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Futuro dos veículos

No setor de transporte, a disrupção, provocada por novas tecnologias, está a caminho. Por isso, anote a única certeza até aqui: você ainda terá um carro elétrico!

A forma como vivemos está mudando depressa. As novas gerações realizam suas atividades em um ritmo cada vez mais acelerado e, junto, provocam transformações na vida cotidiana, com novas ideias e formas de lidar com o que antes achávamos “normal” ou ao que, pelo menos, estávamos acostumados.

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Várias dessas mudanças vêm ocorrendo em setores como o de comunicações, em que a sua prática mudou completamente em um período de pouco mais de uma década – quem imaginaria que não precisaríamos mais de telefone em casa e que o smartphone eliminaria vários produtos de uma só vez? Afinal, você não precisa mais de dispositivos separados para relógio, calendário, agenda, caderno de anotações, máquina fotográfica, televisão, entre outros.

Isso é o que chamamos de disrupção de mercado: o produto de uma nova tecnologia que domina e transforma todos os conceitos anteriores, mudando uma determinada indústria.

No setor de transporte está ocorrendo o mesmo processo, ainda que, talvez, não diante de nossos olhos – mas a disrupção está a caminho. Anote a única certeza até aqui: você ainda terá um carro elétrico!

Recentemente, me deparei com um debate entre colegas com opiniões diferentes sobre qual seria o veículo mais ecológico ou mais amigo do meio ambiente: veículos elétricos ou à combustão. Cada um apontava fatores lógicos e coerentes para defender sua tese.

Nessa discussão, o que defendia um cenário mais próximo do atual argumentava que o processo de fabricação das baterias que equipam os veículos elétricos e o futuro descarte após sua vida útil trariam impactos muito relevantes ao ambiente e que deveriam ser considerados na comparação. Naturalmente, isso é verdade e o mundo tem que se preparar para lidar com esses novos desafios – e o mercado, no final, termina se adaptando às novas necessidades.

A foto superior mostra a cidade de Nova York em 1900, com somente um veículo motorizado andando no meio de várias carroças tracionadas por animais; 13 anos depois, a imagem inferior exibe apenas uma carroça no meio de dezenas de carros.

REALIDADE

Mas o que ocorrerá na prática é que a decisão de comprar um veículo elétrico será de acordo com o fator mais determinante de qualquer indústria: o preço! Em um futuro não muito longe (entre três e cinco anos), os veículos elétricos serão mais baratos no momento da compra e, principalmente, na manutenção, quando comparado a qualquer outro veículo à combustão. O custo de um carro elétrico está intimamente associado ao de sua bateria, que, em números atuais, é de cerca de 35% do valor total do veículo.

Vários fabricantes tradicionais começaram a produzir veículos 100% elétricos, como a BMW (linha i3 e i8), Nissan (Leaf) e Audi (E-Tron), além da Tesla, que somente fabrica automóveis elétricos (Model S, Model X e Model 3). Na medida em que mais e mais fabricantes começarem a investir e desenvolver veículos elétricos, diversas eficiências tecnológicas começarão a surgir, culminando na redução do custo final do produto, principalmente com o ganho de escala.

Comparando com um veículo à combustão, um modelo elétrico tem motores muito mais simples, com poucas peças, implicando em manutenções mais fáceis, menos frequentes e, consequentemente, com custos menores, que é um grande diferencial.

Também precisamos comentar a facilidade de se abastecer esses carros. Usar um cabo na tomada de casa é suficiente para carregar novamente a bateria e ter a autonomia para alguns dias de uso na cidade – uma bateria totalmente carregada permite rodar pelo menos 300km com a tecnologia atual.

Assim, a infraestrutura das cidades se adaptará, teremos carregadores disponíveis nos shopping centers, em estacionamentos de aeroportos e centrais de carregamento, substituindo os postos de combustíveis, algo que já é realidade em algumas cidades norte-americanas e europeias. Embora não tenha sido mencionado, o uso de veículos elétricos será massivo em toda a indústria de transporte, passando pelos equipamentos de construção, transporte público e até aviões. O potencial é brutal para esse novo mercado e todos os fabricantes farão a migração para o uso dessas novas tecnologias.

FONTES RENOVÁVEIS

E isso tem alguma relação com a energia solar? A resposta é sim. Tem tudo a ver. Imagine a capacidade de ter instalados painéis solares no telhado, uma bateria armazenando essa energia durante o dia e você carregando seu veículo elétrico durante a noite – tudo isso sem gastar combustível e nem consumir energia da distribuidora local. Esse já é um cenário possível e, aos poucos, atingirá mais e mais consumidores, os quais, dentro de suas possibilidades, farão a migração para algo que possam administrar.

Os veículos à combustão não desaparecerão da noite para o dia. Certamente haverá muito lobby para preservar todo o setor produtivo de combustíveis e lubrificantes, bem como nichos de mercado para seu entusiastas. Mas o mercado que conhecemos hoje se transformará totalmente.

O setor de transporte já passou por grandes processos de disrupção no passo. Um exemplo foi a migração do uso de cavalos como meio de transporte para veículos à combustão no início do século XX.

RUBENS ROMANO Executivo de empresas de geração de energia renovável na América Latina

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