Trilha Sobre as Águas do Ribeira

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T RI L HASSOBREASÁGUAS DORI BE I RA


SYLVIA YEUNG

TRILHAS SOBRE AS ÁGUAS DO RIBEIRA

Monografia apresentada à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie como requisito parcial para a conclusão do Trabalho Final de Graduação e obtenção do diploma de Arquiteta e Urbanista.

Prof. Orientador PhD. Arq. e Urb. Carlos Andrés Hernández Arriagada

Junho / 2015


SYLVIA YEUNG

TRILHAS SOBRE AS ÁGUAS DO RIBEIRA Monografia apresentada à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie como requisito parcial para a conclusão do Trabalho Final de Graduação e obtenção do diploma de Arquiteta e Urbanista.

BANCA EXAMINADORA PHD. ARQUITETO E URBANISTA CARLOS ANDRÉS HERNÁNDEZ ARRIAGADA Universidade Presbiteriana Mackenzie

PHD. ARQUITETO E URBANISTA LUIZ GUILHERME RIVERO DE CASTRO Universidade Presbiteriana Mackenzie

MS. ARQUITETO E URBANISTA JOSE MARIA MACEDO Escola da Cidade


AGRADECIMENTOS Primeiramente, Àquele que criou todas as coisas, dita a correnteza das águas, guia meus passos e permite o despertar e caminhar da vida. Aos meus pais, que fizeram todo o possível para que eu pudesse ter uma boa educação, apoiaram e deram broncas, incentivando a continuidade do percurso. Aos meu irmãos por acompanharem e conviverem com a luz acesa nas noites de trabalho. Aos meus orientadores, Carlos Arriagada e Angelo Cecco por abrirem meu olhar, compartilharem ideias, conhecimento e experiências. Aos amigos que, mesmo próximos ou distantes, ajudaram a tornar o percurso menos árduo através de uma simples troca de palavras durante a corrida jornada de cada um. Às pessoas que de bom grado e bom coração compartilharam ideias e dados para a montagem deste trabalho.

Obrigada a cada um que contribuiu com a finalização desta etapa.


RESUMO

ABSTRACT

Este trabalho é a continuação e o resultado de uma reflexão a respeito do desenvolvimento de cidades no entorno de rios e sua relação com as águas.

This work is the continuation and the result of a reflection about the development of cities in river boards and their relationship with the water.

Por meio do estudo de Iguape e sua comparação com uma cidade de conformação geográfica e histórico semelhante em alguns aspectos; a cidade de Valdívia serve de exemplo comparativo do que pode ser realizado na pequena cidade brasileira.

By using the case study of Iguape and its comparison to Valdivia, is possible to project and think possibilities of development to this Brazilian city. Both cities have a geographic conformation and some common issues on their background histories.

Utilizando-se a metodologia de estratégias projetuais, é possível realizar o seguinte ensaio: a projeção do desenvolvimento de Iguape, resultando na criação de um cenário futuro, condizente com o potencial de crescimento da cidade estudada. Por fim, é realizada uma reflexão em cima do ensaio, englobando questões arquitetônicas e do mundo contemporâneo.

Palavras chave: Resstruturação de cidades, desenvolvimento urbano, planejamento urbano, estratégias projetuais, águas.

Using the methodology of projectual strategies, is possible to perform the following test: Iguape's projection of the development, resulting in the creation of a future scenario, consistent with the growth potential of the city studied. Finally, as a reflection about the results performed on the test, there are some sketches made by architectural and contemporary world issues.

Keywords: Rethinking cities , urban development , urban planning , design specification Strategies , water


Rowing Team Rowing competition on the Charles River Cambridge, MA entropyengineer- TUMBLR


A GRANDEZA DO MAR Você sabe por que o mar é tão grande? Tão imenso? Tão poderoso? É porque teve a humildade de colocar-se alguns centímetros abaixo de todos os rios. Sabendo receber, tornou-se grande. Se quisesse ser o primeiro, centímetros acima de todos os rios, não seria mar, mas sim uma ilha. Toda sua água iria para os outros e estaria isolado. A perda faz parte. A queda faz parte. A morte faz parte. É impossível vivermos satisfatoriamente. Precisamos aprender a perder, a cair, a errar e a morrer. Impossível ganhar sem saber perder. Impossível andar sem saber cair. Impossível acertar sem saber errar. Impossível viver sem saber viver. Se aprenderes a perder, a cair, a errar, ninguém mais o controlará. Porque o máximo que poderá acontecer a você é cair, errar e perder. E isto você já sabe. Bem aventurado aquele que já consegue receber com a mesma naturalidade o ganho e a perda, o acerto e o erro, o triunfo e a queda, a vida e a morte. Paulo Roberto Gaefke


5.18 A Travessia de 74km a nado Registro-Iguape teve duas versões, em 1968 e 1969.Acervo de fotos Roberto Fortes. Acesso em fevereiro de 2015.........................................................................65 5.19 Vista aérea de Iguape em 1939, durante sua decadência. Instituto Geográfico Cartográfico.....................................................67 5.20 Localização de Los Lagos em relação ao Chile e também localização da cidade de Valdívia em a Los Lagos.Fonte: http:// moon.com/maps/south-america/chile/.........................................68 5.21 Plano holandês de 1643. Muitos registros antigos de Valdívia se perderam devido à Desastres naturais.Fonte: Una ciudad chilena del signo XVI - Valdivia 1552-1604...................................................69 5.22 Sketch das ruínas da Catedral de Concepción após o terremoto de 1835. Fonte: http://edition.cnn.com/2010/OPINION/03/01/ vanwyhe.quake.chile.darwin/...........................................................70 5.23 Carlos Andwanter, um dos primeiros e mais importantes imigrantes em Valdívia. Fonte: http://www.icarito.cl/biografias/ articulo/a/2009/12/236-4845-9-anwandter-carlos.shtml............70 5.24 Grande terremoto de 1960 que devastou a cidade de Valdívia. Fonte: Corbis images.........................................................................71 5.25 Plano de Juan Antoine, 1904. Fonte: Una ciudad chilena del signo XVI - Valdivia 1552-1604........................................................72

chilena del signo XVI - Valdivia 1552-1604.....................................72 5.27 Plano de Guillermo Frick, 1860. Fonte: Una ciudad chilena del signo XVI - Valdivia 1552-1604.........................................................73 5.28 Plano de Juan Antoine, 1904. Fonte: Una ciudad chilena del signo XVI - Valdivia 1552-1604........................................................73 5.29 Indústrias que crescem em função da facilidade de escoamento de produtos. Acervo de fotos Isis Porcel Torres..............................74 5.30 Feira de Valdívia, onde se encontram verduras, pescados e frutas cultivadas pela população local. Acervo pessoal da autora...75 5.31 Feira de Valdívia, onde se encontram verduras, pescados e frutas cultivadas pela população local. Acervo pessoal da autora...75

[ COMPARATIVO ] 5.1 Localização da cidade de Iguape, litoral sul paulista, Vale do Ribeira. Montagem realizada pela autora........................................52 5.2 Divisão das capitanias hereditárias e o Tratado de Tordesilhas. Em vinho, a pretensão espanhola a respeito do tratado, que mudaria a história de Iguape. Montagem realizada pela auto ra........................................................................................................53 5.3 Engenho Brasil de arroz, 1914. Acervo Roberto Fortes............55

5.5 Imagem do Porto de Iguape. Acervo Roberto Fortes................57 5.6 Balsa no Valo Grande, 1938. Acervo Roberto Fortes.................57 5.7 Evolução urbana desde a mudança do centro de Iguape até a abertura do canal do Valo Grande. Montagem realizada pela auto ra........................................................................................................58 5.8 Companhia de navegacao fluvial sul paulista, que funcionou de 1916 a 1955. Uma de suas rotas passava por Iguape. Acervo Roberto Fortes...................................................................................58 5.9 Foto do Porto Grande, com vista para Rua do Mar, 1910 . Acervo Roberto Fortes...................................................................................59 5.10 Porto grande com Morro da espia ao fundo. Acervo Roberto Fortes.................................................................................................59 5.11 Trabalhadores da filial das Indústrias Matarazzo. Acervo Roberto Fortes..................................................................................................60 5.12 Diagrama de assoreamento do Rio Ribeira de Iguape.Fonte: BRAGA, 1999-p.13.............................................................................60 5.13 Vaporio que navegava pelo Ribeira, porém afundou em 1901. Acervo Roberto Fortes.......................................................................61 5.14 Vaporio Itaipava, que navegava pelo Ribeira. Acervo Roberto Fortes.................................................................................................61 5.15 Desenho das vias, onde é possível perceber os tópicos

5.4 Engenho de arroz do Cabixo. Acervo Iphan...............................55

levantados ao lado. Montagem realizada pela autora.....................64

5.26 Plano de Guillermo Teichelmann, 1858. Fonte: Una ciudad

cantonfair.org.cn/...........................................................................110

LISTA DE IMAGENS [ PARÂMETROS ] 4.1 Diagrama proposto por Rapoport em seu livro. Fonte: El diseño urbano como organización del espacio, del tiempo, del significado y de la comunicación........................................................................33 4.2 Três elementos principais que ajudam a compor uma arquitetura rica e dinâmica. Fonte: Hong Kong Fantasies.................................38 4.3 Oito temáticas que ajudam a repensar as cidades. Fonte: Hong Kong Fantasies..................................................................................39 4.4 Diagrama proposto por Arriagada em sua tese. Fonte: Estratégias Projetuais no Porto de Santos......................................46 4.5 Diagrama proposto pela autora para o território em estudo...47

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[ INDICAÇÕES PARA PROJETO ] 6.1 Localização de Guangzhou em relação à China e aos rios que cortam a cidade.Imagem montada pela autora...............................109 6.2 Tabela com dados da feira de Cantão de 2014, já tradicional entre as feiras internacionais. Fonte: http://www.cantonfair.org.cn /........................................................................................................110 6.3 Imagem de uma palestra durante a feira. Fonte: http://www. cantonfair.org.cn/...........................................................................110 6.4 Imagem de uma palestra durante a feira. Fonte: http://www.

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6.5 Um dos diversos ramos apresentados na feira. Fonte: http:// www.cantonfair.org.cn/..................................................................110 6.6 Hall de entrada. Fonte: http://www.cantonfair.org.cn/...........110 6.7 Vista noturna de BeijingFonte: http://www.thebeijinger.com/ blog/2015/01/10/beijing-land-prices-set-rise-after-years-softeni ng.....................................................................................................111 6.8 Vista noturna de Shanghai Fonte: http://www.thirdyearabroad. com/china/shanghai.html..............................................................111 6.9 Vista noturna de Guangzhou. Fonte: http://www.holidaytravel.co/ destination-dtl/guangzhou-tourist-guide.htm.........................111 6.10 Faseamento das obras. Montagem realizada à partir da cartilha do projeto.........................................................................................114 6.11 Localização do projeto de Guangzhou em relação às áreas urbanas e rurais, com as áreas de cada distrito demarcadas com pontilhado negro.Montagem realizada à partir da cartilha do proje to......................................................................................................114 6.12 Propostas de expansão em relação ao centro da nova cidade. Montagem realizada à partir da cartilha do projeto......................115 6.13 Projeto central no qual há o estabelecimento de um eixo horizonhal (azul), dos dois eixos entre cidade conectada entre rios (em verde) e as três áreas (círculos em cor vinho), cada uma com

6.14 Estudos de caso para Guangzhou. Fonte: Cartilha do proje to......................................................................................................117 6.15 Linha de raciocínio sobre as principais questões apresentadas. Fonte: Cartilha do projeto...............................................................122 6.16 Os três distritos que compõem o CBR. Cada um possui uma característica própria. Fonte: Cartilha do projeto...........................123 HK_Oma...................................................................................126-127 http://www.oma.eu/projects/2010/west-kowloon-culturaldistrict/ HK_Rocco................................................................................128-129 http://www.dezeen.com/2010/08/25/west-kowloon-culturaldistrict-by-rocco-design-architects/ HK_Foster.................................................................................130-131 http://www.fosterandpartners.com/projects/west-kowlooncultural-district/ Lago Karapiro...........................................................................136-138 Fonte: www.actionimages.kiwi.nz Fonte: http://www.karapirorowing.com/ Remadores ao amanhecer. Foto de Joshua Li Phoenix Valdívia...............................................................................139 Fonte: Acervo pessoal da autora; http://www.phoenixvaldivia.cl/

Acervo pessoal da autora Skagen Skipper Skole...............................................................142-143 http://www.e-architect.co.uk/denmark/skagen-skipperskole http://aart.dk/projects/maritime-education-centre#263

sua especificidade. Fonte: Cartilha do projeto..............................116

Dinamarca 399........................................................................140-141

semelhanças, ativa o olhar do pedestre. Acervo pessoal da auto

[ PROJETO ] 7.1 Conjunto de intenções projetuais.Diagrama montado pela autora................................................................................................151 7.2 Conjunto das antigas Indústrias Matarazzo. Acervo pessoal da autora. Setembro/2014...................................................................154 7.3 Concepção da escola naval. Croqui feito pela autora..............155 7.4 Faseamento do projeto e tipos de objetos a serem contruídos. Montagem realizada pela autora.....................................................157 7.5 Vazios propostos no projeto. Imagem montada pela autora..158 7.6 O ato de caminhar e descobrir a cidade, enaltece diferenças e semelhanças, ativa o olhar do pedestre. Fonte: http://www. buziosguiaoficial.com/por-mar/....................................................159 7.7 O ato de caminhar e descobrir a cidade, enaltece diferenças e semelhanças, ativa o olhar do pedestre. Acervo pessoal da auto ra......................................................................................................159 7.8 O ato de caminhar e descobrir a cidade, enaltece diferenças e

ra......................................................................................................159 [ POS SCRIPTUM ] 9.1 O grid pode se alastrar pela cidade e chegar a outras cidades, assim como Tchumi ensaia em sua proposta.Montagem realizada pela autora......................................................................................193 9.2 O grid pode se alastrar pela cidade e chegar a outras cidades, assim como Tchumi ensaia em sua proposta.Montagem realizada pela autora.......................................................................................193 9.3 QR code. Fonte: QR code generator (goqr.me).........................197 9.4 QR code como meio de disseminação de informações e sua implementação como elemento na arquitetura.Montagem realizada pela autora.......................................................................................197 [ ABERTURA DE CAPÍTULOS ] As imagens de abertura de capítulo pertencem ao arquivo pessoal da autora.

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INTRODUÇÃO


A relação entre rios e cidades sempre foi essencial. Foi a partir destes, que o homem pode se estabelecer em um único local e deixar de ser nômade. Porém, assim como a água era usada para a irrigação de plantações, alimentação de animais e utilização em tarefas domésticas, ela também era utilizada como meio de transporte e lazer. As cidades, por sua vez, apresentam mudanças com o decorrer do tempo, podendo oscilar entre o auge da exploração do seu potencial e sua decadência. Como grandes exemplos em distintas localidades, podem ser citados: o Rio Tâmisa, Inglaterra, que possibilitou o desenvolvimento de importantes cidades como Londres e Oxford ao seu redor, mas que porém sofreu grande degradação no século XVIII durante a era industrial; e o Rio Amarelo (Yangtze), que passa por Shanghai, Nanjing e Wuhan, cidades que apresentaram grande importância econômica e histórica, mas que durante a era comunista caíram no esquecimento e passaram a ser cidades de mínima importância para o país.

trabalho. Dentro deste contexto, há possíveis maneiras de se reabilitar um espaço no entorno de rios. Dependendo do porte da cidade, da sua vocação econômica e de suas políticas, busca-se a proposta mais adequada a ser aplicada no território em estudo. Algumas cidades optam por fazer grandes planos urbanos, mas o que se pode fazer em casos de cidades menores? Quais as alternativas possíveis para que elas possam aproveitar o real potencial das cidades frente às águas? Como é possível se desenvolverem de acordo com a capacidade que o território oferece de modo trazer e proporcionar qualidade de vida aos habitantes?

Isso não ocorre somente na Europa ou na Ásia, no Brasil também é possível notar este processo histórico. Por exemplo, na cidade de Santos, há a relação com o mar e o desenvolvimento portuário, onde em determinada época, seu crescimento foi estabilizado e passou a ser ultrapassado em relação à época. Na cidade de Iguape, o mesmo ocorreu após uma série de acontecimentos que serão explicados no decorrer do

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PROBLEMA


O Brasil possui 23.086 Km de extensão de fronteiras, sendo que 15.719 Km correspondem à linha divisória com países da América do Sul e os outros 7.367 Km são cercados pelo Oceano Atlântico, cerca de 32% do todo. Isso demonstra um grande potencial de desenvolvimento a partir dos recursos hídricos frente ao mar1. Apesar do potencial, ele costuma ser subutilizado. Atualmente, existem 478 municípios litorâneos brasileiros2. A maioria delas vive de turismo, podendo estar relacionado à história ou não, mas que de maneira geral, gera uma economia sazonal. Outra parte delas, possui a economia baseada na existência de portos, cuja potencialidade e capacidade são pouco exploradas, já que a maioria dos portos brasileiros encontram-se sucateados ou desatualizados3. Além das cidades litorâneas, há também as que se localizam às margens de rios no interior dos estados. Nestes casos, muitos dos rios encontram-se em estado deplorável ou foram escondidos sob o concreto que forma as cidades4. O principal ponto comum que é necessário mencionar é o desrespeito para com o tratamento das águas, que resulta em outros problemas maiores: “Os problemas mais urgentes e na realidade, os mais FUNESTOS se encontram em grandes núcleos urbanos, como cidade do México, São

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Paulo, Kinshasa, Bombay, Calcuta, Lagos e Dhaka. A escassez de água afeta mil cidades, desde a megalópole que conta com milhões de habitantes, até às incontáveis pequenas e médias cidades na Ásia, Oriente Médio, América Latina e Caribe.” (Lars, 2008)

Talvez pela diferença histórica de colonização e uma trajetória relativamente recente, o país caminha em direção a decadência e falta de perspectiva referente aos recursos hídricos. Como diz Holanda (1987), a colonização espanhola tem como característica o que faltou à colonização portuguesa: uma aplicação insistente em assegurar o predomínio militar, econômico e político da metrópole sobre suas colônias, por meio da criação de núcleos de povoamento estáveis e bem ordenados. Ainda, se tratando de colonização, a Espanha tornava suas terras locais de permanência e não de simples passagem como Portugal. Sendo assim, haviam investimentos pesados em educação e infraestrutura, de modo que as cidades espanholas rapidamente se desenvolviam5. Apesar deste tipo de colonização e falta de investimento português, é possível alterar a realidade através de um bom planejamento . Em um país tão abundante de recursos hídricos, por que não aproveitá-los de maneira utilizar ao máximo o seu potencial para o desenvolvimento das cidades de maneira “amigável”, de forma melhorar

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a qualidade de vida da população local? Como diz Arnold Toynbee em sua principal tese, a teoria dos desafios e respostas, “o bem estar de uma civilização depende na habilidade com o qual ela responde criativamente aos desafios, à questão humana e ao meio ambiente”. Segundo ele, os ciclos de crescimento e decadência não são inevitáveis e a civilização pode escolher agir sabiamente frente às dificuldades6 Sendo assim, por meio de comparativos e estudos de caso, este trabalho procura explorar e antever algumas tomadas de decisões que podem ajudar a solucionar problemáticas e melhorar a realidade atual, evitando determinadas situações desfavoráveis.

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1IBGE. Posição e extensão. Disponível em <http://teen.ibge.gov.br/mao-naroda/posicao-e-extensao> 2 IBGE. Características dos municípios. Disponível em <http://teen.ibge.gov.br/ mao-na-roda/caracteristicas-dos-municipios> 3 ARRIAGADA, Carlos A.H. Estratégias projetuais no território do Porto de Santos. Dissertação de Doutorado. Universidade Presbiteriana Mackenzie. São Paulo, 2012. 4 São Paulo, Estado de. A ÁGUA NO OLHAR DA HISTÓRIA. 5 HOLANDA, Sérgio Buarque de. O semeador e o ladrilhador in Raízes do Brasil, p61-100. Rio de Janeiro. J.O Editora. 1987. 6 MAU, Bruce. Massive Change. Phaidon.

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TEMÁTICA E OBJETIVOS


A escolha da temática surge após a realização do projeto de pesquisa com o seguinte tema: “Estratégias de desenvolvimento socioeconômicas no planejamento urbano de bordas de rios – o caso chinês de Guangzhou”, que incentivou a dar continuidade ao estudo da relação cidade e águas. Durante pesquisas, foi notória a importância que é dada às médias e grandes cidades próximas à rios e mares como Santos, Rio de Janeiro, Amsterdam, Londres, Shanghai, Seul etc. Mas pouco havia sobre reestruturações em cidades de pequeno porte.

construções únicas que podem ser reaproveitadas e impulsionadas através de um projeto de reestruturação, uma cidade é ideal para a aplicação de um projeto que busca responder a seguinte questão: Como é possível proporcionar o desenvolvimento de cidades no entorno de rios, de maneira a aproveitar ao máximo seu potencial, porém com uma intervenção condizente com o seu porte?

Assim, foi levantada a cidade de Iguape, litoral sul de São Paulo. A razão da escolha do litoral sul é devido a falta de planejamento para com o mesmo. Já que o litoral norte possui melhor clima e paisagem, que resultam em maiores investimentos e preocupação com seu planejamento, demonstrados até mesmo na faculdade. Ela se encontra próxima ao canal do Valo Grande e ao Mar Pequeno, que contorna Ilha Comprida. Ao pesquisar a história da cidade, é possível perceber o mal aproveitamento e consequentemente, mal planejamento da cidade em relação à sua posição geográfica privilegiada. Durante visitas e levantamentos foi possível comprovar que a cidade, apesar de pequena escala, possui um histórico bastante rico e

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PARÂMETROS


Milwaukee , onde ele era um distinto professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo . Ele é um dos fundadores do campo de Meio AmbienteComportamento Estudos. Seu trabalho se concentra principalmente sobre o papel das variáveis culturais, estudos interculturais e desenvolvimento da teoria e da síntese1.

Repensar a vida nas cidades e sua relação com seu entorno parte do seguinte pressuposto básico: “A promessa fundamental da vida da cidade é oferecer comunidade , civismo , da cidadania e uma vida economica próspera, bem como uma base de valores humanos comuns. Esses valores incluem: balanço entre direitos e responsabilidades; a liberdade civil que permite aos cidadãos para resolver o seu desenvolvimento de suas necesidades físicas, psicológicas e espirituais; o senso de comunidade ou pertencimento à sociedade; a cortesia diária que faz a vida segura, tranquila e aprazível; acesso às atividades cotidianas que as pessoas realizam para atingirem seus objetivos- tanto pessoais quanto profissionais; e as oportunidades para o crescimento econômico e social que tornam a vida segura e gratificante.” (Salij, 2012)

Há alguns olhares e pontos de vista que auxiliarão no direcionamento e projeção do trabalho. São eles: Amós Rapoport, Nuno Portas e Tihámer Salij. Amós Rapoport: nascido em Varsóvia, Polônia é o autor do livro Casa, Forma e Cultura - que fala sobre como a cultura , o comportamento humano e do meio ambiente afetam a concepção e forma da casa. Até sua aposentadoria em 2001, lecionou na Universidade de Wisconsin-

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4.1 Diagrama proposto por Rapoport em seu livro. Fonte: El diseño urbano como organización del espacio, del tiempo, del significado y de la comunicación.

Rapoport em seu livro “El diseño urbano como organización del espacio, del tiempo, del significado y de la comunicación”, diz que segundo Lawton (1970) o desenho urbano é um caso particular no meio ambiente, uma vez que o mesmo é produto das relações entre meios e indivíduos. Os meios podem ser de caráter físico; pessoal; suprapersonal, que pressupõe características ambientais de acordo com as características específicas do público que frequenta determinado espaço; meio ambiente social, formado pelas normas sociais e instituições (Fig 4.1) 2. “O espaço se experimenta como uma extensão tridimensional do mundo que nos rodeia: intervalos, relações e distâncias entre pessoas e coisas, e entre coisas, e o espaço está no coração do meio ambiente construído.” (Rapoport, 1991)

O espaço também é definido por Rapoport como uma organização com propósitos específicos e ajustadas à distintas normas. Ambos são um reflexo de uma série de significados e símbolos de um determinado período de tempo. Sendo assim, a cidade é composta por um conjunto de

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temporalidades3. Nuno Portas: nascido em Vila Viçosa, São Bartolomeu, Portugal, é um arquiteto e urbanista formado pela Escola Superior de Belas-Artes do Porto em Arquitetura, em 1959, onde também leciona. Em 1958 passou a contribuir para a revista Arquitectura, a qual passou a dirigir. Nela foram publicados vários artigos, base para o Prémio Gulbenkian de Crítica de Arte, que ganhou em 1963. Seu trabalho se concentra principalmente em discussões sobre o urbanismo e sua busca na definição das linhas políticas para habitação, reabilitação urbana e atualização da legislação urbanística4. Segundo Nuno Portas, a relação e organização do chamado projeto urbano possui três momentos distintos: o da década de 60, o dos anos 70 e os mais recentes. Portas define estes três momentos da seguinte maneira: na década de 60, os projetos urbanos eram definidos como o desenho de grandes áreas sintetizados em desenhos ordenados da cidade moderna. Já nos anos 70, ocorrem intervenções de menor porte, localizados em áreas urbanas preexistentes, tendo como objetivo principal a melhoria e requalificação de uma determinada área. Por fim, a terceira geração de projetos urbanos tem como característica o papel do arquiteto como destaque. Assim, as especificidades se mostram por meio do programa e as novas oportunidades oferecidas às intervenções,

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ou pelos processos ou mecanismos , organização de realização e um relacionamento, não hierárquico, onde o projeto tem como objetivo estabelecer o plano, ou seja, o estilo de planejamento que caracteriza o novo projeto5. “A estratégia pode aconselhar que se destaque o sistema circulatório, a rede das comunicações, obviamente um elemento primário-chave de continuidade regional. Mas ao contrário de uma engenharia de tráfego, que nesse sistema veria a teia de auto-estradas urbanas, cremos que o arquiteto procuraria resolver em conjunto os circuitos de conexão, se desenharia a arquitetura dos complexos de serviços.” (Portas, 1969)

Independentemente de que época esteja, há um resultado comum no que se refere à organização e às dinâmicas da cidade: “O desenvolvimento económico programado desemboca necessariamente em modificações do ambiente físico na medida em que pressupões infraestruturas: estradas e pontes, portos e aeródromos, canais, «pipe-lines» e cabos aéreos transportadores de energia e de informação, canalizações conduzindo fluídos, gases e excreções- tudo objectos ou sistemas, que não cumprem apenas funções mas, são, no mesmo acto, elementos constituintes e alterantes da

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paisagem- informação visual, táctil; sómbra, abrigo, distâncias...” (Portas, 1990)

Como estudo de caso sobre o crescimento das cidades, Portas faz análise de algumas cidades portuguesas como Santo Tirso, Vianna do Castelo, Castelo Branco, entre outras6, e diz haver diversos tipos de crescimento. Um deles é o chamado qualificação através da atualização de antigos espaços para novas necessidades. Este caso é o mais semelhante ao da cidade de Iguape.

Após a compreensão e desenho da escala macro, no que tange o desenho do edifício, o autor defende a criação de uma metodologia projetual e a, consequentemente, uma arquitetura que busque a intermutação e sobreposição de funções, resultando em espaços urbanos característicos e humanizados, semanticamente ricos7.

-Articulação de processos de integração urbanística e funcional por meio de equipamentos e infraestruturas

Tihámer Salij: pesquisador, conferencista filiado ao The Why Factory. Estudou Belas Artes na Academia de Arte de Utrecht, e formouse como um escultor com menção honrosa. Tihamér Hazarja Salij é o fundador da Agência de Inteligência Espacial, uma prática pesquisando sobre a cidade contemporânea e projetar cenários futuros e estratégias espaciais. Atualmente ele conduz pesquisas sobre o tema “Pensar o espaço e a construção de amanhã ‘. Esta pesquisa é uma exploração sobre os limites humanos e a elaboração de cenário espacial. Centrase na exigência humana de olhar para o futuro. No ato de pesquisar o futuro, a criatura humana está constantemente cruzando e deslocando as fronteiras do desconhecido8.

- Melhorias na mobilidade e articulação entre os centros funcionais e equipamentos públicos

Por fim, como uma linha de raciocínio mais recente, Salij faz alguns apontamentos:

Este tipo de crescimento pode ser descrito como um tecido urbano que se expande, mas que possui deficiências em sua articulação e apresenta também incoerências, com desequilíbrios formais, sociais e econômicos, dificultando a consolidação de uma cidade forte e uniforme. Sendo assim, dentre as estratégias para a melhoria da cidade estão: -Adequação de áreas produtivas e novas exigências de crescimento do espaço urbano

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− Integração paisagística e ambiental como princípio de afirmação de identidade regional

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melhoria (Fig 4.3)10. São eles:

“Em uma cidade densa e construída, diversos grupos, espaços e atividades existem de maneira muito próxima. Esta proximidade gera interação, isso aumenta a consciência das diferenças culturais e individualidade.” (Salij, 2012)

Salij defende a ideia de que uma cidade de nível global deve conter densidade, diversidade e conectividade como conceitos básicos9 (Fig 4.2). A interação entre estes três ramos, gera uma cidade eficiente, diversa e integrada, que pode ser descrita da seguinte maneira: “A visão de uma cidade de nível mundial é baseada em um ambiente urbano vital , flexível onde multiplas funções e atividades coexistem. A expressão arquitetônica destas funções deve ser reescrita conformemente; como um sistema integrador que pede uma arquitetura adaptáveluma que compreenda o caos, e ao mesmo tempo seja convincente e autêntica; compacta e acessível; rica em contrastes, flexível e, acima de tudo, sinérgica com outros programas da cidade.” (Salij, 2012)

4.3 Oito temáticas que ajudam a repensar as cidades. Fonte: Hong Kong Fantasies.

4.2 Três elementos principais que ajudam a compor uma arquitetura rica e dinâmica. Fonte: Hong Kong Fantasies.

-Cultura: Esta torna a cidade única. Gera a identidade dela e contribui com o olhar e modo com o qual ela projeta a si mesma e se desenvolve.

-Economia: meios de obtenção e geração de renda; circulação monetária.

-Energia: formas de gerar energia

-Alimentação: culinária local, meios de cultivo e obtenção de alimento.

-Governança: leis e modos de governo.

-Habitação: moradia e suas características.

-Infraestrutura: saneamento, vias, fornecimento de energia, etc.

-Natureza: Inclui categorias como transporte, biodiversidade, qualidade do ar, água e solo.

Para que a cidade atinja um nível global, o autor utiliza alguns parâmetros que devem estar relacionados entre si de forma a criar uma espécie de teia. Porém cada um deles, isoladamente permite analisar o grau de autosuficiência da cidade e assim projetar metas para sua

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Os teóricos e parâmetros apresentados ajudam a direcionar o olhar e o tipo de análise a ser realizada no território em estudo. Complementar a estas linhas de raciocínio, há também um método diferente do ensinado na faculdade, que será explicado a seguir. A proposta incial era a criação de uma escola de remo, localizada num antigo conjunto industrial em Iguape. Por meio da visitação a um estudo de caso, o Club Phoenix em Valdívia, Chile, pode ser percebida a relação entre cidade e águas nesta localidade e percebeu-se que uma escola apenas não mudaria o cenário futuro de Iguape. De conformação geográfica e topográfica semelhante, a cidade de Valdívia possui todo um planejamento bem estruturado devido ao grande terremoto de 1960. Sendo assim, ela servirá de parâmetro comparativo para Iguape. A importância da cidade como estudo de caso é a contraposição entre o planejamento feito em função de desastres, que permitiu o redesenho da mesma, otimizando espaços, além da relação entre cidade e território, que possui um porte semelhante a cidade de Iguape. Como metodologia projetual para Iguape, com embasamento nas comparações entre estas duas cidades, serão propostas estratégias.

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O que são e para que se aplicam as estratégias? “1. Arte de coordenar a ação das forças militares, políticas, econômicas e morais implicadas na condução de um conflito ou na preparação da defesa de uma nação ou comunidade de nações. 2. Parte da arte militar que trata das operações e dos movimentos de um exército, até chegar, em condições vantajosas, à presença do inimigo.Por extensão: arte de aplicar com eficácia os recursos de que se dispõe ou de explorar as condições favoráveis de que porventura se desfrute, visando ao alcance de determinados objetivos.” (Houaiss, 2011)

Outra definição pertinente é proposta por Guallard, no dicionário Metápolis de arquitetura11. “Estratégista e estratégias: Hoje, a figura do arquiteto já não é pensado unicamente como um ‘produtor de objetos’, mas um ‘estrategista de processos’. Já não se trata, em efetivo, de desenhar a forma, local ou global (de finalizar, acabar, completar e embelezar), se não de propiciar regras do jogo- lógicas evolutivas- para estruturas virtualmente inacabadas, em constante- ou virtual- transformação: estruturas- como a da

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própria cidade contemporânea- em constante mutação, recuperação e modernização. Processo, pois, mais que sucesso. Não se quer renunciar, não obstante, a forma. Mas se deseja primar, mais que os desenhos- ou as planimetrias- os sistemas: os mapas de ação.” (Guallard, 2010)

Apesar da definição dos dicionários sobre estratégias estar voltada para uma questão militar, no mundo contemporâneo, ela é mais conhecida por ser utilizada no mundo dos negócios, com o objetivo de dominar o mercado12. A partir dos anos 60, a estratégia passou a ganhar espaço no mundo empresarial. A partir da década de 80, com Reagan, elas passaram a fazer parte da política através da administração municipal13. “Entre o fim dos anos 70 e início da década de 80, começou a diminuir o prestígio da ideia de estratégia associada, como estava até então, ao planejamento de longo prazo (long-range planning).” (Novais, 2010)

Encontrando-se num contexto denominado planificação estratégica, que segundo Arriagada (2012), pode ser descrito e diferenciado da planificação tradicional da seguinte maneira: “1. Planificação Tradicional – caracterizada pela predominância do produto como objeto final, no

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qual se estrutura a partir de um recorte setorial ou territorial, vinculado diretamente a normativas que são orientadas pela oferta urbana, submissas aos limites administrativos, sempre sendo desenvolvida de maneira tardia e difusa; 2. Planificação Estratégica – caracterizada pelo domínio do processo, no qual tem ações integradas e coordenadas, atuando de maneira indicativa as problemáticas, tendo como premissa a orientação para as demandas urbanas, caracteriza-se por abranger áreas superiores aos limites administrativos, atua diretamente com uma participação antecipada e focalizada.” (Arriagada, 2012)

Em outras palavras, as estratégias podem ser aplicadas no planejamento urbano através da chamada “escola de posicionamento”, definida por Mintzberg (2007), como a formação de estatégia como um processo analítico, onde há a chamada “prescrição”, uma série de medidas e tomadas de decisão ajustadas de acordo com cada caso estudado, além de uma série de estratégias chave, que denominam um objetivo principal composto por várias outras estratégias14. Ou seja, a partir de uma série de análises realizadas em um território, em um determinado tempo, é possível a obtenção do panorama real de situação, para então a partir disto, se projetar um cenário futuro.

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Utilizando-se conceitos e parâmetros propostos por Arriagada (2012), após as análises territoriais, propõem-se as chamadas “ações táticas”, que tem por objetivo nomear os principais objetivos genéricos do planejamento estratégico, que por sua vez têm como objetivo buscar respostas para a questão citada no começo deste trabalho: Como é possível proporcionar o desenvolvimento de cidades no entorno de rios, de maneira a aproveitar ao máximo seu potencial, porém com uma intervenção condizente com o seu porte? Logo abaixo das ações, há quatro principais temáticas como frentes de intevenção no território: estratégias econômicas, governamentais, sustentáveis e urbanas. Somadas a estas, há mais três tipos, também abordadas e desenvolvidas pelo mesmo autor em trabalhos posteriores: estratégias endêmicas, sociais e populacionais, onde o objetivo e papel delas é descrito por Arriagada da seguinte maneira15: “As estratégias estão conectadas por meio da ordenação de diversos sistemas, interagindo circulação de pedestres, veículos leves sobre trilhos, automóveis, bicicletas, linhas de transporte marítimo e pequenas embarcações, criando cenários abertos (...) Deve ser esclarecida neste processo de transformação a linguagem e a estrutura conceitual

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apresentadas através de estratégias de panoramas futuros que anteveem possibilidades de aplicação de um urbanismo tático.” (Arriagada, 2012)

Os elementos pelos quais as estratégias permeiam, buscam integrar, fomentar e questionar o paradigma do processo projetual, buscando novos horizontes e respostas à possibilidade de cenários futuros. É importante ressaltar que este pardigma não é uma busca de uma verdade como previsão, mas sim a capacidade de antever problemas que venham a ser percebidos ao longo do tempo. O processo apresentado é temporal, dinâmico e direcionado para mais de uma tomada de decisão, abordando diversos aspectos que podem ser apresentados em um território. Assim, não há apenas uma única possibilidade de resultados, mas sim uma série deles que se adaptam às condicionantes do território. Quanto às temáticas das estratégias, estas são modos de se interrelacionar as diferentes esferas temáticas no mundo contemporâneo, que regem um espaço: economia, governança, sustentabilidade (como meio de tecnologia e melhoria da qualidade de vida) e por fim, urbanidade (como construção do espaço em si) (Fig 4.4). As novas estratégias fazem parte da ampliação do olhar a respeito da influência da arquitetura nos demais campos como medicina,

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antropologia, sociologia, cultura local, etnologia e tecnologia. Portanto, o resultado apresentado neste trabalho é apenas um dos possíveis cenários futuros encontrados para a cidade de Iguape. Este foi considerado o mais adequado às condições locais (Fig 4.5).

4.4 Diagrama proposto por Arriagada em sua tese. Fonte: Estratégias Projetuais no Porto de Santos

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4.5 Diagrama proposto pela autora para o território em estudo.

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1 WISCONSIN, Universiy of. Disponível em <https://www4.uwm.edu/sarup/ people/faculty/> 2 RAPOPORT, Amos. El diseño urbano como organización del espacio, del tiempo, del significado y de la comunicación. 3 Ibidem 4 PORTO, Universidade do. Disponível em <https://sigarra.up.pt/up/pt/web_ base.gera_pagina?p_pagina=antigos%20estudantes%20ilustres%20-%20 nuno%20portas> 5 PORTAS, Nuno. Interpretaciones del proyecto urbano. In: Urbanística 110. Roma, 1990. Disponível em <http://www.etsav.upc.es/personals/monclus/ cursos2002/portas.htm>. 6 PORTAS, Nuno. Políticas Urbanas I , Transformações, Regulação e Projectos. Fundação Calouste Gulbenkian. 2a. Edição. 7 TU Delft. Staff, Universidade Tecnológica de Delft. Disponível em < http://www. bk.tudelft.nl/en/about-faculty/departments/urbanism/organisation/the-whyfactory/staff/>. 8 PORTAS, Nuno. A cidade como arquitectura, apontamentos de método e crítica. Lisboa, Portugal. 1969. 9 MAAS, Winy; SALIJ, Tihamer. Hong Kong Fantasies. t?f – The why factory. Nai 10 Ibidem 11 GUALLARD, Vicente. Dicionário Metápolis de Arquitectura. 2000.

13 NOVAIS, Pedro. Uma estratégia chamada Planejamento Estratégico: Deslocamentos espaciais e a atribuição de sentidos na teoria do planejamento urbano. Rio de Janeiro, 2010, 14 MINTZBERG, Henry. Safári de estratégia: um safári pela selva do planejamento estratégico. Bookman. São Paulo, 2007. 15 ARRIAGADA, Carlos A.H. Estratégias projetuais no território do Porto de Santos. Dissertação de Doutorado. Universidade Presbiteriana Mackenzie. São Paulo, 2012.

12 SERRA, Fernando; FERREIRA, Manuel P. Definições de estratégia. Unisul

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COMPARATIVOS


IGUAPE

assentamentos relacionados à mineração no vale Ribeira no século XVIII. Tais assentamentos no entorno do Ribeira contribuiram para a interiorização das novas terras, além de facilitar o escoamento do ouro8.

A cidade de Bom Jesus de Iguape, localiza-se no litoral sul do estado de São Paulo, mais precisamente na região do Vale do Ribeira1, na latitude 24º 42’Sul e longitude 47º 33´Oeste2 (Fig 5.1). Sua população era de 27813 habitantes segundo dados do IBGE de 2002, em 2005 era estimada em 35000 habitantes e seu territórioo cobre ao todo uma área de 1964km3. A cidade de Iguape apresenta um clima tropical úmido4. A média anual de precipitação é de 1900mm. As chuvas de verão são as mais intensas, que se concentram no período de dezembro a março5.. Sua amplitude térmica é de 22 ºC a 28 ºC, com expressivas quedas de temperatura nos meses de inverno, devido à sua localização já próxima à região Sul do país6. De maneira geral, podemos dizer que a ocupação deste vale caracteriza-se por três momentos distintos. O primeiro foi quando os europeus chegaram às terras americanas, no século XVI, devido a rumores de que haveria ouro e prata na região, os portugueses acabaram criando povoamentos nas proximidades de Iguape e Cananeia- assentamentos ligados à marinha visando a penetração no interior do território brasileiro7.

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O segundo momento foi quando houve o estabelecimento de

Antes de começar a se falar da história da cidade, há um fato importante que deve ser ressaltado: a divisão do tratado de Tordesilhas (1494). Segundo Fortes (2000), a intenção dos espanhóis era de que Tordesilhas passasse por Iguape e não por Laguna, Santa Catarina9 (Fig 5.2). Isso gerou certa discussão entre portugueses e espanhóis, resultando numa duplicidade na colonização da região, sendo antes habitada por espanhóis (1532) e posteriormente por portugueses. De uma forma ou de outra, o local se torna único por uma série de questões que serão abordadas no discorrer deste tópico.

5.1 Localização da cidade de Iguape, litoral sul paulista, Vale do Ribeira. Montagem realizada pela autora.

5.2 Divisão das capitanias hereditárias e o Tratado de Tordesilhas. Em vinho, a pretensão espanhola a respeito do tratado, que mudaria a história de Iguape. Montagem realizada pela autora.

Como foi dito anteriormente, Cananéia e Iguape eram conhecidos como Costa do Ouro e da Prata. Em 1532, Ruy Garcia de Moschera chegou a cidade de Iguape em busca de metais preciosos através da travessia do Rio Prata. Deste modo, foi estabelecido o primeiro vilarejo no local, antes mesmo da chegada dos portugueses10. Porém, sua data de fundação oficial é de 1538. Pode-se dizer que um dos primeiros atrativos da cidade era a pirataria, já que a cidade era alvo deste tipo de ação. Após muitos

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Com a decadência da fase aurífera, surgiram outros meios de sustento de Iguape: comércio, agricultura e construção naval.

assaltos e saques, a cidade foi mudada para onde se localiza o atual centro histórico11.

“Pela localização e por conta de um porto favorável, Iguape ao passo que ia perdendo representatividade nos trabalhos de mineração, em meados do século XVIII começa a se erguer economicamente, com o advento das atividades ligadas à construção naval, ocasião em que se estabeleceram muitos estaleiros, nos quais foram construídos inúmeros navios e barcaças, encomendados por importantes armadores de Santos e Rio de Janeiro.” (PEREIRA JÚNIOR, 2005)

No novo local, o vilarejo passou por algumas fases econômicas, alterações quanto à morfologia da cidade e períodos de auge e crise. ECONOMIA A primeira fonte de renda e atração populacional do povoado foi a mineração, que segundo Fortes (2000), perdurou de 1630 a 1760. A então chamada Vila de Nossa Senhora das Neves, teve o ouro descoberto nas lavagens nos afluentes do Rio Ribeira de Iguape, o chamado ouro de aluvião. Isso tornou a vila um centro que atraía mineradores e oficiais responsáveis pela distribuição de riquezas, o que gerou seu primeiro grande crescimento populacional. Porém essa fase foi passageira, pois as quantidades encontradas em Iguape começaram a decair e no séc XVIII, a mineração em Minas Gerais explodiu, atraindo pessoas para lá12. A chamada mineração no sul, que engloba as regiões de Iguape, Paranaguá, Curitiba, Cananeia e São Paulo, foi caracterizada por uma intensa procura, pioneira no Brasil, porém de pouco sucesso. Apesar disso, houve um processo de interiorização do Vale do Ribeira e algumas heranças foram deixadas em Iguape, como a antiga Casa da Fundição, onde atualmente funciona a sede do Iphan.

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5.3 Engenho Brasil de arroz, 1914. Acervo Roberto Fortes

O segundo ciclo econômico significativo da cidade foi entre o século XVIII e o início do século XIX, quando houve o declínio total da mineração e surgiu o mais importante e próspero ciclo: o do arroz. Assim como o ciclo anterior, este dependia da água do Rio Ribeira13. Ele era utilizado para o plantio e beneficiamento do arroz através da movimentação dos engenhos (Figs 5.3 e 5.4). Em 1900, somavam-se 35 engenhos de arroz na cidade, sendo 30 deles movidos à água e 5 a vapor. A importância do arroz era tão grande para Iguape que este chegou a ser premiado em feiras internacionais.

5.4 Engenho de arroz do Cabixo. Acervo Iphan

Segundo Fortes, somente a partir do século XX, a cidade foi

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propósitos terapêuticos. Em 1920, foi construída na Ilha Comprida uma Vila Balneária, que, no entanto, funcionou por pouquíssimo tempo17.

perdendo a hegemonia como principal produtora nacional de arroz, competindo com Jaboticabal, Bariry e Bauru, devido à proximidade destas cidades à ferrovia.

De maneira mais organizada, o turismo começou a ter maior importância a partir da década de 1950, quando enormes glebas em Ilha Comprida passaram a ser adquiridas, dando origem a muitos dos atuais balneários. A partir da década de 1970 veio o “boom”, quando o turismo se firmou definitivamente 18.

Com isso, a decadência foi inevitável, porém novas fontes de renda surgiram como meio de sobrevivência econômica: a indústria da banana, da pesca da manjuba e do palmito14. Com o declínio da lavoura do arroz, começou surgir a plantação de banana no município. A partir de meados da década de 1930, começaram a se estabelecer no município várias indústrias de pesca, para a industrialização da manjuba, que conheceu o seu auge entre os anos de 1930 a 1950 15. Na década de 1940, surgiram indústrias de palmito, que chegaram ao seu auge, nas décadas de 1950 e 1960. A mais importante era a Fábrica Caiçara que enlatava palmito para as marcas Cica e Armour, entre outras. Também, nesse intervalo de tempo, existiram outras atividades econômicas paralelas, como a fabricação de esteiras de peri e a utilização da caixeta para a produção de tamancos e outros itens16.

O turismo é uma das principais economias do município, ao lado da pesca, do comércio e serviços e da agricultura. Já em fins do Século XIX, as praias de Iguape e Cananéia eram utilizadas por veranistas e

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O CANAL E O PORTO

5.5 Imagem do Porto de Iguape. Acervo Roberto Fortes.

5.6 Balsa no Valo Grande, 1938. Acervo Roberto Fortes.

Paralelamente a estes ciclos econômicos, em 1779, houve a primeira discussão a respeito da abertura de um canal19 (Figs 5.5 e 5.6). Passaram-se alguns anos até a chegada o ciclo do arroz, onde a questão voltou a ser debatida, já que este produto chegou a ser exportado para outros países, o que fez com que o porto chegasse a ser o principal do país, enriquecendo a cidade, caracterizada por uma sociedade fina e elitizada comparada à do Rio de Janeiro: “Portugal mantinha um vice-consulado permanente. Iguape era tão importante quanto Rio de Janeiro ou Salvador e não houve dificuldade na obtenção de recursos para a construção de uma das maiores e mais polêmicas obras hidráulicas da costa brasileira: o Valo Grande.” (PEREIRA Jr, 2005)

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Em 1827, foram iniciadas as obras de abertura do Canal do Valo Grande. Esta ligação possuía 2km de extensão, desembocando no mar. A abertura do mesmo, estimulou o desenvolvimento da região, tornando Iguape a liderança econômica da região20 (Fig 5.7 e 5.8).

Segundo Fortes (2000), esta obra foi resultado de uma grande ambição por parte de algumas pessoas e também uma grande estupidez. A ligação foi concluída em 1848, entretanto sua dimensão era insuficiente para a passagem de uma canoa. A obra foi oficialmente concluída em 1860, totalizando 33 anos de obras 21.

5.9 Porto Grande, vista da Rua do Mar, 1910 . Acervo Roberto Fortes.

5.7 Evolução urbana desde a mudança do centro de Iguape até a abertura do canal do Valo Grande. Montagem realizada pela autora.

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5.8 Companhia de navegacao fluvial sul paulista, que funcionou de 1916 a 1955. Uma de suas rotas passava por Iguape. Acervo Roberto Fortes.

5.10 Porto grande com Morro da espia ao fundo. Acervo Roberto Fortes.

De acordo com Pereira Jr (2005), em 1861, pouco mais de 10 anos após a ligação, o canal do Valo Grande começou a causar preocupações. As fortes águas do rio Ribeira causaram o alargamento natural das margens do canal, assustando moradores, repercutindo até mesmo na imprensa internacional. A abertura do canal foi, sobretudo, foi um chamariz para cidade (Figs 5.9 e 5.10), o que fez com que houvesse o crescimento industrial nessa cidade, atraindo importantes empresas como as indústrias Matarazzo, que acabaram abrindo uma de suas filiais às margens do canal 22. “As Industrias Matarazzo situavam-se lá para as bandas do Valo Grande, mais precisamente na Rua Sao Miguel, no antigo n° 5. Ainda hoje existem, bastante mal conservadas, suas instalações, destacando-se o gigantesco prédio de tijolos expostos e a alta chaminé, que domina o cenário. Na Matarazzo, mais tarde, instalou-se a famosa

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pelo trem e não mais por vaporios (Figs 5.13 e 5.14). Soma-se isso à concessão dada à Companhia das Docas de Santos, que tornou a Santos a cidade com monopólio exportador e importador brasileiro24.

Indústria de Pesca “Única”, marco incontestável na evolução da industrialização do pescado em Iguape.” (Fortes, 2000)

Segundo Fortes (2000), a filial servia como armazém e vendia os mais diversos produtos (Fig 5.11), além de comprar e beneficiar o arroz com seu engenho. Possuía também um serviço próprio de navegação fluvial e marítima. Porém a fábrica foi abandonada com seus equipamentos e materiais por volta de 1935, devido aos prejuízos acumulados em função da decadência da cidade 23. Com o alargamento do rio Ribeira, começaram a surgir outros problemas como o desbarrancamento, o acúmulo de areia depositada em frente ao Porto de Iguape e a alteração na salinidade natural do rio. Em 1978, após a tentativa de construção de uma barragem, que acabou cedendo, o porto foi desativado. Desse modo, houve a decadência da cidade, uma vez que sem o porto, as pessoas viviam da agricultura e pesca, porém, esta última já não estava dando muitos lucros devido a mistura entre a água doce e a salgada, alterando o habitat natural de peixes e camarões da região. Além do assoreamento do porto (Fig 5.12), com a ligação ferroviária entre Soroocaba e São Paulo, pela Estrada de Ferro Sorocabana, boa parte das mercadorias do alto do Ribeira passaram a ser transportadas

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5.13 Vaporio que navegava pelo Ribeira, porém afundou em 1901. Acervo Roberto Fortes. 5.11 Trabalhadores das Indústrias Matarazzo. Acervo Roberto Fortes.

5.12 Diagrama de assoreamento do Rio Ribeira de Iguape. Fonte: BRAGA, 1999-p.13.

Como dizem alguns autores (Fortes 2000 e Carneiro 2005), o problema da cidade foi que não houveram manutenções o suficiente no Valo Grande e também não houve processo de modernização da cidade por meio de conexões com outras localidades por terra ou estrada férrea, o que isolou a região e permitiu que outras cidades, Santos por exemplo, superassem o desenvolvimento de Iguape 25. Desde a perda da hegemonia sobre a produção nacional do arroz, a cidade permaneceu “cristalizada” em relação ao seu crescimento e desenvolvimento econômico. No ano de 2009, o centro histórico da cidade de Iguape foi tombado como patrimônio nacional pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), o que acabou por tornar a cidade um local turístico, não só pelo centro, mas também pelas belezas naturais 26.

5.14 Vaporio Itaipava, que navegava pelo Ribeira. Acervo Roberto Fortes.

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DESENHO URBANO “Para muitas nações conquistadoras, a construção de cidades foi o mais decisivo instrumento de dominação que conheceram. Max Weber mostra admiravelmente como a fundação de cidades representou para o Oriente Próximo e particularmente para o mundo helenístico e para a Roma imperial, o meio específico de criação de órgãos locais de poder, acrescentando mesmo que o mesmo fenômeno se encontra na China, onde ainda durante o século passado , a subjulgação das tribos Miaotse pode ser identificada à urbanização de suas terras. E não foi sem boas razões que esses povos usaram de semelhantes recursos, pois a experiência tem demonstrado que ele é, entre todos, o mais duradouro e ediciente." (Dossiê de tombamento de Iguape 2009)27

Apesar da contraposição entre pensamentos da colonização espanhola e sua ortogonalidade e da portuguesa e sua característica desordenada, espontânea e caótica, o fato é desmentido da seguinte maneira: “O professor português Manuel Teixeira (Teixeira, 2000), em estudos comparativos das cidades coloniais portuguesas e brasileiras, aponta as

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suas muitas afinidades. As cidades construídas no Brasil têm características morfológicas que as radicam à tradição urbana portuguesa, como a lógica das localizações, as características topográficas dos sítios selecionados, a relação que estabelecem com o território, a estrutura global da cidade, as suas principais linhas estruturantes, os aspectos do traçado, a estrutura de quarteirões e loteamentos e as feições arquitetônicas vernáculas e eruditas. Não havia influência direta dos modelos portugueses nas cidades brasileiras, mas antes uma mútua influência, interação e articulação.” (Holanda, 1987)

Ainda seguindo este raciocíno, duas vertentes de planejamento distinguem o urbanismo português: a vernácula e a erudita. A característica principal do urbanismo vernáculo era sua grande ligação com o território, que pode ser notado na escolha das localizações, nas características específicas dos territórios selecionados, em locais favoráveis à implantação de edifícios institucionais e na definição das principais vias estruturantes. O urbanismo denominado erudito esteve presente em todas as épocas e e era baseado em sistemas ortogonais. Em Portugal, os traçados urbanos regulares eram resultado de processos de planejamento

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crescimento, para pastagens de animais, uso dos moradores e para recolhimento de lenha29.

diversos, das cidades romanas, medievais e renascentistas. No Brasil, a partir do século XVI, os traçados urbanos vão tornando-se mais regulares e geométricos 28.

PLANEJAMENTO

Segundo estudos de Isabellle Cury, tem-se como principais características da colonização portuguesa frente às águas (Fig 5.15):

a) Traçado ortogonal ou tendendo à ortogonalidade;

b) Quarteirões retangulares, alongados, não existindo traçados em quadrícula; c) Cada quarteirão constituído por número idêntico de lotes, com a mesma dimensão, dispostos paralelamente uns aos outros;

5.16 Enchentes de janeiro de 1947. Acervo Roberto Fortes.

Atualmente, os únicos dados sobre o planejamento e plano diretor da cidade, datam de 198130. Segundo funcionários da prefeitura de Iguape, não há previsão de revisão do plano diretor da cidade e não há previsão de investimentos ou revitalização das áreas tombadas. Devido a falta de planejamento da cidade (Fig 5.16 e 5.17), nos mapas e diagramas comparativos, serão abordadas propostas de desenvolvimento de Iguape. “Para garantir a ambiência arquitetônica e urbanística do Centro Histórico de Iguape nos terrenos vagos somente serão permitidas construções com I.O. (índice de ocupação) de 60% ou 0,6 e gabarito máximo de 8,0M (oito metros).” (Dossiê de tombamento Iphan, 2009)

5.15 Desenho das vias, onde é possível perceber os tópicos levantados ao lado. Montagem realizada pela autora.

d) Lotes vão de rua a rua, com uma das frentes voltadas para a rua principal (a frente urbana, onde se constrói a casa) e a outra para a rua dos fundos com construções de apoio; POTENCIAL

e) Alternância de ruas principais e secundárias, com funções distintas. Estas ruas são cruzadas por outras vias que as cortam perpendicularmente; f) Existência de rossio, área de apoio ou porção de terras demarcadas junto aos núcleos urbanos utilizada para atender a seu

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5.17 Inundação. Foto tirada por Luciano Festa, publicada em 27 julho 2006.

A origem da palavra Iguape, em tupi-guarani significa seio d’água, “água redonda”, o que faz menção à forma física e geográfica de onde a cidade foi fundada31. Juntamente ao nome, tem-se a história da cidade (Figs 5.18 e 5.19), que possui uma intensa relação com as águas, em todas as suas fases: desde a mineração, passando-se pela abertura do

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canal, sua dependência com a rizicultura e desenvolvimento portuário, até a sua decadência em função do assoreamento do rio32.

porém para viabilizar isso, seriam necessárias obras de infra-estrutura e criação de uma rede de hotéis, restaurantes e serviços de informação35.

“Por ser um elemento que, historicamente, articulou o território e lhe conferiu identidade, o rio Ribeira do Iguape deve ser entendido como exptressão de uma natureza tornada memória social, incorporada e integrada culturalmente como uma referência histórica para diversos grupos sociais.” (Dossiê de tombamento Iphan, 2009)

Outro momento histórico importante foi o tombamento da cidade. Em 2009, a cidade teve como presente de aniversário o tombamento de seu centro histórico pelo Iphan, tornando a cidade um ponto turístico potencial, uma vez que a cidade já possui um roteiro turístico religioso, passeios ecológicos e históricos33. Juntando-se estes dois fatores, é possível o desenvolvimento de um projeto urbano que ajude a alavancar a economia da cidade aproveitando seu real potencial, uma vez que segundo dados de 2005, a economia da cidade é baseada no turismo, pesca, agricultura e comércio34.

Segundo dados do IBGE, no ano de 2010, haviam 12771 pessoas empregadas formalmente, contra um total de 11607 pessoas economicamente não ativas, em um total de 28841 habitantes.

5.18 A Travessia de 74km a nado Registro-Iguape teve duas versões, em 1968 e 1969.Acervo de fotos Roberto Fortes. Acesso em fevereiro de 2015.

5.19 Vista aérea de Iguape em 1939, durante sua decadência. Instituto Geográfico Cartográfico.

De acordo com a Fundação SEADE, para o ano de 2003, haviam apenas 1826 empregos formais na cidade de Iguape, uma proporção muito baixa em relação a população total de 27487 habitantes (2000). Segundo Carneiro, o turismo poderia ser uma saída para o desemprego,

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indígena chamado Ainil , foi o maior e mais movimentado de todo o sul do Chile na época Alihuen. Era um ponto estratégico por sua proximidade do porto costeiro , com vista para os vales do rio Calle - Calle e Rio Cruces. Também possuiam bom acesso às planícies onde hoje se localizam La Unión e a cidade de Rio Bueno44 .

VALDÍVIA, CHILE A cidade de Valdívia se localiza ao Sul do Chile, na latitude 39º 49´ Sul e longitude 73º 14' Oeste, na Região de Los Rios e é a capital da província que leva o mesmo nome36. Possui uma população de 140559 habitantes, segundo levantamentos de 2002 e uma superfície de 1015,6km²37. A cidade está localizada entre os rios Calle-Calle, Valdivia e Cau-Cau38 (Figs 5.20).

Em 18 de março de 1554, a cidade recebe o privilegio de Armas e é titulada “Cidade muito nobre e leal” pelo imperador Carlos V. Poucos anos após o recebimento do título, a sete léguas da cidade, é descoberto ouro por um grupo de mineradores45 .

O clima da cidade de Valdívia é predominantemente tropical úmido, com influência Mediterrânea39. Valdívia é uma das cidades com maior precipitação do Chile, com uma média anual de 2500mm de chuva. As chuvas ocorrem durante o ano todo, mas são mais intensas durante o inverno, de maio a agosto40. Suas temperaturas variam entre 10 ºC a 19ºC e sofrem relativa queda de temperatura devido a influência do mar41. Segundo registros históricos, a primeira aparição de Valdívia foi nos registros do almirante Juan Batista Pastene, o descobridor do Rio Ainilebu, enviado por Pedro de Valdivia, o primeiro governador do Chile, para a exploração da costa chilena42 . Fundada em 1552, a cidade de Valdívia, era chamada de Santa María de la Blanca de Valdívia e foi a primeira cidade construída por Pedro de Valdívia43 .

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Santa María la Blanca de Valdivia, localizada na região do povo

5.21 Plano holandês de 1643. Muitos registros antigos de Valdívia se perderam devido à desastres naturais. Fonte: Una ciudad chilena del signo XVI - Valdivia 15521604 5.20 Localização de Los Lagos em relação ao Chile e também localização da cidade de Valdívia em a Los Lagos. Fonte: http://moon.com/ maps/south-america/chile/

Ao longo de aproximadamente 200 anos, houveram três marcos importantes para a cidade, que foram quando ela acabou sendo destruída. O primeiro foi em 1575 com um terremoto seguido de um maremoto, o segundo momento foi em 1599, com uma revolta indígena que tomou a cidade e a destruiu. O terceiro e último grande marco foi em 1748, quando houve um grande incêndio que destruiu a cidade por completo46 . Apesar dos percalços, houveram outros momentos de grandes conquistas. Em 1643, houve a chegada dos holandeses pelo Rio Valdívia (Figs 5.21), eram ao todo quatro embarcações que buscavam invadir o território, mas fracassaram devido à hostilidade indígena e a captura e

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morte do comandante. Dois anos após o ocorrido, António Sebastian de Toledo, filho do vice rei do Peru chega à baía de Corral, com a intenção de repovoar a cidade. Para que isso fosse possível, ele constrói um forte, que dura até o século XVIII. Devido aos fatos ocorridos e constantes invasões, da metade do séc. XVIII até o início do XIX, a cidade fica com uma fama ruim, conhecida como um lugar inconquistável devido à presença de indígenas e piratas47 .

Em 1899, a ferrovia chega à Valdívia, conectada à ferrovia que liga o norte ao sul do país, por meio do trecho Antilhue-Valdívia. Na virada do século, a cidade ganha força e se torna um dos principais centros industriais e comerciais do país, chegando a até mesmo receber investimentos estrangeiros, se tornando a primeira cidade do Chile e até mesmo da América do Sul a possuir uma siderúrgica. Na mesma época, um incêndio destruiu parte da cidade51 .

Por volta de 1710, Valdívia possuía 2000 habitantes e deixou de pertencer ao vice reino do Peru, e volta a pertencer ao Reino do Chile48 .

Da segunda metade do século XX em diante, Valdívia apresentou um grande crescimento com a construção de pontes, a implantação da Universidade Austral em 195452 .

No início do século XIX houveram mais turbulências para a pequena cidade ao sul do reino. Valdívia apoia a independência do Chile, se juntando a Chiloé e estando contra os ideiais do rei. Em 1835 e 1837, a cidade volta a sofrer com terremotos (Fig 5.22). Em 1846, chegam os primeiros imigrantes alemães ao porto de Corrral, a bordo do Catalina. Seis anos depois, chega Carlos Andwanter, importante nome, pois ele, juntamente com outros alemães, auxiliam no crescimento e desenvolvimento da cidade por meio da implementação da indústria, do comércio, melhorias na educação, agricultura e artes49 Como exemplo tem-se o estabelecimento da cervejaria Andwanter, ou seja, o início da industrialização da cidade50 (Fig 5.23).

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5.22 Sketch das ruínas da Catedral de Concepción após o terremoto de 1835. Fonte: http://edition.cnn.com/2010/ OPINION/03/01/vanwyhe.quake.chile.darwin/

5.23 Carlos Andwanter, um dos primeiros e mais importantes imigrantes em Valdívia. Fonte: http://www. icarito.cl/biografias/articulo/a/2009/12/236-4845-9anwandter-carlos.shtml

5.24 Grande terremoto de 1960 que devastou a cidade de Valdívia. Fonte: Corbis images.

Segundo relatos, o projeto da cidade de Valdívia foi um dos primeiros experimentos no quesito de planejamento urbano local. Após o terremoto em maio de 1960 de 9,5 pontos na escala Richter53, a cidade foi reerguida através de um plano emergencial que serviria de base e guia para a reconstrução e desenvolvimento54 (Fig 5.24). Em 1997, instala-se na cidade o primeiro cluster médico/hospitaleiro zonal, além de haver o remodelamento da praça central e a reconstrução da Catedral de Valdívia, destruída no terremoto de 1960. Já nos anos 2000, é implantado um centro de estudos científicos no antigo Hotel Schuster55..

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DESENHO URBANO

Referente ao plano de 1599, Guarda faz a seguinte citação: “A nota mais chamativa característica desta planta, o que a diferencia abolutamente das conhecidas nas demais cidades, não somente no Chile, mas também em toda América Espanhola, é o predomínio de ilhas ou “quadras” alongadas, dispostas longitudinalmente de norte a sul, tal disposição produz no sentido oposto- oriente poente- trechos equivalentes à metade de uma quadra normal.” (Guarda)

Ainda segundo Guarda, no desenho holandês de 1599, é possível se observar um prolongamento forçado com visíveis irregularidades topográficas. A maior parte dos registros foi perdido ou inexiste, uma vez que as alterações ocorriam de acordo com os desastres naturais56. (Figs 5.25, 5.26, 5..27 e 5.28).

5.27 Plano de Guillermo Frick, 1860. Fonte: Guarda

A partir da independência, em 1820, os planos caem em desuso, até que em 1850, os alemães voltam a retomá-los57.. “A beleza. Do local escolhido, por outro lado, se 5.26 Plano de Guillermo Teichelmann, 1858. Fonte: Guarda.

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ECONOMIA / PORTO “Repetimos, a qualidade do porto selaria o destino da cidade, se entendia este caráter referido não somente a atual baía de Corral- chamada então simplesmente Porto de Valdívia-, se não à população mesma, pois os barcos ancaravam no ribeira e subiam comodamente a ao longo do cais.” (Guarda)

5.25 Plano de Enrique Siemsem 1855. Fonte: Guarda.

impôs a consideração de todas as razões funcionais

ou não, estratégias: assim como Vázques de Espinosa dirá que “parecia a cidade e seu contorno um pedaço do paraíso”. Rolases expressará que “o que torna mais famoso e delicioso planta desta cidade é a beleza e grandiosidade do rio que a banha.” Em 1751, o fiscal público, Dr. José Perfecto de Salas, durante sua visita, louvará o sítio da Plaza Real, “a folhagem das árvores, terra bonita e vista alegre de flores e água , sendo dominante a todo o lugar a ser erguido” .” (Guarda)

5.28 Plano de Juan Antoine, 1904. Fonte: Guarda.

Nos primórdios da colonização Valdívia foi uma cidade produtora de mineral. Sua região, em particular, era produtora de ouro, base da economia da época58.. De acordo com Guarda, o ouro “valdiviano” era o

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melhor que se encontrava em todo o reino do Chile. Seu ouro era marcado com o nome da cidade e segundo registros históricos, em 1563, ele já era utilizado em outros países como no Peru59..

e fruticultura. Segundo Guarda, nos primórdios do século XVII, dentre os produtos que eram cultivados havia: trigo, cevada, lentilhas e outros legumes em abundância. Esta era tamanha, que os excedentes eram comercializados com o Peru63.. Mais recentemente, após o terremoto de 1960, Valdívia passou a investir no plantio de berries, framboesa, mirtilo e cramberries para exportação, sendo sua maioria (aproximadamente 80%) também exportada para os Estados Unidos64 (Figs 5.30, 5.31).

Valdívia é uma cidade industrial e possui um porto como fonte secundária de economia, é também um centro médico e de serviços educacionais. A renda da cidade provém da movimentação portuária, calçados, cerveja e indústrias de processamento de madeira. Ela ainda conta com cinco hospitais, várias escolas privadas e duas universidades60.

Com os terremotos, a economia da cidade foi abalada, porém foi reestabelecida através de incentivos fiscais, auxílio estrangeiro e oportunidades geradas pelo pelo plano de reconstrução. Valdívia está localizada longe das principais ferrovias e estradas como a norte sul, o que limita o potencial de crescimento industrial65.

Sua indústria é bastante diversificada, composta por madereiras, indústria naval (Fig 5.29), lojas de departamentos e cervejarias. As madereiras vivem do processamento e beneficiamento do eucalipto da região, já que ela possui grandes áreas verdes, sendo parte ainda composta por florestas nativas. Grande parte da madeira processada e do papel são produtos exportados para os Estados Unidos61.

PLANEJAMENTO

A indústria naval de Valdivia surge em consequência da abundância em madeira, principal matéria-prima para a construção naval. Fora isso, ainda há a comodidade proporcionada pela presença do rio, que tornou a cidade atrativa para este tipo de indústria62..

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Outra parte da economia de Valdívia está baseada na agricultura

5.29 Indústrias que crescem em função da facilidade de escoamento de produtos. Acervo de fotos Isis Porcel Torres.

5.30, 5.31 Feira de Valdívia, onde se encontram verduras, pescados e frutas cultivadas pela população local. Acervo pessoal da autora

O plano emergencial de 1960 teve força e foi de fato legalizado quando o projeto foi inciado. A situação fez com que as respostas tivessem que ser imediatas e aplicadas, mas isso não foi gratuito ou criado de imediato. Para isso foram feitas suposições. Esses são acontecimentos futuros, metas utilizadas na elaboração do plano, uma base para a elaboração de propostas.

Algumas das suposições para o plano de Valdívia foram os

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seguintes:

- Sistema de vias radial-circurnferencial -By pass pelo tráfego

- Valdívia vai continuar a crescer e precisará de um nível elevado, um espaço acessível para indústrias e residentes.

- Vias principais contornando, mas não cortando bairros residenciais

- Algumas áreas devem ser preservadas, pois não servirão para fins contrutivos e usos urbanos, uma vez que são áreas alagadiças ou sofrem ações da natureza que inviabilizam seu uso.

- Sistema interligado de parques e áreas públicas

- O crescimento do uso de automóveis e caminhões demandará a criação de estradas mais diretas, cômodas e práticas.

- Indústrias localizadas próximas a importantes vias de acesso, facilitando o escoamento (principais rodovias, ferrovias e rio)

- O rio continuará tendo caráter recreativo e industrial.

- Maior densidade de moradias próximo à áreas industriais, facilitando as viagens entre trabalho- moradia

- Valdívia assumirá um novo papel como um porto fluvial fornecendo transporte e instalações portuárias de Las Mulatas (não se tem certeza da viabilidade)

- Áreas comercias e industriais com acesso à vias de acesso

- Proibição da construção em áreas inundáveis

PRINCÍPIOS DO PLANEJAMENTO Os princípios seguintes ou as ideias de planejamento aceitas são implícitos no plano de 1960. Esse tópicos foram extraídos do plano e basicamente aderidos no reestudo.

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- Integração geográfica entre bairros, contendo escola, parque e comércio

DESCRIÇÃO DO PLANO Uso do solo: através de um levantamento do uso do solo existente a ser utilizado como base, foi possível a projeção do plano. Este deveria ter em mente que a proporção entre as áreas residenciais, industriais e comerciais influenciariam no tipo de cidade que Valdívia viria a se tornar. Dentre as alterações futuras consta um sistema alternativo de vias e também a conexão de parques e instituições, formando um

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cinturão pela cidade, penetrando em áreas residenciais. Este cinturão verde, além de integrar áreas e dar uso à áreas alagadiças, potencializa uma possibilidade de tornar Valdívia um centro turístico. Circulação: a criação de uma rede de transportes altamente eficiente é necessária para que Valdívia possa desenvolver por completo seu potencial de crescimento, além de ser importante integrador entre economias, culturas e classes sociais dentro do cotidiano da comunidade, mantendo a cidade na posição de mais importante da região. O plano de 1960 adotou o sistema radial circuncêntrico, que favorecia mais a questão geográfica-topográfica e previa um grande crescimento do tráfego, mesmo ele ainda sendo pequeno na época. A partir disso, houve uma hierarquização bastante lógica onde as vias principais fazem parte de um sistema regional de conectividade, interligando porto, vias, ferrovia. As vias secundárias conectam as principais áreas residenciais, comerciais e áreas de trabalho. Por fim, as vias coletoras internas juntam os fluxos das áreas residenciais e distribuem nas outras vias citadas.

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COMPARATIVOS Como modo de embasamento e comparação entre ambas as cidades e seus respectivos planos, serão propostos mapeamentos comparativos. No caso de Valdívia, serão usados os de 1960, referentes à reconstrução após um terremoto. Já no caso de Iguape, as análises apresentadas são levamentamentos realizados pela autora e o plano a ser abordado também é o proposto pela autora. Os mapas de aplicação estratégica são referentes a 2,5; 5; 7,5; 10 e 15 anos respectivamente.

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80 Série científica Geologia USP Geocronologia e Geologia Isotópica dos Terrenos Pré-Cambrianos da Porção Sul-Oriental do Estado de São Paulo

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Mapa com principais pontos de referĂŞncia de Iguape. Imagem montada pela autora

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1 IGUAPE, Prefeitura de. Disponível em <http://www.iguape.sp.gov.br/> 2 PEREIRA JÚNIOR, Carlos A, organizado por. Iguape: Princesa do Litoral, Terra do Bom Jesus, Bonita por Natureza! Editora Noohva América. São Paulo, 2005. 3 Ibidem 4 IGUAPE, Prefeitura de. Disponível em <http://www.iguape.sp.gov.br/> 5 Ibidem 6 Ibidem 7 SEGAWA, Hugo. O Conjunto kkkk. 8 Ibidem 9 FORTES, Roberto. Iguape...Nossa História. Volume I. 2000. 10 Ibidem 11 Ibidem 12 Ibidem 13 Ibidem 14 Ibidem 15 IGUAPE, Diário de. Disponível em < http://diariodeiguape.com/informacoes/ nossa-historia/> 16 Ibidem 17 Ibidem 18 Ibidem 19 PEREIRA JÚNIOR, Carlos A, organizado por. Iguape: Princesa do Litoral, Terra do Bom Jesus, Bonita por Natureza! Editora Noohva América. São Paulo, 2005.

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20 IGUAPE, Prefeitura de. Disponível em <http://www.iguape.sp.gov.br/> 21 PEREIRA JÚNIOR, Carlos A, organizado por. Iguape: Princesa do Litoral, Terra do Bom Jesus, Bonita por Natureza! Editora Noohva América. São Paulo, 2005. 22 IGUAPE, Prefeitura de. Disponível em <http://www.iguape.sp.gov.br/> 23 Ibidem 24 CARNEIRO, Rafaelle R. S. A Pesca da Manjuba e o Canal do Valo Grande: uma relação de (des)continuidades em Iguape-SP. Universidade de São Paulo. 2005 25 Ibidem 26 Ibidem 27 IPHAN. Dossiê de tombamento de Iguape. 2009 28 Ibidem 29 Ibidem 30 Lei nº 708-81 31 PEREIRA JÚNIOR, Carlos A, organizado por. Iguape: Princesa do Litoral, Terra do Bom Jesus, Bonita por Natureza! Editora Noohva América. São Paulo, 2005. 32 FORTES, Roberto. Iguape...Nossa História. Volume I. 2000. 33 IPHAN. Dossiê de tombamento de Iguape. 2009 34 PEREIRA JÚNIOR, Carlos A, organizado por. Iguape: Princesa do Litoral, Terra do Bom Jesus, Bonita por Natureza! Editora Noohva América. São Paulo, 2005. 35 CARNEIRO, Rafaelle R. S. A Pesca da Manjuba e o Canal do Valo Grande: uma relação de (des)continuidades em Iguape-SP 36 _______. Historical Backgrounds of Valdivia

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37 NANNIG, Raúl Grothe. Hitos: Historia y desarollo de la región de Los Rios. 2013. 38 Ibidem 39 VALDIVIA, Ilustre Municipalidad de. Disponível em <http://www.munivaldivia. cl/www/municipal_valdivia> 40 NANNIG, Raúl Grothe. Hitos: Historia y desarollo de la región de Los Rios. 2013. 41 VALDIVIA, Ilustre Municipalidad de. Disponível em <http://www.munivaldivia. cl/www/municipal_valdivia> 42 Ibidem

52 Ibidem 53 VALDIVIA, Ilustre Municipalidad de. Disponível em <http://www.munivaldivia. cl/www/municipal_valdivia> 54 _______. Historical Backgrounds of Valdivia 55 VALDIVIA, Ilustre Municipalidad de. Disponível em <http://www.munivaldivia. cl/www/municipal_valdivia> 56 GUARDA, Gabriel O.S.B.. Una ciudad chilena del signo XVI - Valdivia 15521604 57 Ibidem 58 Ibidem

43 NANNIG, Raúl Grothe. Hitos: Historia y desarollo de la región de Los Rios. 2013. 44 Ibidem 45 Ibidem 46 VALDIVIA, Ilustre Municipalidad de. Disponível em <http://www.munivaldivia. cl/www/municipal_valdivia> 47 Ibidem 48 Ibidem 49 Ibidem 50 _______. Historical Backgrounds of Valdivia 51 USGS, science for a changing world. Historic Earthquakes. Disponível em <http://earthquake.usgs.gov/earthquakes/world/events/1960_05_22.php>

59 Ibidem 60 _______. Historical Backgrounds of Valdivia 61 NANNIG, Raúl Grothe. Hitos: Historia y desarollo de la región de Los Rios. 2013. 62 GUARDA, Gabriel O.S.B.. Una ciudad chilena del signo XVI - Valdivia 15521604 63 Ibidem 64 NANNIG, Raúl Grothe. Hitos: Historia y desarollo de la región de Los Rios. 2013. 65 _______. Historical Backgrounds of Valdivia

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INDICAÇÕES PARA PROJETO 106


Render projeto Zhu Jiang Xin Cheng. Fonte: Carilha do projeto.

6.1 Localização de Guangzhou no Delta do Rio das Pérolas. Montagem feita pela autora.

− GUANGZHOU, CHINA Pensando nas cidades mundiais e suas alterações e atualizações ao longo do tempo, temos a cidade de Guangzhou, localizada na província de Guangdong (Fig. 6.1). Por meio do histórico a ser apresentado, é possível perceber e entender as várias fases da cidade, que cresceu, apresentou um longo período de decadência com a Revolução cultural, uma breve recuperação e, atualmente, um período de estabilização que pretende ser impulsionado por um projeto de redesenho urbano1. Durante a reaparição da China nos noticiários mundiais, surgem três cidades de grande destaque: Beijing, Shanghai e Guangzhou. O nome dessas cidades surge em função de terem se tornado porta de entrada para o comércio e turismo chinês após o fim do regime socialista2. Segundo Xu (2003), Guangzhou foi uma das primeiras cidades chinesas a se beneficiar da reforma econômica de 1978, o que deu origem ao seguinte dito popular “A província de Guangdong está um passo a frente da China e a cidade de Guangzhou, está um passo a frente de Guangdong.” 3 Outra característica das cidades do entorno do delta do Rio das Pérolas, o que inclui Cantão, é a de uma proliferação e crescimento de caóticas megalópoles como o resultado das políticas de Deng Xiaoping

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em 1978, com a abertura política, gerando as chamadas “Cidades de diferenças exacerbadas” (CDE)4. Atualmente, a cidade de Guangzhou possui importância no sudeste da China por ser um centro administrativo, comercial e centro de negócios, sediando feiras internacionais como a Feira Internacional de Cantão, que acontece duas vezes ao ano (Figs 6.2, 6.3, 6.4, 6.5, 6.6). Fora isso, a cidade tem mostrado um grande crescimento no setor terciário5

6.6 Tabela com dados e edição da tradicional feira Internacional de Cantão. Fonte: http://www.cantonfair.org.cn/en/ 6.2, 6.3, 6.4, 6.5 A Feira Internacional de Cantão abrange os mais variados temas e produtos, que vão desde utilidades domésticas, produtos de higiene pessoal até bicicletas e automóveis. Fonte: http://www.cantonfair.org.cn/en/

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. Cantão também faz parte de um ranking com cidades com mais de 12 milhões de habitantes. Com previsão de serem 36 milhões de habitantes em 2020- o que chama a atenção é o crescimento, tanto em escala quanto em velocidade, nunca antes visto em outro lugar 6 . A grande competitividade chinesa impulsionou o crescimento dessas três cidades, conhecidas pelos chineses como “北上广” (Bei/ Shang/Guang), as três melhores cidades da China (Figs 6.7, 6.8, 6.9). Entre elas há uma grande competitividade para saber qual será considerada a

6.7, 6.8, 6.9 As grandes cidades chinesas (de cima para baixo, esquerda para direita): Beijing, Shanghai e Guangzhou. Fontes: indicadas na lista de imagens

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melhor7. Com o intuito de alavancar as cidades e a economia chinesa como um todo, surgem diversos projetos de planejamento urbano como o da região de Pudong em Shanghai. A partir da competitividade entre essas três cidades e da situação na qual se encontrava a cidade de Guangzhou, foi tomada a decisão da criação de um plano que pudesse criar um cenário futuro distinto. De acordo com Xu e Yeh, a cidade estudada passava pela seguinte situação: “Com uma história de mais de 2.100 anos, Guangzhou , apesar de seu passado glorioso, já experimentou um declínio no papel como uma cidade central na região , devido ao rápido crescimento das cidades no entorno do Delta do Rio das Pérolas . Guangzhou também está sofrendo com problemas causado pelo interior da cidade congestionada e crescimento descontrolado de novas áreas de desenvolvimento. Estrutura da cidade mudou gradualmente a partir de um modelo compacto que ultrapassou a expansão urbana. Estes problemas são agravados pelos recursos de terras limitadas sob sua jurisdição direta e a pressão para reposicionar-se num contexto de desenvolvimento regional, que é mais competitivo do que nunca. Para enfrentar os desafios que

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estão à frente, Guangzhou recentemente ampliou sua fronteira administrativa e tomou uma série de iniciativas de planejamento e desenvolvimento de infra-estruturas para melhorar a sua competitividade no futuro.” (Xu; Yeh2010)

O projeto de Guangzhou surge com o objetivo de estabelecer uma zona de 1o. Mundo com a melhor qualidade possível, superando as outras duas cidades de mesma nacionalidade. Ele é divido em três fases, a curto, médio e longo prazo (um ano, três anos e quinze anos, respectivamente). A primeira fase ocoreu de 1998-1999, a segunda foi entre 1999-2002 e a terceira e última ainda está em andamento, com término previsto para 20158 .(Fig 6.10) Localizado no centro de Guangzhou, foi projetado o novo centro econômico da cidade, cujos objetivos principais são: a expansão em direção ao norte, priorizando a conectividade entre as duas margens do rio, dando maior importância à margem norte; ligação com o oeste; avanço em direção leste e extensão em direção ao sul 9.(Figs 6.11 e 6.12) O estabelecimento dessas diretrizes de desenvolvimento foi devido ao impasse de crescimento para o sul e o leste, por haver áreas com administração distinta. Ao norte, se encontram as montanhas, que possibilitam o crescimento de uma área que visa a sustentabilidade; e a

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leste, há a necessidade de mudanças, pois a área se encontrava em um estado de caos devido ao crescimento desordenado da cidade 10. Com o intuito de que a cidade possa crescer e competir no cenário mundial como uma cidade de primeira classe, houveram alguns “pilares” nos quais o projeto é embasado. São eles: a criação e reforço de uma cultura da cidade de Guangzhou; desenvolvimento apoiado no rio (cuja importância é e foi fundamental para o estabelecimento e

6.10 Andamento do projeto de Guangzhou, dividido em 3 fases. Duas concluídas e a terceira em andamento. Fonte: Cartilha do projeto 6.11 Projeto das áreas rurais e urbanas e influências do projeto sobre a cidade de Guangzhou. Montagem realizada pela autora.

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desenvolvimento da cidade); popularização do projeto (no sentido que toda a população da cidade possa usufriur do mesmo)11. A constituição desta nova zona de Guangzhou é composta por três distritos de desenvolvimento, onde cada uma deles possui uma visão e um foco distinto, mas que juntas, devem se complementar mutualmente, estabelecendo um conjunto completo e totalmente integrado entre si.12 Sob o principal lema “Um eixo, duas cidades, três distritos” 13, busca-se atingir o principal objetivo através do reforço do eixo que orienta a “nova Guangzhou”, demarcando o centro e o coração do projeto. O

6.12 Expansões em direção ao norte, ligação com o oeste, avanço em direção leste e extensão em direção ao sul. Carilha Guangzhou. Fonte: Cartilha do projeto.

termo duas cidades refere-se à paisagem urbana, muito bem demarcada, criando a visão de duas cidades (Fig 6.13). Por fim, haverão três zonas, respectivamente: Xinhua, no distrito de Huadu; Jiekou em Conghua e Licheng em Zencheng. Cada uma delas deve se tornar um modelo de cidades satélites que orientam e coordenam o desenvolvimento e a relação entre cidade e campo.14 O projeto foi desenvolvido embasado em estudos de caso de projetos realizados em grandes cidades como New York, Londres, Paris e Tokyo. A importância desse estudo foi na relação entre a cidade e o seu desenvolvimento até chegar a crise de crescimento e como elas contornaram a situação (Fig 6.14).

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Através dos modelos anteriores, pode-se criar o seguinte faseamento para do CBD (sigla em inglês adotada no projeto, para o chamado Central Business District): fase atual; crescimento e desenvolvimento; modernização do CBD; transformação da cidade em

polinuclear (cidades semelhantes ao que Richard Rogers diz em seu livro Cidades para um Pequeno Planeta).15 A partir da análise de condições atuais, foram formuladas questões norteadoras do projeto e, a partir das respostas, foram formuladas as estratégias projetuais para que o objetivo final fosse atingido16. Das condições atuais em comparação aos estudos de caso citados, surgiram os questionamentos e reflexões a respeito da moradia, transporte, pré-existências, governanças e a questão cultural. Transporte: rede viária - ponto fundamental para o desenvolvimento

6.13 Principal lema do projeto: reforço de um eixo (o rio), conexão entre duas cidades e criação de 3 áreas, com distintos programas. Fonte: Cartilha do projeto

6.14 Cidades utilizadas como estudo de caso: New York, Paris, Tokyo Cartilha Guangzhou. Fonte: Cartilha do projeto.

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da cidade. Deve ser acessível a toda a população e servir ao meio urbano de maneira no mínimo razoável. Problema: O rio secciona a cidade em duas partes, o que gera congestionamentos. Como resolver este tipo de

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impasse? Ainda há problemas com a rede ferroviária- não há uma ferrovia eficiente e rápida. No caso de Tokyo, sem ela, não teria como terem sido elaborados e construído novos sete subcentros. Sendo assim, para que haja a expansão do CBD, haverá a necessidade da alteração da malha ferroviária da cidade?17 Moradia: segundo experiências em outros países, nota-se a necessidade e a importância de moradias para diferentes níveis sociais. Haverá a criação de zonas novas, nelas a moradia será prevista e

consolidação de uma cultura regional. Como permitir a preservação e desenvolvimento da mesma, ao passo que a cidade cresce, se altera e se desenvolve?21 Posteriormente, a partir dos pontos questionados anteriormente, surgiram outras questões. Estas são as chamadas as questões norteadoras, que levam em conta as seguintes considerações22: − Como manter Guangzhou como a melhor cidade da província de Guangdong ? Através do estabelecimento de um distrito de desenvolvimento de

totalmente planejada, porém nas áreas consolidadas, como pode ser alterada a questão da moradia?18 Instalações públicas: Há a necessidade da construção de um centro de atividades públicas?19 Herança Industrial: Houve um tempo que haviam muitas indústrias instaladas na cidade e, com o passar do tempo, ocorreu o processo de desindustrialização. Como transformar um antigo setor industrial em uma central de serviços com intensa atividade, de modo que não haja o abandono e degradação destes espaços?20 Cun zun fa zhang (agricultura): Guangzhou possui uma história

negócios, elevando-se a uma região de negócios, de maneira que tornem a cidade de Guangzhou comparável ao desenvolvimento dos distritos comerciais de Tóquio, Pequim, Shanghai e Paris: dinâmicos e de extrema importância no cenário mundial. − Como solucionar a questão do transporte em uma cidade de grande porte como o caso em análise, levando em consideração o grande fluxo de pessoas e veículos que ocasionam congestionamentos ? Com o crescimento populacional demasiado e inesperado dos anos 2000, foi necessário um esforço para se prever uma solução eficiente e de baixo custo para o transporte público. Assim, foram criados

milenar de mais de 2200 anos, o que contribuiu para a criação e

os ônibus de trânsito rápido de Guangzhou, no qual além de ajudar com

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a questão do trânsito, deveriam ajudar também com o corte da emissão de carbono e outras questões de sustentabilidade23. Mesmo com esse tipo de solução ela consegue suportar o crescimento da cidade até certo ponto. Para que isso não ocorra e haja outra crise do sistema público de transporte, conta-se com o estabelecimento de uma rede de transportes público complexa e tridimensional (no qual terá transporte aéreo, térreo e subterrâneo), no qual juntos devem suprir a demanda. Foram projetadas linhas de metrô, sistemas de ônibus subterrâneos e rede de ônibus comum, além do monotrilho24. − Como elevar o nível da cultura no CBR (sigla em inglês adotada no projeto, para o chamado Central Business Region), levando-se em conta a cultura milenar da região ? Assim como nos estudos de caso foram estabelecidos marcos na cidade, a intenção do projeto é o estabelecimento de marcos (“footprints”) que demonstrem os atrativos principais da cidade. Serão estabelecidos ao todo 16 pontos, de maneira a formar uma “pegada” de cultura25. − Como tornar mais vivo o espaço público da cidade ? Baseado nos estudos de caso, chegou-se a conclusão de que devem haver espaços públicos de diferentes níveis e escalas, sendo eles separados da

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seguinte maneira: espaços públicos, espaços semi-públicos e espaços privados. A hibridização destes, deverá produzir um espaço complexo de alta qualidade26. − Como tratar os edifícios e construções existentes ? Para a construção dessa nova cidade, é importante selecionar e analisar o existente. Não se deve derrubar tudo, mas também não se pode preservar o todo. Deve se aproveitar de forma razoável o espaço existente através de uma seleção, propondo uma reforma de maneira equilibrada e a melhoria da infraestrutura27. − Como colocar o projeto em prática ? Por meio do estudo de caso de cidades semelhantes, pode-se analisar erros e acertos de um caso específico. Depois disso, vem a elaboração de estratégias, criação de etapas de implementação, cálculo de investimentos e retornos, é possível colocar em prática o projeto e torná-lo eficiente28. (Fig 6.15). Como finalização do projeto, foram formuladas as seguintes áreas: Zhu jiang xin cheng, o distrito de Pazhou e o distrito de Yuancun. No primeiro setor, ficam localizadas os centros financeiros, de rede de distribuição de informações e serviços internacionais. No segundo, ficam localizadas as áreas destinadas a exposições de nível

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6.15 Perguntas e respostas que direcionaram o projeto. Fonte: Cartilha do projeto.

internacional, nacional e popular, serviços relacionados às exposições e distrito de pesquisa tecnológica. Por fim, a terceira área é destinada à sede de empresas multinacionais, base criativa cultural e estabelecimento de empreendimentos de alto padrão 29 (Fig 6.16).

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CONSIDERAÇÕES Apesar da escala do projeto e da cidade de Guangzhou serem muito maiores que a da cidade de Iguape, através desta iniciativa é possível compreender como a setorização e especialização da cidade e o 6.16 Os três distritos que compõem o CBR. Cada um possui uma característica própria. Fonte: Cartilha do projeto.

planejamento por fases podem ser feitos e aplicados. A setorização da cidade em áreas espercíficas como o pólo educacional, o centro para exposições internacionais e áreas de uso misto auxiliam a dinamizar a economia da cidade, fazendo com que ela não dependa de apenas um gerador de renda ao mesmo tempo que mantém a cidade ativa por vários centros e atividades. A implementação por etapas é importante ao passo que permite que a cidade continue a funcionar enquanto as alterações são realizadas. Assim, as construções surgem de acordo com o grau de importância, alternando-se no território e permitindo que o funcionamento da mesma apenas cresça e melhore.

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Hong Kong, West Kowloon. Fonte: http://www.fortuneconferences.com/mpwasia-2013/venue/

− WEST KOWLOON CULTURAL DISTRICT, HONG KONG Por meio de um concurso realizado em 2010, o distrito de Kowloon buscava propostas para uma área de 40ha para o Distrito Cultural Oeste de Kowloon. De 12 propostas selecionadas, 3 foram os finalistas: OMA com o projeto 3 vilas, Rocco Arquitetos com o Conexão Cultural e Foster+ Partners com o Parque Cidade30. Mesmo com o cancelamento do projeto31 e consequente alteração da ideia original, algumas análises ainda são válidas e o parque foi mantido, porém com projetos colocados de maneira mais compacta. Segundo as autoridades locais, a nova frente marítima tem como concepção ser o “coração verde” do distrito cultural, contendo uma rica variedade de árvores e plantas, assim como áreas gramadas abertas para lazer. Uma preocupação especial tem sido dada à questão do sombreamento e a variação topográfica, enquanto áreas de amplo espaço com esculturas e instalações serão contidas no desenho do parque. Ele proverá espaços abertos convidativos e vibrantes para a realização de performances musicais, danças e teatros, assim como amostras de arte e outros eventos culturais32.

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Fonte: http://www.oma.eu/projects/2010/west-kowloon-cultural-district/


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Fonte: http://www.dezeen.com/2010/08/25/west-kowloon-cultural-district-by-rocco-designarchitects/


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Fonte: http://www.fosterandpartners.com/projects/west-kowloon-cultural-district/


Atual projeto para o distrito cultural de Weat Kowloon. Fonte: http://www.westkowloon.hk/en

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CONSIDERAÇÕES Em qualquer um dos 4 projetos apresentados, é possível perceber a relação entre as frentes marítimas, a cidade e o parque. É claro que em alguns projetos esta relação fica mais ou por vezes menos evidente. Neles, nota-se a chamada “cidade compacta” proposta por Richard Rogers, onde um território ideal tem em um pequeno espaço, as mais diversas funções e necessidades cotidianas da cidade33.

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Remos vermelhos. Fonte: http://www.lemoyne.edu/Athletics/ClubSports/Rowing/tabid/3359/Default.aspx

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6.17 Lago Karapiro, Cambridge. Fonte: Google Earth.

6.18 Club Phoenix, Valdívia. Fonte: Google Earth

− ESCOLAS DE REMO − Karapiro Lake Com uma dimensão de 8Km², o lago Karapiro (Fig 6.17), localizado em Cambridge, ao norte de Auckland, foi formado em 1947 em função do represamento do rio Waikato para a construção de uma hidrelétrica. Em 1949, ocorreu o primeiro campeonato no lago, que demonstrou seu potencial para o recebimento de maiores eventos. Em 2010, o lago recebeu os Campeonato Internacional de Remo34. − Club Phoenix O club Phoenix foi fundado com a chegada dos alemães ao sul do Chile e uma vez que se estabeleceram em Valdívia (Fig 6.18), passaram a realizar grande parte de suas atividades nos rios que circundam a cidade. Estes não eram usados somente como meio de comunicação, mas também como um espaço de entretenimento e diversão35. Este clube, em específico, possui importância em jogos Sul Americanos, Panamericanos, Mundiais e até Olímpicos. Apesar do seu pioneirismo como clube de origem alemã mais antigo na América do Sul36, sua infraestrutura demonstra que para se ter uma escola de remo de qualidade, não é preciso tecnologia de ponta ou ginásios enormes de simulação.

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Fonte: www.actionimages.kiwi.nz

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Fonte: Acervo pessoal da autora; http://www.phoenixvaldivia.cl/

Fonte: http://www.karapirorowing.com/; Joshua Li

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Fonte: Acervo pessoal da autora;

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Fonte: http://aart.dk/projects/maritime-education-centre#263

Fonte: http://www.e-architect.co.uk/denmark/skagen-skipperskole

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1 CHAN, Thomas e ROSÁRIO, Louisde do. Delta do Rio da Pérolas 2 GAUBATZ, Piper. China’s Urban Transformation: Patterns and Processes of Morphological Change in Beijing, Shanghai and Guangzhou. Urban Studies, vol 36, no. 9 3 XU, Jiang; YEH, Anthony G.O. City profile. Centre of urban planning and environmental management. The University of Hong Kong 4 LIAW, Laurance. New Urban China (Architectural Design), vol 78 no.5 5 XU, Jiang; YEH, Anthony G.O. City profile. Centre of urban planning and environmental managment. The University of Hong Kong 6 KOOLHAAS, Rem. Mutaciones 7 GUANGZHOU, Government of. Zhu jiang xin cheng project. 2009. 8 Ibidem 9 GUANGZHOU, Government of. Zhu jiang xin cheng project. 2009. 10 XU, Jiang; YEH, Anthony G.O. City profile. Centre of urban planning and environmental managment. The University of Hong Kong 11 GUANGZHOU, Government of. Zhu jiang xin cheng project. 2009. 12 Ibidem 13 Ibidem 14 GUANGZHOU, Governo de. City Development Plan: One Axis, Two Towns and Three District Centers. Disponível em < http://english.gz.gov.cn/publicfiles/ business/htmlfiles/gzgoven/s3711/201104/788009.html> 15 GUANGZHOU, Government of. Zhu jiang xin cheng project. 2009.

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16 Ibidem 17 GUANGZHOU, Government of. Zhu jiang xin cheng project. 2009. 18 Ibidem 19 Ibidem 20 Ibidem 21 Ibidem 22 Ibidem 23 SMITH, Cynthia E..Design with the other 90% cities.- Guangzhou Bus Rapid Transit System. 24 GUANGZHOU, Government of. Zhu jiang xin cheng project. 2009. 25 Ibidem 26 Ibidem 27 GUANGZHOU, Government of. Zhu jiang xin cheng project. 2009. 28 Ibidem 29 Ibidem 30 Archdaily. WKCDA Abandons West Kowloon Park Competition in Hong Kong. Disponível em <http://www.archdaily.com/415215/hong-kong-s-westkowloon-park-competition-cancelled//> 31 Archdaily. West Kowloon Cultural District Selects City Park/ Foster + Partners. Disponível em <http://www.archdaily.com/119264/west-kowloon-culturaldistrict-selects-city-park/> 32 WKCDA. A Park we share. Disponível em <http://www.westkowloon.hk/en/

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the-district/architecture-facilities/park/> 33 ROGERS, Richard. Cidades para um pequeno planeta. 1997 34 NEW ZEALAND, history of. World comes to Karapiro. DisponĂ­vel em <http:// www.nzhistory.net.nz/culture/rowing-in-new-zealand/world-comes-tokarapiro> 35 VALDIVIA, Club Deportivo Phoenix. Historia. DisponĂ­vel em <http://www. phoenixvaldivia.cl/?page_id=2> 36 Ibidem

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PROJETO


“Pode-se então definir arquitetura como construção concebida com a intenção de ordenar e organizar plasticamente o espaço, em função de uma determinada época, de um determinado meio, de uma determinada técnica e de um determinado programa" (Costa, 1995)

O objetivo principal do projeto urbano é o reestabelecimento da relação cidade x águas, mas durante pesquisas e visitas ao local, foi encontrado outro objetivo complementar àquele citado anteriormente: a reconciliação entre o novo e o antigo, não simplesmente descartando o passado, mas fazendo o mesmo se tornar parte do futuro. Sendo assim, formulou-se a tríade que embasa o projeto. Antes de se falar do desenho propriamente dito, é importante reforçar que ele foi feito com base em algumas intenções, ideias que independentemente do resultado final, eram importantes para a relação a ser criada entre águas e cidade. Dentre estas ideias estão: fluxos, continuidade, descontinuidade e reciclagem urbana (Fig 7.1).

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7.1 Conjunto de intenções projetuais Diagrama montado pela autora

“Os territórios urbanos e as cidades são a oportunidade de reconfiguração, gerando maior urbanidade e não apenas infraestruturas locais.” (Arriagada, 2012)

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1. Fluxos: indução do pedestre a caminhar e olhar para a cidade de modo direcionado, mas no geral em dois grandes eixos principais- em direção ao centro da cidade e paralelo ao Valo Grande- e em eixos de menor escala, de maneira a permear por entre as quadras;

2. Continuidade: refere-se a coerência que permite a transição entre cidade, rio e parque linear;

3. Descontinuidade: refere-se às quebras e respiros, além de vazios e áreas de apreciação entre os dois elementos citados anteriormente;

4.Reciclagem urbana: presume a incorporação de edifícios antigos em bom estado, como ícones no reavivamento da cidade.

Localizado próximo à Avenida Princesa Isabel, nos quarteirões entre o antigo local onde se tomava a balsa para Ilha Comprida e o cemitério, está a área de intervenção. Ela está a alguns quarteirões de distância da Basílica do Senhor Bom Jesus de Iguape, um ícone da cidade, onde anualmente ocorre uma procissão em direção as águas em homenagem a imagem do Bom Jesus de Iguape.

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Constituído por etapas, o projeto primeiramente busca o resgate

e incorporação da história, para depois haver novas intervenções, de maneira que a população possa usufruir das obras antigas enquanto há a implantação das novas construções. Sendo assim, a primeira parte é constituída pela reforma do antigo conjunto das Indústrias Matarazzo, datada de 1921, patrimônio histórico tombado, cuja fachada principal está voltada para o canal. A obra é formada por quatro blocos e uma chaminé, sendo que dois edifícios possuem características da era industrial inglesa e os outros dois, do colonialismo brasileiro: espessas paredes de tijolos, com grandes aberturas, telhas de barro e alguns acabamentos no entorno das janelas. Neste trecho, a relação cidade e águas se manifesta através do esporte e da cultura, por meio da criação de uma escola de remo, um centro de apoio ao visitante e um museu. O conjunto industrial como um todo sofrerá uma reforma estrutural, onde serão colocadas vigas metálicas, pisos em steel deck e reforma dos telhados, de maneira que se torne clara a intervenção recente em relação à pré-existências, sem que haja a intervenção direta na plástica contida nos edifícios antigos. No galpão à direita, funcionará a garagem da escola de remo, áreas administrativas e acesso à cafeteria, academia e vestiários. Estes últimos,

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localizados no casario colonial ao fundo. Ainda, no galpão garagem, há uma saída subterrânea que dá acesso direto ao canal, não havendo a necessidade de atravessar a rua para se colocar os barcos na água. No edifício atrás do galpão mais alto, um pequeno casebre, se encontra um posto de informação ao turista. Por fim, no galpão mais alto, constrói-se o museu do mar, tendo como principal chamariz o enquadramento do canal e sua relação com a outra parte da cidade além rio (Fig 7.2).

7.2 Conjunto das antigas Indústrias Matarazzo. Acervo pessoal da autora. Setembro/2014. 7.3 Concepção da escola naval. Croqui feito pela autora.

A segunda fase do projeto é constituída por um conjunto educacional e um centro de uso misto, de maneira que esta intervenção se torne útil à cidade, não como algo temporal ou simbólico, mas que de fato mude a perspectiva de crescimento dela.

A escola naval tem sua forma baseada nas grandes e pequenas engenharias que ocupam as águas: navios, pequenos barcos pesqueiros e canoas (Fig 7.3). Sua concepção surge a partir da curvatura da quilha de uma canoa, tanto em vista quanto em planta. Não somente sua plástica é baseada nas embarcações, mas também sua divisão e composição interna são uma mímese da compartimentação de um navio, cujas salas e oficinas são compactas, mas possuem as medidas mínimas para que as funções possam nele ser realizadas.

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Como fechamento para o sistema estrutural interno de pilares e vigas metálicas, a fachada é composta por uma segunda pele feita com placas de metal de cor similar à ferrugem de grandes embarcações. Esta casca faz menção ao movimento das águas e até mesmo das velas dos veleiros ao vento, por meio de seu perfurado cujos furos são irregulares e variam de posição de pontos de influência. Sua função é o sombreamento da vedação da escola, que em sua maioria é transparente, para que haja maior aproveitamento da luz natural. Como meio de conexão entre a primeira e a escola, será construído um edifício de transição: uma biblioteca ponte, elevada 7m do chão. A viga Vierendeel, apesar de uma solução estrutural simples e clara, é portadora de um simbolismo onde os alvéolos remetem às janelas de um navio que permitem aos passageiros ter a vista do horizonte e também permite ao

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pedestre a vista do crescimento da cidade além canal.

antiga área abandonada.

Complementar à escola, constrói-se o teatro de arena, ao lado de algumas casas operárias que foram preservadas pelo patrimônio histórico.

A última parte da terceira a terceira etapa do projeto é composta pelo redesenho da ligação entre cidade e parque que acompanha uma das margens do Mar Pequeno. Apesar da margem estar tombada, o seu redenho pretende apenas desprender o parque da cidade, mantendo o contorno original dessa cidade. Esta reforma completa as relações cidade, águas e parque através da criação de piers flutuantes de madeira que funcionam como “plugs” entre águas e terras.

O teatro, com capacidade para 246 pessoas, pode ser utilizado tanto pela escola quanto pela própria cidade para manifestações artísticas e culturais. Sua estrutura também é metálica, porém diferentemente da escola, o edifício do teatro é totalmente vedado, tendo apenas como abertura a entrada principal. Como fachada, é utilizado o mesmo material da escola, formalizando a caracterização das construções como um conjunto.

O conjunto destes piers é composto por duas tipologias: lazer e preservação ambiental, que ao serem analisados como um conjunto, resultam em um parque linear. Além do parque como elemento de transição, há um último objeto: um conjunto de piscinas, que assim como o parque, é desprendido da terra, mas se localiza próximo ao encontro entre o Valo Grande e o Mar Pequeno.

Como uma terceira etapa, tem-se a contrução de um centro comercial, juntamente com a reforma e redesenho do parque. O centro comercial é composto por uma quadra de uso misto similar ao modelo do Pátio Bellavista, em Santiago. Sua composição é baseada em um jogo espelhado da quadra ao lado, onde a face da quadra que se volta para as águas é recortada. Nesta área se encontram estabelecimentos para compras, restaurantes, bares, hotel e residências. Essas novas dinâmicas “impostas” à uma antiga quadra residencial, proporcionam a criação de um “novo centro” de maneira a ativar uma

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7.4 Faseamento do projeto e tipos de objetos a serem contruídos. Montagem realizada pela autora.

Essas duas tipologias de intervenção da terceira etapa: piscina e parque, vetorizam e direcionam o caminhar do pedestre de modo a fazêlo parar e admirar a cidade, seja por sua historicidade (eixo no sentido do Canal do Valo Grande) ou por suas belezas naturais (eixo no sentido do Mar Pequeno) (Fig 7.4).

Por último, diria que descrever, montar e projetar os espaços a

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As relações cidade, águas e parque, são rebatidas nos vazios e suas sombras. Estas podem ser comparadas aos recortes de projetos de marinas. As áreas não construídas proporcionam percursos pelo qual o pedestre descobre a cidade (Figs 7.6 , 7.7 e 7.8) . Com a variação de aberturas de caminhos e pequenas praças, é possível mostrar aos visitantes “pequenos fragmentos de realidades”, podendo ser mais antigas ou mais recentes, mas que em sua totalidade, formam um único território interconectado. Resumindo, Ao todo, as três etapas compõem um projeto que engloba todas as necessidades da cidade, espalhadas ao longo do território: educação, lazer, esporte, geração de empregos e a composição de cheios e vazios. A partir deste centro irradiador de ideias e economias, espera-se que novamente a cidade de Iguape volte a prosperar como mostra sua história, porém acompanhada da tecnologia e planejamento adequados proporcionados pela contemporaneidade.

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7.5 Vazios propostos no projeto. Imagem montada pela autora.

7.6 , 7.7 e 7.8 O ato de caminhar e descobrir a cidade, enaltece diferenças e semelhanças, ativa o olhar do pedestre. Fonte: http://www.buziosguiaoficial.com/por-mar/ ;acervo pessoal da autora.

serem construídos é relativamente fácil. Porém, há uma frase bastante conhecida que descreve a parte mais difícil e diria mais poética da quarta arte: “Arquitetura é também projetar o espaço vazio.” (Fig 7.5)

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160 Panorâmicas da cidade. Acervo pessoal da autora.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS


Como encerramento de uma reflexão, voltamos com a resposta para a questão incial: Como é possível proporcionar o desenvolvimento de cidades no entorno de rios, de maneira a aproveitar ao máximo seu potencial, porém com uma intervenção condizente com o seu porte? A resposta mais óbvia e lógica é que por um único trabalho, não é possível ter uma resposta. Até porque esta não é uma fórmula pronta ou uma receita de bolo com a qual se solucionam todos os N casos de pequenas cidades. Afinal, cada uma delas possui uma vocação, uma história, uma cultura, um clima e necessidades distintas. A conclusão que pode ser tirada a partir desta cidade é a de que pequenas medidas talvez sejam mais adequadas à escala destas cidades e à questão da implantação e adaptação das estratégias aplicadas ao território. Apesar de serem previsões e especulações, difícil é tirar uma conclusão certeira sobre o planejamento de cidades. Quanto às questões projetuais, alguns pontos foram questionados, mas logo em seguida, serão refletidos. Entre os pontos levantados durante uma avaliação estavam: o uso de uma “casca” em aço cortén na fachada e a falta de foco em apenas um projeto.

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Em relação ao uso de placas metálicas na fachada e a “perda da brasilidade” como forma de arquitetura, pode-se dizer que é preciso buscar alternativas e novos testes, para que a “arquitetura brasileira” volte a se destacar. Ensaios são necessários e não é de imediato que se chega a uma solução. A respeito da falta de foco em um projeto único, não urbano, mas um objeto em si, pode-se dizer que com uma questão tão abrangente quanto a proposta no início deste trabalho, é praticamente impossível que um único projeto solucione todos os problemas de uma cidade, por menor que seja o porte desta. Este é um dos problemas dos atuais arquitetos e urbanistas: quando se tem um problema, primeiro, se pensa no geral, depois é possível focar em um ponto. Por fim, resta dizer que este resultado só foi possível por uma série de experiências e experimentações acumuladas, onde infelizmente muitas não foram expostas. Tudo isto é o processo, o desenvolvimento de um projeto, um trabalho que pode ser chamado “profissional” e também reflexo da linha de raciocínio e crenças de alguém que acredita em uma realidade diferente da atual

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POS SCRIPTUM


Os chamados pontos são referência já existentes na cidade: as principais atrações locais- a igreja e sua simbologia ligada à rota da religiosidade, as águas e a a vegetação, o parque. São locais onde é possível “mirar” (ver em espanhol parece ser a melhor definição) a cidade.

EXPERIMENTAÇÃO 01 No projeto de Bernard Tschumi para o Parc de la Villette, o local no qual o parque seria construído possuía um forte vínculo com a história antes, no local funcionavam matadouros e mercados, onde a carne recém fatiada era vendida. Ou seja, o local já possuía características próprias, que não poderiam ser simplesmente esquecidas ou apagadas (Tschumi 2012). Através da proposição de um grid (Figs 9.1 e 9.2), foi possível a criação de pontos, linhas e planos, que podiam ter uma continuidade infinita e proporcional ao longo do território2 .Além disso, esta racionalidade proposta, permite a preservação do existente e sua história, sendo apenas uma “interferência temporal em um determinado espaço”.

9.1, 9.2 O grid pode se alastrar pela cidade e chegar a outras cidades, assim como Tchumi ensaia em sua proposta. Montagem realizada pela autora.

Já sua conexão é proposta da maneira mais sintética e direcionadora possível, a reta. Segundo a definição do dicionário, reta é a menor linha que se pode traçar entre dois pontos. Além de ser o caminho mais curto, este tipo de ligação coincide com o traçado da cidade, o que reforça o movimento de percorrer o existente. Por fim, os planos são representados por nada mais, nada menos do que o próprio território e suas dinâmicas e espacialidades.

Os pontos de Tchumi, se caracterizam pela fragmentação de um programa ao longo do território, sendo interligado pelas linhas que demarcam a possibilidade da movimentação. Por fim, há os planos, que são espaços entre linhas e pontos. Este é marcado pela apropriação e uso de acordo com eventos da cidade. Como crítica e intervenção dentro da própria intervenção, em Iguape se propõe algo parecido, mas ao mesmo tempo distinto (Figs 9.3) .

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EXPERIMENTAÇÃO 02 Vivemos em um mundo onde as informações são extremamente dinâmicas, de modo que o papel, apesar de ter seu charme, hoje é algo relativamente ultrapassado. A era digital está em vigor. Deste modo, surgem novas tecnologias e novos meios de comunicação, como o chamado “QR code”. “É um código de barras em 2D que pode ser escaneado pela maioria dos aparelhos celulares que têm câmera fotográfica. Esse código, após a decodificação, passa a ser um trecho de texto, um link e/ou um link que irá redirecionar o acesso ao conteúdo publicado em algum site.” (G1, 2011)

9.3 e 9.4 QR code como meio de disseminação de informações e sua implementação como elemento na arquitetura. Fonte: QR code generator (goqr.me) e montagem realizada pela autora

Com o intuito de tornar o edifício uma ibra de arte e um objeto mais dinâmico, na fachada foram colocadas chapas que contém informações sobre a cidade e a história da edificação. Dessa maneira, o edifício passa a servir como um veículo de disseminação de informações (Figs 9.3 e 9.4).

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