15 minute read
fanny Kuhn
Desde que a atleta sueca Fanny Kuhn completou a sua primeira prova de SwimRun em 2014, nunca mais olhou para trás, vencendo várias provas com a sua parceira de SwimRun, Desiree Andersson - incluindo o Campeonato do Mundo “ÖtillÖ” em 2019, que consiste em 10 km de natação e 65 km de corrida em trilhos, divididos em 23 transições.
No entanto, esta ex-nadadora profissional, de personalidade alegre e aberta à comunicação, não se contenta apenas em competir – embarcou numa “missão” para incentivar mulheres e jovens a experenciarem o SwimRun através da WILD SwimRun, uma plataforma que lançou juntamente com a sua companheira de natação Maria Rohman, que oferece campos de treino de SwimRun exclusivos para mulheres, com aconselhamento técnico e ajuda através de uma comunidade online.
Advertisement
Quem é o “SwimRunner”?
É alguém que está disposto a aventuras, que adora o trabalho em equipa e se sente ativo e realizado na natureza. Qualquer um pessoa pode experimentar o SwimRun, é que tem de melhor este desporto: podes sempre praticá-lo ao teu nível.
Qual a importância do desporto para ti nos dias de hoje?
É uma parte muito importante da minha vida, tanto para me manter saudável mas também em termos sociais, e claro, para manter minha mente sã.
E porquê o SwimRun?
Porque eu adoro a aventura que está associada ao SwimRun e todas as possibilidades que tenho de poder nadar e viajar para lugares diferentes. Além disso, toda a comunidade em torno de SwimRun é fantástica e muito afável, e eu realmente concordo com todos os valores que ela modalidade representa no seu entorno geral, tais como a saúde, a natureza, a sustentabilidade e camaradagem.
Como passaste de nadadora de piscina para atleta de SwimRun?
Após minha carreira de natação na faculdade nos Estados Unidos (fui para a Universidade de Louisville e nadei pela equipa de natação da I Divisão), queria experimentar um novo desafio. Então, entrei para uma equipa de triatlo para experimentar e lá conheci outro ex-nadador, Pär Kristoffersson, que me falou pela primeira vez sobre SwimRun. Um dia, ele perguntou-me se queria entrar numa prova como sua parceira. O desafio era o ÖTILLÖ Utö SwimRun, a distância total. Eu corria somente 10km de cada vez e nessa prova, só os segmentos de corrida totalizaram 35km. Foi doloroso, frio e completamente maravilhoso. É espetacular poder estar na natureza e também partilhar a experiência com um amigo em equipa. Foi uma experiência especial e acabámos ainda por conseguir vencer a corrida, embora digamos que não foi por causa das minhas habilidades de corrida! Lembro-me também perfeitamente no final, as minhas costas cederam e tinha imensas câimbras nas pernas, e o Pär teve que literalmente me puxar até à meta (não usamos corda nessa altura). Desde então, sou completamente viciada neste desporto!
O que dirias a alguém que não tem a mínima ideia do que é o SwimRun, para convencê-lo a experimentar?
Que podes praticá-lo com um amigo e que não precisa ser longo ou difícil, se não quiseres. É só sair lá para fora e desfrutar da natureza!
De onde és? Sabemos que te mudaste recentemente para Espanha. Como está a correr a tua vida e trabalho?
Sou originária da Suécia, nascida e criada em Huddinge, nos arredores de Estocolmo. Atualmente, moro em Barcelona há mais de 4 anos, o tempo passa muito rápido. Eu realmente amo tudo aqui e não é apenas pelo clima. A cidade tem tudo – há sempre muitas coisas para fazer e estás perto quer do oceano para nadar e da montanha para correres em trilhos. Por isso, as condições de treino são excelentes. Eu também amo a cultura aqui. Eu acho que aos poucos me ajudou a ser mais relaxada como pessoa à medida que me fui adaptando ao estilo de vida catalão. Tens que ter um pouco mais de paciência e aceitar as coisas à medida que avanças.
Tens patrocinadores ou parceiros? Que papel desempenham eles para ti como SwimRunner?
Sim, tenho uma parceria com a Vivobarefoot, uma marca de calçado minimalista e com a HEAD Swimming para o meu equipamento SwimRun. A Vivobarefoot é também o nosso principal parceiro no meu projeto “WILD SwimRun”.
Na tua opinião, de que forma o desporto ajuda na vida?
Eu acho que o desporto ajuda em todas as áreas da vida, cobrindo uma variedade de necessidades básicas: relaxar, restaurar a mente, aptidão física, cariz social para treinar com amigos, autorrealização e, claro para o SwimRun, também para nos conectar com a natureza.
Qual é o papel da tua família nos teus resultados?
Sim, eu tenho um marido incrível (Jonathan) que apoia tudo o que faço, mas que também me leva ao mundo real sempre que é necessário e me acalma quando é hora de descansar, uma vez como eu sou uma pessoa “sempre ligada”. Então isto é mesmo fundamental para o equilíbrio da minha vida. A minha mãe Kerstin e meu pai Peter, assim como minha irmã Anna, sempre deram muito apoio nos meus desportos. Especialmente nos dias de natação, meus pais sempre me acompanhavam nos e passavam o fim de semana nas piscinas dando apoio e incentivo a mim e à minha irmã Anna quando competíamos. Agora com o SwimRun, eles vêm sempre apoiar-me nas competições caso estejam pela Suécia. É incrível ter o apoio deles. Para o ÖtillÖ WC, eles trouxeram inclusive um barco para nos seguir ao longo do percurso. A minha irmã também costuma estar com eles na claque de apoio!
Qual é a parte mais difícil no caminho para o primeiro lugar?
A automotivação nos momentos difíceis em que não quero treinar, dizer não a outras coisas da vida quando é necessário ou quando tens um dia mau numa competição.
Como geres um “mau momento” durante uma prova com o teu parceiro?
Com a minha parceira Desiree, tentamos conversar e incentivar-nos uma à outra. Somos ambas pessoas muito positivas, o que na minha opinião ajuda imenso. Mas o mais importante é falar sobre isso e gerenciar bem a tua comunicação. Se a Desiree me diz que está a ter um mau momento, eu tento animá-la e talvez dar-lhe um gel para um boost de energia!
Existe algo que te assuste sobre SwimRun? E algo que lhe dá segurança?
O meu parceiro dá-me segurança. No SwimRun tu nunca estás sozinho e isso faz-me sentir forte. Não posso dizer que há algo que me assusta. Talvez durante o treino eu não goste muito de nadar no mar sozinha. Mas isso também não faz parte do SwimRun! Às vezes fico preocupada quando na vespera de uma prova não me sinta a 100%, pois tenho receio não estar no meu melhor nível no dia seguinte.
Tens treinador de SwimRun ou treinas por ti própria?
Não tenho um treinador pessoal para ser honesta. Treino com um treinador no meu grupo de Natação aqui em Barcelona e agora entrei para um grupo de corrida em trilha que também tem um treinador. Tenho tido também ajuda e dicas de amigos experientes ao longo do caminho.
Tem vindo a aparecer cada vez mais equipas profissionais nos últimos anos. Isso significa que o Swimrum está a tornar-se cada vez mais competitivo?
Sim, se olharmos para o desenvolvimento nos últimos anos, a concorrência está a crescer rapidamente. À medida que mais pessoas descobrem o SwimRun, os atletas de maior nível competitivo de outros desportos (triatlo, natação, trailrunning) mostram interesse em participar e aí teremos uma competição mais acesa. Eu penso que isso é necessário e irá ajudar o SwimRun a crescer exponencialmente.
Como é atravessar a linha de meta em primeiro?
É incrível e sinto sempre uma sensação de realização, como se eu tivesse vindo e feito o que deveria fazer. Partilhá-lo com a Desiree é a melhor parte.
Já tiveste que sacrificar algo para ganhar o campeonato do mundo?
Sim, mas eu não chamaria isso de sacrifício, mas sim mais uma escolha. Essa opção foi dedicar mais tempo ao treino em vez de dedicar à família e aos amigos, e escolher viagens de SwimRun em detrimento de outras possibilidades. Acho que essa é provavelmente a escolha mais difícil - às vezes sintome egoísta quando treino demais e digo não a outros eventos ou oportunidades divertidas de viajar ou experimentar coisas novas com amigos / família. Às vezes é possível combinar treinando e viajando com amigos, mas nem sempre.
Tens alguma prova favorita? O WC Otillo é um evento especial? Porquê?
Hmm não, acho que não consigo escolher uma! Acho que o fascínio por SwimRun é viajar para muitos lugares diferentes e obter as boas vibrações da natureza. O OTILLO é definitivamente uma das provas mais especiais que já fiz. A extensão do percurso contribui para a aura desafiadora em torno deste evento, e é muito especial passar a noite anterior perto da linha de partida e também permanecer em Utö após a prova. Creio que estas particularidades amplificam ainda mais a experiência e tornam única a partilha com os outros atletas.
Como é a tua semana tipica de treino na temporada de verão? E fora de época competitiva?
Agora, durante este período de Covid, certamente foi diferente! Mas numa temporada alta dita normal, faço 3-4 sessões de natação, 3-4 corridas e 2 sessões de força / flexibilidade ou ioga. Isto é o volume que acho razoável que encaixa no meu dia a dia e no trabalho. No “off season”, diminuo o volume de treino de corrida, pratico mais yoga e vou experimentando outras formas divertidas de treino.
Que tipo de treino de corrida costumas realizar?
As corridas durante a semana faço-as normalmente no asfalto. Elas têm cerca de uma hora de duração e normalmente sempre com um propósito especifico, como treino intervalado por exemplo. Para corridas mais longas, aí sim vou para trilhos ou estradões. Para ser sincera, não gosto muito de correr na cidade e nas estradas.
O que eu realmente gosto é entrar no comboio até o Parque Nacional Colserolla nas montanhas ao redor de Barcelona e perder-me nos trilhos íngremes lá em cima. Corrida em trilhos é mais uma aventura, nunca sabes o que vai aparecer de excitante no percurso!
E em relação ao volume de treino de natação em águas abertas versus treino em piscina?
No verão, tento fazer o máximo possível de sessões de águas abertas, porque é o que mais amo. Mas vou mantendo pelo menos uma sessão na piscina, pois acho que é bom para apurar a técnica e praticar velocidade. Normalmente, treino em grupo nas minhas sessões na piscina, misturando equipamento e nadando sem ele. É importante realizar sessões de natação sem equipamento para não perderes a tua
O que é mais importante no teu processo de treino?
Penso que é importante encontrar uma rotina e algo que se encaixe na tua vida quotidiana e que gostes e te dê energia extra. Para alcançar objetivos mais ambiciosos, tens que te esforçar também de forma inteligente – ter um objetivo especifico para cada sessão de treino. Para mim, acho que o meu grupo de treino também é muito importante. Preciso de pessoas que sejam um pouco melhores que eu ou semelhantes para treinar. Desta forma alcanço sempre outro patamar quando estou perante um treino difícil na piscina ou nas montanhas, junto de um amigo ou companheiro de equipa.
Uma das questões-chave nas provas de SwimRun é a nutrição. Podes nos contar um como de como isso funciona para ti antes e na corrida?
Sou um pouco “nerd” em relação ao tema saúde e gosto de comer alimentos naturais e coloridos. Tento comer alimentos que não sejam importados de muito longe e orgânicos sempre que estão disponíveis. Tenho por hábito alimentar-me de forma variada e não mudo muito a minha dieta antes de uma prova. Normalmente, como aveia com manteiga de amendoim no café da manhã e tomo um pouco de hidratação. Durante a prova, tomo alguns géis mas também costumo usar a comida regular nos postos de abastecimentos.
Quão forte é a rivalidade na categoria feminina?
Ainda não é tão intensa quanto na categoria dos homens, mas acho que está a ficar cada vez mais competitiva cada ano que passa, o que é emocionante.
Fala nos um pouco sobre a tua companheira de equipa, Desiree Andersson. Sempre competiste em dupla feminina? De que forma comunicam numa prova? Costumam usar corda? Que equipamento costumas usar em prova?
Estou tão feliz por poder correr com Desiree. Ela é ótima, sempre positiva e tem uma incrível força e atitude de resistência que a mantêm ativa em qualquer prova como uma rainha. Antes de conhecer Desiree, também participei na categoria mista - com meu amigo nadador sueco Pär Kristoffersson. Corri também com outros parceiros também, é sempre divertido e uma experiência diferente, um desafio e trabalho em equipa. Quando eu e a Desiree estamos em prova, não usamos muito a corda. Raramente na água, às vezes apenas no segmento de corrida, quando estou realmente cansada. A Desiree tem vindo a melhorar bastante a sua corrida e acredito que em breve talvez eu não a Normalmente, estabeleço metas para cada ano, mas tenho algumas coisas que quero realizar em geral na minha vida. Eu acho que, no curso da vida, algumas vão mudar e cada coisa acontece a seu tempo.
Quero continuar esta linha empreendedora da minha carreira profissional, fazer um doutoramento em media/marketing em determinado momento e ter filhos e a minha própria família um dia. Gostaria de continuar a trabalhar na área do desporto /saúde e continuar a inspirar outras pessoas a serem ativas, além de ajudar o SwimRun a tornar-se um desporto reconhecido no mundo. Espero que possa ser lembrada como uma pessoa feliz e inspiradora!
O que te faz feliz?
O meu marido, a natação, o SwimRun , aprender coisas novas, a minha família, resolver problemas, criar experiências para outras pessoas, realizações, pipocas ... e muito mais! Eu tento sempre dar o meu melhor e olhar para o lado bom das coisas.
Conta-nos um pouco sobre o projeto “WILD SwimRun”. Qual é a ideia e a missão principal?
Com o WILD SwimRun, temos como missão atrair cada vez mais pessoas para o SwimRun - especialmente para que mais mulheres experimentem o desporto. Acreditamos que o desporto e o SwimRun, em particular, porque potenciamos ao máximo o contacto com o elemento natureza, tem o poder de tornar uma pessoa invencível. Tanto eu como a minha parceira neste projeto, Maria Rohman, sentimos que temos muito que agradecer pelo envolvimento no desporto SwimRun nas nossas vidas, e como tal, queremos que outros beneficiem também disso. Acho que o SwimRun é um desporto bastante equilibrado, mas em geral, há ainda muito poucas mulheres praticando desportos de resistência. Queremos mudar isso e realizar com elas os nossos eventos e atividades, facilitando desta forma as etapas iniciais e integrando cada vez mais mulheres no nosso desporto. Com a Comunidade WILD, nosso Clube WILD e a Equipa WILD, estamos a construir uma comunidade em que qualquer mulher, independentemente do seu nível de desportivo / ambição, pode participar e experimentar o SwimRun.
Acreditas que Portugal poderia ser um possível destino para os campos de treino WILD SwimRun?
Absolutamente, devíamos explorar isso!! Gostamos sempre de visitar os locais dos nossos campos de treino antes de executar os nossos cursos e claro garantir que o hotel, as instalações e o ambiente envolvente se encaixam naquilo que pretendemos fazer. Portanto, se têm alguns locais que nos possam recomendar, podemos definitivamente ver Portugal como destino.
Durante o recente bloqueio do Covid-19, de que forma conseguiste manter-te mental e fisicamente saudável? O que conseguiste aprender sobre ti própria nestes últimos meses?
Foi um desafio muito difícil. Eu tive os meus dias maus mas também dias bons. No entanto, uma situação como essa coloca as coisas em perspectiva: mas foi-nos retirada a liberdade de simplesmente sair à rua para passear, o que me afetou mais! Vindo isto de uma maior perspectiva, nós, como atletas, não podemos ser egoístas e reclamarmos que não podemos treinar quando as pessoas estão a esforçar-se imenso para combater a pandemia.
Para manter a minha sanidade, realizei muitos treinos funcionais on-line e sessões de força em casa. Tentei correr um pouco nas escadas, mas também me concentrei em outras matérias, tais como aprender coisas novas e terminar projetos que estavam um pouco na gaveta. Acho que iremos ver diferentes formatos de provas, algumas mais pequenas em número de participantes e até mais locais mas também iremos assistir às Virtual Races, por exemplo. Este formato é um pouco mais desafiante no SwimRun, mas estamos a tentar organizar um evento com a Race.se, que podes ver aqui neste link e participar! (https://race.se/en/races/6897/about)
As viagens entre países irão estar ainda condicionadas por mais algum tempo do que pensamos pelo que irá ser mais difícil chegar aos destinos para competir. Eu realmente espero que possamos voltar ao normal em breve!
Que provas de SwimRun ainda esperas realizar este ano?
Não tenho a certeza para ser honesta devido a toda a situação, teremos que aguardar e ver!
O SwimRun em Portugal ainda é um desporto muito recente e pequeno mas certamente irá crescer no futuro. Como vês a expansão do SwimRun para países mais a sul da Europa?
Sim, eu tenho acompanhado de perto em Espanha, onde moro. Creio que estes países estão cerca de cinco anos atrás do desenvolvimento sueco mas está a ficar cada vez mais popular, o que é muito divertido de ver. Eu creio que em França foi onde mais rapidamente o SwimRun levantou voo.
Alguma curiosidade sobre o nosso calendário de provas de SwimRun em gostasses de competir?
Sim, já ouvi falarem sobre os diferentes locais em que a SwimRun Portugal organiza eventos, e estou muito curiosa.
Eu também vos sigo no Instagram e as imagens desses spots SwimRun parecem muito apelativos. Se eu tivesse que escolher um destino, acho que os Açores seriam um deles porque me parecem ser muito interessantes e deslumbrantes!
Podem acompanhar o dia a dia de treino e as provas da Fanny através dos seus canais de social media:
website: www.fannyfromswe.com
Para saber mais sobre o WILD SwimRun, visite www.wildwomenSwimRun.com ou siga em www.instagram.com/wildSwimRun.
Que podes praticá-lo com um amigo e que não precisa ser longo ou difícil, se não quiseres. É só sair lá para fora e desfrutar da natureza!