar minério-de-ferro do Brasil, por que não importa aço pronto? Mandou calcular e estudar, e chegaram à conclusão de que era o melhor negócio. Descontando-se a distância, as vantagens de se economizar no frete, um produto de maior valor, a uma distância grande, daria uma diferença vantajosa. Havia um grande japonês chamado Kato que veio aqui e se entusiasmou pelo projeto. Esse Fujimoto também tinha orgulho, porque nós tínhamos tido sucesso muito grande com o porto de Tubarão. [...] Teríamos que procurar um sócio, de preferência, um europeu. Aí, fui procurar os italianos, o Capana, que era o Presidente da Finsider, em Roma, a holding financeira que controlava a Italsider, que era a indústria italiana de aço estatal (batista, 13 fev. 2004).
Eliezer Batista sabia que seriam necessários sócios-clientes que fossem do continente asiático e europeu, já que não existia um mercado regular, no mundo, para o produto a ser feito. Daí, a importância de sua atuação no convencimento dos parceiros japoneses e italianos para a implantação da cst. A Siderbrás sepultou a idéia de expansão da Cofavi e começou a desenvolver projetos e contatos externos para a construção de uma grande siderúrgica voltada para o mercado externo, na área de Tubarão pertencente à Cofavi e à cvrd. Segundo Luiz Fernando Sarcinelli Garcia, capixaba de João Neiva e que dirigia o Consider, em 1972, foi o Ministro da Indústria e Comércio, Marcus Vinícius Pratini de Moraes, o principal responsável pelo projeto da cst. Certo dia, afirma, foi chamado à sala do Ministro, que recebia a visita do Sr. Fujimoto, Presidente da Kawasaki Steel Corporation, acompanhado do Sr. Yamada, intérprete. O Brasil tinha acabado de lançar o Plano Siderúrgico Nacional, que deu origem às expansões da csn, da Usiminas e da Cosipa. Na época, o plano foi considerado extremamente arrojado, pois o Brasil produzia 5Mt/a de aço e fazia-se um projeto para chegar a 20Mt/a, em 1980. Assim relata, em seu depoimento, o encontro que teve com o Presidente da Kawasaki: Quando eu desci e fui apresentado, o Ministro disse: _ Olha, o Sr. Fujimoto está aqui. Ele tomou conhecimento do Plano Siderúrgico Brasileiro. Já disse que está à disposição dele para explicar tudo o que você sabe. Este, ao mesmo tempo, fez uma pergunta: _ Como eu posso participar desse Programa Siderúrgico Brasileiro? […] Respondi ao Sr. Fujimoto: _ Talvez nós tenhamos uma oportunidade. Estamos pensando em propor ao Governo e ao Ministro a implantação de uma unidade voltada para a exportação de semi-acabado de aço. E o Fujimoto: Eu quero participar desse projeto. […] Respondi-lhe: _ Como é que vamos fazer? _ Daqui a trinta dias – disse o Sr. Fujimoto, nós vamos mandar uma missão aqui, no Brasil, para conversar com vocês com mais detalhes. […] Quando nós estávamos nesse processo, recebemos a visita, no Brasil, também interessado no programa siderúrgico, mas com um interesse específico, do Sr. Alberto Capana, Diretor-geral da Finsider, entidade financeira que controlava a siderurgia estatal italiana. Ao tomar conhecimento, nas reuniões conosco, de como era o Programa Siderúrgico Brasileiro, quais as expansões previstas, e falamos que existiria esse projeto que a gente estava desenvolvendo com os japoneses, ele afirmou: _ Mas isso nos interessa muito, porque nós também, na Itália, vamos ter capacidade disponível de laminações e eu gostaria de participar desse projeto (garcia, 16 abr. 2004). 31
Os japoneses, que já tinham grande experiência na produção de aço, visto que a Kawasaki já o produzia desde 1906, previam uma expansão muito grande no consumo de aço no mundo, o que realmente ocorreu até 1973-1974. A Kawasaki Steel Corporation16 era o único sócio privado do investimento e tinha uma posição bastante consolidada no mercado siderúrgico internacional. O governo japonês, na época, impedia a elevação da produção siderúrgica, por questões ambientais, o mesmo ocorrendo com a Finsider17, a parceira italiana . A escolha dos parceiros japoneses e dos italianos revelou-se estratégica, visto que o primeiro detinha a mais avançada tecnologia na siderurgia mundial e o segundo permitiria uma penetração no fechado mercado comum europeu (altoé, 1989). Segundo Edward Merlo, a Italimpianti, empresa de projetos do grupo Finsider, participou como projetista da usina de Tubarão, e, no projeto original, previam-se quatro altos-fornos, duas grandes aciarias18, lingotamento 1 contínuo, tiras a frio 9, para mais de 16 milhões t/a. Se a cst tivesse sido feita como estava no projeto original, seria a maior siderúrgica do mundo. (merlo, 25 mar. 2004).
Equipe formada por brasileiros, italianos e japoneses, responsável pelo teste do alto-forno, 1983. Ao centro, à frente, diretoria da empresa. Acervo CST.
16 A Kawasaki Steel foi fundada em 1950, como unidade independente da Kawasaki Heavy Ind. Sua primeira usina iniciou-se em 1951, em Chiba, e seu primeiro Alto-forno foi inaugurado em 1953. Em 1961, a Kawasaki implantou a usina de Mizushima, que começou a produzir em 1967. Sua capacidade de produção era de 12 milhões de toneladas/ano, incluindose entre as maiores do mundo. (morandi, 1997, p.153) 17 O grupo Finsider foi fundado em 1937 e tinha a participação majoritária da empresa estatal italiana iri (Istituto di Ricostruzione Industriale). Seu setor siderúrgico empregava cerca de 85.000 pessoas, enquanto as demais atividades contavam com aproximadamente 110.000 trabalhadores. Na época da parceria com a cst, a Finsider ocupava o 6º lugar entre os maiores produtores mundiais de aço. (altoé, 1989). 18 Aciaria: Unidade siderúrgica onde ocorre a oxidação de impurezas contidas no ferro-gusa. É classificada conforme o processo tecnológico (equipamentos) e as matérias-primas. As mais modernas são a elétrica e a de convertedores. (morandi, 1997, p.37-38). 19 Tiras a frio: Chapas longas de aço, enroladas em forma de bobinas, produzidas em laminadores que operam a temperatura ambiente, utilizadas principalmente na lataria de automóveis, utilidades domésticas e construção civil.
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A IMPLANTAÇÃO: MUITA LAMA, MUITO HOMEM E TRÊS MULHERES A primeira fase da implantação da cst começou com a assinatura do Protocolo de Intenções dos Sócios, passando pelo Primeiro Acordo de Acionistas em que se definiu a composição do Conselho de Administração, da Diretoria e do Conselho Fiscal, bem como suas respectivas atribuições. Em 1975, houve uma definição na composição das Diretorias em que o Presidente, o Diretor Financeiro e o Comercial seriam indicados pela Siderbrás; o Diretor Técnico e de Produção pela Kawasaki, e o de Controle, pela Finsider. A preocupação central foi fixar normas de funcionamento que permitissem a garantia de cumprimento dos compromissos assumidos pelos sócios (cst, Relatório Anual da Administração, 1983). Em solenidade no Palácio Anchieta, no dia 13/03/1974, com a presença de Arthur Carlos Gerhardt Santos, Governador do Espírito Santo, Marcus Vinícius Pratini de Moraes, Ministro da Indústria e do Comércio, Alfredo Américo da Silva, Presidente da Siderbrás, além de representantes italianos e japoneses, ocorreu a constituição jurídica da cst. Na ocasião, o engenheiro e general Ary Martins foi nomeado DiretorPresidente da cst, cargo em que permaneceu até 1977. Os outros membros da Diretoria foram: Luiz João Gago Pereira, Diretor Administrativo; Ryoichi Taniguchi, Diretor Técnico e Claudio Marcello Rossi, Diretor de Controle e Projeto (Diário Oficial da União, p. 22-31, 27 abr. 1974). Nessa assembléia, o Presidente da Siderbrás proferiu as seguintes palavras: Muito mais do que constituir uma empresa para produzir aço, estamos iniciando, hoje, aqui, nova e importante etapa do desenvolvimento brasileiro. A Companhia Siderúrgica de Tubarão, que vai surgir dessa assembléia, é o primeiro fruto de um tratamento não convencional aos problemas de produção de aço de um país que cresce industrialmente, em ritmo vertiginoso, gerando realidades novas. [...] A usina que se vai erguer, em Carapina, distingue-se de suas congêneres em, pelo menos, três pontos básicos: dimensionamento, composição acionária e finalidade (d.o.u., 1974).
Na mesma época, houve o primeiro choque de petróleo, com uma elevação brusca no preço dos combustíveis e reflexos imediatos na indústria siderúrgica. Apesar disso, prosseguiu a idéia da implantação da cst, mesmo enfrentando-se muitos percalços advindos da crise econômica mundial e a resistência interna à implantação de uma siderúrgica no litoral capixaba. Vânia Maria Silva de Miranda, empregada da cst, desde 1977, recorda aqueles dias: Nós tivemos uma série de problemas políticos, sai-não-sai, as notícias nos jornais; havia uma forte influência política para ir para Minas, nunca para o Espírito Santo; [...] E a cst tinha as suas localizações muito privilegiadas; nós temos o mar aqui, o terreno, mas teve muita luta política (miranda, 07 jan. 2004).
O Gen. Ary Martins, Presidente da cst, esteve no Senado, em abril de 1975, onde, diante da Comissão de Minas e Energia, discorreu sobre as atividades da Siderbrás, e defendeu, com ardor, o projeto Tubarão, com estas palavras: 33
Acordo Geral sobre o projeto de Tubarão. Base para a oficialização da empresa em 1976. Acervo CST.
O primeiro e até agora único dos projetos internacionais de grande porte a se viabilizar, o que lhe confere, por isso, importância especial no mundo siderúrgico, Tubarão exprime o grau de confiança que existe no exterior em relação ao Brasil. [...] Um dos pontos mais importantes, que definiram a viabilidade do projeto Tubarão, foi, precisamente, o custo dos transportes de semi-acabados da usina até o porto. [...] Outro aspecto é que a usina de Tubarão constituirá uma verdadeira fábrica de divisas para o Brasil (martins, 1975).
Ocorreu uma mudança do Termo de Compromisso dos Acionistas, em 09/02/1975, visto que o acordo firmado em 1973 não seria mais viável devido à crise do petróleo e à queda da demanda de aço no mundo. Pressões internas do empresariado nacional exigiram maior participação na construção e no fornecimento de materiais para a cst. Em 26/02/1975, fez-se a assinatura de um novo Termo de Compromisso, introduzindo alterações relevantes no protocolo inicial. Extinguiu-se o Conselho de Administração, que foi substituído por um Conselho Consultivo. Este atenderia ao interesse dos acionistas quanto à eliminação da possibilidade de decisões intempestivas em relação a assuntos vitais para o empreendimento. Este Termo de Compromisso estabeleceu, ainda, a participação nacional no fornecimento de equipamentos, materiais e serviços (cst, Relatório Anual da Administração, 1983). Foi assinado um novo acordo que se chamou “Acordo Geral do Projeto Tubarão” em 24/05/1975, que tratou de forma abrangente de todos os aspectos da questão, ratificando compromissos anteriores e alterando algumas regras de atuação. O novo acordo consistia na diretriz de promover a reestruturação da Companhia, abrangendo, inclusive, o aumento de capital requerido, para implantar o primeiro estágio da usina. Ele previa, também, que cada sócio era obrigado a consumir 80% de sua quota de placas produzidas, podendo abrir mão de 20%, que seriam comercializadas no mercado. Diante da crise internacional, chegou-se a pensar na modificação da configuração da capacidade produtiva da cst, reduzindo de 3 milhões t/a para 1,5 milhão (cst, Estudo de Viabilidade Fase II, 1988). No entanto, as dificuldades para a execução do projeto cst persistiam. Somente em 11/06/1976, dois anos e meio após a primeira assinatura do Termo de Compromisso, houve a criação oficial da cst, com a assinatura dos atos legais de implantação da empresa, pelo Presidente da República, Ernesto Geisel. O Escritório Central da empresa foi instalado no Centro de Vitória, no ed. Março, e dirigiam a cst, na época, além do Presidente, Ary Martins: Benedito Ribeiro da Costa, Superintendentegeral; Almério Vieira Gama, Superintendente de Compras; Sedaíldo Gomes, Superintendente de Controle e Paulo Cruz, Gerente Administrativo. Em 18/08/1976, foi contratado o primeiro empregado da cst, Daniel Alvino, como mensageiro, ainda trabalhando na cst, como Analista financeiro (cst, Revista 20 Anos, 2003). A implantação da cst recebia críticas diversas. Os vizinhos do Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e, também, os paulistas reivindicavam para si o projeto. A Associação Brasileira da Indústria de Base (abdib) não aceitava a fatia de 33% que lhe foi oferecida no total de fornecimentos à cst. Internamente, os ambientalistas queixavam sobre o alto índice de poluição a ser provocado pela ampliação/ implantação das grandes empresas como a Cofavi, a Aracruz e a cst. Dizia-se que a usina produziria uma nuvem tóxica e que nada nasceria em um raio de 250 km (Revista Agora, Vitória, n. 77, p. 36-37). 34
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Vista aérea da área destinada à construção da Usina de Tubarão, 1978. Acervo CST.
No primeiro semestre de 1977, houve o desmatamento da área, cerca de 7,1 milhões de m2, para a construção da usina. Foram realizados os estudos geotécnicos, as sondagens do terreno, os levantamentos topográficos, com curvas de nível a cada metro e os diversos testes de carga. Vânia Maria Silva de Miranda, Secretária, foi uma das pioneiras no período da implantação da cst, e se recorda daquele tempo: A cst era um mato, uma imensa floresta, não tinha absolutamente nada. Já no início de 1978, demos início à terraplenagem, começamos a retirar aquela floresta, tudo que existia e nada deixou. Era muito importante aquilo que havíamos encontrado, o meio ambiente. [...] Ainda existe uma área verde muito grande, uma lagoa que nós temos. Lá tinha capivara, jacaré, veadinho. [...] As condições no início da terraplenagem eram precárias, condições normais de obras: lama, muito homem e três mulheres. Dentre essas mulheres, lá estava eu, com os japoneses e os italianos, participando diretamente do projeto (miranda, 07 jan. 2004).
O Ministro da Indústria e do Comércio, Ângelo Calmon de Sá admitiu, em Brasília, no dia 29/06/1977, o atraso no início da implantação da usina de Tubarão, devido à não liberação de recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (bnde), o mesmo motivo apresentado pelo general Ary Martins em seu pedido de demissão. Os políticos capixabas, liderados pelo deputado Clério Falcão, do mdb, se uniram para defender os interesses do Espírito Santo, na construção da cst (A Tribuna, 29 jun. 1997). O Presidente Geisel, em 01/07/1977, manifestou ao senador João Calmon sua disposição de apoiar a cst. Ao mesmo tempo, o Ministro do Planejamento, Reis Vellozo, dizia aos empresários que nada estava decidido a respeito de Tubarão, e que a expansão da csn, Cosipa e Usiminas era prioridade bem maior que a implantação de Tubarão (Gazeta Mercantil, 04 jul. 1977). O Gen. Alfredo Américo da Silva, Presidente da Siderbrás, afirmou, em 07/07/1977, desconhecer qualquer estudo para adiar a execução do projeto da Siderúrgica de Tubarão, dizendo que “Tudo 36
está no papel, faltando apenas marcar o dia D para dar a largada”. Admitiu, no entanto, que o projeto só iniciaria quando os outros dois parceiros apresentassem seus recursos financeiros (Jornal do Brasil, 07 jul. 1977). A discussão sobre a implantação da cst continuou, diariamente, no mês de julho de 1977. Em 16/07/1977, a Siderbrás nomeou Ary Marchesini, da csn, para a presidência da cst, em substituição ao Gen. Ary Martins, demissionário. A saída do Presidente gerou uma crise interna, a partir das divergências verificadas entre o Presidente e o Superintendente-geral, Benedito Costa, que se demitiu, para trabalhar na Cosipa. A alegação foi o desgaste com a indefinição do governo e o atraso no início das obras. Em 27/07/1977, circulou a informação de que o engenheiro Ary Marchesini voltara atrás, não aceitando mais a presidência da cst. Surgiu daí a possibilidade de o engenheiro capixaba Arthur Carlos Gerhardt Santos ser convidado para o cargo, o que se confirmou: “Eu saí do governo e fui ser Diretor da Aracruz [...]. Um dia, cheguei no escritório da Aracruz, lá no Rio, e tinha um bilhete, que até mandei, depois, plastificar, um bilhete do Galvêas pra mim, dizendo assim: - Arthur, conversei com Marcos Viana, ontem. Se você não assumir a siderúrgica, ela não sai. Ernane.” De acordo com o depoimento de Arthur Carlos Gerhardt Santos, sua primeira tarefa foi a de selar acordo entre os parceiros, que já se tinha estruturado, mas “Estava uma discussão ferrenha [...sobre] o que cada um iria participar, como contribuição de equipamentos e de capital dentro do projeto. Aí, foi uma maratona que demorou mais de seis meses.” (santos, 04 fev. 2004). Em março de 1978, a Siderbrás, a Kawasaki e a Finsider firmaram o documento “Memorandum of Agreement”, um novo Termo de Acordo, que estabelecia para o período inicial da usina a absorção pela Siderbrás, de parte das cotas dos sócios estrangeiros, além de definir o cronograma físico da construção da usina. O governo Élcio Álvares (1974-1978), com o seu Plano Qüinqüenal de Desenvolvimento do 37
Espírito Santo, integrado ao II Plano de Desenvolvimento Nacional, destinou cr$ 14 bilhões ao complexo siderúrgico de Tubarão. O sistema portuário capixaba recebeu 6 bilhões de cruzeiros, sendo 1/5 para o porto de Tubarão (Comércio e Mercado, ano IX, n. 94, p. 18-22, jun. 1975). Em maio de 1978, iniciaram-se as obras de terraplenagem da cst, promovendo-se movimentação de terra equivalente a 12,8 milhões m3, concluída um ano depois. Deve-se destacar a cooperação existente entre os três sócios, que formavam um triunvirato, para comandar o negócio. Brasileiros, japoneses e italianos estavam juntos em todos os setores. Essa mistura de culturas diferentes criou um perfil administrativo e de ambiente empresarial singular na cst. A influência japonesa se refletiu não só na disciplina a regras e horários, mas também na culinária e nos esportes. Os italianos se integraram logo devido à grande influência da imigração já existente no Espírito Santo. Mesmo entre os brasileiros, havia um ‘folclore’ quanto aos mineiros, geralmente vindos da Usiminas, que ocupavam vários cargos de chefia, e que defendiam os conterrâneos, formando ‘panelinhas’, o que era motivo de rixas brandas e de humor entre os empregados.” Luiz Antônio R. do Valle e João Chiabi Duarte, funcionários da cst desde 1981 e 1983, respectivamente, disseram, em seus depoimentos: “Tinha um choque cultural, pois o japonês era todo metódico e o italiano era emoção e explosão pura. [...] A gente tinha que costurar dos dois lados e pôr o interesse técnico na frente deles” (valle; duarte, 23 jan. 2004). O Presidente da República, Ernesto Geisel, veio a Vitória, em 31/10/1978, por ocasião do início das obras civis da cst, e proferiu as seguintes palavras, pondo uma pá de cal nas críticas ao Projeto Tubarão:
Terraplenagem destinada à contrução da usina de Tubarão. Acervo CST.
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A minha vinda aqui a Tubarão significa, de certa forma, uma demonstração do interesse que o governo federal tem na realização deste projeto. Devo dizer, desde logo, que o projeto é um projeto antigo, vem da última fase do governo do Presidente Médici e que, durante meu período governamental, foi objeto de estudo, de análise, para, finalmente, chegar agora à fase de demarragem. [...] E, agora, chegou a vez de tirar proveito das condições especiais que o Estado do Espírito Santo oferece para construir uma usina aqui. É o que vamos fazer, com perseverança, com continuidade no meu governo, e no governo do João Batista de Oliveira Figueiredo. Espero que os cronogramas se cumpram, num quadro de perfeita harmonia entre o governo do Estado do Espírito Santo, a Kawasaki Steel Corporation e a Finsider. Meus votos são de pleno êxito e de renovada confiança no empreendimento que, hoje, estamos iniciando (geisel, 31 out. 1978).
Em outubro de 1979, foi concluído o processo aberto um ano antes, para registro de uma marca específica para a cst, publicado na Revista de Propriedade Industrial, n. 466, p. 167. Esta foi desenvolvida, internamente, e teve sua identidade definida por José Luiz Joffily (concepção do símbolo), Sérgio de Oliveira (projeto) e Vicente de Paulo Barros e Miríades Spadetto (arte-final). A marca da cst é representada pelo símbolo, a estilização do peixe (tubarão), compatibilizado com o processo produtivo da usina. O triângulo superior representa a pilha de matéria-prima; o triângulo inferior , o produto final (placas/lâminas); a sigla intermediária, o processo industrial, e o círculo (o olho do peixe), o caráter cíclico de usinagem, acompanhado do nome da empresa, por extenso (cst, Manual de Identidade Visual, 1978).
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A VILA OPERÁRIA: EM BUSCA DA ‘TERRA PROMETIDA’ A Vila Operária foi uma ‘cidade’ construída na área da futura cst, para abrigar os milhares de empregados das empreiteiras encarregadas da construção das obras físicas da Usina, criada a partir de 1978. De agosto de 1979 a julho de 1980, Manoel Miranda de Siqueira Neto, Técnico Superior de Administração, foi supervisor e fiscal da Vila Operária, um “prefeito biônico”, segundo ele mesmo. Além da responsabilidade de acompanhar as obras de terraplenagem, drenagem, execução de serviços de infra-estrutura básica, construção de alojamentos, teve a responsabilidade de administrar a vida social de milhares de pessoas vindas de todo o Brasil, sobretudo do interior do Espírito Santo, Minas Gerais, Bahia, Rio de Janeiro e São Paulo, a maioria na faixa etária de 18 a 25 anos, sem instrução ou com instrução primária. É o que afirma: “O contingente previsto na época era de 15 mil homens e chegou à beira dos 17.500. Na minha saída, acho que ainda tinha mais umas pessoas. [...] O homem só produz, efetivamente, se ele estiver bem tratado”. Os problemas relativos à coordenação e à administração da Vila Operária e Centro Comunitário foram sintetizados em três grandes itens: habitação, saúde, subsistência. Para integrar os empregados das quatorze empresas que utilizavam a Vila Operária, criou-se um Centro Comunitário, área de apoio comum a todas as unidades, com posto telefônico, agência de correios, agências bancárias, barbearia, vendas de passagens rodoviárias e lojas comerciais. Além disso, organizavam-se campeonatos de futebol, com premiações, shows, sessões de cinema, e um jornalzinho da Vila Operária, com fotos dos vencedores dos campeonatos. Conforme Manoel Siqueira, “havia peão que chorava com a premiação, porque eles nunca tinham sido tratados assim, nunca foram tratados adequadamente, como a gente tratou” (siqueira neto, 19 jan. 2004). O jornal A Gazeta, em 01/08/1982, fez uma matéria intitulada “Vila Operária. Uma cidade dentro da cst”, retratando o cotidiano na Vila Operária, “Uma verdadeira cidade, com comércio, serviços e áreas para lazer, esportes e um Centro Comunitário. Todo o conforto é propiciado ao operário, mas ninguém consegue evitar a solidão e a saudade do lar”. A matéria enfocava que, para se evitar maiores problemas na 40
Da esquerda para a direita: Vista aérea da Vila Operária. Comemoração pela passagem do Dia Internacional do Trabalho, 1º de Maio, na Vila Operária. Acervo CST.
vila operária, as proibições existentes limitaram-se à presença de mulheres nos alojamentos, de bebidas alcoólicas e a jogos de azar. Um operário entrevistado, na época, Moacir João Telalori, confirmava o depoimento de Manoel Siqueira: “Já trabalhei em outras obras e nunca vi uma empresa dar o que, aqui, os operários recebem”. Cerca de 20.000 operários estiveram envolvidos na construção da cst, no auge da mesma. O Brasil enfrentava, na época, escassez de mão-de-obra e esses operários eram “trecheiros”, que acompanhavam as empreiteiras nas diversas obras espalhadas pelo Brasil. A Grande Vitória sofreu um acréscimo populacional gigantesco, na década de setenta, e diversos bairros residenciais nos municípios de Serra e Vitória foram conseqüência do impacto da cst no crescimento urbano. Outra conseqüência foi o surgimento de bolsões de pobreza e miséria, fruto do êxodo rural e da vinda de milhares de pessoas como mão-de-obra desqualificada, que sonhavam trabalhar como operários na construção civil. Mais uma vez, era o sonho da Terra Prometida defrontando-se com a realidade, agora, na construção dos reinos de Vulcano. Em 1980, foram concluídas as obras de infra-estrutura da Vila Operária. De acordo com Manoel Siqueira: Houve uma preocupação muito grande, por parte da Diretoria da cst, de não repetir os problemas que surgiram em outras grandes obras no país [...]. O que se pretendia era se aprofundar mais no planejamento, para evitar os problemas decorrentes de uma situação que uma Vila Operária, com 15.000 homens soltos, pudesse trazer de malefício para a cidade. Nós estávamos inseridos na Grande Vitória e você inserir 5.000 homens, num fim-de-semana, numa cidade como Vitória, há 20 anos, já viu o problema que seria. Então, surgiu a oportunidade de criar uma equipe multidisciplinar em que havia engenheiros, ambientalistas e pessoas que tivessem conhecimentos sobre religião. Quem nos assessorou foi o padre Fontana, que nos deu bastante informação de como gerir esse contingente, porque nele existe gente de vários aspectos, de fazer um centro ecumênico, que pudesse absorver todas as religiões e isso foi feito na área da sociologia, da psicologia (siqueira neto, 19 jan. 2004).
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A CONSTRUÇÃO: ARRUMANDO A CASA A construção das obras civis da cst, iniciada em junho de 1979, envolveu o fornecimento de 97.781 desenhos, 414.551 toneladas de equipamentos e materiais, o lançamento de 707.754 m3 de concreto e a montagem de 350.006 toneladas entre estrutura metálica, equipamentos, refratários, tubulações e outros (cst, Relatório Anual de Administração, 1983). Ronaldo Domingos Sancio, empregado do Centro de Documentação e Informações Técnicas, que entrou na cst em janeiro de 1980, afirma: Não existia nada praticamente. Só existia aqui o bloco da engenharia, onde hoje está situada a escolinha e o Centro de Treinamento (na área administrativa), que foram os primeiros blocos construídos [...]. Na Usina, o primeiro foi o Canteiro 8 [...]. Aqui, ficou toda a parte de engenharia: a superintendência de engenharia da época - a superintendência de construção; a de engenharia de projeto; se eu (me) lembro bem, o superintendente era o Edward Merlo. E por aqui passaram todos os projetos de implantação da Usina; desde o que foi elaborado na Itália, pela Italimpianti; pela Kawasaki, pelos japoneses, mais os dos fornecedores nacionais, já que parte da usina foi fornecimento nacional (sancio, 07 jan. 2004).
De acordo com Edward Merlo, na construção da cst, conseguiu-se um resultado espetacular. “Construiu-se a Usina praticamente dentro do prazo e com orçamento abaixo do que estava previsto no estudo de viabilidade. Este previa us$ 3,2 bilhões e conseguiu-se fazer por us$ 2,8 bilhões.” A construção da cst, segundo ele, deu repercussão mundial, já que todas as peças colocadas eram as maiores do mundo ou a ela equivalentes (merlo, 25 mar. 2004). Em 1979, foi criada a Comissão de Estudos e Vendas de Produtos Siderúrgicos, cujo objetivo era definir as políticas e ramos de vendas dos produtos da cst, já que houvera redistribuição da aquisição de cotas da produção entre os acionistas. Desde o Termo de Compromisso, de 1975, ao invés do modelo tripartite anterior, a cota da Siderbrás elevou-se a 80% da metade, com opção de compra para os restantes 20%. Em conseqüência, foram reajustadas as cotas dos sócios estrangeiros, que passaram também para 80% da metade, com idêntica opção (cst, Relatório Anual de Administração, 1981, p. 13). 42
Da esquerda para a direita: Obras Civis da Laminação. Primeiros prédios administrativos da CST: Diretoria de Construção e Obras. Obras Civis da Sinterização. Obras Civis da Laminação. Acervo CST.
No mesmo ano, criou-se a Comissão Interna de Energia, para definir o Plano Energético da cst, em concorrência com a orientação do Governo Federal para a economia e a substituição de combustíveis e derivados do petróleo na siderurgia. A cst começou a desenvolver estudos para prevenir a contaminação ambiental proveniente de efluentes líquidos e gases. Ela estabeleceu como uma de suas metas a preservação da qualidade do meio ambiente da região no entorno da sua usina (cst, Relatório Anual de Administração, 1979). Com a abertura política do país, em 1979, houve a Lei de Anistia e o fim da censura. Em 1982, restabeleceu-se o pluripartidarismo e os sindicatos ganharam força e representatividade, lutando por maior participação nas decisões das empresas estatais. Nos Encontros Nacionais de Trabalhadores das Estatais, no início da década de 80, o slogan era: “Democratização na administração das estatais e aumento de seu controle por parte da sociedade”. O fortalecimento dos sindicatos, inclusive nas empresas estatais, refletira na greve que ocorreu, na cst, em 1988 (silva, 2001, p. 45-46). A partir de 1980, elevou-se o número de empregados da cst com o início da admissão de pessoal técnico e administrativo. Realizou-se o primeiro treinamento no exterior, dando início ao processo de absorção e de transferência de tecnologia. Criou-se a Comissão Interna do Meio Ambiente (cima), que objetivava a preservação da qualidade de vida da região periférica da usina, o que revela a grande importância dada pela cst à questão ambiental desde a sua implantação (cst, Relatório Anual de Administração, 1980). Uma das práticas costumeiras na cst foi, desde o começo, a oferta de estágios a estudantes e a capacitação dos empregados. Em 1981, alguns foram enviados para treinamento no Japão, nas áreas de Alto-forno e Centro de Processamento de Dados (cpd). De acordo com o depoimento de Péricles Manoel Machado Torres, engenheiro mecânico vindo da Acesita, em 1981: A cst estava iniciando a parte de montagem, havia concluído a parte civil da Aciaria, e, para isso, foi buscar, no mercado, profissionais com experiência, e a experiência da montagem, aqui, foi quase 43
Início da concretagem da base do Alto-forno I. Acervo CST.
uma repetição do que já havia sido feito na Acesita. As atividades foram praticamente as mesmas, com um diferencial na experiência de vida, que foi a convivência com os sócios da Italimpianti, a empresa da Itália que fazia parte do consórcio da cst. E, com esses profissionais, eu passei três anos, trabalhando diretamente com eles e foi muito bom, uma experiência muito interessante. O que me chamou muita atenção e que me trouxe um desenvolvimento profissional foi o grau de exigência desses profissionais, com relação à qualidade dos serviços (torres, 08 jan. 2004).
Ao final de 1981, o efetivo de empregados da cst elevou-se para 2.008, com direito a plano de assistência médico-odontológica, seguro de vida em grupo, alimentação e transporte subsidiados. Por outro lado, à medida que os trabalhos das obras eram concluídos, não havia emprego suficiente para a mão-de-obra dispensada de operários desqualificados, que vieram de várias partes tentar um posto de trabalho nas empreiteiras responsáveis pela construção da cst (Revista Agora, set. 1981). Deusdedith de Azevedo Dias, Assessor de Comunicação, na época, trabalhando na cst desde 1978, afirma que o ex-presidente Arthur Carlos Gerhardt Santos falava muito com o governo que precisava, no Espírito Santo, de surgir novos projetos, para absorver a mão-de-obra empregada na cst, que a base do desenvolvimento do Espírito Santo não parava com a empresa, mas “essa mão-de-obra acabou sendo disponibilizada com poucos empreendimentos sendo executados aqui, a não ser a construção civil, que disparou, cresceu muito; parte dessa mão-de-obra foi absorvida pela construção civil, outra teve que ir embora daqui, se ocupar com outras atividades” (dias, 09 mar. 2004). Em 1982, a área de rh desenvolveu uma política dinâmica de captação de mão-deobra especializada, elevando o efetivo da cst para 4.479 empregados. Investiu-se na capacitação destes, realizando-se programas de treinamento no exterior; sobretudo Japão, Itália e Rússia, onde estiveram 229 empregados. Segundo Edson M. da Silva, na fase de construção da cst, as obras civis não exigiam mão-de-obra especializada. Quando a usina entrou em operação, necessitou-se de técnicos e engenheiros e o Espírito Santo não dispunha de mão-de-obra qualificada para uma siderúrgica. Isso refletiu no ensino local, tanto na ufes quanto na Escola Técnica Federal e no Senai, com a criação de cursos técnicos (silva, 2001). “A gente tem que dar uma importância muito grande às pessoas que trabalham; as máquinas não funcionam sozinhas, as máquinas funcionam porque há gente por trás delas”, afirmou Arthur Carlos Gerhardt Santos, Presidente da cst na época. 44
Também em 1982, apresentou-se a proposta para a criação de um Departamento de Vendas para a comercialização das placas, que constituiu um Comitê Central de Vendas, responsável pela orientação de política de vendas da empresa, um ano depois. Ao final de 1983, a cst já havia assinado o primeiro contrato de fornecimento de placas (cst, Ata de Reunião dos Sócios, v. IV, cx. 15). Benjamim Baptista Filho, atual Diretor Comercial da cst, saiu da Siderbrás e foi atuar na área comercial da Empresa desde março de 1983. Segundo ele, a cst não teria, em sua concepção inicial, um departamento comercial, já que sua produção seria absorvida pelos próprios sócios. Tanto os italianos quanto os japoneses tinham a idéia de ampliar, em seus países de origem, a produção de laminados baseados na produção de placas da cst. Diante das duas crises do petróleo da década de 70, “sendo a de 1979 a pior, o consumo caiu e não havia mais a demanda de placas prevista”. Segundo ele: A cst deveria se organizar e implantar uma estrutura comercial para vender um remanescente de 2 Mt/a de placas que seriam produzidas. [...] Em 1983, o mercado internacional de placas era inferior a 3 Mt/a, que já estava ocupado por outras empresas. A cst entrou com uma oferta exatamente igual ao do mercado de placas. Eu posso dizer que foi extremamente complicado, extremamente difícil a nossa partida no mercado internacional (baptista filho, 19 mai. 2004).
Gustavo Humberto Fontana Pinto atuou, desde o início, nesse setor, e afirma: Vender placas, nesse período, era uma coisa desconhecida no mercado, pois não existia o mercado de placas no mundo; existiam, sim, empresas ajudando umas às outras, durante períodos em que, por acidentes ou reformas em equipamentos, elas precisavam complementar a sua produção. Mas, uma empresa dedicada a fornecer um semi-acabado, que era o caso da cst, era um ineditismo na época. Isso fez com que se incentivassem diversos projetos ao longo da história da cst, de empreendedores que, a partir da garantia de ter um semi-acabado, resolveram implantar projetos que, ao invés de partir da fabricação de aço, partiria da laminação do aço. Esse foi o início da história da cst e a criação do mercado de placas no mundo (pinto, 20 fev. 2004).
Em 1983, criou-se o Programa de Desenvolvimento Gerencial, cujo objetivo era manter o corpo gerencial atualizado, em níveis estratégicos, táticos e operacionais. Concluiu-se a implantação do sistema integrado de Planejamento e Orçamento Empresarial. Colocaram-se em funcionamento os refeitórios da área industrial. Ao final do ano, estava concluída a 1ª etapa da usina destinada à produção de 3.000.000 t/a de placas de aço (cst, Relatório Anual de Administração, 1983).
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A QUESTÃO AMBIENTAL: O PAPEL PRECURSOR DA CST Desde a implantação da cst, houve uma preocupação fundamental com a questão do meio ambiente. O desafio da equipe que trabalhou nos primeiros momentos neste setor era montar um sistema de gestão ambiental de modo que não causasse nenhum impacto na sociedade, como afirmou Luiz Antônio Rossi, empregado da cst desde 1982. O documento elaborado pela Assessoria de Relações Públicas da cst, em 1978, dizia, no item 3.2 – Preservação do Meio Ambiente: Tendo em vista a relevância da preservação do meio ambiente e as implicações decorrentes da implantação de uma usina nas proximidades de um centro urbano, ao projetar-se a Usina Siderúrgica de Tubarão, foram considerados detidamente todos os possíveis poluentes atmosféricos, hídricos e sonoros de cada unidade, instalando-se os mais modernos e eficientes equipamentos e processos antipoluentes em operação no setor siderúrgico mundial. E, quanto aos resíduos sólidos, deverão merecer idêntica atenção. Valendo-se da tecnologia japonesa e italiana, consolidadas a partir do funcionamento de usinas de maior porte situadas em centros de alta densidade populacional, pode-se afirmar que a Usina Siderúrgica de Tubarão em nada contribuirá para prejudicar ou mesmo alterar as condições do meio ambiente da região. (cst, Documento da Assessoria de Relações Públicas, 1978).
O que o documento afirmava era, então, uma promessa e uma resposta aos críticos ambientalistas do Projeto Tubarão, que previam uma catástrofe ecológica no Espírito Santo, com a implantação de uma siderúrgica de grande porte na área urbana da Grande Vitória. Segundo Deusdedith de Azevedo Dias: Alguns ecologistas fizeram muitos movimentos contrários e queriam que a cst não fosse implantada aqui, na região de Praia Mole, e sim, fosse levada, talvez, para a foz do Rio Doce, uma região mais longe. [...] O custo de implantação de um projeto desses, talvez, teria inviabilizado o projeto. [...] A proximidade da cidade e o barulho dos ecologistas fizeram com que a cst nascesse com uma concepção de controle ambiental jamais vista na história da siderurgia brasileira, eu diria, talvez, na história da siderurgia internacional. [...] O projeto nasceu moderno, com uma exigência maior por estar próximo ao centro urbano. Isso fez com que a cst desenvolvesse, também, uma alta tecnologia de controle ambiental (dias, 09 mar. 2004).
Os primeiros empregados da cst a enfrentarem os desafios de realizar, na prática, uma política ambiental, depararam-se, inicialmente, com a ausência de uma política ambiental nacional e de legislações específicas sobre o assunto. Sua primeira preocupação foi, portanto, a de montar um sistema de gestão ambiental, de criar os padrões de uma empresa siderúrgica moderna, baseados na experiência de parceiros japoneses e italianos, e que viria a tornar-se referência mundial. Em 24/03/81, a cst fez o primeiro ‘Termo de Acordo’ com os órgãos estaduais, estabelecendo as bases de operação e funcionamento da empresa em relação ao meio ambiente, cinco anos antes da legislação ambiental brasileira, que só entraria em vigor com o Conselho 46
Nacional de Meio Ambiente (Conama), criado em 1986. Este acordo, assinado em 24/03/1981 com a Secretaria Estadual de Saúde, regulava os procedimentos a serem observados para a instalação, a operação e a manutenção dos sistemas de controle da poluição do ar, das águas e dos solos. Para a aquisição e instalação de equipamentos antipoluentes, a cst destinou, naquele ano, 231 milhões de dólares (cst, Relatório Anual de Administração, 1981). O desafio inicial da equipe do meio ambiente da cst foi o de construir uma estação provisória de tratamento de água, para abastecer o consumo interno, concomitante à tarefa de reflorestar a área devastada com a terraplenagem. Tsutomo Morimoto trabalhou na revegetação da área e fala das dificuldades iniciais: Quando nós começamos essa revegetação, nós fazíamos covas de quase um metro com tratores [...] e plantávamos árvores, esperando que, com o tempo, elas crescessem. E o que acontecia? Como o solo era impermeável, ficava enovelado e a árvore não crescia. [...] Então, fomos em busca de outras tecnologias, ou seja, uma forma de quebrar essa resistência do solo e plantar árvores específicas para isso (morimoto, 12 fev. 2004).
O Jornal da CST, em seu número de dezembro de 1980, deu a seguinte nota, na capa: Projeto paisagístico prevê ‘cinturão verde’ na área da usina. A cst contratou o arquiteto Fernando Magalhães Chacel para elaborar um projeto paisagístico e urbanístico para a área da usina no Planalto de Carapina. O projeto está orçado em, aproximadamente, 2 milhões de cruzeiros, e deverá ter sua implantação concluída até o início de 1983, numa área de cerca de 8 milhões de metros quadrados, compreendendo os parques industrial e administrativo da Companhia. Para tornar possível a execução do projeto, a cst construirá um viveiro de mudas que produzirá milhares de mudas de espécies heterogêneas, tais como eritrinas, cássias, ipês e palmeiras. O projeto prevê, ainda, a criação de espaços relvados e jardins que, entre outras coisas, visam a melhorar o ambiente de trabalho, proporcionando mais conforto aos usuários da área (Jornal da cst, dez. 1980). Um ano depois, a edição de número 21 do mesmo jornal noticiava que o viveiro de mudas já 2
produzia numa área de 15 mil m , com capacidade para milhares de mudas feitas com espécies doadas pelo Instituto de Terras e Cartografia e que, por sugestão da presidência, seriam as plantas espalhadas pela usina e identificadas com plaquetas (Jornal da cst, dez. 1981).
O fruto do trabalho iniciado naquela época pode ser visto, hoje, nos cerca de 2 milhões de árvores plantadas, tornando realidade o ‘cinturão verde’ em torno da cst, mas a equipe de meio ambiente destaca o trabalho de educação que foi feito, interna e externamente. “O efeito era fazer a empresa ficar cercada pela vegetação”, afirma Benedito Silva Carvalho, mas o trabalho de base foi “mudar a cultura”, despertando a consciência das pessoas para a questão ambiental (carvalho, 12 fev. 2004). 47
A preocupação com a questão ambiental é prioritária, na cst, desde a sua concepção. Conforme Edward Merlo, na primeira fase, a empresa investiu us$ 310 milhões no sistema de antipoluentes. Segundo ele, sua única ‘derrota’, na discussão com os japoneses, durante a construção, foi com a altura das chaminés. Enquanto, no Japão, as chaminés da aciaria e da sinterização têm mais de 200m de altura, na cst, a da aciaria tem 190m. “Se nós tivéssemos colocado as outras chaminés a uma altura muito maior, a poluição seria mais distribuída e as partículas iriam cair muito mais longe.” Mas, com os investimentos realizados, “a cst não tem problema de poluição, não, ela investiu mais” (merlo, 25 mar. 2004). Robson de Almeida Melo e Silva, Gerente de Meio Ambiente e Comunicação, afirma: A cst já nasceu com a preocupação com o meio ambiente. Paralelamente, nós vemos a dificuldade cultural, fora da empresa, dessa questão de se preocupar com o meio ambiente e também, não muito forte, essa relação com a comunidade. [...] Preocupação com o meio ambiente desde a construção, desde a implantação existiu, mas com controle, com equipamento. A empresa já veio dotada de muitos sistemas e equipamentos de controle ambiental, desde a sua implantação, num valor de 231 milhões de dólares (silva, 26 jan. 2004).
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Ă rea arborizada da Usina da CST.
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Início da operação da Coqueria. 4 de julho de 1983. Acervo CST.
NO CALOR DA CRISE: OU TUDO OU NADA A crise político-econômica agravou-se em 1983. O governo reduziu investimentos no setor siderúrgico, devido aos compromissos com o fmi, e começaram a ser estudadas novas alternativas de crédito que permitissem não reduzir o ritmo da construção da cst. Até o final de 1982, as perspectivas de exportações de 620 milhões de dólares e a participação do capital italiano e japonês garantiram o empreendimento, mas os financiamentos ficaram escassos, a partir de 1983. A cst chegou a fechar parte de seu restaurante e a reduzir a remuneração e vantagens dos estágios. Jackson Chiabi Duarte, Diretor Industrial e empregado da cst desde 1980, recorda aqueles dias: Houve alguns percalços, no fim da construção. Era para ‘estartar’ em 1982 e o start-up foi em 1983. Teve um problema de dinheiro do próprio governo brasileiro que teve de fazer uma operação de venda e recompra com a Coqueria, para arrumar dinheiro, para terminar a construção. Mas nada disso abalava [a confiança da] a gente de que esta empresa ia sair (duarte, 12 mar. 2004).
Para concluir o cronograma das obras da cst, o Ministro da Fazenda, Delfim Neto, assinou, em Nova York, um empréstimo de us$ 508 milhões com um sindicato de bancos japoneses, presidido pelo Daichi-Kangyo Bank, em fevereiro de 1983, envolvendo a venda da coqueria e pátios de armazenagem de carvão e a sua recompra (Operação Sale, sale-back). O prazo de pagamento seria em 10 anos, com 3 anos de carência. Praticamente, era o último recurso disponível para a conclusão da empresa, devido à crise mundial, à quebra do México e à recusa dos bancos americanos em emprestar dinheiro. Segundo depoimento de Arthur Carlos Gerhardt Santos, Presidente da cst na época, foi um Diretor da Kawasaki, Kato, que deu a idéia de a cst vender a Coqueria à vista e recomprá-la a prazo. Negócio feito, foi a salvação da empresa (santos, 04 fev. 2004). Além da questão econômica, algumas críticas surgidas durante a implantação da cst foram a de a cesan estar concedendo facilidades no preço da água; do empresariado local, por não estar participando como gostaria da construção; dos limites entre os municípios de Serra e de Vitória, para recebimento dos impostos sobre serviços realizados pelas empreiteiras da cst (A Gazeta, 13 mar. 1983; A Tribuna, 31 mar. 1983). Tais críticas foram se arrefecendo, com a passagem do tempo e as soluções advindas.
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Os investidores japoneses, que detinham 24,5% dos recursos da cst, iniciaram, em 04/05/1983, uma vistoria das instalações da coqueria, após a assinatura do acordo de venda e recompra. O vice-Presidente do pmdb, senador Teotônio Vilela, condenou a operação realizada pela cst, alegando que o valor adquirido não seria utilizado na conclusão das obras da Siderúrgica, mas desviado para o pagamento de juros da dívida externa brasileira (A Gazeta, 04 mar. 1983). A cst iniciou a produção de coque, que iria alimentar seu Alto-forno, em 04/07/1983. A tecnologia utilizada foi de patente soviética, para o resfriamento do coque incandescente desenfornado. Wilson Mariante, engenheiro da cst desde 1981, assim afirmou: “A fase pré-operacional foi de incerteza de cronograma, mas, quando acendemos a coqueria, era irreversível” (mariante, 11 mar. 2004). De acordo com Manoel Barreto, empregado da Sinterização desde 1980, e responsável por coordenar todo o processo de secagem e aquecimento da Coqueria I, após ter feito treinamento de 4 meses na Itália, “A entrada em operação da cst, no dia 04 de julho de 1983, ficou registrada, fazendo uma analogia da independência dos Estados Unidos com a independência da cst” (martins, 02 fev. 2004). O Ministro da Indústria e Comércio, Ângelo Calmon de Sá, afirmou, em 08/07/1983, que o atraso das obras da cst se deveria ao não repasse de recursos (Jornal do Brasil, 08 jul. 1983). No mesmo dia, o Ministro do Planejamento, Reis Vellozo, prometeu recursos de 500 milhões de cruzeiros para a cst (A Gazeta, 08 jul. 1983). Carlos Alberto Puck, Técnico em metalurgia e empregado da cst desde 1983, relembra a sua insegurança daqueles dias: Logo que eu cheguei, seis meses depois, a cst ficou sem dinheiro para terminar a construção. Outro dia, estava lendo uma reportagem com o Dr. Arthur Gerhardt, ele estava falando sobre a transação da cst vender a Coqueria à vista e comprar a prazo. Realmente, eu assustei. Foi a primeira vez que o pagamento da cst atrasou. Saiu no dia 08. Me assustei, mas, depois, a poeira assentou (puck, 17 mar. 2004).
Após dez anos de longas idas e vindas, a cst estava pronta para entrar em operação. Deve-se destacar, nesse período, a atuação de Arthur Carlos Gerhardt Santos, conforme depoimento de Airton Flávio Diesel:
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Fui convidado a trabalhar na cst no final de 1983, logo no momento em que a empresa estava iniciando seu processo de operação [...]. Eu vim para assessorar o Presidente da Empresa, na época, Dr. Arthur Carlos Gerhardt Santos. [...] Eu pude, com ele, aprender muito do Espírito Santo, pela experiência dele como ex-governador e também sobre as dificuldades na fase de implantação e de construção da cst, na busca de costurar os diversos acordos para poder viabilizar a construção e a operação da cst, numa fase em que o país passava por muitas dificuldades, em função da crise internacional derivada da crise do petróleo (diesel, 06 jan. 2004).
Edward Merlo cita, numa escala de importância, as pessoas que foram decisivas para a implantação da cst, como Pratini de Moraes, Ministro da Indústria e Comércio; Luiz Fernando Sarcinelli, Diretor de Operações da Siderbrás; Alfredo Américo da Silva, Presidente da Siderbrás, mas reconhece, também, a importância do ex-governador e futuro Presidente da cst, Arthur Carlos Gerhardt Santos, para “deslanchar” o projeto. É o que afirma: Então, veio o Arthur para assumir a presidência da empresa, no lugar do Ary. O Arthur é peça importante, também, porque tinha um relacionamento bom com o Delfim Neto, ótimo com o Ernane Galvêas, que era o Ministro da Fazenda, facilitou a abertura de portas e, com isso, conseguiu-se fazer o esquema; com a engenharia financeira do projeto pronta, o projeto deslanchou. O cronograma deslanchou e nós começamos a tocar a obra (merlo, 25 mar. 2004).
Um total de 682 empresas, do Brasil, Itália e Japão, estiveram envolvidas no processo de criação, construção de obras civis e montagens da cst. 25 mil operários trabalharam na obra e a maioria das obras foram desenvolvidas por empresários nacionais. Os japoneses construíram a sinterização, a fábrica de lingoteiras, o altoforno, a casa de força/sopradores, o fracionamento do ar, o centro de utilidade e o cpd. Os italianos fizeram a coqueria, a aciaria, o desbastador e os fornos-poços. O restante das obras, pátios de minérios, carros-torpedo, pátio de carvão, equipamentos de transporte da aciaria, calcinação, sistema de distribuição de energia, sistema de comunicação, sistema de água industrial e água potável, sistema de água do mar, sistema de esgotos, sistema de distribuição de combustíveis, gasômetros, rodovias, oficinas de manutenção, almoxarifados, equipamentos de transporte, edifícios de serviços gerais, ferrovias, pontes rolantes e a preparação do terreno, ficou sob a responsabilidade das empresas brasileiras, num total de 602, das quais 456 eram capixabas (A Gazeta, p. 27, 30 nov. 1983). O prefeito da Serra, na época, João Batista Motta, afirmou que “a Companhia Siderúrgica de Tubarão só seria um empreendimento realmente bom, se estivesse colocando no mercado produtos siderúrgicos acabados como, aliás, está previsto para o futuro, porque só a produção destes acabados é que, na realidade, trará riquezas para o Estado e o Município” (A Gazeta, 30 nov. 1983). Por outro lado, o Prefeito de Vitória, Berredo de Menezes, acreditava que a cst iria repercutir de forma decisiva para o progresso do Estado e mesmo para o País, pois traria mais divisas com a exportação da sua produção. Afirmou ainda: “A cst é motivo de muito orgulho para Vitória, pela sua importância nacional e mesmo internacional” (A Gazeta, p. 14, 30 nov. 1983). Tanto o Presidente da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes), Élcio Resende Dias, quanto o Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do Espírito Santo, Luiz Carlos Fernandes Rangel, acreditaram na cst, pela geração de empregos e pela vinda de empresas satélites para o Estado. Foram unânimes em dizer que “é animador, num período de crise do mercado mundial de aço e de recessão no país, o Estado poder inaugurar uma siderúrgica do porte da cst”. (A Gazeta, p. 12, 30 nov. 1983). 54
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Inauguração da Usina Siderúrgica de Tubarão pelo Presidente Gen. João Batista Figueiredo. Acervo CST.
O PERÍODO ESTATAL (1983 - 1992) O Homem e a hora são um só Quando Deus faz e a história é feita. (Fernando Pessoa)
CONSOLIDAÇÃO DA CST: OS PRIMEIROS PASSOS O jornal A Tribuna noticiava, em 30/11/1983, a chegada do Presidente João Figueiredo a Vitória, às 10h35min, para presidir a inauguração da Usina Siderúrgica de Tubarão, um empreendimento que exigiu investimentos da ordem de três bilhões de dólares. Segundo o mesmo periódico, “A história de Tubarão, iniciada por volta de 1973, quando foram dados os primeiros passos no sentido de o Brasil buscar no exterior sócios para concretizar o empreendimento, concretizava-se com a inauguração da cst, dando início a uma Segunda Revolução Industrial do Espírito Santo”. O jornal A Gazeta, no mesmo dia, noticiava, também, a vinda do Presidente Figueiredo, com mais detalhes: “O Presidente da República, João Figueiredo, assiste hoje à laminação do primeiro lingote da Companhia Siderúrgica de Tubarão (cst) que marcará o início de produção de placas semi-acabadas de aço. Somente em dezembro a produção atingirá um volume de 80 mil toneladas e, no primeiro ano de produção, 2,6 milhões de toneladas”. Para a cerimônia, o Presidente estava acompanhado do Ministro da Fazenda, o capixaba Ernane Galvêas, do Presidente da Siderbrás, Henrique Brandão Cavalcanti, do governador do Espírito Santo, Gérson Camata e do Ministro da Indústria e do Comércio, Camilo Pena. Além da notícia referente ao evento, A Gazeta publicou, na primeira página, artigo não assinado intitulado “Tubarão e a História”, que afirmava, dentre outras coisas: A inauguração da usina siderúrgica de Tubarão é um fato especialmente significativo para o Espírito Santo. A par de sua expressiva presença no cenário nacional como indutora de desenvolvimento, a usina será, para nós em particular, um marco destinado a separar a história deste Estado em fases distintas.[...] Essa usina custou sacrifícios, esforços, dedicações. É, assim, um marco que reflete a perseverança que predominou em um rico momento da vida estadual (A Gazeta, 30 nov. 1983).
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Após dez anos de gestação, a cst iniciou sua produção, em 30/11/1983, com a entrada em operação do Alto-forno I, o maior das Américas e um dos dez maiores do mundo. De acordo com Edward Merlo, O Alto-forno daqui é fornecimento Kawasaki, mas todo ele é russo. O apagamento a seco da coqueria é russo, via Italimpianti, que tinha um relacionamento excelente com os russos. Tanto é que o pessoal que trabalhou aqui conosco, que construiu esta usina, depois, foi construir uma outra usina em Rosdorf, na Rússia, utilizando a cst como referência, principalmente os tipos de medições (merlo, 25 mar. 2004).
A tecnologia japonesa, a eficiência italiana e a afetividade do brasileiro foram fundamentais para a cst alcançar todos os patamares atingidos em seus primeiros anos de produção. O início da operação de produção de ferro-gusa foi em 01/12/1983. Masaharu Yamano, especialista responsável pela manutenção do alto-forno desde a inauguração, assim descreveu aquele momento histórico: No dia 30 de novembro de 1983, foi iniciado o “sopro” que marcava a partida da Usina cst. A primeira corrida foi simbólica, bonita e serena! Parecia estar anunciando o início de uma campanha tão significante e histórica. [...] O então Presidente Figueiredo, simbolicamente inaugurava o alto-forno 1 da cst, entregando ao operador Edson Montebeller a chama que iria acendê-lo. O soar do sino anunciava o início da operação. Como um sopro divino, o sopro do Altoforno inicia a vida da usina. Era o prenúncio desta histórica campanha (yamano, 20 jan. 2004).
“Tudo o que acontecia era novo. Chegada de minério, o funcionamento do virador de vagões, o empilhamento de minério... Tudo era novidade. Eu estava vendo ali um novo mundo”, afirmou Anselmo Pereira dos Santos, empregado da cst desde 1982. Outro que se recorda daqueles dias é Eraldo Luiz de Brito, paulista de Santos, que saiu da Cosipa para trabalhar na cst, em 1982. Assim se recorda, emocionado: Quando eu cheguei, vi a empresa no esqueleto, pois era a época de montagem. E eu olhava aquele monte de estrutura, guindastes, o subir de peças, gente desconhecida [...] e me perguntava: Meu Deus do céu! O que eu vim fazer aqui? [...] Eu acompanhava a montagem da ponte rolante, a montagem da área de panelas e a do galpão onde eu iria trabalhar. Na verdade, nós éramos os fiscais da cst. [...] A nossa presença como fiscal da Companhia fazia com que as empresas que montavam as estruturas fizessem um bom trabalho, pois sabiam que a gente estava vigiando. A montagem prolongou-se por sete meses e os italianos eram os responsáveis. Os japoneses estavam na aciaria, mas o lingotamento era italiano. Depois, foram os testes. [...] Íamos dar a primeira corrida em novembro de 1983, então, imagina a expectativa: Pintura, arrumar a área, deixar tudo pronto para começar bonito (brito, 16 mar. 2004).
Jorge Luiz Ribeiro de Oliveira, Engenheiro metalúrgico e Gerente de Divisão do Alto-forno, lembra que o projeto do Alto-forno I foi desenvolvido, na década de 70, pelo sócio japonês e era uma cópia de um projeto de Mizushima. Esse projeto foi concebido para 6 anos de operação, que foi exatamente a vida do irmão dele, que veio a se finalizar em seis anos. [...] A cst comprou esse projeto, definiu treinamento muito forte para todos, e a equipe, na época, passou 4 meses treinando no Japão. Esse treinamento foi tão bem aproveitado, discutindo o projeto, a operação e a manutenção do Alto-forno, que, quando ele entrou em operação, já entrou com objetivo de 8 anos de operação, ao invés de 6. Então, a 58
reforma estava prevista para 91. [...] Fomos para 94 e fomos estruturando os planejamentos de prolongamento da vida até 2003. Quando chegou por volta de 2001, fizemos uma reanálise, foi até uma idéia do meu atual gerente [Cristiano Klein]: Por que não desafiar esse negócio e fazer um plano para 2008, 25 anos? Montamos e fomos para 2008. Estamos bem seguros de que até 2008 é possível (oliveira, 01 abr. 2004).
O funcionamento da aciaria LD iniciou em 06/12/1983, com a primeira corrida de aço do Convertedor II. São engraçados e emocionantes os depoimentos de Luiz Antônio R. do Valle e de João Chiabi Duarte: “... Às 13h30min, vazou a primeira corrida na Aciaria... Metade na panela e metade no chão! [...] Enquanto o japonês estava planejando o que tinha de fazer, como fazer e o padrão para isso, quando eram 5h, já estava tudo limpo” (duarte; valle, 23 jan. 2004). Apesar do percalço inicial, seu desempenho superou as expectativas, destacando-se o excepcional rendimento em aço e o alto percentual do acerto da composição química. No dia seguinte, entrou em operação a laminação, processando os primeiros lingotes produzidos na cst, o que marcou o início efetivo da produção de placas de aço pela Companhia (cst, Relatório Anual de Administração, 1983). Início de operação do Alto-forno I. Primeira corrida do Gusa. 1º de dezembro de 1983. Acervo CST.
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O ano de 1984 marcou o início da presença da cst no cenário da siderurgia mundial. No Centro de Treinamento, atuavam engenheiros vindos de outras empresas e, desde o início, buscou-se criar a cultura do aprendizado. A qualificação do empregado era vital para a empresa e condição fundamental para o mesmo continuar na cst. Claúdio Roberto de Campos fez estágio na Usiminas, de 1982 a 1983, tendo entrado na cst em concurso para operadores. Sua unidade inicial foi na laminação, na área de fornos-poços, não mais existente. De Técnico-metalúrgico, formou-se em Biblioteconomia, com Pós-Graduação em Logística e, atualmente, é graduando em Engenharia de Produção, um claro exemplo do constante aperfeiçoamento do empregado ‘padrão cst’. É o que afirma: Eu cheguei na cst em 1982 e a exigência da empresa foi evoluindo. [...] A gente via que o Brasil estava crescendo e precisava de uma empresa grande desenvolvendo mais ainda [...] A cst investiu nos seus funcionários. Por isso, tem um corpo técnico muito bom dentro da empresa. Nós nos pegamos muito no que a gente faz e procuramos sempre fazer o melhor (campos, 19 mar. 2004).
A ksc instituiu o “Prêmio Kawasaki” voltado para os empregados da cst que se destacassem a cada ano, seguindo critérios de melhor desempenho, nas diversas funções da empresa. Conforme Tereza Mathias, Psicóloga da cst, este prêmio existe até hoje e consiste em um relógio, porque os japoneses o vêem como símbolo do empregadopadrão, já que nele estão embutidos os valores de respeito, tempo e qualidade. Os japoneses queriam que o premiado o usasse, sempre, pela utilidade e para que o lembrasse dos valores que trazia. Eles trouxeram, para a cst, cultura disciplinar, bases de padrões e segurança nos processos. A palavra-chave, para eles, era ‘controle’ de todo o processo de fabricação. Os japoneses perceberam, desde o início, o potencial de caráter, respaldo e respeito que o brasileiro dava à disciplina. E, para eles, a qualidade de caráter é mais importante do que a técnica. Esta, eles ensinavam, mas as características pessoais eram mais importantes, pois eram inatas (mathias, fev. 2004). Marcos Drews Morgado Horta foi gerente da equipe de recursos humanos da cst desde 1977, e sua função consistia na capacitação, treinamento e recrutamento de pessoal para trabalhar na cst. São suas palavras: A cst acabou por atrair pessoas com diferentes tipos de culturas empresariais, com experiências peculiares e esse sincretismo foi importante para o funcionamento da empresa. [...] O objetivo era criar uma identidade para a empresa, não somente no âmbito técnico, como, principalmente, comportamental (horta, 11 fev. 2004).
As atividades iniciais da cst caracterizaram-se, em seu primeiro ano, pela busca da clientela, com divulgação do produto através de contratação de fornecimento de pequenos lotes, visando à posterior contratação de maior porte e em longo prazo. Um dos contratos firmados foi o da California Steel Ind.(csi), dos eua, com prazo de 15 anos para fornecimento de 200.000 t/anuais de placas. Ainda em 1984, a cst também vendeu sua produção, no mercado nacional, a maior parte adquirida pela csn e Usiminas (cst, A empresa, uma realidade, jun. 1984). Conforme depoimentos de Luiz Antônio Valle e João Chiabi Duarte, “A cst nunca perdeu um cliente e, hoje, (em 2004), o índice de reclamação é de 0,06%” (duarte; valle, 23 jan. 2004). 60
Embarque de placas no terminal siderúrgico do Porto de Praia Mole. Acervo CST.
Benjamin Baptista Filho, Diretor Comercial e de Desenvolvimento da cst, em seu depoimento, destaca, para o sucesso da empresa, em primeiro lugar, a constituição da csi, a maior cliente de placas da cst até hoje. Em 2005, “estaremos completando o embarque de 10 Mt/a de placas para ela”, afirma. Em segundo lugar, o apoio da Kawasaki, que lidera um grupo de investidores japoneses (Marubeni, Mitsui, Mitsubishi, dentre outros), para promover a venda de placas da cst, nos diversos mercados mundiais. E, em terceiro, o fato de a csn ter programado a reforma de um grande alto-forno, na época da entrada em operação da cst. Benjamin Baptista Filho ainda afirma: Eu me lembro que os grandes negócios de placas que nós começamos a embarcar naquela época, fora a csi e fora a relação societária, foram para a Eregli, na Turquia, e para a Dongkuk, na Coréia. São duas empresas que, ainda hoje, são clientes da cst. Para a Eregli, nós completamos, em 2003, 5 Mt de embarque de placas e, para a Dongkuk, no mesmo ano, 7 Mt. É muito importante darmos peso a esses dois negócios, que foram essenciais na vida comercial da cst e são negócios que perduram até hoje (baptista filho, 19 mai. 2004).
Em 1984, teve início o programa Controle de Qualidade Total (tqc). Este estruturouse de forma a compor, em cada área, uma coordenação treinada e capacitada a levar adiante o desenvolvimento das atividades, de modo que essas estivessem incorporadas, naturalmente, às funções gerenciais de cada coordenador. Progressivamente, todos os gerentes eram treinados e passavam a assumir a coordenação do tqc em sua área, tornando-se, então, parte efetiva do processo de consolidação da Filosofia da Administração Participativa, voltada à qualidade total da cst (cst, Qualidade total da cst: Todos pensam, todos participam, 1989). Conforme o depoimento de Péricles Manoel Machado Torres, Engenheiro mecânico e empregado da cst desde 1981, a cst foi uma das pioneiras, no Brasil, na implantação do Programa de Qualidade Total da Empresa. Ele fez parte da equipe de cinco pessoas que tiveram a assessoria de um especialista da Kawasaki, e que passou quatro anos na cst, para a implantação do Programa de Qualidade Total. Péricles reconhece que foi um grande desafio, mas compensador, posto que “persiste até hoje aqui dentro da empresa toda a preocupação.” Afirma: É uma filosofia de trabalho mesmo e que vem sendo, até hoje, trabalhada por cada profissional aqui dentro, buscando, sempre, aprimorar os seus processos e gerar os melhores resultados para a Empresa. É o trabalho de produtividade, ou seja, produzir cada vez mais e melhor, gastando cada 61
vez menos. Essa é a filosofia da produtividade. Eu acho que isso aí tudo que a gente conseguiu até hoje, na Empresa, de alguma forma, tem como sustentação esse trabalho que foi desenvolvido desde o início da operação da usina (torres, 08 jan. 2004).
Wilson Mariante, empregado desde 1981, também reconhece que “A cultura e a organização do japonês, pelos padrões, pela limpeza, pelos treinamentos, foram fundamentais para a cultura atual da cst” (mariante, 11 mar. 2004). A principal matéria-prima importada para a produção da cst é o carvão, e os principais fornecedores eram os Estados Unidos, Austrália, Polônia, Canadá e Colômbia. Em agosto de 1984, a cst recebeu um carregamento de 132.823 toneladas de carvão, o maior recebido no Brasil, até aquele momento. Com esse carregamento, deu-se partida à fase de utilização de navios de grande porte para transporte de carvão metalúrgico para a cst e demais usinas da Siderbrás, proporcionando redução nos custos de frete marítimo (cst, Relatório Anual de Administração, 1984). Quase um ano após sua vinda a Vitória, para inaugurar a cst, o Presidente da República João Figueiredo inaugurou em 14/11/1984, o Porto de Praia Mole, construído em conjunto pela Petrobrás, Siderbrás e cvrd. O navio Fort Resolution, da Docenave, transportou, de Praia Mole, a maior quantidade de placas de aço já registrada, destinada à csi, inaugurada em 06/12/1984, a maior cliente da cst (bin, n. 4 e 5, nov. 1984).
Arthur Carlos Gerhardt Santos, ex-presidente da CST, no Seminário do Círculo de Controle de Qualidade e Movimento Zero Defeito. Acervo CST.
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A FASE DOS RECORDES. Com um ano de funcionamento, a cst bateu vários recordes de produção. Esta, em 1984, foi de 2.298.623 toneladas de aço bruto (bons lingotes) e de 2.012.686 de placas (cst, Cronologia e Estatística, 1988). No entanto, o resultado econômico do ano foi prejudicado pela relevante incidência de encargos financeiros brutos que comprometeram a receita líquida (cst, Relatório Anual da Administração, 1984). Jackson Chiabi Duarte, empregado da cst desde 1980 e a partir de 1992 Diretor Industrial, lembra que o primeiro grande problema da cst foi o de produzir sem mercado. Afirmou: Chegamos a ter mais de 500 mil toneladas de placas estocadas, aqui, sem mercado [...] e tivemos que viajar o mundo todo, eu e o pessoal comercial, na época. Estivemos nos Estados Unidos, para visitar todas as empresas americanas, na Europa, na China [...] e tínhamos que convencer as pessoas de que nós tínhamos uma boa estrutura técnica, não tecnológica, e também uma responsabilidade de ir para o mercado, não para ser um vendedor de commodities, uma pessoa que entra e sai, mas, sim, com uma visão de longo prazo, já que o mercado de placas praticamente não existia, na época (duarte, 12 mar. 2004).
Em 1985, a cst passou a figurar entre as dez maiores exportadoras brasileiras, com uma produção de 2 milhões de toneladas de placa, enquanto, no Brasil, naquele ano, foram exportadas 7.100.000 toneladas de aço, no valor de us$ 1,6 bilhão, contribuindo de forma expressiva, na balança comercial do país (cst, Relatório Anual de Administração, 1985). Nos últimos meses de 1985, o ritmo da produção da usina foi superior à capacidade nominal de 3 milhões de toneladas. A cst entrou no seu terceiro ano de produção como a maior abastecedora mundial de placas de aço, atingindo sua capacidade de 3 milhões de t/a de placas previstas para sua Fase I. “...Se (os sócios) mantivessem a tonelagem estável, não ia ser um incentivo para a cst buscar novos mercados, novos clientes e buscar a colocação de seu produto. A cst tinha que enfrentar dificuldades para desbravar e buscar clientes e mercados”, afirmou Gustavo Humberto Fontana Pinto, empregado da cst desde 1980 (pinto, 20 fev. 2004). Ao final de 1986, a cst pôde comemorar as seguintes marcas históricas: o Alto-forno completou 900.000 toneladas de gusa, em 3 anos; a condição de maior fornecedora mundial de placas de aço; a marca de 3 milhões de toneladas/ano de placas, o que a colocou como uma das “maiores e melhores” no cenário siderúrgico mundial (cst, Relatório Anual de Administração, 1986).
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DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO A cst concluiu o treinamento de oito técnicos e engenheiros da Açominas na área de software e hardware de computadores de processo modelo pdp 11, em 30/11/1984. O Plano Diretor de Informática para o quadriênio 1984-1988 tinha sido planejado no ano anterior. “Aí é que você tem orgulho, não só porque você ajudou a construir, mas porque você faz parte da cultura da limpeza, da arrumação, de boa apresentação e de competitividade, porque a cst é uma empresa extremamente competitiva”, afirmou Antônio Motta Strieder, empregado da cst desde 1976 (strieder, 27 jan. 2004). O bin n. 06 informava, em 04/12/84, que a Fundição de Lingoteiras iniciara a produção de dois novos tipos de lingoteiras, para atender novos pedidos dos eua. A tecnologia para o projeto e a confecção foi desenvolvida na própria cst. Conforme depoimentos de Luiz Antônio Valle e João Chiabi Duarte, A gente conseguiu com o lingotamento convencional fazer um produto que competia com o contínuo e com vantagens [...]. A cst conseguiu com o laminador dela uma qualidade muito boa; só não tínhamos vantagens de tempo, número de pessoas e rendimento (duarte; valle, 23 jan. 2004).
A engenharia sofreu completa reestruturação, com a criação da Superintendência Geral da Engenharia, habilitando-se para atuar como núcleo básico do desenvolvimento da engenharia, voltado para o planejamento dos investimentos e o gerenciamento da implantação de melhorias e de novas instalações ou expansões (cst, Relatório Anual de Administração, 1985). Consolidando sua política de controle ambiental, instalou-se o sistema de proteção na Coqueria (filtro de mangas, recirculação de água, tanque de decantação) e iniciouse a vedação das portas dos fornos. Foram plantadas 30.000 árvores frutíferas e ornamentais e construídos 264.550 m2 de jardins gramados, com 10.036 arbustos (cst, Relatório Anual de Administração, 1985). Implantou-se o sistema de patentes para resguardar e ampliar o patrimônio tecnológico da cst, com novas técnicas desenvolvidas por seus empregados. Criou-se a Diretoria de Desenvolvimento, em substituição à Diretoria de Construção, com o objetivo de assumir as atividades comerciais e de engenharia e a coordenação do desenvolvimento da empresa (cst, Relatório Anual de Administração, 1985). Em maio de 1985, a cst formalizou o seu primeiro pedido de privilégios (patente) junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (inpi). O título do trabalho era: “Processo de Obtenção de Curva de Correlação e Preparação da Amostra de Sínter, para análise de FeO, através do analisador de FeO magnético” (bin, 15 mai. 1985). Houve uma redução substancial no custo industrial da placa acabada em relação ao ano de 1984. Os motivos foram: maior volume de produção, medidas generalizadas de contenção de despesas e o Plano de Melhorias de Resultados, “uma experiência muito valiosa”, segundo Wilson Mariante, um dos coordenadores do Programa (mariante, 11 mar. 2004).
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Em sua primeira fase do Plano de Melhorias de Resultados (1985-1987), implantado em 27/09/85, a cst gerou economia de us$ 1,9 milhão. Seu objetivo era o de reduzir custos em todas as áreas de atividades da cst (cst, Administração Geral da Empresa, 1985). Em agosto de 1985, a cst fechou um importante contrato de vendas com a Erdemir, na Turquia, totalizando um comércio de 240 mil toneladas de placas. eua e Turquia foram os principais compradores de placas da cst, de 1984 a 1987, num total de 41%, superando até as vendas para a Itália e o Japão, os sócios-parceiros (cst, Cronologia e Estatística, 1988). Em 1986, a cst assumiu a administração do terminal de produtos siderúrgicos do porto de Praia Mole. Este teve sua construção planejada desde 1973, na Ponta de Tubarão e resultou de um consórcio entre a cvrd, a Portobrás e a Siderbrás. O porto de Praia Mole surgiu como uma necessidade do projeto da cst, cujos sócios viram como condição indispensável à viabilidade da siderúrgica, a existência de um porto específico para escoar a sua produção. O terminal entrou em operação em 1984, e, com a privatização das empresas da Siderbrás, as principais usuárias do terminal, cst, Açominas e Usiminas, adquiriram o terminal por us$ 108 milhões (gurgel, 2001, p. 71). Plínio Lustosa Brito, empregado da cst desde 1982, afirma sobre o porto de Praia Mole: Todo o ganho que nós temos, desde o início da operação até hoje, é mediante muito trabalho de gestão, muito trabalho de mudança de procedimento e de introdução de novas técnicas de trabalho. [...] Os equipamentos são os mesmos, os ciclos são os mesmos, mas a maneira de trabalhar e de gerir este trabalho é que vem modificando substancialmente isso. [...] O Praia Mole é, também, um porto de referência, porque a cst criou um padrão de excelência para isso. Embarcavam-se, no início, 300 t/h e, hoje, embarcam-se 1000 t/h. O mesmo está ocorrendo com a bobina a quente. Hoje, embarcam-se 600 t/h de BQ (brito, 14 abr. 2004).
Ainda em 1986, a cst desenvolveu cerca de 193 projetos e estudos de melhoria das instalações, objetivando aumento dos níveis tecnológicos e de qualidade, fabricação de novos produtos, reduções e correções, visando melhorias nas condições de trabalho, de segurança e do meio ambiente (cst, Relatório Anual de Administração, 1986). De acordo com a política de preservação do meio ambiente, a cst promoveu as seguintes obras para a instalação de sistemas anti-poluentes: aspersão de água nos pátios de carvão; segundo espessador do sistema de tratamento de água da Aciaria; sistema de recirculação de águas do apagamento a úmido do coque; pavimentação de vias internas; sistema de despoeiramento do desenfornamento do coque; plantio de 35.000 árvores; 140.000m2 de cobertura vegetal, jardins e gramados; intensificação das atividades de monitoramento atmosférico da Grande Vitória (cst, Relatório Anual de Administração, 1986). A grande transformação da área onde se localiza a cst é constatada pelos empregados mais antigos como Ronaldo Domingos Sancio: “Ali (referindo-se à 65
Aciaria), em dia de chuva, era barro que não acabava mais; hoje, você vê verde, mata ou pavimentação das ruas” (sancio, 07 jan. 2004). Ou o de Vânia Maria Silva de Miranda: “Trabalhávamos em canteiros de obras, virávamos noites e noites aqui dentro. Comíamos num marmitex frio que vinha no caminhão, às vezes, descoberto, no meio de muita lama” (miranda, 07 jan. 2004). A cst participou, pela primeira vez, em 1986, do Prêmio Talento Brasileiro, que visava premiar as invenções de operários brasileiros que tivessem aplicabilidade na realidade industrial do país. A cst, desde o início, se preocupou com a participação de seus empregados em programas e prêmios de qualidade, administrados, internamente, pela área de Recursos Humanos. De acordo com Péricles Manoel Machado Torres, em média, “os empregados da cst apresentam em torno de duzentos e quarenta projetos, por ano. Destes 240, é feita uma seleção interna e são indicados os cinco melhores. [...] O primeiro deles, durante um ano, é o representante oficial da empresa, para eventos externos” (torres, 08 jan. 2004). Péricles destacou, em sua fala, o trabalho de dois colegas: o de José Fernando Romano, que criou o “Dispositivo de Injeção de Esfera de Gás”, conquistando o Prêmio Talento Brasileiro Nacional, de 1993 (cst, Revista 20 Anos, p. 49, 2003). Este afirma sobre a sua invenção: A gente tinha que fazer uma experiência na primeira esfera, que era de nitrogênio, uma esfera de menos risco, e, nessa primeira esfera, eu consegui fazer toda a adaptação necessária [...] como deveria e, na segunda, eu já passei para a situação normal [...] que seria fazer e acontecer no tempo [...] de cinco dias; de vinte e cinco passou para cinco dias, a um custo de oito mil dólares. [...] De 980 mil dólares, a firma conseguiu baixar para 8 mil dólares. [...] O fator tempo era mais importante do que o custo [...] então, foi um sucesso (romano, 30 jan. 2004).
O outro prêmio foi o de Luís Invitti Filho e Gibson Ramos da Costa, que desenvolveram um “Sistema Supervisório”, que faz um bloqueio, pelo computador, no equipamento, para reduzir os riscos de acidentes dos empregados que vão fazer a manutenção. Este trabalho foi o primeiro colocado, em nível nacional, em 1988, e é o próprio Luís Invitt, um dos autores, que fala de sua premiação. “É o reconhecimento de seu trabalho, uma grande repercussão, resolveu um problema que ia para a empresa toda. E, além disso, uma coisa que não era conhecida, era inédita e estavam entrando novas tecnologias” (invitti filho, 22 jan. 2004).
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Coqueria. Acervo CST.
À esquerda: Vista Aérea da AEST. Acervo AEST. À direita: Arthur Carlos Gerhardt Santos, ex-presidente da CST e Deusdedith de Azevedo Dias, Assessor de comunicação na inauguração da AEST. Acervo CST.
BENEFÍCIOS SOCIAIS: QUALIDADE DE VIDA Em 1985, os empregados da cst chegaram a 6.280 efetivos e a 624 estagiários e puderam comemorar, naquele ano, a obtenção de vários benefícios concedidos pela empresa. Em novembro, lançou-se o Plano de Benefícios da Fundação Cosipa de Seguridade Social, oferecendo-se benefícios de previdência complementar e, em dezembro, o Plano de Assistência Odontológica. Todos os depoimentos de empregados da cst são muito claros quanto à política de benefícios da empresa, alguns tão emocionantes quanto as falas respectivas de Anselmo Pereira dos Santos, empregado desde 1982, e Irene dos Santos, também trabalhando na Empresa desde 1982. O fato de eu ser empregado da cst, para mim é muito importante. É como você ser um jogador de um grande time. A cst, para mim, é tudo. Tudo o que eu tenho, hoje, foi adquirido com minha verba aqui da cst. Plano de saúde, atendimento à minha família [...]. Eu hoje estou com dois filhos e todos dois nasceram durante esse período em que trabalho na cst. Para mim e para eles, a cst é tudo (santos, 11 fev. 2004). A empresa é minha vida, agradeço a ela o resto da minha vida, desde a hora que eu entrei aqui dentro [...]. Primeiramente, cito a qualidade de vida em mim. A Companhia fez um trabalho para a melhoria de vida muito bom mesmo! Porque hoje nós somos educados até como nos alimentar (santos, 30 jan. 2004).
Dentre as ações voltadas para os benefícios sociais dos empregados da cst, fundouse, em 31/10/1978, a Associação Esportiva Siderúrgica de Tubarão (aest). Com uma extensão de 148.207,560 m2, uma área construída de 4.266,39 m2 e, aproximadamente, 2.500 associados em número de hoje, a aest proporciona uma vasta gama de opções de lazer e de entretenimento para os seus associados, chegando a uma excelente classificação em relação aos clubes esportivos existentes no Espírito Santo.
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Com a inauguração da sede própria em Manguinhos, em 1982, novos horizontes se abriram para os associados. Samir Nagib Paulo, Presidente da aest no período de 1997 a 2000, afirma: Com a privatização e o desenvolvimento tecnológico da cst, conseqüentemente, a aest necessitou crescer também.” Ele agradece à cst “por acreditar que, através do incentivo ao esporte, poderíamos ajudar na formação da cidadania de crianças, adolescentes e, também, no entretenimento e lazer dos adultos” (aest, 2000).
A aest oferece a seus associados e dependentes escolinhas de futebol, voleibol, ginástica/hidroginástica, natação, orientação à atividade física, programações sociais (música ao vivo, videoquê, comemorações tradicionais – bailes, formaturas), culturais e serviços diversos (lavanderia, oficina, lojas, almoxarifado, biblioteca, dentre outros). A Fundação de Seguridade Social dos Empregados da cst (funssest) foi criada devido à abertura concedida pela nova Constituição Brasileira. Antes, os empregados da cst estavam vinculados à femco (Fundação dos Empregados da Cosipa), porque a lei federal proibia as estatais de constituírem novas fundações. A funssest teve a adesão de quase a totalidade dos empregados da cst, cerca de 6.000 participantes, e os benefícios, desde sua origem, eram a suplementação de aposentadoria e os empréstimos aos empregados com juros abaixo do mercado. Diamantino Alberto de Carvalho, Diretor-superintendente da funssest, afirma: Não estamos olhando para a Fundação como uma porta de negócios, como uma porta de oportunidades. Isto é importante e um dos grandes motes desta Diretoria é voltado para isto: não transformarmos a Fundação em um balcão de oportunidades e negócios, mas ser uma tranqüilidade para os empregados da cst (carvalho, 05 fev. 2004).
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CST: CARTÃO DE VISITAS DA SIDERBRÁS. Desde o início de sua operação, a cst destacou-se como uma siderúrgica diferente das demais existentes no Brasil, tanto por sua concepção mista, envolvendo capital público e privado, quanto por sua destinação, o mercado externo, e a sua feitura moderna. Daí, ela ter servido de cartão de visitas do Brasil e do governo militar da época. Deusdedith de Azevedo Dias, empregado da cst desde 1978, afirmou: Já naquela época, havia a idéia de se fazer uma relação com a comunidade, de se aproximar, para desmitificar aquela cultura que se criou aqui, de que os ‘grandes projetos’ trouxeram bolsões de pobreza. Você tinha que mostrar que não era nada disso. […] Trabalhar essa cultura nossa, contribuir para a formação de uma cultura própria era o papel da Comunicação, e, ao mesmo tempo, não se distanciar das relações com a comunidade. Foi uma fase interessante (dias, 09 mar. 2004).
Em 1985, dentro da política de relacionamento externo da empresa, o Presidente da cst, Arthur Carlos Gerhardt Santos, visitou a Alemanha Ocidental, fazendo palestras em Bonn. A cst recebeu as visitas do Diretor da Siderbrás, Cláudio Avellar, em 25/09; de congressistas do Instituto Latino-americano de Ferro e Aço, o Ilafa, em 24/10; do Gerente de compras da China Steel Corp., S. Y. Lai, em 28/10; do Cônsulgeral dos eua no Brasil, Affonso Arenales, em 25/11. Em 1986, continuaram as visitas à cst: de formandos do Curso de Preparação à Carreira de Diplomata e de técnicos da China, em março, e do Secretário Especial do Meio Ambiente, Paulo Nogueira Netto; de dirigentes japoneses da Marubeni Corporation e do principal executivo da Kawasaki, Eiro Iwamura, além dos embaixadores da Suécia, da Indonésia e dos integrantes do Comando Militar do Leste, em abril. Dos deputados da Comissão do Meio Ambiente da Assembléia Legislativa do Espírito Santo, em abril, e dos cônsules do Japão e da Holanda, em maio. Do Presidente do Tribunal Superior do Trabalho, acompanhado do ministro João Wagner, em julho. O Presidente da cst, Arthur Carlos Gerhardt Santos, fez uma palestra na Universidade de Hokkaido, no Japão, em 30/07/86. Em abril de 1987, a cst recebeu a visita do comitê do aço da Comunidade Econômica Européia e de vários técnicos da Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente (feema), do Rio de Janeiro. Em 01/08/87, o Presidente da Kawasaki Steel Corporation visitou a cst (bin, 03 ago. 1987). É ainda Deusdedith de Azevedo Dias que informa sobre o papel da comunicação neste bom relacionamento sempre almejado da cst com a comunidade: A comunicação tinha a obrigação, tinha o compromisso de ser transparente com a sociedade. Para isso, procurava trazer o pessoal aqui para visitar a empresa, abrir as portas para a comunidade, fazer com que a Diretoria fosse muito comprometida com a transparência, e foi. Todos os nossos setores, até hoje, têm uma cultura muito forte de transparência em relação à sociedade (dias, 09 mar. 2004).
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PLANOS FRUSTRADOS DE EXPANSÃO: A CRISE POLÍTICO-ECONÔMICO-SOCIAL. No segundo semestre de 1986, foi detectada a necessidade de crescimento da produção brasileira de laminados a quente. Por orientação da Siderbrás, as cinco maiores empresas do sistema (csn, cst, Cosipa, Usiminas e Açominas) foram incumbidas de elaborar seus respectivos planos de desenvolvimento a serem, posteriormente, consolidados no Plano Estratégico de Desenvolvimento do Sistema Siderbrás - pedesid (cst, Estudo de Viabilidade Fase II, 1988). Em agosto de 1986, a cst alcançou o 1º lugar na produção nacional de aço bruto e recebeu o prêmio “Exportador do Ano”, conferido pelo Centro do Comércio Exterior do Espírito Santo. Foi considerada a 3ª maior empresa de capital misto e a 4ª maior empresa de aço plano do país (bin, 14 ago. 1986). A realidade do mercado internacional era produzir para atender a um mercado cada vez mais exigente, aos mais baixos custos possíveis. Este passou a exigir placas dentro desse padrão de produção. O consumo mundial exigia de 60 a 90% deste produto, o aço acalmado, bem como a proteção nos mercados americano e europeu levou a cst a buscar clientes no Oriente Médio e no Sudeste Asiático. Em função disso, a cst decidiu pela implantação de uma unidade de lingotamento contínuo, com capacidade de produção de 2 milhões t/a, a partir de 1990. Isso só ocorreria, no entanto, após a privatização. A opção de a cst não utilizar o lingotamento contínuo desde o início de sua operação deveu-se ao fato de a empresa ter sido criada para atender a demanda dos sócios e estes utilizavam placas de diversos tamanhos. A técnica de lingotamento contínuo era nova e o mercado consumia somente 20% desse produto, daí a opção pelo sistema convencional de lingotamento/laminador desbastador. Diante da nova exigência do mercado, a cst decidiu pela produção de um aço de melhor qualidade, com maior valor agregado (aço acalmado) e menos custos, como explica João Chiabi: Para a gente fazer um aço acalmado, a gente pegava 100 kg de aço líquido, saía lá na frente, com 70 kg de placa acabada e aprovada. Perdíamos 30% que, depois, era recirculada [...]. Nós saímos de uma fase em que o nosso rendimento líquido era de 70% e passamos para uma fase de 96%. O avanço era muito grande (duarte; valle, 23 jan. 2004).
Em 1987, os sócios aprovaram o estudo de pré-viabilidade para duplicação da capacidade de produção da usina até 1992, de 3 para 6,2 milhões de t/ano com diversificação do produto através de um Laminador de Tiras a Quente (ltq). Caso a cst não fizesse este investimento tecnológico, poderia perder os mercados já conquistados e/ou ter que praticar preços em níveis inferiores aos do mercado (cst, Relatório Anual da Administração, 1987). Como conseqüência do Plano Cruzado, a conjuntura econômica do país era de deflação de preços. Em conseqüência disso, o resultado econômico líquido de 1987 foi pior comparado ao de 1986, quando os efeitos inflacionários e a influência do Programa de Estabilização Econômica foram favoráveis à cst. O cenário econômico nacional 71
influenciou as diversas atividades administrativas da cst. Com a implementação do Plano do Saneamento do Sistema Siderbrás, houve redução dos juros sobre as dívidas, que foram saneadas, assunção das dívidas por empréstimos e financiamentos para o aumento de capital (cst, Relatório Anual da Administração, 1987). Em 1988, a cst iniciaria as atividades de implantação de sua Fase II, que traria a diversificação da linha de produção a um mercado receptivo. O processo seria mais do que a duplicação de sua capacidade de produção, mas a agregação de tecnologias avançadas e emergentes, provocando o desenvolvimento da região da Grande Vitória e do Espírito Santo, com conseqüência no aumento da arrecadação de impostos, da criação de novos empregos e da ampliação do pólo industrial. Na Fase II, a cst buscava a melhor tecnologia disponível quanto a equipamento de proteção ambiental, para garantir o efetivo controle da poluição, num investimento de 250 milhões de dólares. É o que afirma Antônio Lima Filho, empregado da cst desde 1983, atualmente aposentado: Tudo isso preparou a usina para ser uma usina que pudesse, realmente, ter perspectiva de resultados financeiros, porque, pelo volume de endividamento que havia sido contratado, pelas condições de financiamento de moedas, tendo só um produto de pouco valor agregado, que é a placa, para um mercado que ainda estava nascendo [...] isso contrapunha a necessidade de ter um resultado operacional que fosse suficiente para cobrir, também, os altos encargos financeiros dos altos investimentos que foram tomados (lima filho, 02 mar. 2004).
José Moraes, médico e político capixaba, assumiu a presidência da cst, após Arthur Carlos Gerhardt Santos, em 17/05/1988, ficando na presidência até abril de 1990, quando foi substituído por Guilherme César Sarcinelli. Em novembro de 1988, deu entrevista publicada no suplemento de A Gazeta comemorativo aos cinco anos de produção da cst, em que dizia ser a duplicação da cst uma das prioridades do governo federal. Além dos sócios japoneses e italianos, cuja participação acionária na cst tinha caído para 10,8%, via a perspectiva da participação de um grupo argentino (Propulsora) nos investimentos de ampliação da cst. José Moraes, que fora Vicegovernador do Espírito Santo no governo Gerson Camata (1983-1986), destacou, em sua fala, a perspectiva de arrecadação de us$ 90 milhões de icm por ano, para o Espírito Santo, com o aumento da produção da cst. Segundo ele: Da atual produção de 3 milhões de toneladas, apenas 15% deste total se destinam ao mercado interno. São produtos semi-acabados com valores baixos, que ainda representam muito pouco em termos de benefícios diretos para o Espírito Santo (A Gazeta, 30 nov. 1988).
As metas para a Fase II eram: implantar um Laminador de Tiras a Quente, dotado da mais moderna tecnologia; instalar uma máquina de Lingotamento Contínuo com capacidade de processar 2.300.000 t/a; ampliar o abastecimento da Coqueria de 850 t/a para 1.700 t/a e a capacidade do pátio de estocagem; implantar três novas baterias de fornos de coque e um terceiro convertedor na Aciaria, com capacidade de 280 toneladas de aço líquido por corrida; ampliar o pátio de minério n. 3 e construir dois novos pátios. Com isso, a cst objetivava assegurar uma capacidade de produção de 6.200.000 t/a de placas acabadas, os laminados a quente. A Resolução, 210/88 do Consider deu prioridade à implementação do projeto de expansão da cst (cst, Projeto Fase II, 1988). No entanto, tais metas foram postergadas até a década seguinte. 72
Em 1988, houve um aquecimento no setor mundial de aço. O Brasil tornou-se o 6º maior produtor de aço do mundo, com 24,6 milhões de toneladas, superando a Itália. A cst tornou-se a maior exportadora do país, conquistando os mercados da Grécia e do Canadá, apresentando um lucro líquido de us$ 37,3 milhões, insuficiente, no entanto, para remunerar, adequadamente, os investimentos feitos por seus acionistas. O ano de 1988 foi marcado por turbulências e dificuldades para o desenvolvimento da atividade empresarial. A nova Constituição Brasileira elevou os encargos sociais e fiscais, agravou-se o processo inflacionário com a alta dos preços. Para estancar a inflação, o governo tomou severas medidas de controle fiscal, promoveu cortes nos gastos públicos e desenvolveu uma política salarial restritiva, que implicaram o desaquecimento do mercado interno e a deflagração de movimentos grevistas. A cst teve paralisadas as suas operações por 22 dias, face à greve de seus empregados, com o abafamento do Alto-forno e o impedimento de pessoal para reoperá-lo, começando a perder a parte térmica. Masaharu Yamano, responsável pela manutenção do Altoforno, na época, assim relata esse período crítico: No final de 1988, começou, de repente, a greve de 22 dias, que anulou as festas de Natal e Ano Novo. Durante a greve, mantendo negociação com os grevistas, precisávamos manter aceso o Alto-forno e funcionando alguns equipamentos e as baterias de coque. Feitos o abafamento e a manutenção do Alto-forno e regeneradores, após a greve, houve muita dificuldade de reinício do sopro (yamano, 20 jan. 2004).
Segundo Jackson Chiabi Duarte, Diretor Industrial, os gerentes não estavam preparados para enfrentar uma situação dessas e foi necessário “treinar gerentes e reconquistar a confiança dos empregados, já que muitos estavam do lado do sindicato” (duarte, 12 mar. 2004). Ainda em 1988, a cst foi incluída na relação de empresas privatizáveis (cst, Relatório Anual da Administração, 1988). No plano mundial, viu-se a recuperação da produtividade da siderurgia norteamericana, uma recuperação do preço do aço no mercado externo e a manutenção do protecionismo dos eua e da Europa. A cst aproveitou-se para voltar ao mercado exterior favorável ao Brasil, por este ter retomado o pagamento do serviço da dívida externa (cst, Relatório Anual da Administração, 1988). Foi feita a assinatura de um programa de Integração e Cooperação Econômica entre o Brasil e a Argentina. A cst e a Propulsora Siderúrgica assinaram uma parceria para a construção do ltq. A Propulsora participaria do capital acionário da cst e exportaria, para o Brasil, briquetes de ferro-esponja, enquanto a cst exportaria para a Argentina, 500 t/a de bobinas a quente, a serem produzidas com a implantação da Fase II (cst, Estudos de Viabilidade Fase II, 1988). O ano de 1988 terminou com o fracasso na política de controle inflacionário, excelente saldo na balança comercial e boa utilização da capacidade industrial. Por outro lado, houve especulação generalizada, baixos investimentos e expectativa de hiper-inflação. Apesar disso, o estudo de viabilidade da Fase II mostrou o fluxo de caixa da cst em relações normais e deu sinal favorável para a execução das obras de expansão, pois a cst tinha condições de arcar com o projeto, mesmo em fase adversa (cst, Relatório Anual da Administração, 1988). 73
Lingotamento de aço para laminação convencional de placas. Acervo CST.
Em 1989, a cst foi a terceira maior exportadora brasileira, com recorde de embarque mensal de placas: 336.712 toneladas. O mercado de placa esteve fraco no 1º semestre pela alta concorrência entre os laminados europeus e pelo Lingotamento Contínuo, projetando-se uma melhoria para o segundo semestre com a entrada em operação do ltq. O único mercado em potencial era a China. Em conseqüência, os sócios decidiram pela redução das parcelas de “obrigatoriedade” dos sócios de 960.000 para 600.000 t. A Finsider entendeu que a parceria chegava ao fim e propôs uma nova solução: cada parte informaria, com antecedência, sua necessidade de consumo para o ano seguinte, e a cst efetuaria os ajustes na produção, no decorrer do ano de 1990 (cst, Relatório Anual da Administração, 1989). Em setembro de 1989, o Diretor-Presidente da cst, José Moraes, anunciava ter o Presidente da República José Sarney autorizado o projeto de expansão da cst, com investimentos globais de us$ 3,1 bilhões, o que permitiria a duplicação de 3 milhões de t/ano de placas de aço. Segundo ele, até aquele momento, apenas us$ 1,5 bilhão do montante necessário tinha sido viabilizado, dos quais somente us$ 33 milhões eram dos sócios estrangeiros, Finsider e Kawasaki. Voltou a citar o grupo argentino Propulsora como uma das futuras investidoras nas cst, com us$ 100 milhões. Com relação à privatização, afirmou que ela não aconteceria, naquele momento, e dava como certa a posição do Congresso Nacional contra a transferência de controle acionário da cst para a iniciativa privada. Ele acreditava que, a partir da duplicação, seria mais fácil abrir o capital da siderúrgica para novos acionistas porque o investimento elevaria a rentabilidade. Afirmou: “Mesmo que o Governo quisesse se desfazer da empresa no momento, dificilmente a poupança privada nacional iria investir na cst, preferindo manter os recursos no mercado financeiro onde o retorno é bem maior” (A Gazeta, p. 09, 12 set. 1989). Em 1989, a Cofavi foi privatizada, processo iniciado desde 1987, com a construção da 2ª Aciaria, dando início ao processo de privatização das siderúrgicas brasileiras, que alcançaria a cst, em 1992, e a cvrd, em 1997. A nova política econômica adotada pelos governos pós-militares passou a ditar outras regras sócio-político-econômicas para o país. 74
TRANSIÇÃO: DE EMPRESA ESTATAL À PRIVATIZAÇÃO A década de 1990 iniciou-se com uma grave crise política e econômica. Houve uma drástica queda da demanda no mercado internacional de placas, o que influenciou o volume e o preço das placas vendidas pela cst, ocasionando a redução da produção da usina. É o que afirma Anselmo Pereira dos Santos, empregado da cst desde 1982: Esse período foi crítico. Ficou aquela dupla esperança: ou a gente fica, ou a gente sai [...]. Mesmo com o trabalho que a gente estava exercendo na época, se destacando e tal, mas a gente nunca tem aquela segurança dentro do emprego, que a gente espera. Está na lembrança de todo mundo, de quem ficou e de quem saiu (santos, 11 fev. 2004).
A esse fato, acresceram-se: a queda do incentivo fiscal de “crédito-prêmio” às exportações; o aumento da carga tributária com a incidência do icms sobre as exportações de placas; defasagem cambial; problemas no Alto-forno, laminador e casa de força; suspensão dos estudos de expansão da usina e a escolha da cst como uma das primeiras empresas estatais a serem privatizadas pelo governo federal (cst, Relatório Anual da Administração, 1990). Com a ascensão de Fernando Collor de Mello a Presidente do Brasil, houve a liquidação da Siderbrás, em seu programa nacional de desestatização, e o cancelamento do Protocolo N13, firmado com a Argentina, que previa a construção de uma unidade de ltq na cst, com capital argentino (cst, Relatório Anual da Administração, 1990). Iniciou-se a implantação da política de desligamento voluntário, que possibilitou à cst demitir 931 empregados, bem como promover o enxugamento da estrutura administrativa, eliminando-se 258 cargos de chefia com a racionalização das funções. O quadro de pessoal próprio reduziu-se em 9,7% e o de terceiros em 40,1% (cst, Relatório Anual da Administração, 1990). Em 1990, o faturamento da empresa foi cerca de 45% menor que em 1989. Das 3 milhões de placas previstas, produziram-se, apenas, 1.762.055 t, sendo exportadas 94% da produção. Apesar das adversidades, a cst fechou o exercício de 1990 sem recorrer à captação de recursos de terceiros ou injeção de capital por parte dos sócios (cst, Relatório Anual da Administração, 1990). O Programa Nacional de Desestatização (pnd) do Governo Collor, criado pela Medida Provisória n. 155 e sancionado pela Lei 8031, em 12/04/1990, estabeleceu a lista de empresas a serem privatizadas: Usiminas, Acesita, csn, Cosipa, Açominas e cst. Esta foi a segunda a ser privatizada, logo após a Usiminas. O pnd fazia parte de uma política macroeconômica mais ampla, peça fundamental no Plano de Estabilização Econômica (moreira, 2000, p. 142-144). Em maio de 1990, houve uma crise no mercado mundial de placas. Tal como a Siderbrás, a Finsider, sócia-italiana da cst, foi liquidada, sendo comprada pela Ilva. A cst comunicou, interna e externamente, suas dificuldades devido à queda da venda do aço, à perda de incentivos fiscais e a outras adversidades, como o primeiro acidente do Alto-forno. A Empresa pediu ajuda, colaboração e esforços de todos. O trabalho de conserto do Alto-forno contou com a disposição e a garra de vários 75
empregados e durou 3 dias. Em julho, mensagem dirigida a todos os empregados da cst incentivava o Plano de Desligamento Voluntário, até o mês seguinte. Ainda em 1990, o Alto-forno sofreu um segundo acidente, provocando perda de faturamento e redução da produção (cst, Relatório Anual da Administração, 1990). A cst foi incluída no Programa Nacional de Desestatização, em 16/08/1990, pelo Decreto n. 99.494 e, em dezembro de 1990, iniciaram-se os levantamentos necessários ao processo de privatização (guimarães, 1995). Adilson Martinelli, empregado da cst desde 1977, recorda aquele tempo com detalhes, já que participou da discussão dos grandes projetos da empresa junto à Siderbrás, desde o seu período estatal. Assim relata: Naquela época, tudo era estatal; então, a gente estava projetando uma empresa, a longo prazo, para justificar quais os investimentos que deveriam ser feitos na cst, Cosipa, Açominas etc. Foi um trabalho muito interessante, só que não prosperou, porque, ao longo do tempo, começou-se a perceber problemas de recursos, as empresas estavam endividadas, inchadas; todas, praticamente, geradoras de prejuízo. [...] Em 1990, quando o Presidente Collor assumiu, ele já entrou com uma filosofia de acabar com as estatais, privatização, transferência para a iniciativa privada, aí, então, aquele projeto todinho acabou valendo, porque tinha toda uma filosofia de saneamento do grupo Siderbrás, e esse saneamento foi todo ele desenvolvido entre 1990 e 1991. Praticamente se viabilizou todo aquele endividamento que tinha; assumiu capital, reduziu patrimônio líquido, cancelaram-se prejuízos, ou seja, fizeram todo um processo de saneamento e as empresas ficaram preparadas para serem privatizadas (martinelli, 21 jan. 2004).
Em 1991, a cst implantou a Matriz Sistêmica Operacional (mso), reduzindo 560 ocupações, de 1.855 para 1.295; 4 classes salariais; de 6.224 empregados, 5.984 foram enquadrados nas novas ocupações. Dos 256 excedentes, 104 foram reaproveitados em remanejamentos (cst, Relatório Anual da Administração, 1991). Depois da greve de dezembro de 1988, a cst teve uma outra greve, em maio de 1991, em que o Sindicato entrou na usina e ocupou o lugar. Kátia Cozendey da Silva, que trabalhou no Departamento de Recursos Humanos até 1996, atuava em treinamento gerencial e se lembra do trabalho desenvolvido com os gerentes para atuar diante dessas novas situações: E aí sentiu-se a necessidade de um trabalho com os gerentes e alguns especialistas, para preparálos para lidar com essas situações, para identificar um possível movimento antes, como se fosse um trabalho sindical. O que se via era que o sindicato estava muito bem preparado. E nós, a empresa, os gerentes, como é que estávamos? (silva, 29 jan. 2004).
O próprio Relatório de Administração da Empresa, biênio 1988/89, destaca, no capítulo “Recursos Humanos”, o aprimoramento das relações trabalhistas da Empresa com os empregados, para precaver-se contra greves futuras, da seguinte forma: Após ter-se vivido a primeira greve da história da Empresa, no final de 1988, desenvolveram-se importantes ações no sentido de estruturar a área de Recursos Humanos, de preparação do corpo gerencial, e de aperfeiçoamento da comunicação empresarial, obtendo-se, ao final de 1989, um acordo salarial coletivo com o sindicato metalúrgico, marcado, sobretudo, pelo profissionalismo (cst, Desempenho da Empresa, 1988-89, p. 04). 76
Em agosto de 1991, o Congresso Nacional considerou como fato importante para a cst o fluxo de caixa auto-sustentável e, não, o lucro. Para a privatização, o capital estrangeiro poderia participar com até 40% do capital restante e ilimitada para ações preferenciais. O acordo dos acionistas perderia seu valor com a privatização, podendo ser reescrito, ficando os novos acionistas sujeitos à adesão. Os prospectos a serem preparados, relativos à venda da cst, deveriam considerar as preocupações da Ilva e da ksc. A Ilva sugeriu que o processo de privatização fosse o mais rápido possível, para não comprometer as vendas da empresa e o seu futuro (cst, Desempenho da Empresa, 1988-89). Entre empregados próprios e terceirizados, a cst tinha 9.707, em 31/03/1992. Projetou-se reduzir o quadro, naquele ano, para 5.361, no 2º semestre. Rosa Maria S. Bernardes, Secretária da Diretoria Industrial, afirma que esse foi o pior período por que passou na cst, pelas seguintes razões: Eu via, na porta da minha sala, pessoas praticamente desmaiando, pedindo pelo amor de Deus, para não serem mandadas embora, pessoas com filhos excepcionais, pessoas com esposas doentes, dependentes que precisavam do plano de saúde. [...] Foi um trauma muito grande, eu fiquei sem voz quase dois meses. As pessoas pedindo pra você e você sem saber o que fazer (bernardes, 20 jan. 2004).
Álvaro José Ferreira Ribeiro, engenheiro eletricista e empregado da cst desde 1981, era gerente, na época da privatização, e também fala daqueles tempos: Nós tivemos duas mil demissões no dia 01/09/1992. Na verdade, houve uma mudança e a empresa sentiu que tinha que se reestruturar. Em compensação, muitas das coisas passaram a ser mais ágeis e outras foram revistas. […] Com certeza, cortaram o rabo do cachorro com uma cortada só; para cicatrizar, demora um determinado tempo (ribeiro, 29 jan. 2004).
Conforme Airton Flávio Diesel, no período de privatização: A cst, que tinha um quadro de pessoal na ordem de 6.200 pessoas, reduziu para 4.200. E essas 4.200 pessoas continuaram produzindo 3 milhões de toneladas de aço, na mesma proporção. Quando a cst tomou a decisão de investir em tecnologia, ela também tomou a decisão de investir em capacitação de seus recursos humanos, para que, o seu efetivo, os seus recursos humanos pudessem operar aquelas tecnologias e tirar delas o maior proveito, aumentando a produtividade dos recursos humanos da cst (diesel, 06 jan. 2004).
O prazo para a liquidação da Siderbrás era 22/05/1992. Sua dívida de us$ 9 bilhões deveria ser assumida pela União Federal. O país entrou em crise política, com a instauração de uma Comissão Parlamentar de Inquérito contra o Presidente Collor, que culminou em seu impedimento de governar, no dia 29/12/1992. Foi no bojo dessa crise política, uma recessão e inflação assustadoras, produção industrial em queda, contas públicas em descalabro, que a cst foi privatizada, no dia 16/07/1992. Parecia que o mito de Vulcano, a crença bíblica da Terra de Canaã e o mito tupi-guarani da Terra sem Males, no Espírito Santo, haviam chegado ao fim. Como na música popular, perguntava-se: “O que será do amanhã, o meu destino como vai ser?”
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PÓS-PRIVATIZAÇÃO (1992-2002): UM NOVO RECOMEÇAR Claro em pensar, e claro no sentir, É claro no querer; Indiferente ao que há em conseguir Que seja só obter; Dúplice dono, sem me dividir, De dever e de ser (Fernando Pessoa)
1ª FASE: OS DONOS-BANQUEIROS Na privatização da cst, houve um impasse relacionado aos direitos dos sócios estrangeiros, que provocou um atraso de 23 meses no processo. Havia uma cláusula no contrato entre os três acionistas (Siderbrás, Kawasaki e Finsider) que garantia a prioridade de compra para os demais acionistas, caso um deles resolvesse sair da sociedade. Essa garantia, no entanto, confrontava com a legislação do programa de privatização, que previa um teto máximo de 40% para a participação do capital estrangeiro. A saída encontrada foi a de os sócios estrangeiros terem o direito de preferência até o limite máximo de 40% do capital votante da cst, a ser exercido depois de conhecidos os novos acionistas majoritários, possuindo, também, o direito de retirada do empreendimento (morandi, 1997, p. 127-8). O estudo de avaliação da cst resultou em um valor mínimo de us$ 635 milhões, dos quais, deduzindo-se o valor de endividamento da empresa da ordem de us$ 298 milhões, chegou-se ao valor líquido de us$ 337 milhões. O preço mínimo estabelecido, conforme recomendação dos consultores, foi de us$ 400 milhões. Como apenas as ações da União foram objeto de alienação (89% do capital total), seu preço mínimo foi de us$ 334,8 milhões (morandi, 1997, p. 130). Conforme Morandi, Na cst, o processo de venda foi estruturado em três momentos: a) oferta aos empregados, consistindo na alienação de 12,4% do capital total aos empregados; b) primeiro leilão, consistindo na alienação de 70,9% do capital total e 51,0% do capital votante, restrita ao capital nacional; c) segundo leilão, consistindo na venda de 14,7% do capital votante, aberto aos capitais nacional e estrangeiro, e onde se admitia a possibilidade de exercício do direito de preferência, detido pelos acionistas minoritários (morandi, 1997, p. 132-3).
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Os leilões ocorreram no dia 16/07/1992, na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro, e os principais adquirentes das ações da cst foram: Grupo Bozano-Simonsen, 29,59%; Unibanco, 21,81%; cvrd, 19,4%. O Clube de Investimentos dos Empregados da cst (ciest) ficou com 12,22% das ações (abe, 1994). Wilson Nélio Brumer, atual Secretário de Desenvolvimento do Estado de Minas Gerais, foi o Presidente da cvrd de 1990 a 1992, período em que se preparava a cst para a privatização. Segundo ele, A Vale tinha, na época, cerca de us$ 550 milhões a receber de empresas do sistema Siderbrás [...] e chegamos à conclusão de que, ao invés de continuar com aqueles papéis, com aqueles títulos do governo, nós deveríamos partir para termos, na Vale, ativos reais e selecionamos duas empresas nas quais a Vale deveria ter uma participação, a Usiminas e a cst [...] porque eram empresas localizadas na logística da Vale; no caso da cst, o Porto de Tubarão. A Vale era a grande fornecedora de minério para a cst e esta era uma grande fornecedora da California Steel, empresa na qual a Vale tinha participação; além disto, participavam do capital da cst acionistas japoneses e italianos, que eram, também, clientes da Vale no exterior (brumer, 23 abr. 2004).
João Bosco Pinheiro de Almeida e Geraldo Teodolindo da Cunha, ex-Diretores do ciest, relatam que o ciest foi constituído durante o processo de privatização, em que o governo federal fez uma oferta de ações aos empregados da cst, com defasagem de 70% do valor, de maneira que os empregados tivessem 10% da participação acionária da Companhia. Além do deságio, houve um período de carência de dois anos para o pagamento. Com isso, os empregados tiveram participação acionária na cst e representação no Conselho da Empresa (almeida; cunha, 28 jan. 2004). A compra das ações pelos empregados foi financiada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (bndes), com o apoio da Fundação de Seguridade Social dos Empregados da cst (funssest). A criação do ciest foi em 23/04/1992 e, um ano e quatro meses após a privatização, a cst abriu o capital, o que permitiu aos empregados venderem as ações e pagarem as dívidas contraídas com a funssest. Segundo os ex-Diretores, Graças a Deus, hoje já passados [...] doze anos [...] ninguém perdeu dinheiro. O que aconteceu é que uns podem ter ganhado mais do que os outros, mas ninguém perdeu e, até hoje, o ciest está aí. Inclusive quem não se financiou pela Fundação também não perdeu, ganhou (almeida, 28 jan. 2004).
O ciest tem três Diretores, dos quais um é eleito para participar do Conselho de Administração da cst, que elege os Diretores da empresa, e que promove o relacionamento com os sócios, com os empregados, com a comunidade, com o cliente e com o fornecedor. Segundo os representantes dos empregados, na época da privatização, o desafio foi sair de uma visão técnica, de engenheiro, para uma visão mais estratégica, de visão da empresa. Dentre os conselheiros, na ocasião, havia interesses diversos, tanto na discussão da abertura do capital quanto na dos investimentos a serem feitos. Os empregados queriam, logo, abrir o capital para vender as suas ações, mas os banqueiros sabiam que elas valorizariam enquanto os japoneses eram indiferentes.
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O posicionamento dos banqueiros do Unibanco e Bozano era bem claro. Eles projetaram o período de quatro anos em que estariam à frente da cst, fizeram os investimentos necessários para que a empresa desse os lucros previstos e venderam suas ações, quando obtiveram a margem de lucro prevista. Os empregados tiveram de aprender a mentalidade do banqueiro: “A empresa tem que ter lucro, a cabeça do Conselho é lucro [...] e esse lucro pode ser através de dividendos ou da valorização das ações, mas o sócio quer lucro”, disse João Bosco Pinheiro de Almeida, ex-Diretor do ciest e gerente do Departamento de Informática (almeida, 28 fev. 2004). Israel Vainboim, atual Presidente da holding do Unibanco e que foi o segundo Presidente da cst no período pós-privatização, afirma o que pensaram os banqueiros sobre o negócio feito: A Siderúrgica de Tubarão foi privatizada pelo preço mínimo, era considerada um elefante branco. [...] Compramos um negócio que parecia um elefante branco, uma fábrica inacabada; ninguém quis comprar; o vendedor está feliz, os dois acionistas que já estão lá, desde o início, não quiseram aportar nada e, quando nós chegamos lá, tinha, mais ou menos, nove meses de estoque no pátio e havia um dos piores preços da história de placas (vainboim, 28 fev. 2004).
Em seu depoimento, Vainboim revela que, na verdade, As instituições financeiras foram compelidas a entrar no processo de privatização, porque o Presidente Collor, que idealizou o programa de privatização, tinha a preocupação de que não houvesse compradores. [...] Ele fez o Banco Central soltar uma circularzinha em que os bancos tinham de comprar 8% do seu patrimônio em certificados de privatização, que tinham uma renda de mercado por 2 anos, mas, depois desse período, eles iam ficando biodegradáveis, perdiam o rendimento de 1% da inflação ao mês, chegando, ao fim, a render, depois de 40 meses, um juro pequeno e 60% da correção monetária. Então, os bancos não podiam se dar ao luxo de ficar com os certificados e, ao longo de 2 anos, a gente precisava trocar esses certificados por ações de companhia e se envolver no processo de reestruturação das empresas (vainboim, 28 fev. 2004).
Israel Vainboim afirma, também, que, nessa época, é que apareceu o José Armando F. Campos, que era Gerente-geral de siderurgia da cvrd e que aceitou ser o Vicepresidene da cst naquele difícil período de reestruturação da empresa. Assim, ficaram no Conselho de Administração da cst: Carlos Leone Rodrigues Siqueira, representante do Bozano-Simonsen; Júlio Bozano, que se tornou o Presidente do Conselho de Administração; Israel Vainboim e André Lara Rezende, representantes do Unibanco; Wilson Nélio Brumer e José Armando F. Campos, representantes da cvrd. Carlos Leone Rodrigues Siqueira, advogado, que tinha atuado em siderurgia, muitos anos, no grupo Gerdau. De início, foi contratada uma empresa de consultoria de produtividade e treinamento, a Alexander; a Diretoria foi reduzida para 4 pessoas (um Diretor Industrial, um Financeiro e de Controle, um Comercial e um Vicepresidente Executivo) e as 36 superintendências foram reduzidas para 12. Todo esse trabalho de mapeamento da empresa, dos diretores com os empregados de nível de comando, liderado por Carlos Leone, André Lara Rezende e José Armando, com o apoio da consultoria, durou cerca de 30 dias. Conclui Vainboim: “A grande virtude desses 30 dias foi a capacidade que essas pessoas tiveram de desenhar uma maneira
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de a Companhia funcionar com uma cabeça muito menor, de uma maneira muito mais simples” (vainboim, 28 fev. 2004). Carlos Leone Rodrigues Siqueira, advogado do grupo Bozano, dá a sua versão sobre a entrada dos banqueiros na compra da cst: Os banqueiros tinham recebido um grande calote do governo federal, pelo menos em dois tipos de créditos, os da Sunaman e os da própria Siderbrás. O governo tinha deixado de pagar esses créditos e chamou-se isso de ‘moeda podre’, o que é uma mentira, pois foram moedas entregues efetivamente ao governo, só que o governo deixou de pagar, havia ali um calote e uma impossibilidade de receber esses valores. Então imaginou-se que era possível [ fazer] alguma coisa para se chegar à aquisição dessas empresas; daí a presença de bancos, porque detinham esses créditos e esses títulos. [...] No momento da compra da cst, o Bozano já não mais detinha moeda de privatização, porque tinha aplicado todos os seus créditos de moeda de privatização na compra da Usiminas, mas achou-se que era uma boa oportunidade. Quando se comprou a cst, o Eduardo Modiano, que era o Presidente do bndes e que bateu o martelo na mesa, disse: “O governo livrouse de um grande abacaxi”. A cst era vista como um patinho feio, era realmente um ser diferente, uma unidade diferente, porque não se dedicava a produzir aço, ela se limitava a solidificar o aço (siqueira, 16 abr. 2004).
Wilson Nélio Brumer, Presidente da cvrd, na ocasião, avalia aquele momento, afirmando: Quando avaliamos a privatização da cst, é importante avaliarmos o momento econômico do Brasil. Estávamos falando de um país que vivia em uma inflação muito alta, havia um certo desconforto e desconfiança dos investidores estrangeiros em investir no Brasil. O setor siderúrgico mundial passava por uma fase muito difícil, não havia grandes interesses na privatização, principalmente da cst [...] pois ela tinha muitos investimentos a serem realizados, tinha um número excessivo de empregados e quem entrasse teria que fazer um processo grande de racionalização da empresa. A cst era uma empresa que só produzia placas; enfim, não era vista pelos investidores como uma empresa completa, sob a ótica siderúrgica. [...] Em vários momentos, a privatização da cst correu grandes riscos de não acontecer (brumer, 23 abr. 2004).
No entanto, logo após a compra, assim que os sócios japoneses e italianos decidiram por não ampliar o controle acionário da cst, todos os Diretores e principais gerentes foram chamados pelos novos sócios para uma reunião no Rio de Janeiro, onde foram sabatinados. No terceiro dia, recorda Carlos Leone Rodrigues Siqueira, representante do grupo Bozano, ele se dirigiu ao Júlio Bozano e lhe disse: “Nós compramos uma pérola, uma jóia bruta; está faltando só lapidar, porque esta empresa é extraordinária. É a melhor empresa de que eu já tomei conhecimento na vida” (siqueira, 16 abr. 2004). Manoel Antônio Barreto Sansevero Martins, empregado da cst desde 1981, afirmou sobre a repercussão desse momento na vida dos funcionários: O grande salto que a cst deu, realmente, foi com a privatização, a partir de 1992. De lá para cá, a cst nunca parou de crescer. Começaram os investimentos na empresa. Um golpe muito forte foi a redução de pessoal; ficou comprovado que tinha muita gente, em excesso; a própria prática demonstrou isso. A redução funcionou melhor, porque o homem também cria problema. [...] Isso vale muito para a manutenção, talvez até mais do que para a operação (martins, 02 fev. 2004). 82
OS INVESTIMENTOS PÓS-PRIVATIZAÇÃO (FASE I) Carlos Alberto Puck, Técnico metalúrgico, empregado da cst desde 1982, assim se recorda daqueles dias: Na época da estatal, a empresa ficou sucateada. Não cresceu nada. [...] Depois da privatização, você não via um horizonte para o mercado de placas, com um laminador convencional. E se ele falhasse? Não tínhamos produto nenhum para vender mais. [...] A sobrevivência da empresa estava comprometida, sob este aspecto: se ficar sem o laminador por uma semana, um mês, dois, não tínhamos placas pra vender, não teríamos dinheiro. Quem tem só um Alto-forno, se ele parasse, por exemplo, não teria nada, então (puck, 17 mar. 2004).
Na primeira fase pós-privatização (1993-1995), foi estabelecido o primeiro plano de investimentos, que consistia, principalmente, na preparação da reforma do Altoforno I e na implantação da primeira máquina de Lingotamento Contínuo, Refino Secundário e Injeção de Finos de Carvão – pci, além de vários projetos de controle ambiental e de melhorias operacionais. Nessa fase, investiram-se recursos da ordem de us$ 373 milhões (cst, Relatório Anual da Administração, 1996, p. 52). Todos os empregados são unânimes na afirmação da grande melhoria ocorrida na empresa, em sua passagem de estatal para privada. Acentuam a agilidade nos processos, a desburocratização, a preocupação com a qualidade e o crescimento técnico-profissional e cultural dos empregados. Veja-se o depoimento de Vander Luiz da Silva: Quando privatizou, podia-se comprar as coisas com rapidez. [...] Foi computador para todo mundo, correio eletrônico; até a privatização, eram usadas CI (Comunicação Interna) e fi (Folha de Informação). O gerente ficava 30 a 40% do tempo respondendo, era tudo manual, não tinha automação; quando entrou a informática, o correio eletrônico liberou os gerentes (silva, 27 jan. 2004).
Jackson Chiabi Duarte, Diretor Industrial, relata os investimentos feitos, na época: A prioridade era instalar o Lingotamento Contínuo, ou, pelo menos, atualizar, tecnologicamente, a empresa, e não era para fazer a reforma do Alto-forno. A data-limite do Alto-forno era 1994; pela avaliação que tínhamos pela operação, ele ia durar, não ia sair antes de 1996. Então, a primeira decisão que tomamos como Diretor Industrial [...] foi, de imediato, instalar o Lingotamento Contínuo. O segundo item foi atualizar, tecnologicamente, o Alto-forno, de forma a reduzir custo; implantar o pci, que é injeção de finos de carvão; as pessoas diziam que isso só poderia ser implantado com a parada do Alto-forno e nós implantamos com o forno em operação. Depois disso, implantamos a turbina de topo, para recuperar energia e dar mais estabilidade à empresa e continuávamos a exportar energia. Esta fase foi de 1994 a 1996 (duarte, 12 mar. 2004).
A máquina de Lingotamento Contínuo I entrou em operação em abril de 1995. Segundo Messias Carvalho Lemos, empregado desde 1980, Com a tecnologia de lingotamento contínuo, você pega o aço, coloca na máquina e da máquina já sai a placa pronta. Você ganha numa série de coisas: na economia de energia, na qualidade... Então, a primeira máquina de lingotamento contínuo foi o primeiro projeto da cst depois da 83
privatização, dois milhões e cem mil toneladas; na época, a cst produzia três milhões e meio, então, um milhão e pouco ainda era laminado no processo convencional. [...] Esse foi um projeto produzido praticamente pela cst, sem a interferência dos japoneses e dos italianos. [...] Então, esse foi um período muito nosso, muito Brasil, muito cst. Aí que nasceu de fato a cst (lemos, 05 jan. 2004).
Em seu primeiro ano de operação pós-privatização, a cst conseguiu melhorar a qualidade do aço produzido através do lingotamento convencional, e obteve seu primeiro lucro líquido, apesar de o preço médio de placas ter-se mantido nos mesmos patamares de 1992 (cst, Relatório Anual da Administração, 1993). Mesmo com a concorrência de países do leste europeu e da recessão na Europa e no Japão, além da instabilidade da China como grande importador, a cst vendeu toda a sua produção de placas, 3,1 milhões/toneladas, classificando-se entre os cinco maiores exportadores brasileiros (cst, Relatório Anual da Administração, 1993). Graças, também, à estabilidade operacional, a uma gestão empresarial e à política de valorização e de comprometimento dos empregados, a cst consolidou-se como siderúrgica de menor custo de fabricação de aço em todo o mundo (cst, Relatório Anual da Administração, 1993).
Estripamento de lingotes para laminação de placas. Acervo CST.
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Lingotamento contínuo de placas. Acervo CST.
Antonio Lima Filho afirmou, em seu depoimento: Quando houve o processo de privatização, a cst era considerada o ‘patinho feio’, que só dava prejuízo. De 1983 a 1991, os prejuízos, já centralizados, somavam algo da ordem de 1 bilhão de dólares. [...] Isso demonstrava que a Empresa não tinha muita chance de fazer lucro com o produto que tinha. [...] Graças à privatização, a cst pôde, efetivamente, focar as suas atividades nas efetivas possibilidades da empresa. Quer dizer, com o mesmo produto, placa, com os mesmos equipamentos, um único Alto-forno, uma única linha de produção, a Empresa saiu de um déficit econômico de um bilhão de dólares de prejuízo, no período que antecedeu a privatização, para oitocentos milhões de dólares de lucro, quando deixei a Empresa, no ano de 1999. Eu me recordo que fiz a primeira apresentação do primeiro lucro mensal ao Dr. Júlio Bozano, que era o nosso Presidente do Conselho, na época da privatização, no mês de março de 1993, passando da posição deficitária pra superavitária. [...] Eu diria que, a partir daquele mês, a empresa estava efetivamente saneada e pronta para dar os passos que, hoje, nós estamos trilhando por aqui (lima filho, 02 mar. 2004).
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Outro que destaca a importância desse período é Gustavo Humberto Fontana Pinto, Engenheiro mecânico e gerente do Departamento de Vendas: Eu acredito que, hoje, pós-privatização, e já bastante tempo após esse período, eu destaco como bastante interessante esse início junto com os banqueiros. Eles deram novo ritmo à empresa, muito mais ágil, mais dinâmica, muito mais positivo e com investimento, com novas ampliações e sempre procurando dar e acreditar nas pessoas que ficaram na cst, que podiam realizar aquilo; eles, embora comerciantes-financistas, não desconheciam ter, por trás, uma empresa-modelo; daí terem feito um excelente negócio (pinto, 20 fev. 2004).
Sobre os investimentos feitos na primeira fase pós-privatização, afirmou Israel Vainboim, Diretor do Unibanco e Presidente da cst, na época: O Jackson (Chiabi) é um Diretor Industrial com uma cabeça de homem de negócios, com uma cabeça de ganhar dinheiro, então, ele percebia onde havia os desequilíbrios dos fatores de produção e dizia: “A Aciaria é maior do que a gente produz de aço; então, a gente consegue fazer um pequeno investimento em outro Alto-forno e aumentar a produção em 50%. Se a gente fizer isso, mais o lingotamento que estava faltando fazer, a gente vai ter um retorno muito grande”. Eu acho que a gente teve muita sorte de encontrar este nível de pessoas, e o que é realmente fantástico, a implantação desse enorme ajuste foi feita com grande sucesso; e, com muita franqueza, a Companhia não sobreviveria sem esse ajuste. [...] Você estava dizendo o seguinte: ou eu faço esse ajuste e salvo a Companhia, salvando 70% dos empregados, porque, se eu quiser perpetuar tudo o que lá eu estou encontrando, não vou sobreviver e não tem dinheiro para continuar colocando ali (vainboim, 16 mar. 2004).
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Conforme o depoimento de Vainboim, também foi decisiva a atuação de José Armando F. Campos, naqueles dias: A decisão foi rápida, a implementação foi rápida e o José Armando teve uma competência extraordinária para o diálogo, sentar com as pessoas e adquirir a confiança delas. Uma das primeiras coisas que o José Armando fez foi colocar o uniforme da cst; uma segunda coisa foi fechar o restaurante da Diretoria e, no primeiro dia de trabalho, ele apareceu lá com o uniforme da Companhia, onde as coisas tinham que ser faladas às claras e as reduções tinham que acontecer e, para mim, isso foi o sucesso dessa implantação [...] Eu passei na função de Presidente, mas quem era o Presidente de fato era o José Armando (vainboim, 16 mar. 2004).
Wilson Brumer acredita que, a partir daquele momento, Criou-se um novo momento na vida da cst, que se passou a nova filosofia da empresa, que dependia, então, dela, dos empregados, dos novos sócios criarem uma nova condição para a empresa. E volto a insistir que a empresa que vemos, hoje, é uma empresa de sucesso, que tem uma perspectiva fantástica e acho que foi extremamente acertado o processo de privatização do setor siderúrgico (brumer, 23 abr. 2004).
Maerce Pires Torres de Oliveira, analista do Arquivo Central e empregada da cst desde 1984, em seu depoimento, afirmou: No tempo da cst estatal, os processos eram mais morosos, a máquina administrativa mais pesada. Quando privatizou, os donos [...] colocaram desafios para os empregados, incentivos, participações no lucro da empresa. Isso tudo fez movimentar, fez desenvolver o crescimento da empresa e, também, o nosso próprio desenvolvimento, porque a empresa investe muito em treinamento, desde o tempo estatal. Depois, melhorou mais ainda com a privatização. Melhorou tudo: a informática, as relações humanas e as ciências exatas. Enfim, tudo o que a gente precisa para trabalhar, para produzir bem (oliveira, 22 dez. 2004).
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INVESTIMENTOS NO SER HUMANO Em 1993, logo após a privatização, a cst começou a investir pesado na formação de seus empregados. Conforme Wilson Brumer, a primeira discussão da Diretoria foi que modelo de empresa se queria construir e, depois de feita a fase de ajuste, a fase dois foi de “valorizar as pessoas que ali estavam, fazendo com que fossem cada vez mais treinadas, que as pessoas tivessem participação efetiva nos resultados da empresa”. [...] “Criou-se, na cst, um clima extremamente favorável na relação capital/trabalho que, acho, prevalece até hoje” (brumer, 23 abr. 2004). Vânia Maria Silva de Miranda, empregada desde 1977, afirmou: “A cst é uma pessoa jurídica, mas o que faz a empresa andar são as pessoas e a tecnologia. [...] E chegar aonde nós chegamos, então, ela tem que investir no seu maior patrimônio, que é o ser humano, que é o seu empregado” (miranda, 08 jan. 2004). O Programa Educacional Básico (peb) foi criado com o objetivo de desenvolver ações que possibilitassem aos empregados que não tinham o Ensino Fundamental e Médio (cerca de 1200) se reciclarem nos conhecimentos básicos com o ‘padrão cst’, tais como Matemática, Português, Estatística, Eletricidade básica, Mecânica, Filosofia e Ferramentas da Qualidade Total. O Programa de Apoio à Escolarização (pae) proporcionou a todos os empregados, complementação de estudos no Ensino Fundamental e Médio. Foi feito um convênio com o sesi e, em 14/10/1993, inaugurouse a Unidade Educacional sesi/cst, com aulas ministradas dentro da cst. Alcebíades Sales Filho, empregado da cst desde 1981, é o Coordenador de Apoio à Escolarização e foi um dos responsáveis pela implementação da Escola sesi/cst. Segundo ele, foi feito um nivelamento de cerca de quatro meses e, a partir daí, colocaram-se os alunos em turmas homogêneas, já que havia alguns que não tinham contato com livros há 20 anos. “Este foi o pulo do gato do nosso projeto”, afirmou: A cst não obrigou ninguém a estudar; abrindo a escola, convidou todo mundo a estudar, mostrou para eles que era importante estudar, que a escolaridade era importante, e deixou a cargo de cada um buscar este conhecimento, para que pudesse crescer dentro da empresa e, aí, esta busca
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aumentava e tivemos, sempre, uma faixa de mil e poucos empregados a cada ano e, claro, com o passar do tempo, nos idos de 1998, a gente sentiu que já tinha formado algum nível de Ensino Médio; com isso, abriram-se vagas para empregados contratados das nossas parceiras e que estão com a gente até hoje. Uma nova fase, no ano de 2000, através de uma solicitação do setor social da empresa, começou com a abertura de vagas, também, para as esposas de empregados da cst. [...] Até hoje, além de cerca de 1.000 empregados da cst, já formamos um número considerável de empregados das contratadas e, também, das esposas. Ao todo, acredito que, até hoje, tenhamos formado, em nível de Ensino Médio, 2.100 alunos (sales filho, 12 jan. 2004).
Em seu depoimento, ainda, Alcebíades destaca a ausência de evasão pelo fato de a escola ser dentro da empresa, e afirma ter a cst renovado o contrato com o sesi só por mais um ano, até o final de 2004, já que os objetivos foram alcançados nestes onze anos que durou o convênio. Além do convênio com o sesi, a cst fez um outro com a ufes e com a Escola Técnica Federal, estabelecendo um programa de qualificação técnica pós-médio. Este previa uma carga horária de 500 horas e um público-alvo de 250 empregados com o segundo grau concluído, e o objetivo era o de fornecer-lhes a qualificação e um Diploma de Técnico, para a melhoria de seu desempenho na cst (silva, 2001, p. 58). O que pouca gente sabe é que, além de investimentos em seus empregados, a cst apóia projetos de pesquisa e de aperfeiçoamento profissional de alunos da comunidade externa. Tsutomo Morimoto, especialista da cst da área de Meio Ambiente, lembra que o cientista capixaba, com trabalho na nasa, Paulo Roberto de Souza Júnior, começou com uma bolsa de pesquisa na cst, fez o Mestrado em Engenharia Ambiental e Doutorado na Alemanha, com uma parte da bolsa patrocinada pela cst, onde desenvolveu o projeto do robô enviado a Marte (morimoto, 12 fev. 2004).
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O PLANO REAL E SUAS REPERCUSSÕES Em 1994, com o lançamento do Plano Real, o dólar desvalorizado em relação ao Real impactou, negativamente, as exportações da empresa. Apesar disso, a cst teve um lucro líquido e, pela primeira vez em sua história, houve distribuição de dividendos, após terem sido compensados os prejuízos acumulados em exercícios anteriores (cst, Relatório Anual da Administração, 1994). Nesse ano, a cst ocupou posição de destaque no setor siderúrgico brasileiro, situando-se em 3º lugar entre as maiores empresas exportadoras brasileiras, com uma produção de 3,1 milhões de toneladas de placas (cst, Relatório Anual da Administração, 1994). O mercado internacional, em 1994, esteve favorável aos produtos siderúrgicos, em razão da recuperação da economia mundial. Os principais importadores da cst foram: eua, Turquia, Coréia, Filipinas, Itália, Japão, Canadá, Taiwan, Grécia, China, Argentina, Tailândia, Venezuela e Austrália (cst, Relatório Anual da Administração, 1994). Em 1995, no primeiro ano do Plano Real, o país experimentava estabilidade econômica, permitindo possibilidade de planejamentos de longo prazo, que se efetivaram em mais investimentos no parque industrial. “Quando a empresa cresce, você cresce junto com ela. Você tem conhecimentos novos, treinamentos novos, tudo isso agrega valor à sua profissão“, afirmou Carlos Alberto Puck, empregado desde 1982 (puck, 17 mar. 2004).
Out-door de lançamento da fase 2 de expansão da CST. Acervo CST.
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À esquerda: Construção do Alto-forno II. À direita: Construção do Lingotamento Contínuo II. Acervo CST.
MAIS INVESTIMENTOS (FASE II) Messias Carvalho Lemos afirma sobre os constantes investimentos na cst: “De 1992 pra cá, não houve nenhum período que não houvesse investimentos na Empresa. Nenhum! Permanentemente, está crescendo, ou em tecnologia, ou na qualidade, ou no controle ambiental” (lemos, 05 jan. 2004). Os grupos acionistas liderados por Bozano-Simonsen e Unibanco cederam suas ações para a Companhia de Aços Especiais Itabira – Acesita e para a Kawasaki Steel Corporation que, em conjunto com a cvrd e a California Steel Ind. – csi, passaram a ter o controle acionário da cst, a partir de 30/05/1996. Israel Vainboim, representante do Grupo Unibanco e Presidente da cst, na ocasião, declara sobre a venda da cst para a Acesita: Na hora em que apareceu a decisão de vender, eu [...] que fiquei no Conselho junto com o VicePresidente do Unibanco, que está conosco até hoje, o Adalberto Schettert, ele chorou, porque nós criamos um apego tamanho à cst, porque, realmente, nós todos participamos de uma história de sucesso, seja como brasileiro, seja como administrador, seja como profissional, pelo fato de nós termos conseguido virar uma Companhia, que era considerada um elefante branco (vainboim, 16 mar. 2004).
Ele relata, ainda, que a decisão de vender a cst deveu-se à orientação de um consultor, um “ex-citibanker aposentado, um velhinho austríaco, que conhecia todas as plantas siderúrgicas do mundo inteiro, que tinha ajudado o Citibank a financiar esses projetos no mundo todo”. Ele fez um relatório de 10 a 15 páginas sobre a cst, cuja primeira folha dizia: A cst é o produtor de ferro líquido de menor custo do mundo, tem a melhor localização para a fabricação de placas do mundo, ela está à beira de um porto de calado fundo, que permite que navios muito econômicos transportem o produto. Ela está no fim de uma ferrovia de altíssima qualidade, que traz o minério-de-ferro de mais alta concentração do mundo, de um dos maiores fornecedores de minério-de-ferro do mundo. Se alguém tiver que desenhar no mundo uma localização para essa fábrica, tinha que colocar em Tubarão (vainboim, 16 mar. 2004).
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No mesmo dia em que Arthur D. Little fez a apresentação que recomendava fazer o investimento da verticalização, o consultor austríaco disse a Israel Vainboim, em particular: O lucro que você tinha que ter feito nesse investimento já passou. Daqui pra frente, a cada 3 ou 5 anos, eles vão apresentar um projeto de investir us$ 1 bilhão, porque a cst tem muita depreciação, tem muito cashflow, e ela tem que continuar crescendo, para ficar com o mercado, e esses rendimentos rendem, na melhor das hipóteses, 12% ao ano (vainboim, 16 mar. 2004).
Apoiado nesses argumentos, foi tomada a decisão de se vender as ações da cst, o que ocorreu em 30 de maio de 1996. Em seu programa de investimentos, a cst deu prosseguimento aos estudos técnicos e econômicos, visando à implantação de um Laminador de Tiras a Quente - ltq, concluindo pela sua viabilidade e visando a colocá-lo em operação em 2000. Iniciaramse as obras para a implantação do segundo Alto-forno e do segundo Lingotamento Contínuo, ambos com início de operação previsto para 1998. Tais investimentos, no valor de us$ 900 milhões, melhorariam as condições da Companhia para competir, com vantagem, no mercado internacional, em função de sua elevada taxa de produtividade e dos custos bem abaixo das empresas siderúrgicas similares (cst, Relatório Anual da Administração, 1996, p. 3). Israel Vainboim também declarou sobre esse período: Eu tive a oportunidade de participar da inauguração, tanto do Lingotamento como do Alto-forno, e veio o grande desafio da outra fase, em que a gente pensava em fazer a verticalização, de realmente fazer o ltq e entrar no mercado brasileiro de produto final. Nós, que só estivemos produzindo placas, achávamos que deveríamos enobrecer o produto para adicionar o valor agregado e, nessa altura, a gente teve a colaboração de uma empresa de consultoria internacional, a Arthur D. Little, que fez um excelente trabalho de mapear o que seria de novo o crescimento nacional e como é que deveríamos nos posicionar. [...] Era um momento muito sério, pois você tinha que tomar decisões que estavam mudando a Companhia (vainboim, 16 mar. 2004).
Em busca de excelência em todas as atividades, a cst pôs em prática um agressivo plano de capacitação de todos os empregados, em todos os níveis. Em 1996, a cst estabeleceu, como meta, que 50% do seu quadro de pessoal, com nível superior, tivesse curso de especialização em nível de pós-graduação (cst, Relatório Anual da Administração, 1996). Na área de prevenção de acidentes de trabalho e, graças à melhoria das condições de segurança dos equipamentos e da qualidade do ambiente de trabalho, o número de acidentes caiu de 115, em 1991, para 15, em 1996 (três, com perda de tempo – cpt e doze, sem perda de tempo – spt) 20 (cst, Relatório Anual da Administração, 1996). Sobre as transformações ocorridas na cst, na fase pós-privatização, é importante o depoimento de Diamantino Alberto de Carvalho, empregado da cst desde 1983: A principal diferença entre o seu trabalho, há vinte cinco anos, e hoje, está na questão tecnológica. Antigamente, os procedimentos financeiros eram realizados com recursos muito mais arcaicos, além de demandar muito mais mão-de-obra (carvalho, 23 jan. 2004).
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20 A cst utiliza um “Padrão Empresarial de Prevenção de Acidentes do Trabalho”, baseado na “Pirâmide de Frank Bird”, cujo estudo mostra que, a cada acidente pessoal com lesão grave, correspondem 10 acidentes com lesão leve, 30 impessoais (sem vítima) e 600 ocorrências sem lesão e sem danos materiais. A Empresa estimula seu empregado a identificar uma situação irregular, e informá-la ao supervisor. Isso gera uma investigação, para eliminar as causas identificadas, e, com isso, controlar as perdas, garantindo a segurança.
Israel Vanboim, ex-presidente da CST, na inauguração do lingotamento contínuo de placas. Acervo CST.
Segundo ele, o empregado que entra, hoje, no Departamento de Finanças da cst, não imagina como era o trabalho árduo de antigamente. Destaca, também, dois momentos importantes no setor financeiro da Companhia. O primeiro aconteceu com a instalação do primeiro Lingotamento Contínuo, quando foi restabelecido o relacionamento de crédito com a Alemanha. A cst foi a primeira empresa brasileira que obteve o crédito do kfw (banco alemão) e o segundo momento foi com os investimentos para a quarta central termoelétrica, em que a cst foi a pioneira na obtenção de crédito do jtb, banco japonês (carvalho, 23 jan. 2004). Cristiano Klein, cujo trabalho na cst, desde 1983, foi na operação do Alto-forno, destacou a campanha do Alto-forno I, que entrou em operação em 1983, teve sua reforma prevista para 1991, depois adiada para 1993 e, assim, sucessivamente. Hoje, o Alto-forno I funciona, sem reforma, há 22 anos, sempre superando a produtividade e reduzindo os custos. Ele afirma que a campanha do Alto-forno II, certamente, não será tão duradoura quanto a do AF-I, por esse não ter a qualidade do primeiro. Destaca, ainda, as melhorias e adaptações feitas na área de produção do gusa, além do reaproveitamento de energia e da recirculação de materiais, os chamados rejeitos (klein, 26 jan. 2004). Vander Silva, Engenheiro metalúrgico e trabalhando na cst desde 1982, ressaltou, em seu depoimento, a grande transformação da Coqueria, antes considerada “um dos piores lugares (...) por ter um potencial de agressividade muito grande”, um lugar sujo, para um ambiente saudável. Segundo ele: A Coqueria foi pioneira em uma série de coisas, como o primeiro sistema supervisório, com 82 telas todas produzidas lá, as manutenções e a operação. [...] Nós introduzimos uma sala de recuperação física, fomos os primeiros a fazer um estudo para engenharia, com a medicina do trabalho sobre assistência aos acidentados; [...] colocamos ar-condicionado doméstico lá na máquina chamada guia de coque, cuja temperatura, às duas da tarde, chegava a 60ºC. [...] O mais importante do que foi feito na cst, na parte de desenvolvimento sustentável, foi investir no nível cultural dos empregados, [...] zerando o número de pessoas sem o nível médio, com investimentos maciços na pós-graduação, em cursos de línguas e curso superior. [...] A cst, hoje, é uma escola. Quer ela queira ou não, tem a sua marca, no Brasil, e fora, o pessoal a respeita, pois nós temos o melhor Alto-forno do mundo (silva, 27 jan. 2004).
Em 1997, a cst alcançou a produção recorde de 3,5 milhões toneladas de placas, a maior desde 1983. Houve uma melhoria do preço de placa no mercado internacional e a cst classificou-se como uma das 30 melhores empresas do Brasil, para se trabalhar, além de ser considerada também, pelo mercado, uma das cinco empresas “bench-mark”, ou seja, “de excelência” (silva, 2001, p. 61, 62 e 67). 93
PROGRAMA DE COMUNICAÇÃO AMBIENTAL (PCA) A cst criou o Programa de Comunicação Ambiental cst-Escolas em 1997. Seu objetivo principal é o de contribuir com iniciativas educacionais que valorizem a conscientização ambiental da comunidade, fortalecendo o canal de comunicação entre a empresa e a sociedade. O programa iniciou-se com a assinatura de um convênio entre a cst e as escolas públicas e particulares, em parceria com as Secretarias de Educação e de Meio Ambiente das Prefeituras da Grande Vitória. Participaram do projeto-piloto cinco escolas (Colégio Salesiano, Marista, Nacional, Monteiro Lobato e Renovação). 750 alunos fizeram visitas monitoradas à cst e foram oferecidos quatro cursos de Sensibilização em Educação Ambiental a 120 participantes. Esse número foi ampliado, em 1998, para 12 escolas, com 2.200 alunos visitando a Empresa e seis cursos foram oferecidos. Os temas mais solicitados foram: coleta seletiva de lixo; estação de tratamento de água e controle ambiental, atmosférico e hídrico. Teresinha Freitas, Geógrafa, Diretora da Escola de Ensino Fundamental Paulo Mares Guia, disse sobre o pca: Quando uma criança não tem uma informação adequada, ela vê a cst só como agente poluidora. De repente, a cst chega com um projeto desses e mostra, nos dá subsídio para a gente desenvolver um trabalho. […] O progresso faz com que haja agressão, mas há maneiras de sanar parte desse problema, desde que haja esta preocupação. É uma parceria muito boa e é grandiosa e valiosa demais para a gente (freitas, 09 fev. 2004).
Visita de estudantes ao Centro de Educação Ambiental - CEAM, CST. Acervo CST.
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Foi criada uma Banca de Meio Ambiente, com um acervo técnico e literário, que circula nas escolas, e um periódico, O Jornal, de informação e educação. Em 1999, outras cinco escolas entraram no programa e 7.615 visitantes foram à cst. Cinco cursos foram oferecidos a 217 professores e técnicos. Circularam oito edições de O Jornal cujo nome foi mudado para Teia Ambiental. O total acumulado de 1997 a 2003 foi de: 56 cursos oferecidos a 2.083 participantes; 41.777 visitantes; 38 edições do jornal (31.000 ex.) e 57 escolas participantes. A partir de 2001, envolveram-se, no programa, as escolas superiores, acumulando-se, no período de 2001-2003, 10 instituições, 4.221 visitantes, 8 cursos com 1.526 participantes, 07 palestras a 167 pessoas, e duas edições do jornal (cst, Relatório Anual da Administração, 1997). O depoimento da professora Teresinha Freitas é esclarecedor para mostrar as mudanças ocorridas em sua escola com relação à questão ambiental: Nossa escola sempre se preocupou com o meio ambiente; nós sempre trabalhamos na linha. Não era um trabalho de tanta integração: nós trabalhávamos o lixo, a água, o desperdício de energia, vários temas ligados ao ambiente, mas cada professor dentro da sua área. [...] Aí, veio o Projeto da cst, que fez o convite, nós gostamos muito e abraçamos esse programa. Houve uma integração maior, a partir daí. A cst veio a contribuir muito com isso. Veio crescendo, cada vez mais, essa preocupação, o desempenho do professor, dos alunos e da comunidade. Ela envolve todo mundo dentro do projeto social (freitas, 09 fev. 2004).
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NOVA FASE, NOVOS SÓCIOS, NOVA CRISE Em maio de 1998, a Acesita passou a ser controlada pelo grupo francês Usinor, um dos maiores produtores siderúrgicos do mundo, e a nova composição acionária da cst passou a ser: Acesita/Usinor – 43,91%; cvrd – 20,51%; Kawasaki Steel – 20,51%; California Steel – 4%; Empregados – 5,46%; Outros – 5,61% (silva, 2001, p. 64). “A partir da privatização, quando se começaram a criar essas tecnologias, montar as tecnologias novas, a máquina de contínuo, os equipamentos de refino de aço, a cst começou a fazer aços mais especiais, cada vez mais consolidando o mercado”, afirmou Messias Carvalho Lemos, empregado desde 1980 (lemos, 05 jan. 2004). A fase do período Usinor, que vai de 1998 a 2001, segundo Jean Ives Gilet, exconselheiro da cst e, atualmente, Diretor de Aços Inoxidáveis da Arcelor: Foi um período ainda calmo, antes da maxidesvalorização do Real, antes da turbulência do mercado. [...] Foi uma oportunidade de olhar mais de perto como o Brasil e os brasileiros conseguem superar as crises; realmente, têm uma postura otimista e, também, vencedora (gilet, 26 abr. 2004).
Gilet cita três fatores responsáveis pela entrada da Usinor no Brasil: 1) Pedido do setor automobilístico que apresenta produtos globais e busca garantir a mesma qualidade de seus carros produzidos fora da Europa; 2) Participação em um país que tem um potencial significativo de crescimento de 6 a 8%, enquanto na Europa é de 1 ou 2%; 3) Fazer do Brasil uma base exportadora de placas ou ltq para o mundo e, basicamente, complementar as empresas européias; e, no futuro, substituir as produções européias (coque, gusa e laminação), pois o custo da reforma das plantas européias é muito alto, devido às questões de meio ambiente (gilet, 26 abr. 2004) 21. A segunda fase de investimentos, com um custo de us$ 932 milhões, teve como meta: o 2º Alto-forno; a 2ª máquina de Lingotamento Contínuo; a 3ª Termoelétrica; a
Lingotamento Contínuo II. Acervo CST .
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21 Com as empresas brasileiras nas quais o Grupo Arcelor tem participação, cst, Belgo, Acesita e, agora, Vega do Sul, a Arcelor tornou-se o maior e mais diversificado grupo siderúrgico da América Latina. Para compreender a capacidade de produção do Grupo Arcelor, segundo Gilet, o setor de inoxidáveis produz cerca de 45 a 46 Mt/a de aço inoxidável, avaliado em us$ 30 bilhões, enquanto a produção brasileira é de 25 Mt/a.
José Armando F. Campos, presidente da CST, dando início à operação do Alto-forno II, 1998. Acervo CST.
3ª Fábrica de Oxigênio; a Desgaseificação a Oxigênio e o investimento em Recursos Humanos. Em 28/02/1998, teve início a máquina de Lingotamento Contínuo II, implantada em tempo recorde, e, com isso, em 23/10/1998, chegou ao fim o processo de laminação no Lingotamento Convencional. A segunda fase de investimentos terminou com o início da produção do Alto-forno II, em 01/07/1998 (cst, Relatório Anual da Administração, 1998). Também em 1998, a cst alcançou auto-suficiência em produção energética, com as termoelétricas que aproveitam os gases produzidos pela usina. Com a entrada em operação do Alto-forno II e do segundo Lingotamento Contínuo, a capacidade de produção da usina passou de 3,6 milhões de toneladas de aço líquido para 4,8 milhões por ano (cst, Relatório Anual da Administração, 1998). Em 1999, a crise econômica mundial afetou os chamados ‘tigres asiáticos’ e a Rússia, além de atingir o Brasil, provocando a desvalorização do Real e a adoção do câmbio flutuante. Houve queda no preço médio das placas, que chegou a seu nível mais baixo desde 1983, mas a cst conseguiu produzir, com baixos custos, um produto de qualidade, o que a manteve competitiva, no mercado internacional, amenizando a crise econômica. A desvalorização do Real afetou a cst de duas formas: positivamente, no quesito exportação e, negativamente, já que parte das dívidas foram contraídas em dólar. Mas, a excepcional performance dos novos equipamentos (Alto-forno II e Lingotamento Contínuo II), que chegaram à sua capacidade plena em tempo recorde, feito único no mundo, foi decisiva para a melhoria do resultado operacional (cst, Relatório Anual da Administração, 1998). Lançou-se, ainda, em 1999, o III Plano de Investimentos Pós-Privatização (19992003), que previa a implantação de: Laminador de Tiras a Quente – Otimização da produção – 5 milhões de toneladas/ano; Reforma de equipamentos; Melhorias operacionais e de Controle ambiental. Com o lançamento do ltq, criou-se o objetivo de atingir o mercado brasileiro de laminados planos, que foi estimado em 10 milhões de toneladas, fato que, ainda, não se concretizou (cst, Relatório Anual da Administração, 1999). O Alto-forno I, em operação desde 1983, completou, em 2000, a histórica marca de produção de 55 milhões de toneladas de gusa, tornando-se o segundo do mundo a conquistar essa posição e ficando entre os 5 melhores em produtividade. Sua 99
reforma foi adiada para 2003 e, posteriormente, 2008. A cst consolidou-se como líder mundial em fornecimento de placas de aço, detendo cerca de 20% do mercado global, totalizando cerca de 60 clientes em 20 países. As placas comercializadas atendem a três grandes setores siderúrgicos: indústria naval (chapas grossas de aço); indústria automobilística (laminados a quente, a frio e aço galvanizado); indústria de embalagens (folhas de flandres). Ocupa o segundo lugar na produção de aços brutos, no Brasil, o que representa 17% da produção nacional (cst, Relatório Anual da Administração, 2000). Até o processo de lingotamento contínuo, em 1995, as exportações da cst destinavamse, prioritariamente, à Ásia. Com a mudança de sua produção, o destino principal das vendas foi a América do Norte (46%) e a Europa (32%), mercados mais sofisticados e exigentes. O Sistema de Garantia de Qualidade cst é certificado pela iso 9001, desde 1996 (cst, Relatório Anual da Administração, 2000, p. 13). Fez-se o anúncio oficial do projeto “Vega do Sul”, unidade de laminação de tiras a frio e de galvanização, a ser construída em São Francisco do Sul, sc, tendo a cst como a grande supridora de bobinas à quente e acionista, com participação de 25% no capital do empreendimento, em 16/06/2000 (bin, 21 jun. 2000). A cst manteve a posição de maior fornecedor mundial de placas e alcançou o primeiro lugar no ranking das maiores siderúrgicas brasileiras, com a produção de 4,78 milhões de toneladas de aço bruto, em 2001. Foi a 6ª maior exportadora brasileira e a 4ª maior geradora de saldo líquido de divisas para o país (cst, Relatório Anual da Administração, 2001). Em fevereiro de 2002, a Usinor se fundiu com a Arbed (belga) e a Acerália (espanhola), originando a Arcelor. Essa fusão, segundo Jean Ives Gilet, Diretor de Aços Inoxidáveis da Arcelor, mudou o cenário europeu, e representou um 100
Da esquerda para a direita: Vista aérea das obras de Construção do laminador de tiras a quente. Coil box, do laminador de tiras a quente. Inauguração do laminador de tiras a quente, 2002. Acervo CST.
“fortalecimento, que significa escolher as melhores usinas, concentrar produção, fazer um local com os melhores fabricantes, reestruturar o setor industrial, fechar usinas improdutivas e aumentar a produção onde houver melhor produtividade” (gilet, 26 abr. 2004) . De acordo com Guy Dollé, Presidente mundial da Arcelor, “A atuação da Arcelor, no Brasil, multiplicou por quatro o faturamento da Belgo-Mineira, nos últimos 10 anos. Isso se deveu à reestruturação da Acesita e ao desenvolvimento da cst, a pérola capixaba” (A Tribuna, 28 mar. 2004). A cst ficou em 1º lugar entre as empresas brasileiras do setor industrial com maior nível de satisfação dos seus 3.593 empregados, dos quais, 186 mulheres, em 2002, com a marca histórica de 1 ano sem acidente com perda de tempo (cpt), estabelecendo o recorde de 397 dias sem esse tipo de ocorrência (cst, Relatório Anual da Administração, 2002). A cst manteve seu elevado nível de produtividade: 1.353 toneladas de aço líquido por homem-ano, contra uma produtividade média da siderurgia brasileira, incluindo a cst, de 490 toneladas por homem-ano. Em 2002, a Empresa foi certificada na iso 14.001 e não recebera notificação de infração ambiental desde 1995. As emissões atmosféricas situaram-se em 0,41 kg por tonelada de aço líquido produzida; 96,6% da água doce é recirculada, a maior parte é retirada do mar, tratada e devolvida dentro dos padrões ambientais (cst, Relatório Anual da Administração, 2002). Foi inaugurado, oficialmente, o Laminador de Tiras a Quente em 11/11/2002. Sua primeira produção anual foi de 118 mil toneladas. Com este produto, a cst aumentou seu leque de produtos com maior valor agregado, deixando, assim, de produzir somente placas de aço (cst, Relatório Anual da Administração, 2002).
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RELAÇÕES COM A COMUNIDADE A partir de 1997, a cst começou a ter uma atuação de caráter social mais direta com a comunidade externa. A ação social corporativa da cst voltada para a comunidade engloba um conjunto de iniciativas e de projetos sociais sintonizados com os objetivos da empresa, dos quais um é o de contribuir para o desenvolvimento econômico e melhoria da qualidade de vida em sua área de influência. Sanbellio Paolillo, o Padre Xavier, coordenador do Projeto Cidadão, em Novo Horizonte, Serra – ES, afirmou: Na realidade, o que se estabeleceu com a cst foi mais do que uma relação de parceria simplesmente de trabalho. Nasceu uma grande relação de amizade. Foi um processo interessante isso! Inclusive a gente diz isso em todas as empresas que nos apóiam, nós estabelecemos uma relação que fosse além. A cst adotou nossos projetos. Então, os empregados estão ligados aqui, qualquer problema a gente se comunica (paolillo, 20 jan. 2004).
Além do Programa de Comunicação Ambiental, desenvolvido desde 1998, que oferece capacitação a professores (cursos e oficinas), visitas monitoradas e publicações dirigidas, a cst apóia e colabora com outros projetos de cunho social, tendo investido em ações comunitárias, no Espírito Santo, R$ 10,5 milhões, no período de 1997 a 2002 (cst, Balanço Social, 2002).
Congo Mirim da Serra, Projeto de apoio à cultura capixaba. Acervo CST.
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Dentre os principais programas sociais patrocinados pela cst, estão: a) Programa Escola Campeã: Convênio com o Instituto Ayrton Senna e a Prefeitura de Serra, desde 2002. Envolve as gestões municipal e escolar, com enfoque na alfabetização e na aceleração da aprendizagem (equiparação da faixa escolar à faixa etária). Tem prazo de 3 anos e beneficia 4,5 mil crianças, com um investimento da cst de r$ 700 mil. b) Projeto Catavento: Instituído em 2002, em parceria com a Ação Comunitária do Espírito Santo (aces), tem por objetivo promover a capacitação profissional de pessoas portadoras de necessidades especiais, visando sua inclusão social. c) Projeto Cidadão – Programa de Atendimento Integrado à Criança e ao Adolescente. Atende a crianças e adolescentes, em situação de risco social e pessoal, residentes no entorno da cst, incentivando-os ao estudo e preparando-os para o exercício da cidadania. Suas atividades constituem na execução de oficinas profissionalizantes, no atendimento psicológico, odontológico, em passeios, dentre outras (cst, Balanço Social, 2002, p. 14).
Escola Municipal Profissionalizante de Artes e Ofício - EMPAO. Acervo CST.
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Projeto Crer com as mãos. Acervo CST.
Projeto Cidadão - AICA. Acervo CST.
Padre Xavier, coordenador do Projeto Cidadão, declarou: Na inauguração do Laminador, fui convidado e, naquela ocasião, eu disse: “O que me surpreende na cst é que é um gigante industrial que se interessa pelo pequeno. Porque a gente está acostumado aos grandes sempre olharem para as coisas deles; então, essa grande empresa, que tem essa capacidade de olhar para o pequeno, no nosso caso, olhar para as crianças e adolescentes, não só desse, mas de todos os projetos que a cst apóia, então, eu disse que, quando o grande se interessa pelo pequeno, é sinal da presença de Deus, porque o nosso Deus é isso mesmo, é grande, mas sempre olha para o pequeno, pra criança e pro adolescente. Então, eu vejo a cst assim (paolillo. 20 jan. 2004).
Outros projetos sociais que receberam o apoio da cst: a) Universidade para todos: Curso pré-vestibular gratuito, desde 1996, iniciativa de ex-alunos da ufes, destinado a alunos do ensino médio da rede pública. b) Oficinas de iniciação profissional: Formação do trabalho pelo trabalho: Em parceria com a Ação Comunitária do Espírito Santo (aces), visa à promoção do desenvolvimento de pessoas de baixa renda, desenvolvendo cursos profissionalizantes, educação ambiental junto à comunidade. Em 2002, beneficiou 1,7 mil pessoas (cst, Balanço Social, 2002, p. 17). c) Crer com as mãos: Programa desenvolvido no Morro de São Benedito, Vitória, coordenado pelo Centro Social Educativo Santa Rita. Desenvolve atividades profissionais e educativas com crianças e adolescentes na faixa etária de 7 a 17 anos. d) Classe Hospital: Convênio com a Associação Capixaba Contra o Câncer Infantil (acacci), que visa dar assistência educacional aos portadores de câncer infantil, para que as crianças hospitalizadas mantenham suas atividades escolares no período de internação. e) Casa do Menino: Coordenado pela Comissão do Amparo à Criança e ao Adolescente, desenvolvido por voluntários, atende adolescentes e jovens; oferece cursos profissionalizantes, objetivando melhorar suas perspectivas de emprego. f) Amigos do Parque: Desenvolve-se no Horto Municipal de Maruípe, Vitória, com o objetivo de integrar jovens e comunidade com atividades ambientais, sócioculturais e esportivas. Parceria com o Centro de Integração Empresa-Escola (ciee) e a Prefeitura Municipal de Vitória. g) Consórcio dos rios Santa Maria e Jucu: Tem como objetivo principal desenvolver ações para a recuperação e a conservação das matas ciliares em áreas degradadas das 104
Projeto Classe Hospitalar, ACACCI. Acervo CST.
Amigos do Parque. Acervo CST.
bacias desses dois rios, que abastecem a Grande Vitória. O apoio da cst ocorre desde 1992 e se estende, também, à doação de escória e ao apoio a eventos ecológicos (cst, Relatório Anual da Administração; Balanço Social, 2002, p. 17). h) Projeto Tamar: Em convênio com o ibama, o projeto Tamar estuda aspectos da biometria, crescimentos, padrões migratórios, perfil hematológico das tartarugas verdes que utilizam a área do efluente final da usina, junto ao porto de Praia Mole. A presença dessas tartarugas confirma a qualidade da água despejada ao mar pela cst, após a utilização em seu processo industrial (cst, Relatório Anual da Administração; Balanço Social, 2002, p. 18). Luiz A. Rossi, gerente de Meio-Ambiente da cst, destaca a importância do projeto Tamar e o fenômeno interessante que ocorre, na cst, com as tartarugas: “As tartarugas pequenas, ainda jovens, que não vão à praia, entram no nosso canal. (...) Mais de 400 tartarugas foram aninhadas aqui e fazem parte da pesquisa do projeto Tamar, junto a outros países, sobre a migração dessas tartarugas” (rossi, 12 fev. 2004). i) Apoio ao desenvolvimento urbano. A cst mantém programas de doação de agregados siderúrgicos para a pavimentação de vias e aterros públicos, além de apoiar projetos de coleta de lixo e campanhas de educação ambiental, sobretudo nos municípios de Serra, Vitória, Vila Velha e Nova Venécia. j) Apoio à cultura capixaba. A cst participa, sistematicamente, na viabilização de projetos e iniciativas da área literária, musical e folclórica, além do custeio de reformas de prédios e monumentos históricos, como o Convento da Penha e o Teatro Carlos Gomes. l) Escola Municipal Profissionalizante de Artes e Ofícios. Tem como objetivo a formação de jovens para a recuperação de fachadas e de prédios históricos, gerando emprego e renda para jovens carentes e preservando o patrimônio cultural e ambiental do estado, em parceria com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (iphan) e o Centro Federal de Escolarização Tecnológica (Cefet-ES). Além desses projetos, a cst dá prioridade aos fornecedores locais como forma de incrementar a economia capixaba. Apóia o Coral Doce Harmonia, do bairro Novo Horizonte, Serra; a Casa da Esperança e Casa Vida, que cuidam de pessoas portadoras do vírus hiv; ajuda na manutenção de Hortos e Parques, como o Horto Municipal da Serra, o de Maruípe e o Parque Gruta da Onça, Vitória (cst, Relatório Anual da Administração; Balanço Social, 2002). Todas essas ações revelam o alto nível de comprometimento social da cst com a comunidade capixaba. 105
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A CST, HOJE (2003-2005). PERSPECTIVAS FUTURAS Seu formidável vulto solitário Enche de estar presente o mar e o céu. E parece temer o mundo vário Que ele abra os braços e lhe rasgue o véu. (Fernando Pessoa)
NOVA EXPANSÃO: RUMO AO FUTURO Israel Vainboim, Presidente do Unibanco e ex-presidente da cst, acredita no futuro da cst. São suas palavras: cst, com apenas 21 anos, tem um futuro maravilhoso. Estou convencido de que o mercado de placas é fantástico, é fabuloso, e de que existe uma oportunidade maravilhosa para a Companhia, na sua verticalização no mercado brasileiro. Eu confio em que a cst vai crescer muito e espero que esse crescimento, daqui pra frente, possa ser mais ordenado e contínuo (vainboim, 16 mar. 2004).
O ano de 2003 começou com grandes incertezas no mercado econômico, devido às expectativas do governo Lula, que se refletiram nas altas taxas de câmbio e na elevada expansão dos títulos da dívida externa do país. A atividade industrial, no Brasil, foi afetada pela política monetária restritiva e pela rígida disciplina fiscal, visando ao controle da inflação. Apesar disso, a produção brasileira de aço bruto alcançou 31,1 milhões de toneladas, um recorde histórico, bem como a produção de laminados cresceu 10,7%, num total de 21 milhões toneladas/ano (cst, Relatório Anual da Administração, 2003). Contudo, o ano de 2003 foi histórico, pois a cst completou 20 anos de operação, 30 anos de existência e o primeiro ano do Laminador de Tiras a Quente – ltq, cujo desempenho, ainda em fase de aprendizagem, vem superando as melhores expectativas. Nesse ano, a cst entrou para o seleto clube formado por empresas com faturamento superior a us$ 1 bilhão (cst, Relatório Anual da Administração, 2003). Em julho de 2003, entrou em operação a siderúrgica Vega do Sul – SC, da qual a cst tem 25% de participação acionária. Sua produção está prevista para 880 mil toneladas de aço galvanizado e relaminado a frio, em 2005, constituindo-se no maior cliente do mercado interno de bobinas a quente da cst, já tendo absorvido 90 mil toneladas do produto, em 2003 (10% das vendas internas), com embarques a partir de setembro (cst, Relatório Anual da Administração, 2003).
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A partir de 2003, a cst passou a oferecer ao mercado dois produtos de elevada qualidade: placas e bobinas a quente. As vendas desses produtos, ao final do ano, totalizaram 4.800 toneladas, nos mercados interno e externo (cst, Relatório Anual da Administração, 2003). Com a entrada em operação do ltq, em 2002, a cst reduziu sua participação no mercado internacional de placas. Os maiores mercados foram o norte-americano (49%) e o asiático (44%). Quanto às bobinas, foram comercializadas 1.131 mil toneladas, das quais, 78% destinadas ao mercado interno e 22% ao externo (cst, Relatório Anual da Administração, 2003). Em dezembro de 2003, as perspectivas para 2004 eram otimistas, mas as variações cambiais provocaram uma queda no faturamento da cst, em relação ao resultado do primeiro trimestre de 2003. No primeiro trimestre de 2004, a cst produziu 1,24 milhão de toneladas de placas e 425 mil toneladas de bobinas a quente. No primeiro quadrimestre de 2004, a exportação da cst totalizou o equivalente a 20,31% do total de embarques do Espírito Santo, ficando em 2º lugar no ranking das empresas que mais exportaram, atrás apenas da Aracruz Celulose. Em 2004, a cst conquistou, pela primeira vez, o primeiro lugar na pesquisa da Recall, acreditando que o reconhecimento se deveu a todo um trabalho voltado ao desenvolvimento sustentável, à responsabilidade social e ao controle ambiental. “É a parte institucional da empresa que vem sendo reconhecida, principalmente pelos valores que defende, sua marca de desenvolvimento sustentável, responsabilidade social, segurança no trabalho, cuidado com o meio ambiente”, afirmou o gerente de Meio Ambiente e Comunicação, Robson de Almeida Melo e Silva. Segundo ele, A idéia da sustentabilidade, que é um tripé de resultados econômicos - a empresa precisa ser lucrativa para que haja desenvolvimento social, com respeito ao meio ambiente […]. Então, o Departamento de Meio Ambiente e Comunicação tem como sua diretriz principal o desenvolvimento sustentável. […] Hoje, a responsabilidade ambiental já está inserida no social; por isso, a gente preferiu chamar de sustentabilidade, que agrega mais um outro conceito (silva, 26 jan. 2004).
Também em 2004, a CST registrou o melhor resultado da sua história, em decorrência da associação de sua performance com as circunstâncias mercadológicas do ano. O lucro líquido foi de R$ 1,6 bilhão, o que representa um crescimento de 78% em relação ao exercício de 2003, com elevada performance operacional e plena utilização da capacidade nominal da Usina. Vista aérea de Vega do Sul. São Francisco do Sul (SC). Acervo CST.
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EXPANSÃO PARA 7,5 M/TONELADAS/ANO As obras do projeto de expansão da cst, iniciadas no segundo semestre de 2004, têm previsão de estarem concluídas no terceiro trimestre de 2006. O lançamento do projeto contou com a presença do Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva. Com investimentos previstos da ordem de us$ 1 bilhão, recursos próprios e financiamentos, o programa de expansão da Companhia aumentará a sua capacidade de produção de 5 milhões para 7,5 milhões de toneladas de aço por ano (placas e bobinas). José Armando F. Campos, Diretor-Presidente da cst, assim afirma sobre essa nova fase da cst: A expansão da cst irá gerar mais de 800 empregos diretos [e indiretos] na Companhia e nas unidades externalizadas. Além disso, haverá acréscimo no número de empregos referentes a pessoal de manutenção e serviços de apoio, com prioridades para moradores da região da Grande Vitória, respeitados os critérios de especialização e aptidão (campos, 19 abr. 2004)
Destacam-se entre os investimentos diretos da cst: um terceiro Alto-forno, projetado para produzir 2,8 Mt/ano de gusa; novo Sistema de Injeção de Finos de Carvão nos Altos-Fornos (pci), com incremento de 94 t/h de injeção de carvão mineral pulverizado por meio de ventaneiras; um terceiro Convertedor na Aciaria, que elevará a sua capacidade de produção para 7,8 a 8,4 Mt/ano de aço líquido; uma terceira máquina de Lingotamento Contínuo, com capacidade de 3,0 Mt/ano; uma
Obras do Alto-forno III, expansão da usina para produção de 7,5Mt/a. Acervo CST.
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segunda unidade de Desgaseificação a Vácuo do Aço (RH), com capacidade de 2 Mt/ ano e que irá melhorar a qualidade do aço; um Terminal de Barcaças Oceânicas, que irá atender o transporte marítimo das bobinas de aço produzidas no Laminador de Tiras a Quente (ltq); equipamentos de controle ambiental associados, com sistema de recirculação e tratamento de água, cobertura de correias transportadoras, sistema de lavagem de gases, filtros de mangas e estação de tratamento de lama. O processo de expansão da cst contará, ainda, com a parceria de investidores externos, na instalação de duas fábricas de oxigênio, unidade de calcinação e um granulador de escória de alto-forno. A Sol Coqueria Tubarão, joint-venture formada entre a cst, a Cia. Siderúrgica Belgo Mineira e a americana Sun Coke International, tem como objetivo a implantação e operação, em uma área integrante do parque industrial da cst, de uma unidade de produção de 1,5 milhão de toneladas de coque por ano, associada a uma Central Termelétrica, que gerará 175 MW de energia elétrica. A cst obteve o licenciamento ambiental, finalizou as contratações com quase 100% dos fornecedores e assegurou o esquema de financiamento junto às instituições, como, por exemplo, a contratação, em Frankfurt, Alemanha, no dia 21/07/2004, de dois financiamentos internacionais para o projeto de expansão da Companhia, no valor de us$ 210 milhões, sendo us$ 140 milhões com o kfw e us$ 70 milhões com o eib (European Investment Bank). A Companhia assinou, em 18/05/2004, um protocolo de intenções com o governo do Espírito Santo e 18 instituições públicas e privadas, visando à capacitação dos trabalhadores da Grande Vitória para o plano de expansão, bem como mantê-los preparados e competitivos no mercado de trabalho. Com a estimativa de geração de cerca de 7 mil postos de trabalho no pico das obras, e, para aproveitar a mãode-obra capixaba, a Companhia sentiu necessidade de qualificar os trabalhadores. As vagas estão sendo ocupadas, prioritariamente, por trabalhadores encaminhados pelo Serviço Nacional de Emprego (Sine).
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Obras do Alto-forno III, expansão da usina para produção de 7,5Mt/a. Acervo CST.
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Vitório Nocetti, ex-Diretor de Controle da cst, indicado pela Finsider, uma das construtoras da cst, avalia o crescimento da empresa com as seguintes palavras: “Coisa bastante impressionante, quando você vê uma usina siderúrgica, você vê a grandiosidade, a imponência das várias unidades, mas, por último, você não sabe o que está abaixo. O que está embaixo é muito mais do que o que está em cima” (nocetti, 30 mar. 2004). Em seu Relatório Anual de Administração de 2002, pela primeira vez, a cst incluiu um anexo com o Balanço Social, em que se pode ler na Mensagem da Administração: O desenvolvimento sustentável não é apenas um conceito de gestão moderna na visão da cst. É um princípio incorporado à prática do dia-a-dia e tratado como um fator imprescindível para o sucesso. Dentro do plano de crescimento sustentado e de busca incessante por melhores resultados, o desempenho econômico-financeiro da Companhia está intrinsecamente ligado ao bem-estar dos nossos empregados, ao relacionamento pró-ativo com a comunidade e à crescente eficiência na gestão do meio ambiente. Temos absoluta convicção de que não há meio para uma empresa sobreviver a longo prazo sem empregados motivados, clientes bem-atendidos, fornecedores satisfeitos e acionistas recompensados. Igualmente, são de vital importância o reconhecimento da sociedade e práticas ambientalmente corretas. E não temos dúvidas de que a cst é, hoje, líder de mercado, ostentando os melhores índices de produtividade e competitividade do setor siderúrgico mundial, porque tem conseguido conciliar, harmoniosamente, os interesses das diversas partes interessadas em suas atividades (cst, Relatório Anual da Administração, 2003).
Por considerar cada empregado um elemento fundamental na consecução de sua missão empresarial, a cst tem como uma de suas diretrizes básicas a valorização do homem, mantendo um ambiente de trabalho seguro e agradável, estimulando o autodesenvolvimento, o crescimento profissional, a segurança e a preservação da saúde de seus empregados (cst, Relatório Anual da Administração, 2003, p. 30). O sistema de gestão de segurança promove contínua redução de perdas, sendo prática permanente o padrão empresarial que sistematiza o relato de anomalias. Em 2003, foi implantado o Sistema Corporativo de Controle de Anomalias, tornando a política de prevenção de acidentes rigorosamente praticada. Em 2003, a cst registrou 11 acidentes (3 cpt e 8 spt), com uma taxa de freqüência de 0,40. Tais índices colocaram a cst numa posição destacada no setor industrial e sem similar na siderurgia brasileira, estando entre as melhores do mundo (cst, Relatório Anual da Administração, 2003, p. 31). A manutenção da política de segurança do trabalho permitiu que a excelência na prevenção de acidentes fosse mantida em 2004, confirmando, novamente, um dos índices mais baixos de acidentes do Brasil e do mundo. Apesar de todos os cuidados com a segurança dos seus empregados, no dia 14/02/2004 ocorreu um grave acidente na cst, com uma reação no interior de um dos convertedores da Aciaria (unidade produtora de aço), que resultou na morte de cinco empregados. Uma comissão interna foi instalada para apurar as causas do acidente, conforme a nota oficial divulgada: A Comissão Interna de Investigação e Análise de Anomalias, constituída pela empresa para apuração das causas do acidente, concluiu que ele teve como origem uma reação no interior do equipamento, gerando um deslocamento de grande quantidade de ar e vapor. Tal conclusão consta do “Relatório de Investigação e Análise de Acidente de Trabalho” que foi encaminhado pela cst aos órgãos competentes, como a Delegacia Regional do Trabalho (drt-es), a Polícia Civil, Corpo de Bombeiros, em atendimento às exigências legais (cst, Nota Oficial, 15 abr. 2004).
Os envolvidos receberam socorro imediato e foram encaminhados para centros de excelência e as famílias receberam todo amparo psicológico, financeiro, social e jurídico, durante e após o fato (cst, Relatório Anual 2004, p. 26-27). 114
DE “PATINHO FEIO” OU “ELEFANTE BRANCO” A “PÉROLA CAPIXABA” Guy Dollé, Presidente do Grupo Arcelor, assim afirmou na inauguração da Vega do Sul, “A cst, que chamamos de ‘pérola do Espírito Santo’, em menos de 15 anos, tornou-se referência mundial em todas as suas áreas de excelência: produção, qualidade, meio ambiente, segurança e processos”. Na época da privatização, a cst era considerada um “patinho feio”, segundo o exDiretor Financeiro Antônio Lima Filho, ou “um elefante branco”, de acordo com um dos compradores, Israel Vainboin, Presidente da holding do Unibanco. Hoje, o Presidente da Arcelor, Guy Dollé, a chama de “pérola do Espírito Santo”. Foi uma grande transformação ocorrida nestes últimos dez anos, embora a pérola já estivesse embutida no que se considerava uma ostra produzida pela intervenção estatal. Na Assembléia Legislativa do Estado do Espírito Santo, a cst foi homenageada, em 18/08/2003, com um Diploma de Honra, na sessão solene alusiva ao Dia Mundial de Combate à Poluição. Também em sessão solene presidida pelo deputado Cláudio Vereza - PT, em 27/11/2003, a cst foi homenageada pelos seus vinte anos de operação pela Assembléia (bin, 22 ago. 2003). Ao final de 2003, a cst conquistou o 1º lugar no ranking geral da Revista “150 maiores empresas do Espírito Santo”, elaborada pela Federação de Indústrias do Espírito Santo, além do 1º lugar no ranking setorial das indústrias de pelotização e de siderurgia (Revista da Federação de Indústrias do Espírito Santo, 2003). O jornal de bairro parabenizou a cst por seus méritos, com a seguinte nota: Alto-forno da cst bate recorde mundial. A Companhia Siderúrgica de Tubarão, nossa parceira no projeto Orla, de revitalização do calçadão da Praia da Costa, obteve uma marca histórica: O Alto-forno I da Companhia superou a maior produção do mundo de ferro gusa acumulado por um Alto-forno, sem a necessidade de reforma. O recorde anterior era da siderúrgica japonesa jfe, que produziu 64,8 milhões de toneladas em seu Alto-forno IV. O Alto-forno I da cst foi projetado para uma vida útil de seis anos, com parada para a primeira reforma aos dois anos. Já se passaram 20 anos e a meta, agora, é manter a produção, sem reforma, até junho de 2008, quando o Alto-forno completará 25 anos. Eficiência se alcança com competência e dedicação. Parabéns, cst! (Jornal da Praia da Costa, 16 mar. 2004).
Vânia Solange Lima Pedroni, Engenheira Mecânica, empregada da cst desde 1994, avalia que o sucesso da cst se deve à sua constante aprendizagem. É um processo contínuo: planejo, executo, deu certo, deu errado, reavaliar tudo, para que, na próxima, aquilo já esteja solucionado e não se repita. É o nosso processo contínuo. A cultura da empresa é aprender com nossas falhas e as falhas dos outros, para evitar reincidência [...] A gente tem que dar condições para que as pessoas cresçam e tenham condição de avaliar e dar resultado. É ter um processo contínuo de aprendizagem, é ter aprendido (pedroni, 22 jan. 2004).
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INDICADORES DE DESEMPENHO E EFICIÊNCIA Conforme demonstrado em seu Relatório Ambiental 2003, a cst, em 2002, produziu mais de 5 milhões de toneladas de aço líquido, marca histórica de sua produção, ao mesmo tempo em que obteve os melhores índices de desempenho ambiental, o que demonstra a eficiência do seu Sistema de Gestão Ambiental. Jean Ives Gilet, Diretor de Aços Inoxidáveis da Arcelor, afirma: O Brasil é um país rigoroso com as questões ambientais, apesar de não existir um equilíbrio para todos. O nível de proteção ao meio ambiente das empresas, aqui, e da cst em particular, não tem igual. Estamos orgulhosos de estar aqui e queremos continuar (gilet, 26 abr. 2004).
De 1998 a 2002, foi feito investimento de us$ 481 milhões em equipamentos e sistemas de controle ambiental, o que resultou na redução das emissões atmosféricas, aumento da recirculação de água e inovações no reaproveitamento de resíduos, inclusive com o lançamento de um novo produto, a acerita, que substitui os materiais tradicionais utilizados na construção de bases e capeamento asfáltico. Na área educacional, a cst atingiu recordes em treinamento de empregados, de parceiros e da comunidade (cst, Relatório Ambiental, 2003, p. 29). Cumprindo as diretrizes de sua Política Ambiental, a cst consolidou os bons resultados de Desempenho Ambiental relativo ao controle de suas emissões atmosféricas, contribuindo para a melhoria da qualidade do ar da Grande Vitória. O aperfeiçoamento dos sistemas de monitoramento contínuo de chaminés, em conjunto com o elevado grau de comprometimento e de conscientização dos empregados, contribuíram, decisivamente, para esses resultados. “A cada ano, vem sendo percebida uma redução das emissões atmosféricas freqüentes. Em 1993, eram encontrados 4,5 Kg de emissões em cada tonelada de aço produzida. Em dezembro de 2003, de 0,36 Kg por tonelada. A redução nesses 10 anos foi de 92%”, afirma Robson de Almeida Melo e Silva, Gerente de Meio Ambiente e Comunicação da cst (A Tribuna, 25 mai. 2004). Dentre as ações específicas de Política Ambiental, em 2003, destacaram-se: a) Investimentos em novas tecnologias e capacitação da gerência de manutenção de equipamentos e de controle ambiental; b) Melhorias do desempenho ambiental na Coqueria. Na Aciaria, com a instalação do terceiro filtro de mangas, verificouse uma redução de 23% das emissões de material particulado; c) Melhoria de performance da rede de monitoramento contínuo de chaminés; d) Cumprimento das ações do Plano Verão, para a economia de energia; e) Consolidação da rede automática de monitoramento da qualidade do ar na Grande Vitória; f) Gestão hídrica - recirculação de água doce e uso de água do mar – 95% do consumo da cst; g) Estação de tratamento de recirculação de água do ltq; h) Sistema de recirculação de água da Carboquímica; i) Estação de tratamento de lama; j) Gestão de resíduos e co-produtos; l) Energia. Com seu sistema de co-geração, a cst obteve, em 2001, um 116
dos mais baixos índices de consumo energético no setor siderúrgico mundial, sendo menor do que a média do setor no Brasil e equiparado aos níveis das siderúrgicas européias e asiáticas (cst, Relatório Ambiental, 2003). No dia 01/06/2004, o Conselho Estadual de Meio Ambiente - consema - analisou o parecer técnico do projeto de expansão da cst, referendando a aprovação do relatório do iema, com algumas condicionantes. Após a decisão do Conselho, o projeto foi enviado às comissões técnicas da Assembléia Legislativa, que o aprovaram. A cst é uma empresa com liderança mundial na questão do meio ambiente e fará as alterações necessárias ao projeto, pois, conforme afirmou o Gerente de Meio Ambiente e Comunicação da cst, Robson de Almeida Melo e Silva: “Essa questão de meio ambiente transcende. Como falar da criatura sem falar do Criador?”
Efluente de água da CST.
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VEGA DO SUL Vega do Sul é uma unidade industrial construída no município portuário de São Francisco do Sul - sc e iniciou suas operações no dia 30/07/2003, com o carregamento da primeira bobina galvanizada. “É o maior investimento privado da história catarinense. Não pode ser considerada uma metalúrgica ou siderúrgica, por não atuar com a produção, apenas com a transformação de aço”, de acordo com as informações da Assessoria de Comunicação e Imprensa da Vega do Sul. Foi inaugurada em 27/04/2004, ano em que se comemoraram os 500 anos da colonização de São Francisco do Sul. “O fato de ter a cst dentro da Vega do Sul vem de um entendimento do interesse pela cst de mudar o relacionamento estratégico. [...] O objetivo, agora, é esperar os resultados de Vega do Sul e do mercado”, afirmou Jean Ives Gilet. Diretor de Aços Inoxidáveis da Arcelor e ex-Conselheiro da cst (gilet, 26 abr. 2004). A Vega do Sul tem como principal acionista o Grupo Arcelor (75%), que ocupa o primeiro lugar como fornecedor da indústria automotiva mundial. Outros 25% são controlados pela cst, fornecedor de matéria-prima (bobinas laminadas a quente) e um dos mais modernos produtores de aço integrado do mundo e o restante pela Gestamp (cst, Relatório Anual da Administração, 2003, p. 14-15; Disponível em: <www.cst.com.br>. Acesso em: 27 set. 2005). Cerca de 70% da produção da Vega do Sul será destinada à indústria automobilística, e o restante ao segmento de eletrodomésticos, embalagem, construção civil, tubos, dentre outros. Em abril de 2004, foram realizados os primeiros fornecimentos de bobinas para o mercado de automóveis. “A parceria com a Vega do Sul tornou o panorama de mercado ainda mais promissor para a cst, pois fortaleceu a posição da Companhia nos mercados internos ou externos, ao mesmo tempo em que se faz presente, de modo mais direto, em todas as etapas de produção e beneficiamento de aço” (bin, 30 abr. 2004). Com sua associação à Vega do Sul, a cst reforça, ainda, sua conexão indireta com a indústria automotiva, em particular, a brasileira, um dos segmentos consumidores de aço que mais têm contribuído para as inovações tecnológicas no setor siderúrgico (cst, Relatório Anual da Administração, 2003, p. 15).
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Inauguração da Usina Vega do Sul. Acervo CST.
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ROTA DO AÇO Com a entrada em operação do ltq, a partir de 2002, com a mudança no controle acionário da cst e com a decisão da Arcelor em construir Vega do Sul em parceria com a cst, um dos obstáculos para a operação casada dessa laminadora no sul era a grande deficiência de infra-estrutura do transporte, no Brasil, já que a malha ferroviária é deficitária e quase todo o transporte, no Brasil, é feito por via rodoviária, em condições bastantes precárias, pela falta de manutenção das rodovias. De acordo com Plínio Lustosa Brito, empregado da cst desde 1981, começou-se a estudar a infraestrutura disponível para fazer o transporte de 1 Mt/a de bobina, do Espírito Santo para Santa Catarina, e chegou-se à conclusão de que seria impossível transportar 100 mil t/m por caminhão, por via rodoviária. Afirmou: Por ferrovia, o trajeto seria muito complicado, pois teria de ser via Vitória a Minas, fazer um transbordo para bitola larga, ir até São Paulo e Santa Catarina, viagem que deveria ficar entre 25 a 30 dias [...] O terminal de barcaças deve ficar pronto em 2006, mas acredito que este sistema seja a grande sacada da cst no que tange a inovar e viabilizar o sistema de abastecimento de Vega do Sul (brito, 14 abr. 2004).
Plínio Lustosa afirma, ainda, que o sistema de barcaças oceânicas, muito utilizado no exterior, foi a solução encontrada para resolver a questão do transporte das bobinas até Santa Catarina. Segundo ele, foi feito um projeto básico inicial, contratada uma consultoria de engenharia naval, conhecedora do sistema, principalmente o utilizado no Báltico, no golfo americano e no golfo do Japão, e montou-se o conceito operacional do sistema. Após isso, foi feita uma licitação com alguns armadores nacionais e a Norsul encampou o projeto. Esta mesma empresa vendeu o projeto para a Aracruz Celulose, que já implantou o sistema de barcaças do sul da Bahia para o Portocel, no transporte de madeira e celulose (brito, 14 abr. 2004). A solução logística encontrada pela cst de levar as bobinas de aço produzidas no Espírito Santo para a usina de Vega do Sul, em Santa Catarina, por via marítima, deveria ser comemorada à altura, além de se criar uma forma para dar conhecimento à população brasileira deste novo meio de transportes de produtos siderúrgicos. Por isso, no dia 06/03/2004, foi dada a largada da ‘Rota do Aço’, uma regata de vela oceânica, que saiu da Praia de Camburi, Vitória - ES, com um primeiro percurso até o Rio de Janeiro e o segundo, do Rio até a cidade histórica de São Francisco do Sul – SC. Um público em torno de 5 mil pessoas acompanhou, em Vitória, a saída das 34 embarcações para o trajeto de 634 milhas náuticas (1.174Km), que foi percorrido pelos barcos, o mesmo a ser feito pelas bobinas produzidas na cst até a usina de Vega do Sul. A regata é uma realização da Arcelor, cst, Norsul e Vega do Sul (bin, 12 mar. 2004).
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Regata Rota do Aรงo.
ARCELOR BRASIL Novos tempos para cst e para a siderurgia, no Brasil, são anunciados em 28 de julho de 2005, pela Arcelor Brasil, com a criação de uma holding que aglutina a Belgo, a cst e a Vega do Sul numa mesma empresa, com a sede corporativa do grupo em Belo Horizonte. José Armando F. Campos passa a exercer a função de Diretorpresidente da Arcelor Brasil e não mais apenas da cst. Além de Presidente da Arcelor Brasil, acumula, também, a função de Diretor de Produtos Planos, enquanto o Vice-presidente, Carlo Panunzi, é, também, o Diretor de Produtos Longos e de Distribuição. Na assembléia dos acionistas da Belgo, no dia 8 de setembro de 2005, ocorreu a conversão das ações preferenciais em ações ordinárias e, no dia 12 de setembro, a conversão das ações da cst para ações ordinárias da Belgo, operação ratificada pelos acionistas da Belgo, no mesmo dia. Assembléia Geral Extraordinária de acionistas da cst e da Belgo, ocorrida em 30/09/2005, aprovou os termos e as condições do “Protocolo e Participação de Incorporações de Ações da cst e da Belgo-mineira”, firmado pelas administrações da cst e da Belgo em 27/07/2005, dentre outras providências (Cópias das atas publicadas em A Gazeta, p. 09, 03 out. 2005). Conforme entrevista de José Armando ao jornal A Gazeta, de Vitória, em 13 de agosto de 2005, o centro corporativo da Arcelor Brasil funcionará em Belo Horizonte, na atual sede da Belgo, e terá seis setores básicos: Tesouraria, Controle, Relações com Investidores, Recursos Humanos, Relações Institucionais e Consultoria Jurídica, mas a estrutura administrativa da cst não mudará, pois “é muito enxuta (...) com um presidente e três diretores (bem como) as gerências. As estruturas são racionais e funcionais” (A Gazeta, p. 23, 13 ago. 2005). O presidente da Arcelor, Guy Dollé, conforme matéria publicada em A Gazeta, sobrevoou o litoral sul do Espírito Santo, ao lado do Governador Paulo Hartung, para analisar futuros investimentos siderúrgicos no sul do Estado, mas o presidente da cst e da Arcelor Brasil, José Armando F. Campos, enfatiza que a prioridade, agora, é “terminar a expansão, o terceiro alto-forno e a nova coqueria, para aumentar a produção da cst de 5 milhões para 7,5 milhões de toneladas de placas de aço por ano”. E não ficam por aí suas expectativas. Segundo afirma, a produção de aço da cst será aumentada para 10 milhões de toneladas por ano e essa meta será alcançada “com a eliminação dos gargalos, redução das paradas, melhoria de rendimento e otimização das operações” (A Gazeta, p. 23, 13 ago. 2005).
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ARREMATES FINAIS A alma é divina e a obra é imperfeita. Este padrão sinala ao vento e aos céus Que, da obra ousada, é minha a parte feita: O por-fazer é só com Deus. (Fernando Pessoa)
Nestes 32 anos de existência da cst, muitas pessoas saíram de suas terras de origem, Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Bahia, interior capixaba, França, Itália, Japão, dentre tantos outros, e vieram para o Espírito Santo, a fim de realizar seus sonhos pessoais, trabalhando em um projeto que transformou não só a vida deles mas a do próprio Estado: a Companhia Siderúrgica de Tubarão. Deusdedith Azevedo Dias, analista de Comunicação e Imagem da cst, foi um dos espectadores dessa transformação e afirma: “A cst foi um desafio, um divisor entre o desenvolvimento que vinha se dando, no Espírito Santo, particularmente, na agricultura, para o desenvolvimento industrial no Estado. Foi um grande salto. A cst foi, talvez, uma das principais locomotivas para puxar esse desenvolvimento” (dias, 09 mar. 2004). Tanto para os índios Guaranis, que buscavam a “Terra Sem Males”, quanto para os portugueses, em busca de ouro e prata, além de desejar “implantar a fé cristã” e os imigrantes italianos, alemães, libaneses e tantos outros retratados por Graça Aranha, Virgínia Tamanini, Renato Pacheco ou Adilson Vilaça, o Espírito Santo foi o cenário idealizado da “Terra Prometida” no imaginário desses seres, que para aqui acorreram, desde o século xvi. O Planalto de Carapina e o maciço granítico Mestre Álvaro foram testemunhas da passagem desses sonhadores e aventureiros, que, desde Gandavo, afirmava ainda no início da colonização portuguesa, “ser esta a mais fértil Capitania” ou “a terra mais abastada e melhor de toda a costa”, como relatou o Pe. Brás Lourenço. No entanto, apesar da fartura de água, de vegetação, da fauna abundante, da qualidade da terra e do açúcar, cuja produção se iniciava, a Capitania do Espírito Santo entrou em decadência, a partir do século xvii, em função da descoberta do ouro e das pedras preciosas, nas Minas Gerais, Capitania inexistente, em 1534, e que foi criada com o desmembramento das terras de outras Capitanias, inclusive a de Vasco Fernandes Coutinho. O Espírito Santo tornou-se, por decreto real, uma barreira natural, para proteger as riquezas descobertas, com suas matas virgens e os silvícolas, os “botocudos”, que defenderam, ardorosamente, suas terras contra os estrangeiros até o início do século xx. 125
No século xix, a cultura do café começou a trazer alguma prosperidade econômica aos capixabas. Como uma extensão da cultura cafeeira que se praticava no Vale do Paraíba, o “ouro verde” foi a base da oligarquia rural e, praticamente, o sustentáculo da economia capixaba, do meado do século xix ao meado do século xx (18601960). A industrialização, iniciada, precariamente, no Vale do Itapemirim, em princípios do século xx, no governo de Jerônimo Monteiro, não trouxe maiores riquezas ao Espírito Santo do que as já obtidas com o café. A única siderúrgica capixaba de relativa importância, a Companhia Ferro e Aço de Vitória, estatal criada em 1945, na área urbana da Grande Vitória, era pequena, com uma produção de 40 toneladas diárias e atendia, quase exclusivamente, ao mercado interno. Na década de 1960, com a erradicação dos cafezais por excesso de produção, a má qualidade do café capixaba e a queda internacional dos preços, cogitou-se de ampliar o parque industrial do Espírito Santo. Com a ampliação, pela cvrd, do porto de Tubarão, em 1966, o maior exportador de minério-de-ferro do mundo, planejou-se construir uma usina integrada csn/usiminas/Cofavi, na ponta de Tubarão, área já idealizada para isso desde a década de 1920, adquirida pela Cofavi e pela cvrd. Essa área foi considerada ideal por sua extensão, fácil acesso ao mar, condições de solo e proximidade à Companhia Vale do Rio Doce, que já projetava o porto de Praia Mole, na mesma área. No governo dos militares (1964-1985), decidiu-se pelo incremento às exportações brasileiras, incluindo a de produtos siderúrgicos. Com esse intuito, criou-se, em 1973, a Siderbrás, que definiria os rumos e a política siderúrgica brasileira, nas duas décadas seguintes. Na mesma época da criação da Siderbrás, saiu o primeiro estudo de pré-viabilidade sobre a criação de uma usina siderúrgica na ponta de Tubarão, sepultando-se a idéia de extensão da Cofavi. Foi no bojo da criação dos “Grandes Projetos Industriais para o Espírito Santo”, em meados da década de 1970, que surgiu a Companhia Siderúrgica de Tubarão - cst. Decidiu-se pela implantação de uma usina de 6 milhões de toneladas/ano de placas, sendo de 3 milhões de toneladas a etapa inicial e voltada à exportação. Foram parceiras iniciais do projeto, além do governo brasileiro, representado pela Siderbrás, a Kawasaki Steel, do Japão, e a Finsider, estatal italiana. Daí para a frente, foi uma sucessão de marchas e recuos, já que um projeto de tal porte estava sujeito às crises econômicas e políticas, não só do Brasil como do mundo. Assinou-se o Protocolo Geral de Intenções, em novembro de 1973, e o Primeiro Acordo de Acionistas, em 1974, mas somente o Segundo Acordo de Acionistas, em março de 1976, confirmou a viabilidade econômico-financeira do “Projeto Tubarão”, como era chamado. Em junho de 1976, criou-se, oficialmente, a Companhia Siderúrgica de Tubarão e, em agosto de 1976, contratou-se o primeiro empregado, um mensageiro. Em 1978, iniciou-se a terraplenagem e, em junho de 1980, começaram as obras civis. A Vila Operária (1980-1983) chegou a ter 13 mil pessoas, em 1982. Em 1983, começaram a chegar o carvão e o minério-de-ferro e, em março, foi acesa a Coqueria. Em setembro de 1983, iniciou-se a operação de Sinterização, a maior da América Latina. Em novembro de 1983, foi aceso 126
o Alto-forno I e inaugurou-se, oficialmente, a cst, no dia 30, com a presença do Presidente da República, Gen. João Batista de Oliveira Figueiredo. Em dezembro de 1983, ocorreu a primeira corrida de ferro-gusa e iniciou-se a operação de laminação. De 1983 a 1986, foi uma fase de recordes, mas, a partir de 1987, agravou-se a crise econômico-social e o governo federal não pôde fazer os investimentos previstos para a Fase II da empresa e a conseqüente duplicação de sua produção. Em julho de 1992, a cst foi privatizada. Seus principais compradores foram os bancos Unibanco, Bozano-Simonsen e a cvrd. Em 1993, começaram os investimentos, com a unidade de Lingotamento Contínuo I, inaugurada em 1995; o Alto-forno II, e o Lingotamento Contínuo II em 1998, e o Laminador de Tiras a Quente, em 2002. Em 1998, chegou ao fim o processo de laminação no lingotamento convencional. Em 1996, as ações da cst foram adquiridas pela Acesita, cvrd e csi. Em 1998, a Usinor, da França, passou a ser a maior acionista da cst. E, a partir de 2002, a Arcelor, o maior produtor mundial de aço, resultado da fusão da Usinor com a Arbed e a Aceralia, tornou-se a maior acionista da cst. Em 2003, a cvrd vendeu suas ações da cst para a Arcelor, que aumentou sua participação de 28% para 68%. A funssest e outros acionistas minoritários, em dezembro de 2004, venderam suas ações para a Arcelor que assumiu o controle de 72% da Companhia. Tal fato foi considerado pelo jornalista capixaba Angelo Passos, “a terceira onda do aço no Espírito Santo” (A Gazeta, p. 5, 01 jul. 2004). Para ele, a primeira onda foi o monopólio estatal, sua produção siderúrgica, com a Cofavi e a cst; a segunda foi a da siderurgia privatizada, que, além da cst, incluiu a instalação da Belgo Mineira, em 1997, no prédio da extinta Cofavi, em Cariacica. E a terceira onda, a partir de 28/06/2004, com o predomínio do capital multinacional na grande produção de aço no Espírito Santo, a partir da compra das ações da Vale pela Arcelor, a maior fabricante mundial de aço. Em 2003, a cst anunciou novos investimentos, projetando expandir sua capacidade de produção para 7,5 milhões de toneladas de placas de aço/ano e aumentando em 50% sua capacidade. Com um investimento de us$ 1 bilhão, estão sendo construídos um terceiro alto-forno, um novo sistema de injeção de finos de carvão, um terceiro convertedor na aciaria, uma terceira máquina de lingotamento contínuo e uma segunda unidade de desgaseificação a vácuo do aço, além de sistemas diversos nas áreas de utilidade e apoio. Hoje, o povo capixaba tem orgulho de ser do Espírito Santo uma empresa que é líder mundial no mercado de placas de aço, com 20% do volume global comercializado; de ter uma siderúrgica limpa, não poluidora, exemplo mundial de controle ambiental, garantindo total harmonia entre produção e meio ambiente e com índices de eco-eficiência compatíveis com os das melhores laminadoras do mundo. Vitório Nocetti, que participou da construção da cst, orgulha-se dessa obra: “Eu fiquei muito entusiasmado com esse trabalho porque, na vida, a construção de uma usina siderúrgica deste tamanho é um mito muito raro” (nocetti, 30 mar. 2004). Com seus 32 anos de existência e 22 anos de produção, a cst, além de ter consolidado sua posição de líder no mercado mundial da produção de semiacabados de aço, é uma empresa que se orgulha de se destacar, na área social, por 127
investir maciçamente em diversos projetos educacionais, culturais e profissionais, beneficiando, diretamente, milhares de pessoas. É o que afirma seu Diretorpresidente José Armando F. Campos: A cst gera lucro para os acionistas e renda para o Estado, mas nós queremos ir além disso. Queremos ver além dos olhos. Prova disso é que nos números apresentados pela companhia é possível enxergar gente. Gente que tomou conta dos valores cultivados pela cst e que faz parte das ações de uma empresa que é responsável, eficiente, que busca rendimentos e que hoje dá retorno positivo de suas iniciativas a seus empregados, fornecedores e à sociedade (Jornal Comércio, Vitória, ano I, n. 4, p. 3, jun. 2005).
Para a cst, a atuação social é um valor inserido no processo de desenvolvimento da empresa, formando, juntamente com a questão ambiental e o desenvolvimento econômico-financeiro, a base para o crescimento contínuo e de perenidade da empresa. Mais do que contribuir para a geração de riqueza monetária, a cst investe na criação de mecanismos de desenvolvimento social, cultural e educacional, junto com a comunidade capixaba, na qual está inserida. Pode-se afirmar que a cst realizou, no planalto de Carapina, aos pés do Mestre Álvaro, à margem do Oceano Atlântico e na ponta do Tubarão, o encontro dos mitos indígena e literário, do “Aua’ Mbaê Porã”, (Terra Sem Males) e da “Terra de Canaã”. Se não existe o “Paraíso na terra”, e esta é a realidade, nem o “Eldorado” sonhado por portugueses e espanhóis, a cst, além de ser o marco divisor do desenvolvimento do Espírito Santo, é um lugar de oportunidades, em que as pessoas podem, com o trabalho, a dedicação e a eficiência, criar uma riqueza econômica e sonhar com um mundo mais justo e com a riqueza mais bem distribuída entre todos. E é com a mensagem deixada pelo Diretor Presidente da cst que se encerra este trabalho, em que se procurou contar uma história da cst, sob a perspectiva dos documentos oficiais, das informações jornalísticas e dos depoimentos de tantos seres humanos que contribuíram para a construção e a consolidação desta grande empresa: A mensagem que eu deixo é de sempre olhar para a frente. Quando olharem para trás, quando lerem esses depoimentos, tentar apurar alguma coisa, ver se alguma coisa do que foi feito até agora é aplicável para a frente, principalmente em gerar mais valor adicionado para todas as partes interessadas: colaboradores internos, fornecedores, clientes, a sociedade de maneira em geral. Se nós agirmos dessa forma, nós vamos estar mantendo viva, por muitos anos, essa chama da cst que a todos nós contagia (campos, 19 abr. 2004).
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duarte, Jackson Chiabi. Depoimento ao projeto “Memória viva cst”. 2004. Depoimento concedido a Carolina Júlia, Serra, 12 mar. 2003. fernandes, Hermínio de Oliveira. Depoimento ao projeto “Memória Viva cst”. 2004. Depoimento concedido a Cassius Gonçalves, Serra, 26 mai. 2004. freitas, Teresinha. Depoimento ao projeto “Memória Viva cst”. 2004. Depoimento concedido a Cassius Gonçalves, Vila Velha, 09 fev. 2004. garcia, Luiz Fernando Sarcinelli. Depoimento ao projeto “Memória Viva cst”. 2004. Depoimento concedido a Cassius Gonçalves, Rio de Janeiro, 16 abr. 2004. gilet, Jean Yves André Aime. Depoimento ao projeto “Memória Viva cst”. 2004. Depoimento concedido a Cassius Gonçalves, São Paulo, 26 abr. 2004. horta, Leonardo. Depoimento ao projeto “Memória Viva cst”. 2004. Depoimento concedido a Cassius Gonçalves, Serra, 19 mai. 2004. horta, Marcos Drews Morgado. Depoimento ao projeto “Memória Viva cst”. 2004. Depoimento concedido a Cassius Gonçalves, Serra, 11 fev. 2004. invitti filho, Luis. Depoimento ao projeto “Memória Viva cst”. 2004. Depoimento concedido a Carolina Júlia, Serra, 22 jan. 2004. klein, Cristiano. Depoimento ao projeto “Memória Viva cst”. 2004. Depoimento concedido a Cassius Gonçalves, Serra, 26 jan. 2004. le forestier, Bruno. Depoimento ao projeto “Memória Viva cst”. 2004. Depoimento concedido a Cassius Gonçalves, São Paulo, 20 jul. 2004. lemos, Messias Carvalho. Depoimento ao projeto “Memória Viva cst”. 2004. Depoimento concedido a Davidson Nicchio Santos, Serra, 05 jan. 2004. leite, Sérgio. Depoimento ao projeto “Memória Viva cst”. 2004. Depoimento concedido a Cassius Gonçalves, Vitória, 30 set. 2004. lima filho, Antônio. Depoimento ao projeto “Memória Viva cst”. 2004. Depoimento concedido a Cassius Gonçalves, Vitória, 02 mar. 2004. lins, Dalton Vieira Estellita. Depoimento ao projeto “Memória Viva cst”. 2004. Depoimento concedido a Carolina Júlia, Guarapari, 16 abr. 2004. mariante, Wilson. Depoimento ao projeto “Memória Viva cst”. 2004. Depoimento concedido a Cassius Gonçalves, Serra, 11 mar. 2004. martinelli, Adilson. Depoimento ao projeto “Memória Viva cst”. 2004. Depoimento concedido a Cassius Gonçalves, Serra, 21 jan. 2004. martins, Ary. Depoimento ao projeto “Memória Viva cst”. 2004. Depoimento concedido a Cassius Gonçalves e Ronaldo Barbosa, Ruslana Avelar, Rio de Janeiro, 12 fev. 2004. martins, Manoel Antônio Barreto Sansevero. Depoimento a o projeto “Memória Viva cst”. 2004. Depoimento concedido a Carolina Júlia, Serra, 02 fev. 2004. mathias, Tereza Cristina Santos. Depoimento ao projeto “Memória Viva cst”. 2004. Depoimento concedido a Cassius Gonçalves, Serra, fev. 2004. 137
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sancio, Ronaldo Domingos. Depoimento ao projeto “Memória Viva cst”. 2004. Depoimento concedido a Carolina Júlia, Serra, 07 jan. 2004 santos, Anselmo Pereira dos. Depoimento ao projeto “Memória Viva cst”. 2004. Depoimento concedido a Cassius Gonçalves, Serra, 11 fev. 2004. santos, Arthur Carlos Gerhardt. Depoimento ao projeto “Memória Viva cst”. 2004. Depoimento concedido à Carolina Júlia e Cassius Gonçalves, Vitória, 04 fev. 2004. santos, Irene dos. Depoimento ao projeto “Memória Viva cst”. 2004. Depoimento concedido a Carolina Júlia, Serra, 30 jan. 2004. sarcinelli, Guilherme César. Depoimento ao projeto “Memória Viva cst”. 2004. Depoimento concedido a Carolina Júlia e Cassius Gonçalves, Vitória, 04 fev. 2004. schettini, José Geraldo Rodrigues. Depoimento ao projeto “Memória Viva cst”. 2004. Depoimento concedido a Cassius Gonçalves, Serra, 09 mar. 2004. silva, Domingos Matos. Depoimento ao projeto “Memória Viva cst”. 2004. Depoimento concedido a Carolina Júlia, Serra, 27 jan. 2004. silva, Júlio Cézar Fortes da. Depoimento ao projeto “Memória Viva cst”. 2004. Depoimento concedido a Cassius Gonçalves, Serra, 05 fev. 2004. silva, Kátia Cozendey. Depoimento ao projeto “Memória Viva cst”. 2004. Depoimento concedido a Carolina Júlia, Serra, 29 jan. 2004. silva, Vander Luiz. Depoimento ao projeto “Memória Viva cst”. 2004. Depoimento concedido a Carolina Júlia, Serra, 27 jan. 2004. siqueira neto, Manoel Miranda. Depoimento ao projeto “Memória Viva cst”. 2004. Depoimento concedido a Carolina Júlia, Serra, 20 jan. 2004. siqueira, Carlos Leone Rodrigues. Depoimento ao projeto “Memória Viva cst”. 2004. Depoimento concedido a Cassius Gonçalves, Rio de Janeiro, 16 abr. 2004. strieder, Antônio Mota. Depoimento ao projeto “Memória Viva cst”. 2004. Depoimento concedido a Carolina Júlia, Serra, 27 jan. 2004. torres, Péricles M. Machado. Depoimento ao projeto “Memória Viva cst”. 2004. Depoimento concedido a Carolina Júlia e Davidson Nicchio, Serra, 08 de jan. 2004. vainboim, Israel. Depoimento ao projeto “Memória Viva cst”. 2004. Depoimento concedido a Cassius Gonçalves e Ronaldo Barbosa, São Paulo, 15 abr. 2004. valle, Luiz Antônio R. do. Depoimento ao projeto “Memória Viva cst”. 2004. Depoimento concedido a Cassius Gonçalves, Serra, 23 jan. 2004. yamano, Masaharu. Depoimento ao projeto “Memória Viva cst”. 2004. Depoimento concedido a Cassius Gonçalves, Serra, 20 jan. 2004.
“Todos os depoimentos foram aproveitados em seu conteúdo para a elaboração deste livro, apesar de nem todos os nomes terem sido citados”. 139
companhia siderúrgica de tubarão - a história de uma empresa francisco aurelio ribeiro impresso na gráfica gsa primavera - 2005