Revista FDE 2004 - Secretaria da Educação

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Ministro da Saúde Humberto Costa Governador do Estado de São Paulo Geraldo Alckmin Secretário de Estado da Educação Gabriel Chalita Secretário Adjunto Paulo Alexandre Pereira Barbosa

Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde - SGTES Departamento de Gestão da Educação na Saúde - DEGES Projeto de Profissionalização dos Trabalhadores da Área de Enfermagem PROFAE

Fundação para o Desenvolvimento da Educação - FDE Diretor Executivo Diretor de Tecnologia da Informação Tirone Francisco Chahad Lanix Diretor Administrativo e Financeiro Luiz Carlos Quadrelli Diretor de Projetos Especiais Leila Rentroia Iannone Diretor de Obras e Serviços Rodrigo Martins Ramos

São Paulo 2004

FUNDAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO - FDE Rua Rodolfo Miranda ,636 - Bom Retiro 01121-900 São Paulo SP Tel. (011) 3327-4000 Fax (011) 230-7314


Apresentação Esta publicação foi produzida pela Secretaria de Estado da Educação de São Paulo, por meio da Fundação para o Desenvolvimento da Educação FDE, para levar aos estudantes do Projeto de Profissionalização dos Trabalhadores da Área de Enfermagem - PROFAE, aos demais alunos da Educação Básica e a seus professores, de várias áreas de ensino, um diversificado material para reflexão e debate sobre o tema saúde. Elaborada por educadores com diferentes especialidades e por profissionais atuantes na área, esta é uma publicação que pretende contribuir para a compreensão da saúde humana, pessoal ou coletiva, com o uso de múltiplas formas de conhecimento. Apresenta questões de contextos variados da vida pessoal, do meio ambiente, das artes ou das tecnologias enfocando as relações entre saúde, cidadania, cultura e legislação, em geral complexas e, por isso mesmo, dificilmente disponíveis em livros para a Educação Básica. Espera-se que a leitura dos textos contribua tanto para a formação do profissional de saúde, como para a de outros cidadãos, possibilitando a ampliação de conhecimentos sobre temas polêmicos com os quais lidamos em nosso dia-a-dia. Assim, procura-se melhorar a atuação na promoção da saúde e da qualidade de vida da coletividade.


PROFAE, um projeto para melhoria na saúde Com oferta de maior formação educacional e profissional, busca-se aprimorar a qualidade do tendimento O Projeto de Profissionalização dos Trabalhadores da Área de Enfermagem (PROFAE) é uma iniciativa desencadeada pelo Ministério da Saúde que desenvolve cursos de qualificação profissional e de complementação do Ensino Fundamental aos trabalhadores da área de enfermagem. O objetivo desse investimento educacional é promover a melhoria da qualidade do atendimento ambulatorial e hospitalar, nas unidades das redes pública e privada do sistema de saúde, em todo o país. Coube a Secretaria de Estado da Educação de São Paulo, como parceira conveniada do projeto, a partir de novembro de 2001, assegurar aos trabalhadores da área e aos agentes comunitários de saúde cadastrados no PROFAE a oportunidade de concluírem os estudos de 5ª a 8ª série (Ciclo II) do Ensino Fundamental. A Secretaria viabiliza essa escolarização por meio dos cursos de Educação de Jovens e Adultos, oferecidos em Telessalas ou Suplência regular instaladas em 822 escolas estaduais. Estão envolvidas nesse trabalho todas as Diretorias Regionais de Ensino da Secretaria de Estado da Educação. O Projeto abrange 409 municípios paulistas, nos quais foram cadastrados 7.204 trabalhadores no início de 2000. Desse total, 5.077 foram atendidos pelo Projeto e, atualmente, 2.127 estão concluindo o Ensino Fundamental ou sendo contatados e encaminhados para matrículas nas escolas. 4

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Achei que era importante aderir ao PROFAE e voltar a estudar em 2001, depois de 21 anos, porque recebi uma carta do Ministério da Saúde informando sobre a meta de elevar, em dez anos, a formação mínima de quem trabalha no setor até a de técnico em nível Médio. Sou funcionária do Estado desde 1990. Sem estudo, sem a teoria, não tenho como progredir e atuar na área de enfermagem.

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Edna Francisca da Silva, 49 anos, atendente na UBS Bosque da Saúde, na zona sul de São Paulo, que está completando os estudos de 5ª a 8ª série (Ciclo II) do Ensino Fundamental em Telessala de Suplência da Escola Estadual Antônio Firmino de Proença.

Soube do PROFAE através de folheto distribuído no hospital particular em que trabalhei como atendende durante oito anos. Sei que as exigências de escolaridade são cada vez maiores no mercado. Agora que terminei o Ensino Fundamental pelo PROFAE, vou fazer o curso para auxiliar ao mesmo tempo em que faço a Suplência do Ensino Médio.

2 Izabel Cristina Souza, 47 anos, terminou o Ensino Fundamental e agora freqüenta Telessala de Ensino Médio também na Escola Estadual Antônio Firmino de Proença.


Índice Temas em debate

Pág

Autor

Cultura, alimentação e saúde

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Antonia Terra1

O que saúde tem a ver com a palavra?

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Alfredina Nery2

SUS – Sistema Único de Saúde: Fatos e desafios

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Estela M. Vianna de Camargo3

Vida e saúde nas grandes cidades

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Jaime Tadeu Oliva4

As muitas vozes da Medicina (centrais)

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Alfredina Nery2

Medicalização da vida – você sabe o que é isto?

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Marina Valadão5

Sexualidade e corpo

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Yara Sayão6

Literatura e Medicina

36

Alfredina Nery2

Risco ou vulnerabilidade?

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Marina Valadão5

Monitoramento das condições de saúde

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Estela M. Vianna de Camargo3

Quem são os autores (1) Antonia Terra de Calazans Fernandes é doutora em História pela FFLCH da USP, professora do Depto. de História do UNIFIEO, de Osasco, professora eventual do Depto. de História da PUC-SP e co-autora da proposta de História para o Ensino Fundamental dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs). (2) Alfredina Nery é graduada em Letras e mestre em Psicologia da Educação. Professora de Língua Portuguesa aposentada da rede pública estadual, atualmente ministra cursos para professores, assessora Secretarias de Educação e oferece consultoria pedagógica. (3) Estela Maria Vianna de Camargo, psicóloga do SUS, atua na estruturação dos Conselhos da Coordenadoria de Saúde de São Paulo e é conselheira do Conselho da Subprefeitura de Cachoeirinha/Casa Verde/Limão, do Município de São Paulo. (4) Jaime Oliva é geógrafo, professor da UNIFIEO, de Osasco,

e doutorando em Geografia Urbana. Escreveu os livros didáticos Espaço e Modernidade: Temas da Geografia do Brasil e Espaço e Modernidade: Temas da Geografia Mundial (Editora Atual) e o capítulo A cidade como ator social A força da urbanidade do livro Dilemas Urbanos: Novas abordagens sobre a cidade (São Paulo: Contexto, 2003, v. 1, p. 73-79.) (5) Marina Valadão é enfermeira, mestre em Saúde Pública. Participou da elaboração dos PCNs de saúde e de vários projetos públicos e de ONGs direcionados à comunidade escolar. Está concluindo doutorado com tese analisando a proposta da Escola Promotora de Saúde, que realiza na Faculdade de Saúde Pública da USP. (6) Yara Sayão é psicóloga com experiência na área educacional. Fez parte da equipe de elaboração dos PCNs e é autora de publicações sobre sexualidade e educação. Trabalha como psicóloga no Serviço de Psicologia Escolar da USP e assessora programas educativos no CENPEC e em outras instituições.

Assessoria: Maria Cecília Guedes Condeixa - Bióloga e professora, com estudos de pós-graduação em psicologia da educação. Desde 1990, ela assessora programas públicos e privados de formação continuada de professores e de formulação de currículos em Ciências. Participou da equipe de elaboração e divulgação dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs).

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Cultura, alimentação e saúde Os valores e as formas de organização de cada comunidade definem costumes alimentares, mas nem sempre esses padrões garantem a saúde da população Antonia Terra* – Historiadora e educadora

A

*

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Colaborou Maria Cecilia Guedes Condeixa

s pessoas se alimentam de acordo com a sociedade a qual pertencem. São os valores culturais e a organização social que definem as opções do que comer. Muitas vezes, o que as culturas definem como sendo seu padrão alimentar atende a certos valores sociais, mas não garante o valor nutritivo das refeições. A preferência por certos ingredientes e pratos nem sempre contribui para manter a saúde da população. Há muitos exemplos de costumes alimentares, ao longo da história humana, que provocaram graves doenças. Uma das mais conhecidas é a expansão da cultura do milho na Europa, no século XVIII, substituindo cereais escassos e caros na época, como o trigo e o centeio. A história conta que a população camponesa mais pobre européia, passando fome porque não podia pagar o preço do mercado dos tradicionais cereais com os quais se alimentava, passou a produzir e a consumir, em grande

escala, o milho, de origem americana, que tinha alta produtividade e que era conhecido, mas pouco produzido no velho continente, desde o século XVI.

O milho se espalha na Europa e surge a temível pelagra

O milho foi introduzido na Europa como um outro cereal. E passou a ser usado a partir de costumes alimentares tradicionais, ou seja, tornou-se a base da alimentação e o único ingrediente para produzir alimentos como pães, bolos e mingaus. Na Itália, por exemplo, a polenta tornou-se um dos alimentos mais freqüentes e era considerado bom e nutritivo pelas famílias camponesas. Todavia, o milho não basta sozinho para nutrir uma pessoa. Uma alimentação sustentada com base apenas nesse cereal leva à deficiência de niacina, uma vitamina indispensável ao organismo. Para suprir essa vitamina, basta, porém, associar o milho a carnes magras, aves, peixe ou ovos, garantindo o suficiente para a necessidade diária de uma pessoa.


A falta de niacina no organismo provoca a pelagra, uma doença terrível, que devasta o corpo com diarréias, dermatite (feridas na pele), levando à demência e à morte. A pelagra foi registrada pela primeira vez, na Espanha, em 1730, depois apareceu na França e na Itália, com a expansão da produção e consumo do milho nessas regiões. Na época, a doença foi rapidamente relacionada à alimentação, mas os debates culpavam as farinhas estragadas, o consumo do milho e a pobreza das famílias ao basearem sua alimentação exclusivamente nesse cereal. Só no início do século XIX, percebeu-se a gravidade social da fome e da escassez de alimentos por trás da doença e a recomendação popular passou a ser a associação do milho a outros alimentos como carne, vinho e pão de trigo.

Mil e uma utilidades do milho na América

Diferente das tradições européias, o milho, na América, apesar de permanecer como fundamental na dieta de muitos povos, tem sido

consumido a partir de tradições alimentares ligadas a uma grande variedade de comidas que o associam a outros alimentos. Entre os maias, por exemplo, que viviam na América Central, no século XVI, eram comuns as tortilhas, preparadas através de mais de quatrocentas maneiras diferentes e associadas ao frijol (tipo de feijão rico em proteína, ferro e outros minerais), à carne, à abóbora e ao chili, fornecendo, assim, praticamente todas as vitaminas necessárias ao organismo humano e possibilitando uma alimentação completa e balanceada. Os maias associavam também as tortilhas a variadas frutas, verduras e tubérculos procedentes de grandes plantações e de hortas familiares. Além disso, até hoje, o modo de preparar as tortilhas requer que o milho, antes de ser moído, fique de molho em água com cal. Desse modo, ele fica enriquecido com cálcio. Assim, entre os consumidores de tortilhas, na América, sempre houve raros casos de raquitismo. Entre os maias, o milho sempre foi utilizado também como remédio pela medicina popular para doenças como hepatite, hipertensão, diabetes, males renais, cálculos, reumatismo, verrugas e tumores. Há indicações do uso do milho em forma de cataplasma, ungüento, cozido e emplasto. A infusão dos cabelos da espiga do milho era recomendada, por sua vez, como um excelente diurético.

Plantando milho em abundância, o homem maia utilizava o produto em variados tipos de tortilhas e em remédios para diferentes doenças.

Os antigos egípcios e as recomendações para a saúde

Cada sociedade desenvolveu valores diferentes para os alimentos. Os antigos egípcios, por exemplo, relacionavam a saúde e a longevidade aos prazeres da mesa. Os sábios recomendavam o que era ou não saudável comer, enquanto, popularmente, acreditava-se que uma pessoa que comesse muito não podia deixar de ter boa saúde. Na Instrução XX do papiro Insinger V, havia a recomendação: “Não se pode encontrar melhor alimento que os legumes com sal”. (FLANDRIN, 1998, p. 68).

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Muitas plantas aromáticas, como o anis, o coentro, o cominho, o funcho, os grãos de papoula, eram usadas pelos egípcios tanto para a cozinha como para a medicina. Receitas de comidas eram citadas, por exemplo, como recomendações médicas para determinados males. No Livro de Medicina do século II d.C., escrito em demótico, recomendava-se:

“(...) os alimentos e os exercícios têm propriedades reciprocamente opostas, mas que contribuem todas juntas para produzir a saúde. Por sua natureza, os exercícios gastam as energias disponíveis, enquanto os alimentos e as bebidas compensam as perdas”. (HIPÓCRATES, De diaeta, 2, 12. In: FLANDRIN, 1998, p. 256).

“Receita para cozer carne de modo a curar as indisposições estomacais. Tomar o lírio, misturá-lo à carne de pombo cozida com carne de ganso, funcho, uma porção de favas, água quente, farinha absorvente; juntar uma infusão de trigo e dois pés de chicória; cortar em pedaços bem miúdos, coar, beber, coar, beber”. (FLANDRIN, 1998, p. 78 – 79).

Em seu livro o Regime, Hipócrates menciona o consumo de carne de animais bovina, suína, ovina e canina a partir de sacrifícios religiosos. A carne era, portanto, menos constante nas refeições diárias dos gregos. Cita, para tempos normais, a caça javali, cervo, lebre e aves. Relaciona também peixes do mar e de água doce e moluscos. Destaca a importância do alho e da cebola na alimentação grega. Menciona ainda o alho-poró, o agrião, o nabo e condimentos como o poejo, o manjericão e o tomilho. Entre as frutas, cita melões, uvas, figos, pêras, maçãs, marmelos, nêsperas, romãs e amêndoas. Produtos básicos, além dos cereais, eram o queijo, o mel, o azeite e o vinho. Apesar da diversificação da alimentação, outros fatores decorrentes das mudanças no modo de vida das sociedades antigas por conta da agricultura, como a concentração da população em cidades, nem sempre foram favoráveis à saúde. Os escritos antigos relatam a necessidade de cuidados com alimentos contaminados por águas sujas e inúmeras epidemias provocadas por guerras, fome, falta de abastecimento de alimentos e falta de higiene. Galeno (129 199 d.C.), um médico romano, recomendava:

A comida e a bebida entre os chineses

Na antiga cultura chinesa, a comida e a bebida também tinham grande importância na prevenção de doenças, na cura de enfermidades e na preservação da saúde. Muitos alimentos tinham um valor medicinal. Por exemplo, parte do antigo ideograma chinês, datado de 4 mil anos atrás, que significa médico ou cura, contém o ideograma que representa o vinho, demonstrando que a comida também podia ser um remédio. Muitos tratados chineses de medicina incluíam orientações dietéticas e receitas como medicamentos. Por exemplo, as amêndoas eram recomendadas para tosse e peixe para disenteria. Ao mesmo tempo, o tratamento chinês pela alimentação estava baseado na hipótese de que as doenças não são capazes de atacar um organismo se existe nele uma energia verdadeira, obtida pelo equilíbrio dos alimentos consumidos pela pessoa.

O regime alimentar dos antigos gregos

Os gregos, por sua vez, além do trigo e da cevada, comiam o milhete, o grão-de-bico, a lentilha, a ervilhaca e grãos como os de linho, de gergelim e de papoula. Muitos desses alimentos eram recomendados por médicos, como Hipócrates, que viveu no século V a.C.. 8

“Quase todas as aves e peixes têm humores salutares, salvo os que vivem nos pântanos, nos lagos e nos rios cujas águas são lamacentas e turvas (...). Isso acontece sobretudo quando a água proveniente de uma grande cidade carreia dejetos de latrinas e de cozinhas ou os resíduos das tinturarias. A carne dos animais que vivem em águas como essas é de muito má qualidade, sobretudo se eles passam nelas toda sua vida” (GALENO, De bonis malisques sucis, 6, 9. In: FLANDRIN, 1998, p. 257).


Preocupações com higiene e conservação dos alimentos

Nas sociedades antigas, os fatores culturais interferiram nas recomendações do que podia ou não ser comido, e entre elas existiam também preocupações sobre como preservar os alimentos e como garantir sua higiene. Os gregos recusavam-se, por exemplo, a comer carne de animais de cuja morte não sabiam a causa, por uma simples razão de higiene. Os romanos só comiam carne de animais que tinham sido sacrificados aos deuses. Para evitar doenças, não bebiam água tirada diretamente do rio Tibre, preferindo consumir água potável de poços. Investiram em aquedutos, que forneciam água limpa retirada a muitos quilômetros de Roma. Por sua vez, os cartagineses desenvolveram técnicas para preservar o frescor de frutas. “(...) cobrir as romãs recém-colhidas com uma camada de argila bem endurecida; quando esta argila estiver seca, suspendêlas em lugar fresco; antes de comê-las, colocá-las na água para dissolver a argila; este método permite preservar todo o seu frescor.” (FLANDRIN, 1998, p. 102).

Dilemas e riscos da alimentação atual

Hoje em dia, na sociedade ocidental, há inúmeros conhecimentos científicos e populares sobre a importância da alimentação e dos cuidados necessários com ela para a manutenção da saúde. Também se sabe que a quantidade de alimentos produzidos em todo o mundo poderia garantir o fim da fome e da subnutrição que atingem milhões de pessoas em diferentes continentes. Ao mesmo tempo, há divulgação dos potenciais nutricionais do que se come e de dietas e costumes que permitem a uma pessoa manter equilibrada a sua qualidade de vida. Mas tudo isso não tem garantido às sociedades contemporâneas ocidentais um padrão de saúde satisfatório por meio da quantidade de alimentos consumidos e nem do controle de sua qualidade nutricional. Não se pode negar que, atualmente, grande parte do mundo ocidental tem tendido a submeter-se ao modelo de alimentação difundido pelos Estados Unidos: o fast-food. A comida in-

dustrializada, impregnada de valores ligados à modernidade, tem acompanhado a expansão do modo de vida racionalizado, acelerado e fora de casa, repercutindo na queda da qualidade do que comemos. Apesar de a maior rede de fast-food do mundo divulgar que seus hambúrgueres dão conta de todos os elementos nutricionais necessários para uma pessoa passar o dia, as pesquisas apontam como essas refeições são dietas calóricas que estão transformando a classe média de muitos países do mundo em pessoas gordas, doentes e desnutridas.

A fome no mundo e a doença da abundância

A fome, que afeta milhões de pessoas no mundo por conta da desigual distribuição de riqueza, contrapõe-se à denominada doença da abundância , sintoma da pregoada modernidade . A população norte-americana é exemplo disso. Passou a consumir, do início do século XX até a década de 1990, cerca de 50% a mais de grãos, batatas, laticínios, carnes de gado e frango. Essa mudança desencadeou uma dieta com um terço a mais de gordura, um quinto a menos de carboidratos e consumo de proteína que excedem recomendações médicas e provocam doenças cardíacas, câncer e diabetes. No Brasil, apesar dos crescentes investimentos na agricultura e na produção de cereais, um dos fatores que interferem para que as populações pobres permaneçam com fome é a produção não dirigida para seu consumo. Produtos básicos de subsistência do brasileiro, como o arroz, o feijão e a farinha de mandioca, com bom valor nutricional, perdem espaços cada vez mais para as grandes plantações de soja. Boa parte dessa produção é destinada à alimentação de gado, incentivando o consumo de carne por populações mais ricas. Por outro lado, os apelos das indústrias de alimentos atingem a maioria dos brasileiros de regiões urbanas, que passa a consumir mais doces, biscoitos, iogurtes, massas, frios, enlatados e congelados, mudando hábitos antigos que eram mais saudáveis. 9


Pirâmide dos alimentos* – Guia para uma alimentação diária equilibrada Grupo de leite e derivados De 2 a 3 porções diárias. (1 porção = 1 xícara de leite ou de iogurte = 2 fatias de queijo = 1/2 xícara de sorvete)

Grupo de gorduras e doces (Manteiga ou margarina, frituras e doces). Comer pouco.

Grupo de carnes, ovos e leguminosas

Verduras e legumes

De 2 a 3 porções diárias (1 porção = 1 filé pequeno = 1 coxa de frango = 1 ovo = 1/2 xícara de feijão)

Comer de 3 a 5 porções (1 porção = ½ xícara de verdura cozida = 1 xícara de verdura crua)

Frutas: Comer de 2 a 4 porções (1 porção = 1 fruta média = ½ xícara de suco = ¼ de xícara de fruta seca) Massas, cereais e derivados, raízes e tubérculos::

Gorduras naturalmente presentes ou adicionadas =

Comer de 5 a 11 porções (1 porção = 1 fatia de pão integral = ½ de pão francês = ½ xícara de cereal, arroz ou massa)

Açúcares adicionados =

* Adotada por nutricionistas, essa pirâmide foi adaptada para publicação por vários autores, entre os quais J. E. Dutra de Oliveira e J. S. MARCHINI, autores de Ciências Nutricionais (São Paulo: Sarvier Editora, 1998).

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Guias e princípios da alimentação saudável

A Pirâmide de alimentos (acima) é o mais recente e bem divulgado referencial para nutrição humana proposto pelo Departamento de Agricultura dos EUA, em 1992; sendo instrumento prático que oferece princípios de proporção e variedade para alimentação de indivíduos saudáveis maiores de 2 anos de idade. Um outro guia alimentar, elaborado por nutricionistas brasileiros, é denominado Normas da Boa Alimentação, de 1988 (ao lado). É uma lista bem diferente da pirâmide . Um dos motivos é a menção às atitudes que ultrapassam a questão da seleção dos alimentos, mas que são igualmente importantes para a manutenção da saúde, como as recomendações de exercício e do controle de peso. Um outro aspecto relevante é a consideração às questões socioeconômicas, como a valorização dos alimentos próprios do local; afinal, a alimentação humana não é um ato natural, mas cultural e economicamente determinado.

Normas da Boa Alimentação 1

Coma diversos tipos de alimentos em pelo menos três refeições diárias.

2

Use alimentos locais, como arroz, feijão, farinha, pão e leite, como base de sua refeição.

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Coma sempre frutas e verduras da época.

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Use carne, sal e açúcar em quantidades moderadas.

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Utilize óleo vegetal no preparo da comida e diminua o consumo de gordura animal.

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Tome, diariamente, bastante água.

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Prepare, sempre, a alimentação com bastante higiene.

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Mantenha o seu peso controlando a ingestão de alimentos e fazendo exercícios físicos.

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Faça das refeições um encontro agradável.

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Coma melhor e gaste menos: em qualquer situação econômica é sempre possível comer melhor.

Para saber mais ✓ DUTRA DE OLIVEIRA, J. E. e MARCHINI , J. S. Ciências Nutricionais. São Paulo : Savier Editora, 1988. ✓ FLANDRIN,Jean-LouiseMONTANARI,Massimo (org.).HistóriadaAlimentação.SãoPaulo:EstaçãoLiberdade,1998.

✓ MONTANARI,Massimo.Afomeeaabundância HistóriadaalimentaçãonaEuropa.Bauru(SP): EDUSC,2003. ✓ WINCKLER, Marly. Produção de alimentos, degradação ambiental e fome. In: www.vegetarianismo.com.br.


O que a Saúde tem a ver com a Palavra? Por que o profissional de saúde usa palavreado tão diferente e rebuscado e causa distanciamento, espanto e até temores desnecessários do paciente Alfredina Nery – Especialista em Língua Portuguesa

S

abemos que toda profissão tem seu vocabulário próprio, pois lida com os conceitos específicos desse fazer. No entanto, os especialistas precisam saber onde e com quem usam esse vocabulário profissional. Usar exclusivamente a linguagem técnica pode contribuir para um maior distanciamento entre o profissional de saúde e o paciente. Linguagem e poder têm andado juntos na História da humanidade. Ao mesmo tempo que a palavra aproxima as pessoas, ela pode também afastá-las, pois estão em jogo as relações de poder. Como saber é forma de domina-

ção, a medicina exerce um enorme poder sobre uma pessoa, parecendo acreditar que sabe mais dela (pessoa) do que ela própria. O profissional de saúde, sendo ou não um médico, precisa lembrar-se sempre de que, muitas vezes, o silêncio de um paciente é mais um silenciamento da situação e não falta do que dizer. A origem da palavra paciente está ligada às idéias de sofrer a ação do outro , de receber a ação praticada por um agente . Por isso alguns profissionais de saúde não usam mais essa palavra, preferindo usuário ou cliente, que têm problemas também, pois o primeiro pode estar relacionado a consumo e o segundo à relação comercial.

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Facilitar o entendimento deve ser a preocupação Algumas vezes, o máximo que o paciente consegue dizer é: Sinto uma coisa que não sei explicar ou Não sei explicar direito . Por não saber o jargão médico, o paciente pode entender que pouco sabe de si mesmo, pois quem teria que saber tudo é o médico/o profissional de saúde/ a medicina. No entanto, mesmo os profissionais de saúde afirmam que, no processo de cura, o doente precisa ouvirse, tomar consciência do que sente e falar sobre isso. O encarte Sinapse do jornal Folha de S.Paulo, de 24 de junho de 2003, diz que a principal queixa feita no Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo é de pacientes que não entendem o que o médico diz. A presidente do Conselho, Regina Carvalho, ressalta que essa falha de comunicação é um efeito da linha americana, que revolucionou o ensino médico, a partir dos

Diagnósticos médicos

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anos 20, introduzindo as normas de comportamento, a roupa branca, a visão tecnicista e a linguagem de especialista . Assim, o profissional ganhou credibilidade com essa postura mais técnica, mas perdeu em empatia. As novas diretrizes se preocupam com a linguagem, que dificulta a relação entre médico e paciente . Percebe-se, dessa forma, que profissionais da medicina vêm trabalhando para que haja uma melhor comunicação entre eles e quem os procura para orientações e tratamentos. Preservando o direito do paciente de saber o que está acontecendo com ele, os profissionais de saúde precisam traduzir os fatos e idéias a comunicar, sem pedantismo, sem arrogância. Facilitar a linguagem deve ser uma preocupação constante do profissional de saúde. Não contribuir com o preconceito pode ser uma forma de garantir que todos tenham direito à opinião, à voz e à vez. Veja que diferença!!!!!

“Tradução”

O prognóstico é favorável no caso de pronta-suspensão do remédio.

Não causará problema se o remédio for suspenso.

Essa enfermidade é rara na nosografia.

Essa doença é rara na atual classificação de doenças.

A criança tem flatos?

A criança solta pum?

Suas tonsilas estão preservadas.

Você tem amídalas no fundo da garganta.


SUS Fatos e desafios Estela Maria Vianna de Camargo – Psicóloga do SUS

O

s artigos 196 a 200 da Constituição brasileira de 1988 tratam especificamente da saúde. O primeiro inicia com a declaração: A saúde é direito de todos e dever do Estado . Nas constituições anteriores, não havia essa colocação, só tinha direito a utilizar os serviços públicos de saúde quem contribuísse com a Previdência Social, ou seja, quem estivesse empregado ou aposentado. Hoje, a saúde é um direito universal. O artigo 198 determina que: “As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordo com as seguintes diretrizes: I - descentralização com direção única em cada esfera do governo; II - atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais; III - participação da comunidade.”

Aí estão algumas idéias fundamentais sobre como a saúde deve se organizar. Elas vinham sendo debatidas para a Reforma Sanitária, desde a década de 1970:

Afinal o que é o SUS? Conheça a legislação que criou o Sistema Único de Saúde. Entenda os seus justos princípios e objetivos políticos e sociais. Saiba como as lutas populares influenciaram a sua origem. E veja por que é fundamental a participação da população para a efetiva construção e o controle de um Sistema Único de Saúde que atenda todos com qualidade 13


Atendimento deve ser integral, com prevenção a doenças, proteção, promoção e recuperação da saúde e reabilitação

Unidade Básica de Saúde (antigo posto ou centro) na zona Leste do município de São Paulo, região em que surgiram os Movimentos Populares de Saúde na década de 1970.

! Deve se organizar como um sistema único o que chamamos de SUS. A exigência de que seja único vem para corrigir a organização fragmentada, dispersa em vários institutos e departamentos municipais, estaduais e federais, muitas vezes realizando as mesmas funções. Isso ainda existe, pois o SUS está em construção. ! A idéia de descentralização completa a de sistema único. Cada município, que está mais próximo das necessidades da população, deve ser o responsável pela maior parte dos serviços de saúde. Deve ter o comando único, ou seja, a Secretaria Municipal de Saúde e os Distritos de Saúde, onde existirem, coordenam todas as ações e serviços de saúde no seu território. Por isso, muitos serviços, como postos de saúde e vigilância sanitária, estão sendo municipalizados. É o município que deve executar a chamada atenção básica ou primária (clínica geral, pediatria, ginecologia, entre outras), bem como a atenção secundária (dermatologia, neurologia, por exemplo). A Secretaria Estadual fica responsável pela coordenação e fiscalização dos municípios, pela referência regional da atenção terciária ou de alta complexidade (cirurgias, exames e tratamentos

complexos etc.). O Ministério da Saúde, por sua vez, dá as linhas gerais das políticas de saúde, coordena e fiscaliza os Estados e municípios. Dessa forma, teremos uma rede regionalizada e hierarquizada, com direção única em cada esfera do governo. ! O atendimento aos usuários tem de ser integral. Asssim, o SUS deve: 1. realizar a prevenção de doenças, por exemplo através de vacinação ou controle de epidemias, como a dengue; 2. garantir a proteção da saúde, fiscalizando a qualidade de alimentos, medicamentos e do meio ambiente; 3. responsabilizar-se pela promoção da saúde, ensinando e incentivando a população a ter hábitos saudáveis, como cuidar adequadamente do lixo, não ter uma vida sedentária etc.; 4. promover a recuperação da saúde, através de consultas médicas, exames e fornecimento de medicamentos, e, finalmente, 5. cuidar da reabilitação, por exemplo com tratamento fonoaudiológico para quem sofreu um derrame ou fisioterapia para pessoas que estiveram engessadas. A Constituição define as diretrizes do SUS, que depois é regulamentado pelas Lei Orgânica da Saúde n° 8.080/90 e pela Lei n° 8.142/90. A lei n° 8.080, de 19 de setembro de 1990, coloca como princípios do SUS além da universalidade, integralidade, descentralização e participação da comunidade, a igualdade no atendimento e o direito à informação às pessoas assistidas sobre sua saúde, entre outros. Veremos, com maior detalhe, como é colocada a participação da comunidade, também conhecida como Controle Social, na legislação federal e municipal.

Conselhos Gestores de Saúde, canais de participação popular

A Lei 8.142, de 28 de dezembro de 1990, define, no Artigo 1°, que: “O Sistema Único de Saúde contará, em cada esfera do governo, com as seguintes instâncias colegiadas: I - a Conferência de Saúde; e II - o Conselho de Saúde.”

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Os Conselhos de Saúde, esclarece a lei, são órgãos colegiados, de caráter permanente e deliberativo, com as funções de formular estratégias, controlar e fiscalizar a execução da política de saúde, inclusive nos aspectos econômicos e financeiros. As Conferências de Saúde são encontros com a participação de representantes de vários segmentos sociais, que devem se reunir periodicamente, nos municípios, Estados e no nível nacional para avaliarem a política de saúde e proporem novas diretrizes. O que isto significa? Que cada município, Estado e o governo federal devem constituir seu Conselho de Saúde. E quem participa dele? Essa lei dispõe, no mesmo Artigo 1°, que os Conselhos devem ser compostos por representantes do governo, prestadores de serviços, profissionais de saúde e usuários - são quadripartites. Coloca ainda que a representação dos usuários nos Conselhos de Saúde e Conferências será paritária em relação ao conjunto dos demais segmentos. As leis que regulamentam a participação da população detalham que os Conselhos de Saúde devem ter a seguinte composição: ! 25% de representantes do segmento do governo e prestadores de serviços. Se o conselho for municipal, participarão o Secretário de Saúde e assessores designados por ele, além de representantes de organizações conveniadas com o SUS, como as Santas Casas, Laboratórios, Fundações etc.; ! 25% de representantes do segmento dos trabalhadores da saúde; ! 50% de representantes do segmento dos usuários dos serviços de saúde, ou seja, representantes da população. Assim, se o Conselho tiver 16 membros titulares, 8 deverão ser representantes de usuários, 4 representantes do governo e 4 representantes dos trabalhadores da saúde. A Lei n° 13.325, de 8 de fevereiro de 2002 e o Decreto n° 42.005, de 17 de maio de 2002, que regulamentam os Conselhos Gestores de Saúde no Município de São Paulo, esclarecem que cada unidade (postos de saúde, ambulatórios, laboratórios, prontos-socorros e hospitais) pode formar seu Conselho de Saúde. Determinam que o segmento do governo é indicado pela direção da unidade e que os representantes dos

trabalhadores e usuários devem ser eleitos. Também colocam que os Conselhos Gestores de Unidades de Saúde deverão ter no mínimo 4 (quatro) e no máximo 16 (dezesseis) membros efetivos e o mesmo número de suplentes . Nas Unidades de Saúde, não precisa haver representação dos prestadores de serviços - os conselhos são tripartites. Seja qual for o número de membros, a proporção entre usuários, trabalhadores da saúde e gestores deve ser mantida. No caso de municípios muito populosos, pode haver Conselhos intermediários entre os de unidade e o municipal. Por isso, essa legislação também cria os Conselhos Gestores Distritais de Saúde em cada Subprefeitura do município de São Paulo. Estabelecem ainda que o mandato dos Conselhos deve ser de 2 anos.

Quem participa dos Conselhos de Saúde População

50 %

Entidades de trabalhadores

25% 25%

Governo

0

10

20

30

40

Em %

50

60

É importante saber que, muito antes que o controle social fosse definido por lei, a população já vinha se organizando para exigir melhorias e fiscalizar os serviços de saúde. No município de São Paulo, por exemplo, em meados da década de 1970, começaram a surgir, principalmente na Zona Leste, os Movimentos Populares de Saúde. Representantes desses movimentos participaram da famosa 8ª Conferência Nacional de Saúde, realizada em 1986, que discutiu a situação da saúde no país e aprovou um relatório com recomendações de descentralização, participação popular e eficiência da gestão local (maior poder para o município). Esse relatório foi a base da Reforma Sanitária Brasileira e orientou a implantação do SUS pela Constituição de 1988. 15


O complexo do Hospital das Clínicas de São Paulo responde pela atenção terciária ou de alta complexidade de 10 milhões de pessoas por ano, realizando 45 mil cirurgias, 1,5 milhões de atendimentos ambulatoriais, 60 mil internações, 2.500 partos de alto risco e 2.500 trabalhos científicos, usando R$ 225 milhões do SUS (dados de 2002).

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Se houver controle social, o SUS pode deixar de ser um sonho A implantação dos Conselhos Gestores é uma reivindicação antiga dos Movimentos Populares de Saúde e segue uma tendência mundial que visa ao exercício da democracia participativa, buscando garantir os direitos dos cidadãos. Antes de sua regulamentação, já haviam sido reconhecidos e oficializados os Conselhos Populares de Saúde, compostos apenas por representantes de usuários eleitos pela população. Aliás, os Conselhos Populares continuam sendo reconhecidos como representantes da população e podem trabalhar em colaboração com os Conselhos Gestores ou isoladamente, se os usuários de uma unidade de saúde optarem por essa forma de organização. A Lei n° 13.325 e o Decreto 42.005 também estabelecem as linhas gerais de funcionamento dos Conselhos: ! Os Conselhos Gestores devem se reunir, ordinariamente, uma vez a cada mês, poden-

do ser convocados extraordinariamente, por solicitação de, no mínimo, 50% (cinquenta por cento) de seus membros ou da direção da Unidade correspondente. ! As reuniões dos Conselhos Gestores serão amplamente divulgadas com participação livre a todos os interessados que terão direito a voz. Só os conselheiros terão direito a voto. ! Fica vedado qualquer tipo de remuneração aos membros dos Conselhos Gestores, cujas atividades serão consideradas como serviços de relevância pública. ! Compete aos Conselhos Gestores: I - acompanhar, avaliar e fiscalizar os serviços e ações de saúde prestados à população; II - propor e aprovar medidas para aperfeiçoar o planejamento, a organização, a avaliação e o controle das ações e dos serviços de saúde; III - acompanhar o Orçamento Participativo; IV - solicitar e ter acesso às informações de caráter técnico-administrativo, econômicofinanceiro e operacional, relativas à respectiva Unidade e participar da elaboração e do controle da execução orçamentária; V - examinar propostas, denúncias e queixas, encaminhadas por qualquer pessoa ou entidade e a elas responder; VI - definir estratégias de ação visando à integração do trabalho da Unidade aos planos locais, regionais, municipal e estadual de Saúde, assim como aos planos, programas e projetos intersetoriais; VII - elaborar e aprovar o seu Regimento Interno e normas de funcionamento. A construção e o aperfeiçoamento do SUS depende do governo e de toda a sociedade. Se o controle social estiver de fato presente, desde a Unidade de Saúde até o Conselho Nacional de Saúde, o SUS pode deixar de ser um sonho para se tornar uma realidade.

Para saber mais ! ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE MEDICINA. SUS: O que você precisa saber sobre o Sistema Único de Saúde. São Paulo: Editora Atheneu, 2002. ! www.datasus.gov.br ! www.seade.gov.br ! www.fsp.usp.br ! www.prefeitura.sp.gov.br


Vida e saúde nas grandes cidades Jaime Tadeu Oliva – Geógrafo A aversão às cidades vem ganhando terreno. Há um senso comum corroendo suas entranhas: ... nelas não há qualidade de vida... a vida não pode ser saudável... as conseqüências de sua prepotência aglomeradora se espalham por vastos ambientes... Os males que elas geram formam um lodaçal ecológico . A linguagem agride: a cidade moderna é um parasita do mundo rural, produz poucos alimentos, não purifica o ar e recicla pouca água, altera a natureza dos rios, das florestas, da atmosfera e dos oceanos.

É importante saber avaliar a degradação ambiental, dos serviços e do modo de vida. Isso revela cidadania. Exige o debate sobre muitos aspectos que podem tornar sua cidade saudável, promovendo a saúde pessoal e coletiva, inibindo discriminações e fortalecendo espaços públicos 17


Considerando que as cidades são os principais espaços de vida para a maioria da humanidade e dos brasileiros também, e que não há, no horizonte, indicação de que as abandonaremos, uma pergunta se impõe: é viável uma vida saudável nas grandes cidades? As cidades são aglomerações onde há muitos contatos entre os habitantes. Isso não favoreceria o contágio, a transmissão de doen-

Calçadão no Centro da capital paulista, uma das várias formas para recuperar a qualidade de vida e a economia numa área onde circulam 3,8 milhões de pessoas por dia.

ças, além de todos os males já citados? Mas a aglomeração também não facilitaria a multiplicação das informações e do conhecimento? Não viabilizaria, com maior eficácia, as campanhas de saúde? Sabemos todos que, nas cidades grandes, encontra-se a maior parte dos serviços de saúde. Universidades, centros de pesquisa, laboratórios e órgãos públicos precisam da cidade e de seus recursos. Não é curioso notar que, ao mesmo tempo em que a cidade é acusada como espaço não saudável, ela seja o principal reduto dos serviços e dos saberes que promovem a saúde?

Cidade: um espaço ideal para o convívio Vivemos num mundo dominado pelas cidades. As primeiras surgiram em 5.000 a.C., na Mesopotâmia (atual Iraque) e logo após, no Egito. Na Grécia antiga, elas atingiram seu maior brilho. O desenvolvimento de várias civilizações (e impérios) encontrou, nas cida18

des, sua base de sustentação, como foi no caso do Império Romano. Entretanto, elas não foram moradia para grandes populações, mas apenas para as elites, o que só mudou com as sociedades modernas na Europa. Um marco foi o período da Revolução Industrial. A essa altura já despontavam Londres e Paris, com mais de 1 milhão de habitantes. O que se viu, a seguir, foi uma transformação imensa. Em 1801, 10% da população da Inglaterra viviam em cidades; 40 anos depois, esse número duplicou e, em 1900, os 50% haviam sido ultrapassados. As conseqüências foram assustadoras: houve momentos em que a expectativa de vida, em Londres, chegou a 36 anos. Nas cidades industriais (Leeds e Liverpool), era ainda pior, com a incrível expectativa de vida de 26 anos. Até hoje, é muito difícil livrar a imagem das cidades desse passado. O que aconteceu depois disso é bem conhecido. As cidades se multiplicaram na Europa e nas Américas. Na Ásia, surgiram cidades que abrigaram populações enormes. Mesmo na África, a importância das cidades não é nada desprezível.

Afinal, por que surgiram tantas cidades e por qual razão elas crescem tanto? A vida social exige condições: alimentos, água e ambientes apropriados etc. Mais que isso, são necessários meios para se viver junto, meios para que as pessoas se relacionem. E para isso são imprescindíveis formas que viabilizem os contatos. Para proporcionar contatos, as sociedades atuam organizando espaços que resolvem a questão da distância, eliminando-a ou administrando-a. Ao longo da história, até nossos dias, criaram-se três formas de administrar a distância: 1 meios de transporte, o que permite o contato entre diversas pessoas e lugares e inibem o isolamento;


2 meios de comunicação, o que garante a relação, sem corpo presente ( uma presença de corpos ausentes ), possível desde o desenvolvimento das linguagens, em especial a escrita; 3 cidades, que possibilitam múltiplas relações de corpo-presente. Tendo em conta a promoção de relações, a cidade é a melhor forma de gerir a distância. Nelas, aproximam-se milhares, milhões de pessoas, assim como obras humanas de todos os tipos. Além de cenário ideal para as relações e para o convívio, as cidades incentivam os transportes e as comunicações. Elas consomem recursos produzidos em outros lugares, o que já amplia o uso desses meios. Porém, mais importante é o fato das cidades serem consumidas por pessoas de fora. Como elas são grandes produtoras de recursos humanos e concentram atividades de educação (escolas, universidades, bibliotecas, museus etc.), negócios (fábricas, comércio e serviços), saúde (consultórios, laboratórios e hospitais), esporte e cultura, lazer (bares, restaurantes etc.), muitas pessoas se deslocam diariamente para elas. De tudo isso se pode tirar pelo menos uma conclusão: cidades são máquinas relacionais que ampliam o cotidiano e os horizontes dos seus habitantes. Essa é a razão pela qual são protagonistas do mundo moderno e, provavelmente, ainda há muito para as sociedades obterem delas. Mas, para tanto, será necessário enfrentar a questão de serem ou não espaços saudáveis para a vida.

Uma resposta positiva, nesse caso, seria o mais esperado,mas convém não nos apressarmos. Aqui, também as aparências podem enganar. Uma coisa é certa: não há dúvidas de que as condições ambientais de boa parte das grandes cidades não são nada boas. Mas a causa seria a concentração?

Muitas áreas livres nem sempre garantem qualidade de vida nas cidades Brasília possui uma população bem menor que São Paulo. Foi construída sobre espaços vastos, com enormes distâncias. Para aqueles que vivem na parte planejada o único meio de transporte é o automóvel. Tudo se faz de automóvel em Brasília e praticamente nada a pé. Logo, essa é uma cidade vulnerável à poluição atmosférica e outros riscos que o uso exclusivo do automóvel produz. Esse também é o caso de Los Angeles, cidade grande e poluída, que é muito dispersa e possui mais áreas livres que qualquer outra cidade grande dos EUA. Assim, nem sempre a presença de muitas áreas livres resulta em algo positivo para o ambiente da cidade. O fato de uma cidade ser concentrada (compacta) pode também significar vantagens, inclusive ambientais, diferentemente do que se pensa. Veja o quadro:

As posições contra a cidade grande

Vantagens da concentração da cidade

O mais contundente crítico da grande aglomeração (da grande cidade) é o ambientalismo. São os militantes da causa ambiental que denunciam, com insistência, que ela não é saudável e mais: produz efeitos nefastos em outros ambientes. Afirmam, por exemplo, que a cidade consome recursos naturais muito além do que os necessários para a sustentação da própria vida. A principal fonte dos males seria o fato de a cidade concentrar muita gente, infinitas atividades e excesso de edificação. Será essa concentração realmente uma fonte de problemas?

Menor custo das infraestruturas (redes pouco extensas) Meio Ambiente

Redes de transportes, comportando mais interconexões; equipamentos públicos, residenciais e para locais de trabalho mais fáceis de serem distribuídos; sistema de saúde e educacional mais acessíveis. Abastecimento de água com redes de distribuição ou de saneamento menores e mais controláveis, desperdícios menores, graças a uma gestão mais coletiva. Redução da impermeabilização dos solos, em razão de um sistema viário menos invasivo na área mais densa. Higrometria (umidade do ar) melhor controlada pela gestão de espaços verdes e dos planos de abastecimento urbanos. Micro (ou meso) - climas pouco agressivos.

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Interesses particulares superam os públicos Considerando que é ilusório imaginar populações menores nas cidades, o que seria ideal para uma grande metrópole? O ideal seria desdensificar , torná-la mais espraiada? Ou o melhor seria atuar com mais inteligência, em seus espaços mais compactos? Em espaços compactos, as infra-estruturas existentes têm de ser bem aproveitadas. Por isso, tirando as moradias, o fundamental da cidade deve ser público. Não é o caso de São Paulo, por exemplo, que vive uma larga privatização de seus espaços. O melhor exemplo é o uso maciço do automóvel particular.

Movimento na Avenida 23 de Maio e no terminal de ônibus da Praça das Bandeiras, cenas do cotidiano dos transportes de São Paulo, a maior cidade da América Latina.

Nessa cidade, existem mais de 4 milhões de automóveis circulando, o que é um índice impressionante, mesmo em termos mundiais. A cidade é uma confluência de distâncias menores, o que a torna um bom lugar para se andar a pé (fator de saúde) e para os transporte coletivos; porém, contraditoriamente, multiplica-se a opção pelo automóvel que é usado para tudo: trabalhar, fazer cursos, acompanhar as crianças ou para seus condutores irem às academias e clubes a fim de se exercitarem. Os resultados são imensos congestionamentos e poluição atmosférica, sonora e riscos para os pedestres. A cidade tende aos espaços públicos e aí se encontra a essência do seu valor civilizatório, que, entre outros produtos, pode gerar uma sabedoria para tornar seus espaços mais saudáveis. Por outro lado, a gana privatizante presente em nossa sociedade, violenta a cidade, tornando-a nada saudável. Você já deve ter notado como em nossa sociedade há uma visão depreciativa sobre os espaços públicos: são para pobres ... para quem não subiu na vida . Transferir toda a vida para a esfera privada é ascensão social. Diante do costume de denunciar as cidades como espaços doentes , por degradarem o ambiente, opomos essa outra perspectiva. A natureza e espaços livres não são os únicos critérios para se pensar em espaços saudáveis. Espaços ambientalmente saudáveis, nas cidades, só existirão se seus habitantes se importarem com isso, o que só acontecerá se os espaços públicos forem usados.

Sua cidade é saudável? Como deve ser uma cidade saudável? Essa questão foi feita a estudantes de Geografia de uma instituição de ensino superior de São Paulo. O resultado todavia é válido tanto para a capital paulista como para todos os grandes centros urbanos do país. Em seu conjunto, as respostas foram marcadas por uma crítica de tipo ambientalista e por uma visão caracterizada pelo déficit, do tipo... na minha 20


cidade faltam equipamentos... falta vegetação... falta sistema de saneamento... falta, falta... Ser saudável seria suprir esses déficits. São faltas elementares que não permitem espaços saudáveis, tudo ainda muito modesto, embora muitos tenham dito que suprir essas carências é algo fantasioso. Se é fantasia fornecer assistência médica razoável, não será mais fantasia ainda esperar que a cidade realize bem sua função principal que é a promoção de relações sociais? É provável que essa segunda fantasia seja mais concreta que a primeira e que a primeira (ter assistência médica) dependa de uma boa solução em relação ao convívio social, ao reforço dos espaços públicos. Saber avaliar sua cidade é algo que constitui a cidadania dos indivíduos. Como está sendo usado o espaço público, como está o saneamento básico, o transporte e o convívio social em sua cidade? Pense e avalie. Com esse propósito, apresentamos uma seleção de aspectos importantes a serem observados:

1 Os diversos elementos naturais numa ci-

dade devem ser bem usados, por exemplo, os rios e córregos. Os rios que servem ao saneamento (esgoto, efluentes industriais) e que têm suas várzeas a serviço do sistema viário automobilístico possuem uso predatório e reduzido. Perdem-se outras formas de uso: o rio como meio de transporte, como fonte de lazer, como contemplação e elemento de beleza cênica da cidade, como meio mais barato de abastecimento de água, como ponto de encontro e integração da cidade etc. 2 Um outro elemento natural necessário é a vegetação. A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda 12 m2 de área verde por habitante. Na capital paulista, por exemplo, há 3 m2. Não é o excesso de construção o maior responsável pela baixa arborização e sim a imensa circulação automobilística que reduz as calçadas e também a primitiva presença da fiação de eletricidade no passeio público. Outro fator de baixa arborização é a expansão (e não a concentração) miserável e sem planejamento, em suas periferias. A correção dessa situação passa por uma obra simples: a recuperação das calçadas como passeios públicos.

Contrastes de uma cidade grande como São Paulo: passeios públicos amplos, reurbanizados, bem arborizados e cuidados, como no Vale do Anhangabaú e na Praça Coronel Fernando Prestes, que conta com o centenário prédio da Faculdade de Tecnologia de São Paulo (FATEC) projetado por Ramos de Azevedo...

... e calçadas estreitas e quase intransitáveis, com raízes rompendo o piso para poderem crescer e entulhos e móveis jogados por parte da população, além de árvores podadas para desobstruir a fiação elétrica aérea.

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Espaços públicos saudáveis e seguros, como o Parque do Piqueri, na área urbana de São Paulo, estimulam o prazer de passeios em família, caminhadas e exercícios físicos.

De um lado, sacos de lixo depositados irregularmente sobre ponte de córrego e, de outro, cidadãos participando da coleta seletiva de detritos residenciais.

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3 A maneira de dispor as residências, numa cidade, conta na formação de espaços saudáveis. Áreas separadas para residências e comércio eliminam as vantagens da diminuição das distâncias, obrigam deslocamentos complexos para tudo; até para se comprar um simples pão. Além disso, é importante que as edificações sejam posicionadas para um arejamento correto e insolação adequada. Deve-se evitar que os usos residenciais (privado) agridam as calçadas (espaço público), com desnivelamento para entrada de carros e a introdução intencional de obstáculos para os pedestres, fatos esses generalizados nos grandes centros urbanos, mas pouco presentes em cidades que prezam o caminhar, como em Buenos Aires, na Argentina. 4 O saneamento básico é fundamental para espaços saudáveis. Em locais pouco concentrados, os resíduos orgânicos podem ser reabsorvidos no ambiente; mas onde há milhões de pessoas, não há essa possibilidade. Logo, é preciso investir num sistema técnico complexo

para proceder ao saneamento. Os cursos d água não devem ser comprometidos nessa função. A coleta de lixo deve igualmente atender os espaços privados e os públicos. Em grandes centros, os espaços públicos não são limpos e cabe aqui uma pergunta: se usássemos (a sociedade toda) esses espaços, o grau de exigência para que ele fosse saneado, logo saudável, não seria outro? 5 As condições dos serviços devem equilibrar-se com a demanda da cidade, aproveitando-se da diminuição das distâncias. Saúde e educação, por exemplo, devem ter seus serviços posicionados de modo a irrigar a cidade. Em grandes áreas urbanas, existem muitos serviços, mas quanto à acessibilidade geral da população, há um elevado grau de indisponibilidade. 6 A pobreza estética dos espaços públicos nos faz esquecer de que a cidade pode ser bonita. Uma condição estética favorável depende de vários fatores, principalmente da preocupação em se cuidar dos espaços públicos. Neles, não se pode fazer o que se quiser. São raros os locais das cidades que proporcionam o prazer de um passeio. Quanto esse espaço seria saudável se houvesse cuidado nesse sentido? 7 A chave para uma cidade saudável está na mobilidade que ela oferece. Todo o universo de relações que uma cidade permite só se realiza


se houver acessibilidade. Para isso, antes de tudo, a marcha pedestre deve ser incentivada. As calçadas devem ser adequadas. Os transportes coletivos devem oferecer seus serviços não apenas na direção centro ⇔ periferia. Os horários devem ser os mais abrangentes. Essa oferta deve ser para todos. Idosos, crianças e portadores de deficiência física encontram, nas ruas, um ambiente hostil e isso é um elemento

decisivo a ser resolvido se quisermos uma cidade saudável. Muitos aspectos ainda devem ser considerados sobre uma cidade saudável. Cada um deles significa, para seus cidadãos, a promoção da saúde pessoal e coletiva. Onde há recursos específicos para que crianças, idosos e portadores de deficiências possam circular, beneficia-se a saúde dessa parcela da população; dando-lhes convívio e dignidade que ficam vulneráveis numa cidade com problemas na sua dimensão pública. Onde o contrário ocorre, há um indicador negativo para essa qualidade de ser ou não saudável. Cidade saudável será aquela que inibe discriminações, que acolhe a todos como cidadãos com direitos, que fortalece espaços públicos. O que destacamos aqui é que todos os aspectos da cidade saudável articulam: cidade compacta ⇔ espaços saudáveis ⇔ convívio social ⇔ espaços públicos.

Uma população vulnerável José Luiz Martins/ Sentidos Imagens

Em certas cidades brasileiras, o caso de portadores de deficiências físicas, que não são doentes, a situação é grave. Sem recursos adequados, essas pessoas estão ficando condenadas à imobilidade, à depressão, à doença. Recentemente, a legislação brasileira enxergou o deficiente prevendo para ele garantias para uma vida normal. No entanto, falta muito para que o deficiente possa viver com dignidade em nossas cidades. Investir na sua inclusão social é garantir três coisas: a acessibilidade, o direito à educação e o direito ao emprego. Enquanto isso não acontecer, o deficiente permanecerá invisível, pois não saí às ruas, pelos perigos existentes. A maior limitação para o deficiente não está em seu corpo, mas nos espaços das cidades, que não lhe permite mobilidade. A despeito de algumas boas iniciativas públicas, o que paralisa o deficiente físico?

A burocracia exigente e desorganizada para o fornecimento do passe livre aos transportes coletivos. Trata-se de um direito constitucional que para ser obtido exige muita paciência por parte dos deficientes e seus familiares. A psicóloga Tatiana Rolim, paraplégica, autora do livro Meu andar sobre rodas, queixa-se do despreparo do transporte público para lidar com o deficiente. São poucos os ônibus adaptados e eles só passam em horários determinados. Muitas vezes, quando vê a gente, o motorista não quer parar... O acesso aos trens também é muito difícil, porque o vão entre o vagão e a plataforma é muito grande e a gente corre o risco de cair com a cadeira de rodas. Há estações que não possuem elevador. Tatiana acredita que a sociedade precisa mudar sua visão sobre o deficiente físico. Se o transporte não for adequado e não puder nos atender sempre, nós acabaremos isolados, presos em casa.

Tatiana Rolim tornou-se cadeirante há pouco mais de seis meses, depois de sofrer um atropelamento. Vive hoje em Osasco, na Grande São Paulo, próximo à Associação de Assistência à Criança Defeituosa (AACD), onde trabalha como psicóloga.

Para saber mais

ROLIM, Tatiana. Meu andar sobre rodas. São Paulo: Áurea Editora, 2001

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As muitas vozes na me

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edicina

Alfredina Nery Especialista em Língua Portuguesa

Baseado no livro de Moacyr Scliar, A Paixão Transformada História da Medicina na Literatura Companhia das Letras, 2001

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Medicalização da vida. Você sabe o que é isto? Criou-se a falsa expectativa de que a medicina e a ciência podem prevenir, corrigir e curar tudo. A medicalização pode ser reduzida, promovendo-se mudanças nas condições de vida para que elas se tornem cada vez mais favoráveis à saúde Marina Valadão – Enfermeira

U

ma das grandes dificuldades em exercer profissões ligadas à saúde é a elevada expectativa das pessoas em relação aos resultados dos tratamentos. Espera-se que a ciência médica funcione como uma versão moderna da mágica. Não mais a mágica das curandeiras e dos pajés, baseada na intuição e na experiência prática, transmitida de geração em geração. Agora ela deve ser tecnológica, padronizada e de eficácia garantida, mágica baseada na ciência. Durante o século XX, a expansão dos domínios da ciência foi tão grande que ela passou a ser considerada a única fonte de explicações e justificativas válidas para as ações humanas. Imagine um sujeito que tenha um hábito tão simples como o de dar pequenos passeios, todos os dias. Algo estranho, quem sabe infantil ou talvez uma demonstração de 26

falta do que fazer... Mas passe a imaginá-lo um executivo, que faz caminhadas diárias e realiza esse exercício físico moderado por prescrição médica pra prevenir o infarto. Faz mais sentido? O conhecimento científico passou a ser utilizado como sinônimo do que é correto, válido e verdadeiro. A diversão não é mais brincadeira. É uma receita para prevenir o estresse. A refeição, mais do que fonte de prazer e confraternização, é uma dieta para evitar hipertensão, diabetes, obesidade, colesterol. Difundiu-se a idéia de que tudo pode ser reduzido às suas menores partes até que possa ser estudado, explicado racionalmente e cientificamente controlado. A descoberta dos microrganismos, no final do século XIX, levou ao início da produção de vacinas e, finalmente, à fabricação dos primeiros antibióticos.


A medicina evoluiu, mas muitas doenças não foram controladas e outras surgiram Na década de 1940, as expectativas em relação à ciência estavam atingindo o seu auge. No campo da atenção à saúde, ocorreu um enorme progresso no conhecimento para o controle das doenças infecciosas. Com o aperfeiçoamento das técnicas cirúrgicas e com a possibilidade de prevenção e tratamento das doenças transmissíveis, principal causa de morte prematura, chegou-se a pensar que a humanidade estava prestes a dominar todas as enfermidades. Mas, ao contrário do que se imaginou, muitas antigas doenças não foram controladas, algumas delas ressurgiram com força redobrada e, ao mesmo tempo, a humanidade mostrou uma grande capacidade de descobrir ou produzir, sempre, novas doenças. Em alguns casos, inclusive com a ajuda da ciência e até mesmo da ciência médica. Como isso aconteceu? Como as expectativas em relação aos profissionais e aos sistemas de cura ficaram tão distantes assim do que os dois podem oferecer? Até que ponto os próprios profissionais de saúde contribuíram para reforçar expectativas que não podem ser atendidas?

O domínio da ciência Já foram criados pela humanidade muitos sistemas de cura. A partir de meados do século XIX, o conhecimento científico ganhou tal posição de destaque como forma de explicação dos fenômenos da vida, da saúde e da doença, que passou a ser tomado como única verdade. A ciência passou a ser entendida e tratada como a linha que separa a experiência de vida comum e o verdadeiro saber. A medicina passou a estabelecer regras de comportamento e convívio, a psiquiatria recebeu a tarefa de classificar e tratar os comportamentos considerados inadequados. A sexologia passou a determinar o que é normal e o que é patológico nos desejos e nas relações sexuais e amorosas. A saúde humana foi definitivamente trans-

ferida do campo do cuidado para os campos da ciência e da tecnologia. Os profissionais de saúde tornaram-se os especialistas em estabelecer para todas as demais pessoas a maneira correta e saudável de viver a vida. Medicalização é um termo usado para descrever essa invasão de um número cada vez maior de áreas da vida individual pela medicina, conforme definiu o economista Paulo Singer, no livro sobre o Prevenir e curar O controle social dos serviços de Saúde. Ela foi uma conseqüência da ilusão de que a saúde completa poderia ser alcançada desde que todos os aspectos da vida fossem cientificamente controlados. Até os desenhos e filmes, que encaramos com naturalidade, reafirmam essas idéias. Parece possível criar seres humanos perfeitos em laboratório. E, provavelmente,

Reprodução de uma página do livro O corpo humano, de Fritz Kahn, de 1949 publicação de sucesso nos anos 1940 e 1950 que veiculava informações científicas para o público não especializado. A ilustração exemplifica um momento em que se acreditou que um exame dos capilares sangüíneos, ao microscópio, revelaria o estado da alma de um recémnascido.

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afetivas e sexuais passaram a ter padrões considerados normais ou patológicos. Ao mesmo tempo, o uso de equipamentos e exames cada vez mais caros e sofisticados começou a levar os sistemas públicos de saúde à falência. Os equipamentos destinados a exames especiais passaram a ser utilizados rotineiramente. Os checkups feitos regularmente, com séries de exames altamente especializados, substituíram a conversa e o acompanhamento de saúde.

mesmo sem perceber, podemos achar que esses seres produzidos pela ciência e pela tecnologia seriam melhores que qualquer ser humano real. Sem dúvida, o potencial de prevenir e de curar aumentou muito. Hoje é possível fazer exames preventivos, diagnósticos precoces, tratamentos efetivos para doenças como o câncer de mama, de próstata ou de outros tipos. As cirurgias cardíacas e os transplantes são cada vez mais comuns e as próteses tornam-se cada vez mais funcionais. Na realidade, a aplicação da ciência médica poderia ter atingido resultados

E passamos a fabricar doenças...

muito mais generalizados se os conhecimentos e tecnologias tivessem se tornado acessíveis para a maioria da população mundial, o que ainda não ocorreu. Em um mundo que tem um quadro de saúde marcado por contrastes, mais da metade da população mundial ainda não tem garantia de acesso às tecnologias básicas geradas a partir desses conhecimentos. Mas daí a supor que, se todos os aspectos do funcionamento do corpo humano forem cientificamente regulados, o resultado será a saúde completa, já é uma outra questão. O problema é que todas e cada uma das fases da vida, desde o nascimento, o crescimento e desenvolvimento das crianças, a gravidez e o parto, o climatério e a velhice são hoje, muito freqüentemente, objeto de prescrições médicas, independentemente de haver ou não necessidades especiais ou doenças. As atividades comuns e cotidianas, como o repouso, a alimentação, a higiene corporal, as relações

As doenças crônicas e degenerativas, como diabetes, câncer e problemas circulatórios, ganharam grande importância na atualidade. Em parte, porque as pessoas deixaram de morrer de infecções e essas doenças são mais freqüentes com o envelhecimento. Um olhar mais cuidadoso pode revelar outras facetas da mesma história. Sabemos, por exemplo, que o uso do tabaco é a causa de cerca de metade de todas as mortes por câncer e está associado a quase 100% das mortes por câncer de pulmão. Isso sem contar os casos de doença decorrentes da exposição a produtos químicos no trabalho. Na realidade, o ritmo de vida nas cidades, as mudanças na dieta, o ritmo intenso do trabalho, o receio do desemprego, a competição e o sedentarismo favorecem o desenvolvimento dessas doenças que se tornaram mais freqüentes. Um típico exemplo de medicalização da vida foi o uso generalizado de hormônios para tratar as mulheres na época da menopausa (o climatério). Esses tratamentos receberam muita propaganda e tiveram grande aceitação entre os médicos e as próprias mulheres, por sua eficácia na diminuição das sensações de desconforto e mal-estar, como as ondas de calor. Depois de uma década de uso dos hormônios por milhares de mulheres em todo o mundo, foram realizados vários estudos que comprovaram que esse tipo de tratamento estava associado ao aumento da ocorrência de câncer, infarto e outras doenças graves. A partir de 2003, o seu uso passou a ser recomendado, inclusive pela Organização Mundial de Saúde e pelo FDA (Federal Drug Administration), órgão que regulamenta o uso de medicamentos nos


Estados Unidos, apenas em alguns casos e, mesmo assim, por períodos limitados. Está fartamente documentado, nos relatórios das pesquisas publicadas nos últimos dois anos, que, com o uso indiscriminado de hormônios, os riscos e prejuízos mostraram-se maiores que os benefícios.

Podemos vir a depender de receita para ar despoluído ? Uma das alternativas para evitar a completa medicalização da vida é buscar as causas mais profundas das doenças nos sistemas de habitação, transporte, saneamento ambiental, agricultura, nas formas de organização do trabalho e lazer. Sabemos que não é possível ter boa saúde respirando ar poluído, trabalhando em contato com produtos tóxicos ou ingerindo alimentos contaminados por agrotóxicos e esgotos. Pode-se promover a saúde garantindo o acesso de toda a população à água tratada ou promovendo, ativamente, a diminuição dos acidentes de trânsito, primeira causa de internação e morte em várias cidades brasileiras. Se 30% dos idosos sofrem quedas, pelo menos um vez ao ano, o que muitas vezes leva a fraturas em função da sua fragilidade óssea, por que não promover a saúde, garantindo às pessoas com dificuldades de locomoção meios mais seguros de circulação? As experiências de promoção da saúde coletiva mostram que é possível decidir, junto com as próprias pessoas envolvidas, as melhores formas de interferir nas condições de vida, para que elas fiquem mais protegidas, menos sujeitas ao adoecimento e mais saudáveis. Como em um filme de ficção científica, poderemos vir a depender de receitas médicas para usar botijões de ar despoluído , nos quadros de intoxicação. Ou podemos, nos dias atuais, enfrentar as causas econômicas, políticas e sociais da poluição. Tendo acesso às informações e possibilidade de participar nos processos de tomada de decisão, as pessoas podem desejar seguir outros caminhos para a produção de riquezas que não sejam os da degradação da natureza e do esgotamento dos recursos naturais.

É preciso buscar pontos de encontro entre a ciência e a valorização da vida Sem dúvida, é necessário criar e manter os serviços de saúde, garantindo a todos os cidadãos os benefícios dos conhecimentos e das tecnologias que ajudam a melhorar e a recuperar a saúde. A medicalização da vida não decorre do emprego desses conhecimentos. Ela é alimentada pela ilusão de que o completo bemestar pode ser alcançado mediante ações dos profissionais e dos serviços de saúde sobre os indivíduos, desde que todos os aspectos da sua vida sejam cientificamente controlados. Criase a expectativa de tudo prevenir, corrigir e curar, sem reconhecer os limites da medicina e da ciência e a riqueza da vida que estão além do controle da ciência. É provável que a recuperação da confiança nos profissionais de saúde dependa do reconhecimento de que cada ser humano é capaz de ser mais do que um objeto da ciência. O bem-estar das pessoas depende, antes de mais nada, da sua participação e da sociedade na transformação das condições de vida, para que elas se tornem cada vez mais favoráveis à saúde.

Para saber mais

KUPSTAS, Márcia (org). Saúde em debate. São Paulo Moderna, 1997. (Coleção debate na escola). SINGER, Paul Singer; CAMPOS, Oswaldo; OLIVEIRA, Elizabeth M. de. Prevenir e curar - O Controle Social dos Serviços de Saúde. 2a ed. Ensaios de Economia. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1981. VALLA, Victor Vicent (org). Saúde e Educação. Rio de Janeiro: DP&A, 2000.

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Sexualidade e corpo Embora presentes no dia-a-dia e freqüentes na propaganda, sexualidade e corpo são temas cercados de valores, tabus e pressões sociais. Conheça um pouco mais sobre essas questões e saiba como o padrão estético atual marginaliza muitas pessoas e provoca comportamentos que afetam a saúde Yara Sayão –Psicóloga

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Ilustração adaptada de O Beijo (1886), escultura em bronze de Auguste Rodin, exposta no Musée Rodin, Paris, França.

S

exualidade e corpo são assuntos sobre os quais todos nós já temos algum saber, ao menos na forma de vivências. Impossível pensar a vida humana sem a busca do prazer, algo que é determinante da sexualidade. Essa dimensão faz parte da vida, da busca de satisfação e de prazer desde o nascimento, com a capacidade humana de vincular-se ao Outro. É determinante para a saúde, tanto em seu aspecto físico quanto mental. Nosso corpo expressa a sexualidade sempre, tanto em nossos gestos e ações quanto em nossos pensamentos, fantasias e idéias. Diferente das outras espécies animais, apenas nós, humanos, podemos optar por não ter relações sexuais a vida inteira e também por ter relações sexuais e não gerar descendentes.


Ou seja, na espécie humana a sexualidade se desenvolve para muito além da função reprodutiva. A sexualidade forma parte integral da personalidade de cada um. É uma necessidade básica e um aspecto do ser humano que não pode ser separado de outros aspectos da vida. A sexualidade não é sinônimo de coito e não se limita à presença ou não do orgasmo. Sexualidade é muito mais do que isso, é a energia que motiva encontrar o amor, contato e intimidade, e se expressa na forma de sentir, na forma de as pessoas tocarem e serem tocadas. A sexualidade influencia pensamentos, sentimentos, ações e interações e tanto a saúde física como a mental. Se a saúde é um direito humano fundamental, a saúde sexual também deveria ser considerada como um direito humano básico. Organização Mundial da Saúde, 1975.

A sexualidade precisa da contribuição de diferentes ciências enquanto área de conhecimento A sexualidade depende tanto dos aspectos sociais como do que é próprio do indivíduo. É individual porque se expressa de forma diferente em cada sujeito. Ao mesmo tempo é social, pois serão sempre as formas culturais, construídas coletivamente, que possibilitarão as expressões da sexualidade em cada um. Dessa forma, a sexualidade é intimamente associada a valores, sejam aqueles comuns de uma cultura quanto os particulares a uma pessoa ou a um grupo. Enquanto área do conhecimento, a sexualidade precisa de contribuições das diferentes ciências: psicologia, história, sociologia, economia, política, biologia, e outras mais. Cada época, cada período histórico tem um conjunto de idéias que influenciam cada sujeito nela nascido.

A sexualidade e a propaganda Nos últimos anos, o corpo e a sexualidade têm ocupado muito espaço nos meios de comunicação de massa. Isso significa que os antigos tabus e preconceitos estão sendo superados? Ou será que, na sociedade de consumo, a sexualidade pode estar sendo colocada, indevidamente, como mercadoria, como se fosse um produto que se pode comprar ou vender? Temos visto que, cada vez mais, imagens de corpos nus ou insinuações ligadas ao sexo são utilizadas nas propagandas para se vender qualquer produto, de chuveiro a automóvel. Será que isso não pode estar nos influenciando? Quais os reflexos disso para nosso corpo, para cada um de nós quando precisamos de algum cuidado de um profissional da saúde? Cada uma dessas questões gera discussões e até polêmicas constantes em nossas vidas. E, de repente, precisamos tomar uma posição ou atitude, seja em nossa vida pessoal, seja no exercício da cidadania.

Sexualidade na História Desde que o mundo é mundo, a sexualidade tem ocupado lugar na mitologia, na filosofia, nas artes e em toda forma de representação e conhecimento humano. As diferentes culturas emprestaram valores diferenciados à vivência da sexualidade. Na civilização babilônica, nossa ancestral cultural muito antiga, constava entre os moti31


vos de orgulho o culto ao amor sensual: há registros de que havia práticas de intensa liberdade sexual e a religião babilônica encarregava-se da organização da sexualidade fora do casamento. Na Grécia Antiga, a pederastia ocupava um lugar de destaque na sociedade. Eram valorizadas as relações entre homens maduros e jovens, indevidamente denominadas de homossexualidade. Era função social do homem maduro ensinar ao rapaz a se tornar um cidadão, sendo que as relações amorosas entre eles (chamadas de homofilia por alguns estudiosos), evoluíam para a amizade (philia). É diferente da homossexualidade atual; hoje, essa palavra/relação tem um sentido completamente diferente, pois se supõem relações maduras e estáveis.

mesmo nossos sentimentos mais íntimos, privados, de alguma forma se relacionam com a questão social. A vergonha de mostrar o corpo (o pudor), por exemplo, tem a ver com a proibição social da nudez. Na sociedade ocidental, a exposição de um corpo nu, num espaço público, constitui infração penal. Nos últimos tempos, embora o atentado violento ao pudor ainda continue sendo algo que possa levar alguém para a delegacia de polícia, temos assistido a um grande incentivo feito pela moda e pela propaganda de se exibirem cada vez mais os corpos nus.

A idéia de culpa associada ao sexo é legado do cristianismo O cristianismo introduziu a noção de pecado da carne , embora desde a Antigüidade já se colocasse a necessidade do domínio de si e de seus prazeres. Temos, como exemplo, o registro do seguinte diálogo: quando se perguntou a Pitágoras (matemático e filósofo grego que morreu no ano 495 antes de Cristo) qual era o momento oportuno para fazer amor, este respondeu: quando queremos nos enfraquecer . A sexualidade e as práticas sexuais, portanto, tal qual as conhecemos hoje, encontram-se associadas desde tempos imemoriais a proibições. A noção da culpa associada ao sexo, que perdura até a atualidade, é um legado do cristianismo, quando nos séculos XII e XIII, a moral sexual se fixa em três direções: o casamento, o pecado e a separação dos clérigos e dos leigos. O casamento surge como uma concessão, um remédio para tratar o ardor do desejo sexual. Disse o apóstolo Paulo aos coríntios: É bom para o homem abster-se da mulher. Mas, por causa das fornicações, que cada homem tenha sua mulher, e, cada mulher, seu marido (I Cor, VII, 1-2). Como é que então nossos corpos base da nossa identidade e fonte de nossa vitalidade - vão guardando marcas de todas essas questões culturais? Não podemos esquecer que 32

Os corpos e suas marcas Vêm se popularizando, especialmente entre os adolescentes, o uso de tatuagens e piercings - perfuração de alguma parte do corpo para a colocação de argolas, anéis ou brincos. Qual a importância pessoal e social das inscrições realizadas no corpo? Diferente do que alguns podem pensar, não se trata de novidade e muito menos de invenção nossa, são apenas a retomada moderna de adornos tribais, largamente utilizados em muitas culturas indígenas. As sociedades criam sinais aparentes ou marcas nos corpos que evidenciam a existência de códigos comuns a


ros e olhos azuis. É um padrão estético de beleza que não corresponde ao tipo físico mais freqüente no país. Esses corpos aparecem sempre associados ao consumo de algum produto e, direta ou indiretamente, promovem uma identificação entre esse tipo físico corporal e as noções de beleza, saúde e até felicidade e poder de atração sexual. Isso pode gerar como efeito a construção de uma auto-imagem negativa em crianças que não se enquadram nesse padrão insistentemente veiculado pela propaganda, que acaba por impô-lo como único e todos os outros como indesejáveis e marginais. Essas crianças (e muitos adultos também) podem se sentir feias e, conseqüentemente, terão diminuídas as suas possibilidades de auto-aceitação e auto-cuidado. Devemos estar atentos a isso, pois gostar de si mesmo, sentir-se bem com o corpo que se tem e se cuidar são aspectos necessários para a busca de prazer

Todas as sociedades criam sinais e marcas nos corpos, adornam-se ou ferem-se, evidenciando códigos ou promovendo rituais que identificam os membros de um mesmo grupo.

Paulo Cesar Pereira

membros de um mesmo grupo. Que relação há para a adoção de hábitos similares em culturas tão distintas? Há estudiosos das culturas que afirmam que praticamente toda sociedade fere de alguma forma o corpo de seus membros. Isso por razões rituais, sinal de status ou ainda por motivos estéticos: nas superfícies dos corpos estão as evidências da profundeza da vida social. É isso que faz com que esses sinais sejam tão importantes tanto para o indivíduo como para seu grupo. A quase totalidade das comunidades indígenas conhecidas de diferentes pontos do mundo utilizaram e continuam utilizando a pintura nos corpos de seus membros para marcar diferentes situações: identificação de etnia, estado de guerra, comemoração da colheita, ritual de passagem, homenagem a alguma divindade etc. Já em nossa sociedade, questionamos um fenômeno bastante intenso e atual: a veiculação repetitiva, pela mídia, de corpos magros, longilíneos, esbeltos, de pele branca, cabelos loi-

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Os padrões de beleza, saúde e até de poder de atração sexual veiculados pela mídia, geralmente, não correspondem ao tipo estético mais freqüente na sociedade e provocam exageros de comportamento e distúrbios alimentares, principalmente entre adolescentes.

Para saber mais

! CATONNÉ, JeanPhilippe. A Sexualidade, ontem e hoje. São Paulo: Cortez Editora, 1994. Pertence à coleção Questões da nossa época, vol. 40. ! DUNLEY, Gláucia (org.). Sexualidade e Educação: um diálogo possível?. Rio de Janeiro: Gryphus, 1999. Educação em diálogo, v.2. ! RODRIGUES, José Carlos Rodrigues. Tabu do Corpo. Rio de Janeiro: Editora Achiamé, 1975. ! MEC - Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais (5ª a 8ª séries) Tema transversal Orientação Sexual. Brasília, 1998.

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experiência da dor. Da mesma forma que em qualquer outra experiência humana, encontraremos, em cada sujeito, além da predisposição de seu organismo, maior ou menor tolerância à dor a partir de sua condição social e psíquica num dado momento. Em algumas culturas, a capacidade de suportar a dor, em silêncio, pode ser sinal de virilidade; já em nossa cultura, são predominantemente as mulheres que toleram melhor a manifestação explícita de algum incômodo ou sofrimento.

nas relações afetivas/sexuais, assim como são facilitadores da promoção da saúde. Como decorrência de exageros desse comportamento, hoje temos o aumento significativo de distúrbios alimentares (anorexia e bulimia: transtornos associados à capacidade de ingestão de alimentos) principalmente entre mulheres adolescentes em vários países do mundo e o incrível recorde brasileiro em cirurgias plásticas estéticas (implante de silicone nos seios, por exemplo). São distúrbios diretamente ligados à pressão social de se ter um corpo magro e da moda para poder se sentir bem e, só assim, ser feliz. Sabemos que são padrões culturais que estabelecem o que se considera belo ou não e isto varia em diferentes momentos da história. Já houve época em que as carnes fartas das mulheres é que eram valorizadas esteticamente, erotizadas.

A linguagem do corpo de cada um nem sempre é entendida ou respeitada Os profissionais da saúde, percebendo ou não, lidam com todas essas dimensões que se encontram, a partir da cultura, marcadas no corpo de cada um, de maneira singular e única. É fundamental a atenção para o corpo de cada um, ele próprio uma linguagem que nem sempre é entendida ou respeitada pela própria pessoa ou pelos outros. Um exemplo disso é a

“(...)um paciente que experimenta sua dor como punição, mesmo que procure um profissional de saúde, pode recusar-se, ainda que inconscientemente, ao tratamento. O entendimento pelo profissional desta concepção moral e de seu lugar estruturante na experiência da dor é decisivo para o cuidado e a “cura”, porque a dor e a doença não se separam de seu significado”. SARTI, Cynthia Sarti. A dor, o indivíduo e a cultura. In: Revista Saúde e Sociedade. São Paulo: Faculdade de Saúde Pública da USP e Associação Paulista de Saúde Pública, vol. 10, nº 1, de Jan/jul 2001, p. 9.

Um outro exemplo é a questão da vivência do prazer em portadores de necessidades especiais ou deficiências. Há uma tendência socialmente estabelecida de ver esses sujeitos como assexuados, de não vê-los como também tendo direito ao prazer. Isso faz com que sejam tratados de forma infantil, o que muitas vezes os incomoda bastante. Para eles é fundamental que possam ser vistos e tratados em sua singularidade, com suas necessidades e desejos, como todas as pessoas. É importante que todas essas questões sejam levadas em conta pelos profissionais da saúde: a importância da delicadeza no trato com o corpo de cada pessoa, a aceitação dos diferentes limiares para a sensação de dor em cada um, o cuidado e respeito para com os pudores dos idosos ou crianças. Inspirados no conhecido ditado popular que diz é nos menores frascos que se encontram os melhores perfumes , podemos pensar que é também nos pequenos gestos de um profissional que poderemos reconhecer suas melhores virtudes.


Literatura e medicina caminham juntas A

literatura, como arte da palavra, sempre lidou com as mais diversas questões humanas, incluindo a saúde, a doença e a morte. Emoção e razão encontram-se nos textos literários, possibilitando-nos pensar sobre o corpo humano e suas manifestações para além de um ponto de vista estritamente técnico ou médico como sabemos, corpo e mente vão muito além. Para o artista, as diferentes ações do cotidiano motivam sua percepção subjetiva do ser humano. Assim, a literatura é uma outra porta para penetrarmos nos temas da saúde. Três famosos poetas brasileiros trazem esses temas em suas obras: Manuel Bandeira, João Cabral de Melo Neto e Carlos Drummond de Andrade.

Manuel Bandeira, o poeta e a tuberculose No poema Pneumotórax, Manuel Bandeira fala da morte, como tuberculoso que foi. No 1o verso, o poeta faz uma descrição do estado do doente dos pulmões, descrevendo os sintomas: Febre, hemoptise, dispnéia e suo-

Pneumotórax Febre, hemoptise, dispnéia e suores noturnos. A vida inteira que podia ter sido e que não foi. Tosse, tosse, tosse. Mandou chamar o médico: Diga trinta e três. Trinta e três... trinta e três... trinta e três.... Respire... O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado. Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax? Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino. BANDEIRA, Manuel. Estrela da vida inteira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. Direitos servidos por Solombra Books

Manuel bandeira www.solombrabooks.com

Alfredina Nery – Especialista em Língua Portuguesa

res noturnos . No 2o verso fala de um arrependimento: A vida inteira que podia ter sido e que não foi . O quanto poderia ter vivido, mas não viveu. O 3o verso é uma imitação do som, tão caro a um tuberculoso: Tosse, tosse, tosse . A 2a estrofe retrata a consulta: a rotina do médico examinando os pulmões pedindo para o paciente dizer: trinta e três , três vezes e depois respirar. O pontilhado parece uma brincadeira no meio do poema, fazendo tanto uma suspensão da idéia quanto marcando o tempo da respiração forte do doente. Qual será o resultado? O que será que eu tenho? Será que é grave? Chegou a minha hora? . Perguntas eternas de qualquer um de nós numa consulta médica. Depois, num longo verso, o diagnóstico do médico: O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado . Em seguida, a pergunta do paciente: Então,

 Condomínio dos Proprietários dos Direitos Intelectuais de

Saúde, doença e morte inspiram artistas e são fartos os exemplos dessa relação que nos ajudam a refletir sobre o corpo humano

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Carlos Drummond e o consumo de medicamentos Leia o poema de Drummond Receituário Sortido em que há uma fina ironia sobre a medicalização exagerada da vida moderna que quer remédio para tudo. Veja como ele brinca com as palavras, ao criar nomes de remédios, a partir de termos consagrados na produção farmacêutica: o nome fantasia dos medicamentos comerciais. Algumas palavras inventadas pelo poeta fazem referência à origem grega ou latina de muitos vocábulos usados na medicina, como por exemplo: ansiolax , serenium etc. Além disso, a criação dos termos por Drummond e a repetição intencional de determinados sons constroem uma musicalidade no poema, própria para uma leitura em voz alta. Verifique!

Receituário Sortido

Outro poeta brasileiro, João Cabral de Melo Neto, homenageou sua doença uma incurável dor de cabeça tratando da aspirina. Claramente: o mais prático dos sóis, O sol de um comprimido de aspirina: De emprego fácil, portátil e barato, Compacto de sol na lápide sucinta (...) (MELO NETO, João Cabral de, Num monumento à aspirina. In: A Educação pela Pedra. Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1966)

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Que negócio é esse de ansiedade? Não quero ver ninguém ansioso. O cordão dos ansiosos enfrentemos: aspiran! ansiotex! ansiex ansiax ansiolax ansiopax, amigos! Serenidade, amor, serenidade. Dissolve-se a seresta no sereno? Fecha os olhos: serenium, serenex... Dói muito o teu dodói de alma? Em seda e sedativo te protejas. Sedax, meu coração, sedolin sedotex sedomepril. Meu bem, relaxe por favor. Relaxan Relaxatil. Batem, batem à porta? Relax-pan. Estás tenso, meu velho? Tenso de alta tensão, intensa, túrbida? Atenção: tensoben tensocron tensocrin tensik tensoplisin.

 Graña Drummond www.carlosdrummond.com.br

João Cabral de Melo Neto e a dor de cabeça

Calma. É preciso ter calma no Brasil calmina calmarian calmogen calmovita.

Carlos Drummond de Andrade

doutor, não é possível tentar o pneumotórax? . Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino , diz, ironicamente, o médico, retomando a idéia de que cantar e dançar são formas de esquecer as mágoas, verdades ou realidades. Mas, no poema, não é qualquer música, é um tango argentino. Uma música triste, forte, de grandes emoções. Manuel Bandeira, satírico com a própria doença, completa o poema como se fosse uma piada, através da surpreendente resposta do médico. Coloca, assim, a alegria de viver no lugar da autopiedade, o que não é pouco para quem viveu em tempo de tuberculose (final de século XIX e começo do XX), uma quase condenação à morte.


Veja outros exemplos das relações entre a medicina e a literatura: Há muitos médicos escritores. São alguns deles: o francês Rabelais, o russo Tchekov, os ingleses Conan Doyle e Somerset Maugham, o português Miguel Torga, os brasileiros Pedro Nava, Guimarães Rosa, Moacyr Scliar. A doença e a medicina são temas freqüentemente abordados pelos escritores em suas obras, por exemplo:

Anda, cai no sono, amigo, olha o sonix. Como soa o sonil sonipan sonotal sonoasil sonobel sonopax! E fique aí tranqüilo tranqüilinho bem tranqüil tranquilid tranqüilase tranqüilan tranqüilin tranqüix tranqüiex tranqüimax tranqüisan e mesmo tranxilene! Estás píssico, talvez de tanto desencucarem tua cuca? Estás perplexo? Não ouves o pipilar: psicoplex? psicodin psiquim psicobiome psicolatil? Não sentes adejar: psicopax? Então morre, amizade. Morre presto, morre já, morre urgente, antes que em drágea cápsula ampola flaconete proves letalex portalin obituaran homicidil thanatex thanatil thanatipum! (ANDRADE, Carlos Drummond de. Receituário Sortido. In: Discurso de Primavera e algumas sombras. RJ: Editora Record

a peste em Boccaccio (Decameron), Defoe (O Diário do ano da peste), Albert Camus (A peste), a tuberculose em Thomas Mann (A montanha mágica), a experiência do adoecimento, da proximidade da morte e das relações entre o enfermo, os familiares e o médico em Tolstoi (A morte de Ivan Illich); Simone de Beauvoir (Uma morte muito suave). A psicanálise é um outro campo de conhecimento que também mostra a afinidade entre medicina e literatura, basicamente por duas razões: tanto a psicanálise quanto a literatura têm na palavra seu objeto de trabalho. Freud usava os textos literários como inspiração para a investigação do inconsciente, além de lidar com a palavra do paciente para suas intervenções psicanalíticas. ambas, bem como os mitos, as narrativas fabulosas e a própria Bíblia utilizam as metáforas/comparações, como forma de pensarem/explicarem o mundo e o ser humano.

Obras contribuem para reflexões na Medicina A compreensão de que a literatura é fundamental na ampliação do conhecimento do ser humano tem motivado a sua inclusão nos cursos de Medicina. Isto vem ocorrendo desde os anos 70, com os objetivos de contribuir para a reflexão crítica da prática dos estudantes de Medicina e preservar a sensibilidade, a capacidade de perceberem a si próprios e a seus pacientes como seres humanos. 37


Risco ou vulnerabilidade? É impossível evitar todos os riscos. A vulnerabilidade pessoal e social aos problemas de saúde depende, porém, da informação das pessoas, do contexto social, da atuação das instituições. A avaliação atenta e ampla dessa questão contribuirá para proteger as pessoas e coletividades dos riscos e ampliar a prevenção dos agravos à saúde Marina Valadão – Enfermeira

A

convivência com riscos é uma das características próprias da vida. Desde o nascimento até a morte enfrentamos os desafios do crescimento e desenvolvimento, os conflitos da vida em grupos, adversidades do ambiente, o qual também está sempre em transformação. Não há como viver sem correr riscos, pois sejam pequenos ou grandes, tomam parte nesse constante movimento da vida. Mas as formas de entender os riscos e de enfrentá-los podem ser muito diferentes entre si. Para alguns, eles podem ser interpretados como sorte ou azar já que o risco é uma chance estatística. Quem nunca ouviu as frases: Por que aconteceu justo comigo? ou Fulano fumou a vida toda e viveu até os 80! 38

Para evitar riscos na saúde, não basta a prevenção Entre os profissionais de saúde e a maioria das pessoas, a tendência mais comum é a de valorizar, principalmente, os comportamentos individuais de prevenção de riscos. Partimos do pressuposto de que se cada um receber as informações e a educação adequadas, poderá aplicar o que aprendeu à vida de todo dia, evitando-os. Entretanto, sabemos que apenas a informação é insuficiente: saber quais são as formas de prevenção de um infarto não leva, automaticamente, à mudança de comportamentos e à adoção de condutas preventivas. Por exemplo, entre saber que o cigarro faz mal e parar de fumar pode existir um longo caminho, conforme o significado do cigarro


na vida da pessoa e o seu grau de dependência do fumo. Na realidade, as práticas que expõem ao adoecimento ou protegem as pessoas dos riscos não são fruto de pura vontade e esclarecimento dos indivíduos.

Conhecer os riscos é importante, mas é preciso ampliar conhecimentos dos problemas a serem prevenidos O conhecimento do risco não é suficiente nem para as pessoas em geral, nem tampouco para os profissionais de saúde tomarem decisões sobre as melhores formas de prevenção aos agravos à saúde. Conhecer os riscos é im-

portante, mas a grande questão é como contribuir para sua prevenção, como evitá-los. Para que nossa contribuição para o desenvolvimento de atitudes e comportamentos preventivos seja ação efetiva, precisamos ampliar a nossa compreensão dos problemas a serem prevenidos. É preciso saber quais as condições reais que as pessoas têm para alterar os comportamentos que as expõem a um problema de saúde. Elas envolvem fatores emocionais, morais, culturais, econômicos, sociais. De fato, os problemas de saúde geralmente resultam de uma associação de riscos que não podem ser compreendidos de forma isolada. Os riscos atingem, de maneira mais intensa, os grupos ou indivíduos mais fragilizados e que, portanto, convivem com os perigos em situação de desvantagem. Podemos tomar a tuberculose como exem39


plo. A maioria dos brasileiros tem ou já teve contato com o bacilo de Koch, causador dessa doença, inclusive por meio da vacina, mas somente as pessoas com baixa resistência, em conseqüência de desnutrição, desgaste físico ou infecção pelo HIV, desenvolvem a doença. Caso não tenham acesso ao tratamento ou não mantenham o uso dos medicamentos por todo o longo período necessário, a sua vulnerabilidade e a de sua família serão ainda maiores. Por isso, para proteger a saúde coletiva, é necessário formar uma visão ampliada do conjunto de elementos que favorecem a exposição de indivíduos e grupos a cada risco, conhecendo o problema de saúde em seu contexto. É preciso identificar o conjunto de características pessoais, sociais e institucionais que predispõem as pessoas ou grupos a sofrer as conseqüências de um determinado risco. Essas particularidades podem aumentar a exposição ao risco (quem trabalha o tempo todo exposto ao sol tem mais chances de desenvolver câncer de pele) ou restringir sua proteção diante do problema (quem tem um baixo salário tem menos condições para adquirir filtro solar, mesmo que trabalhe permanentemente exposto ao sol e precise muito dele).

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Vulnerabilidade pessoal No plano pessoal, a vulnerabilidade está associada aos comportamentos que criam a oportunidade de expor-se aos riscos. Se a convivência com eles é parte da vida, a saúde das pessoas depende, em parte, exatamente das oportunidades que elas têm para desenvolver e utilizar recursos positivos para enfrentá-los. Essas oportunidades são construídas socialmente, coletivamente e não apenas no plano individual. Entre os jovens, os comportamentos mais ousados, o desafio às regras e o sentimento de que nada vai acontecer comigo tendem a aumentar a sua exposição a situações que geram acidentes de trânsito. Podemos afirmar, então, que jovens são mais vulneráveis a esses acidentes do que pessoas de outras faixas etárias.

Informações, experiências, atitudes de cautela fazem a diferença na vulnerabilidade Também por características próprias a cada fase do desenvolvimento, as crianças pequenas são mais vulneráveis aos acidentes domésticos, enquanto os idosos sofrem, com maior freqüência, acidentes do cotidiano como as quedas e fraturas. Mas os jovens, as crianças e os idosos podem apropriar-se de recursos (informações, experiências, atitudes de cautela etc.) que ajudem a diminuir sua vulnerabilidade pessoal, de forma que nem todas as pessoas, mesmo que vivam em ambientes e situações semelhantes, estarão igualmente vulneráveis aos acidentes. Outro exemplo é a vulnerabilidade às doenças crônicas. As pessoas com pais diabéticos têm maior risco de desenvolverem essa doença. Entretanto, quem tiver a oportunidade de incorporar à sua vida, desde a infância, conhecimentos e hábitos preventivos, poderá retardar o aparecimento dos sinais e sintomas do diabetes ou evitar que a doença seja desencadeada. Em outras palavras, sua experiência de vida terá sido um elemento importante para diminuir sua vulnerabilidade pessoal ao diabe-


tes.

Vulnerabilidade institucional A vulnerabilidade está associada também à atuação das instituições voltadas para o enfrentamento dos problemas que afetam a sociedade. Por exemplo, a prevenção da Aids depende, além do cuidado pessoal, da qualidade dos programas de prevenção e tratamento, da oferta de exames diagnósticos, do acesso ao coquetel de medicamentos, das campanhas educativas, entre muitos outros elementos relacionados à ação dos serviços públicos de saúde.

vida de todo dia e a vulnerabilidade aos problemas de saúde depende das pessoas, de seu contexto social e da ação das instituições. Esses elementos não podem ser avaliados e tratados de forma isolada, sob pena de não se produzir, de fato, proteção contra determinado risco. A avaliação da vulnerabilidade pode ser utilizada para a elaboração de estratégias preventivas para problemas como infecção pelo HIV, violências, acidentes, problemas cardiovasculares ou uso indevido de drogas. Tem sido

A vulnerabilidade pessoal está associada aos serviços públicos e à atuação das instituições Retomando os exemplos anteriores, podese apontar a qualidade da sinalização das vias públicas, de responsabilidade do governo, como um elemento importante para a avaliação do componente institucional da vulnerabilidade dos jovens aos acidentes de trânsito. Da mesma forma, a melhoria das condições das vias públicas para a circulação de pedestres contribui bastante para a prevenção de acidentes entre os idosos, sendo considerada uma medida de promoção da saúde, pois diminui a vulnerabilidade dos idosos a quedas e fraturas.

Vulnerabilidade social No plano social, a vulnerabilidade aos problemas de saúde depende de aspectos como acesso a meios de comunicação, grau de escolaridade, disponibilidade de recursos materiais, poder de influenciar decisões políticas. Para diminuir a vulnerabilidade social das mulheres à infecção pelo vírus da Aids, por exemplo, é necessário enfrentar a desigualdade nas relações entre homens e mulheres, visando fortalecêlas para negociar o uso do preservativo nas relações sexuais. Ao mesmo tempo, as pesquisas realizadas em todo o mundo mostram que um dos componentes mais importantes da vulnerabilidade das crianças às doenças e à morte é o grau de escolaridade da mãe. Enfim, saúde e a doença são produzidas na

empregada também na definição de planos preventivos de defesa civil, em áreas onde acontecem desastres como inundações ou escorregamentos. Começou a ser usada, mais recentemente, para identificar estratégias mais integradas para prevenir a degradação ambiental. Concluindo, não é possível evitar todos os problemas de saúde eliminando os riscos. Mas pode-se contribuir para o fortalecimento pessoal, social e institucional, visando proteger as pessoas e coletividades desses riscos e ampliando os horizontes da prevenção dos agravos à saúde. Na próxima vez que pensarmos em algum risco, poderemos tentar ampliar nosso conhecimento da questão da vulnerabilidade. A partir da identificação do problema a ser enfrentado, é possível avaliar o quanto ele afeta uma determinada pessoa ou grupo, em seu contexto pessoal, social, institucional. Possivelmente, resultarão muitas pistas novas para a ação e elas serão mais positivas, mais humanas e mais gratificantes.

Para saber mais

AYRES, José Ricardo. Vulnerabilidade e avaliação de ações preventivas. São Paulo: Casa da Edição,1996.

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Monitoramento das condições de saúde A coleta de dados sobre as condições de vida serve para compor um diagnóstico da situação da população. Ajuda, assim, a orientar políticas públicas para promoverem ações de prevenção de doenças e de melhoria da saúde. Por isso, é imprescindível também a participação da população no acompanhamento das condições de saúde Estela Maria Vianna de Camargo – psicóloga do SUS

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magine que numa determinada região passam a ser registrados números crescentes de internações e mortes por um tipo de tumor. Por que o problema começou e está se agravando? Estaria a doença associada à poluição da água ou do ar? A questão muito dificilmente seria estudada, se não houvessem dados coletados. Utilizando-os, seria

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necessário verificar se há relação entre os maiores números de doentes e mortos e o aumento dos níveis de poluentes no ambiente. São vários os dados que interessam para o monitoramento da saúde da população, relativos ao nascimento, ao adoecimento, à morte, à distribuição de renda, às condições do meio ambiente, de saneamento, à oferta de atendimento médico, por exemplo. O controle de epidemias, como a dengue, é rotineiramente baseado em dados fornecidos pelo SINAN Sistema Nacional de Notificação de certas doenças transmissíveis. Assim, quando os profissionais e demais cidadãos que decidem as ações em saúde notam o aparecimento de vários doentes com dengue, numa localidade, iniciam, rapidamente, o controle da proliferação do mosquito Aedes Aegypti, transmissor da doença. A rapidez e eficiência das notificações faz muita diferença quando se trata de controlar ou mesmo evitar uma epidemia. Existem vários sistemas de informação internacionais, nacionais e regionais que permitem o acompanhamento das condições de vida e saúde da população. Os sistemas de informações brasileiros mais conhecidos são os do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Esta-


Casos de dengue no Brasil caem quase 60%* Norte

aumento de 37,26 %

Nordeste

redução de 46,23 %

Sudeste

redução de 78,01 %

Sul

aumento de 26,95 %

Centro-Oeste

2002 2003

redução de 53,06 %

783.143

Brasil

323.355

0

50 mil

100 mil

150 mil

200 mil

250 mil

300 mil

redução de 58,71 %

350 mil

400 mil

450 mil

500 mil

550 mil

600 mil

650 mil

700 mil

750 mil

800 mil

Fonte: Secreataria Nacional de Vigilância sanitária do Ministério da Saúde (*) Casos notificados de janeiro a novembro de cada ano

tística), os censos demográficos decenais e as contagens de população. Através deles, podemos conhecer, por exemplo: a distribuição espacial da população: número de moradores de cada bairro, município, Estado, região ou do país, em áreas rurais e urbanas; natalidade, mortalidade e migrações: dados que indicam tendências de maior ou menor crescimento da população quando comparados aos dos censos anteriores; a distribuição da população por sexo e faixa etária: número de crianças, jovens, adultos e idosos de cada bairro, município, Estado ou região e do país; a distribuição da renda e renda dos chefes de família; escolaridade da população; a distribuição da população por tipo de moradia: número de moradores por domicílio e tipo de moradia (para uma só família ou coletiva, favela ou não); saneamento básico e coleta de lixo: número de domicílios que dispõem ou não de água tratada, esgoto e coleta de lixo. Há organismos internacionais, a ONU (Organização das Nações Unidas) por exemplo, que desenvolveram medidas que nos permitem comparar as condições de vida dos países do mundo. É o caso do IDH - Índice de Desenvolvimen-

to Humano, ou do Índice de Gini. Esse índice, que mede a concentração de renda, varia de zero a um. Zero representaria a situação ideal, em que todos os habitantes de um país tivessem exatamente a mesma renda. Um, ao contrário, seria a situação em que toda a renda de um país estivesse nas mãos de uma só pessoa, também impossível. Vemos que quanto maior o índice, maior é a concentração de renda. O relatório da ONU de 2002, baseado em dados de 1998, mostrou para o Brasil o índice 0,607, maior que o de 1997, que foi 0,591. Entre os 116 países avaliados em 1998, só havia 3 com distribuição de renda pior que a de nosso país. Utilizando cálculos semelhantes, algumas instituições formularam medidas para acompanhar as condições de vida de uma cidade apenas, como o Índice da Exclusão/ Inclusão Social do Município de São Paulo - IEX (PUC NEPSAS/ Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais/ Instituto POLIS). Esse índice é calculado a partir de 47 variáveis, entre elas: renda dos chefes de família; mortalidade infantil e juvenil; escolaridade; matrículas e déficit de vagas na rede pública; acesso a serviços públicos de água, esgoto e coleta de lixo. Os 96 distritos administrativos do município são classificados de acordo com os resultados calculados para essas variáveis, atribuindo-se valor +1 à melhor classificação e -1 à pior. Os demais são 43


classificados de acordo com a distância relativa entre o melhor e o pior valor. A partir dessa classificação, também é elaborado o Mapa da Exclusão/ Inclusão do Município de São Paulo. Além disso, existem no Brasil sistemas nacionais de informação criados para monitorarem, especificamente, as condições de saúde da população. A FUNASA - Fundação Nacional de Saúde - coordena três sistemas de informação que permitem o levantamento do perfil epidemiológico da população: ! SIM - Sistema de Informações sobre Mortalidade - o documento padrão para a entrada dos dados é a Declaração de Óbito. Através desse levantamento, podemos saber quais as principais causas de morte da população brasileira. O sistema permite que os dados sejam reunidos ou separados por Estado, município, bairro ou endereço residencial. ! SINAN - Sistema Nacional de Informações sobre Agravos Notificáveis - coleta dados sobre as doenças de notificação compulsória: cólera, coqueluche, difteria, dengue, doença de Chagas (casos agudos), doença meningocócica e outras meningites, febre amarela, febre tifóide, hanseníase, hepatites B e C, leishmaniose visceral, leptospirose, malária (em área não endêmica), peste, poliomielite, paralisia flácida aguda, raiva humana, rubéola, síndrome de rubéola congênita, sarampo, sífilis congênita, síndrome de imunodeficiência adquirida (AIDS), tétano e tuberculose. ! SINASC - Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos - coleta dados sobre os nascimentos ocorridos no SUS, com base nas Declarações de Nascimento. A partir dessas informações, é possível diminuir a mortalidade e a desnutrição infantis. Existem ainda sistemas de informações voltados para a assistência à saúde e a administração do SUS que propiciam o monitoramento da assistência básica, ambulatorial e hospitalar, da vacinação e distribuição de medicamentos. Além desses, há sistemas cujo objetivo é gerencial e financeiro, através dos quais se analisam custos e produtividade dos serviços de saúde. O conjunto de dados populacionais e epidemiológicos permite-nos compor um diag44

Mapa da exclusão/inclusão 1995

Este mapa mostra o distanciamento das condições de vida entre os distritos da cidade de São Paulo. Conforme os critérios da pesquisa, o pior lugar, por exemplo,é o Jardim Ângela, na zona Sul paulistana, com 1; o melhor, Moema com +1 e o padrão desejável (0) está na Vila Jaguara. Em 2002, 76 dos 96 distritos da Capital foram considerados excluídos. Fonte: NEPSAS da PUC-SP, INPE e Instituto Polis - com apoio da FAPESP

nóstico da situação da saúde no país que orienta o planejamento das políticas públicas de saúde. É preciso notar que, principalmente em áreas rurais e pequenas cidades, muitas dessas informações se perdem, pois a subnotificação é alta. Infelizmente, é a partir desses dados que se planeja o controle de epidemias e a melhoria das condições de vida da população. Utilizando essas informações podemos saber, por exemplo, que a mortalidade infantil no Brasil é bastante desigual. Os dados do Censo de 2.000 informam que nas regiões que têm maior desenvolvimento econômico, como o Sudeste e o Sul, a mortalidade infantil é mais baixa (em torno de 20 óbitos por 1.000 nascidos vivos), no Norte e no Nordeste permanece, respectivamente, por volta de 30 e 45 óbitos por 1.000 nascidos vivos. No Centro-Oeste, a situação é intermediária (21 óbitos por 1.000 nascidos vivos). Em comparação com países desenvolvidos, onde atingem menos de 10 óbitos por 1.000 nascidos vivos, essas taxas são bastante elevadas. As políticas públicas devem, portanto, se orientar no sentido de garantir que um maior número de gestan-


social na cidade de São Paulo 2002

-1.00, -0.75 -0.75, -0.50 -0.50, -0.25 -0.25, 0.00 0.00, +0.25 +0.25,+0.50 +0.50,+0.75 +0.75, 1.00

tes tenha acesso ao acompanhamento pré-natal, com consultas médicas, exames e assistência ao parto e ao recém-nascido. Além disso, é preciso assistir também o desenvolvimento dos bebês, estimulando o aleitamento materno e oferecendo vacinação na idade correta. Mas sabemos que isso ainda não é o suficiente. A própria Lei Orgânica da Saúde (lei n° 8.080, de 19 de setembro de 1990), que regulamenta o Sistema Único de Saúde - SUS, coloca que a saúde tem como fatores determinantes e condicionantes, entre outros, a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a

educação, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais.

Monitorar as condições de saúde é dever do Poder Público e da população O monitoramento das condições de saúde não é responsabilidade apenas do Poder Público. Embora haja aspectos técnicos desse monitoramento que dependem de especialistas, todos os cidadãos devem participar do controle, da fiscalização e do acompanhamento das condições de saúde. Os Conselhos de Saúde, por exemplo, são instâncias oficiais de participação. Em regiões em que foi implantado o Programa de Saúde da Família - PSF -, os Agentes Comunitários de Saúde acompanham mais de perto a saúde da população, através de visitas domiciliares. Eles auxiliam na promoção da saúde e em ações de prevenção de doenças. Quando se pensa em recuperação da saúde, é importante que não se espere que o problema se agrave para procurar o médico. O Agente de Saúde tem uma ação na melhoria do acesso aos serviços de saúde da população atendida, de modo a evitar que isso ocorra. Mesmo nas regiões em que não há PSF, muitas ações podem ser realizadas por todos. As comunidades e suas lideranças têm a possibilidade de organizar projetos visando aumentar a sua qualidade de vida e saúde. Um plano geral para os projetos contém: 1. um problema a enfrentar, especificado e justificado de forma compartilhada pelos cidadãos que propõem o projeto; 2. um cardápio de ações compatíveis com o problema a enfrentar e as características da comunidade; 3. mecanismos de avaliação das ações realizadas, para se verificarem acertos e erros, de modo a aprimorar a ação comunitária. Na página seguinte você pode acompanhar dois exemplos. Há, contudo, inúmeras outras ações que podem ter impacto para a melhoria das condições de saúde da população. A simples divulgação de informações é fundamental para a promoção da saúde e prevenção de doenças. 45


Projeto I - Introdução de Coleta Seletiva de Materiais Recicláveis

Projeto II - Participação organizada no Dia D da Dengue

Justificativa - O lixo produzido nas grandes cidades, com a presença de materiais não degradáveis, é um sério problema que afeta a saúde e o meio ambiente. Materiais não degradáveis acumulados em córregos ajudam a provocar enchentes e, além disso, o lixo pode atrair ratos, que são transmissores de várias doenças. A reciclagem de plástico, papel, vidro e metais minimiza o problema do acúmulo de lixo, do esgotamento dos recursos naturais, além de gerar renda para muitos. As ações possíveis:

Justificativa - Baseando-se em experiências bem sucedidas, promovidas pela Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo, o Dia D da Dengue foi assumido pelo Ministério da Saúde e estendido para outras regiões do Brasil. No dia escolhido, geralmente em finais de semana, nas regiões com maior ocorrência de casos de dengue, concentram-se várias ações que visam controlar a proliferação do mosquito Aedes Aegypit, transmissor da doença. Nesse dia, são distribuídos folhetos explicativos para conscientizar a população sobre a dengue, são realizadas limpezas de córregos, vistoria de locais onde há material propício para a proliferação do mosquito e sua retirada. Algumas vezes, as escolas públicas da região permanecem abertas para a projeção de vídeos educativos e realização de aulas de profissionais da vigilância epidemiológica. As ações possíveis:

Localizar e entrar em contato com Cooperativas de Reciclagem próximas a sua residência, verificando a possibilidade de retirada do material reciclável na rua em que você mora. Muitas delas oferecem ajuda para sensibilização da população e planejamento do descarte de materiais. Convidar os vizinhos que você conhece melhor para um bate papo sobre a possibilidade de introdução da coleta seletiva em sua rua.

Entrar em contato com a prefeitura de sua cidade ou subprefeitura da sua região para conhecer a programação dos dias D da dengue.

Com a ajuda do grupo, iniciar um trabalho de sensibilização dos demais moradores, por exemplo, redigindo uma carta para ser colocada nas caixas de correspondência ou através do contato pessoal, informando quais os materiais que podem ser reciclados e como devem ser descartados.

Solicitar à prefeitura ou subprefeitura faixas e material educativo para que sejam previamente distribuídos, visando maior adesão da população.

Verificar quais os dias da semana sugeridos para retirada do material. Escolhido o dia, entrar em contato com a Cooperativa para acerto do início da coleta. Com a ajuda do grupo, avisar para os demais moradores o dia do início da retirada do material reciclável, incentivando a adesão de todos. Para avaliação é importante a tomada de dados sobre o lixo, antes de se iniciar o projeto. Fotos de locais usados para depósito de resíduos e entrevistas com moradores podem ser úteis.

Para saber mais ! ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE MEDICINA. SUS: O que você precisa saber sobre o Sistema Único de Saúde. São Paulo: Editora Atheneu, 2002.

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! www.datasus.gov.br ! www.seade.gov.br ! www.fsp.usp.br ! www.prefeitura.sp.gov.br

Entrar em contato com lideranças da região, igrejas, escolas particulares e associações sugerindo sua participação no evento. No dia D, podem ser realizadas apresentações de crianças da região, teatro de marionetes etc. Apenas a maior divulgação por igrejas e outras entidades da região já pode ser de grande ajuda para sensibilização da população. Informar a prefeitura ou subprefeitura sobre a participação da comunidade e eventos programados. Para avaliação da eficiência do Projeto, a comunidade pode acompanhar os números de doentes de dengue na região. Divulgar esses números serve não apenas para avaliar, como é um incentivo para a participação dos cidadãos.


Fundação para o Desenvolvimento da Educação - FDE Diretoria de Projetos Especiais Gerência de Projetos Pedagógicos Devanil Tozzi

Equipe Técnica Responsável Izis Cerqueira Cesar Lizete Freire Onesti Marilena Bocalini

Equipe de Edição Robinson Sasaki (Edição) Elza Sano (Preparação de textos e revisão) Rafael Keniti (Fotografia) Adilson Tadeu Araújo (Projeto gráfico e edição de arte) Vicente Mendonça (Capa e ilustrações)

Fotolito e Impressão ........... Tiragem: 5.000 exemplares

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