"Nadando no escuro" TAG Curadoria - Fevereiro/2025

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TAG CURADORIA Nadando no escuro

TAG — Experiências Literárias

Tv. São José, 455

Porto Alegre, RS (51) 3095-5200 (51) 99196-8623

contato@taglivros.com.br www.taglivros.com @taglivros

Publisher Rafaela Pechansky

Edição e textos Débora Sander, Rafaela Pechansky e Tatiana Cruz

Colaboradoras Laura Viola e Sophia Maia

Designer Bruno Miguell Mesquita

Capa TAG / Pintura: Henry Scott Tuke

Revisores Antônio Augusto e Liziane Kugland

Impressão Impressos Portão

Olá, tagger

Algumas experiências de vida nos pedem olhos bem abertos para contemplá-las. Outras são melhor apreciadas quando fechamos os olhos e serenamente nos entregamos à escuridão, aguçando a percepção e adentrando outras camadas de nós mesmos: beijar, dormir, meditar, ganhar um cafuné, orar, chorar, abraçar longamente ou dançar ao som da nossa música favorita. Com esse prelúdio, estendemos a mão para convidá-lo a mergulhar em um livro que mobiliza uma amplidão de significados para a palavra “escuridão”.

Indicado para a TAG pelo escritor brasileiro Stênio Gardel, o romance de estreia do polonês Tomasz Jedrowski é uma carta de amor em segunda pessoa que relata de forma poética, envolvente e cheia de sutilezas as recordações de um relacionamento entre dois homens na Polônia de 1980, em pleno declínio do regime comunista. Nessa trama, a crise pessoal do protagonista, que precisa manter sua identidade nas sombras, se mistura com a crise política do país, que atravessa seu próprio período de opressiva escuridão.

Como nas melhores histórias, Nadando no escuro tem o balanço perfeito entre identificação e estranhamento. A angústia e a complexidade de crescer e tornar-se quem se é em meio a um sistema que violenta quem é dissidente encontram fôlego na prosa bela e convidativa do autor, que movimenta as palavras com graça e força. No escuro onde nadam os protagonistas, há incerteza, solidão, desconhecimento e medo. Mas há também um mundo interno a desvendar, o alívio da intimidade compartilhada, a liberdade de estar consigo mesmo e a possibilidade de enxergar os vaga-lumes.

Bom mergulho!

Experiência do mês

Para você ir preparando seu coração 04 06 08 13 18 22 24 26 29 30

Para inspirar o olhar e as ideias antes, durante e após a leitura

Por que ler este livro

Bons motivos para você abrir as primeiras páginas e não parar mais

A autoria

Um retrato caprichado e uma entrevista com quem está por trás da história

A curadoria

Conheça Stênio Gardel, que escolheu seu livro do mês

Dois dedos de prosa

De onde veio, do que fala, o que é o livro que você vai ler

Da mesma estante

Livros que poderiam ser guardados na mesma prateleira do livro do mês

Universo do livro

Livros, séries, filmes que orbitam o livro do mês

Leia. Conheça. Descubra.

A experiência humana, política e social na obra da polonesa Wislawa Szymborska

Espaço da comunidade

Um espaço todo seu, para aproximar e celebrar a maior comunidade leitora do Brasil

Vem por aí

Experiência do mês

Seu livro além do livro: para ouvir, guardar, expandir, crescer.

Mimo

Nada como equilibrar uma leitura intensa e imersiva com uma bebida leve e deliciosa. Pensando nessa combinação que a gente ama, preparamos uma caixinha com esses dois elementos: um livro incrível e um par de sachês da Tea Shop. Escolhemos o sabor Sangria Tea, que pode ser degustado quente ou gelado — afinal, é verão, né? Aliás, aqui vai uma receita exclusiva que é o match perfeito com um dia de calor, para tornar o seu momento de leitura ainda mais especial.

Coquetel Sangria Tea (sem álcool)

Ingredientes:

Sachê de Sangria Tea

Suco de mirtilo

Leite de soja (espuma)

Pedaços de abacaxi

Gelo

Modo de preparo:

Infusione o sachê de Sangria Tea em 200ml de água quente por 8 minutos. Em um copo, coloque o suco de mirtilo, gelo, pedaços de abacaxi e a infusão. Mexa até ficar homogêneo. Finalize com a espuma de leite de soja.

Projeto gráfico

A pintura “The Bathers”, do artista Henry Scott Tuke, ilustra a capa desta edição de Nadando no escuro. Se não fosse datada de 1922, seria fácil pensar que a obra de arte foi feita especialmente para esta edição do livro. Afinal, a cena dialoga perfeitamente com as imagens descritas por Tomasz Jedrowski do verão idílico que os personagens de seu livro passam juntos à beira de um lago. Mas é ainda melhor, já que o pintor do quadro teve em sua biografia uma amizade com o escritor Oscar Wilde, autor que ficou conhecido pela disrupção das convenções de gênero e sexualidade na literatura de sua época, assim como o livro deste mês.

Depois de concluir a leitura, convidamos você a acompanhar o Podcast da TAG para conferir uma entrevista exclusiva e reverberar junto com a gente os sentimentos e reflexões despertados pelo livro do mês.

As memórias de Ludwik são embaladas por uma trilha sonora poderosa que é a cara dos anos 60, 70 e 80. Que tal viajar nessas músicas? A playlist do mês tem alguns artistas citados no livro, como Beatles, Blondie, David Bowie e Donna Summer, e outras preciosidades que fizeram parte da paisagem sonora daquela geração. Dá o play!

Visite o app para saber mais sobre o livro e participar da comunidade.

“Ler este livro é um pouco como observar os momentos mais íntimos de autodescoberta de alguém. É poético e terno, e arde em uma raiva silenciosa pela perseguição que a comunidade LGBTQIA+ sofreu na Polônia durante décadas e contra a qual continua lutando até hoje. É uma linda história – espero que vocês a amem tanto quanto eu.”

Dua Lipa sobre a escolha de Nadando no escuro para seu clube do livro Service95

“Nadando no escuro é cativante tanto por suas superfícies brilhantes quanto por suas terríveis profundezas. Tomasz Jedrowski é um escritor notável, atento às ramificações da história e da política, nas quais a violência de um Estado corrupto nunca pode eliminar totalmente o florescimento da beleza, da graça e da resistência.”

Justin Torres, vencedor do National Book Award em 2023

político conturbado, Ludwik acampamento agrícola. inocente, logo cede espaço escuras. Cercados pela natureza e livres das restrições apaixonam. Mas, longe daquele repressão da sociedade ultraconservadora de Varsóvia, o amor proibido — é impossível. amor até a dor de Jedrowski criou uma instigante história que explora todas as suas formas.

Por que ler este livro

Depois de experimentarem, destemidos, livres e apaixonados, um verão idílico à beira de um lago, Ludwik e Janusz retornam a uma Varsóvia marcada pela repressão política do regime comunista. Em um fluxo fascinante de acontecimentos, a narrativa conduz o leitor por um universo de memórias: a embriaguez do primeiro amor, o bálsamo do encontro com a arte, a melancolia de crescer e as diferentes formas de buscar a liberdade em meio à opressão. Uma história íntima e indissociável da coletividade, onde dilemas de amor, sexualidade, política e classe social se entrelaçam com impressionante lirismo e materialidade emocional.

NADANDO NO ESCURO
Tomasz Jedrowski
NADANDO NO ESCURO
Tomasz Jedrowski

Todos os caminhos que levaram Tomasz

Jedrowski à Polônia

Nascido na Alemanha e filho de pais poloneses, o autor de Nadando no escuro construiu uma celebração brilhante, profunda e multifacetada de seu elo com o país, atravessada por complexidades históricas e culturais

O processo de escrever um livro começa muito antes que as primeiras frases encontrem seu lugar na materialidade da página. No caso de Nadando no escuro, essas palavras vieram de longe — atravessaram fronteiras de tempo e espaço, gerações e períodos turbulentos da história, foram e voltaram de diferentes países, fluíram no imaginário de Tomasz Jedrowski em mais de um idioma até acomodarem-se com firmeza no livro que chega às suas mãos. Nascido na Alemanha e filho de pais poloneses, o autor deste mês compõe no seu romance de estreia um arranjo primoroso de experiências pessoais, memórias familiares anteriores ao seu nascimento e a história do seu território de origem, a Polônia. A obra foi lançada em 2020 e amplamente reconhecida pela crítica internacional. Ganhou o Prêmio Polari de literatura LGBTQ+, foi eleito livro do ano pelo The Guardian e pela National Public Radio e traduzido para mais de dez línguas.

Hoje com 39 anos, Tomasz passou por um processo de transição importante há mais de uma década, que seria o pontapé inicial para que o livro se tornasse, de fato, um projeto. Em 2012, ele trabalhava como advogado corporativo e vivia em Londres, mas não se identificava com a carreira que tinha escolhido.

Foi quando pediu demissão e assumiu para si o desejo que tinha de escrever, movimento que ele mesmo descreve como uma “saída do armário” criativa. Em 1981, seus pais tinham mais ou menos a mesma idade quando deixaram a Polônia em meio à crise de abastecimento, empregos e acesso à saúde que tomava o país no período crítico de declínio do regime comunista. As marcas dessa experiência de migração, é claro, fizeram parte da vida do escritor, que cresceu ouvindo histórias sobre o lugar de onde vinha sua família. Pela convivência com os avós e pelas referências culturais, mesmo criado na Alemanha, ele diz que cresceu em um microcosmo polonês. Só aos cinco anos de idade pôde conhecer a terra onde estavam suas raízes, passou a visitar a avó e a tia nas férias, frequentou acampamentos de verão e viveu sua própria dose de estranhamento com a cultura daquele país onde não conseguia se sentir totalmente pertencente. Se parte desse sentimento se devia a ter nascido na Alemanha, outra parcela tinha relação com sua sexualidade: foi na Polônia que ele escutou pela primeira vez um comentário homofóbico, ainda na infância. Ele se perguntava como teria sido sua própria vida se tivesse nascido ali, e mais ainda, como seria a vida de um homem gay na época em que seus pais saíram da Polônia.

Aos vinte e poucos anos, Tomasz morava em Nova York e encontrou uma comunidade significativa de imigrantes poloneses no Brooklyn. Foi nessa época que aconteceu seu encontro com O quarto de Giovanni, livro de James Baldwin que aproxima os dois personagens de Nadando no escuro. “Eu tinha passado recentemente pelo doloroso processo de me assumir gay para meus pais, e a exploração da vergonha por Baldwin, a descrição que ele faz de seu poder corrosivo, me tocou profundamente. Eu sentia que era o primeiro livro que eu lia de verdade, o primeiro que falou diretamente comigo. Isso me fez ver o quão perigoso é fugir do passado”, escreveu Tomasz em coluna para o LitHub.

Em seu ponto de virada, aos 27 anos, quando decidiu tornar-se escritor, o que transbordava no autor era a sensação de que precisava contar essa história — para imaginar outras vidas possíveis, para entender de onde veio, para dar corpo-palavra a uma angústia difusa, complexa e maior do que ele próprio. Para construir suas próprias impressões sobre aquele período, ele começou a visitar Varsóvia regularmente, e, depois de um ano escrevendo, mudou-se para lá. Queria se deixar contaminar pela atmosfera cotidiana do local e pelas marcas que o passado deixou na cidade. As memórias de infância voltaram com tudo, e o autor se entregou a uma imersão que envolveu pesquisa histórica e longas conversas investigativas com seus pais. Foram sete anos até que o livro fosse concluído e publicado — em inglês, pela Bloomsbury.

Graduado pelas universidades de Cambridge e Paris, atualmente Tomasz vive na França com seu marido e, além de escrever, trabalha com moda. Quando seu livro foi publicado na Polônia, ele voltou a Varsóvia e encontrou o salão principal da imponente Galeria Nacional de Arte Zachę ta repleto de pessoas de todos os gêneros e idades. Definitivamente, um momento para se guardar na memória e na história de um país onde a população LGBTQIA+ ainda hoje enfrenta uma resistência violenta na luta por igualdade de direitos. Afinal, como nos diz Ludwik, o protagonista de Nadando no escuro , “fagulhas também causam incêndios”.

“Talvez tornar-se escritor seja tanto um ato de imaginação (e força de vontade) quanto o próprio ato de escrever.”

O autor de Nadando no escuro fala à TAG sobre como enveredou para a literatura, por que escolheu escrever sobre a Polônia comunista e no que ele está trabalhando neste momento

Vamos começar pela sua trajetória. Quando você percebeu pela primeira vez que era um escritor? O que te instiga a contar histórias? Consigo me lembrar de vários momentos no final da adolescência e começo dos vinte anos em que eu sonhava em ser escritor, sem saber exatamente por quê. Acho que eu me sentia atraído por uma vida de criação, em que não me sentisse preso às demandas dos outros. Claro, eu não acreditava que fosse uma escolha de carreira realista — parecia algo infantil presumir que as pessoas se importariam com o que eu tinha a dizer. Foi só quando comecei a trabalhar como advogado e me senti completamente preso que de repente se tornou urgente decidir o que fazer da minha vida. E de alguma forma consegui dar o salto para algo que realmente me entusiasmava. Talvez tornar-se escritor seja tanto um ato de imaginação (e força de vontade) quanto o próprio ato de escrever.

Nadando no escuro é uma história poderosa e comovente ambientada na Polônia comunista. O que te inspirou a escrever um romance histórico e por que esse período foi importante para a história que você queria contar?

Para mim, escrever romances é uma forma de tentar entender o mundo, e sou atraído por períodos históricos que parecem guardar algumas pistas. Meu pai e minha mãe cresceram na Polônia comunista e, embora o sistema tenha colapsado quando eu tinha cinco anos, senti que precisava explorar essa parte da história se quisesse entender de onde minha cultura e eu mesmo viemos.

A história de amor entre Ludwik e Janusz é central no seu romance e aborda temas LGBTQ+ de uma forma profunda. Como essa trama e esses personagens ganharam vida?

O ponto de partida foi imaginar como seria minha vida enquanto pessoa queer se eu tivesse nascido na geração dos meus pais. Queria lançar luz sobre as vidas vividas nas sombras e sobre a dificuldade de um amor que precisa ser escondido. Desconstruir a vergonha das gerações passadas faz parte do processo de cura no presente e é essencial se quisermos construir um futuro mais saudável e menos violento.

O livro é contado em flashbacks que reconstroem a história de amor entre jovens — uma escolha narrativa que cria uma distância interessante entre o Ludwik de agora e o Ludwik do passado. Se você pudesse voltar no tempo, o que diria ao seu eu mais jovem?

Tudo vai ficar bem. Eu te amo. Relaxe. Estou bem aqui. (Essa é realmente a mensagem que meu futuro eu mais velho me diz agora quando estou enfrentando dificuldades.)

Você está escrevendo algo novo no momento? Quais são seus projetos futuros? Tenho trabalhado no meu segundo romance nos últimos cinco anos e mal posso esperar para lançá-lo no mundo. Ele é ao mesmo tempo semelhante a Nadando no escuro e radicalmente diferente — mais detalhes em breve!

MINHA ESTANTE

Primeiro livro que li: Harry Potter?

Livro que estou lendo: The Pillow Book (Makura no Sōshi), de Sei Shōnagon, e Sobre as mulheres, de Susan Sontag.

Livro que mudou minha vida: O quarto de Giovanni, James Baldwin.

Livro que eu gostaria de ter escrito:

O que eu estou escrevendo agora.

O último livro que me fez chorar: De novo, o que eu estou escrevendo agora. Chorei alguns dias atrás relendo uma cena entre os dois personagens principais.

Último livro que me fez rir: No one belongs here more than you, Miranda July.

Livro que eu dou de presente para as pessoas: Grande magia, Elizabeth Gilbert.

Livro que não consegui terminar: Pedro Páramo, Juan Rulfo (Tentei, sem sucesso, ler em espanhol).

O curador do mês

Nome:

Stênio Gardel

Nascimento: 1980, Limoeiro do Norte (CE)

Profissão:

Servidor público e escritor

Duas ou três coisas sobre ele:

1 SOCORRO ACIOLI

Servidor público do Tribunal Regional

Eleitoral do Ceará, Stênio Gardel foi aluno de ninguém mais, ninguém menos que Socorro Acioli em oficinas de escrita criativa.

Foi ela a primeira pessoa a ler seu romance de estreia, A palavra que resta, cuja sinopse afirma utilizar em suas aulas como exemplo de boa síntese.

2 NATIONAL BOOK AWARD

A palavra que resta acompanha um homem analfabeto que guarda por 50 anos a carta recebida de um antigo amor secreto, que nunca pôde ler. O livro foi finalista do

Prêmio São Paulo e do Jabuti em 2022. No ano seguinte, levou o National Book Award.

Stênio Gardel e a tradutora Bruna Dantas Lobato foram os primeiros brasileiros a conquistarem o prêmio.

3 BENTO VENTO TEMPO O livro mais recente de Stênio é voltado ao público infantil. Ilustrado por Nelson Cruz, Bento vento tempo é a história do olhar de um menino sobre seu avô, que se transforma depressa com o passar do tempo. Um dia, leva o avô à feira da cidade na bicicleta amarela que eles têm em casa, e assim dá início a um percurso fantástico e encantado.

“Saí da órbita para as profundezas, pisei no palco e senti minhas raízes, minhas memórias mais remotas, meus sentimentos mais

guardados.”

Vencedor do National Book Awards em 2023, Stênio Gardel fala sobre o momento que vive como escritor, dialogando com o livro que indicou como curador do mês e com a multiplicação de histórias publicadas por autores LGBTQIAPN+

O que te motivou a indicar Nadando no escuro para enviarmos aos associados da TAG? O que cativou você nessa história?

Em primeiro lugar, acho que minha identificação com a história, melhor dizendo, minha surpreendente identificação com a história. Perceber sentimentos comuns com os personagens em espaços e vivências tão diferentes. Fui fisgado aí. Depois, a história em si, tão bonita de Ludwik e Janusz. Esse nadar no desconhecido, esse descobrir o arredor e descobrir-se é contado com muita franqueza. Por fim, acho que o texto – olho muito para o texto em qualquer livro que eu leia – e, Nadando no escuro é aparentemente simples e transparente, mas suas palavras me levavam para muitas outras possibilidades de leitura, quando, por exemplo, o narrador afirma que ser egoísta “é tudo o que significa crescer e tornar-se quem se é”.

O romance de Tomasz Jedrowski é ambientado na Polônia comunista, e dá conta de uma série de complexidades que atravessam a experiência dos personagens naquele tempo e espaço. Você já tinha lido algo com uma ambientação parecida? Como você se relacionou com esse recorte histórico da narrativa?

Não me recordo de outra leitura sobre a Polônia desse período, mas o que me chamou mais atenção foi como o ambiente social, político e econômico é construído como um dos antagonistas da narrativa, atuando contra a realização pessoal e afetiva entre Ludwik e Janusz. Claro, eles possuem seus medos interiores, mas em grande medida são as diferentes influências que a situação do país, da necessidade de autopreservação, das condições e dos prospectos de vida e de como consegui-los (os dois estão iniciando a vida adulta) chegam para cada um deles que acabam por afastá-los. Indo um pouco além, podemos pensar ainda que essa distância inteligentemente discute o limite do sentimento, até que ponto o amor pode ser maior que nossas crenças ou nosso caráter, mas nada feito de maneira maniqueísta, há muita humanidade e complexidade nos dilemas e decisões das personagens.

Em 2023, seu livro A palavra que resta tornou-se a primeira obra brasileira a ganhar o National Book Award. É um feito incrível! Como foi seu percurso na escrita, e como tem sido viver esse momento tão prolífico?

Meu percurso na escrita tem sido a realização de um sonho que eu guardava desde muito novo, desde meus 12, 13 anos de idade, e que ficou guardado em textos inacabados e engavetados por muito tempo. Foi apenas em 2016, nos Ateliês de Narrativa da Socorro Acioli, que percebi, e agarrei, o momento certo para finalmente me dedicar de verdade a escrever. Do final daquele ano até agosto de 2017, planejei e escrevi a primeira versão de A palavra que resta. Com o manuscrito pronto, o que buscava, acho, era uma legitimação de que aquilo que eu tinha escrito era mesmo Literatura, eu queria escrever Literatura. Um primeiro passo nesse sentido foi o retorno da Socorro, que gostou do livro, acreditou no potencial da escrita e levou o livro até sua editora na Companhia das Letras à época, a Julia Bussius. Depois, a proposta da Companhia para publicar, já em 2019, me deu ainda mais segurança e confiança no texto e no caminho que se traçava.

Antes disso, eu tinha publicado alguns contos em coletâneas coletivas com colegas dos Ateliês, mas a publicação de um primeiro romance em uma editora grande trouxe outras dimensões - para o meu texto de uma forma geral e para minha busca, essa de contar histórias e conversar com as pessoas, pessoas que nunca conhecerei ou conheceria, sobre temas que são importantes para mim e, além disso, de uma maneira muito especial, por meio do texto literário. Acho que vem daí minha preocupação com a linguagem. Desde a publicação em 2021, o livro tem conquistado muitos leitores, daqui e de outros países, com tradução para o inglês, italiano, holandês – já publicadas – e eslovaco e espanhol (Argentina), aguardando publicação, além da edição em Portugal, que chegou por lá em maio deste ano.

Ganhar o National Book Award pela edição em inglês, publicada pela New Vessel Press e que teve tradução da Bruna Dantas Lobato, foi um choque, era algo completamente fora da minha órbita onírica, digamos assim, mas também um momento de profunda realização. Saí da órbita para as profundezas, porque estar lá foi isso mesmo, pisei no palco e senti minhas raízes, minhas memórias mais remotas, meus sentimentos mais guardados. Me emociono até hoje. E tem mais ainda, pois o livro ganhou recentemente uma poderosa e emocionante montagem teatral, com a Cia de Atores

de Laura e texto e direção do Daniel Herz, tendo feito uma linda temporada no Rio de Janeiro. E vai ganhar também uma adaptação audiovisual, com produção da Pródigo Filmes. O que me deixa mais feliz e revigorado é saber que todas essas conquistas do livro podem levá-lo ao encontro com mais um leitor, que pode indicar o livro para alguém, e assim Raimundo, Cícero e Suzzanný vão fazendo mais amigos mundo afora.

Assim como Nadando no escuro, seu livro tem no centro da trama uma relação de amor entre dois homens que é mantida em segredo. São histórias muito diferentes, mas que rompem um longo silenciamento da experiência gay em diferentes lugares do mundo. Como você vê esse momento histórico da cena literária internacional, em que há mais espaço para retratar vivências não normativas?

Muito interessante essa pergunta, porque, depois que terminei a leitura de Nadando no escuro, procurei as datas de publicação e concluí que em algum momento é possível que eu e o Tomasz Jedrowski tenhamos escrito nossas histórias ao mesmo tempo. E isso só realça algumas aproximações do meu livro com o dele, o que acho incrível. Sim, são definitivamente histórias diferentes, mas que compartilham, em elementos narrativos – como o rio em A palavra que resta e o lago em Nadando no escuro – e principalmente nos temas,

pontos de contato. Espero que esse momento, de mais escrita, mais autores e mais leitores de histórias LGBTQIAPN+ seja um momento sem volta, que o espaço a percorrer seja aquele de mais espaço a conquistar e não ceder, apesar de o ambiente no entorno ser muitas vezes esse, de defesa da heteronormatividade em detrimento da aceitação de todas as outras formas de ser e desejar. Muitas vezes não temos ideia de como um livro pode repercutir nas vidas das pessoas. Tenho recebido muitos relatos de leitores de A palavra que resta que me falam de uma identificação tão

íntima e tão especial com os personagens e a história, apesar de ela ser diferente das histórias de vida desses leitores, que isso não pode ser desprezado. E me incluo nessa demanda, de ver e ler mais de mim nos livros que encontro.

Você está escrevendo um novo romance, certo? Como está esse projeto?

Sim, tenho uma ideia já desenvolvida em alguns milhares de palavras, sobre uma família de três mulheres vivendo num lixão, mas por enquanto estou resolvendo algumas questões de natureza mais abstrata do processo, digamos assim, e a escrita em si está em suspenso. Enquanto isso, vou pensando em outras ideias também.

MINHA ESTANTE

Primeiro livro que li: O rapto do garoto de ouro, Marcos Rey (Coleção Vagalume).

Livro que estou lendo: Pureza, Garth Greenwell.

Livro que mudou minha vida: O cão dos Baskerville, Sir Arthur Conan Doyle.

Livro que eu gostaria de ter escrito: Absalão, Absalão!, William Faulkner.

O último livro que me fez chorar: Me chame pelo seu nome, André Aciman.

Último livro que me fez rir: Homer e Langley, E. L. Doctorow (e chorar também).

Livro que eu dou de presente para as pessoas: Singué Sabour – A pedra da paciência, Atiq Rahimi.

Livro que não consegui terminar: Cidade nas nuvens, Anthony Doerr (mas quero tentar de novo).

A Polônia de Ludwik

Um pouco sobre a complexa trajetória do socialismo no país onde é ambientada a história de Nadando no escuro, que retrata um contexto de perseguição política a pessoas LGBT

por Dionathas Moreno Boenavides

Historiador, mestre e doutorando pela UFRGS, professor e criador do Instagram @humanizarteoficial

“Erradicando os homossexuais, desaparece o fascismo.”

Esse lema, segundo Máximo Górki, circulava na Alemanha nos anos anteriores à Segunda Guerra Mundial. O lema seria proferido por militantes socialistas e era defendido por Górki, um dos muitos defensores do stalinismo no período. No mesmo artigo, intitulado “Humanismo proletário”, o escritor afirma: “Nos países fascistas, a homossexualidade, açoite da juventude, floresce sem o menor castigo; no país onde o proletariado alcançou o poder social, a homossexualidade tem sido declarada delito social e é severamente castigada”.

Górki esconde de seus leitores o fato de que a Rússia socialista, em seus primeiros anos, realizou grandes reformas no sentido de descriminalizar a homossexualidade. E que foi a ascensão do stalinismo que mudou os rumos desse movimento. Para nós, leitores de Nadando no escuro, importa entender: 1. como as marcas do stalinismo se mantiveram na Polônia a ponto do protagonista Ludwik não poder viver abertamente o seu amor, e 2. como o stalinismo se posicionou em relação à homossexualidade.

Foi a invasão hitlerista da Polônia, em 1939, que desencadeou as declarações de guerra que deram início ao segundo grande conflito mundial (1939–1945). Após anos de expansão nazifascista em territórios não só europeus, num contexto em que países como Inglaterra e França adotaram uma “política de apaziguamento” que escondia a esperança de que o nazifascismo e o socialismo entrassem em choque, a invasão da Polônia costuma ser vista como “a gota d’água” que levou ao início da guerra. Não por acaso, as declarações de guerra ocorreram cerca de uma semana após um acordo de não agressão entre a Alemanha de Hitler e a União Soviética stalinista, o Pacto Molotov-Ribbentrop. O Pacto foi assinado no dia 23 de agosto de 1939, quando Alemanha e URSS concordavam em não se atacarem em caso de início de um conflito militar. A invasão da Polônia, que iniciaria a guerra, ocorreu em 1º de setembro do mesmo ano. Dezesseis dias depois seria a vez de a União Soviética invadir o mesmo país, agora pelo leste. A divisão do país por alemães e soviéticos fazia parte do acordo de não agressão.

Com o andamento da guerra, a Alemanha traiu o pacto de não agressão, invadiu o território soviético na Polônia e adentrou o território da URSS em direção a Stalingrado. A operação, conhecida como Barbarossa, quase foi capaz de dominar a capital da maior potência socialista do mundo. Essas invasões começaram em 1941. O Exército Vermelho, da URSS, entretanto, conseguiu reverter o jogo, levando à retirada do Exército Alemão de seu território e permitindo o contra-ataque soviético, que passou a expandir seu alcance em direção à Alemanha, passando pelo território polonês. Por isso, com o fim do conflito mundial, em 1945, e a derrota alemã, o território da Polônia passou a ser administrado pelos soviéticos durante a Guerra Fria.

Os impactos da Segunda Guerra na Polônia foram arrasadores. Foi o país com maior proporção de perdas humanas no período, com aproximadamente 6 milhões de cidadãos poloneses mortos entre 1939 e 1945, o que corresponde a mais de um quinto da população. Desses, metade eram judeus. Aqui cabe lembrar do primeiro amor do protagonista, o menino que conheceu na catequese e que depois desapareceu. Fica-se sabendo que a sua família havia se mudado para Israel. As dificuldades para as famílias judias na Europa, inclusive as perseguições, não chegaram ao fim magicamente em 1945.

Essa é uma forma de contar a história de como a Polônia vivenciada por Ludwik estava sob tão forte influência soviética e stalinista. Entender o porquê de a homossexualidade ser proibida exige que voltemos à história da transição do governo de Lênin para o de Stalin, entre as décadas de 1920 e 1930.

Segundo Sherry Wolf, em Sexualidade e socialismo: história, política e teoria da libertação LGBT, “Em 1917, todas as leis contra a homossexualidade foram derrubadas pelo novo governo revolucionário, juntamente com o resto do código criminal czarista. Sexo consensual foi declarado como uma questão privada e os gays não somente eram livres para viver como eles/elas quisessem sem a intervenção do Estado, mas as cortes soviéticas também aprovaram o casamento entre homossexuais e, de forma extraordinária, foram reportadas até operações para mudança de sexo nos anos 1920”.

Após a morte de Lênin e a ascensão de Stalin ao poder, as coisas mudaram. Em 1934 o Código Penal da URSS trata como crime a homossexualidade e qualquer prática não heteronormativa é definida como degeneração, perversão e prática antinatural. O stalinismo passa a perseguir homossexuais e se calcula que aproximadamente 60 mil pessoas foram condenadas por isso entre 1934 e 1980.

Da mesma estante

Livros que poderiam ser guardados na mesma prateleira do livro do mês, para quem quiser continuar no assunto.

SER LGBT+ EM TODOS OS TEMPOS

Uma seleção de histórias queer para celebrar e afirmar o direito de existir, amar, vibrar, ver e ser visto — na vida e nos livros

EM NOME DO DESEJO, João

Silvério Trevisan Record, 216 pp.

Combinando profundidade psicológica e narrativa poética, Trevisan conta a história de amor e ódio entre dois seminaristas divididos entre a mortificação da carne e a exaltação do divino, contrapondo a beleza sensual à rigidez católica nesse romance que renova a todo momento sua atualidade.

O RETRATO DE DORIAN GRAY, Oscar Wilde

Penguin-Companhia, 264 pp.

Tradução de Paulo Schiller

O corajoso e explosivo romance do escritor irlandês é considerado uma das mais importantes obras da literatura britânica. Publicado no final do século 19, o livro é protagonizado por um homem que leva uma vida dupla, explorando dilemas morais e sexuais e desafiando a hipocrisia da sociedade vitoriana.

VINCO, Manoela Sawitzki Companhia das Letras, 276 pp.

Na delicada transição da infância para a adolescência, na descoberta de si, do mundo e da sexualidade, Manu percebe que sua autoimagem é diferente da forma como os outros a enxergam. Ambientado no Rio de Janeiro dos anos 1990, esse livro captura os traumas, dores e triunfos que se fazem presentes em transições das mais diversas naturezas.

GARANTA SEUS LIVROS AQUI:

Lá no site, além de aproveitar seu desconto de associado TAG, você tem mais informações sobre os livros — e muitas outras dicas!

LITERATURA DO LESTE EUROPEU

Para além da imensa literatura russa, alguns títulos da porção oriental da Europa que valem cada virada de página

NOSTALGIA, Mircea Cărtărescu

Mundaréu, 416 pp.

Tradução de Fernando Klabin

Um romance inebriante onde a memória é a chave para a compreensão da existência e, mesmo quando fantasiosa, fundamental para perceber a realidade. Do autor romeno já cotado para o Nobel de Literatura e frequentemente associado a autores como Franz Kafka e Julio Cortázar.

O GRANDE CADERNO, Ágota Kristóf

Dublinense, 192 pp.

Tradução de Diego Grando

No primeiro volume da Trilogia dos gêmeos, obra-prima da escritora húngara, uma mãe desesperada deixa seus filhos aos cuidados da avó para que tenham chance de sobreviver à guerra. Em um grande caderno, eles registram os experimentos brutais a que se submetem para “se fortalecerem” diante dos perigos desse novo contexto.

SOBRE OS OSSOS DOS MORTOS, Olga Tokarczuk

Todavia, 256 pp.

Tradução de Olga Bagińska-Shinzato

Subversiva, fantasiosa, um tanto macabra e cheia de um humor inusitado, essa espécie de fábula contemporânea parte de uma história de crime e investigação convencional para se converter numa espécie de suspense existencial sobre a condição humana e a natureza. Da polonesa ganhadora do Nobel de Literatura.

Universo do livro

Livros, séries, filmes que orbitam o livro do mês

Em meio a um cenário político conturbado, Ludwik conhece Janusz em um acampamento agrícola.

A amizade, a princípio inocente, logo cede espaço a um romance voraz às escuras. Cercados pela isolada beleza da natureza e livres das restrições sociais, eles se apaixonam. Mas, longe daquele cenário idílico, na repressão da sociedade comunista e ultraconservadora de Varsóvia, o amor dos dois é mais do que proibido — é impossível.

ADEUS, LENIN!

FILME DE WOLFGANG

Do intoxicante primeiro amor até a dor de amadurecer, Tomasz Jedrowski criou uma inesquecível e instigante história que explora liberdade e amor em todas as suas formas.

BECKER QUE RETRATA

A EXPERIÊNCIA DE UMA

FAMÍLIA NA BERLIM

ORIENTAL NO MOMENTO

DA QUEDA DO MURO, NO PERÍODO DE DECLÍNIO

DO COMUNISMO.

A GUERRA NÃO TEM

ROSTO DE MULHER

LIVRO DA UCRANIANA

SVETLANA ALEXIJEVICH QUE EXAMINA AS EXPERIÊNCIAS

DE UMA MINORIA SOCIAL — NESTE CASO, AS MULHERES

— NO CONTEXTO DE UM GRANDE EVENTO HISTÓRICO.

RETRATO DE UMA

JOVEM EM CHAMAS

FILME DE CÉLINE SCIAMMA QUE

RETRATA UM ROMANCE ENTRE DUAS MULHERES QUE PRECISA

SER MANTIDO EM SEGREDO PELAS CIRCUNSTÂNCIAS

SOCIAIS E HISTÓRICAS.

Tomasz Jedrowski

Jedrowski

AS TELEFONISTAS

SÉRIE DA NETFLIX QUE

MOVIMENTA REFLEXÕES

SOBRE IGUALDADE DE DIREITOS E SEXUALIDADE NA MADRI DOS ANOS 1920.

NADANDO NO ESCURO

A VIDA DOS OUTROS

FILME DE FLORIAN HENCKEL VON

DONNERSMARCK QUE

EXPLORA DIFERENTES

LADOS DO ESPECTRO POLÍTICO NA ALEMANHA ORIENTAL DOS ANOS 80.

QUEER

FILME DE LUCA GUADAGNINO INSPIRADO NO LIVRO DE WILLIAM S. BURROUGHS, QUE RETRATA A PAIXÃO OBSESSIVA

DO PROTAGONISTA, UM AMERICANO EXPATRIADO NO MÉXICO, POR UM HOMEM MAIS JOVEM.

LEIA. CONHEÇA.

DESCUBRA:

Wisława Szymborska

A literatura polonesa ainda é pouco conhecida entre os leitores brasileiros, seja pela escassez de publicações, seja pela limitada circulação das obras traduzidas. Um dos nomes que merece destaque é o de Wisława Szymborska, que compartilha com o autor do mês não apenas a nacionalidade, mas também uma escrita sensível, profundamente marcada pela instabilidade política e social de sua época.

Nome

Maria Wisława

Anna Szymborska

Nascimento

2 de julho de 1923

Bnin, República da Polônia

Morte

1 de fevereiro de 2012

Cracóvia, Polônia

Poeta, ensaísta, tradutora e intelectual polonesa, conhecida por escrever com delicadeza e profundidade sobre temas essenciais à condição humana, como filosofia e ética. Sua abordagem única, muitas vezes dotada de ironia, resultou no seu reconhecimento pela academia sueca em 1996, quando entrou para a curta lista de mulheres laureadas com o Prêmio Nobel.

Nasceu em julho de 1923 em Bnin, uma pequena cidade na República da Polônia, como era denominado o território polonês no período entreguerras. Durante a infância, a escritora se mudou para Cracóvia, cidade onde viveria de maneira discreta até o fim de seus dias.

Durante a Segunda Guerra Mundial, prosseguiu seus estudos de forma clandestina, já que a educação formal na Polônia foi proibida pelos invasores alemães. Com o fim da guerra, em 1945, ingressou na universidade para estudar literatura polonesa, posteriormente trocando para sociologia. No mesmo ano, publicou seu primeiro poema no jornal Dziennik Polski.

Seu primeiro livro foi publicado em 1949, mas censurado sob o regime comunista da então República Popular da Polônia por não se alinhar às diretrizes do Realismo Socialista. Szymborska era então integrante do Partido Operário Unificado Polonês, e suas primeiras obras refletiam a influência da ideologia socialista, embora a condição humana continuasse sendo seu tema central. Em 1966, desligou-se oficialmente do partido, mas antes disso ela e outros intelectuais já haviam se distanciado do stalinismo, um afastamento que se refletiu em suas obras.

Em 1953, ingressou na revista literária Życie Literackie (em tradução livre, Vida literária), onde trabalharia por quase 30 anos. Nesse período, Wisława se consagraria no meio literário como poeta, crítica e tradutora.

Quando entregou a ela o Prêmio Nobel em 1996, a academia destacou sua habilidade de explorar “questões da condição humana e os mistérios do universo” com “ironia, imaginação e uma ética rigorosa”. Szymborska publicou cerca de 20 livros até falecer, em 2012.

RIMINHAS PARA

CRIANÇAS GRANDES

Uma verdadeira brincadeira poética, que revela o domínio singular das palavras e as boas doses de ironia presentes na obra de Wisława Szymborska. Uma coletânea inventiva e surpreendente, que irá roubar alguns sorrisos durante a leitura.

Somos filhos da época e a época é política.

Todas as tuas, nossas, vossas coisas diurnas e noturnas, são coisas políticas.

Querendo ou não querendo, teus genes têm um passado político, tua pele, um matiz político, teus olhos, um aspecto político. [...]

POEMAS

Nesta antologia somos convidados a conhecer a diversidade da escrita de Szymborska. A coletânea de 44 poemas é a primeira obra da autora publicada no Brasil, uma bela forma de conhecer mais a voz dessa importante poeta contemporânea.

CORREIO LITERÁRIO

— OU COMO SE TORNAR (OU NÃO)

UM ESCRITOR

Uma reunião de textos publicados no periódico Życie Literackie, em que respondia às cartas dos leitores que queriam tornar-se escritores. Repletas de humor, suas dicas são um deleite para os apaixonados por literatura e arte.

PARA SE APAIXONAR DE VEZ

Espaço da comunidade

Tire o livro da estante. Leve o livro para a vida.

Essas foram as palavras que lançamos aos quatro ventos nos últimos meses: nas caixinhas, nas redes sociais, no aplicativo, no contato rotineiro da equipe com vocês. Mas não ficou só por aí, tomamos a liberdade de levar essa ideia para passear pelas ruas. Marcamos presença na Feira do Livro de Porto Alegre, tivemos um bate-papo incrível com a Martha Medeiros, escritora e nossa curadora em 2018 (quem aí lembra do queridinho O xará?), tivemos a nossa primeira Reading party, uma festa com direito ao melhor acompanhante — o livro.

A comunidade TAG é sobre encontros e tem muito mais por vir: estão confirmadas a presença da TAG na Feira do Livro de São Paulo (14 a 22 de junho) e na Bienal do Livro no Rio de Janeiro (13 a 22 de junho).

Além disso, sabia que todos os meses temos taggers se reunindo em cada estado do Brasil para conversar sobre as leituras do mês? Se você é novo por aqui ou ainda não teve a oportunidade de participar, é só acessar a aba “Encontros” no aplicativo da TAG, localizar o grupo mais perto de você ou escolher algum dos clubes de discussão online. Em 2025, vamos levar o livro, e as pessoas em torno dele, para a vida.

Para baixar o aplicativo da TAG, acesse o QR Code abaixo:

Vem por aí meio a um cenário político conturbado, Ludwik conhece Janusz em um acampamento agrícola. amizade, a princípio inocente, logo cede espaço

um romance voraz às escuras. Cercados pela isolada beleza da natureza e livres das restrições sociais, eles se apaixonam. Mas, longe daquele cenário idílico, na repressão da sociedade comunista e ultraconservadora de Varsóvia, o amor dois é mais do que proibido — é impossível. intoxicante primeiro amor até a dor de amadurecer, Tomasz Jedrowski criou uma inesquecível e instigante história que explora liberdade e amor em todas as suas formas.

No próximo mês

Um romance de formação hipnótico, poético e cheio de força, escrito por uma autora brasileira e finalista do Prêmio São Paulo de Literatura. Indicada por uma curadora que já cativou o coração dos taggers, a obra conta a história de uma mulher que mergulha na própria história e em segredos familiares perturbadores depois de encontrar um livro antigo em meio às coisas de sua mãe.

As capas de livro frequentemente são verdadeiras obras de arte, não é mesmo? Recortando a página ao lado, você pode transformar este projeto gráfico em um item exclusivo, seja como elemento decorativo ou colecionável. O verso também é especial, com uma linda citação do autor para complementar a imagem.

Agora é só soltar a criatividade! E, se compartilhar nas redes, não se esqueça de nos marcar no @taglivros — adoramos ver as ideias de vocês ganhando vida.

Tomasz Jedrowski

Tomasz Jedrowski

NADANDO NO ESCURO

Fagulhas também causam incêndios.

“Temos que criar a nós mesmos como uma obra de arte.”

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