HONRA2022OUT
taggerOlá, taggerOlá,
O livro que você recebe agora o conduzirá por uma emocionante jornada pelo interior da Índia. Honra, romance mais recente da jornalista e escritora best-seller Thrity Umrigar, expõe de modo assombroso os con flitos sociais e religiosos que perduram noApaís.partir da história de duas mulheres — uma jovem hindu atacada em seu povoado por se casar com um homem muçulmano, e uma repórter residente nos EUA que viaja à sua terra natal —, a trama revela uma série de contrastes entre tradição e modernidade. Fala também dos dilemas que se impõem entre família e amor, assim como das dificuldades que surgem quando ten tamos ignorar o passado e as nossas própriasNestaraízes.edição da revista, você encontra um texto introdutório ao romance, uma contextualização his tórica das disputas religiosas na Índia e uma entrevista exclusiva com a autora. Tudo pensado para que você tenha uma experiência completa durante a viagem proporcionada pelo livro do mês. Boa leitura!
Designer Julia Lima
Preciso de ajuda, TAG!
JÚLIA CORRÊA Editora
RAFAELA PECHANSKY Publisher
Olá, eu sou a Sofia, assistente virtual da TAG. Converse comigo pelo WhatsApp para rastrear a sua caixinha, confirmar pagamentos e muito mais!
Capa Paula Hentges
TAGtaglivroswww.taglivros.comcontato@taglivros.com.brComérciodeLivrosS.A.
Impressão Impressos Portão
QUEM FAZ
Página da loja Lais Holanda
2022OUT
+55 (51) 99196-8623
ANTÔNIO AUGUSTO Revisor
LIZIANE KUGLAND Revisora
Tv. São José, 455 | Bairro Navegantes Porto Alegre — RS | CEP: 90240-200 (51) 3095-5200
12 Entrevista com a autora 16 Contextualização 20 Agenda8 O livro do mês 6 Por que ler o livro 4 Experiência do mês
VAMOS LER ?
O primeiro passo você já deu, agora é só terminar de ler a revista. :)
2022 jan jul fevabr maiago nov mar set jun dez 4 EXPERIÊNCIA DO MÊS
out
Leia até a página 154 A afirmação de Meena no final desse capítulo, infelizmente, está longe de ser restrita ao contexto da Índia rural. Mulheres questionadoras, em qualquer lugar do mundo, incomodam muitos homens, mas essa história, em particular, teve um desfecho chocante. O que você está achando do livro? Compartilhe com outros taggers no aplicativo!
Leia até a página 236 Uau! Com essa reviravolta, terminamos o livro dois! Estamos prestes a descobrir mais sobre o passado que Smita passou a vida inteira tentando esconder e esquecer. Sem mais delongas, vamos em frente.
OUVIR PLAYLIST
C riamos experiênciaesta para expandir sua leitura. Entre no clima de Honra colocando a playlist especial do mês para tocar. É só apontar a câmera do seu celular para o QR Code acima ou procurar por “taglivros” no Spotify. Não se esqueça de desbloquear o kit no aplicativo da TAG e aproveitar os complementares!conteúdos
Leia até a página 96 Chegamos ao fim do livro um! Já distante da cosmopolita Mumbai, Smita começa a se deparar com os dogmas culturais do seu país de origem. Será que ela vai conseguir deixar de lado o orgulho e suas implicações pessoais para cumprir sua função de jornalista?
Marque a cada parte concluída
HONRA
5EXPERIÊNCIA DO MÊS OUVIR PODCAST
Que tal um cafezinho para acompa nhar a leitura de Honra? O mimo deste mês é fruto de uma parce ria com a Veroo Cafés. Enviamos três sachês de café especial 100% Arábica (10g cada) torrado e moído.
Honra pode ter terminado, mas a experiência não! Aponte a câmera do seu celular para o QR Code ao lado e escute o episódio de nosso podcast dedicado ao livro do mês. No aplicativo, confira também a nossa agenda de bate-papos.
Leia até a página 313
Leia até a página 364 Ufa! Chegamos ao fim do livro. Thrity Umrigar não poupa o leitor da dureza e complexidade da vida real, mas nos dá em troca muitas reflexões para ampliar nossa visão sobre o mundo e sobre a honra. E você, o que achou do final do livro?
projetomimo
Uma passagem muito representativa das questões abordadas pelo livro inspira o projeto gráfico deste mês. Na página 172, lemos que um perso nagem muçulmano, Abdul, oferece mangas a Meena, de origem hindu: “Claro que não pude aceitá-las. Se a minha mão, por acidente, encostasse na mão de um muçulmano, Deus a deceparia até o fim do dia". Partindo, então, dessa simbologia, a designer Paula Hentges incluiu a fruta tanto na capa do livro, que traz ramos de uma mangueira diante de uma silhueta humana, quanto na da revista, com a árvore e as mangas propriamente em destaque. A luva, por sua vez, faz referência a uma reflexão da perso nagem nas páginas seguintes: “o que exatamente fazia dele um muçul mano? Eu me imaginei examinando uma longa fileira de mãos. Como saberia quais eram muçulmanas?".
Muita coisa se explicou agora que sabemos pelo que a protagonista passou. Unidas por dores que têm a mesma raiz, parece não ter sido por acaso que Smita e Meena se encontraram, não é mesmo? Terminado o livro três, estamos nos encaminhando para o final da história. Respire fundo antes de seguir, pois essa não é uma leitura fácil, mas pode ser transformadora.
As últimas páginas foram de entristecer o coração e revirar o estômago. Quais sentimentos essa leitura está despertando em você? Talvez este seja um bom momento para fazer uma pausa e trocar impressões com outros leitores antes de seguir para a reta final da história. Quando estiver pronto, vamos?
gráfico
Leia até a página 290
6 POR QUE LER O LIVRO
Lisa Wingate, autora best-seller de Before We Were Yours
Sharmila Mukherjee, NPR Honra examina corajosamente um sistema que continua a legitimar a brutalidade e serve como um lembrete pungente de que, apesar de todas as probabilidades, ‘em todos os países, em todas as crises, há muitas pessoas que nadam contra a maré’.”
“Ao mesmo tempo que Honra aborda a crise humanitária da Índia, também mostra uma jornada transformadora. Testemunhamos o florescimento emocional e espiritual de Smita no processo de escrita.”
“Thrity Umrigar conta a história da Índia com a intimidade de quem conhece as muitas facetas de uma terra moderna e antiga, inundada de contradições.”
Anjali Enjeti, Star Tribune
muito diferentes, a autora aborda a multiplicidade e as contradições da imensa cultura indiana e propõe reflexões globais sobre temas como violência de gênero, fundamentalismo religioso, relações de poder e a sensação de não pertencimento enfrentada por imigrantes. Elementos da experiência e visão pessoal de Umrigar, que migrou para os Estados Unidos aos 21 anos, dão consistência e profundidade à trama, garantindo uma leitura intensa e transformadora.
O que não dizemos/carregamos em nossas malas,/nos bolsos dos casacos, em nossas narinas. — “Town Watches Them Take Alfonso”, Ilya Kaminsky
de Artes Visuais do Mercosul. Hoje, colabora regularmente com a revistaEditorialArquipélagoecomadaTAGInéditos.
DÉBORA SANDER*
Acitação do poeta Ilya Kaminsky, escolhida por Thrity Umrigar como uma das epígrafes do livro deste mês, diz muito sobre o percurso da personagem central da trama, a jornalista indo-ame ricana Smita Agarwal. Fala também, é claro, de qualquer um de nós. Em alguma medida, todos já experimentamos o peso de calar e carregar conosco lembranças, experiências e sentimentos nunca compartilhados. Thrity Umrigar, também jor nalista e também indo-americana (nasceu em Mumbai e vive nos Estados Unidos desde os 21 anos), já disse muito ao longo dos anos trabalhando como repórter e colunista, e nos seus mais de dez livros publicados — entre romances, memórias e obras para crianças. Tornou-se uma autora best-seller escrevendo histórias
Passadoemaberto
Honra é uma jornada profunda na Índia dos dias de hoje, narrada em uma dança desconcertante entre a aspereza da desumanidade em situações de injustiça social e o toque delicado e acolhedor dos pequenos gestos de afeto
ambientadas na Índia, explorando a complexidade cultural do país em temáticas que atravessaram sua vida pessoal e que dialogam com seu olhar para o mundo. Ao jornal Los Angeles Times, afirmou: “Sigo escrevendo sobre questões que me assombram, sobre poder e diferenças de poder”. Mas dizer, narrar e agir sobre o que se sente também é um privilégio — como a autora bem demonstra em Honra. A protagonista, Smita Agarwal, divide seu tempo entre o sóbrio e confortável apartamento onde vive, no Brooklyn, em Nova York, e os muitos destinos de suas viagens a trabalho para cobrir histórias de mulheres afe tadas pela desigualdade e a violência de gênero. Habituada ao contato com realidades distintas da sua, só há um lugar ao qual ela evita a todo custo ir: a Índia, país que deixou aos doze anos com a família e para onde nunca mais quis voltar. O livro que você tem em mãos é a história desse reencontro. Smita desembarca no aeroporto de Mumbai após interromper as férias para socorrer uma amiga e colega de trabalho que sofreu um acidente e pediu sua ajuda. Shannon trabalha no mesmo jornal que Smita, mas atua como correspondente internacional na Índia. Só ao chegar ao hospital onde a amiga está prestes a ser operada, a protagonista descobre sua real função naquele quadro: substituir Shannon na cobertura do julgamento de dois homens hindus, de uma região rural e conservadora, que incendiaram a
9
O LIVRO DO MÊS
10 O LIVRO DO MÊS
Contrariada, mas sem margem para dizer não, Smita aceita a missão e viaja até o vilarejo de Birwad para acompanhar a história da vítima e sobrevivente do crime, Meena. Nesse contexto, a chocante história de Meena é abraçada por uma advogada e ativista que vê ali a possibilidade de pressionar o sistema judicial do país dando visibilidade internacional ao caso e, com sorte, conseguir um veredicto favorável à vítima — abrindo um precedente para outras condena ções em crimes parecidos.
casa da própria irmã para puni-la por ter se casado com um muçulmano.
O livro acompanha o lento pro cesso de entrega da personagem a um resgate doloroso de seu passado na Índia. Fechada e evasiva, Smita guarda em um lugar pouco acessível — inclusive aos leitores, durante boa parte da história — o motivo que a fez sair do país.
Os percursos de Smita e Mohan pelo interior da Índia, narrados em terceira pessoa, são alternados com capítulos em primeira pessoa em que Meena revela sua própria história. As narrativas intercaladas passam por momentos intensamente sombrios e difíceis de digerir, mas trazem junto a força e a ternura dessas duas mulheres, Smita e Meena, esboçando significados que a palavra “honra” — reivindicada por diferentes sociedades, culturas e religiões — pode ter. Entrelaçadas à narrativa, há também reflexões e crí ticas consistentes sobre as complexas relações entre pessoas que vivem às margens e aquelas que têm o privilégio narrativo de contar essas histórias a partir de um lugar de conforto social, material e físico. Em vários momentos, a protagonista se depara com dilemas internos ao pensar sobre o contraste entre sua vida nos Estados Unidos e as situações de tragédia, miséria e desamparo que ela descreve em suas reportagens. Atenta a isso, Thrity Umrigar destacou, em entrevista ao Los Angeles Times, sua intenção de provocar uma reflexão que vá além de criticar o suposto atraso de uma determinada sociedade, entendendo que toda cultura tem seus pontos cegos e produz opressões.
Smita vai ao encontro de Meena acompanhada por Mohan, um amigo de Shannon que, diferentemente da protagonista, tem um olhar generoso e otimista em relação à Índia, ainda que reconheça os problemas do país. A visão de Mohan soa quase como uma provocação para Smita, que não perde oportunidades de criticar o lugar de onde se sente tão apartada. Suas críticas, é claro, têm fundamento — a história de Meena é um exemplo dolorosamente ilustrativo da miso ginia e do conservadorismo que a jornalista aponta. Por outro lado, seu companheiro de viagem a lembra de um aspecto diferente do país que Smita abandonou: as virtudes do povo e da cultura indiana.
Honra oferece ao leitor uma jornada profunda na Índia dos dias de hoje, narrada em uma dança descon certante entre a aspereza da desu manidade em situações de injustiça social e o toque delicado e acolhedor dos pequenos gestos de afeto que, esperançosa e incansavelmente, pro curam aliviar a dor de quem sofre. Vá sem pressa, e boa viagem!
Sempre houve tensões periódicas entre hindus e muçulmanos na Índia, geralmente alimentadas por políticos para obterem ganhos políticos. Infelizmente, os políticos indianos aprenderam com a filosofia de “dividir para conquistar” dos colonizadores britânicos. Mas é correto observar que as tensões entre os dois grupos religiosos e algumas das recentes leis antimuçulmanas que foram aprovadas parecem anunciar um novo e perigoso capítulo. Casas e empresas muçulmanas estão sendo demolidas como parte de um “programa” sistêmico. Esses atos de violência patrocinados pelo Estado não são novos, mas parecem ser mais auda ciosos e sem nenhum remorso.
As facesmúltiplasdahonra
12 ENTREVISTA
Em conversa com a TAG, Thrity Umrigar avalia o atual cenário político da Índia, fala de seu romance e de seu processo criativo, e revela os livros que têm destaque em sua estante
A Constituição da Índia começa afirmando que o país é uma república secular. Recentemente, muitos casos de violência, especialmente de hindus contra muçulmanos, são mais comuns, alimentados pelo nacionalismo. Também vemos, em seu livro, crime e ódio motivados por tradições e religiões. Você acredita que os confrontos entre religiões são mais fortes na Índia hoje do que no passado?
Foto: Laura Watilo Blake
A autora do mês, Thrity Umrigar.
Ideias para livros vêm de fontes variadas: uma linha que surge em sua cabeça, seguida por um personagem falando ou encenando aquela linha; algo que você lê nos jornais; uma certa inclinação de luz; um humor; uma história uma vez ouvida e esquecida há muito tempo, até que se torne conhecida novamente. Eu costumo sentar com uma ideia por alguns dias ou semanas e, se ela ainda está me assombrando, eu sei que é um livro. Caso contrário, eu a deixo de lado.
A Índia tem estado nas manchetes internacionais nos últimos anos como uma potência econômica, como um país que produziu milhões de vacinas, um país que tem uma forte indústria de tecnologia da informação e outras grandes indústrias. Mas também é uma nação com muitas disparidades de gênero e misoginia, onde as tradições ainda têm um papel muito forte contra a modernidade, como podemos ver em seu livro. Então, de onde veio a ideia de escrever Honra? E o que você considera a principal lição do livro?
A propósito, você poderia nos contar um pouco sobre seu processo criativo em geral?
A história principal de Honra — a de uma mulher hindu que decide procurar um emprego apesar das proibições de sua família e comunidade — foi inspirada em artigos do New York Times sobre as condições das mulheres na Índia rural. Houve um artigo que mostrava mulheres hindus em uma certa aldeia que desafiavam seus anciãos masculinos ao procurar emprego em uma fábrica de processamento de carne, onde entraram em contato com homens muçulmanos. Fiquei impressionada com a bravura dessas mulheres, mas também com o tremendo isolamento que sofreram. Depois disso, minha imaginação tomou conta e imaginei o que aconteceria se uma delas se apaixonasse por um muçulmano. Pensei nas consequências daquele ato de autoafirmação e sabia que uma mulher assim pagaria o preço por seu desafio. Assim, nasceu Meena.
13ENTREVISTA
Honra conta a história de duas mulheres — Smita e Meena — que têm origens muito diferentes. Smita é uma jornalista indo-americana que mora em Nova York e viaja ao redor do mundo para trabalhar. A outra sempre morou na Índia rural e vê o mundo de uma maneira muito diferente. Além dessas enormes diferenças, os diálogos mostram que ambas podem aprender uma com a outra, e Smita pensa muito em si mesma e em seus privilégios com essas conversas. Você se preocupou com isso não ser um diálogo em que uma mulher bem-educada “ensina” lições para uma mulher pobre, com menos oportunidades na vida?
14 ENTREVISTA
Li muito sobre a vida na Índia rural e confirmei muitos detalhes com amigos na Índia que visitaram as aldeias recentemente. Algumas coisas são baseadas em memó rias que tenho de visitas quando criança. As partes de Meena foram definitivamente mais difíceis de escrever do que as de Smita.
Você morou em Mumbai, que é uma cidade multicultural e cosmopolita, antes de se mudar para os Estados Unidos. Como foi seu contato com a Índia rural? Você pode contar mais sobre a pesquisa para entender melhor esse contexto e escrever sobre isso? Além disso, você escreveu na primeira pessoa, o que torna ainda mais difícil…
Muito, mesmo. Desde o início, eu sabia que não queria que fosse um romance sobre uma salvadora rica e educada vindo para resgatar a mulher mais pobre e analfabeta. Na verdade, eu sabia desde o início que era Smita a personagem mais frágil e não realizada. Que Meena era forte e resoluta e tinha uma rica vida interior. Que Meena era corajosa e não tinha medo de amar, enquanto Smita era desconfiada e incapaz de arriscar-se a se apaixonar. Eu estava muito interessada em inverter a narrativa convencional e ter Meena como a “professora” ou, pelo menos, a inspiração.
O livro que dá de presente: The Overstory, de Richard Powers.
A ESTANTE DA AUTORA
O último livro que a fez chorar: É estranho, mas geralmente choro apenas quando termino o livro e, geralmente, é a beleza da escrita que me faz chorar. Não importa quantas vezes eu leia, os últimos parágrafos de O olho mais azul sempre me fazem chorar.
De certa forma, Honra pode ser lido como um título irônico, porque o livro tem muitos casos de desonra e inter pretações errôneas dessa palavra. Mas também é um livro sobre pessoas que agem com honra — que cumprem suas promessas, que amam abertamente, que são generosas em espírito. Pessoas como Meena e seu marido, Abdul. Eu queria tomar essa bela palavra de gente como Arvind e Govind e devol vê-la às pessoas a quem ela pertence.
O livro que está lendo: Estou relendo Um delicado equi líbrio, de Rohinton Mistry. Tenho relido vários livros ultimamente. Não me pergunte por quê.
O livro que mudou sua vida: São tantos… Os filhos da meia-noite, de Salman Rushdie; As ondas, de Virginia Woolf; O olho mais azul, de Toni Morrison. E cada um deles mudou minha vida em um aspecto diferente e por razões muito diversas.
O último livro que a fez rir: Eleanor Oliphant Is Completely Fine, de Gail Honeyman.
Para Arvind e Govind, o que fizeram com sua irmã Meena e seu marido, Abdul, foi uma forma de defender a honra da família. O que não combina com a noção de honra de Smita e Mohan, por exemplo. Qual foi o seu objetivo ao chamar o livro de Honra ? É um convite para refletirmos sobre o que é considerado honroso nos dias de hoje e repensarmos sobre isso?
O primeiro livro que leu: Possivelmente, A sociedade secreta dos sete, de Enid Blyton.
O livro que gostaria de ter escrito: As vinhas da ira, de John Steinbeck.
Segundo país mais populoso do mundo, a Índia tem números super lativos quando falamos de religiões. A maior é o hinduísmo, com 1 bilhão de fiéis. Em seguida, estão os muçulmanos, com 200 milhões — quase a população total do Brasil. O cristianismo tem 37 milhões de adeptos, seguido por sikhs e budistas, com 20 milhões e 8 milhões, respectivamente.
A
16 CONTEXTUALIZAÇÃO
Entre a tradição e a modernidade
Livro de Thrity Umrigar tem como pano de fundo uma Índia onde os avanços das grandes cidades não chegaram, onde superstições e regras não ditas imperam
* Já escreveu sobre política Sempreerelaçõesbrasileira,internacionaiscomportamento.comumlivronamão,nãodispensaumaleituracomideiasquetranscendemseutempo,detemascomplexosaamenidades.
EDUARDO PALMA*
maior democracia do mundo. Uma potência global em tecnologia da informação, indústria farmacêutica e uma das maiores economias do pla neta. O Taj Mahal, templos e palácios históricos e paisagens exuberantes. Não. Não é dessa Índia que o livro Honra, da jornalista Thrity Umrigar, fala. Também não é da vida metropolitana e multicul tural em cidades como Mumbai, Nova Delhi, Calcutá ou Bangalore.
O romance se passa justamente em uma Índia onde os avanços das grandes cidades não chegaram. Onde tradições, superstições e regras não ditas imperam. Onde mulheres não podem trabalhar fora de casa e onde a religião decide quem é amigo ou inimigo. É essa resistência às mudanças que vemos nas palavras e atos dos irmãos hinduístas Arvind e Govind contra sua irmã Meena, cujos “crimes” foram trabalhar em uma fábrica e se casar com um homem de outra religião.
17CONTEXTUALIZAÇÃO
“A divisão não apenas se aprofundou, ela envenenou nossa sociedade e está mudando para pior, criando consequên cias imprevisíveis e perigos incalculáveis”, escreveu Shashi Tharoor, ex-ministro das Relações Exteriores da Índia, em artigo recente. “O fanatismo se tornou respei tável e a animosidade contra muçulmanos, antes escondida, tornou-se ativo eleitoral.”
HONRA
No livro, Meena é alvo do ódio dos irmãos por, primeiro, decidir trabalhar fora de casa, e depois, se apaixonar e se relacionar com um homem muçulmano. As duas situações são consideradas pela população de seu vilarejo como ataques à honra familiar. O diplomata Fausto Godoy, ex-embaixador do Brasil na Índia e no Paquistão e estudioso do Oriente, conta que, na região, o casamento não é apenas entre pessoas, mas entre famílias. “Quebrar isso é romper com um dos mais profun dos valores hindus e muçulmanos, que é o da família”, diz. O diplomata comenta que não é incomum haver assassinatos motivados pela honra nesses países. Em geral, são crimes cometidos contra inte grantes de suas próprias famílias ou grupos sociais, por terem feito algo que julgam ter desonrado suas comunidades.
" A Constituição indiana, redigida após independência,a em 1949, prevê que o país seja laico, mas isso vem sendo abalado nos últimos anos com discursos nacionalistas e extremistas."
Apesar desse caldeirão cultural e reli gioso, os diversos grupos convivem em relativa harmonia na Índia. A Constituição indiana, redigida após a independência, em 1949, prevê que o país seja laico, mas isso vem sendo abalado nos últimos anos com discursos nacionalistas e extremistas fomentados por lideranças políticas, como o atual primeiro-ministro, Narendra Modi, cujos apoiadores defendem que os hindus prevaleçam sobre os demais grupos.
18 CONTEXTUALIZAÇÃO
Muçulmanos oram em mesquita na região da Caxemira, na Índia Foto: Irumge
RELAÇÕES RELIGIOSAS
Também é possível observar, nas falas dos moradores do vilarejo hindu de Meena, o desrespeito contra os muçul manos. Apesar disso, em muitas regiões, a convivência é pacífica. Os muçulmanos estão presentes aos milhões em todos os estados indianos, transformando o país em uma das nações com mais muçulmanos no planeta. O islamismo chegou ao subcontinente indiano por volta do século VII, quando os árabes conquistaram partes da região e nelas se estabeleceram. Algumas dessas heranças até se converteram em pontos turísticos e carregam a fama da Índia pelo mundo todo, como o complexo do Taj Mahal, que, diferentemente do que se pode pensar, não é hindu.
O primeiro líder do Paquistão, Muhammad Ali Jinnah, traz algu mas explicações para justificar essa divisão: “Hindus e muçulmanos per tencem a duas filosofias religiosas diferentes”, acredita. “Não se casam nem comem juntos e pertencem a duas civilizações que se baseiam em ideias e concepções conflitantes.”
“Chamaram um advogado britâ nico que nunca tinha pisado naquela região para fazer o processo de divi são”, conta Godoy. A “partição” foi violenta e causou a morte de cerca de 1 milhão de pessoas, além de obri gar mais de 14 milhões a deixarem tudo para trás. Esse fato é consi derado uma das maiores crises de refugiados da história. “Essa fronteira malfeita nunca se resolveu. Porque as fronteiras civilizacionais não são fronteiras políticas.”
Em verde, a Índia, de maioria hindu; em laranja, o Paquistão, de maioria muçulmana.
MÚLTIPLOS FATORES
Então, de onde vem o ódio? Não há uma única resposta, mas uma con junção de fatores. O colonialismo britânico, ao fomentar o “dividir para governar”, exacerbou algumas dife renças, avalia Fausto Godoy. Em 1947, o Reino Unido decidiu, com as elites locais, criar dois novos Estados na região: a Índia, de maioria hindu, e o Paquistão, de maioria muçulmana.
19CONTEXTUALIZAÇÃO
O processo traumático impactou profundamente as relações entre Índia e Paquistão, com hostilidades que duram até hoje. Tanto Paquistão quanto Índia têm armas nucleares. Já houve guerra entre os dois paí ses e uma longa disputa armada em torno da região da Caxemira, além de ataques terroristas dos dois lados. Como podemos ler no livro de Thrity Umrigar, os problemas decorrentes desse quadro são per sistentes. A despeito disso, na maior parte do país, imperam a tolerância e o respeito entre as religiões. “A Índia é um estado laico e isso é tão importante que está na introdução da Constituição. É a única maneira de o país conviver pacificamente, um pilar fundador da nação defendido desde os tempos de Gandhi”, finaliza Fausto Godoy.
novembrodezembro
Para quem gosta de: literatura francesa, mistérios, tramas bem-humoradas Nada melhor do que fechar o ano com uma boa comédia romântica, não é mesmo? Escrito por uma autora best-seller do New York Times, o livro de dezembro gira em torno de uma agente lite rária e um editor que se veem envolvidos em uma série de coincidências.
Uma biblioteca de livros recusados é o mote da história que você lerá em novembro, escrita por um autor francês cujas obras já ganharam diversas adaptações para o cinema. Aguarde um romance envol vente e cheio de mistérios.
5. O que você achou do desfecho da trama?
2. Na entrevista da página 12, a autora explica os diferentes sentidos de “honra” em seu livro. Depois de ter lido o livro, quais são as suas impressões sobre as conotações dessa palavra?
3. O que você achou da forma como a autora construiu a história? Acredita que a narração em primeira pessoa nos aproxima mais do drama de Meena?
Para quem gosta de: comédias românticas, romance contemporâneo, livros sobre livros
encontros TAG:
1. Você já sabia dos conflitos religiosos na Índia? Leia a contextualização histórica da página 16 e relacione a matéria com a sua leitura do livro.
Guia de perguntas sobre Honra vemaí
4. Como você enxerga a relação entre Meena e Smita? Converse sobre as diferenças entre elas.
20 AGENDA
“Vivemos em um prédio perpetuamente em chamas, e o que devemos salvar dele, o tempo todo, é o amor.” WILLIAMS
– TENNESSEE