The Nature Conservancy (TNC) Coleção Projeto Cachoeira publicação 2

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PROJETO CACHOEIRA

INFORMAÇÕES DE REFERÊNCIA

SÉRIE ÁGUA, CLIMA E FLORESTA VOLUME II



INFORMAÇÕES DE REFERÊNCIA


EXPEDIENTE The Nature Conservancy (TNC) SRTVS, Qd.701, Conj.D, Bl.B, Sala 246, Edifício Brasília Design Center Brasília DF – CEP: 70340-907 nature.org/brasil Diretor regional da TNC para a América Latina Joe Keenan Diretor da TNC para o Programa de Conservação da Mata Atlântica e das Savanas Centrais (AFCS) João Campari Gerente de Agricultura e Áreas Protegidas do AFCS Henrique Garcia dos Santos Gerente de Serviços Ambientais do AFCS Fernando Veiga Gerente de Marketing do Brasil Alexander Rose Especialista de Marketing do AFCS Marli Santos Equipe técnica da TNC Anita Diederichsen (Cientista Senior) Aurélio Padovezi (Coordenador de Restauração Ecológica) Revisão Alessandro Mendes (Azimute Comunicação) Foto da capa Reinaldo Lourival Edição de Imagens Ana Flávia Andrade (Estagiária de Marketing TNC) Ribamar Fonseca (Supernova Design) Projeto Gráfico e editoração eletrônica Mayra Fernandes (Supernova Design) Iniciativa TNC Prefeitura de Piracaia Sabesp Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo Apoio Fundação Dow

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) I43 Informações de Referência: Levantamento e avaliação de informações de referência para o Projeto ‘Restauração de 350 hectares do entorno do reservatório do Rio Cachoeira’- Piracicaba- SP/ Alexandre de Almeida e Renato A. Ferreira de Lima.- Brasília, DF: The Nature Conservancy do Brasil, 2011. 108 p.-(Série Água, Clima e Floresta, Projeto Cachoeirav. II-1a edição) 1. Mata Atlântica 2. Levamento de informações de referência 3. Restauração Ecológica CDD –


PROJETO CACHOEIRA

INFORMAÇÕES DE REFERÊNCIA Levantamento e avaliação de informações de referência para o projeto ‘Restauração de 350 hectares do entorno do Reservatório do Rio Cachoeira – Piracaia – SP’ ORGANIZADOR Aurélio Padovezi AUTORES Alexandre de Almeida Renato A. Ferreira de Lima COLABORADORES Andrea Garafulic Aguirre Ariane Bortolotte Antonio Marcos Machado de Paula EDITOR The Nature Conservancy do Brasil

SÉRIE ÁGUA, CLIMA E FLORESTA VOLUME II – 1ª EDIÇÃO

BRASÍLIA – DF 2011


informações de referência . série água, clima e floresta . v. II

apresentação Prezados leitores,

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série Água, Clima e Floresta foi elaborada com muita dedicação da equipe técnica da The Nature Conservancy (TNC), parceiros e consultores, unidos em prol de um objetivo em comum: contribuir para a conservação do meio ambiente e o sucesso na execução de projetos ambientais. Suas publicações visam expor, de forma didática, técnicas, métodos procedimentos e idéias acumuladas pela vasta experiência da TNC em projetos de campo, para que a conservação se torne um tema cada vez mais importante no Brasil e no mundo. Esse segundo volume tem por objetivo apresentar informações de referencia de fragmentos florestais do entorno do projeto antes do inicio dos trabalhos de restauração. Essas informações de referencia servem de parâmetro para avaliar se estamos conseguindo recuperar a biodiversidade local pelas atividades de restauração implantadas na área. Esperamos que esse estudo repasse o conhecimento adquirido para outras iniciativas do gênero. O programa de conservação da Mata Atlântica e Savanas Centrais agradece a todos que colaboraram com a elaboração desse valioso registro. Boa leitura!

João Campari Diretor do Programa de conservação da Mata Atlântica e Savanas Centrais


John Maier


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prefácio

introdução

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metodologia

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resultados

recomendações para a restauração

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considerações finais

referências bibliográficas

86 anexos


sumรกrio



prefรกcio


informações de referência . série água, clima e floresta . v. II

O

objetivo deste estudo foi levantar informações de referência sobre vegetação, flora, avifauna e hábitats para subsidiar o planejamento e o monitoramento da restauração florestal de uma área de 350 hectares nas margens da Represa do rio Cachoeira, Piracaia, SP. Sugere-se que essas informações sejam utilizadas como base comparativa ao longo do monitoramento das áreas restauradas, visando avaliar a efetividade da restauração.

Foram selecionados fragmentos florestais com diferentes tamanhos e estados de conservação (fragmentos pouco e muito degradados), nos quais foram levantadas a composição florística e a fitossociologia de espécies arbustivo-arbóreas em duas fases de vida: plântulas (altura até 1m) e adultos (PAP > 15 cm). As plântulas foram avaliadas em parcelas de 1×1 m, enquanto os adultos foram avaliados em parcelas de 10×20 m. Foram avaliadas também a cobertura do solo por gramíneas exóticas e a presença de espécies exóticas, endêmicas e ameaçadas de extinção. Nos fragmentos, foram estabelecidos pontos fixos para o inventário das aves, localizados no interior e nas bordas florestais. Também foram obtidas amostras da estrutura do hábitat, como densidade do sub-bosque, complexidade vertical da floresta e intensidade luminosa. Foram levantadas 256 espécies vegetais, das quais oito apresentam algum grau de ameaça de extinção e seis são endêmicas. O uso dessas espécies ameaçadas e endêmicas nas atividades de restauração deve ser estimulado, visando aumentar o valor de conservação da área de estudo. Foram encontradas, ainda, nove espécies exóticas, das quais a Tecoma stans deve receber maior atenção devido ao alto potencial de invasão de áreas abertas. O estudo fitossociológico da vegetação levantou 875 indivíduos adultos pertencentes a 111 espécies arbustivo-arbóreas e 1.466 plântulas de 83 espécies. Foram encontradas, respectivamente, nove e 14 espécies indicadoras entre os adultos e entre as plântulas. Essas espécies são características de um ou outro estado

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de conservação e, portanto, podem ter suas populações monitoradas para avaliar o sucesso da restauração. Os resultados de algumas variáveis quantitativas foram diferentes entre os dois estados de conservação considerados. A avifauna apresentou 129 espécies de 42 famílias. Nenhuma espécie se encontra em risco de extinção e foram encontradas apenas nove espécies endêmicas do bioma Mata Atlântica. Os resultados mostram que essa comunidade encontra-se empobrecida e descaracterizada, sendo subconjunto de outras comunidades melhor conservadas do estado de São Paulo. O inventário, realizado por meio de pontos, encontrou 597 indivíduos e 78 espécies de 32 famílias. Intervalos de confiança que foram obtidos para aspectos da diversidade de aves, como índice de Shannon-Wiener, uniformidade, riqueza e abundância, foram similares aos de outros trabalhos que utilizaram o mesmo método de amostragens em diversos fragmentos florestais no estado de São Paulo. Aves florestais apresentaram densidade populacional de 6,3 indivíduos por hectare. Não houve diferenças significativas na diversidade de aves encontradas no interior de fragmentos florestais em comparação com as localizadas em suas bordas. Análises que objetivam monitoramentos capazes de detectar alterações populacionais de 5% com testes ‘t’ pareados para amostras dependentes indicam que, para obter-se nível alfa de 0,01 e

poder de 0,8, é preciso realizar 43 amostras; com nível alfa de 0,05 e poder de 0,81, deverão ser amostrados 27 pontos fixos. A seleção de espécies indicadoras para o futuro monitoramento foi feita ponderando exigências ecológicas e a necessidade de serem aves abundantes e frequentes, tais como, dentre aves florestais, Basileuterus culicivorus, Basileuterus leucoblepharus, Thamnophilus caerulescens e Chiroxiphia caudata, e entre espécies de bordas e áreas abertas, Cychlarhis gujanensis, Vireo olivaceus, Colaptes campestris, Tolmomyias sulphurescens, Pitangus sulphuratus e Turdus rufiventris. Em relação ao hábitat, amostras de densidade do sub-bosque e de estrutura vertical da floresta foram adequadas e apresentaram correlações significativas com a diversidade de aves, revelando que tais características devem ser consideradas na restauração florestal. A intensidade luminosa incidente no sub-bosque foi a variável menos adequada para caracterizar hábitats, pois houve demasiada variação nos resultados obtidos e não houve correlação significativa entre diversidade de aves e intensidade luminosa. As florestas estudadas apresentam, de forma geral, altura máxima em torno de 20 metros, com decréscimo vertiginoso da complexidade em torno de 10 e 15 metros de altura. O sub-bosque foi sempre denso, apresentando, até os cinco metros de altura, 80% ou mais de cobertura vegetal.

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introdução


Haroldo Palo Jr.

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nformações de referência são de grande importância, pois auxiliam a definir objetivos plausíveis para a restauração florestal, bem como parâmetros para avaliar o sucesso do trabalho. Boas informações de referência são obtidas a partir de múltiplas fontes de informações, passadas e presentes, obtidas em diferentes locais e não somente da seleção de sítios de referência (i.e. fragmentos florestais). Registros antigos de eventos climáticos, por exemplo, são boas ferramentas para prever possíveis distúrbios, como geada e tempestades (WHITE; WALKER, 1997). De fato, todo tipo de informação sobre a área de abrangência do projeto é importante para dar subsídios ao bom planejamento e execução das atividades de restauração florestal. Dentre as mais importantes e comumente avaliadas, estão informações de referência sobre vegetação, flora e fauna. Geralmente, são avaliados parâmetros de estrutura da vegetação (densidade, área basal) e composição, riqueza e diversidade de espécies da flora e fauna. Para as espécies encontradas são levantadas informações como dispersão, germinação e/ou crescimento, hábito, guilda ecológica e hábitat de ocorrência. Assim, além de listas de espécies, o levantamento de informações de referência fornece parâmetros qualitativos e quantitativos que podem auxiliar a restauração. Nesse contexto, o presente projeto visa levantar informações de referência para o projeto Restauração de 350 hectares do entorno do Reservatório

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Haroldo Palo Jr.

dentre as mais importantes e comumente avaliadas, estão informações de referência sobre vegetação, flora e fauna

do rio Cachoeira – Piracaia – SP. Para isso, foram selecionados diferentes fragmentos florestais próximos à área de abrangência do projeto, onde foram levantadas informações sobre vegetação, flora, aves e estrutura de hábitats. Os objetivos principais foram: i) identificar parâmetros, indicadores e variáveis que sirvam com informações de referência da flora e da avifauna para caracterização dos estágios de degradação/conservação identificados na área; e ii) caracterizar os diferentes estágios de conservação/degradação identificados na área do projeto Cachoeira.

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metodologia


Ami Vitale

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metodologia proposta aqui visa integrar a coleta de informações de referência (vegetação e avifauna) e a metodologia do futuro monitoramento, de modo que o levantamento dessas informações possa servir como uma referência comparável das condições pré-restauração. Dessa forma, a metodologia (e.g. variáveis avaliadas, tamanho e forma da parcela, esforço amostral e disposição das amostras) será basicamente a mesma durante o levantamento de informações de referência nos fragmentos e o monitoramento das atividades de restauração.

2.1 Localização e caracterização geral da área de estudo A área de estudo corresponde basicamente a um trecho de aproximadamente 350 hectares que se estende ao longo da margem direita do rio Cachoeira, município de Piracaia (SP). As áreas de estudo se restringiram aos fragmentos florestais localizados nas propriedades da Sabesp, sendo quatro dentro dos limites descritos acima e outros dois mais próximos à barragem do reservatório. O Reservatório Cachoeira faz parte do Sistema da Cantareira, que deságua na sub-bacia do rio Atibaia, fazendo parte da bacia do rio Piracicaba. Quanto ao relevo, a área de Piracaia pertence à porção sul dos planaltos da Serra do Mar, região que serve como divisor d’águas entre as bacias dos rios Paraná e Paraíba, na qual desenvolve-se um relevo de Morros com Serras Restritas1 (CETEC, 2000) com altitudes variando entre 1 Topos arredondados com vertentes retilíneas, por vezes abruptas, e com serras e interflúvios restritos.

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800 e 950 metros a.s.l. Na área de estudo, predominam granitos2 (associados às cristas dos morros) e os charnockitos3 (nas demais porções do terreno) (CETEC, 2000). Outras informações sobre a geologia da região podem ser obtidas em Janasi (1986). Quanto aos solos, predominam os Podzólicos Vermelho-Amarelos4 Álicos (solos com relação alumínio/bases igual ou maior que 50%), com fertilidade natural baixa/média e geralmente profundos (CETEC, 2000). Os solos da região possuem baixo potencial de utilização agrícola, principalmente devido às propriedades físicas dos solos, suas concentrações de alumínio e relevo montanhoso (IBGE, 1997). Assim, o atual uso do solo na região restringe-se a atividades pastoris (principalmente gado) e silviculturais (eucalipto) para produção de lenha e carvão. Dados pluviométricos do município de Piracaia indicam uma precipitação anual média de 1.440 mm, com estação seca entre junho e agosto (DAEE/ SP, 2008). Contudo, a precipitação pode ser maior na região da represa (mais a leste da cidade), podendo ultrapassar 1.700 mm/ano (CETEC, 2000). A estação seca, mais ou menos definida entre abril e setembro, possui maior intensidade nos meses de julho e agosto (Figura 1) (DAEE/SP, 2008). Não foram encontradas informações sobre os dados de temperatura mensal, mas a temperatura anual média em Piracaia é de 24ºC. O conjunto das informações indica que o clima da área de estudo é temperado úmido, com inverno seco e verão temperado (Cwb - segundo a classificação climática de Köppen-Geiger). A vegetação original é Floresta Estacional Semidecidual Montana, considerada por Veloso (1992) como uma formação incomum no sudeste do Brasil, restrita 2 Rocha ígnea plutônica supersaturada composta essencialmente por quartzo e feldspatos. 3 Rocha ígnea e/ou metamórfica de alto grau metamórfico, granítica ou granitoide, que se caracteriza por apresentar hiperstênio em sua composição. 4 Solos minerais com horizonte B textural não hidromórfico, bem desenvolvidos, bem drenados e ácidos.

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às encostas acima dos 500m das serras dos Órgãos e da Mantiqueira, nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Portanto, a área possui uma grande relevância em termos de conservação florestal no Brasil. Também se enquadra como uma Área de Tensão Ecológica (contato entre tipos de vegetação) devido ao encontro entre a Floresta Ombrófila Densa (FOD) e a Floresta Estacional Semidecidual (FES), havendo predomínio de componentes da FES. A ocorrência comum de Anadenanthera colubrina na área de estudo é indicadora dessa formação (VELOSO, 1992). Outras espécies arbóreas típicas da formação e que ocorrem na área de estudo são Aspidosperma olivaceum, Cassia ferruginea, Clethra scabra, Connarus regnelii, Jacaranda macrantha, Leucochloron incuriale, Nectandra cf. lanceolata e Vernonia discolor (VELOSO, 1992; LORENZI, 1998, 2002). Alguns componentes da FOD que influenciam a flora local são Bathysa australis e Psychotria suterella. Adicionalmente, a área está próxima também de áreas da Floresta Ombrófila Mista da Serra da Mantiqueira, o que pode ser verificado pela presença espontânea de Araucaria angustifolia na área de estudo, além da ocorrência de indivíduos de Ilex paraguariensis e Ilex theezans. Outro aspecto interessante sobre a flora se refere à inserção de alguns componentes de formações savânicas, como Xylopia aromatica e Stryphnodendron adstringens, encontrados exclusivamente nas áreas de borda de estrada. No que concerne à avifauna, a região encontra-se sobre influência do Centro de Endemismos da Serra do Mar (CRACRAFT, 1985). Sabe-se que o aumento da altitude contribui para maior importância relativa de espécies endêmicas, com o decréscimo na riqueza geral e o aparecimento de aves típicas de áreas elevadas (GOERCK, 1999). Segundo Metzger et al. (2006), a região sul do Planalto Paulista é uma área de provável importância biológica, mas o conhecimento científico sobre ela foi insuficiente para a priorização em termos de conservação de biodiversidade (MMA, 2000). Admite-se que o estado de São Paulo abrigue aproximadamente 740 espécies (SILVA, 1992), sendo que a riqueza de aves associadas a ambientes florestais no Planalto Paulista seria, antes da devastação florestal (VITOR, 1975), da ordem de 230 espécies (WILLIS, 1979). Um inventário de aves realizado na Serra da Paranapiacaba, no Parque Estadual Turístico Alto do Ribeira (Petar), mostrou a existência de 217 espécies em quatro estágios de sucessão ecológica (ALLEGRINI, 1997).

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Publicações enfocando comunidades de aves sob influência das características ambientais da região de Piracaia são escassas, destacando-se Silva (1992), que estudou a floresta da Serra do Japi, e Develey e Martensen (2006), com trabalho na Serra da Paranapiacaba. O presente trabalho, portanto, poderá preencher uma lacuna importante para o manejo e conservação da avifauna remanescente na Serra da Cantareira, que foi estudada por Graham (1992), que relacionou poucas espécies registradas no Parque Estadual da Cantareira, dentro da cidade de São Paulo.

2.2 Critérios para a escolha das áreas de referência Foram selecionados seis fragmentos florestais na região a ser restaurada, representando amostras das principais fontes de colonização da flora e fauna florestais. A escolha levou em conta os tamanhos dos fragmentos, a distância mínima de cerca de 1 km entre eles (para promover independência entre amostras) e as vias de acesso pela represa ou por estradas. Os fragmentos foram subdivididos em duas grandes categorias, de acordo com o estado de conservação e tamanho. Abaixo, é feita a definição e descrição geral dessas categorias: • Fragmentos florestais muito degradados (MD): são fragmentos geralmente pequenos e isolados que apresentam estado de conservação de regular a ruim. A altura da vegetação raramente ultrapassa os 12

Haroldo Palo Jr.

Outro inventário na região sul do Planalto Paulista revelou a existência de 198 espécies numa área de 10.870 hectares localizada no município de Cotia – SP (DEVELAY; MARTENSEN, 2006). Contudo, a composição foi mais similar àquelas das áreas de florestas úmidas da Serra do Mar, refletindo menor influência das florestas mais secas (semidecíduas) do interior do estado.

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metros de altura e o dossel é relativamente mais aberto. No sub-bosque, há geralmente alta densidade de bambus arbustivos nativos (provavelmente Chusquea), o que torna a regeneração de espécies lenhosas menos abundante, criando um sub-bosque mais ralo. Em alguns pontos podem ser observadas grandes moitas de bambus lenhosos do gênero Guadua (taquaruçú). Uma espécie indicadora dessa situação é a Vernonia diffusa. • Fragmentos florestais pouco degradados (PD): fragmentos florestais pequenos e médios com estágios de regeneração de médio a avançado. Pelo tamanho relativamente maior, possuem estados de conservação regulares ou bons. O dossel é mais contínuo, com alturas que variam entre 12 e 16 metros de altura. Há intensa regeneração de espécies arbustivas e arbóreas com indivíduos distribuídos nos mais diferentes diâmetros. No sub-bosque desses fragmentos, é característica a presença de espécies arbustivas, como Mollinedia elegans, Psychotria vellosiana e Allophylus guaraniticus. Geralmente, não há trechos com alta dominância de bambus ou lianas agressivas. Os fragmentos, denominados áreas de 1 a 6, foram utilizados neste estudo como repetições espaciais dessas duas categorias, como será descrito a seguir. Assim, foram selecionados três fragmentos muito degradados e três pouco degradados. Trilhas, parcelas e pontos de amostragem foram estabelecidos no interior e nas bordas dos fragmentos, permitindo registros de espécies florestais, de borda e do ambiente aberto (pastagens), para que os inventários de flora e fauna sejam representativos do atual estado de conservação da biodiversidade. Isso permite inferências ecológicas a partir de resultados quantitativos no âmbito das comunidades, das populações que forem mais abundantes e frequentes na amostragem e de aspectos da estrutura dos ambientes.

2.3 Levantamento da vegetação e flora Em cada fragmento, foi feita uma descrição geral e qualitativa da vegetação, além de fotografias. Foram anotados diversos aspectos, como formação florestal; estrutura da vegetação; presença de espécies exóticas, invasoras, epífitos e lianas: influências humanas; e efeito de borda, entre outros. Adicionalmente, em quatro dos seis fragmentos usados como áreas de referência, foi feito o levantamento da flora e estrutura da vegetação, como descrito a seguir. Em cada fragmento foram instaladas seis parcelas de 10x20 m (200 m2 – Figura 2), num total de 24 parcelas (2 estados de conservação x 2 fragmentos x 6 parcelas de 200 m2 = 4.800 m2). A disposição das parcelas dentro de cada fragmento foi feita sistematicamente ao longo de trilhas. Procurou-se manter uma distância mínima de 20 m entre as parcelas. Buscou-se ainda avaliar o maior número de situações possíveis (áreas planas e inclinadas, secas e úmidas, próximas e distantes da borda) visando abranger a heterogeneidade ambiental existente. 22


Renato Lima

Dentro de cada parcela de 10x20 m foram avaliados todos os indivíduos arbustivo-arbóreos com perímetro à altura do peito (PAP do fuste a 1,3m do solo)  15 cm. Para cada indivíduo foi anotada a identificação da espécie botânica, PAP e altura total. O PAP foi avaliado com uma precisão de 0,5 cm e a altura total, de 0,5 m. Os indivíduos regenerantes (indivíduos arbustivo-arbóreos < 1 m de altura) foram contados e identificados em quatro subparcelas de 1 m2 (4 m2 por parcela), localizadas sempre nos quatro cantos da parcela (10x20 m) (Figura 2).

Figura 2 (Métodos – Vegetação). Procedimento para instalação das parcelas para avaliação de indivíduos adultos (acima à esquerda); mensuração de perímetro de indivíduos de dossel: Cedro-rosa (Cedrela fissilis - acima à direita) e Pau-jacaré (Piptadenia gonoacantha – meio à esquerda); procedimento para avaliação dos indivíduos regenerantes nas subparcelas de 1 m2 (meio à direita); e detalhes da contagem e identificação dos indivíduos regenerantes de Camboatã (Cupania vernalis), Pau-jacaré (P. gonoacantha – ambos abaixo à esquerda) e Jacarandá-ferro (Machaerium nyctitans – abaixo à direita).

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Scott Warren

Também foram avaliadas gramíneas exóticas e espécies arbustivo-arbóreas regenerantes. As gramíneas exóticas (e.g. Brachiaria spp.) foram avaliadas indiretamente por meio de sua cobertura do solo, utilizando o método de interceptação em linha (line intercept) em duas linhas paralelas de 20 m de comprimento cada (total de 40 m por parcela). Em cada linha, o comprimento da projeção das partes vegetativas das gramíneas exóticas foi anotado com uma precisão de 5 cm. Com caráter complementar ao estudo quantitativo da vegetação, foi realizado um levantamento florístico rápido nas mesmas trilhas dos fragmentos selecionados para caracterizar melhor a flora arbustivo-arbórea local (WALTER; GUARINO, 2006). Devido ao curto período de tempo disponível para as atividades de campo, o levantamento não pode ser feito de maneira exaustiva, ou seja, certamente existem mais espécies que não foram registradas durante as amostragens. Espécies de fácil reconhecimento em campo foram apenas anotadas, enquanto as demais foram coletadas para posterior identificação em livros e comparações em herbário. A classificação em famílias adotada para este estudo seguirá o Angiosperm Phylogeny Group – APG, versão II (APG, 2003). Todo material foi coletado e herborizado com o uso de técnicas convencionais, como tesoura de poda ou tesoura de poda 24

alta, prensas, jornal, papelão e estufa elétrica. Os materiais reprodutivos serão enviados ao herbário da Sabesp, com duplicatas enviadas ao herbário Esalq (ESA). Foram consultados os seguintes especialistas: Rubens L.G. Coelho (Sapindaceae), Fiorella F. Mazine-Capelo (Myrtaceae), Marcelo P. Ferreira (Rubiaceae) e Flávio M. Alves (Lauraceae). Para cada espécie foram agregadas informações sobre grupo sucessional, síndrome de dispersão e fenologia. As espécies foram ordenadas nos seguintes grupos sucessionais: Pioneiro (Pi), Secundário inicial (Si), Clímax (Cl) e Não classificadas (Nc). Espécies também foram divididas em espécies de preenchimento e espécies de diversidade (NAVE; RODRIGUES, 2007). O mesmo foi feito para as síndromes de dispersão (anemocoria, autocoria e zoocoria) e fenologia (períodos de floração e frutificação). Foram obtidas informações sobre a ameaça de extinção das espécies nas listas internacional (IUCN, 2006), nacional (BIODIVERSITAS, 2007) e estadual (SMA-SP, 2004) de espécies ameaçadas. Adicionalmente, foram indicadas a ocorrência e a localização aproximada de matrizes de espécies arbustivo-arbóreas de rápido crescimento e disseminação para orientar a coleta de sementes de espécies com potencial de uso nas atividades de restauração.


foram indicadas a ocorrência e a localização aproximada de matrizes de espécies arbustivoarbóreas de rápido crescimento e disseminação para orientar a coleta de sementes de espécies com potencial de uso nas atividades de restauração 2.3.1 Análise dos dados Uma lista de espécies da flora local foi produzida e para cada espécie foi anotado o hábito e ambiente de ocorrência (fragmentos muito degradados, pouco degradados ou beira de estrada/pasto abandonado). Essa lista foi obtida unindo as informações dos levantamentos fitossociológicos (adultos + regenerantes) e florístico expedito. A partir dos dados fitossociológicos de ambos os grupos (adultos + regenerantes), foi realizada a análise de espécies indicadoras (Indicator Species Analysis – ISA) (DUFRENE; LEGENDRE, 1997) para identificar espécies indicadoras dos estados de conservação (teste de Monte Carlo executado com 10 mil repetições aleatórias com o uso do programa PcOrd versão 4.10) (MCCUNE; MEFFORD, 1999). Essa análise baseia-se na abundância e frequência das espécies e busca identificar quais possuem ocorrência preferencial em algum tipo de ambiente, no caso, fragmentos com diferentes estados de conservação. A análise Multiple Response Permutation Procedure (MRPP) avalia a diferença da composição de duas comunidades diferentes e foi executada com o índice de Sørensen e a abundância relativa das espécies. Além da riqueza observada de espécies, foi estimado o número máximo de espécies (diversidade alfa) e seu respectivo intervalo de confiança (α = 5%) para cada estado de conservação, usando o estimador não paramétrico Jackknife 1 (análises executadas com 5 mil repetições aleatórias pelo programa EstimateS versão 7.5) (COLWELL, 2005). Assim, além das espécies coletadas dentro das parcelas durante o trabalho de campo, fez-se uma estimativa do número total de espécies existentes nos fragmentos visitados, incluídas as não recrutadas na amostragem, o que fornece uma estimativa mais real da riqueza de espécies em cada estado de conservação.

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Também foram calculadas médias e intervalos de confiança do número de espécies por parcela em cada estado de conservação, além da riqueza e do índice de diversidade de Simpson (MAGURRAN, 1988). Essas análises foram executadas com 5 mil repetições aleatórias pelo programa EcoSim versão 7 (GOTELLI; ENTSMINGER, 2001). Quanto à estrutura da vegetação, foram avaliadas a densidade absoluta (ind.ha-1), a altura média (m) e o volume estimado de madeira (m3.ha-1), calculado pela multiplicação entre a área basal e a altura total de cada indivíduo. A área basal foi estimada com a fórmula do círculo (AB = π.raio2). Para os indivíduos regenerantes, a densidade foi o único parâmetro de estrutura obtido (dados de diâmetros e altura não foram obtidos). O Índice de Valor das Espécies (FEEST, 2006) foi computado como uma avaliação qualitativa da composição florística e conduzido com base na presença de espécies ameaçadas de extinção. Para obter o índice, a cada indivíduo foi atribuído um valor de importância de acordo com a categoria de ameaça de extinção (Não ameaçada = 0; Quase em Perigo = 1; Vulnerável = 2; Em perigo = 3; Criticamente em perigo = 4). Esses valores foram somados para cada parcela e calculou-se a média e o desvio padrão para cada estado de conservação. Um procedimento parecido foi empregado para avaliar a percentagem de cobertura do solo por gramíneas exóticas. Dessas análises foram extraídos valores médios, sumarizados em duas tabelas: uma para o estrato arbóreo (> 15 cm de PAP) e outra para os indivíduos arbustivo-arbóreos regenerantes (altura < 1 m). Tais tabelas servirão como referência básica para o futuro monitoramento das atividades de restauração.

2.4 Avifauna 2.4.1 Inventário por meio de observações em pontos fixos e trajetos Foram estabelecidos em cada área de três a seis pontos fixos para inventário das assembleias de aves. Tais pontos foram dispostos ao longo de trilhas a pelo menos 200 m de distância uns dos outros. Como as áreas 1 e 2 são fragmentos florestais muito pequenos, não foi possível estabelecer mais que três pontos em cada uma delas. Em contrapartida, mais pontos foram estabelecidos nas outras áreas. O inventário em pontos fixos foi realizado entre os dias 19 e 24 de novembro de 2009, totalizando 16,4 horas de inventários. O esforço 26


foi distribuído em 29 pontos estabelecidos em bordas florestais (10h) e 20 pontos no interior da floresta (6h40min). As extremidades das trilhas foram georreferenciadas e os pontos foram marcados em árvores com tinta branca e fita plástica amarela e preta. Em cada ponto foram estabelecidas duas ou três bandas, delimitando um circulo de 20 m ao redor do centro de observação (BIBBY e al., 1993), o que possibilita cálculos de densidade. Em cada ponto de observação foram coletados dados sobre a estrutura vertical e a densidade do sub-bosque, conforme será descrito abaixo. Durante o reconhecimento da área, instalação de pontos e deslocamentos foi possível registrar espécies de aves, o que resultou em um levantamento mais completo da riqueza. Os registros de aves foram realizados utilizando literatura especializada, binóculo (8x30), gravador comum e/ou digital para playback e identificação posterior. Nomes populares e científicos apresentados nesta relação seguem a Lista das Aves do Brasil de 2007 do Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos. Observações ocorreram do amanhecer até às 11h e entre 15h e 18h. Espécies de aves foram checadas quanto ao estado de conservação nas listas do estado de São Paulo e do Brasil de espécies ameaçadas, bem como na lista da União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN).

Os aspectos analisados da diversidade alfa foram: riqueza (R), índice de Shannon-Wiener (H’) e uniformidade (J’). Segundo Magurran (1989), o nível alfa de amostragem é a medida do hábitat ou ambiente, podendo ser obtida por meio de amostras pontuais (repetições dos ambientes), e neste trabalho foi contemplado pelas médias dos valores de diversidade (H’, J’, R) obtidos nas amostras pontuais.

Zé Paiva

2.4.2 Análise do inventário de aves

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Diferenças significativas entre médias de parâmetros e variáveis foram avaliadas pela análise de variância não paramétrica, comparando amostragens realizadas no interior e nas bordas dos fragmentos. A diversidade entre os fragmentos foi analisada com técnicas de agrupamentos com índice de similaridade de Jaccard (cc) por meio de matrizes em modo Q. As espécies foram os descritores e as repetições de ambientes foram os objetos não definidos a priori. Os valores de distância sumarizados no dendrograma de similaridade são positivos, sendo que os altos índices denotam similaridade. Agrupamentos foram criados por meio da média aritmética não ponderada (‘group average clutering’: UPGMA). Curvas de rarefação (WILLOT, 2001) foram elaboradas para expressar a diversidade e indicar a suficiência de amostragem das observações. Foram calculadas com mil repetições aleatórias, gerando intervalos de confiança com percentual de 95% de significância. Como medida de abundância relativa para populações de aves, utilizou-se o Índice Pontual de Abundância (IPA), que indica a abundância de cada espécie em função de seu coeficiente de detectabilidade (conspicuidade), por meio do número de contatos visuais e/ou auditivos e do número total de amostras efetuadas no ambiente em questão. IPA = Ni Na Em que, Ni: número de contatos da espécie ‘i’; Na: número total de amostras Para representar a frequência de ocorrência de espécies foi calculado o Índice de Ocorrência Pontual, que indica o recrutamento em função da distribuição espacial das aves na floresta. FOP = Npi Na Em que, Npi: número de pontos em que a espécie ‘i’ foi recrutada; Na: número total de amostras O cálculo da densidade de aves foi realizado segundo Bibby et al. (1993): Di = ln (n/n2) * [n/m (πr2)] * 10.000

28


Zé Paiva

Em que, Di = densidade da espécie i em indivíduos contatados/amostra (ha-1), n = n1 + n2 = número total de contatos da espécie ‘i’, n1 = número de contatos da espécie ‘i’ dentro do raio r, n2 = número de contatos da espécie ‘i’ além do raio r, m = número total de amostras, r = raio limite entre as duas bandas (0 a 25, 0 a ) em metros. Análise de poder e suficiência de amostragem foram realizadas para aves florestais com objetivo de calcular o esforço de amostragem necessário para estabelecer um programa de monitoramento com no mínimo 90% de probabilidade de detectar de 5% ou 10% de alteração populacional. Para tanto, foram utilizadas a média e o desvio padrão resultantes desse inventário e teste monocaudal do programa G3 Power (FAUL et al., 2007). A análise foi realizada com foco no futuro uso do teste ‘t’ pareado para amostras dependentes, de maneira que comparações de mudanças populacionais nos mesmos locais, antes e depois da restauração, sejam detectadas. Associações entre os parâmetros estruturais da vegetação com a diversidade das assembleias de aves foram verificadas pelas correlações de Spearman, em que a diversidade de aves foi a variável.

29



resultados


informações de referência . série água, clima e floresta . v. II

3.1 Descrição dos fragmentos estudados

A

pós a seleção dos fragmentos, cada um foi visitado, fotografado e descrito de acordo com vários aspectos da estrutura e composição de espécies, tanto da flora quanto da fauna. Procurou-se descrever parâmetros básicos como altura da vegetação, espécies dominantes, estado de conservação e presença de espécies exóticas, entre outros. A localização das áreas, obtida por GPS, é fornecida pela Tabela 1. Área 1 (A1): Fragmento próximo à cabeceira do Rio Cachoeira, que recobre encostas íngremes a suaves (Figura 3). O acesso pode ser feito por barco ou por carro em um caminho em más condições. Cercado pela represa e por áreas de pasto, o fragmento possui estado de conservação que vai do ruim (trecho próximo ao início da trilha) ao regular e um estágio médio de regeneração. Há presença de três estratos verticais (herbáceo, subdossel e dossel), com altura do dossel variando entre 10 e 14 metros, sendo relativamente aberto. Além de indivíduos nas classes de diâmetro menores (DAP médio ± Desvio Padrão = 35,7 ± 23,4 cm), alguns indivíduos de Anadenanthera colubrina e Cassia ferruginea ultrapassaram 50 cm de DAP e tiveram alturas próximas a 20 metros. Espécies arbóreas comuns foram Cupania vernalis, Piptadenia gonoacantha, Nectandra leucantha e Vernonia diffusa. O sub-bosque possui média densidade de indivíduos (em especial Mollinedia elegans e Eugenia hyemalis) e há poucas ervas florestais no estrato herbáceo. As epífitas também são pouco abundantes. As lianas lenhosas, por sua vez, são mais abundantes e, por vezes, formam emaranhados de difícil transposição. O mesmo pode ser dito a respeito de uma espécie de bambu arbustivo nativo (provavelmente do gênero Chusquea). Contudo, foram encontradas moitas bem desenvolvidas de taquaruçú (Guadua cf. tagoara), uma espécie nativa com alto potencial invasivo. A serapilheira é contínua e bem desenvolvida, principalmente nos trechos menos íngremes. Dentro do fragmento não foram registradas nenhuma espécie exótica ou qualquer intervenção humana, além de uma trilha paralela à margem da represa. Tabela 1 Coordenadas geográficas dos fragmentos florestais sendo estudados em Piracaia, SP

32

Fragmento

Coordenadas geográficas (UTM)

Erro (m)

A1

23K 0371455; 7454948

21

A2

23K 0370138; 7455091

10

A3

23K 0365049; 7451225

19

A4

23K 0369093; 7455613

21

A5

23K 0364758; 7450838

32

A6

23K 0367864; 7454759

20


Área 2 (A2): Fragmento que recobre uma encosta relativamente íngreme, estendendo-se da estrada até as margens da represa (Figura 3). Possui fácil acesso por barco ou carro. Delimitado por estrada ao norte, represa ao sul e por áreas de pastagem ao leste e ao oeste. Possui um estado de conservação geral ruim, com alguns pequenos trechos regulares (é o fragmento mais degradado). O estado de regeneração é médio, com dossel variando entre 10 e 12 metros de altura, relativamente aberto. Em geral, o diâmetro dos indivíduos arbóreos não ultrapassou 50 cm (DAP médio ± Desvio Padrão = 37,4 ± 24,8 cm), exceto por apenas um indivíduo de Anadenanthera colubrina, que obteve o maior diâmetro encontrado em todos os fragmentos estudados (DAP= 73 cm). Indivíduos arbóreos comuns foram Aegiphila sellowiana, Croton floribundus, Cupania vernalis e Vernonia diffusa. Apresenta três estratos verticais, com notável dominância de bambus arbustivos, que parecem comprometer a regeneração do fragmento. Também foram encontradas moitas bem desenvolvidas de Guadua cf. tagoara, um bambu lenhoso. As epífitas e lianas lenhosas foram pouco comuns. A serapilheira é contínua e desenvolvida. Além da proximidade da estrada, foi constada a invasão do fragmento por gado a oeste e de fogo a leste. Há também uma trilha bem definida que leva à beira da represa, provavelmente usada por moradores locais. Não foram registradas quaisquer espécies exóticas no interior do fragmento. Área 3 (A3): Este fragmento encontra-se na encosta de uma colina, entre a estrada vicinal e a represa. Trata-se de uma floresta em estágio médio de regeneração, apresentando sub-bosque denso, grande complexidade na estrutura vertical e dossel variando entre 10 e 15 metros, havendo emergentes de até 20 metros. Os maiores indivíduos arbóreos são notavelmente espécies típicas de regeneração secundária, como Piptadenia gonoacantha, Anadenanthera colubrina, Alchornea glandulosa e Luehea divaricata, sendo um dos fragmentos em estudo melhor conservados. Foram encontradas duas trilhas seguindo as vertentes da colina: descendo à direita, a floresta encontra-se em melhor estado de conservação, com sub-bosque menos denso, maior altura das árvores e menor profusão de lianas, que apresentavam maior DAP e eram lenhosas. Na vertente esquerda, o efeito de borda foi nitidamente mais pronunciado. A densidade do sub-bosque foi mais alta, o dossel foi mais baixo (até 15 metros) e houve maior abundância de lianas, formando intricados emaranhados, principalmente ao nível do subdossel. Descendo a vertente direita, foram observados alguns fornos antigos de produção de carvão e uma armadilha de ferro para captura de mamíferos de porte médio, também bem antiga e desativada.

33


Práticas religiosas de candomblé, conhecidas como macumbas, foram registradas em três círculos formados na vegetação, na parte mais alta da colina e junto à estrada. A prática desses ritos pode provocar incêndios, pois a floresta apresenta densa e contínua camada de serapilheira recobrindo o solo. Bambus e taquaras em abundância, característicos na maioria dos demais fragmentos, não foram observados, sendo tal fato um aspecto positivo em termos de conservação, pois tais plantas tornam o sub-bosque excessivamente denso, comprometendo o estabelecimento de diversas aves e de arbustos florestais. Não foram observadas espécies exóticas invasoras, tampouco a dominância de alguma espécie botânica nativa em particular. Área 4 (A4): Fragmento que faz limites com o reservatório e se estende sobre um terreno relativamente íngreme até próximo ao topo do morro mais alto da área de estudo (Figura 3). O acesso é feito por barco. O fragmento é composto por um mosaico de situações que vão desde florestas secundárias em estágio de regeneração inicial sob a linha de transmissão até estágios avançados que cobrem as vertentes mais íngremes e protegidas. O estado de conservação, por sua vez, vai do regular ao bom, dependendo do trecho considerado. Em geral, possui um dossel que varia entre alturas de 15 e 17 metros e alguns indivíduos que ultrapassam 50 cm de DAP (e.g. Piptadenia gonoacantha; Figura 2). Há intensa regeneração de espécies arbustivas e arbóreas, com indivíduos distribuídos nos mais diferentes diâmetros (DAP médio ± Desvio Padrão = 33,6 ± 20,8 cm). Possui três estratos verticais claros, sendo o subdossel relativamente denso e dominado por Piper spp nas áreas mais jovens e pelos arbustos Mollinedia elegans, Psychotria vellosiana e Allophylus guaraniticus nas áreas mais avançadas. Não há

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grande riqueza de ervas no estrato herbáceo e a presença de epífitas é reduzida, especialmente nos trechos mais jovens. Alguns trechos do sub-bosque apresentam densos emaranhados de lianas lenhosas. A presença de taquaras está restrita a um rancho localizado próximo à represa, onde foi provavelmente introduzida; no interior da floresta, há apenas bambus arbustivos nativos. A camada de serapilheira é contínua e espessa. Espécies exóticas encontradas foram Citrus aurantium L. (limão-cravo), Hedychium coronarium J. König. (lírio-do-brejo) e Eucalyptus sp. (eucalipto). Além do uso recreativo (rancho de pesca) e da linha de transmissão, há evidências da entrada de bovinos em alguns trechos do fragmento. Área 5 (A5 – Barragem): Esta área equivale a um fragmento pequeno em estágio médio de regeneração, com pronunciado efeito de borda potencializado pela ocorrência de clareiras causadas por quedas de árvores. Localiza-se ao lado da barragem da represa, havendo grandes eucaliptais junto da borda neste trecho. O dossel desta floresta atingiu até 18 metros de altura e tanto a complexidade vertical como a densidade do sub-bosque apresentaram valores médios. A floresta encontra-se em estágio médio de regeneração, mas pode ser considerada uma das remanescentes mais degradadas se comparada às outras. Foram espécies comuns do dossel: Piptadenia gonoacantha, Anadenanthera colubrina, Alchornea glandulosa e Luehea divaricata. Foi notável neste fragmento a ocorrência de diversas trilhas, a presença de gado e os registros de bugio Alouata fusca e de jacu Penelope obscura. As trilhas podem estar sendo utilizadas para a caça furtiva, enquanto que o gado bovino pastoreia no sub-bosque, provocando danos em gramíneas exóticas, como o colonião e braquiária, o que dificulta a regeneração da floresta.


O bugio Alouata fusca é um primata de porte médio, herbívoro e ameaçado de extinção no estado de São Paulo. Foram observados apenas três indivíduos junto aos eucaliptais.

Renato Lima

A jacupemba Penelope obscura é uma espécie que recebe grande pressão de caça, devido ao seu porte avantajado, hábitos gregários e dieta frugívora, aspectos que facilitam abates enquanto o bando se alimenta em árvores frutíferas. Esses registros indicam que espécies relativamente vulneráveis e sensíveis ainda habitam a região.

Figura 1 (áreas de referência). Vista externa das áreas 2 e 1 (A2 e A1), usadas como referência de fragmentos muito degradados, ambos às margens da represa (acima à esquerda e à direita, respectivamente); vista geral externa (meio à esquerda) e interna (meio à direita) da área 4 (A4), usado como referência de fragmentos pouco degradados; vista geral externa (abaixo à esquerda) da área 6 (A6), o fragmento pouco degradado; no detalhe da vista interna da A6 (abaixo à direita), presença de estratificação vertical evidente e grande número de regenerantes arbustivo-arbóreos no sub-bosque.

35


Área 6 (A6): fragmento faz limites com o reservatório próximo ao chamado desemboque do canal que é cortado por uma estrada vicinal e por linhas de transmissão. Se considerados os trechos de ambos os lados da estrada, este é o maior fragmento avaliado na área de estudo (Figura 3). Pode ser acessado tanto pela estrada quanto por barco. O trecho pertence à Sabesp e apresenta estágios médios e avançados de regeneração. A altura do dossel, geralmente fechado, varia entre 12 e 15 metros, com indivíduos maiores atingindo diâmetros de até 50 cm (DAP médio ± Desvio Padrão = 37,8 ± 25,1 cm). Existem três estratos verticais definidos, com sub-bosque e estrato herbáceo densos e diversificados. Há presença de samambaias arborescentes (i.e. Cyathea delgadii), e epífitas e lianas lenhosas são pouco frequentes. Não foram encontrados trechos com alta dominância de bambus ou lianas agressivas. A camada de serapilheira é contínua e bem desenvolvida. Espécies exóticas de plantas encontradas foram Citrus aurantium L. (limão-cravo), Psidium guajava L. (goiaba), Hedychium coronarium J. König. (lírio-do-brejo) e Eriobotrya japonica (Thunb.) Lindl. (nêspera), das quais apenas as duas primeiras foram relativamente comuns. Quanto aos impactos humanos, além da rede elétrica, foram encontrados vestígios de corte seletivo e de caça. Nos trechos mais próximos à estrada, também foi encontrado lixo.

3.2 Vegetação e flora 3.2.1 Flora local Durante as atividades de campo, foi encontrado um total de 217 espécies de plantas (incluindo exóticas) para a área de estudo. Até o término da elaboração deste relatório, duas espécies não tiveram sua identificação determinada, sete permaneceram ao nível de família e 18 de gênero. Por outro lado, 180 espécies tiveram sua identificação completa (83%) e 10 permaneceram com identificação a confirmar. Além das espécies encontradas durante este estudo, há outras espécies coletadas na região (municípios de Piracaia e Joanópolis5) que não foram encontradas no local. São 39 espécies arbustivo-arbóreas, cuja inclusão na flora local eleva a riqueza local a um total de 256 espécies aproximadamente (Anexo 1). Essas espécies corresponderam a 190 árvores, 43 arbustos, 12 subarbustos, cinco arbustos lianescentes e duas ervas (cinco espécies permanecerem sem classificação). 5 Busca realizada em 05 de novembro de 2008 na base de dado speciesLink, restrita aos municípios referidos acima e considerando apenas os espécimes identificados por especialistas botânicos. Disponível em: <http://splink.cria.org.br/ centralized_search?criaLANG=pt>.

36


Foi encontrado um total de 57 famílias botânicas, das quais as mais ricas em número de espécies (> 5 espécies) foram: Fabaceae (34 espécies), Myrtaceae (25), Lauraceae (17), Melastomataceae (15), Rubiaceae (13), Asteraceae, Malvaceae (11), Euphorbiaceae e Solanaceae (9). Essas famílias representaram juntas 56% de todas as espécies listadas na área de estudo. Quanto às síndromes de dispersão, foi encontrado um total de 172 espécies zoocóricas (67%), 58 anemocóricas (22%) e duas autocóricas (9%). Outras quatro espécies permaneceram sem a classificação de suas síndromes. Das 217 espécies, 76 (35%) foram amostradas apenas durante os levantamentos florísticos expeditos, mostrando ser uma maneira efetiva de complementar a lista de espécies de ocorrência local. Das 141 espécies amostradas durante o levantamento da estrutura e diversidade da vegetação (descrito em detalhes abaixo), 58 foram

encontradas apenas no estrato arbóreo e outras 31, apenas entre os regenerantes. Das espécies encontradas apenas entre os regenerantes, 18 foram arbustos e subarbustos e 13 foram encontradas somente nesse estrato da vegetação, dentre elas Alseis floribunda, Bunchosia fluminensis, Guarea macrophylla, Machaerium cf. stiptatum, Myrciaria floribunda, Ocotea cf. diospyrifolia e Sebastiana brasiliensis. Além dessas espécies que compõem a flora local, fazem parte da flora regional espécies citadas nos estudos realizados em municípios próximos, na mesma formação vegetacional e em cotas altitudinais semelhantes. São eles: Meira-Neto et al. (1989), Rodrigues et al. (1989), Silva (1989), Gandolfi et al. (1995) e Yamamoto et al. (2005). As espécies citadas nesses estudos, portanto, podem ser consideradas integralmente como espécies passíveis de serem utilizadas durante o processo de restauração na área de estudo.

Scott Warren

37


3.2.2 Espécies de particular interesse (ameaçadas de extinção, endêmicas e exóticas) Algumas espécies encontradas na área de estudo merecem destaque. São exemplos as oito espécies sob algum grau de ameaça de extinção e as outras sete que estão classificadas como quase em perigo de extinção (QP - Tabela 2). Todas essas espécies possuem valor particular num contexto mais amplo que o local e, portanto, sugere-se fortemente que o processo de restauração use essas espécies durante o plantio ou que planeje suas atividades para que essas espécies possam colonizar as áreas restauradas. Algumas delas certamente não serão encontradas em viveiros. Contudo, ao menos cinco espécies dessa lista devem ser utilizadas, buscando atender à Resolução SMA 08, de 07 de Março de 2007, que exige o uso de 5% de espécies regionais enquadradas em alguma das categorias de ameaça (EX, CR, EP ou VU) nos plantios. Assim, no caso de um plantio de 80 espécies nativas (mínimo exigido pela legislação em plantios maiores que um hectare), deve se usar um mínimo de quatro espécies ameaçadas (sugestões de quais poderiam ser essas quatro espécies são feitas na Tabela 2). Contudo, a legislação vigente se refere à espécies nativas da vegetação regional, ou seja, a uma flora que vai além da flora local integrante deste estudo. Assim, outras espécies ameaçadas da flora regional podem ser consideradas na escolha das espécies ameaçadas utilizadas. Por outro lado, é interessante dar preferência às espécies locais enquadradas como QP, apesar de a legislação não exigir o uso de espécies nessa classe de ameaça. Outras espécies de particular interesse são as espécies com endemismo regional, ou seja, aquelas que possuem uma distribuição geográfica restrita a uma dada região. Seis espécies endêmicas regionais foram encontradas, boa parte delas espécies típicas de FES montana, uma formação rara e restrita às serras dos Órgãos e da Mantiqueira, nos estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo (Tabela 3). Essas espécies, portanto, devem receber atenção ao longo do processo de restauração ecológica.

38


Tabela 2 Lista de espécies ameaçadas e quase ameaçadas de extinção encontradas durante o levantamento florístico em Piracaia, SP, e suas respectivas classes de ameaça. Asteriscos indicam espécies potenciais para o uso nas atividades de reflorestamento. Família

Espécie

Mundial

Nacional

Estadual

APOCYNACEAE

Aspidosperma cf. quirandy*

AQUIFOLIACEAE

Ilex paraguariensis

QP

ARAUCARIACEAE

Araucaria angustifolia*

CR

FABACEAE

Copaifera langsdorfii

FABACEAE

Machaerium nyctitans*

EP

FABACEAE

Machaerium villosum*

VU

FABACEAE

Swartzia acutifólia

QP

LAURACEAE

Nectandra leucantha

QP

LAURACEAE

Ocotea nectandrifolia*

VU

MELIACEAE

Cedrela fissilis*

MYRTACEAE

Campomanesia sessiliflora*

CR

PROTEACEAE

Roupala brasiliensis*

VU

RUBIACEAE

Rudgea gardenioides

SAPINDACEAE

Cupania ludowigii

SOLANACEAE

Solanum pseudoquina

URTICACEAE

Cecropia hololeuca

EP

EP

CR QP

EP

QP QP QP QP

Legenda: QP= Quase em perigo; VU= Vulnerável; EP= Em perigo; CR= Criticamente em perigo.

Além das espécies ameaçadas e endêmicas, ocorreram na área de estudo algumas espécies arbustivo-arbóreas cujas características de dispersão, germinação e/ou crescimento lhes dão alto potencial para uso em atividades de restauração (Tabela 4). São espécies cujos indivíduos adultos podem ser facilmente encontrados ao longo dos pastos e bordas de estrada na área de estudo, o que facilita a coleta de sementes para a produção de mudas.

39


Tabela 3 Lista das espécies endêmicas regionais encontradas durante o levantamento realizado em Piracaia, SP. Família

Espécie

Distribuição

Vegetação

CELASTRACEAE

Maytenus salicifolia

MG, RJ e SP

Floresta Atlântica

CONNARACEAE

Connarus regnelii

MG, RJ e SP

FES Montana

FABACEAE

Leucochloron incuriale

MG, SP e PR

FES Montana

LAURACEAE

Cinnamomum stenophyllum

MG e SP

FES Montana

RUBIACEAE

Rudgea gardenioides

MG, RJ e SP

FES Montana

VOCHYSIACEAE

Vochysia magnifica

MG e SP

FES Montana

Outras espécies que merecem atenção particular são as espécies exóticas e invasoras. Além das espécies de gramíneas e ciperáceas exóticas (avaliadas abaixo), a Tabela 5 apresenta as espécies arbóreas exóticas (i.e., espécies cuja distribuição original não abrange a região estudada) encontradas na área de estudo. Assim, ao menos nove espécies arbóreas exóticas ocorreram nas bordas ou no interior dos fragmentos estudados. Boa parte delas é considerada atualmente como espécies subespontâneas, ou seja, espécies que, apesar de introduzidas, são capazes de manter-se independente da ação humana. São exemplos a goiabeira Psidium guajava, o limão-cravo Citrus aurantium (Figura 4) e a nespereira Eriobotrya japonica. A maioria dessas espécies ocorreu em baixas densidades e possui capacidade de propagação relativamente pequena (Tabela 5). Outras espécies, contudo, devem receber atenção especial devido ao alto potencial de invadir áreas abertas e de se tornar um impeditivo às atividades de restauração e aos processos sucessionais da floresta. As duas espécies mais importantes nesse sentido são: ipê-de-jardim Tecoma stans; e espécies de pinho Pinus spp. Ambas produzem grande quantidade de sementes, que são dispersas pelo vento e geralmente possuem alta capacidade germinativa. Apesar de Pinus spp. ter sido encontrada basicamente em beiras de estrada, Tecoma stans foi observada formando densos aglomerados (Figura 4). Ambas devem ter seu controle inicial previsto durante o processo de restauração, conforme exigido pela legislação pertinente (Resolução SMA 8, de 2007).

40


Apesar de não se tratarem de espécies exóticas, duas espécies devem receber atenção durante o processo de restauração devido ao seu potencial de propagação. É o caso da lobeira Solanum lycocarpum, que pode ser utilizada no processo de restauração, mas que pode formar densos aglomerados monoespecíficos como o observado na área de estudo (Figura 4). Assim, a espécie poderá ser tanto uma facilitadora do processo de restauração como uma eficiente competidora, fato que deve ser avaliado mediante um estudo particular. Outra espécie que pode se tornar um problema é o bambu lenhoso Guadua cf. tagoara (Figura 4), que, apesar de nativo e de não se estabelecer em áreas de pastagem, possui grande capacidade de invadir clareiras da floresta e de impedir o curso natural de regeneração da floresta por longos períodos de tempo (GRISCOM; ASHTON, 2006; LIMA et al., 2007). Tabela 4 Espécies arbustivo-arbóreas de rápido crescimento indicadas para a restauração, bem como suas respectivas síndromes de dispersão (SD) e locais de ocorrência (ver texto para descrição e localização dos fragmentos A1 a A6). A ocorrência da espécie em um determinado fragmento é indicada por ‘+’ e a ocorrência comum é indicada por ‘++’. Legenda: Ane = Anemocoria; Zoo = Zoocoria; Auto = Autocoria; BE = Beira de estrada e pastos. Localização

Família

Espécie

SD

ASTERACEAE

Baccharis dracunculifolia

Ane

ASTERACEAE

Vernonia diffusa

Ane

ASTERACEAE

Vernonia ferruginea

Ane

ANACARDIACEAE

Schinus terebenthifolia

Zoo

ARECACEAE

Acrocomia aculeata

Zoo

ARECACEAE

Syagrus romanzoffiana

Zoo

+

ASTERACEAE

Piptocarpha axillaris

Ane

++

BORAGINACEAE

Cordia trichotoma

Ane

+

CANNABACEAE

Trema micrantha

Zoo

+

CLETHRACEAE

Clethra scabra

Zoo

EUPHORBIACEAE

Alchornea glandulosa

Zoo

+

+

++

+

+

+

EUPHORBIACEAE

Croton floribundus

Zoo

+

++

+

+

+

+

A1

A2

A4

A5

A6

BE ++

+

++

+ ++

+

+

+

+

+ +

+

++

+

+ +

+

+

+

+

+

+

+

+

+

+

+

41


...continuação Localização

Família

Espécie

SD

EUPHORBIACEAE

Croton urucurana

Zoo

FABACEAE

Inga sessilis

Zoo

+

FABACEAE

Machaerium aculeatum

Ane

+

FABACEAE

Machaerium nyctitans

Ane

+

FABACEAE

Machaerium villosum

Ane

FABACEAE

Piptadenia gonoacantha

Auto

LAMIACEAE

Aegiphyla sellowiana

Zoo

MALVACEAE

Luehea grandiflora

Ane

+

MELASTOMATACEAE

Tibouchina stenocarpa

Ane

+

MELIACEAE

Cabralea canjerana

Zoo

+

+

+

MYRSINACEAE

Rapanea ferruginea

Zoo

+

+

+

MYRSINACEAE

Rapanea umbellata

Zoo

SIPARUNACEAE

Siparuna cujabana

Zoo

SOLANACEAE

Solanum lycocarpum

Zoo

++

SOLANACEAE

Solanum variabile

Zoo

++

URTICACEAE

Boehmeria caudata

Auto

+

VERBENACEAE

Aloysia virgata

Zoo

A1

A2

A4

A5

A6

BE +

++

+

+

+

+ +

+

+

+

+

+

++

+

+

++

++

++

+

+

+

+

+

+

+

+

+

+

+ ++

+

+

+

+

+

+

+

+

+

+

+

+

+

+

++

Tabela 5 Lista de espécies exóticas encontradas ao redor e no interior dos fragmentos florestais estudados em Piracaia, SP.

42

Família

Espécie

Nome-popular

Invasibilidade

BIGNONIACEAE

Tecoma stans

ipê-de-jardim

muito alta

LAURACEAE

Persea americana

abacateiro

baixa

MYRTACEAE

Eucalyptus sp.

eucalipto

baixa

MYRTACEAE

Psidium guajava

goiabeira

média

PINACEAE

Pinus cf. elliottii

pinheiro

alta

RHAMNACEAE

Hovenia dulcis

uva-japonesa

baixa

ROSACEAE

Eriobotrya japonica

nespereira

baixa

RUBIACEAE

Coffea arabica

café

baixa

RUTACEAE

Citrus aurantium

limão-cravo

média


Renato Lima

Figura 2 (Espécies de particular interesse). A espécie pioneira lobeira (Solanum lycocarpum), comum nos pastos e beiras de estrada, no detalhe do ramo florido (acima à esquerda) e vista geral de um adensamento puro da espécie (acima à direita), espécie com alto potencial para o uso na restauração da área; a espécies exótica e invasora de pastagens ipê-de-jardim (Tecoma stans) no detalhe do ramo florido (meio à esquerda) e vista geral de um adensamento puro da espécie (meio à direita), que poderá representar uma ameaça ao processo de restauração; o limão-cravo (Citrus aurantium - abaixo à esquerda), espécie exótica relativamente frequente no sub-bosque da área 6, contudo, sem maiores ameaças ao processo de regeneração natural da floresta; houve a presença de moitas de Guadua cf. tagoara em áreas de clareira no interior dos fragmentos muito degradados, como na área 1 (abaixo à direita).

43


3.2.3.1 Estrato arbóreo Durante o levantamento do estrato arbóreo dos fragmentos estudados, foram instaladas 24 parcelas de 20x20 m (total de 4.800 m2, 2.400 m2 por estado de conservação), nas quais foram levantados 875 indivíduos com DAP > 5 cm pertencentes a 111 espécies arbustivo-arbóreas (Tabela 6). Esses valores resultam em uma densidade geral média (± desvio padrão) de 1.823 ± 560 indivíduos arbóreos por ha, ou seja, 36,5 ± 11,2 indivíduos por parcela (200 m2). Da mesma maneira, obteve-se uma dominância absoluta total (i.e. área basal por área) de 29,7 ± 10,3 m2.ha-1. Quanto ao volume estimado de madeira, a média obtida foi de 344,5 ± 153.4 m3.ha-1 (ver métodos para detalhes do cálculo de volume de madeira). De uma maneira geral, todos os parâmetros de estrutura foram maiores nos fragmentos menos degradados (Tabela 6). Ou seja, os fragmentos pouco degradados (PD) foram mais densos e apresentaram indivíduos com maior área basal e altura total em comparação aos fragmentos muito degradados (MD). Contudo, essa dife44

Reinaldo Lourival/TNC

Reinaldo Lourival/TNC

3.2.3 Estrutura e diversidade da vegetação local

rença foi estatisticamente significativa apenas quanto à densidade e altura média. Quanto à área basal e ao volume de madeira (ambos indicadores de biomassa), a diferença não foi estatisticamente significativa. Quanto à composição, os estados de conservação foram significativamente diferentes entre si (MRPP: A= 0,0492; P< 0,000), ou seja, houve diferença na composição das comunidades entre os dois estados. As espécies mais importantes em relação à densidade de cada estado de conservação são apresentadas na Tabela 6. Quatro e cinco espécies indicadoras foram detectadas para os estados de conservação muito e pouco degradado, respectivamente (Tabela 6). Como indicado abaixo (item Recomendações para a restauração), essas espécies podem ser usadas como indicadores da eficiência das futuras atividades de restauração. Quanto à riqueza de espécies, ambos os estados de conservação não diferiram na riqueza observada total ou por parcela (Tabela 6). Contudo, os fragmentos muito degradados tiveram um número máximo de espécies maior do que os pouco degradados (estimador de riqueza máxima Jackknife 1). Isso provavelmente acon-


a análise fornece informações sobre a vegetação a partir do valor de conservação das espécies ocorrentes em cada estado de conservação

teceu devido aos fragmentos muito degradados possuírem uma heterogeneidade ambiental maior que os pouco degradados (e.g. áreas de borda, grandes clareiras, áreas fechadas etc.). De qualquer forma, a restauração deverá ser capaz de reintroduzir uma riqueza total de 89 (PD) a 108 espécies arbustivo-arbóreas (MD). Quanto à diversidade de espécies (índice inverso de Simpson), entretanto, os fragmentos pouco degradados foram mais diversos (alfa = 5%). A restauração deverá ser capaz de restabelecer um índice de diversidade de Simpson  23,26 (MD) e  28,38 (PD). Baseado na ocorrência de espécies ameaçadas de extinção calculou-se o Índice de Valor de Espécie (Tabela 6), que atribui pesos às espécies de acordo com sua categoria de ameaça de extinção (ver metodologia para mais detalhes sobre essa análise). Assim, a análise fornece informações sobre a vegetação a partir do valor de conservação das espécies ocorrentes em cada estado de conservação. O índice foi significativamente diferente entre os dois estados de conservação, sendo bem menor no ambiente muito degradado. Assim, em um primeiro momento, a restauração deverá ser capaz de restabelecer um índice médio de, no mínimo, 1,3 para se tornar semelhante aos fragmentos muito degradados. E para chegar ao valor ideal obtido nos fragmentos pouco degradados, o valor médio do índice deverá ser de, no mínimo, 5,4. 45


46 8.9%

Zoocoria

Anemocoria

Autocoria

(% espécies)

Diversidade de espécies

Riqueza de espécies

Estrutura da vegetação

19.0%

Ind. Valor de Espécie [IC 95%]

Espécies ameaçadas

Síndrome de dispersão

27 ± 12 [19 – 34] 294 ± 171 [185 - 403] 8,3 ± 0,9 [7,7 - 8,8]

Dominância (m2.ha-1) [IC 95%]

Volume (m3.ha ) [IC 95%]

Altura total (m) [IC 95%]

111 ± 5 [108 – 114] 40

Riqueza máxima [IC 95%]

Espécies exclusivas

23,26

16 ± 4 [13 - 18]

Espécies por parcela [IC 95%]

Simpson (recíproco)

79 ± 5 [70 - 88]

Número de espécies [IC 95%]

-1

381 1.588 ± 430 [1.315 – 1.860]

Número de indivíduos (N)

Densidade (N.ha-1) [IC 95%]

28,38

32

92 ± 4 [89 – 95]

18 ± 3 [16 - 20]

71 ± 3 [64 - 78]

9,0 ± 0,8 [8,5 - 9,5]

394 ± 119 [319 - 471]

33 ± 8 [27 - 38]

2.060 ± 591 [1.683 – 2.434]

494

5.6%

31.0%

63.4%

33,95

-

146 ± 6 [143 – 148]

17 ± 5 [15 – 18]

111 ± 5 [102 - 120]

8,6 ± 0,9 [8,2 - 9,0]

345 ± 153 [280 – 409]

30 ± 10 [25 - 34]

1.823 ± 560 [1.587 – 2.059]

875

6.4%

23.6%

70.0%

6,1 ± 5,0 [2,6 – 8,2]

3,5 ± 3,4 [1,3 – 5,7]

Espécies indicadoras (ISA; p< 0.05) 8,7 ± 5,2 [5,4 – 12,0]

-

Cabralea canjerana, Cedrela fissilis, Machaerium villosum, Rapanea guianensis, Tabernaemontana hystrix

Anadenanthera colubrina, Eugenia hyemalis, Piptadenia paniculata, Vernonia diffusa

Espécies mais importantes (densidade)

Composição florística

70.9%

Cupania vernalis, Myrcia splendens, Piptadenia gonoacantha, Croton floribundus, Vernonia diffusa, Alchornea glandulosa, Luehea divaricata

Cupania vernalis, Myrcia splendens, Piptadenia gonoacantha, Alchornea glandulosa, Luehea divaricata, Lonchocarpus muehlbergianus, Cabralea canjerana

Vernonia diffusa, Cupania vernalis, Croton floribundus, Piptadenia gonoacantha, Solanum pseudoquina, Myrcia splendens, Piptadenia paniculata

Geral

Pouco degradado

Muito degradado

Parâmetro

Tema

Tabela 6 Resumo dos principais parâmetros de referência da composição e estrutura do estrato arbóreo da vegetação (PAP > 15 cm) por estado de conservação. Espécies mais importantes em ordem decrescente de densidade relativa. Ver texto para detalhes sobre o Índice de Valor de Espécie. Valores dos parâmetros de estrutura e riqueza se referem à média ± desvio padrão. Em colchetes os respectivos intervalos de confiança ao redor da média.


47

Diversidade de espécies

Riqueza de espécies

Estrutura da vegetação

[4 – 6] 91,3 ± 6,5 [87 – 96] 35

[IC 95%]

Riqueza máxima

[IC 95%]

Espécies exclusivas

15,85

4,8 ± 3,2

Espécies por parcela (m2)

Simpson (recíproco)

[52 – 72]

[IC 95%]

[7 – 11]

[IC 95%] 62,0 ± 5,3

9,3 ± 7,2

Densidade (N.m2)

Número de espécies (S)

445

5,91

21

[63 – 69]

66,0 ± 4,8

[5 – 6]

6,5 ± 2,2

[41 – 55]

48 ± 3,8

[21 – 30]

25,6 ± 13,4

1.021

8,70

-

[112 – 117]

114,5 ± 5,5

[15 – 18]

16,6 ± 3,7

[74 – 92]

83 ± 4,5

[14 – 20]

16,7 ± 13,2

1.466

Espécies indicadoras (ISA; p< 0.05)

Número de indivíduos (N)

-

Piptadenia gonoacantha, Tibouchina stenocarpa, Cupania vernalis, Piper aduncun, Rapanea ferruginea, Rapanea guianensis, Lonchocarpus muehlbergianus, Bauhinia forficata

Eugenia hyemalis, Eugenia sp., Guapira opposita, Mollinedia elegans, Tabernaemontana hystrix, Dichorisandra sp.

Espécies mais importantes

Composição florística

Cupania vernalis, Piptadenia gonoacantha, Tibouchina stenocarpa, Myrcia splendens, Psychotria vellosiana, Allophylus guaraniticus, Eugenia hyemalis

Piptadenia gonoacantha, Cupania vernalis, Tibouchina stenocarpa, Myrcia splendens, Psychotria vellosiana, Piper aduncun, Croton floribundus

Cupania vernalis, Eugenia hyemalis, Myrcia splendens, Allophylus guaraniticus, Eugenia sp., Psychotria vellosiana, Guapira opposita

Geral

Pouco degradado

Muito degradado

Parâmetro

Tema

Tabela 7 Resumo dos principais parâmetros de referência da composição e estrutura dos indivíduos regenerantes (altura < 1m) por estado de conservação. Espécies mais importantes em ordem decrescente de densidade relativa. Valores dos parâmetros de estrutura e riqueza de espécies se referem à média ± desvio padrão. Em colchetes os respectivos intervalos de confiança (alfa= 5%) ao redor da média.


3.2.3.2 Regenerantes Foram instaladas 88 parcelas de 1x1m (total de 88 m2 – 8 parcelas não foram instaladas no estado de conservação pouco degradado devido à ausência de barco para o transporte até o fragmento) dentro das quais foi levantado um total de 1.466 plântulas de espécies arbustivo-arbóreas (indivíduos com altura < 1 m) pertencentes a 83 espécies. Encontrou-se densidade geral média de 16,7 ± 13,2 plântulas por m2. Entretanto, a densidade de plântulas no ambiente pouco degradado (PD) foi bem maior, sendo em média quase três vezes maior que os fragmentos muito degradados (MD - Tabela 7). Essa diferença se deu provavelmente devido à cobertura de bambus arbustivos nativos, que foi sempre maior nos ambientes muito degradados. Dessa forma, a restauração deverá ser capaz de restabelecer uma densidade inicial mínima de 7 plântulas por m2 (MD) e, em seguida, uma densidade de 21 plântulas por m2 (PD). Quanto à composição de espécies, as espécies mais abundantes em cada um dos ambientes são apresentadas na Tabela 7. Para que a restauração seja bem sucedida, essas espécies deverão estar presentes entre os regenerantes nas áreas restauradas. Isso talvez ocorra apenas em médio e longo prazos, mas a presença dessas espécies dominantes na regeneração das áreas restauradas é indicadora de sucesso da restauração. Da mesma maneira, estão listadas na Tabela 7 as 14 espécies indicadoras, separadas entre os estados de conservação. Elas servirão como populações indicadoras de qual estado de conservação as áreas restauradas estão e/ou se elas estão caminhando para reconstruir sistemas próximos aos originais, ao menos em relação à composição do banco de plântulas. Apesar de o número médio de espécies por parcela não ter diferido estatisticamente entre os estados de conservação, os ambientes muito degradados mais uma vez apresentaram maior riqueza média e máxima de espécies. Esse resultado também se deve à maior heterogeneidade ambiental encontrada nos fragmentos mais degradados. Assim, a riqueza de plântulas arbustivo-arbóreas deverá ser igual ou maior a 63 e 87 espécies para os ambientes pouco e muito degradados, respectivamente. Em termos de riqueza observada por parcela, os valores de referência citados acima correspondem a uma riqueza mínima de quatro espécies de plântulas arbustivo-arbóreas por m2.

48


Quanto à diversidade de espécies (índice inverso de Simpson), os ambientes pouco degradados também foram bem diversos. Dessa forma, os valores mínimos de referência para a diversidade de espécies nos ambientes pouco e muito degradados são 5,9 e 15,9, respectivamente.

3.2.4 Gramíneas exóticas Quanto à percentagem de cobertura do solo por gramíneas exóticas invasoras (e.g. Brachiara spp.), os resultados estão sumarizados na tabela 8. Observa-se que os valores obtidos foram sempre baixos (< 3%), mesmo nos fragmentos muito degradados. Como esperado, o valor de cobertura máximo obtido foi encontrado em uma parcela de um fragmento muito degradado (2,73%, ou seja, 2,73 cm cobertos por gramíneas em um metro linear). Contudo, essa parcela esteve bem próxima à borda do fragmento. O ambiente muito degradado apresentou média ligeiramente maior, porém, não foi estatisticamente diferente do pouco degradado. Tais resultados são referências bastante desafiadoras para o processo de restauração, visto que a cobertura do solo por gramíneas exóticas em áreas degradadas comumente ultrapassa os 90%. Assim, na tentativa de restaurar sistemas próximos aos encontrados nos fragmentos florestais locais, o objetivo ideal da restauração será promover valores de cobertura por gramíneas exóticas menores que 1%, que representa o limite superior do intervalo de confiança do ambiente mais degradado (Tabela 8). Esse valor é apenas uma referência e certamente a floresta pode restabelecer seus processos sucessionais básicos com valores maiores de cobertura. Por outro lado, esse valor talvez só seja atingido a médio e longo prazos, quando a estrutura da floresta for capaz de proporcionar sombra contínua no solo da floresta. Tabela 8 Resumos dos resultados de percentagem de cobertura do solo por gramíneas exóticas Parâmetro

Muito degradado (%)

Pouco degradado (%)

Geral (%)

Média ± Desvio padrão

0,50 ± 0,91

0,34 ± 0,41

0,42 ± 0,69

Intervalo de confiança (95%)

0,00 ± 1,07

0,09 – 0,60

0,13 – 0,71

Valor máximo

2,73

1,05

2,73

49


Haroldo Palo Jr.

3.3 Avifauna 3.3.1 Inventário de aves Ao todo, foram registradas 129 espécies de aves de 42 famílias, sendo que a maioria, composta por 81 espécies, habita áreas abertas, antrópicas e/ou bordas florestais, enquanto que 34 espécies são típicas das florestas remanescentes, 12 são aquáticas ou associadas a ambientes palustres e apenas quatro são aves de espaço aéreo (Anexo 2). Nenhuma espécie se encontra em alguma categoria de risco de extinção, considerando âmbitos estadual, nacional e internacional. Porém, o pica-pau-rei Campephilus robustus, que foi observado uma vez, em casal, na área 1, foi recentemente retirado da categoria Ameaçada de Extinção no estado de São Paulo. Trata-se do maior pica-pau brasileiro e é uma espécie endêmica, rara e exigente quanto a recursos florestais. O jacu-guaçu Penelope obscura também já foi considerado ameaçado no estado e trata-se de um importante dispersor de sementes que recebe grande pressão de caça. Essas espécies devem receber atenção durante os trabalhos de monitoramento e restauração. Nove espécies endêmicas do bioma Mata Atlântica foram registradas, atribuindo valor de conservação aos fragmentos estudados (Anexo 50

2). Com exceção do tiê-negro Tachyphonus coronatus, todas essas espécies são florestais e a maioria foi rara ou ausente na amostragem quantitativa (Tabela 9), com exceção do tangará-dançarino Chiroxiphia caudata, uma das espécies mais abundantes, e do sebinho Todirostrum poliocephalum, de abundância intermediária. Como esta pesquisa pode ser considerada uma amostragem rápida, maior esforço de levantamento revelaria mais espécies de aves, contudo, como já salientado na caracterização geral da avifauna, florestas montanas apresentam menor riqueza de espécies. Além disso, como os fragmentos estudados possuem áreas insuficientes para manter grande número de espécies exigentes em recursos, já era previsível que esta pesquisa resultasse em um menor valor de riqueza em comparação com Silva (1992) e Develey e Martensen (2006), que tiveram maiores esforços de amostragem (ver capítulo 2.1). Tais trabalhos, assim como este inventário, não constataram a presença de espécies típicas da Mata Atlântica e mais exigentes em recursos ambientais, como o tropeiro Lipaugus lanioides e o araçari Selenidera maculirostris e, ainda, cinegéticas, como o macuco Tinamus solitarius e a jacutinga Pipile jacutinga, sugerindo possíveis extinções locais de populações dessas espécies, que foram registradas por Allegrini (1997) no Parque Estadual Turístico Alto do Ribeira (Petar), na Serra da Paranapiacaba.


nenhuma espécie se encontra em alguma categoria de risco de extinção, considerando âmbitos estadual, nacional e internacional Formas endêmicas e características de florestas melhor conservadas, como bacurau-tesoura-grande Macropsalis forcipata, picapau-dourado Piculus aurulentus, choquinha-carijó Drymophila malura, fruxu Neopelma chrysolophum, borralha Mackenziaena severa e pavó Pyroderus scutatus, ocorreram nos estudos de Silva (1992), Develey e Martensen (2006), mas não foram registradas em Piracaia, indicando menor integridade ambiental. A pobreza de espécies endêmicas e/ou típicas de florestas bem conservadas, a ausência de espécies ameaçadas e o fato de a grande maioria das espécies ocorrer tanto nas florestas úmidas do litoral como nas matas secas do interior mostram que a comunidade encontra-se empobrecida e descaracterizada, sendo subconjunto de outras comunidades do estado de São Paulo, sobretudo em relação ao Petar (ALLEGRINI, 1997). Apenas três exceções: jacu-guaçu Penelope obscura e ticotico-do-mato Arremon flavirostris, que são espécies típicas das formações litorâneas, e o beija-flor Phaethornis pretei, que é mais comum no interior do estado, não permitem afirmar se a comunidade de aves seria mais similar às áreas úmidas litorâneas ou às áreas mais secas do interior paulistano. O inventário realizado por meio de pontos recrutou 78 espécies de 32 famílias. Essas espécies inventariadas encontram-se na Tabela 9, que apresenta valores de abundância e frequência das populações de cada espécie. 51


O inventário revelou baixa similaridade em composição específica, comparando-se amostras de fragmentos, como pode ser observado no dendrograma do índice de Jaccard (Figura 3). O maior valor de similaridade foi da ordem de 54% entre as áreas 3 e 6. As maiores similaridades ocorreram entre os fragmentos A3, A5 e A6. As áreas mais dissimilares foram a 1 e a 2, que são fragmentos pequenos, mais degradados e que receberam apenas seis e três contagens pontuais, respectivamente. As outras áreas receberam sete ou nove contagens pontuais, assim, maiores esforços podem ter definido os agrupamentos de Jaccard em primeira escala, refletindo também o tamanho das áreas, pois áreas maiores possibilitam o estabelecimento de mais pontos de inventário e também comportam maior número de espécies e contingentes populacionais. Além de a amostragem ter sido pequena, baixos contingentes populacionais de aves florestais na escala da paisagem explicam a dissimilaridade de espécies entre fragmentos. A curva de rarefação de toda a amostragem (Figura 4) apresenta leve tendência à inflexão ao eixo ‘x’ e, assim como o intervalo de confiança, sugere que seria necessário maior esforço para que o inventário fosse mais representativo, fato que se verifica mais claramente para inventários no interior da floresta (Figura 5) e em bordas florestais (Figura 6), por serem amostras parciais do total. Tais resultados são comuns em amostragens rápidas como esta, particularmente porque o método de inventário em pontos, por ter resultados mais acurados, é mais seletivo em recrutamentos, exigindo maior esforço, por exemplo, em relação a amostragens em trajetos irregulares, mas menor esforço em comparação com inventários usando redes ornitológicas. O teste de Kruskal-Wallis foi utilizado verificando diferenças significativas na riqueza de espécies, índice de Shannon-Wiener e na Uniformidade. Tais análises de variância sugeriram que não houve diferenças significativas na diversidade de aves, considerando resultados obtidos no interior de fragmentos florestais em comparação com aqueles obtidos em suas bordas. Esse resultado da análise de variância da riqueza foi semelhante ao obtido pelas curvas de rarefação, pois ocorreram sobreposições de intervalos de confiança nas curvas das amostragens em bordas e de interior. Tais análises sugerem que a composição de aves que utilizam as bordas florestais seja tão complexa quanto a de que utilizam o interior dos fragmentos no que tange aos aspectos investigados de estrutura comunitária. 52


As variáveis, riqueza de espécies e número de indivíduos oscilaram consideravelmente na amostragem, de acordo com intervalos de confiança da Tabela 10. Assim, as melhores informações de referência sobre a diversidade de aves são os intervalos de confiança dos parâmetros: índice de Shannon e de Uniformidade, embora a amostragem da riqueza também seja adequada e importante, devido ao baixo coeficiente de variação. Tabela 9 Aves recrutadas no inventário em pontos-fixos, sendo: n - número de indivíduos, IPA – Índice Pontual de Abundância e FOP – Frequência de Ocorrência em Pontos de Amostragem. Nome do Táxon

n

IPA

FOP

Crypturellus obsoletus (TEMMINCK, 1815)

1

0,2

0,02

Crypturellus tataupa (TEMMINCK, 1815)

3

0,6

0,04

2

0,4

0,02

14

0,28

0,1

Nycticorax nycticorax (LINNAEUS, 1758)

2

0,4

0,02

Ardea alba (LINNAEUS, 1758)

1

0,2

0,02

8

0,16

0,12

Milvago chimachima (VIEILLOT, 1816)

9

0,18

0,16

Herpetotheres cachinnans (LINNAEUS, 1758)

2

0,4

0,02

2

0,4

0,02

7

0,14

0,1

1

0,2

0,02

10

0,2

0,12

Tinamidae (GRAY, 1840)

Cracidae (RAFINESQUE, 1815) Penelope obscura (TEMMINCK, 1815) Phalacrocoracidae (REICHENBACH, 1849) Phalacrocorax brasilianus (GMELIN, 1789) Ardeidae (LEACH, 1820)

Accipitridae (VIGORS, 1824) Rupornis magnirostris (GMELIN, 1788) Falconidae (LEACH, 1820)

Rallidae (RAFINESQUE, 1815) Aramides saracura (SPIX, 1825) Cariamidae (BONAPARTE, 1850) Cariama cristata (LINNAEUS, 1766) Charadriidae (LEACH, 1820) Vanellus chilensis (MOLINA, 1782) Columbidae (LEACH, 1820) Patagioenas picazuro (TEMMINCK, 1813)

53


...continuação Nome do Táxon

n

IPA

FOP

Patagioenas cayennensis (BONNATERRE, 1792)

2

0,4

0,04

Leptotila verreauxi (BONAPARTE, 1855)

9

0,18

0,16

Leptotila rufaxilla (RICHARD; BERNARD, 1792)

1

0,2

0,02

Aratinga leucophthalma (MÜLLER, 1776)

19

0,38

0,14

Brotogeris chiriri (VIEILLOT, 1818)

6

0,12

0,06

Piaya cayana (LINNAEUS, 1766)

8

0,16

0,14

Guira guira (GMELIN, 1788)

1

0,2

0,02

Tapera naevia (LINNAEUS, 1766)

1

0,2

0,02

4

0,8

0,08

2

0,4

0,04

Picumnus temminckii (LAFRESNAYE, 1845)

10

0,2

0,16

Melanerpes candidus (OTTO, 1796)

1

0,2

0,02

Veniliornis spilogaster (WAGLER, 1827)

6

0,12

0,12

Colaptes campestris (VIEILLOT, 1818)

19

0,38

0,28

Dryocopus lineatus (LINNAEUS, 1766)

4

0,8

0,08

Campephilus robustus (LICHTENSTEIN, 1818)

2

0,4

0,02

36

0,72

0,5

7

0,14

0,1

Furnarius rufus (GMELIN, 1788)

2

0,4

0,02

Synallaxis ruficapilla (VIEILLOT, 1819)

1

0,2

0,02

Synallaxis spixi (SCLATER, 1856)

5

0,1

0,1

Automolus leucophthalmus (WIED, 1821)

5

0,1

0,08

Psittacidae (RAFINESQUE, 1815)

Cuculidae (LEACH, 1820)

Trochilidae (VIGORS, 1825) Thalurania glaucopis (GMELIN, 1788) Alcedinidae (RAFINESQUE, 1815) Megaceryle torquata (LINNAEUS, 1766) Picidae (LEACH, 1820)

Thamnophilidae (SWAINSON, 1824) Thamnophilus caerulescens (VIEILLOT, 1816) Conopophagidae (SCLATER; SALVIN, 1873) Conopophaga lineata (WIED, 1831) Furnariidae (GRAY, 1840)

54


...continuação Nome do Táxon

n

IPA

FOP

Mionectes rufiventris (CABANIS, 1846)

3

0,6

0,04

Leptopogon amaurocephalus (TSCHUDI, 1846)

2

0,4

0,02

Poecilotriccus plumbeiceps (LAFRESNAYE, 1846)

5

0,1

0,1

Todirostrum poliocephalum (WIED, 1831)

12

0,24

0,2

Todirostrum cinereum (LINNAEUS, 1766)

1

0,2

0,02

Camptostoma obsoletum (TEMMINCK, 1824)

6

0,12

0,12

Tolmomyias sulphurescens (SPIX, 1825)

13

0,26

0,22

Platyrinchus mystaceus (VIEILLOT, 1818)

5

0,1

0,1

Lathrotriccus euleri (CABANIS, 1868)

11

0,22

0,16

Pitangus sulphuratus (LINNAEUS, 1766)

16

0,32

0,28

Myiodynastes maculatus (MÜLLER, 1776)

4

0,8

0,06

Megarynchus pitangua (LINNAEUS, 1766)

2

0,4

0,02

Tyrannus melancholicus (VIEILLOT, 1819)

1

0,2

0,02

Myiarchus swainsoni (CABANIS; HEINE, 1859)

10

0,2

0,14

Myiarchus ferox (GMELIN, 1789)

2

0,4

0,04

16

0,32

0,24

6

0,12

0,12

Cyclarhis gujanensis (GMELIN, 1789)

53

1,6

0,76

Vireo olivaceus (LINNAEUS, 1766)

49

0,98

0,76

3

0,6

0,06

4

0,8

0,08

Turdus rufiventris (VIEILLOT, 1818)

11

0,22

0,22

Turdus leucomelas (VIEILLOT, 1818)

8

0,16

0,14

Tyrannidae (VIGORS, 1825)

Pipridae (RAFINESQUE, 1815) Chiroxiphia caudata (SHAW; NODDER, 1793) Tityridae (GRAY, 1840) Pachyramphus polychopterus (VIEILLOT, 1818) Vireonidae (SWAINSON, 1837)

Corvidae (LEACH, 1820) Cyanocorax cristatellus (TEMMINCK, 1823) Troglodytidae (SWAINSON, 1831) Troglodytes musculus (NAUMANN, 1823) Turdidae (RAFINESQUE, 1815)

55


...continuação Nome do Táxon

n

IPA

FOP

Turdus amaurochalinus (CABANIS, 1850)

8

0,16

0,16

1

0,2

0,02

Trichothraupis melanops (VIEILLOT, 1818)

2

0,4

0,02

Tachyphonus coronatus (VIEILLOT, 1822)

11

0,22

0,2

Thraupis sayaca (LINNAEUS, 1766)

8

0,16

0,16

Tangara cayana (LINNAEUS, 1766)

9

0,18

0,16

Conirostrum speciosum (TEMMINCK, 1824)

2

0,4

0,02

Zonotrichia capensis (MÜLLER, 1776)

5

0,1

0,1

Ammodramus humeralis (BOSC, 1792)

3

0,6

0,06

Emberizoides herbicola (VIEILLOT, 1817)

2

0,4

0,04

Volatinia jacarina (LINNAEUS, 1766)

1

0,2

0,02

Arremon semitorquatus (SWAINSON, 1838)

3

0,6

0,02

9

0,18

0,16

Parula pitiayumi (VIEILLOT, 1817)

2

0,4

0,04

Basileuterus culicivorus (DEPPE, 1830)

42

0,84

0,52

Basileuterus leucoblepharus (VIEILLOT, 1817)

25

0,5

0,42

Gnorimopsar chopi (VIEILLOT, 1819)

1

0,2

0,02

Pseudoleistes guirahuro (VIEILLOT, 1819)

2

0,4

0,04

Carduelis magellanica (VIEILLOT, 1805)

1

0,2

0,02

Euphonia chlorotica (LINNAEUS, 1766)

4

0,8

0,08

Mimidae (BONAPARTE, 1853) Mimus saturninus (LICHTENSTEIN, 1823) Thraupidae (CABANIS, 1847)

Emberizidae (VIGORS, 1825)

Cardinalidae (RIDGWAY, 1901) Saltator similis (D`ORBIGNY; LAFRESNAYE, 1837) Parulidae (WETMORE et al., 1947)

Icteridae (VIGORS, 1825)

Fringillidae (LEACH, 1820)

56


Estimativas de densidade para aves florestais são raras no Brasil. Apenas Allegrini (1997) conseguiu valores apropriados, pois realizou uma grande amostragem, essencial para obter um número suficiente de registros de aves dentro da área do cálculo de densidade. Neste estudo, utilizando raio de 20 m a partir de cada ponto de amostragem, foi possível obter, ao todo, apenas 48 registros numa área de 6,28 hectares inventariados. A densidade obtida para a comunidade foi de 6,3 indivíduos por hectare. Apenas para o pula-pula-coroado Basileuterus culicivorus, que foi a espécie com maior número de registros (n = 8) dentro do raio de 20 m, foi possível calcular a densidade populacional (1,4 índivíduos por hectare), mas é importante considerar que oito registros é um número insuficiente para estimativas acuradas. Allegrini (1997) obteve em estádios de regeneração florestal densidades de 0,68; 1,86 e 3,82 índivíduos por hectare dessa espécie, que são números próximos do valor presente.

Computando resultados da amostragem em todos os fragmentos florestais, foram obtidos os seguintes valores para a diversidade: 78 espécies, 597 indivíduos, índice de Shannon-Wiener de 3,78, uniformidade de 0,86 e índice de abundância pontual de 11,94. Os presentes resultados são similares aos de outros trabalhos que utilizaram o mesmo método de amostragens em diversos fragmentos florestais no estado de São Paulo (VIELLIARD, 2000) e podem ser utilizados como informações de referência para restauração florestal.

Adriano Gambarini

As densidades totais obtidas pelo citado autor para suas comunidades não podem ser comparadas à densidade total deste trabalho, pois sua amostragem foi maior e os valores obtidos, muito superiores, pois foram calculados acumulativamente, não havendo resultados parciais.

57


Tabela 10 Componentes quantitativos da diversidade de aves inventariadas em pontos-fixos; sendo: n – número de indivíduos, H’ – índice de Shannon-Wiener, J’ – uniformidade. Fragmento

Riqueza

n

H’

J’

Área 1

32

69

3.2

0.92

Área 2

38

63

3.48

0.95

Área 3

46

181

3.36

0.87

Área 5

36

124

3.22

0.9

Área 6

45

161

3.49

0.91

Média aritmética

39,4

119,6

3,35

0.9100

Variância

35,8

28,2

0.019

0.0009

Desvio padrão

59,8

53,1

0.137

0.0292

Erro padrão

26,8

23,7

0.061

0.0130

Coeficiente de variação

15,19%

44,38%

4,11%

3,20%

Intervalo de confiança

39,4 ± 52,4

119,6 ± 30,76

3,35 ± 0,12

0,91 ± 0,02

Durante as próximas décadas, os valores de estruturas populacionais acima apresentados devem ser comparados apenas aos resultados obtidos nas áreas em restauração ao longo do monitoramento e não devem ser interpretados como condições ideais do sucesso da restauração, cujos valores deverão estar bem aquém dos atuais nos próximos dez a vinte anos pelo menos. Estimativas do esforço de amostragem e do poder analítico puderam ser calculadas para aves insetívoras florestais, uma categoria ecológica adequada para ser utilizada com indicadora do sucesso da restauração florestal por meio do monitoramento. Em análises objetivando detectar alterações populacionais de 5% com testes ‘t’ pareados para amostras dependentes (nos mesmos locais de monitoramento, antes e depois da restauração), foram utilizadas 25 espécies, 228 indivíduos, amostragem em 50 pontos, média de 91,2 aves e desvio padrão de 106,23. Resultados indicam que para obter-se nível alfa de 0,01 e poder de 0,8 deverão ser realizadas 43 amostras. Para nível alfa de 0,05 e poder de 0,81 deverão ser amostrados 27 pontos fixos.

58


Esses resultados podem orientar a primeira campanha de campo de monitoramento a ser realizada exatamente nas áreas degradadas que serão restauradas. Como garantia, sugere-se que sejam realizadas novamente cerca de 50 amostras e, então, de posse desses resultados, é que novas análises de tamanho e poder orientariam o monitoramento de forma mais efetiva. Sugere-se também que tais estimativas sejam realizadas para algumas espécies em particular, visando detectar oscilações de tamanho populacional. A seleção dessas espécies foi feita ponderando exigências ecológicas associadas ao ambiente florestal e a necessidade de serem aves abundantes e frequentes, com capacidade de colonizar as áreas a serem restauradas. Contemplando essas características, dentre as dez espécies florestais mais abundantes e frequentes, devem ser monitoradas flutuações populacionais do pula-pula-coroado Basileuterus culicivorus, pula-pula-assoviador Basileuterus leucoblepharus, choca-da-mata Thamnophilus caerulescens e tangará-dançarino Chiroxiphia caudata. As demais espécies que foram registradas com maior abundância e frequência na amostragem têm hábitos mais generalistas, ocorrendo em bordas florestais, áreas abertas e/ou antrópicas e deverão estar entre as primeiras aves a colonizar áreas restauradas: gente-de-fora-vem Cychlarhis gujanensis, juruviara Vireo olivaceus, pica-pau-do-campo Colaptes campestris, bico-chato-orelhudo Tolmomyias sulphurescens, bem-te-vi Pitangus sulphuratus e sabiá-laranjeira Turdus rufiventris. Apesar da plasticidade ambiental que possuem, populações dessas espécies também devem ser utilizadas como indicadoras da sucessão ecológica nas áreas restauradas e devem receber análises de tamanho da amostra e poder de análise. Outras categorias ecológicas e bioindicadores em potencial são os insetívoros florestais e as aves onívoras dispersoras de sementes. A primeira

categoria é sensível aos impactos da fragmentação florestal e tem sofrido declínios populacionais e extinções locais. Na maioria, são habitantes do sub-bosque, cuja presença denota relativa integridade biológica dos fragmentos, pois essas aves se restringem muito às áreas florestais. Outras aves florestais que podem ser indicadoras da recomposição biótica das áreas restauradas são o ticotico-do-mato Arremon semitorquatus, uma espécie que em Piracaia se encontra no limite mais interiorano da sua área de ocorrência; o tangará-dançarino Chiroxyphia caudata; a juriti Leptotila verreauxi; a pomba-galega Patagioenas cayennensis e o beija-flor-de-fronte-violeta Thalurania glaucopis. As aves dispersoras de sementes devem receber atenção no monitoramento porque propagarão espécies botânicas da região dentro das áreas de restauração e vice-versa, evidenciando possíveis funções ecológicas da restauração. Ao todo, foram registradas 25 espécies de insetívoros florestais (Anexo 2), havendo 20 espécies mais abundantes, apresentadas na Tabela 11. A maioria das aves dispersoras de sementes pertence à categoria onívoros: frugívoros e insetívoros, com 29 espécies na região, sendo que 19 espécies reconhecidamente dispersoras se encontram na Tabela 12, com destaque para aquelas que utilizam poleiros implantados, uma técnica de restaução florestal. Chama atenção a escassez de espécies polinizadoras da família dos beija-flores (Throchilidae), pois apenas cinco espécies foram registradas. Somente o beija-flor-de-fronte-violeta Thalurania glaucopis foi registado na amostragem quantitativa e, além disso, foi a única espécie florestal de Throchilidae. A sensibilidade das espécies florestais de beija-flores à fragmentação é reconhecida na literatura, e esforços de restauração devem incluir espécies botânicas atrativas como medida de enriquecimento de hábitat para essas importantíssimas aves polinizadoras. 59


Houve correlações de Spearman significativas entre diversidade de aves e aspectos da estrutura do hábitat, como densidade do sub-bosque e complexidade vertical da floresta. Entre diversidade de aves e densidade do sub-bosque, foi obtido p = 0,009; r = 0,26; e t = 26,48 (com 93 pares de dados). Entre diversidade de aves e complexidade vertical da floresta, obteve-se p = 0,009; r = 0,26; e t = 26,37 (com 93 pares de dados). Não houve associação significativa entre diversidade de aves e intensidade luminosa ao nível do sub-bosque, tampouco com a riqueza de espécies arbóreas, densidade ou área basal das árvores. Essas informações são importantes, pois mostram a importância de as medidas de restaração visarem restabelecer as condições estruturais do hábitat mais associadas à avifauna, cujas características serão apresentadas abaixo. Tabela 11 Aves florestais insetívoras e potenciais bioindicadoras de áreas restauradas Nome do Táxon

Nome em Português

English Name

Picumnus temminckii

pica-pau-anão-de-coleira

Ochre-collared Piculet

Veniliornis spilogaster

picapauzinho-verde-carijó

White-spotted Woodpecker

Dryocopus lineatus

pica-pau-de-banda-branca

Lineated Woodpecker

Campephilus robustus

pica-pau-rei

Robust Woodpecker

Thamnophilus caerulescens

choca-da-mata

Variable Antshrike

Sittasomus griseicapillus

arapaçu-verde

Olivaceous Woodcreeper

Xiphorhynchus fuscus

arapaçu-rajado

Lesser Woodcreeper

Conopophaga lineata

chupa-dente

Rufous Gnateater

Synallaxis ruficapilla

pichororé

Rufous-capped Spinetail

Automolus leucophthalmus

barranqueiro-de-olho-branco

White-eyed Foliage-gleaner

Mionectes rufiventris

abre-asa-de-cabeça-cinza

Gray-hooded Flycatcher

Leptopogon amaurocephalus

cabeçudo

Sepia-capped Flycatcher

Poecilotriccus plumbeiceps

tororó

Ochre-faced Tody-Flycatcher

Todirostrum poliocephalum

teque-teque

Yellow-lored Tody-Flycatcher

Tolmomyias sulphurescens

bico-chato-de-orelha-preta

Yellow-olive Flycatcher

Platyrinchus mystaceus

patinho

White-throated Spadebill

Lathrotriccus euleri

enferrujado

Euler’s Flycatcher

Trichothraupis melanops

tiê-de-topete

Black-goggled Tanager

Basileuterus culicivorus

pula-pula

Golden-crowned Warbler

Basileuterus leucoblepharus

pula-pula-assobiador

White-browed Warbler

60


Medidas de restauração devem consorciar espécies botânicas que propiciem grande variação vertical na floresta, possibilitando o estabelecimento de espécies com hábitos especializados de forrageamento, como aves escaladoras de galhos e troncos (Picidae, Dendrocolaptidae, Xenops spp), aves insetívoras que buscam suas presas em aglomerados de folhas mortas suspensas na floresta (Philidor spp) e outras que capturam insetos em voo (fly-catching) no interior florestal (Tyrannidae). Contudo, como será visto a seguir, a demasiada densidade do sub-bosque, que é típica em estágios iniciais e médios de regeneração, deve ser evitada na restauração ecológica, pois representa uma limitação às espécies que possuem hábitos mais especializados de alimentação (Thiollay 1997). Tabela 12 Aves onívoras dispersoras de sementes Nome do Táxon

Nome em Português

English Name

Penelope obscura

jacuaçu

Dusky-legged Guan

Ramphastos toco

tucanuçu *

Toco Toucan

Camptostoma obsoletum

risadinha *

Southern Beardless-Tyrannulet

Pitangus sulphuratus

bem-te-vi *

Great Kiskadee

Myiodynastes maculatus

bem-te-vi-rajado *

Streaked Flycatcher

Megarynchus pitangua

neinei *

Boat-billed Flycatcher

Tyrannus melancholicus

suiriri *

Tropical Kingbird

Myiarchus swainsoni

irré *

Swainson’s Flycatcher

Myiarchus ferox

maria-cavaleira *

Short-crested Flycatcher

Chiroxiphia caudata

tangará

Blue Manakin

Pachyramphus polychopterus

caneleiro-preto

White-winged Becard

Turdus rufiventris

sabiá-laranjeira

Rufous-bellied Thrush

Turdus leucomelas

sabiá-barranco

Pale-breasted Thrush

Turdus amaurochalinus

sabiá-poca

Creamy-bellied Thrush

Tachyphonus coronatus

tiê-preto

Ruby-crowned Tanager

Thraupis sayaca

sanhaçu-cinzento

Sayaca Tanager

Tangara cayana

saíra-amarela

Burnished-buff Tanager

Saltator similis

trinca-ferro-verdadeiro

Green-winged Saltator

Euphonia chlorotica

fim-fim

Purple-throated Euphonia

* utilizam poleiros artificiais em áreas abertas

61



recomendações para a restauração


Haroldo Palo Jr.

informações de referência . série água, clima e floresta . v. II

N

este item, são feitas considerações e recomendações às atividades de restauração a serem desenvolvidas às margens do Reservatório Cachoeira, com base nas informações de referência sobre vegetação, flora e avifauna. Para os mais diferentes aspectos são estabelecidos valores de referência que podem ser vistos como metas para a restauração, assumindo os fragmentos do entorno como parâmetros os quais se pretende atingir para considerar a restauração como bem-sucedida. Cabe ressaltar, contudo, que esses são apenas valores de referência e que obtê-los por meio das atividades de restauração pode levar muitos anos (e.g. cobertura do solo por gramíneas exóticas). Adicionalmente, o tempo necessário para atingir cada um deles pode ser diferente (e.g. densidade vs. área basal). Portanto, durante o monitoramento, eles devem ser vistos como indicativos de que a restauração foi capaz ou está a caminho de formar florestas com estrutura e diversidade semelhantes às condições locais. 64


Mesmo assim, é importante destacar que o principal objetivo da restauração pode não ser (ou talvez não seja) restabelecer parâmetros encontrados em fragmentos próximos, ou seja, ‘copiar’ a estrutura, composição e riqueza de fragmentos. Apesar da importância do estabelecimento de valores de referência para monitorar o sucesso das atividades de restauração (RUIZ JAEN; AIDE, 2005), o atual objetivo da resturação é restabelecer os processos ecológicos básicos capazes de estimular a sucessão natural e recuperar a capacidade de a floresta se manter no tempo (PARKER, 1997; PARKER; PICKETT, 1999). Dentro desse objetivo, assume-se a restauração como um processo aberto e não previsível, que pode resultar em comunidades funcionais bastante distintas entre si, distintas inclusive dos próprios fragmentos usados como referência.

4.1 Vegetação e flora Como ilustrado em itens anteriores (itens 3.2.3 e 3.2.4), houve uma diferenciação significativa entre os estados de conservação Muito Degrado (MD) e Pouco Degradado (PD). Nesses casos, os valores de referência obtidos para MD podem ser considerados como valores ou referências parciais que antecedem a referência final (PD). Os valores encontrados para os parâmetros avaliados em cada um dos estados de conservação podem ser encontrados nas Tabelas 6 (estrato arbóreo) e 7 (regenerantes). Para facilitar a avaliação de sucesso da restauração, são resumidos a seguir os valores mínimos de referência (i.e. limites inferiores dos intervalos de confiança) para o estado de conservação com menor valor médio do respectivo parâmetro (no caso de diferença significativa entre MD e PD) ou para o valor total (no caso de não haver diferença significativa entre os estados). Esses valores são colocados como sugestões de metas para a restauração, que deverá obter: 65


• Densidade mínima de 1.315 indivíduos.ha-1 (adultos) e 7 indivíduos.m-2 (plântulas); • Área basal mínima de 25 m2.ha-1 (adultos); • Volume de madeira mínimo de 280 m3.ha-1 (adultos); • Indivíduos com uma altura total média maior que 7,7 m por parcela (adultos). • Riqueza total mínima de 89 (adultos) e 63 espécies arbustivo-arbóreas (plântulas); • Diversidade mínima (índice inverso de Simpson) de 23,26 (adultos) e 5,9 (plântulas); • Índice de Valor de Espécie mínimo de 1,3 (adultos); • Percentagem de cobertura do solo por gramíneas exóticas inferior a 1%. Quanto à composição, as espécies mais importantes encontradas nos dois estados de conservação devem ser reintroduzidas pela restauração, seja por meio do plantio direto, seja com técnicas alternativas, como o transplante de plântulas ou o banco de sementes do solo. Essas espécies são: Cupania vernalis, Myrcia splendens, Piptadenia gonoacantha, Croton floribundus, Vernonia diffusa, Alchornea glandulosa, Luehea divaricata, Solanum pseudoquina, Piptadenia paniculata, Lonchocarpus muehlbergianus e Cabralea canjerana. Esse é o conjunto de espécies que melhor caracteriza as comunidades arbóreas estudadas, e sua presença nas áreas restauradas, portanto, pode ser usada como um dos indicativos da eficiência das atividades de restauração. Vale destacar que, como as áreas que receberão as atividades de restauração (e.g. pastos abandonados) e os fragmentos florestais possuem ambientes com condições muito diferentes, essas espécies devem estar presentes, mas não necessariamente devem apresentar a mesma importância nas áreas restauradas. Outras espécies que por outros motivos também são recomendadas para a restauração estão apresentada na Tabela 17. Além dessas espécies, a escolha final de quais serão utilizadas na restauração deve estar baseada nas exigências legais existentes no estado de São Paulo (Resolução SMA 08 de 2007), principalmente no que diz respeito à riqueza total de espécies introduzidas (mín. 80) e à proporção de espécies ameaçadas (mín. 5%) e zoocóricas (mín. 20 e máx. 40%). Foram identificadas nove espécies arbóreas indicadoras dos dois estados de conservação avaliados: Anadenanthera colubrina, Eugenia hyemalis, Piptadenia paniculata e Vernonia diffusa (MD); e Cabralea canjerana, Cedrela fissilis, Machaerium villosum, Rapanea guianensis e Tabernaemontana hystrix (PD). Essas espécies podem ser monitoradas em particular, pois servirão como indicadores de que o processo de restauração está sendo eficiente ao restabelecer as espécies localmente mais importantes. Esse monitoramento deve incluir a presença de indivíduos das espécies indicadoras nas áreas restauradas e pode também 66


avaliar variações de tamanhos populacionais. A análise distinta entre espécies indicadoras de fragmentos MD e PD pode ser usada ainda como uma ferramenta extra para avaliar, em termos florísticos, em que estágio a restauração se encontra, assumindo que o estado de conservação MD irá se desenvolver para um estado PD.

Scott Warren

o monitoramento deve incluir a presença de indivíduos das espécies indicadoras nas áreas restauradas e pode também avaliar variações de tamanhos populacionais

As análises de espécies mais importantes e espécies indicadoras podem ser feitas entre os indivíduos regenerantes (<1 m de altura). Além de incluir plântulas de espécies de menor porte presentes no sub-bosque dos fragmentos, o monitoramento dos regenerantes pode ser usado para avaliar a recuperação do potencial de autorregeneração dos ambientes restaurados. Nesse sentido, a ‘saúde’ do estrato regenerante pode indicar uma garantia de manutenção da floresta restaurada. Contudo, deve-se ter cuidado ao comparar diretamente a composição, diversidade e estrutura dos estratos arbóreo e regenerante, visto que há diferenças naturais entre os dois estratos da floresta (e.g. espécies com portes diferentes, estratégias de regeneração diferentes e espécies correspondentes a momentos sucessionais distintos da floresta).

67


4.2 Fauna Um dos processos ecológicos mais importantes no auxílio à recuperação de áreas degradadas e à manutenção dos ecossistemas naturais é a dispersão de sementes por animais (zoocoria), pois cerca de 50% a 90% das espécies de árvores nas florestas tropicais são dispersas por animais (HOWE; SMALLWOOD, 1982). Estudos recentes têm demonstrado que aves e morcegos são os principais dispersores de sementes em florestas tropicais, contribuindo para a recomposição da vegetação em trechos degradados (HEITHAUS, 1982). Em restauração florestal, a grande vantagem de se utilizar plantas dispersadas por animais é que esses agentes dispersores não apenas garantem a disseminação dessas plantas na área, mas também adicionam diversas outras espécies de plantas importantes para o processo de regeneração, cujas sementes são veiculadas em fezes e que não foram incluídas no plantio, quase sempre por serem desconhecidas quanto ao seu uso pela fauna (SILVA, 2003). A utilização de sementes de frutos consumidos pela fauna em restauração florestal contempla dois importantes fatores de sucesso, que são a utilização de: i) elevada riqueza de espécies de plantas e ii) variabilidade genética local. Tal procedimento potencializa o processo de sucessão vegetal nas áreas restauradas, favorecendo a disseminação natural de espécies botânicas comprovadamente utilizadas e importantes para a fauna silvestre, garantindo estrutura e função às áreas restauradas. A Tabela 17 apresenta espécies arbóreas da flora regional recomendadas para a restauração, considerando a atratividade para a fauna. Sugere-se que essas espécies arbóreas sejam plantadas utilizando sementes coletadas na região, mas é importante enfatizar a ausência de constatações de que a fauna utilize tais recursos em Piracaia. Os presentes resultados mostram que a comunidade de aves estudada encontra-se empobrecida e descaracterizada, sendo subconjunto de outras comunidades do estado de São Paulo, havendo notável ausência de espécies de aves florestais, como as grandes frugívoras de copa e beija-flores. Sabe-se que, embora espécies botânicas consigam permanecer em fragmentos, a fauna dispersora, polinizadora ou predadora pode ter se extinguido ou estar em tão baixa densidade que as interações fauna e flora podem estar ecologicamente comprometidas. A ineficiência de muitas áreas de restauração em atrair e manter a fauna florestal é muito comum. Obviamente, a ausência de fauna compromete o restabelecimento e a propagação das espécies de plantas florestais nessas áreas de restauração.

68


Haroldo Palo Jr.

69


Assim, é interessante utilizar espécies botânicas que sejam comprovadamente utilizadas pela fauna local, garantindo interações ecológicas efetivas nas áreas restauradas. Para tanto, é necessária uma avaliação regional da utilização da flora pela fauna. Sugere-se que, nesse trabalho, fezes e pelotas alimentares regurgitadas sejam obtidas por meio de técnicas especializadas de manejo de fauna, possibilitando a identificação das espécies animais e vegetais que se interagem de fato na região. Sementes obtidas seriam separadas por morfoespécie, parte delas seria fixada em álcool 70% para identificação e outra parte seria destinada à germinação. Quando as sementes forem identificadas, fração delas seria tombada num Banco de Germoplasma. Informações seriam organizadas em banco de dados correlacionado (espécie animal, indivíduo marcado, amostra de alimentos, espécies botânicas, coordenadas geográficas, tombamento das sementes no Banco de Germoplasma). Geralmente, caracteres taxonômicos úteis para identificação das plantas até o nível de espécie não são muito digeridos (FLEMING, 1988). Sementes poderiam ser identificadas por comparação do material das pelotas alimentares com plantas frutificando na área. Identificadas ou não, sementes seriam utilizadas para orientar a busca das plantas matrizes e a distribuição de coletores de sementes embaixo das matrizes. Coletores seriam verificados e esvaziados periodicamente. As coletas de sementes obtidas seriam individualizadas por planta matriz e acondicionadas com um código de referência. Após seleção manual, as melhores sementes advindas dos coletores teriam dois destinos: i) 80% seriam utilizadas em experimento de germinação em viveiro e, depois, em forma de mudas, seriam plantadas na restauração florestal; ii) 20% das sementes seriam utilizadas para identificação, sendo posteriormente tombadas no Banco de Germoplasma (câmara fria), com número de tombo associado a cada coleta, a cada planta matriz e a cada lote de mudas produzidas. Essas investigações teriam duração de dois anos, com coletas mensais, contemplando a fenologia das plantas nas quatro estações sazonais, resultando em informações valiosas para a continuidade do trabalho de restauração florestal e garantindo interações ecológicas efetivas nas áreas restauradas. Investigações e o trabalho de coleta de sementes podem ser associados e/ou resultantes do monitoramento de aves e morcegos com redes-neblina que se sugere proceder, no qual seriam coletadas fezes e regurgitados desses organismos.

70


Tabela 17 Lista das espécies arbóreas da flora regional recomendadas para a restauração das margens do Reservatório Cachoeira em Piracaia, SP. Espécies com dispersão, germinação e/ou crescimento favoráveis à restauração possuem aspectos desejáveis associados a dispersão, germinação e/ou crescimento. Família

Espécie

Motivo

ANACARDIACEAE

Schinus terebenthifolia

Dispersão, germinação e/ou crescimento favoráveis; atrativa para aves pequenas e mamíferos

ANACARDIACEAE

Tapirira guianensis

Atrativa para aves

ANACARDIACEAE

Tapirira obtusa

Atrativa para aves

ANACARDIACEAE

Xylopia aromatica

Atrativa para aves

APOCYNACEAE

Aspidosperma cf. quirandy

Ameaçadas (ou quase) de extinção

ARAUCARIACEAE

Araucaria angustifolia

Ameaçadas (ou quase) de extinção; atrativa para aves e mamíferos

ARECACEAE

Acrocomia aculeata

Dispersão, germinação e/ou crescimento favoráveis; atrativa para aves e mamíferos

ARECACEAE

Syagrus romanzoffiana

Dispersão, germinação e/ou crescimento favoráveis; atrativa para aves e mamíferos

ASTERACEAE

Baccharis dracunculifolia

Dispersão, germinação e/ou crescimento favoráveis

ASTERACEAE

Piptocarpha axillaris

Dispersão, germinação e/ou crescimento favoráveis

ASTERACEAE

Vernonia diffusa

Dispersão, germinação e/ou crescimento favoráveis

ASTERACEAE

Vernonia ferruginea

Dispersão, germinação e/ou crescimento favoráveis

BORAGINACEAE

Cordia sellowiana

Dispersão, germinação e/ou crescimento favoráveis; atrativa para aves e mamíferos

BORAGINACEAE

Cordia trichotoma

Dispersão, germinação e/ou crescimento favoráveis; atrativa para aves

CANNABACEAE

Trema micrantha

Dispersão, germinação e/ou crescimento favoráveis; atrativa para aves pequenas

CELASTRACEAE

Maytenus salicifolia

Espécie endêmica regional

CLETHRACEAE

Clethra scabra

Dispersão, germinação e/ou crescimento favoráveis

71


...continuação Família

Espécie

Motivo

CONNARACEAE

Connarus regnelii

Espécie endêmica regional

ERYTHROXYLACEAE

Erythroxylum deciduum

Atrativa para aves

EUPHORBIACEAE

Alchornea glandulosa

Dispersão, germinação e/ou crescimento favoráveis; atrativa para aves

EUPHORBIACEAE

Croton floribundus

Dispersão, germinação e/ou crescimento favoráveis

EUPHORBIACEAE

Croton urucurana

Dispersão, germinação e/ou crescimento favoráveis; atrativa para peixes

EUPHORBIACEAE

Manihot cf. jolyana

Atrativa para mamíferos

FABACEAE

Copaifera langsdorfii

Ameaçadas (ou quase) de extinção; atrativa para aves

FABACEAE

Inga sessilis

Dispersão, germinação e/ou crescimento favoráveis; atrativa para aves, mamíferos e peixes

FABACEAE

Leucochloron incuriale

Espécie endêmica regional

FABACEAE

Machaerium aculeatum

Dispersão, germinação e/ou crescimento favoráveis

FABACEAE

Machaerium nyctitans

Ameaçadas (ou quase) de extinção; Dispersão, germinação e/ou crescimento favoráveis

FABACEAE

Machaerium villosum

Ameaçadas (ou quase) de extinção; Dispersão, germinação e/ou crescimento favoráveis

FABACEAE

Piptadenia gonoacantha

Dispersão, germinação e/ou crescimento favoráveis

LAMIACEAE

Aegiphyla sellowiana

Dispersão, germinação e/ou crescimento favoráveis

LAMIACEAE

Vitex polygama

Atrativa para aves, mamíferos e peixes

LAURACEAE

Ocotea nectandrifolia

Ameaçadas (ou quase) de extinção

LECYTHIDACEAE

Cariniana estrellensis

Atrativa para caxinguelê (Guerlinguetus spp)

MALVACEAE

Luehea grandiflora

Dispersão, germinação e/ou crescimento favoráveis

MALVACEAE

Pseudobombax grandifolium

Atrativa para morcegos

MELASTOMATACEAE

Miconia spp.

Atrativa para aves

72


...continuação Família

Espécie

Motivo

MELASTOMATACEAE

Tibouchina stenocarpa

Dispersão, germinação e/ou crescimento favoráveis

MELIACEAE

Cabralea canjerana

Dispersão, germinação e/ou crescimento favoráveis; atrativa para aves médias a grandes

MELIACEAE

Cedrela fissilis

Ameaçadas (ou quase) de extinção; atrativa para caxinguelê (Guerlinguetus spp)

MORACEAE

Ficus spp.

Atrativa para aves

MYRSINACEAE

Rapanea ferruginea

Dispersão, germinação e/ou crescimento favoráveis; atrativa para aves

MYRSINACEAE

Rapanea spp.

Atrativa para aves

MYRSINACEAE

Rapanea umbellata

Dispersão, germinação e/ou crescimento favoráveis; atrativa para aves

MYRTACEAE

Campomanesia spp.

Atrativa para aves e mamíferos

MYRTACEAE

Eugenia spp.

Atrativa para aves

PROTEACEAE

Roupala brasiliensis

Ameaçadas (ou quase) de extinção

ROSACEAE

Prunus myrtifolia

Atrativa para aves

SIPARUNACEAE

Siparuna cujabana

Dispersão, germinação e/ou crescimento favoráveis; atrativa para aves

SOLANACEAE

Solanum lycocarpum

Dispersão, germinação e/ou crescimento favoráveis; atrativa para mamíferos médios e grandes

SOLANACEAE

Solanum pseudoquina

Ameaçadas (ou quase) de extinção

SOLANACEAE

Solanum variabile

Dispersão, germinação e/ou crescimento favoráveis

URTICACEAE

Boehmeria caudata

Dispersão, germinação e/ou crescimento favoráveis

URTICACEAE

Cecropia glaziovi

Atrativa para aves e morcegos

URTICACEAE

Cecropia hololeuca

Ameaçadas (ou quase) de extinção; atrativa para aves e morcegos

VERBENACEAE

Aloysia virgata

Dispersão, germinação e/ou crescimento favoráveis

VOCHYSIACEAE

Vochysia magnifica

Espécie endêmica regional; atrativa para aves

73



considerações finais


Zé Paiva

informações de referência . série água, clima e floresta . v. II

o projeto foi bem-sucedido e os métodos empregados se mostraram eficientes ao levantar informações de referência de qualidade 76

A

o término das avaliações, algumas considerações finais sobre os métodos de levantamento de informações de referência devem ser feitas. De maneira geral, o projeto foi bem-sucedido e os métodos empregados se mostraram eficientes ao levantar informações de referência de qualidade. Como produtos importantes, a execução do projeto proveu (i) descrições detalhadas dos fragmentos florestais próximos, (ii) listas representativas da flora e avifauna local (com hábitos, guildas ecológicas, ameaça de extinção e endemismo), (iii) parâmetros quantitativos de referência e a variação aceitável associada a eles (estrutura, riqueza e diversidade de espécies) e (iv) identificação de espécies indicadoras das classes de fragmentos estudados. Com esses produtos, é possível planejar e executar com qualidade as atividades de restauração, bem como auxiliar seu monitoramento. Assim, trabalhos dessa natureza fornecem informações claras e objetivas à restauração e devem ser estimulados, principalmente se o objetivo do projeto é atingir a certificação dentro dos padrões de clima, comunidade e biodiversidade (Climate, Community & Biodiversity Standards – CCBA 2008). Contudo, a avaliação da experiência de Piracaia indica que alguns pontos podem ser melhorados. Os critérios de classificação dos fragmentos


Para a avaliação da vegetação, o número de fragmentos e o esforço amostral (24 parcelas de 20x20 m = 4.800 m2) se mostraram suficientes para os parâmetros de estrutura da vegetação (nível de precisão de ± 5 indivíduos). Quanto à composição florística, o levantamento dentro das parcelas, associado aos levantamentos expeditos nas bordas e interior dos fragmentos, também foi adequado. Contudo, é possível que o tamanho amostral não tenha sido suficiente para a avaliação da riqueza de espécies e para a detecção das espécies indicadoras, que depende diretamente da abundância e da frequência das

Zé Paiva

florestais escolhidos (estratificação da amostragem) não provaram ser totalmente adequados, visto que um mesmo fragmento apresentou diferentes estados de conservação. Mesmo após uma visita de campo prévia, o problema só foi detectado durante as atividades de campo, quando todo o delineamento já estava montado. Esse aspecto foi especialmente importante durante a amostragem da avifauna, pois o tamanho dos fragmentos muito degradados proporcionou transectos amostrais bem menores e geralmente com mais efeito de borda. Talvez, outras informações possam ser usadas como critérios mais objetivos de estratificação, como o tamanho e formato do fragmento, histórico de perturbação e estágio sucessional.

77


espécies nas parcelas. Essa última análise, adicionalmente, depende diretamente do critério adotado para a subdivisão dos fragmentos, que, como dito acima, talvez não tenha sido tão adequado. Uma alternativa é aumentar o número de fragmentos pequenos para que haja uma igualdade em área entre as classes escolhidas. Para a avifauna, o esforço amostral foi suficiente para: i) gerar uma relação preliminar e representativa da riqueza de espécies; ii) avaliar a abundância relativa das espécies florestais; iii) gerar estimadores da estrutura populacional das aves e dos seus hábitats (estrutura florestal); iv) gerar estimativas para o tamanho das futuras amostragens de monitoramento; e v) avaliar graus de associações entre aspectos da estrutura florestal e diversidade de aves. O futuro monitoramento da restauração deve, além de enfocar aspectos utilizados neste trabalho, avaliar a recuperação de processos ecológicos. Avaliações sobre a produção e chuva de sementes, interações planta-polinizador e planta-herbívoros são alguns exemplos que podem dar grandes contribuições nesse sentido. Os recursos humanos utilizados para o levantamento e análise destas informações de referência foram de aproximadamente 30 diárias (incluindo trabalho em campo, herbário, laboratório e relatório, divididas em dois profissionais graduados) para a vegetação e flora, e 30 diárias para a avifauna. Assim, para o cálculo do custo total do projeto, devem ser multiplicados os valores das diárias dos profissionais e adicionados os gastos com material de consumo, hospedagem, transporte, alimentação, encargos e tributos, bem como de possíveis visitas prévias à área de estudo. Apesar de representar uma estimativa grosseira do custo de execução do projeto (os valores certamente irão variar de região para região), eles servem como base para avaliar previamente o custo-benefício de sua realização. 78


79 ZĂŠ Paiva


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80


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81


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83



anexos


informações de referência . série água, clima e floresta . v. II

Anexo 1 Lista final de espécies da flora vascular ocorrentes na região de estudo (Piracaia e Joanópolis, SP). Legenda: MD = Fragmentos florestais muito degradados, PD = Fragmentos florestais pouco degradados, BE = Beira de estrada e pastos. Espécies sobrescritas com ‘ex’ significam que a espécie é exótica. Espécies sobrescritas com ‘sp’ indicam as espécies encontradas apenas para Joanópolis. Família, espécie e autoria

Nome popular

Hábito

MD

PD

Jacobínia/justícia

subarb

+

+

Aroeira-branca

arv

aroeira-pimenteira/ aroeira mansa

arv

+

+

Tapirira guianensis Aubl.

Fruto-de-pombo

arv

Tapirira obtusa (Benth.) J. D. Mitch.sp

Jobo/pau-pombo

arv

Cortiça

arv

Araticum-do-mato

arv

BE

ACANTHACEAE Justicia cf. carnea Lindl. ANACARDIACEAE Schinus molleoides Vell.sp Schinus terebenthifolia Raddi

+

+

ANNONACEAE Guatteria australis A. St.-Hil. Rollinia emarginata Schltdl.sp Rollinia sp.

+

arv

+

+

+

+

Rollinia sylvatica (A. St.-Hil.) Mart.

Araticum/embiriça/ cortiça-amarela

arv

Xylopia aromatica (Lam.) Mart.

Pimenta-de-macaco

arv

+

Asclepias curassavica L.

Cega-homem

herb

+

Aspidosperma australe Müll. Arg.sp

Guatambu/ peroba-tambu

arv

Perobinha

arv

Aspidosperma cylindrocarpon Müll. Arg.sp

Peroba-poca

arv

Aspidosperma olivaceum Müll. Arg.

Guatambu-peroba

APOCYNACEAE

Aspidosperma cf. quirandy Hassl.

Tabernaemontana hystrix Steud.

+

+

arv

+

+

Leiteira

arv

+

+

Erva-mate/mate/ congonha

arv

+

Caúna/orelha de mico

arv

+

AQUIFOLIACEAE Ilex paraguariensis A. St.-Hil. Ilex theezans Mart. ex Reissek

86


...continuação Família, espécie e autoria

Nome popular

Hábito

MD

PD

Pinheiro-do-paraná

arv

+

+

Macaúba

arv

Bactris setosa Mart.

Tucum

arb

+

Syagrus romanzoffiana (Cham.) Glassman.

Jerivá

arv

+

Baccharis caprariaefolia DC.sp

Vassourão

arb

Baccharis dracunculifolia DC.

Alecrim-do-campo

arb

BE

ARAUCARIACEAE Araucaria angustifolia (Bertol.) Kuntze ARECACEAE Acrocomia aculeata (Jacq.) Lodd. Ex Mart.

+

+

+

ASTERACEAE

Eupatorium vauthierianum DC.sp Gochnatia polymorpha (Less.) Cabrera

++

arb Candeia/cambará

arv

+

Indeterminada 1

arb

+

Indeterminada 2

arb

+

Indeterminada 3

subarb

+

arv

+

Vernonia diffusa Less.

arv

+

Vernonia ferruginea Less.

arv

Vernonia macrophylla Less.

arb

Piptocarpha axillaris (Less.) Baker

Cambará

++

+

+ + ++

+

BIGNONIACEAE Jacaranda macranthera Cham.

Carobão

arv

+

+

Jacaranda micrantha Cham.

Caroba

arv

+

+

Sparattosperma leucanthum (Vell.) K. Schum.

Caroba branca

arv

+

+

Tabebuia ochracea (Cham.) Standl.

Ipê-amarelo

arv

+

Ipê-de-jardim

arv

++

Louro/chá-de-bugre

arv

Louro-pardo

arv

Tecoma stans L. Kunth.ex BORAGINACEAE Cordia sellowiana Cham. Cordia trichotoma (Vell.) Arrab.ex Steud

+ +

+

+

87


...continuação Família, espécie e autoria

Nome popular

Hábito

MD

Almacegueira/breu/ almesca

arv

+

PD

BE

BURSERACEAE Protium heptaphyllum (Aubl.) Marchand CAMPANULACEAE Siphocampylus macropodus (Thunb.) G.Don

herb

+

CANNABACEAE Celtis iguanae (Jack.) Sargent.

Joá-mirim/jameri

arbesc

Grandiúva/ pau-pólvora

arv

+

+

Espinheira-santa

arv

+

+

Laranjinha

arb

+

+

Maytenus robusta Reissek

Cafezinho-do-mato

arv

+

Maytenus salicifolia Reissek

Cafezinho

arv

+

Trema micrantha (L.) Blume

+ +

CELASTRACEAE Maytenus aquifolia Mart. Maytenus evonymoides Reissek.

Maytenus sp.

arv

+ +

CLETHRACEAE Clethra scabra Pers.

Vassourão

arv

+

+

CLUSIACEAE Tovomitopsis paniculata (Spreng.) Planch. & TrianaSP

arv

COMMELINACEAE Dichorisandra sp.

subarb

+

arv

+

arb

+

Sapopema

arv

+

Cocão/ baga-de-pomba

arv

+

CONNARACEAE Connarus regnelii G. Schellenb.

Camboatã-da-serra

CYATHEACEAE Cyathea delgadii Sternb.

+

ELAEOCARPACEAE Sloanea guianensis (Aubl.) Benth. ERYTHROXYLACEAE Erythroxylum deciduum A St.-Hill.

88

+


...continuação Família, espécie e autoria

Nome popular

Hábito

MD

PD

BE

Caixeta/tapiá

arv

+

+

+

Capixingui

arv

+

+

+

Croton urucurana Baill.

Sangra-d’água

arv

Manihot cf. jolyana Cruz

Mandioca-do-mato

arv

+

+

Sapium glandulosum (L.) Morong

Leiteiro

arv

+

+

Sebastiania brasiliensis (L.) Spreng.

Leiteiro/tajuvinha

arv

+

Sebastiania commersoniana (Baill.) L.B.Sm. & Downs.

Branquinho

arv

Sebastiania klotzschiana (Müll. Arg.) Müll. Arg.sp

Branquinho

arv

Tetrorchidium rubrivenium Poepp. & Endl.

Canemuçu/embirão/ peloteira

arv

EUPHORBIACEAE Alchornea glandulosa Poepp. Croton floribundus Spreng.

+

+

+

FABACEAE Abarema sp.

arv

+

Monjoleiro

arv

+

Angico-branco

arv

+

+

Angelim-pedra/ angelim-do-campo

arv

+

+

Bauhinia forficata Link.

Pata de vaca

arv

+

+

Bauhinia guianensis Aubl.

Pata de vaca

arv/lian

+

Canafistula/chuva-de-ouro

arv

+

+

Copaíba

arv

+

+

Acacia polyphylla DC. Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan. Andira anthelmia (Vell.) J.F.Macbr.

Cassia ferruginea (Schrad.) Schrad. ex DC. Copaifera langsdorfii Desf. Dahlstedtia pentaphylla (Taub.) Burkartsp

arv

Dalbergia frutescens (Vell.) Britton Erythrina mulungu Mart.

Mulungu/sapatinho de judeu

Inga sellowiana Benth.sp Inga sessilis (Vell.) Mart. Inga vera subsp. affinis Willd.sp

arv/lian

+

arv

+

arv Ingá-ferradura

arv

Ingá-banana/ingá do brejo

arv

+

+

89


...continuação Família, espécie e autoria

Nome popular

Hábito

MD

PD

Chico-pires

arv

+

+

Angelim-bravo

arv

Rabo-de-macaco/ guaianã

arv

+

++

Machaerium aculeatum Raddi.

Jacaranda-de-espinho

arv

+

+

+

Machaerium brasiliense Vog.sp

Pau-sangue/jacaranda-bico de pato

arv

Machaerium cf. stiptatum (DC.) Vogel

Sapuva

arv

+

Machaerium nyctitans (Vell.) Benth.

Guaximbé/bico-de-pato

arv

+

+

+

Machaerium vestitum Vogel

Cateretê/jacarandá-branco

arv

+

+

Machaerium villosum Vogel

Jacarandá-do-mato/ jacarandá-paulista

arv

Mimosa scabrella Benth.sp

Bracatinga

arv

Myroxylum peruiferum L.F.

Óleo-de-cabreúva/ cabreúva

arv

Olho-de-cabra

arv

Leucochloron incuriale (Vell.) Barneby & J.W. Grimes Lonchocarpus campestris DC. Lonchocarpus muehlbergianus Hassl.

Ormosia arborea (Vell.) Harms Ormosia fastigiata Tul.sp Piptadenia gonoacantha (Mart.) J.F. Macbr.

BE

+

+

+

+ +

arv Pau-jacaré

Piptadenia paniculata Benth.

arv

+

+

arv

+

+

+

+

Platymiscium floribundum Vogel

Jacarandá-vermelho/ sacambu

arv

Senna macranthera (Collad.) H.S.Irwin & Barnebysp

Manduirana/pau-fava

arv

++

Senna pendula (Humb. & Bonpl. ex Willd.) H.S. Irwin & Barneby

arb

+

Stryphnodendron obovatum Benth.

arv

+

Swartzia acutifolia Vogel

Caroba/ sangue-de-burro

arv

+

Indeterminada 1

arv

+

Indeterminada 2

subarb

+

+

INDETERMINADA

90

+


...continuação Família, espécie e autoria

Nome popular

Hábito

MD

PD

BE

Tamanqueira

arv

+

+

+

Tarumã/Maria preta

arv

+

+

Aniba cf. firmula (Nees & Mart.) Mez

Canela-de-cheiro/ canel-sassafrás

arv

Cinnamomum stenophyllum (Meisn.) Vattimo-GilSP

Canela-vassoura

arv

Cryptocarya aschersoniana Mez

Canela-pururuca/ canela branca

arv

Cryptocarya moschata NeesSP

Canela-fogo/canela-pururuca

arv

Endlicheria paniculata (Spreng.) J.F. Macbr.

Canela cheirosa/ canela-frade

Nectandra lanceolata Nees Nectandra oppositifolia Nees

LAMIACEAE Aegiphyla sellowiana Cham. Vitex polygama Cham. LAURACEAE

+

+

arv

+

+

Canela amarela/ canela branca

arv

+

Canela-ferrugem

arv

+

arv

+

Canela-louro

arv

+

Canela-sassafrás

arv

+

Canela-cedro

arb

Ocotea bicolor Vattimo-Gil Ocotea cf. diospyrifolia (Meisn.) Mez Ocotea corymbosa (Meisn.) Mez Ocotea dispersa (Nees) Mez Ocotea lanata (Nees) Mez

arv

Ocotea nectandrifolia Mez

arv

Ocotea puberula (Rich.) Nees Ocotea velutina (Nees) Rohwer Persea americana Mill.ex

+

+

+ +

+

+ +

Canela-gosmenta/ canela-guaicá

arv

+

+

Canela-amarela

arv

+

+

Abacate

arv

+

Jequitiba-branco

arv

+

Salta-martim

arbesc

+

LECYTHIDACEAE Cariniana estrellensis (Raddi) Kuntze

+

LOGANIACEAE Strychnos brasiliensis (Spreng.) Mart. MALPIGHIACEAE Bunchosia fluminensis Griseb.

arv

+

91


...continuação Família, espécie e autoria

Nome popular

Hábito

MD

Pau-jangada/ pente-de-macaco

arv

+

Paineira-rosa

arv

Catuaba

arv

PD

BE

MALVACEAE Apeiba tibourbou Aubl. Ceiba speciosa A St.-Hill. Eriotheca candolleana (K.Schum) A. Robyns. Helicteres brevispira A.St.-Hil.sp

arv

Heliocarpus popayanensis KunthSP

arv

Indeterminada 1

subarb

Indeterminada 2

arb

Luehea divaricata Mart.

+ +

+

+ +

Açoita-cavalo-miúdo

arv

+

+

Açoita-cavalo

arv

+

+

+

subarb

+

+

+

arv

+

+

arb

+

arv

+

Miconia inconspicua Miq.

arb

+

Miconia latecrenata (DC.) Naud.

arb

+

Miconia ligustroides (DC.) NaudinSP

arv

Miconia pusilliflora (DC.) Triana

arv

Luehea grandiflora Mart. & Zucc. Pavonia sp. Pseudobombax grandifolium (Cav.) A. Robyns.

Embiruçu

MELASTOMATACEAE Indeterminada Miconia cinnamomifolia (DC.) Naudin

Miconia sellowiana Naud.

Jacatirão/ casca de arroz

Fruta-de-tiriva

arv

Miconia sp.1

arv

Miconia sp.2

arv

Ossaea meridionalis D’ El Rei.

arb

Ossaea sanguinea Cogn.sp

arv

Ossaea sp.

arb

Tibouchina fothergillae (DC.) Cogn.

arb

Tibouchina mutabilis (Vell.) Cogn. Tibouchina stenocarpa (DC.) Cogn.

92

Quaresmeira

+

+ + + +

+ +

+ +

arv

+

+

arv

+

+

+


...continuação Família, espécie e autoria

Nome popular

Hábito

MD

PD

BE

Cedro-canjerana

arv

+

+

+

Cedro

arv

+

+

Cedro/cedro-do-brejo

arv

Marinheiro

arv

MELIACEAE Cabralea canjerana (Vell.) Mart. Cedrela fissilis Vell. Cedrela odorata L.sp Guarea macrophylla (Vell.) T.D. Penn.

+

MONIMIACEAE Mollinedia elegans Tul.

arb

+

+

MORACEAE Brosimum guianensis (Aubl.) Huber

Leiteira-vermelha

arv

+

Ficus insipida Wild.

Figueira-do-brejo

arv

+

+

Ficus luschnatiana (Miq.) Miq.

Figueira-branca

arv

+

+

Maclura tinctoria (L.) D.Don ex Steud.

Amora-branca/ tatajuba

arv

+

+

Canxim

arv

+

+

+

+

Sorocea bonplandii (Baill.) W. Burg., Lanj. & Wess. Bo.

+

MYRSINACEAE Rapanea balansae Mez

arv

Rapanea ferruginea (Ruiz & Pav.) Mez

Capororoca

arv

Rapanea gardneriana (A. DC.) Mez

Capororoca

arv

+

arv

+

Capororoca

arv

+

Guamirim/araçarana

arv

Calyptranthes concinna DC.sp

Guamirim

arv

Campomanesia cf. neriifolia (O. Berg) Nied.

Guabiroba-branca

arv

Campomanesia guaviroba (DC.) Kiaersk.

Guabiroba

arv

+

+

Araçá-do-mato/sete-capas

arv

+

+

Rapanea guianensis Aubl. Rapanea umbellata (Mart.) Mez

+

+

MYRTACEAE Calyptranthes clusiifolia (Miq) O.Berg

Campomanesia guazumifolia (Cambess.) O. Berg. Campomanesia sessiliflora (O. Berg) Mattossp

+

+

+

arv

93


...continuação Família, espécie e autoria

Nome popular

Campomanesia sp. Eucalyptus sp.ex

Hábito

MD

PD

-

+

+

arv

Eugenia hyemalis Cambess.

Guamirim

arb

Eugenia involucrata DC.sp

Cerejeira

arv

Guamirim/ pitanga-preta

arv

Eugenia sp.

+ +

+

+

Eugenia speciosa Cambess.sp

arv

Eugenia sphenophylla O. Berg

arb

+

+

Myrcia hebepetala DC.

arv

+

+

Myrcia multiflora (Lam.) DC.sp

arv

Myrcia rufula Miq.sp

arv

Myrcia sp.1

arv

+

Myrcia sp.2

-

+

Myrcia sp.3

-

+

Lanceira

arv

+

Goiaba-brava

arv

Myrcia splendens (Sw.) DC. Myrcia tomentosa (Aubl.) DC.sp Myrciaria floribunda (West ex Willd.) O. Berg Myrciaria sp. Pimenta pseudocaryophyllus (Gomes) Landrumsp Psidium guajava L.ex

BE

+

arv

+

-

+

Craveiro-do-mato/ louro-cravo

arv

Goiaba

arv

+

+

Maria mole/ Maria faceira

arv

+

+

+

+

NYCTAGINACEAE Guapira opposita (Vell.) Reitz PENTAPHYLLACACEAE Ternstroemia brasiliensis Cambess.sp

arv

PERACEAE Pera glabrata (Schott) Baill.

Sapateiro

arv

Pinho-americano

arv

PINACEAE Pinus cf. elliottii Engelm.ex

94

+


...continuação Família, espécie e autoria

Nome popular

Hábito

MD

PD

BE

Erva-de-jaboti

arb

+

+

+

arb

+

+

+

PIPERACEAE Piper aduncun L. Piper amplum Kunth Piper arboreum Aubl.

Pimenta

arb

+

Piper glabratum Kunthsp

arb

Piper martiana Miq.

arb

+

Taquaruçu

arb

+

Bolo-de-folha

arv

+

Carne-de-vaca

arv

+

+

POACEAE Guadua cf. tagoara (Nees) Kunth POLYGONACEAE Coccoloba glaziovii Lindau PROTEACEAE Roupala brasiliensis Klotzsch RHAMNACEAE Hovenia dulcis Thunb.ex Rhamnus sphaerosperma Sw.

arv

+

Canjica

arv

+

Nespereira

arv

+

Pessegueiro-bravo

arv

+

Amora silvestre

arbesc

+

Quina-de São Paulo

arv

+

Café-de-bugre/ carvoeiro

arv

+

Macuqueiro/fumão

arv

+

+

+

+

ROSACEAE Eriobotrya japonica (Thunb.) Lindl.ex Prunus myrtifolia (L.) Urb. Rubus rosifolius Smith.

+

+

RUBIACEAE Alseis floribunda Schott Amaioua intermedia Mart. Bathysa australis (A. St.-Hil.) Benth. & Hook. f. Chomelia obtusa Cham. & Schltdl.sp

arb

Chomelia sp.

arb

Coffea arabica L.ex Coutarea hexandra (Jacq.) K. Schum. Guettarda viburnoides Cham. & Schltdl.

Café

arb

+

Quina/quina-branca/ murta-do-mato

arv

+

Veludo/Angada

arv

+

+

95


...continuação Família, espécie e autoria

Nome popular

Psychotria carthagenensis Jacq.

Psychotria vellosiana Benth.

MD

arb

Psychotria sp. Psychotria suterella Müll. Arg.

Hábito

BE

+

subarb

+

Bolinha-roxa/árvore de beija flor

arv

+

Pasta-d’anta

arb

+

arv

+

Rudgea gardenioides (Cham.) Müll. Arg.

PD

+

+

RUTACEAE Citrus aurantium L.ex

Laranja

arv

Esenbeckia grandiflora Mart.

Guaxupita/pau-de-cutia

arv

+

Zanthoxylum rhoifolium Lam.

Mamica-de-porca/ mamica-de-cadela

arv

+

+

Mamiqueira-fedorenta

arv

Zanthoxylum caribaeum Lam.sp Zanthoxylum petiolare A. St.-Hil. & Tul.sp

+

arv

SALICACEAE Casearia gossypiosperma Briq. Casearia sylvestris Sw. Prockia crucis P. Browne.

Pau-de-espeto

arv

+

+

Guaçatonga

arv

+

+

Guaçatunguinha/ marmeladinha

arb

+

+

Baga-de-morcego

arb

+

+

SAPINDACEAE Allophylus guaraniticus (A.St.-Hil.) Radlk. Cupania ludowigii Somner & Ferruci Cupania vernalis Cambess. Matayba juglandifolia (Cambess.) Radlk.

arv

+

Camboatã

arv

+

+

Caxuá-branca

arv

+

+

Aguaí

arv

+

arv

+

SAPOTACEAE Chrysophyllum marginatum Radlk. Indeterminada SCROPHULARIACEAE Buddleia brasiliensis Jacq.

96

subarb

+


...continuação Família, espécie e autoria

Nome popular

Hábito

MD

PD

BE

Cidreira-da-mata

arb

+

+

+

Cestrum amictum Schltdl.

arb

+

+

Cestrum intermedium Sendtn.sp

arb

Cestrum sendtnerianum Mart.

arb

Solanum conccinum Schott ex Sendt.

arb

SIPARUNACEAE Siparuna cujabana A.DC. SOLANACEAE

+ +

Solanum lycocarpum A St.-Hill.

Lobeira

arv

Solanum pseudoquina A. St.-Hil.

Fumeiro

arv

+

Solanum sanctaecatharinea Dunal

arv

+

Solanum sp.

arv

+

Solanum variabile Mart.

++ +

Jurubeba

arv

++

Boehmeria caudata Sw.

Folha-de-santana/ urtiga-mansa

arb

+

Cecropia glaziovi Snethlage

Embaúba-vermelha

arv

+

+

Cecropia hololeuca Miq.

Embaúba-prateada

arv

+

+

URTICACEAE

Phenax sp. Urera baccifera (L.) Gaudich.

subarb

+

Urtigão

arb

+

Lixeira

arv

+

VERBENACEAE Aloysia virgata (Ruiz & Pav.) Juss. Lantana fucata Lindl.sp Lantana trifolia L.

++

arb Erva-de-grilo

Verbena hirta Spreng.

arb

+

subarb

+

VIOLACEAE Hybanthus atropurpureus (A.St.-Hil.) Taub.

Ganha-saia/ purga-de-veado

Hybanthus cf. bigibbosus (A.St.-Hil.) Hassl.

subarb

+

subarb

+

arv

+

+

VOCHYSIACEAE Vochysia magnifica Warm.

Cinzeiro/caixeta/ pau-de-tucano

+

97


Anexo 2 Relação preliminar de aves registradas na área de estudo. Legenda: Uso de habitat: F: florestal; BA: bordas florestais e/ou áreas abertas; A: aquáticos e/ou palustre; EA: espaço aéreo. Dieta: OGI: onívoro: granívoro e insetívoro; OGF: onívoro: granívoro e filtrador; OFI: onívoro: granívoro e insetívoro; OFC: onívoro: frugívoro e carnívoro; I: insetívoro; C: carnívoro; N: necrófago; G: granívoro; H: herbívoro; IF: insetívoro florestal; NI: nectarívoro e insetívoro. Conservação: * espécie endêmica da Mata Atlântica. Nome em Português

English Name

Hábitat

Dieta

Crypturellus obsoletus (TEMMINCK, 1815)

inhambuguaçu

Brown Tinamou

F

OGI

Crypturellus tataupa (TEMMINCK, 1815)

inhambu-chintã

Tataupa Tinamou

F

OGI

Nothura maculosa (TEMMINCK, 1815)

codorna-amarela

Spotted Nothura

BA

OGI

pé-vermelho

Brazilian Teal

A

OGF

jacuaçu

Dusky-legged Guan

F

OFI

biguá

Neotropic Cormorant

A

C

savacu

Black-crowned Night-Heron

A

C

Bubulcus ibis (LINNAEUS, 1758)

garça-vaqueira

Cattle Egret

BA

C

Ardea alba (LINNAEUS, 1758)

garça-branca-grande

Great Egret

A

C

Egretta thula (MOLINA, 1782)

garça-branca-pequena

Snowy Egret

A

C

Cathartes aura (LINNAEUS, 1758)

urubu-de-cabeça-vermelha

Turkey Vulture

EA

N

Coragyps atratus (BECHSTEIN, 1793)

urubu-de-cabeça-preta

Black Vulture

EA

N

gavião-peneira

White-tailed Kite

BA

C

gavião-carijó

Roadside Hawk

BA

C

Nome do Táxon Tinamidae (GRAY, 1840)

Anatidae (LEACH, 1820) Amazonetta brasiliensis (GMELIN, 1789) Cracidae Rafinesque, 1815 Penelope obscura (TEMMINCK, 1815) Phalacrocoracidae (RAFINESQUE, 1815) Phalacrocorax brasilianus (GMELIN, 1789) Ardeidae (LEACH, 1820) Nycticorax nycticorax (LINNAEUS, 1758)

Cathartidae (LAFRESNAYE, 1839)

Accipitridae (VIGORS, 1824) Elanus leucurus (VIEILLOT, 1818) Rupornis magnirostris (GMELIN, 1788)

98


...continuação Nome em Português

English Name

Hábitat

Dieta

gavião-de-rabo-branco

White-tailed Hawk

BA

C

caracará

Southern Caracara

BA

C

carrapateiro

Yellow-headed Caracara

BA

C

acauã

Laughing Falcon

BA

C

carão

Limpkin

A

C

saracura-do-mato

Slaty-breasted Wood-Rail

A

C

saracura-sanã

Blackish Rail

A

C

sanã-carijó

Ash-throated Crake

A

C

seriema

Red-legged Seriema

BA

C

quero-quero

Southern Lapwing

BA

I

Columbina talpacoti (TEMMINCK, 1811)

rolinha-roxa

Ruddy Ground-Dove

BA

OGI

Patagioenas picazuro (TEMMINCK, 1813)

pombão

Picazuro Pigeon

BA

OGI

pomba-galega

Pale-vented Pigeon

F

OGI

Zenaida auriculata (DES MURS, 1847)

pomba-de-bando

Eared Dove

BA

OGI

Leptotila verreauxi (BONAPARTE, 1855)

juriti-pupu

White-tipped Dove

F

OFI

juriti-gemedeira

Gray-fronted Dove

F

OFI

periquitãomaracanã

White-eyed Parakeet

BA

H

Nome do Táxon Buteo albicaudatus (VIEILLOT, 1816) Falconidae (LEACH, 1820) Caracara plancus (MILLER, 1777) Milvago chimachima (VIEILLOT, 1816) Herpetotheres cachinnans (LINNAEUS, 1758) Aramidae (BONAPARTE, 1852) Aramus guarauna (LINNAEUS, 1766) Rallidae (RAFINESQUE, 1815) Aramides saracura (SPIX, 1825) Pardirallus nigricans (VIEILLOT, 1819) Porzana albicollis (VIEILLOT, 1819) Cariamidae (BONAPARTE, 1850) Cariama cristata (LINNAEUS, 1766) Charadriidae (LEACH, 1820) Vanellus chilensis (MOLINA, 1782) Columbidae (LEACH, 1820)

Patagioenas cayennensis (BONNATERRE, 1792)

Leptotila rufaxilla (RICHARD & BERNARD, 1792) Psittacidae (RAFINESQUE, 1815) Aratinga leucophthalma (MÜLLER, 1776)

99


...continuação Nome em Português

English Name

Hábitat

Dieta

periquito-deencontro-amarelo

Yellow-chevroned Parakeet

BA

H

alma-de-gato

Squirrel Cuckoo

BA

I

anu-preto

Smooth-billed Ani

BA

I

anu-branco

Guira Cuckoo

BA

I

saci

Striped Cuckoo

BA

I

corujinha-do-mato

Tropical Screech-Owl

BA

I

Nyctidromus albicollis (GMELIN, 1789)

bacurau

Pauraque

BA

I

Caprimulgus parvulus (GOULD, 1837)

bacurau-chintã

Little Nightjar

BA

I

rabo-branco-acanelado

Planalto Hermit

BA

NI

beija-flor-tesoura

Swallow-tailed Hummingbird

BA

NI

Thalurania glaucopis (GMELIN, 1788)

beija-flor-de-fronte-violeta *

Violet-capped Woodnymph

F

NI

Aphantochroa cirrochloris (VIEILLOT, 1818)

beija-flor-cinza

Sombre Hummingbird

BA

NI

Leucochloris albicollis (VIEILLOT, 1818)

beija-flor-de-papo-branco

White-throated Hummingbird

BA

NI

Megaceryle torquata (LINNAEUS, 1766)

martim-pescador-grande

Ringed Kingfisher

A

C

Chloroceryle amazona (LATHAM, 1790)

martim-pescador-verde

Amazon Kingfisher

A

C

joão-bobo

White-eared Puffbird

BA

I

tucanuçu

Toco Toucan

BA

OFC

Nome do Táxon Brotogeris chiriri (VIEILLOT, 1818) Cuculidae (LEACH, 1820) Piaya cayana (LINNAEUS, 1766) Crotophaga ani (LINNAEUS, 1758) Guira guira (GMELIN, 1788) Tapera naevia (LINNAEUS, 1766) Strigidae (LEACH, 1820) Megascops choliba (VIEILLOT, 1817) Caprimulgidae (VIGORS, 1825)

Trochilidae (VIGORS, 1825) Phaethornis pretrei (LESSON & DELATTRE, 1839) Eupetomena macroura (GMELIN, 1788)

Alcedinidae (RAFINESQUE, 1815)

Bucconidae (HORSFIELD, 1821) Nystalus chacuru (VIEILLOT, 1816) Ramphastidae (VIGORS, 1825) Ramphastos toco (MÜLLER, 1776)

100


...continuação Nome em Português

English Name

Hábitat

Dieta

Picumnus temminckii (LAFRESNAYE, 1845)

pica-pau-anão-de-coleira

Ochre-collared Piculet

F

IF

Melanerpes candidus (OTTO, 1796)

birro, pica-pau-branco

White Woodpecker

BA

OFI

Veniliornis spilogaster (WAGLER, 1827)

picapauzinho-verde-carijó

White-spotted Woodpecker

F

IF

Colaptes campestris (VIEILLOT, 1818)

pica-pau-do-campo

Campo Flicker

BA

I

pica-pau-de-cabeça-amarela

Blond-crested Woodpecker

F

IF

Dryocopus lineatus (LINNAEUS, 1766)

pica-pau-de-banda-branca

Lineated Woodpecker

F

IF

Campephilus robustus (LICHTENSTEIN, 1818)

pica-pau-rei *

Robust Woodpecker

F

IF

Thamnophilus caerulescens (VIEILLOT, 1816)

choca-da-mata

Variable Antshrike

F

IF

Thamnophilus ruficapillus (VIEILLOT, 1816)

choca-de-chapéu-vermelho

Rufous-capped Antshrike

BA

I

Pyriglena leucoptera (VIEILLOT, 1818)

papa-taoca-do-sul *

White-shouldered Fire-eye

F

IF

arapaçu-verde

Olivaceous Woodcreeper

F

IF

arapaçu-rajado *

Lesser Woodcreeper

F

IF

chupa-dente

Rufous Gnateater

F

IF

joão-de-barro

Rufous Hornero

BA

I

pichororé *

Rufous-capped Spinetail

F

IF

uí-pi

Pale-breasted Spinetail

BA

I

joão-teneném

Spix’s Spinetail

BA

I

Nome do Táxon Picidae (LEACH, 1820)

Celeus flavescens (GMELIN, 1788)

Thamnophilidae (SWAINSON, 1824)

Dendrocolaptidae (GRAY, 1840) Sittasomus griseicapillus (VIEILLOT, 1818) Xiphorhynchus fuscus (VIEILLOT, 1818) Conopophagidae (SCLATER; SALVIN, 1873) Conopophaga lineata (WIED, 1831) Furnariidae (GRAY, 1840) Furnarius rufus (GMELIN, 1788) Synallaxis ruficapilla (VIEILLOT, 1819) Synallaxis albescens (TEMMINCK, 1823) Synallaxis spixi (SCLATER, 1856)

101


...continuação Nome em Português

English Name

Hábitat

Dieta

Syndactyla rufosuperciliata (LAFRESNAYE, 1832)

trepador-quiete

Buff-browed Foliage-gleaner

F

IF

Automolus leucophthalmus (WIED, 1821)

barranqueiro-de-olho-branco

White-eyed Foliage-gleaner

F

IF

Lochmias nematura (LICHTENSTEIN, 1823)

joão-porca

Sharp-tailed Streamcreeper

F

IF

bico-virado-carijó

Streaked Xenops

F

IF

abre-asa-de-cabeça-cinza *

Gray-hooded Flycatcher

F

IF

cabeçudo

Sepia-capped Flycatcher

F

IF

tororó

Ochre-faced Tody-Flycatcher

F

IF

Todirostrum poliocephalum (WIED, 1831)

teque-teque *

Yellow-lored Tody-Flycatcher

F

IF

Todirostrum cinereum (LINNAEUS, 1766)

ferreirinho-relógio

Common Tody-Flycatcher

BA

I

Elaenia flavogaster (THUNBERG, 1822)

guaracava-de-barriga-amarela

Yellow-bellied Elaenia

BA

OFI

risadinha

Southern Beardless-Tyrannulet

BA

OFI

Tolmomyias sulphurescens (SPIX, 1825)

bico-chato-de-orelha-preta

Yellow-olive Flycatcher

F

IF

Platyrinchus mystaceus (VIEILLOT, 1818)

patinho

White-throated Spadebill

F

IF

filipe

Bran-colored Flycatcher

BA

OFI

enferrujado

Euler’s Flycatcher

F

IF

Knipolegus lophotes (BOIE, 1828)

maria-preta-de-penacho

Crested Black-Tyrant

BA

I

Xolmis velatus (LICHTENSTEIN, 1823)

noivinha-branca

White-rumped Monjita

BA

I

Fluvicola nengeta (LINNAEUS, 1766)

lavadeira-mascarada

Masked Water-Tyrant

BA

I

Nome do Táxon

Xenops rutilans (TEMMINCK, 1821) Tyrannidae (VIGOR, 1825) Mionectes rufiventris (CABANIS, 1846) Leptopogon amaurocephalus (TSCHUDI, 1846) Poecilotriccus plumbeiceps (LAFRESNAYE, 1846)

Camptostoma obsoletum (TEMMINCK, 1824)

Myiophobus fasciatus (MÜLLER, 1776) Lathrotriccus euleri (CABANIS, 1868)

102


...continuação Nome em Português

English Name

Hábitat

Dieta

freirinha

White-headed Marsh-Tyrant

A

I

Machetornis rixosa (VIEILLOT, 1819)

suiriri-cavaleiro

Cattle Tyrant

BA

I

Myiozetetes similis (SPIX, 1825)

bentevizinho-de-penacho-vermelho

Social Flycatcher

BA

OFI

Pitangus sulphuratus (LINNAEUS, 1766)

bem-te-vi

Great Kiskadee

BA

OFI

Myiodynastes maculatus (MÜLLER, 1776)

bem-te-vi-rajado

Streaked Flycatcher

BA

OFI

Megarynchus pitangua (LINNAEUS, 1766)

neinei

Boat-billed Flycatcher

BA

OFI

Empidonomus varius (VIEILLOT, 1818)

peitica

Variegated Flycatcher

BA

OFI

Tyrannus melancholicus (VIEILLOT, 1819)

suiriri

Tropical Kingbird

BA

OFI

tesourinha

Fork-tailed Flycatcher

BA

OFI

irré

Swainson’s Flycatcher

BA

OFI

maria-cavaleira

Short-crested Flycatcher

BA

OFI

tangará-dançarino *

Blue Manakin

F

OFI

caneleiro-preto

White-winged Becard

BA

OFI

Cyclarhis gujanensis (GMELIN, 1789)

pitiguari

Rufous-browed Peppershrike

BA

I

Vireo olivaceus (LINNAEUS, 1766)

juruviara

Red-eyed Vireo

BA

I

gralha-do-campo

Curl-crested Jay

BA

OFI

andorinha-pequena-de-casa

Blue-and-white Swallow

EA

I

Nome do Táxon Arundinicola leucocephala (LINNAEUS, 1764)

Tyrannus savana (VIEILLOT, 1808) Myiarchus swainsoni (CABANIS; HEINE, 1859) Myiarchus ferox (GMELIN, 1789) Pipridae (RAFINESQUE, 1815) Chiroxiphia caudata (SHAW; NODDER, 1793) Tityridae (GRAY, 1840) Pachyramphus polychopterus (VIEILLOT, 1818) Vireonidae (SWAINSON, 1837)

Corvidae (LEACH, 1820) Cyanocorax cristatellus (TEMMINCK, 1823) Hirundinidae (RAFINESQUE, 1815) Pygochelidon cyanoleuca (VIEILLOT, 1817)

103


...continuação Nome em Português

English Name

Hábitat

Dieta

andorinha-serradora

Southern Rough-winged Swallow

EA

I

corruíra

Southern House-Wren

BA

I

Turdus rufiventris (VIEILLOT, 1818)

sabiá-laranjeira

Rufous-bellied Thrush

BA

OFI

Turdus leucomelas (VIEILLOT, 1818)

sabiá-barranco

Pale-breasted Thrush

BA

OFI

sabiá-poca

Creamy-bellied Thrush

BA

OFI

sabiá-do-campo

Chalk-browed Mockingbird

BA

I

cambacica

Bananaquit

BA

NI

Trichothraupis melanops (VIEILLOT, 1818)

tiê-de-topete

Black-goggled Tanager

F

IF

Tachyphonus coronatus (VIEILLOT, 1822)

tiê-preto

Ruby-crowned Tanager

BA

OFI

Ramphocelus carbo (PALLAS, 1764)

pipira-vermelha

Silver-beaked Tanager

BA

OFI

Thraupis sayaca (LINNAEUS, 1766)

sanhaçu-cinzento

Sayaca Tanager

BA

OFI

Tangara cayana (LINNAEUS, 1766)

saíra-amarela

Burnished-buff Tanager

BA

OFI

figuinha-de-rabo-castanho

Chestnut-vented Conebill

BA

OFI

tico-tico

Rufous-collared Sparrow

BA

OGI

tico-tico-do-campo

Grassland Sparrow

BA

OGI

Nome do Táxon Stelgidopteryx ruficollis (VIEILLOT, 1817) Troglodytidae (SWAINSON, 1831) Troglodytes musculus (NAUMANN, 1823) Turdidae (RAFINESQUE, 1815)

Turdus amaurochalinus (CABANIS, 1850) Mimidae (BONAPARTE, 1853) Mimus saturninus (LICHTENSTEIN, 1823)

Coerebidae (D’ORBIGNY; LAFRESNAYE, 1838) Coereba flaveola (LINNAEUS, 1758) Thraupidae (CABANIS, 1847)

Conirostrum speciosum (TEMMINCK, 1824) Emberizidae (VIGORS, 1825) Zonotrichia capensis (MÜLLER,1776) Ammodramus humeralis (BOSC, 1792)

104


...continuação Nome em Português

English Name

Hábitat

Dieta

tipio

Grassland Yellow-Finch

BA

OGI

canário-do-campo

Wedge-tailed Grass-Finch

BA

OGI

Volatinia jacarina (LINNAEUS, 1766)

tiziu

Blue-black Grassquit

BA

OGI

Sporophila lineola (LINNAEUS, 1758)

bigodinho

Lined Seedeater

BA

OGI

Sporophila caerulescens (VIEILLOT, 1823)

coleirinho

Double-collared Seedeater

BA

OGI

tico-tico-do-mato

Half-collared Sparrow

F

OGI

trinca-ferro-verdadeiro

Green-winged Saltator

BA

OFI

Parula pitiayumi (VIEILLOT, 1817)

mariquita

Tropical Parula

BA

I

Geothlypis aequinoctialis (GMELIN, 1789)

pia-cobra

Masked Yellowthroat

BA

I

Basileuterus culicivorus (DEPPE, 1830)

pula-pula

Golden-crowned Warbler

F

IF

pula-pula-assobiador

White-browed Warbler

F

IF

graúna

Chopi Blackbird

BA

OGI

chopim-do-brejo

Yellow-rumped Marshbird

BA

OGI

Carduelis magellanica (VIEILLOT, 1805)

pintassilgo

Hooded Siskin

BA

OGI

Euphonia chlorotica (LINNAEUS, 1766)

fim-fim

Purple-throated Euphonia

BA

OFI

Nome do Táxon Sicalis luteola (SPARRMAN, 1789) Emberizoides herbicola (VIEILLOT, 1817)

Arremon semitorquatus (SWAINSON, 1838) Cardinalidae (RIDGWAY, 1901) Saltator similis (D’ORBIGNY; LAFRESNAYE 1837) Parulidae (WETMORE et al., 1947)

Basileuterus leucoblepharus (VIEILLOT, 1817) Icteridae (VIGORS, 1825) Gnorimopsar chopi (VIEILLOT, 1819) Pseudoleistes guirahuro (VIEILLOT, 1819) Fringillidae (LEACH, 1820)

105


Anexo 3 Lista de siglas

106

CR

Criticamente em perigo de extinção

DAP

Diâmetro do fuste à altura do peito (1,3 m acima do nível do solo)

EP

Em perigo de extinção

ESALQ

Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”

EX

Extinto na natureza

FES

Floresta Estacional Semidecidual

FOD

Floresta Ombrófila Densa

GPS

Global Positioning System

IBAMA

Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

IBGE

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IUCN

União Internacional de Conservação da Natureza

NT

Provavelmente ameaçada de extinção

QP

Quase em Perigo de extinção

PAP

Perímetro à altura do peito (1,3 m acima do nível do solo)

SABESP

Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo

SMA

Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo

SNUC

Sistema Nacional de Unidades de Conservação

TNC

The Nature Conservancy

UNICAMP

Universidade Estadual de Campinas

USP

Universidade de São Paulo

VU

Vulnerável à extinção





FSC


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