junho ‘18
# 35
Irmandade da Santa Casa da Misericórdia de Santo Tirso Rua da Misericórdia, 171, 4780-501 Santo Tirso t. + 252 808 260 | f. + 252 808 269 santacasa@iscmst.pt www.misericordia-santotirso.org www.facebook.com/MisericordiaSantoTirso
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editorial
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As Misericórdias são instituições admiráveis! Não só pela sua Missão, mas também pela carga histórica que carregam. Foram criadas nos finais do século XV, a 15 de Agosto de 1498, pela Rainha D. Leonor, viúva do Rei D. João II, de cognome “O Príncipe Perfeito”. Foi um grande rei, dos maiores da História de Portugal. Promoveu a expansão ultramarina chegando a oriente através da circum-navegação do continente africano. A Rainha D. Leonor teve a ajuda do Rei D. Manuel I, “O Venturoso”, em cujo reinado se efetuaram viagens como a de Vasco da Gama à Índia e de Pedro Álvares Cabral ao Brasil. A Rainha D. Leonor foi uma das mais notáveis soberanas de Portugal. Criou a Irmandade de Invocação a Nossa Senhora da Misericórdia, a primeira ONG do mundo, cuja missão inicial seria o tratamento e sustento a enfermos e inválidos. Nos nossos dias a Missão das Misericórdias mantem-se: pugnam pela concretização da melhoria do bem-estar da Pessoa Humana em todas as vertentes da vida. Primam por prestar serviços de saúde a quem já deu o seu válido contributo para a sociedade. Distinguem-se por proporcionar educação e ensino em especial às crianças, desde o início do seu desenvolvimento. Sobressaem também na divulgação da cultura. Para além da enorme importância que têm na denominada economia social. A cultura engloba todos os hábitos e aptidões adquiridas pelas pessoas, transmitidos de geração em geração. Agregam o conhecimento, de um extremo – o conhecimento científico, rigoroso e objetivo – a outro extremo – o conhecimento empírico, popular e informal. Englobam no fundo os saberes, a instrução e a informação. Neste espectro, de matriz judaico-cristã, cabem as crenças, a lei, a moral, os costumes e todos os hábitos e aptidões adquiridas pelas pessoas. E igualmente as Artes, que têm inúmeras manifestações. Desde a arte ancestral da caça e do cultivo da terra, até à arte designada hoje por digital e multimédia. As artes cénicas – dança e teatro – e as artes plásticas – escultura, pintura e desenho – são exemplos de artes susceptíveis de serem exercidas pelo comum das pessoas.
O vocábulo arte é proveniente do latim e significa técnica, habilidade natural ou adquirida. Assim, será suficiente ter habilidade que pode ser trabalhada, exercitada e conseguida. Há manifestações da arte que podem ser praticadas, de uma maneira mais passiva: o ato de escutar música, de ver um filme, de visitar um museu ou lendo ficção e poesia. Outras formas podem ter uma participação ativa, em que os praticantes são os atores: confecionar um bom manjar, também é arte, arte culinária; a ginástica é uma arte e pode ser praticada com naturalidade; ou a dança; e mais uma arte: a arte de cuidar de alguém, muito relevante no universo das Misericórdias. As emoções, a estética e a beleza, o prazer e a harmonia e finalmente a imaginação e a fantasia, são atributos das artes. A arte é produzida por pessoas, seres com emoções, logo induzem maneiras de agir e reagir, nomeadamente em pessoas seniores. O envolvimento destas com as artes ajudará com certeza a busca do robustecimento da auto-estima, do autoconhecimento. Há pesquisas concluindo justamente isto: que a ligação às artes contribui para a valorização pessoal, ajudando as pessoas a dar forma e expressão aos sentimentos, não através da palavra, mas da expressão artística. Estes estudos defendem que os centros vitais da comunicação e da cooperação se mantêm ativos por mais tempo. O sentimento de inibição é tido pelas pessoas, muitas vezes como sinónimo de falta de talento; mas com a prática, este desenvolve-se e pode tomar qualquer tipo de expressão, como por exemplo, o desenho, ou a pintura, ou mesmo trabalhos artesanais. Nestas faixas etárias deverá ser contrariado o “envelhecimento” de atitudes e comportamentos. O envolvimento com a arte proporciona oportunidades de melhoria de qualidade de vida, mais alegria e sentimentos de realização; a prática da arte, mais ativa ou mais passiva, faz a pessoa sentir-se produtiva, bem viva e feliz. Um filósofo ateniense do século IV a.C. defendia a procura da felicidade como contributo para manter a saúde do corpo e a serenidade do espírito. Esse filósofo, Epicuro terá dito: «O impossível reside mais nas mãos inertes daqueles que não tentam».
SUMÁRIO /// ATUALIDADES / ENTREVISTA A IVO MARTINS - DIRETOR ARTÍSTICO DO FESTIVAL DE JAZZ DE GUIMARÃES P.06 / RELATÓRIO DE ATIVIDADES 2017 P.12 / A ARTE DA MELHORIA CONTÍNUA P.17 / O DESAFIO MUNDIAL DA (CIBER)SEGURANÇA P.18 /// AÇÃO SOCIAL E COMUNIDADE / TECER AFETOS EM CROCHÉ P.21 / CRIAR COM AS MÃOS... P.23 / RUGAS QUE DIZEM P.24 / A ARTE DE CUIDAR P.31 / UM LONGO ADEUS P.32 / MULHERES LUTADORAS P.34 / REPÓRTER MULHER - A VERDADE ENTRE LINHAS P.37 /// FORMAÇÃO / FORMAR A PESSOA IDOSA P.38 / EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO DE ADULTOS – B1 P.40 /// SAÚDE / A REABILITAÇÃO PERINEAL P.42 /// CULTURA / CARTOON P.44 / A MÚSICA COMO EXPRESSÃO ARTÍSTICA P.46 / DISCOS PEDIDOS NO JLA P.50 / UM GRUPO… UM CORO… P.52 / CANTAR… COM(O) ARTE P.54 / O QUE É A ARTE? P.55 / A FOTOGRAFIA HOJE P.58 / POEMAS P.60 /// REVELAÇÕES SÍLVIA RIBEIRO P.54
PROPRIEDADE IRMANDADE DA SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DE SANTO TIRSO // DIRETORA CARLA MEDEIROS // SECRETARIADO MARIA TOMÁSIA SOUSA // AVELINO RIBEIRO // COLABORADORES ALBERTINA MARQUES // ANA ALVARENGA // ANA LUISA CARVALHO // ANA MARINHO // ANA RITA GOMES // ANA SOFIA BRANCO // ANA SOFIA PEREIRA // ANYTA // ARTUR SANTOALHA // AVELINO LEITE // CARLA NOGUEIRA // CÉU MACHADO // HELENA CARVALHO // JOÃO LOUREIRO // J. MAGALHÃES COELHO // LILIANA SALGADO // MANUEL CIRILO CRUZ // MANUELA REBOCHO // MARIA JOÃO FERNANDES // MARIA ELISABETE CRUZ // MARISA ALVES // MARTA FERREIRA // MIGUEL DIAS // NUNO LUCAS // SARA ALMEIDA E SOUSA // SARA SALGADO // SUSANA MOURA // ZÉLIA SOUTO // TIRAGEM 1100 EXEMPLARES // EDIÇÃO JUNHO 2018 // DEPÓSITO LEGAL 167587/01 PERIODICIDADE SEMESTRAL // IMPRESSÃO NORPRINT // DESIGN SUBZERODESIGN
2010/CEP.3635
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Atualidades
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ENTREVISTA A IVO MARTINS DIRETOR ARTÍSTICO DO FESTIVAL DE JAZZ DE GUIMARÃES
UMA VIDA ENTRE A MÚSICA E A ARTE Ivo Martins é diretor artístico do Guimarães Jazz, desde 1996, sendo esta a faceta que sem dúvida é mais conhecido. Porém, tem uma vida preenchida com diversas áreas de interesse e atividades que o acompanham desde sempre. É colecionador de arte há mais de 30 anos, autor do programa de rádio “O Baile dos Bombeiros”, na Rádio Universitária do Minho, que também conta com uma longa vivência. A nível profissional é Administrador Hospitalar. É também autor de dois livros: “Em Trânsito, em Morte” (Editora Sete Nós, Porto, 2012) e “O Jazz Depois do Jazz” (Editora Sete Nós, Porto, 2017). Qual será o segredo para fazer tanta coisa ao mesmo tempo e tão bem? “Muito trabalho”, responde. Mas será mesmo só isso? Numa conversa informal e descontraída - que decorreu nas instalações da Irmandade e Santa Casa da Misericórdia de Santo Tirso, instituição que também Ivo Martins fez parte enquanto presidente da Assembleia Geral entre 2000 e 2005 - revelou-se ser uma pessoa despretensiosa e com humor. Ivo Martins fez recentemente 66 anos. Viveu quase sempre em Santo Tirso numa das artérias principais da cidade, onde teve uma galeria de Arte, a A5, entre 1988 e 1994. Vive os seus dias de forma serena, dedicando-se a diferentes formas de expressão artística: arte, literatura e música. Diz-se curioso e gostar da vida como ela é, sem artifícios.
©Teresa Ribeiro
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Atualidades
Apesar de ser muito dinâmico, é tido como pessoa discreta. Faz também algumas colaborações para publicações Concorda? escrevendo sobre exposições, livros? Sou uma pessoa normalíssima, que faz muitas coisas ao mesmo Sim vou escrevendo sobre as coisas que vão surgindo, é uma tempo e que não lida muito bem com a exposição pública. coisa que me dá um enorme prazer, apesar de me tomar Tento ser discreto no que faço, não procuro destacar-me, ser o bastante tempo, de interromper outras coisas que faço. Gosto centro das atenções. Mas admito que seja conhecido pela de me manter informado do que se passa e essa é uma das minha ligação ao jazz, com o festival de Guimarães e devido às formas de o fazer. artes plásticas mais do que em relação a tudo o resto. Mas tenho uma atividade profissional muito É uma pessoa multifacetada e que ampla onde lido com muita gente. O gosta de estar sempre ocupado? Faço as coisas porque gosto, é tudo Eu consigo fazer várias coisas ao hospital é uma estrutura complexa, com diferentes interesses e pressões. mesmo tempo. A música está sempre muito espontâneo, sem objetivos Aprendi muito com a minha profissão, presente na minha vida. Leio, escrevo, premeditados, nem grandes mas fui mantendo sempre em vejo televisão, tudo com música. Gosto planificações. simultâneo outros focos de interesse. particularmente de otimizar o tempo que tenho. Como explica a longevidade dos projetos a que está associado? Há algum segredo para a A rádio é uma paixão de sempre. O “Baile dos Bombeiros” gestão do seu tempo? está, como referiu, no ar há quase três décadas e chegou Também a mim me surpreende às vezes que as coisas durem inclusive a apresentá-lo. Mas o fascínio por este meio de tanto tempo e que estejam em constante crescimento, comunicação, pelo que sei, vem do tempo das rádios evolução. O Guimarães Jazz é prova disso, estou neste projeto piratas? há 23 anos, e o programa de rádio “Baile dos Bombeiros” de Como era fazer rádio nessa época? que sou autor já está no ar há 33 anos. Mas acredite que não Era fantástico, sem dúvida. Comecei com o programa na Rádio há verdadeiramente um projeto, existe sim uma pulsão e muito Delírio, que era uma rádio pirata. Era tudo novo, um grande trabalho à mistura. Eu tenho uma vontade enorme de fazer desafio. Ensinou-me a colocar a voz, a escrever para se ler, coisas. Diariamente leio, escrevo e ouço música. Faço as coisas dizer. E aprender a escrever para rádio deu-me uma prática porque gosto, é tudo muito espontâneo, sem objetivos de escrita para tudo o resto que faço hoje. A forma como se premeditados, nem grandes planificações. estrutura o texto, se ligam as pontas de um tema. E para se escrever, temos de ler e escrever muito. Há muito
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ENTREVISTA A IVO MARTINS DIRETOR ARTÍSTICO DO FESTIVAL DE JAZZ DE GUIMARÃES
trabalho n’“O Baile dos Bombeiros”, escrevia todas as semanas umas 20 páginas. Passava dois discos, um em cada hora. E os temas eram muito variados, desde os músicos, os instrumentos, os estilos de jazz, como faziam aquilo, ou às vezes abordava um pouco da história de jazz. Eu era muito livre nos temas. Foi uma excelente escola.
A arte nas suas variadas manifestações desde pintura, escultura, literatura, música foram desde muito cedo importantes focos de interesse. Quais foram as suas influências? Acho que a sensibilidade para a arte nasce connosco, mas o meio sem dúvida que a influencia. Eu cresci num ambiente ímpar. O meu pai era uma pessoa muito dotada, desenhava Tem já dois livros publicados, “Em Trânsito, em Morte” muito bem. Dominava uma série de técnicas, retratava de (Editora Sete Nós, Porto, 2012) e “O Jazz Depois do Jazz” forma excecional, fazia caricaturas e publicidade. Por (Editora Sete Nós, Porto, 2017). O que se segue? exemplo, muitos dos logótipos das corporações de bombeiros Não penso muito nesses moldes. Os meus livros são de Santo Tirso são do meu pai. Outra curiosidade interessante essencialmente ensaios e foram feitos é que ele fazia as carroçarias dos carros de muito devagar. E foi tudo por acaso: por bombeiros. Ele tinha um atelier nas águas Eu olho para a arte de forma exemplo o “Em Trânsito, em Morte” foi furtadas e era aí onde criava tudo. Eu cresci escrito entre 1995 e 1999. É um livro nesse ambiente e todos os dias via o meu pai a afetiva e emocional, mas duro, aborda vários temas desde arte, fazer coisas. Era uma coisa mágica para mim também de maneira racional vida, poesia, literatura, filosofia, enfim ver uma folha em branco e depois aparecer o e reflexiva. fala das pessoas. Fiz cinco versões do desenho. Lembro-me que gostava de ler e livro, reescrevendo diversas vezes. consultar os livros dele de pintura sobre Coloquei tudo numa pen drive e em conversa com Manuel impressionistas. E com 18 anos já sabia o que era um bom e Neto (editor dos livros e que edita os meus textos para o um mau desenho. Fui adquirindo, assimilando conhecimentos Guimarães Jazz) falei dos textos, ele pediu para os ver, leu e de diversas formas. Há toda uma perceção do trabalho que mais tarde convenceu-me a mostrar o meu trabalho a uma está por detrás de uma pintura, escultura, há o ofício de quem editora, e assim foi. Estes textos estiveram vários anos dentro de o executa. Eu olho para a arte de forma afetiva e emocional, uma pen, longe de imaginar que poderiam interessar a mas também de maneira racional e reflexiva. alguém. Claro que hoje não escrevo da mesma maneira que há uns anos atrás, pois agora penso que o que escrevo pode E o que é que leva uma pessoa a colecionar? Como se ser lido. Mas na altura foi mesmo um voo picado. tornou num colecionador, como é que se começa? A escrita é muito importante para mim porque me organiza Quando era miúdo pedia quadros aos amigos do meu pai. mentalmente. (risos)
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E eles davam? Sim, claro. Depois dessa fase comecei a comprar. Por exemplo, comprei fotografias ao Manuel Sousa, em 1973/4, eram essencialmente fotografias a preto e branco. São fotografias incríveis de zonas rurais profundas, muitas delas do Gerês. Mas, com regularidade, comecei a comprar no princípio dos anos 80, nomeadamente pintura e escultura. Estou na arte porque me sinto bem, fui também evoluindo. Hoje em dia até compro projetos, instalações e vídeos. Sei que um colecionador privado à partida não compra isso, porque o que tem valor é o que no mercado é transacionável, como a pintura e a escultura. Mas gosto de conhecer outras formas de arte, sou muito curioso.
©Teresa Ribeiro
E como é a sua coleção? Atualmente é composta por quantas peças, de quantos artistas? Só pintura, escultura, ou abrange mais áreas? Na década de 1980 tive uma galeria de arte aqui em Santo Tirso, a A5, com o Avelino Leite e o José Guilherme Pelayo, o que me permitiu estabelecer contactos com jovens artistas. Comecei a comprar pintores que mais gostava. E há alguns pintores portugueses de que eu gosto mesmo muito. Para mim há cinco pintores que são muito importantes, não tenho obras de todos, porque não tinha dinheiro para as ter, pois sou uma pessoa com um rendimento normal. Tenho apenas de dois deles, Álvaro Lapa e Joaquim Bravo. Neste momento, a maior parte da minha coleção está em Serralves e tem um número aproximado de 350 peças de 30 artistas. Comecei a colecionar jovens artistas que hoje têm cerca de 50 anos e de quem tenho
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40 peças de cada um, conseguindo abranger assim um arco temporal de 20 ou 30 anos do seu trabalho. Não tem obras de arte em casa? Não, está tudo por aí (risos). A maior parte está no Museu de Serralves o que é ótimo porque assim estão salvaguardadas todas as condições de preservação e manutenção das obras.
Guimarães (CIAJG), em Guimarães, “A Arte como Experiência do Real, Curador: Nuno Faria; em 2004, na Culturgest, no Porto, “Proximidades e Acessos”, Curador: Miguel Wandschneider; e antes disso, em 2001 esteve no CAPC (Centro de Artes Plásticas de Coimbra), “321m2, Trabalhos de uma Coleção Particular”, Curador: Paulo Mendes. Muitas vezes Serralves pede-me autorização para emprestar as peças para mostras em várias zonas do país.
Tem uma relação distante com as peças que possui. Não precisa de estar próximo, de as ver São as peças que o levam a conhecer diariamente? os artistas e não o inverso. Como é a Não faz sentido guardar as coisas só relação, colecionador/ artista? Ouço música desde muito novo, para mim, as peças podem É uma relação de muita cumplicidade. sempre me emocionou. Sempre perfeitamente estar noutros locais e Há um compromisso muito sério entre ouvi todo o tipo de música, ouvia serem apreciadas, observadas por mim e os artistas, crio laços de outros. Mas há quem tenha um Van relacionamento muito profundos e de jazz sem saber que era jazz (...) Gogh numa sala para pura muita confiança. De outra forma não contemplação. Para mim isso não faz poderia ser, sem uma certa abertura qualquer sentido. A minha coleção está por parte deles. cá toda dentro (aponta para a cabeça), é uma coisa íntima, um conjunto de coisas que estão ali e que são uma espécie de Já pensou escrever um livro sobre a sua coleção de arte? espelho do que eu sou, do meu percurso. Sim já, mas não sei se serei capaz de o fazer, porque é difícil concentrar tudo num único ponto de vista e há tanta coisa que E como são as obras, há alguma coisa comum entre elas? contribuiu para esta coleção. Mas muitos dos artistas e das Gosto de coisas muito depuradas, austeras, duras, cruas, pessoas que me conhecem bem, dizem-me muitas vezes que difíceis, fazem-me pensar, refletir, questionar. devia fazê-lo. Quem sabe um dia. Quantas vezes foi exposta a sua coleção? A coleção foi exibida três vezes. No ano passado esteve em exposição no Centro Internacional de Arte de José de
E a literatura o que mudou a sua vida? Os livros permitem autênticas viagens. A minha paixão pela leitura começou aos 18 anos. Lia muitos romances na altura,
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nomeadamente os clássicos todos. Gostava particularmente dos russos, Leon Tolstoi, Dostoievski, Pushkin, Soljenítsin, Pasternak, Techkhov. Depois comecei a interessar-me mais por ensaios de filosofia, sociologia, de autores como Slavoj Zizek, Zygmunt Bauman, George Steiner, Deleuze, Foucault, Sloterdijk, Byung-Chul Han, Giorgio Agamben, Castoriadis, Rancière… Atualmente quase não leio romances, mas há nomes incontornáveis da literatura contemporânea como Thomas Berhnard, W.S Sebald, e Milan Kundera. São autores marcantes e com obras notáveis. Nasceu em Santo Tirso, viveu sempre aqui...porquê? E porque não? Sempre vivi na mesma rua, mas em casas diferentes. Gosto da cidade, das pessoas que são simpáticas, afáveis, Sinto-me em casa. Tenho uma relação íntima com a cidade mas não é nada institucional. Mas esteve ligado a duas instituições da cidade? A Santa Casa da Misericórdia e a ASAS - Associação de Solidariedade e Ação Social de Santo Tirso. Sim. A verdade é que se me convidam tenho dificuldade em dizer não. Mas prefiro ter uma vivência o mais discreta possível. (risos) Regressando à música, ela está sempre presente na sua vida? Ouço música desde muito novo, sempre me emocionou. Sempre ouvi todo o tipo de música, ouvia jazz sem saber que era jazz, contemporânea, erudita, clássica, rock, de tudo um pouco, e ainda hoje é assim. Na adolescência fiz parte de uma
©Miguel Estima
banda rock, chamada Síntese, onde era baterista. Foi um período muito divertido, mas nunca me senti músico. Era muito tímido. Deve ter milhares de livros, discos. Onde estão guardados? Tenho pouca coisa em casa. Há vários milhares de discos e livros que estão arquivados em caixas no Arquivo Municipal e na Biblioteca de Guimarães. Em casa seria impensável. De onde vem essa energia, essa vontade de fazer coisas? Não sei. Também fico espantado, mas a verdade é que escrevo todos os dias sobre jazz e sobre outros temas. Estão sempre ideias a surgir. • POR CARLA NOGUEIRA (JORNALISTA)
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RELATÓRIO DE ATIVIDADES 2017
A Misericórdia de Santo Tirso é hoje um referencial de qualidade, inovação e empreendedorismo. Serve 2.000 utentes/dia. É um dos maiores empregadores do concelho, dependendo diretamente da instituição 350 colaboradores. Tem um encargo salarial de cerca de €4.900.000,00, o que implica o pagamento de impostos sobre o trabalho de cerca de €1.250.000,00 (um milhão duzentos e cinquenta mil euros). Fizemos um investimento global em 2017 de €1.021.420,46 (um milhão e vinte e um mil quatrocentos e vinte euros e quarenta e seis cêntimos). Para além do serviço à comunidade nas suas áreas de intervenção - Social, Saúde, Educação e Cultura, substituindo-se ao Estado em tudo que este não consegue fazer ou faz de forma ineficaz e ineficiente, é também um motor da economia. A instituição, nas valências da área social e educação, nos últimos 5 anos, teve um resultado negativo, ou seja, um investimento de cerca de €3.250.000,00 (três milhões e duzentos e cinquenta mil euros), tudo em prol do bem-estar da comunidade. Reiteramos o que temos afirmado, ou seja, a Economia Social e o Terceiro Setor têm vindo a ganhar notoriedade. É, pois, claro que o Estado necessita e necessitará sempre de um parceiro/ substituto na implementação das suas políticas sociais, de saúde e educação. Estivemos disponíveis, como sempre estamos, para os desafios que nos foram lançados, entre outros: • Programa Operacional de Apoio a Pessoas Mais Carenciadas – POAPMC, que consiste na distribuição
mensal de alimentos a pessoas sinalizadas pelo Centro Comunitário de Geão; • Manutenção da Cantina Social, com distribuição de 99 refeições diárias; • Renovação da Carta Compromisso para 13 vagas em Centro de Emergência na Casa Abrigo; • Renovação da Carta Compromisso para autonomização de mulheres em fase de reintegração; • Manutenção do Projeto “A Escola vai à Casa Abrigo; • Serviço de Apoio Domiciliário a 42 utentes sem acordo de cooperação; • Disponibilização de instalações para cursos de alfabetização e de formação profissional; • Acolhimento de 32 estagiários e colaboração em 3 Estudos de âmbito universitário; • 69 Ações de Formação, envolvendo 581 formandos; • Realização de 36 eventos no nosso Auditório; • Cerimónia de atribuição da Medalha Comemorativa alusiva aos 25 anos de antiguidade dos Colaboradores. Tinha sido proposto dar seguimento a alguns projetos no ano em análise, mas que por variados fatores não tiveram seguimento, entre os quais: • Criação da Unidade Especializada em Demências, no antigo edifício da ARCO Têxteis.
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Atualidades
Tal não avançou pelo facto de não terem sido abertas candidaturas a fundos comunitários, nem qualquer outro tipo de linha de financiamento, bem como o Estado não estar a efetuar qualquer tipo de contratualização, quer via Segurança Social quer via Saúde. • Projeto das Residências Assistidas – Bairro da Misericórdia.
Estamos ao serviço da comunidade. Como temos demonstrado, a sustentabilidade da instituição exige uma rigorosa política de gestão, onde é desafiado permanentemente o profissionalismo, empenho, transparência e capacidade de sacrifício de todos os que com ela colaboram ou nela trabalham.
Existiram impedimentos de ordem burocrática, nomeadamente relacionados com registos na Conservatória e Finanças. • Edifício do antigo Liceu, que apesar dos numerosos contactos encetados por parte da instituição, não obteve procura para qualquer tipo de projeto. A cultura mereceu, como sempre, a nossa melhor atenção, mesmo sem qualquer tipo de apoio, o nosso grupo coral continuou a ser um divulgador do nome da Misericórdia e do concelho de Santo Tirso, dentro e fora do país. Disponibilizamos e dinamizamos vários eventos através do nosso Auditório, Sala Multiusos, Centro Comunitário de Geão, Revista e Plataformas Informáticas – Site e página de Facebook. Já no final do ano, disponibilizamos a ferramenta Office 365 para todos os colaboradores, permitindo entre inúmeras funcionalidades também a comunicação e divulgação interna de iniciativas que promovem a cultura institucional. Definitivamente, demos cumprimento à nossa missão, promovendo respostas e iniciativas adequadas à prossecução dos nossos fins e às necessidades diagnosticadas na comunidade, contribuindo assim para o desenvolvimento local e proteção de grupos sociais mais vulneráveis.
RENDIMENTOS (€)
2016
2017
DIF.
DIF. %
VENDAS E SERV.
3 034 809,39
3 302 448,11
267 638,72
8,82%
SUBS. DOAÇÕES
2 690 639,12
2 795 145,69
104 506,57
3,88%
TRAB. PRÓP. ENT.
0,00
0,00
0,00
0,00%
REVERSÕES
337 063,79
0,00
-337 063,79
0,00%
OUT. REND. E
1 539 852,14
1 175 360,89
-364 491,25
-23,67%
1 973,00
2 773,30
800,30
40,56%
7 604 337,44
7 275 727,99
-328 609,45
-4,32%
E LEG.
GANHOS JUROS REND. OBT. TOTAL
Verifica-se um crescimento negativo de 4,32% (€328.609,45) no total dos RENDIMENTOS. Tal deve-se a uma diminuição significativa de 23,67% (€364.491,25) na rubrica Outros Rendimentos e Ganhos, apesar do aumento de 8,82% (€267.638,72) na rubrica de Vendas e Serviços.
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3,500,000.00 3,000,000.00 2,500,000.00 2,000,000.00 1,500,000.00 1,000,000.00
2016
500,000.00
2017 BT .
S RE S RO
EN UT .R O
JU
RE
G
VE
AN
ND .O
HO
ES Õ RS
P. E RÓ
TR
AB .P
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3,302,448.11, 45%
D. E
G . LE E
SE E ND AS
1,175,360.89, 16%
SU
2,773.30, 0%
NT .
0.00 RV .
No que concerne à rubrica de Vendas e Serviços, tal aumento deveu-se essencialmente ao crescimento do valor da prestação de serviços na área da saúde, bem como ao valor recebido referente a matrículas e mensalidades. Quanto a Outros Rendimentos e Ganhos, a diminuição fica a dever-se essencialmente às Reversões.
VE
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RELATÓRIO DE ATIVIDADES 2017
0.00, 0%
0.00, 0%
GASTOS (€)
2,795,145.69, 39%
2016
2017
DIF.
DIF. %
C.M.V.M.C.
706 457,84
657 171,30
-49 286,54
-6,98%
F.S.E.
1 297 691,03
1 250 842,07
-46 848,96
-3,61%
REVERSÕES
GASTOS C/
4 724 313,98
4 872 050,37
147 736,39
3,13%
OUT. REND. E GANHOS
PESSOAL AMORT.
489 665,35
632 263,39
142 598,04
29,12%
PROVISÕES
0,00
82 502,70
82 502,70
100,00%
OUTROS GAST.
116 363,22
87 057,60
-29 305,62
-25,18%
2 382,61
6 552,46
4 169,85
175,01%
7 336 874,03
7 588 439,89
251 565,86
3,43%
VENDAS E SERV. SUBS. DOAÇÕES E LEG. TRAB. PRÓP. ENT.
JUROS REND. OBT.
PERDAS JUROS E GASTOS SIM. TOTAL
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Atualidades
2016
SI
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2017
.M
Os Gastos c/ Pessoal justificam-se com a atualização do Salário Mínimo e escalões seguintes. É de especial relevo a diminuição das rubricas de C.M.V.M.C. em 6,98% (€49.286,54) e F.S.E. em 3,61% (€46.848,96).
5,000,000.00 4,500,000.00 4,000,000.00 3,500,000.00 3,000,000.00 2,500,000.00 2,000,000.00 1,500,000.00 1,000,000.00 500,000.00 0.00
C
Os GASTOS apresentam um aumento de 3,43% (€251.565,86), devido essencialmente aos aumentos em 3.13% (€147.736,39) dos Gastos c/ Pessoal, 29,12% (€142.598,04) de Amortizações e 100% (€82.502,70) de Provisões.
6,552.46, 0% 87,057.60, 1%
657,171.30, 9%
82,502.70, 1%
1,250,842.07, 17%
632,263.39, 8%
4,872,050.37, 64% C.M.V.M.C.
RESULTADOS
2017
Result. antes Deprec.
323 330,65
Amortizações
632 263,39
Resultado Líquido
-312 711,90
F.S.E. GASTOS C/PESSOAL AMORT. PROVISÕES
CASH FLOW DE €402.054,19
OUTROS GAST. PERDAS JUROS E GASTOS SIM.
• O RESULTADO LIQUIDO DO PERÍODO é de - €312.711,90, • AMORTIZAÇÕES de €632.263,39, • PROVISÕES de €82.502,70,
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Atualidades
RELATÓRIO DE ATIVIDADES 2017
NOTAS:
Destaca-se o seguinte:
REAL VS ORÇADO
• Lar José Luiz d’Andrade – €569.060,06 - Remodelação do edifício com especial enfâse na cobertura, paredes exteriores e caixilharias, visando melhores condições de conforto e a otimização energética. • Casa de Repouso de Real - €115.422,07 - Primeira fase de remodelação desta valência, com o objetivo de modernizar e dotar de melhores condições todos os quartos, cozinha e espaços destinados a colaboradores. • Jardim de Infância Comendador Abílio Ferreira de Oliveira - €39.961,63 - Remodelação de telhado e paredes exteriores. • Serviços de Apoio - €15.257,50. • Unidade de Cuidados Continuados - €15.994,59 – Trabalhos de manutenção. •
Não podemos deixar de relevar a confirmação da apologia feita ao rigor orçamental aquando da apresentação do respetivo documento para 2017, ou seja, parcimónia na projeção de receitas – desvio positivo de 15,13% (€956.227,00) e parcos na projeção de despesas – desvio negativo de 4,69% (€339.638,00), não se verificando praticamente desvios (valores abaixo dos 0,70%) nas rubricas de Fornecimentos e Serviços Externos e Gastos com Pessoal, havendo inclusive desvio positivo no que concerne a Custo das Mercadorias Vendidas e Matérias Consumidas (- €54.829,00). Os 4,69% (€339.639,00) de desvio negativo devem-se essencialmente às Amortizações e às Provisões de €187.263,00 e €82.502,00 respetivamente.
POR JOÃO LOUREIRO (DIRETOR GERAL)
O INVESTIMENTO feito no ano de 2017 foi de €1.021.420,46.
1,100,000.00 1,000,000.00 900,000.00 800,000.00 700,000.00 600,000.00 500,000.00 400,000.00 300,000.00 200,000.00 100,000.00 0.00
1,021,420.46
489,286.94 264,101.59
2015
2016 ANOS
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A ARTE DA MELHORIA CONTÍNUA
Desde 2010 a Misericórdia orgulha-se de disponibilizar um conjunto de serviços e respostas sociais certificados pela APCER à comunidade local, para diferentes grupos populacionais, de acordo com as suas necessidades. Efetivamente, as respostas sociais já existiam, mas muitos procedimentos foram alterados para garantir a qualidade dos serviços prestados, a segurança e o bem-estar dos nossos clientes. Em Março de 2018, alcançamos uma nova etapa na certificação da qualidade, dado que fomos impelidos a adequar as nossas práticas à nova versão do referencial, Norma ISO 9001:2015. Na prática institucional e na prestação dos serviços ao cliente não se registaram alterações significativas. As mudanças fizeram-se sentir mais ao nível do planeamento estratégico: • Análise do contexto institucional, ou seja, avaliar as implicações do meio envolvente na organização – contexto externo- quer a nível macro (influências mundiais, europeias), quer a nível micro (influências nacionais e locais) e do contexto interno – no que diz respeito aos recursos humanos, condições financeiras, estruturas físicas… • Análise das partes interessadas, ou seja, analisar a perceção e o impacto dos parceiros, clientes, organismos envolvidos; • Análise dos riscos e oportunidades, de modo a investir nos aspetos que apresentam potencial para desenvolver a instituição e incidir em ações para minimizar os riscos diagnosticados;
Atualidades
• Definição de objetivos estratégicos para orientarem a atuação numa evolução positiva futura. A equipa auditora, que avaliou o Sistema de Gestão da Qualidade da instituição, considerou que este se apresentava estruturado, implementado e continua a manter-se, neste ciclo de certificação, em conformidade com os requisitos da norma de referência NP EN ISO 9001:2015. O SGQ implementado está assente num conjunto de planos de ações de melhoria para assegurar o cumprimento das metas, onde são identificados os resultados pretendidos, os mesmos são monitorizados periodicamente, bem como as ações e os recursos identificados como necessários ao cumprimento desses resultados pretendidos. Os objetivos da qualidade, alinhados com a sua política da qualidade, foram na generalidade alcançados no ciclo de 2017, e para alguns dos incumprimentos relativamente às metas estabelecidas foram devidamente enquadradas e analisadas pela organização. Os métodos de avaliação de desempenho constam de acompanhamento dos indicadores definidos assegurando resultados válidos, já que estes indicadores revelam-se adequados e ajustados à realidade e negócio da organização. Um novo ciclo, uma nova fase, sempre na busca da melhoria contínua! • POR LILIANA SALGADO (DIRETORA DE SERVIÇOS SOCIAIS E QUALIDADE)
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Atualidades
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O DESAFIO MUNDIAL DA (CIBER)SEGURANÇA
A (Ciber)Segrança é hoje um assunto incontornável na Sociedade Civil, que até há pouco tempo, estava “restrito” aos profissionais da área tecnológica. Debatiam com as dificuldades de um setor em grande expansão, sem possuírem o conhecimento necessário para enfrentarem os desafios da segurança, nem possuíam tecnologia de defesa capaz de dirimir o CiberCrime. Fruto dos mais recentes incidentes Nacionais e Internacionais com malware, em particular com um tipo de vírus informático, conhecido como ransomware, a Sociedade despertou para esta problemática e começou a ganhar consciência dos riscos até então desconhecidos ou ignorados. O Mundo está de facto a mudar... e os Governos começaram a olhar para esta problemática como um ataque sério à sua soberania e paz Mundial. Todos os dias surgem leis e regulamentos que tentam de alguma forma pôr ordem e controlar este novo mundo que se desvenda a cada passo, mas existe ainda um longo caminho a percorrer nesta matéria. A Comissão Europeia, atenta às questões da CiberSegurança e preocupada com a disseminação e utilização sem controlo ou regulamentação dos Dados Pessoais por parte das entidades, decidiu em maio de 2016 promulgar um Regulamento Geral de Proteção de Dados Pessoais (RGPD), tornando-se obrigatório em 25 de maio de 2018, e veio impor regras muito restritas à recolha, utilização e tratamento dos dados pessoais dos cidadãos do espaço Europeu, onde naturalmente Portugal está inserido.
O RGPD, aplicado a cada um dos estados membros, prevê pesadas sanções económicas (multas), que podem nos casos mais graves chegar aos 20 milhões de euros, e ainda sanções criminais para quem de forma deliberada ou involuntária (por exemplo por desconhecimento), não cumprir o estipulado no regulamento. Estas sanções não se aplicam apenas às entidades, aplicam-se também aos colaboradores que pratiquem atos que violem os princípios do RGPD. Neste sentido a Irmandade da Santa Casa da Misericórdia de Santo Tirso (ISCMST), fiel depositária de uma grande quantidade de Dados Pessoais, quer dos seus colaboradores, quer dos seus utentes e/ou representantes, delineou uma estratégia que visa o cumprimento do estipulado pelo RGPD.
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Atualidades
de práticas que até agora eram aceites como normais. Contudo estamos conscientes que a sensibilização não se esgota nos profissionais e colaboradores, a ISCMST vai também promover ações junto dos familiares que diariamente acompanham os utentes, evitando que por desconhecimento possam colocar em causa a privacidade de outros utentes e profissionais da Instituição. No passado mês de abril, nos dias 4 e 5, foram realizadas várias ações de sensibilização sobre a CiberSegurança e o RGPD, em particular sobre a proteção dos Dados Pessoais dos utentes, com presença obrigatória de todos os colaboradores, bem como dos corpos dirigentes da ISCMST. A estratégia definida, assenta em três (3) pilares fundamentais, nas Pessoas, nos Processos e na Tecnologia. No que diz respeito às Pessoas a ISCMST tem enviado a diversas ações de formação os colaboradores adstritos à segurança e proteção dos dados pessoais, formando assim internamente competência e massa crítica para levar a cabo a tarefa de tornar a ISCMST cada vez mais segura. Internamente tem realizado várias ações de sensibilização aos seus colaboradores, seja por via de formações e workshops em sala, seja pela partilha e divulgação constante de informação sobre estas matérias, ou por via das reuniões com as diversas Valências que a Encarregada de Proteção dos Dados (EPD) tem realizado para sensibilizar e chamar a atenção dos riscos
Fizeram-se também representar no evento, elementos de outras Misericórdias e Entidades Públicas, demonstrando assim o caráter transversal desta matéria e a posição de liderança que a ISCMST tem revelado desde o primeiro momento na melhor defesa dos interesses dos seus utentes e colaboradores. Em paralelo, tem sido realizado um grande esforço na avaliação e adaptação de Processos Internos, com vista ao cumprimento do RGPD. Cada processo de trabalho, cada formulário de recolha de Dados Pessoais dos utentes ou colaboradores, tem estado sobre o escrutínio do comité de segurança, liderado pela EPD,
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Atualidades
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O DESAFIO MUNDIAL DA (CIBER)SEGURANÇA
Nesta matéria a ISCMST, tem também feito investimentos considerais com vista à evolução tecnológica, disponibilizando mais e melhores ferramentas aos seus colaboradores e utentes, o que tem permitido aumentar a segurança tecnológica em toda a Instituição. Para além dos pressupostos formais e legais aos quais está obrigada, a ISCMST está fortemente empenhada na salvaguarda e preservação de todos os Dados Pessoais e Dados Sensíveis que se encontram à sua guarda, exemplo disso é a Política de Privacidade aprovada pelos orgãos competentes e que poderá consultar no sítio da ISCMST em http://www.misericordia-santotirso.org/instituicao/politica-deprivacidade/ sendo posteriormente redesenhado e adaptado por forma a dar cumprimento ao estipulado no RGPD. Contudo, as alterações de procedimentos não se cingem apenas aos processos internos, também aqui a ISCMST vai mais além e está a trabalhar em conjunto com todos os seus fornecedores, seja de bens ou serviços, para regulamentar a forma como as suas relações comerciais devem ser realizadas à luz do RGPD. Do ponto de vista Tecnológico, a ISCMST tem realizado reuniões com os seus fornecedores de sistemas informáticos para a adaptação dos mesmos e assim responder a todos os requisitos técnicos exigidos por lei de proteção dos Dados Pessoais e segurança informática.
Os próximos tempos serão de grandes alterações, contudo realizadas de forma programada e serena, minimizando o impacto para que, amanhã tenhamos uma Misericórdia de Santo Tirso capaz de continuar a servir com a excelência de sempre e de forma cada vez mais segura. • POR NUNO LUCAS (DEPARTAMENTO DE INFORMÁTICA)
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TECER AFETOS EM CROCHÉ
O projeto “Tecer Afetos” surgiu no Instituto Nun’Alvres para celebrar o Dia Mundial da Poesia e integrar o programa da Poesia Livre 2018, apresentado pela Câmara Municipal de Santo Tirso. Tendo a poesia como pano de fundo, e tentando aliar a literatura a outras expressões artísticas, o INA procurou o envolvimento comunitário e de várias Instituições do concelho na criação de um manto de poemas escritos em tecido, unidos por retalhos de croché. “Tecer afetos”, tecer partilha, tecer com amor...assim se enunciava um desafio que desde logo quisemos abraçar.
O projeto teve início em Dezembro de 2017 e finalizou em Março de 2018, envolvendo 4 meses de intenso trabalho artístico que mobilizou vários utentes do Lar José Luiz d’Andrade, Lar Dra. Leonor Beleza, Centro Comunitário de Geão e Centro de Dia. Agregados por um objetivo comum e motivados pela importância do seu trabalho neste projeto estudantil, os utentes trabalharam afincadamente na realização das peças de croché. Um exercício de criatividade, expressão e exploração estética que lhes foi devolvendo a satisfação de uma arte que tão bem conhecem.
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TECER AFETOS EM CROCHÉ
Às produções literárias dos alunos, juntaram-se as peças de croché produzidas pelos utentes da Misericórdia de Santo Tirso. E, linha após linha, quadrado após quadrado a manta foi ganhando vida, vestindo assim a fachada do colégio e árvores envolventes, como uma tela imensa de cor e poesia! Um resultado que muito agradou aos nossos utentes quer pela sua finalidade artística, quer pelos laços criados com a comunidade local e estudantil. • POR MARTA FERREIRA (ANIMADORA DO LAR JOSÉ LUIZ D’ANDRADE E CENTRO DE DIA)
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CRIAR COM AS MÃOS...
A Oficina de Cerâmica, na Casa de Repouso de Real, pretende ser um espaço de estímulo à criatividade, através de técnicas simples e transmitidas de forma acessível, levando os participantes a fazer parte com as suas vivências e transpô-las para o barro. Ao fazê-lo em grupo estabelece-se uma interação entre os pares, de partilha e troca de experiências. Seguramente em algum momento das nossas vidas já mexemos no barro, pelo menos brincamos com terra quando crianças ou então tocamos numa massa modelável ou amassamos pão, logo mexer no barro é algo tão natural e intuitivo que está ao alcance de quem o toca. Em todos os momentos da existência é possível estimular a sensibilidade artística inerente a todo o ser humano. Criar com as próprias mãos desenvolve todo um processo de autoconhecimento e de enriquecimento individual levando à criação de formas harmoniosas e geradoras de prazer estético, emocional, mental e físico. A cerâmica, assim como todo o processo de criação/ transformação é usada como ócio positivo, trazendo muitos benefícios a quem a pratica, tanto a nível individual como coletivo. O projeto de intervenção/ação é facilitador de mudanças e autonomia no âmbito destas faixas etárias em contexto institucional estimulando o processo cognitivo de psicomotricidade e de socialização, aumentando a criatividade, autoestima e o bem-estar. • POR MARISA ALVES (CERAMISTA)
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RUGAS QUE DIZEM
Numa sociedade que procura avidamente o elixir da juventude eterna e cultiva ideais de beleza desenhados de mocidade, nem sempre é fácil aceitar o envelhecimento e a inevitabilidade do tempo na nossa imagem. A relação com o corpo em transformação pode ser particularmente desafiante para algumas pessoas e acompanhada por sentimentos de rejeição da imagem pessoal. Umas poderão procurar combater e ocultar os traços da idade, enquanto outras poderão assumir a sua idade sem artifícios, mas desinvestida e desinteressadamente. Esta última tendência parece ter ainda maior expressão entre os idosos institucionalizados. A perda ou separação do cônjuge, a desinserção comunitária e o abrandamento das atividades sociais poderão ditar para muitos uma menor preocupação com a imagem ou absoluta perda de interesse pela aparência. Procurando “roubar” os seus utentes de uma rotina que ofusca a expressão da sua beleza e eternizar alguns momentos dos mesmos, as valências Lar José Luiz d’Andrade e Centro de Dia desenvolveram uma iniciativa que se centra na fotografia como expressão artística, como registo biográfico na construção de memórias individuais e coletivas e como valorização estética da terceira idade. ”Rugas que dizem” visa a realização de retratos fotográficos aos utentes em diferentes situações e contextos com a colaboração de diferentes profissionais da comunidade. A primeira iniciativa – “Rugas que dizem Feliz Natal” decorreu em Dezembro passado com a colaboração dos alunos e
professores do Curso de Audiovisuais da Oficina (Escola Profissional do Instituto Nun’Alvres). Seguiu-se, em Março do corrente ano, a iniciativa “Rugas que dizem Tempo” com a colaboração da fotógrafa Sandra Ventura. Especializada em fotografia geriátrica, esta profissional esteve presente na Instituição para fotografar os utentes destas valências e seus familiares. Num dia dedicado à fotografia e ao tempo dos utentes, aqui fica o nosso agradecimento à Sandra Ventura e ao Tiago Batista pelo profissionalismo, e simpatia que trouxeram à sessão de fotos e ainda à Prof. Amélia Moreira e aos alunos o Curso de Cabeleireiro do Instituto de Emprego e Formação Profissional pela disponibilidade com que se juntaram a esta iniciativa, apoiando nos cuidados de imagem aos utentes. Aqui deixamos ainda o resultado desta sessão que tudo diz sobre uma beleza sem tempo, que transcende a idade e a juventude…• POR MARIA JOÃO FERNANDES (COORDENADORA DO LAR JOSÉ LUIZ D’ANDRADE)
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Foto: Sandra Ventura
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A ARTE DE CUIDAR
Ação Social e Comunidade
Cuidar, mais do que uma técnica ou uma virtude, é uma Arte, um novo paradigma de respeito com a natureza e com as relações humanas. Limitá-la à satisfação de cuidados diários e contínuos necessários ao bem-estar de uma pessoa fragilizada, é demasiado redutor. Implica uma série de atitudes por parte do cuidador que o colocam com uma densidade de vida, que vai muito além da aplicação de conhecimentos. É uma entrega total de si próprio. Uma entrega diária. Presente nas mais pequenas e simples atitudes dos nossos cuidadores: Ao mostrarem humanidade na relação que estabelecem com os utentes, rompendo as barreiras da distância através de um contacto próximo e familiar;
Ao tocarem, acariciarem como manifestação de amor, devolvendo-lhes a certeza de pertença. Quando tocam, cuidam e quando cuidam, tocam; Ao serem os olhos, a voz, as mãos, os ouvidos (…) dos nossos utentes; Ao deixarem falar, partilhar, desabafar, ouvindo com cuidado e atenção;
Quando tocam, cuidam e quando cuidam, tocam...
Ao se colocarem no lugar do outro, sentindo com eles e fazendo-os perceber que não estão sozinhos na sua dor ou alegria; Ao estarem disponíveis e dispostos a servirem as necessidades de cada um, com prontidão, esforço e generosidade; Ao conservarem o respeito pela individualidade, com integridade e verdade; Ao estabelecerem um vínculo afetivo, que se vai fortalecendo com o passar o tempo;
Ao transmitirem otimismo e positividade, colorindo os dias em que a alegria, ilusão e/ou esperança parecem desaparecer; Ao mostrarem compreensão e tolerância em momentos de pressão e tensão;
Dando a mão ou sussurrando palavras de consolo para encontrarem paz e serenidade. Pela presença física e espiritual no último adeus. Cuidar, tal como a Arte é uma atividade humana, feita por artistas, chamados de Cuidadores, que através das suas emoções e expressão de sentimentos dão a tudo o que fazem diariamente um significado único e diferente, verdadeiras obras de arte!!! • POR ANA LUÍSA CARVALHO (COORDENADORA DO LAR DRA LEONOR BELEZA)
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UM LONGO ADEUS
“É esquisito ter lembranças de coisas que ainda não aconteceram, acabo de lembrar que Matilde vai sumir para sempre.” Leite Derramado, Chico Buarque
encarar o problema na sua dimensão clínica e, por fim, a procura de um outro nome para um diagnóstico que acaba por se impor: Alzheimer. Uma travessia que se faz longa e atrasa o pedido de ajuda.
No seu livro “Leite Derramado” Chico Buarque explora com O diagnóstico de Alzheimer deixa as famílias confusas, mestria a demência, na sua vivência só e enclausurada. Numa desorganizadas e desesperançadas. Há todo um processo narrativa fragmentada e pelas palavras de um velho, que se repleto de obstáculos que se afiguram tantas vezes encontra hospitalizado, muito provavelmente com doença de intransponíveis. E as famílias debatem-se. Muitas vezes Alzheimer, percorrem-se os caminhos cerrados da demência: incapazes de pedir ajuda ou simplesmente de perceberem as portas que se fecham e as estradas que levam a parte o tipo de ajuda necessária. nenhuma; o caos das memórias desorganizadas e dos afetos Numa marcha contra o tempo que vem misturados; os sentidos que se perdem roubar toda uma existência, é A recusa em encarar o problema e os significados que se transmutam no preciso…tempo. Tempo para na sua dimensão clínica e, por fim, desencadeamento de uma história compreender e aprender a lidar com a procura de um outro nome para pessoal. os sentimentos e comportamentos do um diagnóstico que acaba por se Mas, para lá do seu espectro solitário e doente. Tempo para aceitar as ensimesmado, a doença de Alzheimer alterações na sua personalidade. impor: Alzheimer. tem uma dimensão social: o doente não Tempo para deixar cair os velhos adoece só, mas com todos aqueles que papéis até então assumidos. Tempo o amam e o rodeiam. Uma patologia individual que se faz para criar novas dinâmicas e rotinas dentro de uma família patologia familiar antes mesmo de o ser e durante toda a também em mudança. Tempo para aprender a cuidar. Tempo marcha diagnóstica que lhe antecede. para aceitar o afastamento comunitário, para abdicar de uma vida social mais ativa, abandonar as atividades de lazer e Começa frequentemente com a negação do problema e a outros projetos laborais e pessoais. Tempo para lidar com as normalização dos sintomas. Os sinais que não indicam nada consequências financeiras resultantes de desemprego, senão “apenas” cansaço, “apenas” confusão, “apenas” um assiduidade precária ou das novas necessidades do doente. E, esquecimento, “apenas” distração. A busca de outras não menos importante, tempo para gerir também o próprio justificações para as alterações percebidas. A recusa em caos emocional daqueles que são próximos do doente e que se
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vêem assoberbados por sentimentos de angústia, impotência, medo, pena, sobrecarga, pessimismo e culpa.
um processo penoso, que mortifica aqueles que assistem de fora, mas ao lado do doente. Não obstante, este processo não é necessariamente patológico, mas normal e adaptativo. De Ninguém morreu (ainda!) e ninguém traja de preto. Mas facto, a participação da família no adoecimento da pessoa com este é já um tempo de luto. Primeiro o confronto com a doença de Alzheimer permite, por um lado, prestar um evolução fatal da doença. Depois a antevisão de todas as contributo no alívio do sofrimento da pessoa amada; por outro, perdas e a perspetiva de uma vida a prazo, que se esvazia integrar a realidade de uma perda iminente e preparar a a cada dia. E depois, há ainda o luto da própria relação com o despedida, finalizando situações incompletas com a pessoa doente de Alzheimer - também ela condenada ao que está doente. Num plano afetivo, isto pode significar ir esquecimento – e a aceitação do dizendo adeus, perdoando, pedindo distanciamento afetivo que, por fim, se perdão ou simplesmente falando sobre Há uma saudade que se faz em instala quando o doente deixa de seus sentimentos. Num plano mais presença e que começa com um reconhecer os seus familiares e se fecha concreto pode permitir a resolução de incomunicável sobre si mesmo. Há uma questões práticas e quotidianas, longo adeus. saudade que se faz em presença e que administrativas ou económicas. De uma começa com um longo adeus. Pelo forma ou de outra, o luto antecipatório caminho perde-se uma mãe/pai, um cônjuge, uma avó/avô e cria condições para que se possa lidar de forma ajustada com fica apenas a lembrança do que aquela pessoa foi e da sua a perda. história na história dos outros. E, ainda assim, a vontade de agarrar aquela pessoa doente, na sua presença-ausente, E, depois do adeus, a arte de um luto bem-sucedido está ensombrada pelo medo de uma morte há muito anunciada. precisamente em experimentar e expressar todas as emoções associadas à perda, sem adiar ou inibir a dor, para que, por São estas as lutas do luto. Experiências e vivências afetivas fim, a pessoa possa aceitar a morte do seu ente querido e que se enquadram num processo de luto antecipatório que recordá-lo sem sucumbir a dor. E, deixar então que a saudade se faz, muitas vezes, só e em surdina, manchado de nos conduza a lugares felizes, sabendo que certas ligações vergonha pelos rótulos de incapacidade, loucura e não conhecerão nunca vocábulos como “longe” ou “distância”. perigosidade que passam a recair, indignos, sobre aquele • que amamos. POR MARIA JOÃO FERNANDES (COORDENADORA LAR JOSÉ LUIZ D’ANDRADE)
Longo e desgastante na sua caminhada antecipatória, o luto é
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MULHERES LUTADORAS
Segundo o Relatório Mundial sobre Violência e Saúde, a Violência nas Relações de Intimidade (VRI) é definida como “qualquer comportamento num contexto de relação íntima que cause dano físico, psicológico ou sexual aos elementos envolvidos na mesma” (Krug et al., 2002 citado em DGS, 2016, pág. 45). Tais comportamentos podem configurar atos como: (a) maus tratos físicos (e.g., pontapear, esbofetear, atirar coisas); (b) isolamento social (e.g., restrição do contacto com a família e amigos, proibir acesso ao telefone); (c) intimidação (e.g., por ações, palavras, olhares); (d) maus tratos emocionais, verbais e, ou, psicológicos (e.g., ações e afirmações que afetam a autoestima da vítima e o seu sentido de autovalorização); (e) [recurso ao privilégio masculino] (e.g., recusa do maltratante em reconhecer a sua companheira como igual); (f) ameaças (e.g., à integridade física, de prejuízos financeiros); (g) violência sexual (e.g., submeter o/a parceiro/a a práticas sexuais contra a sua vontade); (h) controlo económico (e.g., negar acesso ao dinheiro ou a outros recursos básicos, impedir a sua participação no emprego e educação), chegando por vezes ao homicídio. Muitas vezes são utilizadas diferentes terminologias para conceptualizar a VRI, nomeadamente, “violência doméstica”, “violência conjugal”, “violência familiar”, “violência contra as mulheres” e “violência de género”. No entanto, cada uma destas tem características que se assumem como distintas.
A VRI é um problema de saúde pública e uma questão com raízes histórico – culturais, sendo muitas vezes denominada de violência doméstica. É um fenómeno transversal, e ocorre em diferentes contextos (económicos, sociais, culturais, religiosos), sendo visto, muitas vezes, pela sociedade, como assunto pertencente apenas à esfera privada. Na tentativa de dar uma resposta ao fenómeno, foram procurados diferentes tipos de intervenção, que se complementam entre si, nomeadamente a intervenção psicológica individual e a intervenção psicológica em grupo. Após terem sido realizados estudos no sentido de se perceber qual a eficácia do trabalho de grupo com mulheres vítimas nas suas diferentes tipologias (e.g., abordagem psico-educacional de grupos de apoio (1ª fase: introdução das dinâmicas de abuso e seu impacto, 2ª fase: trabalhar sentimentos, história familiar e comunicação), intervenção em grupo (promoção do suporte social), psico-educacional (prevenção dos fatores de risco e aumento dos fatores protetores associados à violência)), pudemos constatar o sucesso nesta modalidade de intervenção para esta população específica, nomeadamente na ajuda em recuperar o controlo sobre as suas vidas, bem como a diminuição da violência experienciada (e.g. Rinfret-Raynor & Cantin, 1997). No entanto, estes vão de encontro ao trabalho desenvolvido para este tipo de população, ou seja, a
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redução do isolamento social, o aumento da autoestima e autoconceito, a resolução de problemas e tomada de decisão, a educação sobre o ciclo da violência e a planificação da segurança pessoal, bem como a consciencialização sobre o papel feminino e masculino na sociedade e o treino da assertividade e empoderamento (Matos et all, 2012). Em traços gerais, estas intervenções em grupo têm uma duração média de 8 a 12 semanas, tal como o recomendado para sessões de grupo (e.g. Yalom, 1995). Apesar dos aspetos positivos consensuais no que respeita a este tipo de terapia, existem algumas críticas a considerar na mesma. A escassez de estudos sobre este tipo de intervenção, por exemplo, levanta algumas dificuldades, bem como o facto dos estudos existentes terem amostras reduzidas, sem grupo de controlo, e sem follow-up na sua maioria. A 1 de Março de 2018, o Serviço de Psicologia da Universidade Lusófona do Porto, em parceria com a Santa Casa da Misericórdia de Santo Tirso, tornou possível a realização de uma Intervenção Psicológica com mulheres vítimas de violência nas relações de intimidade, no decurso de um estágio curricular do Mestrado de Psicologia da Justiça: Vítimas de Crime. A intervenção decorreu na Casa Abrigo (CA), sendo este um local que garantiu a segurança das intervenientes bem como a confidencialidade de todo o processo.
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MULHERES LUTADORAS
As áreas de competência trabalhadas no âmbito destas sessões estão definidas num programa proposto por Matos e Machado (2011), o qual está representado num manual produzido no âmbito do Projeto Grupos de Ajuda Mútua (GAM), através de uma iniciativa da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género (CIG). Tem como conduta o modelo cognitivo-comportamental e como objetivos centrais: (a) validação das histórias pessoais de vitimação; (b) empoderar e (c) restabelecer o controlo sobre a vida de cada mulher. A intervenção em contexto de CA tem a particularidade de não ser necessária a procura de mulheres que preencham os critérios necessários à formação do grupo. Assim, num primeiro momento foi realizada uma consulta através de uma entrevista não estruturada, a qual teve como objetivos a apresentação da facilitadora e da co-facilitadora da intervenção a realizar, a garantia de confidencialidade e a apresentação e explicação das normas pelas quais nos regemos enquanto profissionais, assim a apresentação da IPG - VRI, incluindo, de forma breve, os objetivos, horários e duração da intervenção. Inicialmente estavam propostas nove mulheres, tendo iniciado apenas com seis efetivas. Porém no decurso da intervenção, foram havendo desistências por motivos vários, concluindo-se a mesma apenas com três mulheres. As sessões foram sendo ajustadas às necessidades do grupo.
No que diz respeito aos resultados obtidos, foi possível constatar diminuição da sintomatologia, eficácia face à desconstrução de crenças legitimadoras da violência, e aquisição de competências pessoais e sociais. As mulheres que usufruíram desta intervenção consideraram-na uma mais-valia para as suas vidas, tendo transmitido que gostariam que tivesse tido uma duração maior. Porém, de encontro ao que as técnicas responsáveis pelo Projeto GAM referiram, uma duração superior a dois meses poderia comprometer a adesão de algumas participantes. Esta iniciativa, de grande exigência, foi bastante gratificante, pois apesar dos obstáculos inerentes à situação e condição necessária de proteção, consideramos que conseguimos contribuir, de algum modo, para auxiliar estas mulheres no processo de mudança necessária e para lhes incutir, em alguma medida, a noção de que essa mudança tem que começar, primordialmente, nelas próprias. De registar que toda a intervenção não teria sido possível sem a colaboração preciosa da equipa técnica e da coordenação da Casa Abrigo D. Mª Magalhães (CADMM), às quais prestamos um grande agradecimento. • POR ANA MARINHO E MANUELA REBOCHO (ESTAGIÁRIAS DE PSICOLOGIA ULP)
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REPÓRTER MULHER A VERDADE ENTRE LINHAS
Ação Social e Comunidade
Soraia é jornalista, é mulher, é filha e será mamã quando acontecer. Fez todo o percurso escolar no Instituto Nun’Alvres, em Santo Tirso. Depois formou-se em Jornalismo na Universidade de Coimbra, na Universidade Católica e na Universidade de Bamberg (Alemanha). Já fez reportagens aos microfones da SIC, da RTP, da Antena1, da SIC Notícias e da VISÃO. Já trabalhou em quase 100 países. O mais recente desafio foi com a comunidade Rohingya, no Bangladesh e em Mianmar. Foi a primeira repórter mulher e a primeira jornalista portuguesa a fazer a cobertura da Guerra no Leste da Ucrânia. Já esteve em vários cenários de conflito como no Ruanda, na Líbia, Tunísia e Síria. Atualmente trabalha na RTP no Programa de Investigação “Sexta às 9” e como freelancer em diferentes órgãos de comunicação social internacionais. Trabalha com alunos de todo o mundo ao dar formação internacional em media training, comunicação e novos media e é louca pelo que faz! Acredita que ser mulher representa muitas vezes imensas desvantagens, mas admite que já teve vários benefícios por ser mulher. Por designação da ONU e desde 1978 celebra-se a 8 de Março o Dia Internacional da Mulher.
Este ano, no âmbito desta comemoração, a Misericórdia de Santo Tirso convidou a comunidade a participar numa conversa intimista com a jornalista Soraia Ramos. No dia 7 de Março, no Auditório do Centro Eng.º Eurico de Melo, Soraia veio falar sobre as suas verdades. Os e as presentes ouviram e participaram, comentaram as verdades trazidas a debate e partilharam as suas próprias verdades. Ouviram-se relatos forte, alguns até íntimos... porque foi efetivamente um momento de partilha. A Misericórdia agradece a disponibilidade, o envolvimento criado com o público, a simpatia e o testemunho!• POR SARA ALMEIDA E SOUSA (COORDENADORA DA CASA ABRIGO)
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Formação
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FORMAR A PESSOA IDOSA
O envelhecimento demográfico constitui, hoje, um fenómeno com elevada expressão e que está a agravar-se. Apesar de envelhecer não significar dependência, sabemos que este processo de vida acompanha-se por patologias, nomeadamente as doenças crónicas degenerativas e por necessidades relacionadas com fim de vida. Neste sentido, é crucial preparar os cuidadores para que possam cuidar eficazmente da pessoa e da sua família, dando resposta a todas as suas necessidades. O cuidador é entendido como aquele que cuida, que presta apoio e assistência, a um indivíduo em situação de dependência, podendo esta situação ser permanente e irreversível ou transitória (WHO, 2004). O investimento na formação e na valorização desta profissão é uma condição para a qualidade do sistema de cuidados aos idosos. Só assim teremos organizações que prestarão cuidados de excelência para que consigamos dar mais qualidade aos utentes/família. (SOUSA, 2011). Assim sendo, achou-se pertinente desenvolver na nossa instituição a formação “Cuidar da Pessoa IDOSA” (35 horas) a decorrer na Sala Multiusos, do Centro Eng. Eurico de Melo. Realizada por enfermeiras especialistas na área da reabilitação da ISCMST, destinou-se a todos os funcionários da instituição que prestam diariamente cuidados diretos ao utente.
Esta formação abordou temas como: controlo de infeção, cuidados de higiene, ergonomia no trabalho, posicionamentos, transferências e cuidados na alimentação ao utente dependente, áreas sensíveis com que nos deparamos todos os dias durante a prestação de cuidados. A formação “Cuidar da Pessoa IDOSA” assume como principal objetivo prestar cuidados com maior qualidade, abordando/ relembrando conceitos e originando discussão sobre os temas mais cruciais da prestação de cuidados de forma a adaptar estratégias e melhorar o bem-estar dos nossos utentes. Nos grupos de formação estão incluídos funcionários de várias valências da instituição (lares José Luiz d’Andrade, Dra. Leonor Beleza, Casa de Repouso, UCC e SAD), tornando-se enriquecedor a troca de conhecimentos entre todos. Em saúde, tal como em todas as áreas, os conceitos e técnicas evoluem rapidamente, assim torna-se fundamental que todos os membros estejam sensíveis à importância destes momentos formativos, pois só assim conseguimos prestar cuidados baseados nas boas práticas. Bibliografia: SOUSA, Maria Manuela, O cuidador de acção directa a idosos: papel no sistema de cuidados; Patient Care , vol 16, nº 171, Junho 2011; pág. 60-66. • POR ANA RITA GONÇALVES, ANA SOFIA MOREIRA DIAS PEREIRA E HELENA CARVALHO (ENFERMEIRAS ESPECIALISTAS EM REABILITAÇÃO)
Formação
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Formação
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EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO DE ADULTOS – B1
Nos anos 70, um em cada quatro portugueses não sabia ler (25%). Hoje são menos de 5%, mas Portugal continua no topo da tabela dos países europeus com maior taxa de analfabetismo.
É neste contexto e enquanto Entidade que integra o NLI que a Misericórdia de Santo Tirso vem acolhendo, no Centro Comunitário de Geão, uma das turmas do Curso de EFA – B1.
Há cerca de meio milhão de analfabetos em Portugal, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), baseados no Censos de 2011. A maioria é idosa e vive em zonas do interior, contudo existe outros 30 mil que ainda estão em idade ativa, ou seja, com idades compreendidas entre os 18 e os 65 anos. Santo Tirso, não foge a esta realidade, pelo que os técnicos que constituem o Núcleo Local de Inserção Social (NLI), no âmbito do acompanhamento às famílias no domínio da inserção económica, social e profissional vêm identificando um número significativo de cidadãos adultos sem saber ler e escrever ou que não concluíram o 4º ano de escolaridade. É neste contexto e com o objetivo de colmatar os números do analfabetismo, para promover competências pessoais, sociais e consequentemente contribuir para uma possível autonomização efetiva desta população, que no seu plano de ação, o NLI vem privilegiando ações de certificação do 4º ano de escolaridade dirigidas à população acompanhada no âmbito do Rendimento Social de Inserção (RSI).
Trata-se de um processo gradual e individual com cada aluno, que implica diariamente incentivar, fazer acreditar que são capazes e desbloquear as dificuldades que vão surgindo.
Assim, desde 2015, o NLI em conjunto com o Centro Qualifica do Agrupamento de Escolas Tomaz Pelayo, vem dinamizando duas turmas de EFA B1 dirigidas a cerca de 80 beneficiários em idade ativa, dos quais 30 beneficiários conseguiram a certificação do 4º ano de escolaridade.
Diariamente cruzamo-nos nos corredores com os formandos que apesar das dificuldades que partilham e o desânimo que por vezes surge, também revelam satisfação, principalmente quando já conseguem escrever o nome…, quando finalmente conseguem a certificação do 4º ano e podem redefinir objetivos.
TESTEMUNHO DE SARA SALGADO (PROFESSORA) Em outubro iniciei a lecionação do curso de Educação e Formação de adultos nível um, equivalência ao primeiro ciclo. Inicialmente senti algum receio pois em dezassete anos de serviço era a primeira vez que iria lecionar a adultos. Tomei este trabalho como um desafio e após um diagnóstico cuidado, percebi que o desafio seria bem mais difícil do que imaginei. Dentro da sala de aula tinha níveis muito diversificados e como tal tive que personalizar o trabalho para que cada aluno progredisse e avançasse a partir do ponto em que se encontrava. Não foi fácil, mas penso ter conseguido o meu
objetivo. De um modo geral todos os alunos evoluíram nas suas aprendizagens e alguns conseguiram concluir com êxito esta etapa. Houve também muitas contrariedades, principalmente ao nível da presença e motivação por parte de alguns alunos. Tentei sempre, neste sentido, dialogar com os formandos para que agarrassem esta oportunidade da melhor maneira, para adquirirem novos conhecimentos essenciais ao seu dia a dia e se integrarem mais facilmente no mundo do trabalho. Além do trabalho como professora criei laços de amizade com alguns formandos e membros da Misericórdia, local onde fomos muito bem recebidos e no qual as pessoas sempre se preocuparam com o nosso bem-estar, bem como com a nossa integração em atividades por eles desenvolvidas. No final desta experiência, levo comigo uma grande aprendizagem, enriquecida pelas diferentes culturas existentes na formação, amigos para a vida e uma concretização profissional que certamente será uma mais-valia para o meu currículo. •
POR SUSANA MOURA (COORDENADORA CENTRO COMUNITÁRIO DE GEÃO)
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Saúde
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A REABILITAÇÃO PERINEAL
A incontinência urinária (IU) atinge mais de 200 milhões de pessoas no mundo, sendo considerado um problema de saúde pública. É definida como a perda involuntária de urina, havendo três tipos: IU de esforço, IU de urgência e IU mista. A IU pode ser causada por diferentes fatores, sendo eles intrínsecos (relacionados com alterações fisiológicas) e extrínsecos (motores, musculares e hábitos de vida). Disfunções do pavimento pélvico, alterações posturais, patologias pulmonares, diminuição da mobilidade, diminuição da força e resistência, hábitos de vida como o sedentarismo, inadequada ingestão de líquidos, tabagismo, consumo de álcool e cafeína podem estar na origem deste problema. No caso das mulheres a gravidez, o parto vaginal e a menopausa são os principais fatores de risco. Nos homens, a cirurgia à próstata.
Pacientes com IU têm a qualidade de vida afetada, já que os sintomas deixam-nos desconfortáveis e socialmente afastados. Deixam muitas vezes, por vergonha ou embaraço, de efetuar tarefas que outrora eram habituais como fazer desporto e conviver com amigos e família. Com o aumento da esperança média de vida e o sucessivo aumento de interesse com a qualidade de vida e bem-estar, as pessoas procuram soluções práticas para os seus problemas, e a incontinência urinária deixou de ser vista como uma consequência natural da idade. Assim sendo, o seu fisioterapeuta pode ajudar. A reabilitação perineal e mudanças no estilo de vida são a primeira opção de tratamento para a IU, e prevenção da mesma. Então o que é afinal a reabilitação perineal? É o tratamento conservador para as patologias do períneo, realizado por um fisioterapeuta especialista na área. O períneo é um grupo muscular que fica na base da pelve. Estes músculos são responsáveis pela sustentação dos órgãos pélvicos (bexiga, útero, reto, uretra, vagina e ânus) e pela continência urinária e fecal; sendo também muito importantes para a sexualidade e reprodução. Os tratamentos são efetuados após uma avaliação individual, sendo efetuado um diagnóstico diferencial e definido o melhor plano de tratamento sempre individualizado. O fisioterapeuta para tal recorre a vários tipos de tratamento, entre eles cinesioterapia, Biofeedback e a electroestimulação.
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Saúde
Além do tratamento, o fisioterapeuta orienta o utente a fazer exercícios em casa, potencializando ainda mais o tratamento. Para além da incontinência urinária a reabilitação perineal é também indicada para a incontinência fecal, prolapsos genitais, no pré e pós-parto, disfunções sexuais e dores pélvicas. Quanto mais cedo procurar ajuda melhores serão os resultados. Agora com equipamentos inovadores, visite-nos na Clínica de Fisiatria da Misericórdia de Santo Tirso, nós podemos ajudar.
TESTEMUNHOS DE UTENTES ‘Quando vim, vim receosa. Inicialmente custou-me um pouco. Agora sinto-me melhor, mais descontraída e com menos perdas. Consegui retirar o penso e com isso adquiri qualidade de vida. Aconselho a quem sofrer de incontinência urinária, a experimentar este tratamento antes de pensar em cirurgia. Contrariamente ao que eu pensava, existe solução para este problema.’
“Tenho 43 anos e sou portadora de Endometriose severa o que me levou, entre outros problemas, à incontinência de esforço. Esta situação não é agradável e muito menos fácil de encarar na sociedade em que vivemos. Por isso, e por uma questão de querer voltar a ter qualidade de vida, decidi aceitar este desafio da “reabilitação pélvica”. Não é uma “tarefa fácil”, mas com a minha força de vontade, persistência e a dedicação da fisioterapeuta, todo o menos bom será suportado. Não é uma recuperação rápida nem fácil, tenho essa percepção, contudo ao fim de algumas sessões já são notórias as melhoras. Desde já o meu agradecimento, pela oportunidade de deixar o meu testemunho, e aproveito para deixar um alerta/apelo, para este problema que afeta muitas mulheres pelas mais variadas razões: não se acomodem …… lutem e tenham qualidade de vida”. • POR ANA SOFIA FERREIRA BRANCO (FISIOTERAPEUTA ESPECIALISTA EM REABILITAÇÃO PERINEAL)
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Cultura
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A MÚSICA COMO EXPRESSÃO ARTÍSTICA
«Milhares de pessoas cultivam a Música; poucas, porém, têm a revelação dessa grande arte» (Ludwig Van BEETHOWEN)
sociedade a que pertence de modos diversos, consoante o espírito vivido pelas culturas. Para a criação das diferentes formas de arte, todo o artista recorre à utilização de meios, de uma técnica específica, que tem de ser capaz de dominar, nunca deixando de ser um amante da estética. Comunicando sempre a sua marca pessoal, consegue transfigurar o ambiente, exercendo uma Função Mágica.
A Arte foi, para o Homem, instrumento de consciencialização das ideias e dos interesses mais nobres do espírito. Pressupõe sempre uma obra, seja ela pintura, escultura, Musical, concebida e realizada por um artista. Esta obra, esta criação, porque é humana, implica A Música como modalidade artística, antecedentes requer um especialmente certos tipos de música, desenvolvimento e explica, por um não só modifica o ambiente, como altera Para a criação das diferentes lado, a necessidade individual do profundamente a conduta humana. A formas de arte, todo o artista artista e por outro a necessidade social Música empolga. Veja-se, como nos da cultura a que aquele está vinculado. tempos passados, os guerreiros não recorre à utilização de meios, de Não sendo apenas matéria, mas dispensavam as marchas militares e, em uma técnica específica, que tem sobretudo espírito, todo o Homem certos casos, partiam para a luta a de ser capaz de dominar, nunca experimenta anseios de libertação e cantar. No presente podemos constatar deixando de ser um amante da domínio, de conquista de si mesmo e os efeitos que a música moderna tem no estética. do mundo que o rodeia, só possível comportamento dos jovens, lançados através da “criação”. De facto, qualquer bruscamente numa euforia delirante, obra de arte reflete a própria quando não, agressiva. personalidade, sonhos, frustrações, talento e génio do seu autor. A Arte não é uma ciência, mas a Apesar de não ser músico, o filósofo alemão Hegel, revelação duma leitura pessoal, duma interpretação, a partir contemporâneo de Bach e Handel, admirava e amava a do mundo interior do artista. A Arte é uma Expressão. Mas a música, a ponto de afirmar que “a Música é a Arte mais obra de arte é também função de necessidades sociais, isto é, elevada que o Homem pode alcançar”, uma vez que age das motivações, da cultura de que o artista participa. Com diretamente na alma sem utilizar o método racional, instalandoefeito, do mesmo modo que os indivíduos, também as -se no mais profundo dos sentimentos. A Música difere das comunidades aspiram à beleza, sendo essa aspiração outras artes porque não é somente física e objetiva, porque age realizada através do artista, como intérprete que é da interiormente. Graças ao som, a Música desliga-se da forma
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Cultura
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Cultura
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A MÚSICA COMO EXPRESSÃO ARTÍSTICA
artística exterior, da sua visibilidade. É através do sentido da Audição, considerado o sentido teórico mais “ideal” que o som atinge diretamente a alma, sendo a música a expressão da própria interioridade e uma relação do espírito com o próprio espírito.
possibilitando partilha de emoções e sentimentos à medida que se combinam sons e silêncios ao longo do tempo. Uma questão que nos pode ser colocada é: «Por que razão é a Música tão importante?» Para quem usufrui da música, esta, penetrando diretamente em nós contribui para o desenvolvimento da mente, inspira o gosto pelas virtudes, promove o equilíbrio, proporciona um estado agradável de bem-estar, facilita a concentração e o desenvolvimento do raciocínio e é muitas vezes um caminho para a introspeção e espiritualidade.
É inegável que a música faz parte do nosso quotidiano invadindo sistematicamente a nossa privacidade. Abrimos a TV, ou ligamos a rádio e ouvimos e vemos grupos musicais ou são-nos apresentados «artistas» que cantam e tocam melodias, sinfonias e canções ou que tocam este ou aquele instrumento, enquanto outros vão dançando, sendo-nos também apresentados como artistas. Esta forma Segundo alguns autores, existe uma de linguagem é muito diferente da correlação entre o ensino da Música e habitual ou quotidiana forma de o desenvolvimento de capacidades nos Durante os últimos cinco anos, comunicação. Será que tudo o que indivíduos de modo a terem sucesso passaram pelo palco do Auditório ouvimos e vemos, apesar de despertar nas suas vidas. A autodisciplina, Centro Engº Eurico de Melo nomes em nós sentimentos e emoções de paciência, sensibilidade, coordenação, alegria, dor e havendo até empatia capacidade de memorização e sonantes e ímpares na arte music entre o artista musical que nos é concentração são potenciadas com o apresentado e a nossa pessoa, «é arte?». estudo da música trazendo para quem Pensamos que a resposta caberá a cada um, pois, segundo os a pratica: alegria, bem estar e realização pessoal. Os especialistas, para que a música seja considerada arte é estudantes de música aprendem a ser artesãos e a trabalhar necessário que seja uma estrutura esteticamente distinta, para atingir a excelência como resultado concreto de um harmónica, objetiva e rigorosa, ausente de informalidades e trabalho árduo e persistente. A Música exige e valoriza emoções excessivas, procedentes da alma humana. Se também o trabalho de equipa, ao mesmo tempo que, permite recuarmos aos gregos, estes consideravam a música como «a ultrapassar medos, assumir riscos, encorajando a expressão arte das musas”. Como forma de arte, ela requer um diálogo individual e a auto-confiança «nomear o inominável e entre compositor e ouvinte durante a interpretação, comunicar o desconhecido» ( Leonard Bernestein).
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Cultura
Embora a Música, segundo Hegel, tenha um papel importante no percurso e regresso do Espírito a Si próprio, elevando cada vez mais o Homem da matéria que o circunda, aquela não é um mundo aparte da Sociedade, está inserida no espaço sociocultural. Sempre atenta a questões de âmbito social e cultural, de forma particular as manifestações musicais, a Santa Casa da Misericórdia, na pessoa do seu Provedor, a quem sinceramente agradecemos, apoiou desde a primeira hora o projecto Violoncelos de Santa Cristina. Este projeto tem como grande objetivo levar a música erudita a um número cada vez maior de pessoas, através de concertos, formação de músicos de nível, trazendo até à nossa comunidade figuras de relevo no mundo musical nacional e internacional. Durante os últimos cinco anos, passaram pelo palco do Auditório Centro Engº Eurico de Melo nomes sonantes e ímpares na arte musical, sobretudo no Violoncelo, que têm atraído número significativo de apreciadores da boa MÚSICA. Como afirmou Friedrich Nietzche o Filósofo da Vida: «Sem Música a Vida seria um erro» • POR MARIA ELISABETE CRUZ E MANUEL CIRILO CRUZ (A.C.M. VIOLONCELOS DE SANTA CRISTINA)
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Cultura
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DISCOS PEDIDOS NO JLA
Diz o ditado que quem canta, seus males espanta. A prática assim o confirma. Seja num registo artístico, meramente lúdico ou num domínio mais terapêutico, verificamos que a música é um instrumento promotor de bem-estar físico, mental, emocional e social. Na sua universalidade, é denominador comum de diferentes trajetos, gerações e histórias que se cruzam ao som do mesmo disco pedido. No âmbito do Projeto Pedagógico desenhado para 2017/18, sob o tema Artes e Expressões, o Lar José Luiz D’Andrade foi saber das músicas e músicos que animam a vida de utentes e colaboradores. Numa lista encabeçada por Marco Paulo e Amália Rodrigues, a lembrar que esta é com certeza “uma casa portuguesa”, ficam aqui alguns dos discos pedidos:
Roberto Carlos, Lady Laura Marco Paulo, Anita Ágata, Mãe Solteira (Albina Rosa Ferreira, Utente) José Cid, A Cabana Junto à Praia Marco Paulo, Eu Tenho Dois Amores Quim Barreiros, A Cabritinha (Luís António Pereira, Utente) José Alberto Reis, Alma Rebelde Céline Dion, Je T’Aime Encore Rancho Folclórico do Trofa, Hino da Trofa (Silvia Martins, Ajudante de Lar) Edith Piaf, Rien de Rien Editth Piaf, La Vie en Rose José Cid, A Cabana Junto à Praia (Maria Amanda Soares, Utente) Roberto Carlos, O Calhambeque Júlio Iglésias, Coração Apaixonado Paulo de Carvalho, Nini dos Meus Quinze Anos (Maria Júlia Albuquerque, Utente) Queen, I Want to Break Free João Pedro Pais, Mentira Rui Veloso, Não Há Estrelas No Céu (Delminda Reende, Ajudante de Lar)
Amália Rodrigues, Fado é Sorte Roberto Carlos, Cavalgada Frei Hermano da Câmara, Fado da Despedida (Maria de Lurdes Ferreira, Utente)
Vítor Espadinha, Recordar é Viver Roberto Carlos, Eu Te Amo Salvador Sobral, Amar pelos Dois (Filomena Silva, Ajudante de Lar)
Linda de Suza, Ó Malhão, Malhão Marco Paulo, Eu Tenho Dois Amores Maria do Sameiro, Mar Enrola na Areia (Maria de Lurdes Martins, Utente)
Amália Rodrigues, Uma Casa Portuguesa Maria do Sameiro, Meninas Vamos ao Vira Quim Barreiros, A Garagem da Vizinha (Adílio Gouveia, Utente)
Carlos do Carmo, Lisboa Menina e Moça Excesso, Eu Sou Aquele José Cid, A Cabana Junto à Praia (Gracinda Gonçalves Silva, Trab.Serv.Gerais)
Mariza, Melhor de Mim João Pedro Pais, Mentira Carlos do Carmo, Estrela da Tarde (Paulina Mirra, Ajudante de Lar)
Bob Dylan & J. Cash, Girl From the North Country Antonio Zambujo, Zorro Sérgio Godinho, A Noite Passada (Maria João Fernandes, Coordenadora Técnica)
Rui Veloso, Cavaleiro Andante Katie Melua, If You Were a Sailboat Mariza, Chuva (Marta Ferreira, Animadora)
Júlio Iglésias, O Melhor da Tua Vida Amália Rodrigues, Foi Deus Marco Paulo, Maravilhoso Coração (Maria Manuela Branco, Utente)
Pedro Abrunhosa, Momento Diogo Piçarra, Só Existo Contigo Michael Bolton, How Am I Supposed to Live Without You (Maria Manuela Rodrigues, Trab.Serv.Gerais)
Marco Paulo, Eu Tenho Dois Amores Marco Paulo, Taras e Manias Marco Paulo, Nossa Senhora (Maria Venância Fernandes, Utente)
Júlio Iglésias, Hey Rui Veloso, Porto Sentido Mariza, Chuva (Felicidade Mascarenhas, Chefe de Departamento)
Marco Paulo, Eu Tenho Dois Amores Popular, Eu Ouvi o Passarinho Popular, Meu Lírio Roxo do Campo (Teresa Reis, Utente)
Jacques Brel, Ne me Quitte Pas Rolling Stones, Angie Zeca Afonso, O Meu Menino é de Oiro (José Cardoso, Médico)
AC/DC, Higway to Hell Pink Floyd, The Wall Michael Bolton, When a Man Loves a Woman (Pedro Ribeiro, Enfermeiro)
Marie Myriam, L’Oiseau et L’Enfant Céline Dion, Surrender Roberto Carlos & Jennifer Lopez, Chegaste (Natália Ferreira, Ajudante de Lar)
Demis Roussos, Goodbye My Love Gianni Morandi, Non Son Degno di Te Jean-Maurice Francois, 28 Degrés à L’ombre (Maria Georgina Fernandes, Trab.Serv.Gerais)
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Cultura
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UM GRUPO… UM CORO…
Para que serve o Coro da Santa Casa da Misericórdia de Santo Tirso? Para cantar…naturalmente, e para levar uma cultura, uma forma de estar a outras bandas, e trazer outros Grupos, outros Coros à nossa terra. Foi isso que aconteceu e disso sou testemunha presencial. Entre 27 de abril a 1 de maio o Coro deambulou/cantou e encantou sítios açorianos. Primeiro S. Miguel, passaram pela Terceira e aterraram na Graciosa. Boas vindas, abraços, alojamento e, sempre, aquele saber estar que quem assiste não resiste. Visita turística à Graciosa com rochedo/ilhéu com formato de baleia, falésias, campos, aldeias brancas, Coroação de fim de missa e…maravilha: a grande caldeira da Graciosa – única no mundo – com uma abóboda como catedral, no interior da terra. Nessa catedral o Coro cantou (registamos,
sim, amamos o momento singular porque o sítio o exigia), fruímos as Termas de Carapacho; regressamos a santa Cruz, onde aconteceu o belo espetáculo – com o Coro da Matriz da Graciosa e da Santa Casa da Misericórdia de Santo Tirso – no Auditório/Centro Cultural. Regresso. Nova passagem pela Terceira e S. Miguel. Em S. Miguel admirou-se/registou-se: picos, furnas, Caldeiras, parques, bosques, lagoas, flores, chá, gastronomia, a simpatia da sua gente, o seu sotaque – numa linguagem que traz história – e, naturalmente, novo concerto na casa que nos acolheu: AMENO. E como a música reside na alma do Grupo – aproveitaram o momento para ensaiar e cantar – com os amigos micaelenses – as canções de Zeca Afonso, que seriam cantadas (e foram) no concerto que aconteceu, na tarde de 5 de maio, no Auditório Eng.º Eurico de Melo. Quando pela cidade os motores dos carros roncavam, enchia-se o Auditório, para assistir ao Concerto Tributo a Zeca Afonso – promovido pela Junta de Freguesia Santo Tirso, Couto (Santa Cristina e S. Miguel) e Burgães. Este concerto, além do Coro da Santa Casa da Misericórdia, teve também a presença do Coro Ceifeiros de Cuba – um grupo de referência no Cante alentejano. Foi uma honra, para Santo Tirso, ter a presença de um Coro que trouxe a cultura e a magia do sul. E, se um Coro é um reflexo de todos os seus elementos, tenho que realçar a competência, a disciplina, o sentido de humor, a graça e o saber estar…advém de anos de dedicação do seu maestro José Manuel Pinheiro, e de muitos, que tudo fazem
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Cultura
para que os eventos/concertos aconteçam. Verifiquei a atenção contínua do Sr. José Alves, do apoio logístico do Ricardo Filipe nos Açores, e na simpatia e competência de quem nos recebeu: Dr. Jorge Cunha, na Graciosa e Dra. Aida Medeiros, em S. Miguel. Termino dizendo: continuem, continuem. Parabéns! Parabéns! • POR ZÉLIA SOUTO (CORALISTA)
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Cultura
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CANTAR… COM(O) ARTE
Arte, do latim ars e do grego teknê , significa técnica ou habilidade, um saber fazer, um conhecimento técnico, ligado ao trabalho, à profissão, à realização de uma tarefa, que se manifesta através de múltiplas linguagens. O cantar é uma delas. Sozinho ou em grupo, o ser humano, ao cantar, revela os seus dotes e capacidades vocais. Cantar é acima de tudo um prazer. Fazê-lo com arte, implica estudo, trabalho, empenho e dedicação. O ler música, a técnica vocal, a postura física, o saber respirar, são, entre outras, exigências que o cantor assume. É o gosto pelo bel canto que anima o conjunto de pessoas que formam o Grupo Coral da Misericórdia de Santo Tirso. Todas as segundas-feiras, reúnem-se para cultivar a sua habilidade vocal, a sua arte, divulgada nos concertos que participa e promove. No Grupo, a diferença etária, a diversidade formativa e socioprofissional funde-se na unidade do canto. A singularidade transforma-se em pluralidade. Há apenas um canto. A diversidade vocal e tímbrica dos coralistas, a harmonização que o compositor concebe aos diferentes naipes na peça, fazem a beleza da arte coral. É o prazer de cantar em conjunto. Canta-se porque se gosta e gosta-se quando se canta. A pessoa quando canta exterioriza sentimentos e emoções. Nas mais variadas manifestações sociais canta-se. Em grupo, o cantar une as pessoas, cria elos de amizade e partilha, gera
confiança e reforça o sentimento do todo. Cultiva-se arte, dignifica-se a pessoa. É este o espírito que esteve na génese e sempre pautou o Coral da Santa Casa da Misericórdia de Santo Tirso. No corrente ano, ao completar 20 anos de existência, assume-se como um dos agentes culturais e artísticos do concelho. Sempre dirigido pelo Maestro José Manuel Pinheiro, o Coral da Misericórdia levou a sua arte a muitas localidades e regiões do país e estrangeiro, bem como promoveu encontros corais, com Grupos portugueses e estrangeiros, na cidade e freguesias do concelho, representando condignamente a Instituição a que pertence, a cidade de Santo Tirso e a região do Vale do Ave. • POR J. MAGALHÃES COELHO (PRESIDENTE DA ASSEMBLEIA DO CORAL)
O que é a Arte? É a pergunta que o ser humano sempre colocou a si próprio e continuará a colocar. Já Platão e Aristóteles se debruçaram sobre esta problemática. Por muitos tratados filosóficos que analisemos, a dúvida persiste. Mas, será talvez mais fácil para nós resolvermos esta iliteracia artística se substituirmos esta pergunta por uma outra Quando há Arte? Avelino Leite através da sua policromia de tons amenos e suaves, essa mescla de tonalidades que estamos habituados a apreciar nas suas telas, este seu manancial criativo consegue definir em nós a certeza da Arte. Como Cesário Verde afirma na sua poesia pinto quadros por letras, por sinais, também Avelino Leite nos sugere esta poeticidade pueril e fresca das suas formas e dos seus tons sinestésicos. É o fascínio das cores e das sensações que tanto nos cativam na sua poetização do real. No poema De tarde, Cesário define que aquele quadro do pic-nic de burguesas em todo caso dava uma aguarela. A sua descrição impressionista daquele instante do real está imortalizado na tela de Édouard Manet intitulada “Déjeuner sur l’herbe”. A conjugação da poesia e da pintura é perfeita. A aguarela materializa valores simbólicos e espirituais como uma verdadeira forma de arte. Nas telas de Avelino Leite somos presenteados com esta arte onde sentidos e sensações nos transportam para o sonho. E, continuando com os versos de Cesário Verde «subitamente que visão de artista…» e o poeta deu lugar ao pintor e assim temos o prazer de ter neste número especial da nossa revista uma das reproduções emblemáticas sobre as Obras de Misericórdia que consta do livro “O OUTRO Itinerários de Hospitalidade” lançado pelo Serviço de Assistência Espiritual e Religiosa do Centro Hospitalar de São João com textos do Padre José Nuno e aguarelas de Avelino Leite. Nesta obra ilustrada pelo pintor Avelino Leite, que gentilmente cedeu a reprodução de uma aguarela à Santa Casa da Misericórdia de Santo Tirso, a espiritualidade da palavra fez-se luz, fez-se cor. A ele o nosso agradecimento. Albertina Marques Mesária da ISCMST
NO VERSO Aguarela de Avelino Leite “Cuidar dos Doentes” Publicada no livro “O OUTRO Itinerários de Hospitalidade”, lançado pelo Serviço de Assistência Espiritual e Religiosa do Centro Hospitalar de São João, com textos do Padre José Nuno e aguarelas de Avelino Leite
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Cultura
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A FOTOGRAFIA HOJE
Nunca, em momento algum, a sociedade esteve tão carregada de imagens, sendo vertiginosa a densidade de mensagens visuais que nos chegam. Atualmente, mais do que em qualquer outra época, a imagem e, em particular, a Fotografia têm uma grande importância no nosso dia-a-dia, quer pela sua quantidade quer pelos fins diversos para que são usadas. Os diversos meios de comunicação e informação, publicitários e culturais são essencialmente fotográficos. A Fotografia é, pois, um sistema de comunicação de que já não podemos prescindir, estando acessível quer na perspetiva de quem vê, quer na perspetiva de quem dá a ver a todas as outras pessoas – ninguém é excluído.
No mesmo sentido questiona-se Roland Barthes no seu livro «A Câmara Clara»: não há uma imagem fotográfica sem alguma coisa ou alguém e isso arrasta a Fotografia para a desordem imensa dos objetos, ou seja, de todos os objetos do mundo porquê fotografar este? Que escolha é esta? O que revela? Por outras palavras, a Fotografia é um testemunho porque ao fotografar ou ao apreciar fotografias estamos a construir o sentido que queremos, temos uma intenção, fazemos uma escolha, contamos uma história…Uma históra basedada num facto real, presenciado e que recebe uma interpretaçõ poética e imagiária ou, do lado oposto, coerente com o real.
Porém, a omnipresença da Fotografia e o seu papel tão abrangente diluem o seu significado. Afinal, o que é a Fotografia na contemporaneidade? John Berger, no seu texto «Ver precede as palavras. A criança olha e reconhece, antes mesmo de poder falar.», denuncia uma atitude nova relativamente às coisas visuais, artísticas ou não. No entanto, essa visão que chega antes das palavras não resulta de uma reação mecânica a estímulos. “Só vemos aquilo que olhamos. Olhar é um ato de escolha”.
Henri Cartier Bresson disse que de todos os meios de expressão a Fotografia era o único que fixava para sempre o instante preciso e transitório. Não há nada que faça voltar atrás o que já despareceu mas a Fotografia é um artifício de memória. Não podemos viver sem esse conforto de ter algo que nos permite memomrizar hoje o passado, uma memória que vai ser cristalizada no futuro.
Nessa escolha estamos a construir uma narrativa pessoal, estamos, por isso, presentes nessa seleção. A escolha das fotografias que damos a conhecer ou que nos dão a conhecer está impregnada dos nossos interesses, daquilo que conhecemos, daquilo que nos desperta curiosidade, daquilo que sentimos, daquilo de que somos feitos.
Voltamos a Roland Barthes: o efeito que a Fotografia produz não é o de restituir aquilo que foi abolido, pelo tempo e pela distância, mas o de confirmar que aquilo existiu realmente – o noema da Fotografia é “isto foi”. A Fotografia não diz, forçosamente, aquilo que já não é mas apenas e com certeza aquilo que foi. Toda a fotografia é um certificado de presença, um real que já não pode ser tocado. O passado, com a Fotografia, é tão seguro como o presente.
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Cultura
Na atualidade muito se critica o abuso de imagens, a sua falta de espontaneidade, a sua falta de verdade… Mas nada mudou: é a opção de quem fotografa, é a história que quer contar, é a metáfora que quer usar.
potencialidade de estar no lugar de outra coisa como se fosse uma metáfora. A mudança está nas pessoas e tendo essa consciência mantemo-nos em paz. • POR ANA ALVARENGA (JURISTA NA CASA ABRIGO E ALUNA DO CURSO PROFISSIONAL
Assim, o papel da Fotografia não mudou na atualidade. O que a Fotografia é também não se alterou, porque mantém a
DE FOTOGRAFIA, NO INSTITUTO PORTUGUÊS DE FOTOGRAFIA)
Uma casa ocupada pela segunda vez. Fotografia por Ana Alvarenga, num exercício de escolha: exaltar a imposição da natureza e não a dor do abandono.
Pintar São telas, pincéis e tintas À espera d’inspiração Onda que m’arraste e leve Mar dentro de perfeição As cores saem dos tubos Misturadas dão outra cor Natureza cores oferece Nunca lhes dei tanto valor Reparo os verdes que tem Os azuis que o céu me dá Os laranjas do pôr-do-sol As cores frescas da manhã Pobres os quadros que pinto Tão ricos de ilusão Pensar que eles têm vida Pintados pela minha mão ANITA (IRMÃ DA ISCMST)
Gratidão ainda ontem era primavera e o inverno é agora tão distante os campos floriram as papoilas pintaram de vermelho a paisagem as andorinhas reencontraram os ninhos a cada passo que dou deixo para trás cansaços e alguns laços ao meu lado caminha o silêncio algo escapa ao meu olhar aprendiz um ponto de luz, de cor... quem sabe o fulgor de um instante.... talvez perante a beleza do universo a minha Alma verga em sinal de gratidão eu honro tudo o que é divino! CÉU MACHADO VOLUNTÁRIA NA ISCMST)
Quais são os 3 locais favoritos em Portugal? São muitos os locais que me agradam particularmente… No entanto, e como me são pedidos três locais: indico a cidade de Guimarães, por ser a minha cidade de eleição e com a qual me identifico particularmente; o Pinhão e toda a zona envolvente do Douro, pelas paisagens maravilhosas que apresenta e pela serenidade que me transmite, e por fim, a cidade do Porto, cheia de vida e cultura, cujo encanto é permanente. O que a deixa cheia de orgulho no concelho de Santo Tirso? A serenidade e a qualidade de vida que proporciona aos seus habitantes, a agenda cultural que oferece e facilidade com que nos movimentamos no interior da cidade. E na Misericórdia? O espirito de família que predomina em toda a Instituição e que transparece de forma inequívoca, a dedicação e o carinho dos seus colaboradores para com os utentes e, sobretudo, a vontade contínua de fazer mais e melhor. Quais as duas músicas que tem ouvido recentemente? Lenny Kravitz- “Low” e Tom Walker- “Leave a light on”. E o filme que marcou a sua vida? Acho que nenhum em particular, embora a mensagem de alguns tenha marcado particularmente, tal como o “Clube dos Poetas Mortos”.
RE VE LA ÇÕES... O que mais valoriza no ser humano? A humildade, solidariedade, integridade de carácter e sobretudo a capacidade de compreender e se colocar na posição do outro.
Prefere praia ou cidade? Dependendo do estado de espirito, diria que seria indiferente mas confesso que sou mais adepta da cidade.
O tema desta revista é “Artes & Expressões”. Que significado atribui à arte? Vejo a arte como um apelo ao estímulo mental e à capacidade de explorar sem limites o conceito de beleza. Todo o artista pretende transmitir uma determinada mensagem com a sua obra de arte e embora esta tenha um significado único para ele, para todos os outros que a apreciam, a interpretação da mesma pode ser múltipla e assumir diferentes significados. Gosto particularmente da capacidade dos artistas em se despojar de rotinas, de preconceitos e quebrar sem receios os códigos sociais.
Se pudesse escolher a vista de sua casa, como seria? Não seria nenhuma em regime permanência…Nuns dias seria de um mar imenso, noutros seria povoada de natureza verdejante e noutros optava por uma vista sobre uma cidade cheia vida, movimento e cor!
NOME SÍLVIA RIBEIRO CATEGORIA PROFISSIONAL TÉCNICA DE APOIO À GESTÃO E ATUAL DPO DESIGNADA NO ÂMBITO DO RGPD ANTIGUIDADE NA INSTITUIÇÃO 9 ANOS
Um livro para ler antes de dormir? Aquele que me foi oferecido por uma amiga muito querida e que ainda não consegui acabar de ler: “O amante japonês” de Isabel Allende.
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