Fev2016 "Desonra"

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fevereiro de 2016 Desonra

fevereiro de 2016 Desonra


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Ao Leitor Neste mês, escolhemos uma pessoa com muita propriedade para falar do nosso assunto favorito: em meio aos milhares de autores já lidos, o escritor e crítico literário Sérgio Rodrigues escolheu um de seus preferidos para enviar aos associados: J. M. Coetzee. Com essa escolha, a TAG ganha mais uma nacionalidade entre os autores recomendados ao clube. Desonra, ambientado em uma África do Sul pós-apartheid, não é, de um modo convencional, um livro sobre racismo. Entretanto, não há como fugir de um contexto tão forte de desigualdade e opressão quando se fala de literatura sul-africana. Em janeiro, a violência era explícita, com o matador de aluguel de Rubem Fonseca. Neste mês, a violência é interna, psicológica, com os dilemas de um professor que cai em desgraça e vai viver no campo.



A INDICAÇÃO DO MÊS

ECOS DA LEITURA

A INDICAÇÃO DE MARÇO

04 07 09 18 20 22 24 28

O curador: Sérgio Rodrigues Lindo de morrer, lindo de viver O livro indicado: Desonra

Banquete Nobel A Cultura na África do Sul Literatura Sul-Africana A África Literária

Susan Blackmore


4 Indicação do Mês

O curador: Sérgio Rodrigues O correto é falar “não sabia que ela já tinha chego” ou “não sabia que ela já tinha chegado”? Os dois podem ser utilizados? Esse é o tipo de dúvida que responde o escritor Sérgio Rodrigues em seu blog Sobre Palavras, que obteve seis milhões e novecentos mil acessos durante os cinco anos em que esteve hospedado no site da Revista Veja. Há quinze anos, Sérgio dedica-se a escrever sobre aspectos históricos, culturais e gramaticais da língua portuguesa. Desde setembro de 2015, publica periodicamente seus textos irreverentes, como o que finaliza esta seção, em seu novo blog, intitulado Melhor Dizendo, agora sob domínio próprio (por sinal, o certo é “chegado”). Nascido em Muriaé, Minas Gerais, em 1962, Sérgio Ferreira Rodrigues Pereira mudou-se com dezoito anos para o Rio de Janeiro, onde vive até hoje. Em 1984, começou a carreira jornalística como repórter da Folha de São Paulo, no Rio. Depois, passou a trabalhar no Jornal do Brasil no setor de esportes, e cobriu a Copa do Mundo de 1986, no México. Em 1991, foi convidado a assumir o cargo de editor da Veja Rio. Quatro anos mais tarde, foi para a chefia da redação da TV Globo e, em 2000, tornou-se editor do segundo caderno do jornal O Globo. No mesmo ano, iniciou a carreira de escritor, com o lançamento do livro de contos O Homem que Matou o Escritor. Tinha, à época, trinta e oito anos de idade. Em 2006, criou o blog TodoProsa, maior referência literária na web brasileira, que em 2010 também passou a ser hospedado no site da Revista Veja. Suas críticas literárias passaram a ser respeitadas em todos os cantos do Brasil - nós, da TAG, frequentemente recorremos às colunas de Sérgio Rodrigues quando buscamos mais informações sobre algum autor.


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A INDICAÇÃO DO MÊS

Sou só um jornalista que, por sorte, pode tratar do assunto que considera mais apaixonante entre todos, a literatura. –Sérgio Rodrigues

Foto: Bel Pedrosa


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Desde 2000, Sérgio, que já foi tanto mediador quanto autor convidado da Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP), publicou outros seis títulos, com destaque para Elza, a Garota (2009), Sobreescritos (2010) e seu mais recente, intitulado O Drible (2013). Muito elogiado pela crítica, O Drible traz a história de Murilo Filho, um famoso cronista esportivo à beira da morte, que desfia suas memórias da época de ouro do futebol enquanto tenta se reaproximar de Neto, seu único filho, com quem rompeu relações há mais de vinte anos. Entre os craques do passado que revivem em suas conversas está o fascinante Peralvo, talentoso jogador que Murilo defende ter sido melhor que Pelé. Em meio às histórias futebolísticas do pai, Neto tenta compreender melhor sua vida quando criança e o que levou sua mãe ao suicídio.

O livro não é sobre futebol, mas, de uma maneira inédita na literatura brasileira, o futebol é personagem. Grande atuação do Sérgio Rodrigues. –Luis Fernando Verissimo

Mesclando a história de Neto e Murilo com personagens reais, como o escritor Nelson Rodrigues e o comentarista esportivo Mario Filho, Sérgio Rodrigues cria um ambiente absolutamente verossímil neste drama de família que, mais do que uma história sobre futebol, é “uma homenagem ao esporte”, nas palavras do próprio autor. Gregório Duvivier, curador da TAG em setembro de 2015, também havia incluído O Drible entre seus livros favoritos. Vencedor do Grande Prêmio Portugal Telecom de 2014, o livro foi traduzido para o inglês, o francês, o espanhol e o dinamarquês. Na França, o burburinho em torno da obra rendeu ao autor um convite do jornal Le Monde para escrever um folhetim ambientado no mundo do futebol. Os vinte e quatro capítulos foram publicados diariamente no jornal durante a Copa de 2014 com o nome de Jules Rimet, meu amor. Em 2011, Sérgio Rodrigues ganhou o Prêmio Cultura do Governo do Estado do Rio de Janeiro pelo conjunto de sua obra.


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Lindo de morrer, lindo de viver Texto publicado por Sérgio Rodrigues em seu blog Melhor Dizendo

– Querido, esse sapatinho de bebê não é lindo de viver? Pensei em comprar pro filhinho da Lívia. – Concordo: lindo de morrer. – De morrer, não. De viver! – Lindo de viver não existe, meu amor. – Ih, lá vem você! – Eu me recuso a usar eufemismo de hipérbole. Ou é eufemismo ou é hipérbole. A pessoa tem que escolher. – Não estou nem aí pra sua cartilha de português, sabichão. – Entendo. Você prefere a cartilha da Hebe Camargo. – Pensa um pouco: você acha que eu ia dar um sapatinho lindo de morrer para um bebê, uma pessoa que está começando a vida? Que tipo de mensagem eu estaria passando, hein? – Está vendo? Agora você está morrendo de raiva de mim. – Estou mesmo. Odeio esse seu lado pedante. – E por que não diz que está vivendo de raiva? – Não enche. – Sabe por quê? Porque não faz o menor sentido, querida. Porque a ideia da hipérbole é justamente criar um absurdo que intensifique a mensagem, que dê colorido à expressão. Colorido às vezes até literal: azul de fome, verde de ciúme e tal. Se a ideia deixa de ser absurda para ser razoável, fofinha, a hipérbole perde o sentido. Quer dizer: esse sapatinho é tão lindo que você poderia morrer por ele. – Não acho tão lindo assim. Não morreria por ele, nem perto disso. Vamos embora. – Ei, não vai comprar? – Desisti. Seu papo matou a beleza dele. – Tudo bem. – Às vezes você é tão chato que eu tenho vontade de cortar os pulsos, sabia? – Parabéns, querida! Essa é a ideia!


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J. M. Coetzee


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O livro indicado: Desonra “Para um homem de sua idade, cinquenta e dois, divorciado, ele tinha, em sua opinião, resolvido muito bem o problema de sexo.” É dessa maneira pouco ortodoxa e sem rodeios que inicia uma das mais impactantes obras lançadas nos últimos anos, responsável por alçar o sul-africano J. M. Coetzee à categoria dos maiores escritores vivos – o que lhe rendeu o Prêmio Nobel de Literatura em 2003 e a medalha de ouro da Ordem de Mapungubwe, mais alta distinção que o governo da África do Sul outorga a seus cidadãos, devido à “excepcional contribuição no campo da literatura e por levar a África do Sul ao cenário mundial”. À primeira vista uma história simples, Desonra envolve o leitor com seu enredo rápido; entretanto, aos poucos vai apresentando aspectos que levaram Coetzee à lista de preferidos dos críticos ao redor do mundo, como o racismo, o peso da história africana e até o machismo.

Coetzee construiu uma obra ficcional que poderia ser talvez sintetizada como uma densa investigação ética sobre o homem contemporâneo. –Cristóvão Tezza, escritor brasileiro

Nascido em 9 de Fevereiro de 1940 na Cidade do Cabo, na África do Sul, em uma família de origem africânder, John Maxwell Coetzee (pronuncia-se Coutzía) teve o interesse por línguas despertado desde cedo. Em casa, falava o inglês com sua mãe, professora de escola primária, e com seu pai, advogado que serviu na Segunda Guerra Mundial junto ao exército de seu país, enquanto falava africâner com outros parentes – mais tarde, aprenderia o holandês e o alemão. Sua família mudou-se


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de cidade algumas vezes porque seu pai foi demitido do cargo governamental que exercia, por discordar de políticas do apartheid, tendo que buscar emprego em outros lugares. Em 1962, após concluir duas graduações na Universidade da Cidade do Cabo, uma em Língua Inglesa e outra em Matemática, Coetzee mudou-se para a Inglaterra, trabalhando como programador de computadores enquanto escrevia uma tese sobre o romancista britânico Ford Madox Ford. Em 1963, casou-se com Philippa Jubber, com quem teve dois filhos: Nicolas, que faleceu em um acidente em 1989, e Gisela. Em 1980, divorciou-se de Philippa, que veio a falecer em 1991. Três anos após mudar-se para a Inglaterra, Coetzee decidiu viajar aos Estados Unidos, onde ingressou na Universidade do Texas e obteve seu doutorado em Inglês, Linguística e Línguas Germânicas. Sua tese de conclusão dissecava o início da carreira do escritor Samuel Beckett. Ao voltar à África do Sul, em 1972, tornou-se professor de Literatura na Universidade da Cidade do Cabo, cargo em que permaneceu até 2000 – durante esse período, também lecionou em diversas universidades nos Estados Unidos, como Harvard, Stanford e Universidade de Chicago. Apesar da expressa paixão e profundo interesse pelos livros, sua carreira literária iniciou mais tarde que a da maior parte dos escritores: somente com vinte e nove anos começou a escrever e, em 1974, aos trinta e quatro, publicou seu primeiro livro, intitulado Dusklands. Já com seu segundo livro, In The Heart of the Country (1977), Coetzee passou a chamar a atenção da crítica, vencendo o CNA, prêmio literário mais importante da África do Sul à época, também publicado na Inglaterra e nos Estados Unidos. O lançamento de À Espera dos Bárbaros (1980), retratando a brutalidade militar colonial, foi muito elogiado internacionalmente, mas a reputação de Coetzee foi confirmada mesmo a partir de Vida e Época de Michael K (1983), obra que se sagrou vencedora do Booker Prize, prêmio literário mais conceituado para livros de língua inglesa. Atendo-se à sua natureza reclusa, Coetzee não viajou a Londres para receber a premiação.


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Por crescer nos anos 40 e 50, Coetzee viu em primeira mão as injustiças do apartheid, horrorizado com a segregação. Em Vida e Época de Michael K, ambientada na Cidade do Cabo durante uma época de guerra racial, o autor compõe um feroz retrato da sociedade sul-africana, a partir da história de um personagem descrito como negro, pobre, feio e sem ninguém no mundo. A partir daí, sua produção literária deslanchou. Foe (1986), A Idade do Ferro (1990) e O Mestre de Petersburgo (1994), em que o personagem principal é ninguém menos que Dostoievski, foram seus romances seguintes, e em 1997 publicou seu primeiro livro autobiográfico, intitulado Infância, posteriormente complementado por Juventude (2002) e Verão (2009), em uma trilogia que tem como subtítulo “Cenas da Vida na Província”.

Toda autobiografia é ficcional, toda ficção é autobiográfica. –J. M. Coetzee

Com a dedicação e autodisciplina de um monge, o autor dedica pelo menos a manhã para escrever, sete dias por semana. Não bebe, fuma ou come carne, e ainda pedala longas distâncias para manter sua boa forma física. Apesar das mais variadas histórias e enredos, em todos os seus livros é notório o desconforto provocado no leitor, que é levado a compartilhar o sofrimento dos protagonistas em seu afã de estabelecer relações interpessoais, e pelo sentimento de impotência diante de um mundo ao qual não pertencem. Há quem diga que isso é um reflexo da própria personalidade de Coetzee, tido como esquisitão e misantropo. Um colega que trabalhou com ele por mais de uma década diz que o viu rir apenas uma vez, enquanto outro atesta ter participado de vários jantares em que Coetzee não proferiu uma única palavra. Em 1999, lançou seu livro mais aclamado pelos críticos e pelo grande público: Desonra, considerado um dos cem melhores livros já escritos em língua inglesa pelo jornal britânico The Guardian. Indicado por Sérgio Rodrigues à


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TAG, Desonra tornou Coetzee o primeiro autor da história a ganhar duas vezes o Booker Prize (posteriormente, com Verão, Coetzee ainda concorreu a um terceiro prêmio, chegando à fase final do concurso). David Lurie, professor de Literatura na Universidade da Cidade do Cabo – assim como Coetzee no momento em que redigiu a obra –, é o protagonista da história, e desde a primeira página temos a certeza de que, na verdade, ele não “resolveu o problema de sexo” de maneira alguma. Há mais de um ano encontra-se com uma prostituta semanalmente, e isso é o mais perto que chega de uma relação amorosa. Após um incidente que o faz afastar-se da prostituta, Lurie tem um caso forçado com uma aluna, pelo que é acusado e julgado pela universidade. Apesar de tudo, Lurie está de consciência limpa, e decide por não se defender perante o tribunal, aceitando sua demissão. Desempregado, detestado pelos colegas, viaja à fazenda da filha Lucy para ajudá-la nas tarefas domésticas, com a esperança de encontrar tempo para escrever uma ópera sobre Lord Byron, poeta britânico em quem é especializado. Na figura da filha, J. M. Coetzee ironiza os pensamentos machistas de Lurie, e apresenta uma realidade pós-apartheid a que o professor da cidade grande não estava acostumado: conflitos raciais, perigo constante e violência.

Ele fala italiano, fala francês, mas italiano e francês de nada lhe valem na África negra. –Trecho retirado do livro

Extremamente envolvente, Desonra não é um livro sobre as desigualdades sociais africanas – Coetzee utiliza-se disso apenas como pano de fundo para uma história muito bem tecida, com cenas fortes e personagens marcantes. Muitos leitores perguntam-se por que o título não é Desgraça, visto que o original é Disgrace. Sérgio Rodrigues explica que, no entanto, apesar de Lurie “cair em desgraça”, a palavra “desonra” é mais apropriada, visto que uma das acepções para “desgraça” significa “azar, infortúnio”, e essa falta de sorte aleatória não tem nada a ver com o que ocorre


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a David Lurie. Em 2008, a obra ganhou uma adaptação cinematográfica, com John Malkovitch no papel de Lurie.

Desonra explora ao máximo O que significa ser humano, e está na linha de frente da literatura mundial. –Sunday Telegraph

Desde 2002, J. M. Coetzee vive com sua companheira Dorothy em Adelaide, na Austrália, onde possui um cargo honorário na universidade local. Em 2003, foi o segundo sulafricano, depois de Nadine Gordimer, a receber o Prêmio Nobel de Literatura, considerado pelo Comitê Sueco “um autor que retrata de inúmeras formas o surpreendente envolvimento de quem está à margem”. Foi ressaltada, ainda, sua habilidade em descrever a sociedade sul-africana pós-apartheid. Ao receber o prêmio, Coetzee surpreendeu: em vez de proferir um discurso protocolar, trouxe um relato ficcional sobre Daniel Defoe, autor de Robinson Crusoé. No conto de Coetzee, em sua ilha o personagem vivia uma vida tranquila, silenciosa, e ao voltar à Europa sente um desconforto, um “excesso de fala no mundo”. Como disse o escritor Cristóvão Tezza, “a citação dá uma medida do amor pelo silêncio desse autor que raramente concede entrevistas e, em suas aparições públicas, jamais fala de si mesmo: prefere ler uma peça de ficção”.

A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer. –Graciliano Ramos

E assim é John Maxwell Coetzee, um homem que não desperdiça palavras. Extremamente rígido com sua própria produção literária, J. M. Coetzee revelou ter escrito quatorze versões de Desonra até encontrar o que queria. Conforme apresentamos na abertura desta seção, o livro é impactante desde a frase inicial, e permanece assim até a última palavra, preciso como os cálculos matemáticos que Coetzee realizava, quando jovem, na universidade.


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Entrevista: Sérgio Rodrigues O que você diria ao nosso associado, que se encontra agora com Desonra em mãos, prestes a lê-lo? Diria que ele tem nas mãos um dos maiores romances do século 21. Essa posição, se não é exatamente uma unanimidade na crítica internacional, chega tão perto disso quanto possível. Desonra não é um romance de entretenimento. Deixa-se ler com facilidade, nada tem de difícil na superfície, mas engana. É um livro estranho, incômodo, que fica ecoando por muito tempo na cabeça do leitor. Quais são, para você, as maiores qualidades da obra e do autor? Coetzee é o maior investigador de dilemas éticos da literatura contemporânea. Mantém um olhar firme, implacável, quase frio, sobre cenas e situações diante das quais a maioria dos escritores desvia os olhos. Ao mesmo tempo é um escritor muito inteligente e muito sutil, que trata da violência sem jamais ser apelativo e busca o sentido humano - embora isso nada tenha de redentor, pelo contrário - por trás das maiores atrocidades. Desonra narra o processo de decadência e aniquilação de um professor universitário na África do Sul pós-apartheid. Esse homem orgulhoso e meio antiquado se vê de repente esmagado entre duas engrenagens históricas imensas: a ascensão do ambiente politicamente correto na universidade e a confusão sociopolítica que se instala em seu país com o fim do regime racista. A frase inicial do livro é emblemática, seca, sem rodeios: “Para um homem de sua idade, cinquenta e dois, divorciado, ele tinha, em sua opinião, resolvido muito bem o problema de sexo”. Acha que esse início ilustra o estilo de escrita de Coetzee, tanto em Desonra quanto em outros livros? Sim, é uma amostra perfeita. A prosa de Coetzee, na maioria de seus livros, é seca e sem enfeites. Ele usa palavras simples e construções diretas, vai logo ao ponto. Também não tem muita afinidade com o humor, ou melhor, o humor existe, mas é tão seco e ácido que quase não o percebemos. A complexidade da sua literatura se instala abaixo da superfície do texto. Está sobretudo na dimensão ética da história, a das escolhas que um ser humano faz - ou se recusar a fazer - diante das sinucas que o mundo lhe aplica.


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O que você achou do personagem David Lurie? Já enviamos aos associados o livro Solar, de Ian McEwan. Você não acha que, em certos aspectos, Lurie lembra Michael Beard, personagem central de Solar? Intelectuais fracassados, com pouco apreço por relacionamentos e que, ao longo do livro, envolvem-se com alguma tragédia. Há semelhanças, sem dúvida. Ambos são representantes de uma época que vai se extinguindo, homens defasados em relação aos novos desafios que a vida exige deles. Mas há diferenças enormes também. O tom de McEwan é farsesco e transforma Michael Beard, um sujeito brilhante mas patético, de caráter fraco, num personagem abertamente tragicômico. Percebemos o escritor rindo da sua criação, um riso amargo mas rasgado. Coetzee não está para gargalhadas. Faz de seu David Lurie um trágico clássico, que paga um preço alto justamente por seu caráter inflexível demais. Uma obra-prima.

Foto: Bel Pedrosa


ECOS DA LEITURA


Ecos da Leitura 17

Anualmente, os autores vencedores do Prêmio Nobel de Literatura são convidados a participar de um banquete, onde devem proferir algumas palavras. A breve fala de J. M. Coetzee fugiu um pouco do esperado, e a trouxemos na íntegra para os associados. Desonra tem como plano de fundo o contexto pós-apartheid na África do Sul. Para que o leitor já inicie o livro com uma noção um pouco melhor sobre o país em que se passa a história, reunimos alguns fatos sobre A Cultura Sul-Africana. Nos últimos anos, a literatura tem ganhado força no continente africano, com diversos autores premiados ao redor do mundo. Trouxemos um pouco da história da Literatura na África do Sul e escritores ao redor da África Literária. Equipe TAG contato@taglivros.com.br

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18 Ecos da Leitura

Banquete Nobel O Banquete Nobel é um jantar anual, realizado todo dia 10 de dezembro, oferecido dentro da Prefeitura de Estocolmo, depois da cerimônia de entrega do Prêmio Nobel. Vestindo roupa de gala, os premiados de cada ano são convidados a proferirem breves palavras. J. M. Coetzee, em 2003, falou com um bom-humor que não lhe é característico. Trouxemos, na íntegra, o texto que ele utilizou, a fim de trazer um sorriso também à face de nossos associados.


Ecos da Leitura 19

No outro dia, de repente, enquanto estávamos conversando sobre algo completamente diferente, minha companheira Dorothy irrompeu: “Por outro lado,” ela disse, “por outro lado, quão orgulhosa estaria sua mãe! Que pena que ela não está viva! E seu pai também! Quão orgulhosos eles estariam de você!” “Ainda mais orgulhosos do que do meu filho, o doutor?”, eu disse. “Ainda mais orgulhosos do que do meu filho, o professor?” “Ainda mais orgulhosos.” “Se minha mãe estivesse viva”, eu disse, “ela estaria com noventa e nove anos e meio. Ela provavelmente teria demência senil. Ela nem saberia o que estava se passando ao seu redor.” Mas é claro que eu perdi o ponto. Dorothy estava certa. Minha mãe estaria explodindo de orgulho. Meu filho, o vencedor do Prêmio Nobel. E para quem, de qualquer maneira, nós fazemos as coisas que nos levam ao Nobel que não para nossas mães? “Mamãe, Mamãe, eu ganhei um prêmio!” “Isso é ótimo, querido. Agora coma suas cenouras antes que elas esfriem.” Por que devem nossas mães estar com noventa e nove e há tempos no túmulo antes que nós consigamos vir correndo para casa com um prêmio que compensaria todo o problema que nós fomos para elas? Para Alfred Nobel, cento e sete anos no túmulo, e para a Fundação que tão fielmente administra seu testamento e que criou essa magnífica noite para nós, minha gratidão. Para meus pais, quanto sinto que vocês não possam estar aqui. Obrigado. Tradução livre


20 Ecos da Leitura

A Cultura Sul-Africana

Devido a uma certa polaridade do mercado literário, estamos acostumados a ler histórias ambientadas principalmente nos Estados Unidos, Reino Unido ou Brasil. Então, quando nos deparamos com um livro sul-africano, sentimos uma leve estranheza. Para complementar a leitura de J. M. Coetzee, buscamos alguns pontos curiosos sobre a África do Sul.

História

A história da África do Sul é caracterizada por violência política e racial, conflitos territoriais, guerras de conquista e rivalidade dentro das próprias etnias. Os povos aborígenes Khoi e San viveram na região por milênios, mas a maior parte da população atual tem uma recente história de imigração. Os africanos negros, também chamados de Bantu, são descendentes das pessoas que migraram do centro do continente africano há cerca de dois mil anos. Os africanos brancos descendem especialmente da Holanda, mas também de outras regiões da Europa como Alemanha, França e Inglaterra. Os chamados “mistos”, como foram oficialmente classificados, são filhos da mistura desses povos, bem como de escravos importados de Madagascar, do leste da África e de colônias holandesas. Além disso, há na África do Sul uma grande população indiana, influente especialmente no leste do país – Mahatma Ghandi viveu na região por mais de vinte anos.


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Língua

A África do Sul possui onze línguas nacionais: inglês, africâner, zulu, xhosa, sotho, pedi, tswana, venda, siswati, tsonga e ndebele. A maior parte da população é fluente em africâner e inglês, o que acarretou um aumento muito grande da literatura apenas nessas duas línguas. J. M. Coetzee tem sido ativo tradutor da literatura africâner para o inglês, buscando popularizá-la. Segundo Fred Pfeil, crítico literário, Coetzee “está na linha de frente do movimento anti-apartheid”, usando como ferramenta a literatura. O africâner surgiu na região do Cabo da Boa Esperança, como resultado da interação entre os colonos europeus, a população africana local e a força de trabalho asiática trazida para a região pela Companhia Holandesa das Índias Orientais. A palavra apartheid significa, em africâner, “separação”.

Música e Hino A canção Nkosi Sikelel’ iAfrika (Deus Abençoe a África, em xhosa) foi criada em 1897 por Enoch Sontonga, e durante o apartheid tornou-se um símbolo do movimento antiapartheid – o que a levou a ser banida pelo governo sulafricano. Quando Nelson Mandela assumiu a presidência, em 1994, ele tornou Nkosi Sikelel’ iAfrika oficial, mas declarou que tanto esse quanto o anterior, Die Stem van Suid-Afrika (O Chamado da África do Sul, em africâner) seriam os hinos nacionais. A TAG recomenda que os associados assistam no YouTube à interpretação do hino pela grande cantora sul-africana Miriam Makeba (também conhecida como Mama África), com participação do grupo Ladysmith Black Mambazo e do trompetista Hugh Masekela, em uma turnê que o cantor americano Paul Simon realizou contra o apartheid em 1985.


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A Literatura na África do Sul Ao receber um prêmio em Jerusalém, em 1987, J. M. Coetzee proferiu fortes críticas à África do Sul. O escritor destacou as limitações da arte dentro da sociedade, alegando que sua estrutura “resultou em relações deformadas e atrofiadas entre os seres humanos e em uma vida interior deformada e atrofiada”.

A literatura sul-africana é uma literatura presa. Não é completamente humana. É exatamente o tipo de literatura que você esperaria que as pessoas escrevessem da prisão. –J. M. Coetzee

Entre as principais características da literatura sul-africana, identificada rapidamente por quem se interessar por conhecê-la mais a fundo, está a fragmentação. Um dos legados mais tristes e duradouros do apartheid é que ninguém – branco, negro ou “misto” – se sente um legítimo sul-africano. A língua que mais se aproxima de ter criado uma literatura nacional é a africâner, com o desenvolvimento de uma identidade mais forte – existem críticos especializados em literatura africâner, revistas literárias, professores, etc. Os livros escritos em língua inglesa, por sua vez, são muitas vezes tratados como uma extensão da literatura britânica, não sendo vistos como parte de uma criação literária autônoma da África do Sul. Apenas no século XX começou a ganhar corpo a literatura negra na África do Sul. O primeiro romance publicado por um negro foi Chaka, escrito por Thomas Mofolo em 1910, mas lançado apenas em 1925, em que o


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Nadine Gordimer e Nelson Mandela

autor reinventa o lendário Chaka, rei zulu. Outra obra de destaque, da mesma época, é Mhudi, escrita em 1920 e publicada em 1930 por Solomon Plaatje, trazendo a história do povo Tswana. – ambas as obras foram traduzidos para o inglês, e podem ser adquiridas pela internet. A literatura feminina nas línguas africanas ainda é muito limitada, principalmente devido à forte influência do patriarcalismo – entretanto, muito mudou na última década, e a expectativa é de que mais vozes femininas emerjam nos próximos anos. Mesmo assim, com todos os inegáveis problemas sociais que o país enfrentou nas últimas décadas e com a dificuldade de formar uma identidade, a literatura vem assumindo um novo papel cultural. O poeta Fernando Pessoa, que estudou na cidade de Durban, na costa do Oceano Índico, costumava dizer que sua poesia tinha uma veia sul-africana. Hoje, a África do Sul já apresenta dois vencedores do Prêmio Nobel (enquanto o Brasil, infelizmente, não possui nenhum): além do autor enviado neste mês, também recebeu a premiação Nadine Gordimer, falecida em 2014.


24 Ecos da Leitura

A África Literária 1

Além da África do Sul, com dois recentes vencedores do Prêmio Nobel, a literatura africana vem obtendo destaque ao redor do mundo. Reunimos aqui alguns escritores internacionalmente consagrados para que você possa adicionálos à seção de sua biblioteca destinada a livros africanos!

Nigéria Chimamanda Ngozi Adichie 1 Nascida em 1977, na cidade de Enugu, a jovem autora vem despontando como uma das escritoras mais lidas da África, com obras traduzidas para mais de trinta línguas. Nos últimos anos, obteve amplo reconhecimento ao receber uma homenagem da cantora americana Beyoncé e ao ser elogiada por Lupita Nyong’o (Doze Anos de Escravidão). Seus livros de maior sucesso são Hibisco Roxo (2003) e Meio Sol Amarelo (2006). Sua última publicação foi Sejamos Todos Feministas (2014). Entramos em contato com a assessora de Chimamanda para convidá-la a ser nossa curadora, mas infelizmente ela estava com muitos compromissos no momento e não pôde participar. Wole Soyinka 2 O dramaturgo nigeriano Wole Soyinka, nascido em 1934, participou ativamente da história política do seu país. Em 1967, durante a Guerra Civil, foi preso pelo governo federal e mantido em confinamento solitário na prisão por suas tentativas de mediar a paz entre os partidos em guerra. Na prisão, escreveu poemas que mais tarde viriam a ser publicados em uma coleção intitulada Poems From Prison. Vinte e dois meses mais tarde, após diversas reivindicações ao redor do mundo, foi finalmente liberado. Em 1986, foi agraciado com o Prêmio Nobel de Literatura, o primeiro do continente africano.

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Angola Pepetela 3 Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos, conhecido pelo pseudônimo de Pepetela, nasceu em Benguela, no ano de 1941. Formado em Sociologia, sua obra retrata a história contemporânea de Angola, com críticas aos problemas enfrentados pela sociedade angolana desde a guerra com os portugueses pela independência do país, entre 1961 e 1974. Em 1997, Pepetela recebeu o Prêmio Camões, mais prestigioso prêmio literário para obras de língua portuguesa. Seus livros de maior sucesso são Mayombe (1980) e O Planalto e a Estepe (2009). Egito Naguib Mahfouz 4 Mahfouz nasceu no Cairo em 1911 e começou a escrever aos dezessete anos. É autor de mais de trinta romances, além de quatorze coletâneas de contos. Em 1988, recebeu o Prêmio Nobel de Literatura. É considerado um dos primeiros escritores contemporâneos de literatura árabe a explorar, em suas obras, o existencialismo. Sua obra de maior sucesso é chamada A Trilogia do Cairo. Faleceu em 2006, aos noventa e quatro anos. Moçambique Paulina Chiziane 5 Paulina nasceu no ano de 1955 na cidade de Manjacaze, mas cresceu em Maputo, capital do país. Em casa, sua família falava as línguas chope e ronga, e a escritora foi aprender a língua portuguesa apenas mais tarde, na escola. Com o seu primeiro livro, Balada de Amor ao Vento, lançado em 1990, tornou-se a primeira mulher moçambicana a publicar um romance. O leitor brasileiro encontra nas prateleiras Niketche (2002) e As Andorinhas (2009).


26 Espaço do Leitor

Espaço do Leitor No final do ano passado, os próprios associados organizaram pelo grupo do Facebook um amigo secreto – sem nenhuma intervenção nossa! O empenho e a dedicação de cada um para que a experiência fosse divertida e reunisse pessoas de todo o país nos encheu de orgulho. O Jeferson Queiroz, nosso associado do Rio Grande do Sul, escreveu um belo texto sobre sua amiga secreta, que merece ser lido por todos!

Tag literária Amigo(a) Secreto(a) Minha amiga secreta é meu avatar, só que 25 anos mais nova. Nas primeiras mensagens já sabia o gênero embora negasse, um texto fluido, sem engasgos, no feminino não há pausa na pausa. Em comum, o gosto pela literatura. Um encontro virtual de 73 membros dos mil da Tag – Literária. Há dois meses falo com minha amiga secreta em desvantagem, ela no anonimato consciencioso se diverte com minhas tentativas frustradas de adivinhar. Entre uma mensagem e outra e alguns, “me tira uma dúvida” , “será que”, “o que tu faria se” , nos descobrimos iguais.

Às vezes penso que minha amiga secreta é meu avatar do passado. Falo com um “eu” do passado, “as dúvidas da idade”, “como será quando eu me formar”, “o que devo fazer agora”, “ sinto falta da minha família” , e aqui do futuro respondo no conforto de quem já “conhece os passos desta estrada,... seus segredos sei de cor , já conheço as pedras do caminho” como diria Chico, mesmo sem sabe-lo, e quem sabe, (?) de certeza só a impermanência, mas aquieto a mim, conforto ela.

Dou-me a certeza das escolhas bem feitas, dos caminhos escolhidos, das experiências boas ou ruins, das cabeçadas, das vezes que tive tanta certeza até dar-me conta que certeza não existe, que o que importa nem sempre é a escolha que fazemos mas fazer uma escolha. Que a inércia não era fugir da briga mas uma opção pela serenidade. Que avançar a qualquer custo sempre tem um custo muito alto pra si. Que as cobranças que fizemos são impostas por nós mesmo, e não pelos outros e que toda alegria do mundo brota pelo desejo de que todos sejam felizes, e todo sofrimento deste mundo vem de desejar apenas a própria felicidade...


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Me revisito em mim através de minha amiga secreta, não tenho imagem dela, construo-a entre pontos e vírgulas, entre exclamações e histórias, sou do sul, ela do nordeste, ou será uma pista enganosa, a vejo de óculos entre os livros, circunspecta olhando para fora, dias desses passeando pela estrada avistei uma janela e uma moça olhava perdida, acho que era ela que olhava para si no futuro através de mim, sim era ela, pois hoje acordei e tinha uma mensagem dela, “tua cidade parece ser linda, tem esta coisa do frio que aqui não tem, de onde falo é sempre quente...” de onde respondo, o tempo escolhe que roupa vestir, hoje está indeciso, talvez não saiba que é sábado, temos todas as estações bem definidas, as vezes todas em um só dia (!) em uma parede plantei uma hera que muda, destas que sobem pela parede e tomam conta da casa, toda ela, tomada por esta que se chama falsa vinha, agora suas folhas que lembram a videira estão verdes, com o tempo mudarão de cor para o amarelo, para o vinho e então cairão todas no inverno revelando galhos secos como artérias na pele da parede. Parecem sem vida, mas há vida resguardada, a espera, gosto dessas mudanças, não somos todos assim (?) alternamos humor e temperamento o tempo todo, esta inconstância nos renova e nos lembra que temos ciclos, e que temos que aceitar estas mudanças, nem boas nem ruins, apenas, mudanças, podemos estar introspectivos sem estarmos tristes, eufóricos e radiantes sem precisarmos motivo para tal... agora esta verde, vida, mas virá o amarelo saudade, o vinho sabor e os galhos secos impermanência. E novamente renascerá verde, não há novidade, esta ali me mostrando o tempo todo que podemos ressurgir e cada etapa é a etapa em si, que estamos prontos, que devemos nos aceitar em todas nossas faltas, em nossas imperfeições, em nossas qualidades e que somos espelho do outro.

Minha amiga secreta é a voz que grita lá do passado, espero que ela ouça o que digo daqui: “não tenha pressa, já cheguei, e não tem nada aqui que não tenha aí. Venha com calma, cheire as flores no caminho, brinque com seu animal de estimação, vá ao cinema no meio da tarde, faça planos só para ter que desfaze-los, entre numa estrada de terra só por curiosidade, leia mais, saia mais, ande descalça na grama, respire... e relaxe... Descobri que há dois tons de verde na falsa vinha, as folhas novas são mais claras, as mais velhas mais escuras... mas talvez seja a luz...consegues ver dai?


A INDICAÇÃO DE MARÇO

Além da emocionante viagem, o livro revela um casamento sem vida, trazendo a história de um homem que, sem ter a intenção, escapa e consegue transformar tanto a sua vida quanto a de sua mulher. Durante a história, achei maravilhoso perceber o modo como as lembranças, interpretadas por pessoas diferentes, podem ter efeitos tão poderosos. Um livro para aquecer o coração! – Susan Blackmore, cientista britânica

Finalista do Booker Prize, o livro indicado por Susan Blackmore traz a história de um senhor de sessenta e cinco anos que vive com a esposa uma confortável aposentadoria no sul da Inglaterra. Com a chegada da carta de uma amiga antiga, sua vida muda: descobre que ela está com câncer terminal e parte em uma jornada para tentar salvá-la. Abalado com a lembrança da amiga, com quem não falava havia muito tempo, o protagonista sai para postar no correio a carta que escreveu em resposta. Quanto mais caminha, mais sente a importância de sua resposta, até que, por fim, decide que irá caminhar até a cidade dela para encontrá-la pessoalmente. O ato de caminhar transformase, para o personagem, em um ato de fé. Detalhe: a distância entre as duas cidades é de mais de oitocentos quilômetros. Informações completas a respeito do curador do mês e do livro recomendado podem ser encontradas em www.taglivros.com.br ou então na revista do próximo mês. Caso já tenha lido o livro, envie e-mail para contato@taglivros.com.br para conhecer as alternativas.


Esse foi nosso kit de junho de 2015, com a indicação do educador português José Pacheco. Combinando com a temática do livro, enviamos um incensário, para perfumar a experiência de leitura dos associados! Caso queira adquirir algum kit passado disponível, basta enviar e-mail para contato@taglivros.com.br.


Não é segurando nas asas que se ajuda um pássaro a voar. O pássaro voa simplesmente porque o deixam ser pássaro. – Mia Couto

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