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training camp zêzere

Treino/reconhecimento do Zêzere, ou como apaixonar-se pelo SwimRun?

Três SwimRunistas com níveis e expectativas muito diferentes, vieram treinar com a SwimRun Portugal. A primeira, Karine VIE, mal sabe nadar mas gosta de trail e de acompanhar os filhos e o esposo nas aventuras desportivas deles para partilhar e perceber melhor e mais intensamente o que eles sentem. A segunda, Catarina de Brandão Barroca, é treinadora de Sup paddle, pratica surf, nada bem e adora estar na água. Descobriu há um ano o BTT e o trail com o objetivo de se preparar melhor para as provas de Sup paddle. Duas amigas completamente diferentes a nível desportivo, reunidas pela versatilidade do SwimRun. Por fim, a Alexandra Martinho, atleta de triatlo do Alhandra Sporting Club.

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Karine VIE

Eu nunca estive muito à vontade na água. Uma vez quando era muito nova quase me afoguei. Desde então, fiquei com medo da água. Apenas aprendi a nadar aos 13 anos, em Espanha num piscina. O que explica o facto de me sentir segura apenas em piscina. Praticar SwimRun foi para mim uma catarse, uma forma de ultrapassar os meus medos e limitações impostas por estes medos.

Depois de acompanhar a Pauline no SwimRun de Monsaraz em maio 2019, e de assistir à prova dela, fiquei simplesmente encantada. Eu que já adorava o Trail, ver que os participantes tinham a oportunidade de nadar de vez em quando e desta forma refrescar-se pareceu-me uma ideia genial. Cometi o “erro” de dizer à TeamVie que gostaria de experimentar. Dito e feito! Fui embarcada: treinos de natação 3 vezes por semana, para além dos treinos de corrida.

Em setembro 2019, realizei o meu primeiro treino de SwimRun em Setúbal. Fui para lá cheia de medo. Na altura nadava apenas bruços e não conseguia fazer mais de 25 metros de crawl. No

entanto, o treino reconfortou-me. O percurso e as distâncias eram bem pensadas. Mesmo sendo a última do grupo, todos, nadadores e staff (canoas, e orientadores...) Foram tão pacientes, atenciosos e descontraídos que pude treinar sem pressão e considerar fazer uma prova de SwimRun.

Em março, estava na linha de partida do SwimRun dos Açores. Ondas, correntes, frio dentro e fora de água, e uma hipotermia. A aventura acabou com um DNF rico em aprendizagens para nós todos. Para ter esperança de acabar um SwimRun, iria ter que rever toda a estratégia de treino e melhorar se possível a técnica. Mas o medo de nadar no mar , ainda presente, já não era maior do que a minha força de vontade.

Depois chegou o COVID… A impossibilidade de treinar em piscina pôs em evidência, um problema maior: a diferença de nível e a angústia de ficar sozinha em águas abertas. A solução a mais evidente, e completamente em acordo com o espírito do SwimRun, era tentar nadar em dupla. Mas ainda era preciso encontrar alguém que nadasse bem e em quem tivesse confiança suficiente, mas que quisesse renunciar a uma dupla do seu nível ou a uma prova solitária. A decisão que Jean-Michel, o meu esposo, ocupasse este posto impôsse progressivamente com o passar dos treinos.

O treino/reconhecimento de SwimRun do Zêzere chegou num momento chave: estávamos cansados dos treinos desde março ao nascer do sol, sozinhos para evitar contacto social a fim de não colocar os outros nem nós próprios em perigo.

Este reconhecimento permitiu-nos avaliar os progressos no segmento de natação num rio e de correr com o cabo pela primeira vez. O sítio, o tempo e a temperatura e claridade da água, eram ideais. O início dos treinos estava marcado para às 9h, na partida da praia fluvial de Aldeia do Mato ainda não havia ninguém. Éramos os únicos. Foi o mesmo caso para cada segmento, pois uma das características do SwimRun é justamente de correr e nadar em locais pouco acessíveis. O ambiente de camaradagem e boa disposição dos participantes e da equipa de enquadramento seguia sendo o mesmo do que nos treinos e provas anteriores. Também vínhamos com a vontade de mostrar a disciplina a duas amigas, Xana e Catarina, e com o desejo de que elas gostassem. E a magia operou mais uma vez, como pôde-se ver no testemunho da Catarina.

Catarina de Brandão Barroca

“SwimRun, um fim de semana em família” como alguém no grupo disse. E, por acaso, foi essa a sensação.

O fim de semana foi organizado com o objectivo de fazer um treino/reconhecimento do percurso e o espírito foi de entreajuda, claro, com momentos onde todos fizemos o “gosto ao dedo” numa pequena aceleração de ritmo tanto a nadar como a correr. Não fôssemos nós atletas…Mas no final de cada segmento lá estávamos todos reunidos de novo. Quem quis ficou na água e fez mais uma ida e volta enquanto alguns acabavam o segmento e o mesmo se passou com a corrida.

No sábado fizemos um percurso mais longo e, por isso, mais divertido. No último segmento, que era feito na água, e no grupo onde eu estava, percebemos que nós tínhamos perdido uns dos outros. Como estávamos a brincar aos selvagens, ninguém tinha telemóvel. Usámos a voz e os assobios e o eco da natureza para comunicar. E como estávamos dependentes apenas de nós e da natureza, procurámos um caminho no mato para chegar à água e na água fomos a nadar até à meta. Portanto, nestas palavras, acho que fica espelhada a beleza simples do que é um SwimRun. É na simplicidade que sobressai a verdadeira beleza das coisas.

Nunca tinha feito SwimRun num ambiente tão natural como é o Zêzere. Já tínhamos treinado SwimRun no rio Tejo com corrida na estrada e no calçadão. Confesso que num cenário mais natural e, por isso, mais autêntico, somos transportados para a nossa essência animal. Aquela em que somos um pouco selvagens e não precisamos de mais nada a não ser do nosso corpo e da nossa mente. Não existem fronteiras pedestres nem existem fronteiras aquáticas. Se encontrarmos água, atiramo-nos e nadamos. Se encontrarmos terra, corremos. Tão simples quanto isto.

A sensação de liberdade é brutal. A aventura é extraordinária. O contacto com a natureza, o cheiro, a cor, a temperatura e a beleza que nos envolve são indescritíveis.

A organização deste treino/reconhecimento por parte do Bruno Safara tem a minha vénia e profunda admiração. Não deve ser fácil estar à frente de um projeto deste tipo. Os meus parabéns e um grande obrigada pelos momentos que me foram proporcionados com amigos e em família como dito no início do texto.

Alexandra Martinho

Adorei a experiência do SwimRun! Estava muito bem organizado.

O que mais gostei? O contacto com a natureza, as paisagens maravilhosas, adorei correr in the wild, o desafio do sobe e desce que não é habitual no Triatlo.

Não sou particularmente amante de silvas (e o mato estava bastante cerrado), mas um arranhãozito aqui, outro ali dá o seu charme... e quem não gosta de uma aventura assim?

Até os trambolhões nas descidas foram engraçados. Ai aquela pedra solta na areia... Só de lembrar fico com um sorriso na cara.

Aspectos menos positivos: Custou-me muito o calor. Para a temperatura que estava não devia ter levado fato. Mas é aprender com os erros. Assim como correr com o pullbuoy na mão... Chegou inteiro ao fim, sem ser retalhado pelas silvas, mas correr com ele na mão... Está compreendida a utilidade e necessidade dos elásticos. Acho que fazem muito bem em agendar as provas para alturas mais frescas.

Adorei o intercalar de natação-corrida-natação-corrida. Foi uma experiência nova e bastante positiva. Surpreendeu-me o facto de ser tão fácil e natural oscilar entre os segmentos. Com a experiência que tenho do triatlo, pensei que me ia custar muito, mas não. Assim que o calor apertava era hora de entrar na água e refrescar e dar descanso às pernas, quando começávamos a arrefecer e a ficar com os braços pesados, hora de sair e dar uso às pernas. É de facto uma modalidade muito interessante, de fácil adaptação é muito, mas mesmo muito libertadora, de grande interação com a natureza, que adoro. E ainda tivemos tempo para um “abastecimento” não programado - mas com árvores de fruto à mão de semear é difícil resistir.

Mesmo depois de uns estrondosos 16km no primeiro dia, e do cansaço de tanto sobe e desce, a vontade para voltar à carga no segundo dia era ainda maior!! Foi tão agradável que ainda fizemos uma natação extra só porque sim. O desafio da volta ao hotel foi lançado, e lá fomos nós !

Adorei e estou desejosa de repetir a experiência.•

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