Espelho partido
PREFÁCIO
OLÁ, TAGGER Como são admiráveis as pessoas que não conhecemos bem, diria Millôr Fernandes. O romance que você recebe neste mês aprofunda o insondável que ronda a existência de qualquer família. Por mais pacata que pareça, toda convivência é entrecortada por conflitos. Há lágrimas, arrependimentos, coisas feitas que jamais serão ditas em voz alta – mas que todos sabem, ou ao menos suspeitam. É sobre isso que fala Espelho partido, segunda incursão da TAG à obra da catalã Mercè Rodoreda, já publicada em 2017 com seu A praça do Diamante. Embora menos sonhadora do que a trajetória de Colometa, Rodoreda repete na narrativa, um de seus últimos romances publicados em vida, o tom onírico: dessa vez, o de uma família que se perde em um grande jardim de flores e de expectativas em meio à aristocracia espanhola. Neste prefácio, você conhecerá as duas mulheres que tornaram possível a publicação do mês: Mercè Rodoreda, uma das mais proeminentes escritoras catalãs, e Rosa Montero, espanhola cujas visões sensíveis sobre amor e perda permeiam a indicação desse Espelho partido para a TAG. Boa leitura.
taglivros contato@taglivros.com.br www.taglivros.com
TAG Comércio de Livros Ltda. Rua Câncio Gomes, 571 | Bairro Floresta Porto Alegre — RS | CEP: 90220-060 (51) 3095-5200
junho de 2021
COLABORADORES
FERNANDA GRABAUSKA
RAFAELA PECHANSKY
Editora-chefe
Publisher
ANTÔNIO AUGUSTO
LIZIANE KUGLAND
Revisor
Revisora
PAULA HENTGES
KALANY BALLARDIN
GABRIELA BASSO
Designer
Designer
Designer
Impressão Gráfica Ipsis
Capa Rafael Nobre
SUMÁRIO prefácio
5 O livro indicado
7 Unboxing
9 Perfil Mercè Rodoreda
13 A ridícula ideia de nunca mais te ler
O livro indicado
UM PALÁCIO DE SEGREDOS Implacável no destino de seus personagens, Mercè Rodoreda escreve um tratado sobre a passagem do tempo em Espelho partido
CLARISSA WOLFF
Detalhe do kit Espelho partido Rafael Nobre
Dá para dizer que Espelho partido, de Mercè Rodoreda, começa com uma casa cujas paredes gravam uma genealogia de segredos. Não segredos bombásticos, nada que começaria um ataque nuclear ou que merecesse a capa de um jornal. São segredos cotidianos, que arruinariam, no máximo, uma ou duas famílias. Por décadas, A linha que une tais segredos é composta pelas personagens que viveram nessa casa. “Os segredos de uma família são sagrados”, fala Armanda, a cozinheira, uma das poucas pessoas a testemunhar, ao longo dos anos, todo o desenrolar dessa teia de relacionamentos. A espinha dorsal dessa família é composta por uma mulher ousada e ambiciosa, sua filha fria e indolente, e seu neto de personalidade fraca, enquanto as linhas que ligam e desconectam personagens nessa narrativa com múltiplas perspectivas se estendem por décadas em Barcelona. Ao longo dos anos da Guerra Civil Espanhola e da ascensão de Franco, somos tomados pelos marcos individuais do nascimento, da paixão, da desilusão e da morte. O pano de fundo histórico, porém, é um espelho da experiência própria da autora, que fez parte da onda de autores da esquerda socialista na Catalunha dos anos 1930 e trabalhou na Generalidade da Catalunha no começo da guerra. Durante o franquismo, viu amigos e conhecidos 7
Quer mais razões para ler o livro do mês? A curadora Rosa Montero tem um recado para você. Acesse nosso app pelo QR code:
8
serem torturados e morrerem em campos de concentração. Mesmo assim, a profundidade de sua existência política não é, assim como toda a sua vida, amplamente conhecida. Gabriel García Márquez, que compartilha suas inclinações de esquerda e reflete a temática familiar de Espelho partido em Cem anos de solidão, fala de Rodoreda como uma mulher injustamente invisível. Para ele, além de ter escrito “romances belos e ácidos em um catalão esplêndido raramente encontrado na literatura”, a autora tem uma singular lucidez sobre processos subconscientes da criação literária, o que é possível perceber no prólogo dessa história. “Escrevo porque gosto de escrever”, fala Rodoreda nessas páginas iniciais, uma expressão pura de alegria artística muito diferente do gênio insolente encontrado em frases de outros autores. É com intimidade que fala sobre sua escrita e, principalmente, seus personagens. Ao ler, nos tornamos íntimos também, cúmplices, quase parte dessa família. É só na hora de decidir os destinos de cada um que a autora se torna implacável. A fúria de sua voz também é capaz de encontrar doçura em certos momentos da narrativa, incitando ainda mais a curiosidade sobre as paredes de segredos da vida da própria autora. O que sabemos ainda é - e talvez sempre seja - limitado, e, pouco a pouco, seu passado se transforma em ruínas, vivendo, assim como a história, uma espécie de gentrificação da memória. Seus livros, na contramão, são eternos, e ainda hoje Mercè Rodoreda é a autora mais traduzida da literatura catalã. Espelho partido é seu romance mais ambicioso, finalizado quando voltou à Catalunha depois de três décadas de exílio na França e na Suíça. Apesar de ter sido publicado há quase 50 anos, com um recorte específico da história do mundo, os reflexos das relações interpessoais permanecem atuais. Reafirmando a clássica frase de abertura de Anna Kariênina, de Tolstói, sobre as diferenças de famílias infelizes, constatamos que as mudanças políticas, tecnológicas e sociais pouco afetaram detalhes das nossas relações pessoais. Famílias são, ao longo do tempo, um núcleo que, quando quebrado, pode se tornar radioativo. Felizmente, todos os efeitos colaterais do livro são muito bem-vindos.
Unboxing
MIMO Na toada das relações familiares que permeiam Espelho partido, o mimo do mês é um álbum de fotos suntuoso como os Valldaura em seu apogeu. O design foi desenvolvido por Rafael Nobre, que assina o projeto de todos os materiais deste kit. O álbum, de capa dura, é acompanhado por adesivos que simulam cantoneiras para que os taggers possam guardar suas memórias de forma especial. Em suas páginas, você lê frases a respeito de memória e passagem do tempo, em relação direta com a história do livro.
9
Unboxing
PROJETO GRÁFICO
A simbologia trazida pelo título do livro foi o ponto de partida para que o designer Rafael Nobre pensasse o projeto gráfico de Espelho partido. "Quando a personagem quebra o espelho, ela se questiona acerca daquilo que vê e das suas lembranças", diz Rafael, que lembra a passagem do livro: “Os pedaços de espelho, desnivelados, refletiam as coisas tal como eram? E, de repente, em cada pedaço de espelho viu anos de sua vida passados naquela casa.” Rafael se questionou se é na imperfeição que um ser humano se revela – e, seguindo o fio da imperfeição, chegou ao movimento cubista, que preza por representações impactantes pois justamente imperfeitas. "O cubismo tem como característica não ser fiel à aparência real das coisas, tenta ver além das aparências", explica. A tipografia escolhida soma-se à intenção de uma composição fragmentada e conflituosa.
10
Perfil
"ESCREVO PORQUE GOSTO DE ESCREVER" Uma infância solitária e a fuga do mundo real para a literatura: para Mercè Rodoreda, o mundo sempre esteve nos livros
MARIANA FERRARI
Fundação Mercè Rodoreda
A fuga necessária para existir em um mundo que mais parecia sufocar levou Mercè Rodoreda ao infinito mundo das palavras. Foram elas, as mazelas da vida, que a fizeram fugir da rotina em carne e osso, por assim dizer, para a literatura. Nascida em 1908, em Barcelona, Mercè era uma criança isolada e, muitas vezes, solitária. Filha única de uma família tradicional, tinha como companhia somente os pais e, principalmente, o avô materno, Pere Gurguí. A falta de convivência com crianças deu-se, sobretudo, pelo pouco convívio escolar – frequentou as salas de aula somente entre os sete e os dez anos de idade. 11
Quem trouxe a ela a apreciação dos pequenos fascínios da vida foi o avô. Pere ensinou à pequena e solitária Mercè a graça do universo literário e o amor pelas flores — ensinamentos que ela carregou consigo até o fim de sua vida, aplicando-os em sua obra. Desde a infância, sua formação intelectual foi acompanhada pelas obras de autores catalães como Jacint Verdaguer, Ramon Llull, Joan Maragall, Josep Maria de Sagarra e Josep Carner. E foi a morte do avô que trouxe o caos à vida da jovem pela primeira vez. Cedo, aos 12 anos, ela perde o brilho infantil e passa a carregar dores intensas que jamais lhe deixariam a alma. É como se, já aí, dilacerada pela perda, ela reconhecesse sua natureza artística. Encaixa-se aqui uma perfeita citação de Machado de Assis, retirada do conto “O espelho”: “Quem perde uma das metades, perde naturalmente metade da existência; e casos há, não raros, em que a perda da alma exterior implica a da existência inteira”. Depois da morte de Pere Gurguí, as adversidades tornaram-se ainda mais enraizadas na alma da escritora. Aos vinte anos, casou-se com o tio materno, Joan, quatorze anos mais velho, em um casamento que, dada a consanguinidade, necessitou de licença papal. Da união, nasceu Jordi Gurguí i Rodoreda, filho único do casal. Com a vida de casada tomando a sua rotina, Mercè vê-se na necessidade de arrendar fundos monetários para, aos poucos, tentar desatrelar-se financeiramente do marido. É quando a escrita chega como a parte que faltava para engrenar, preencher dias tão vazios. As palavras tornam-se, então, o seu ofício: Mercè colabora com jornais e revistas importantes da época, escreve peças, contos, e aventura-se no mundo da prosa. Em 1932, publica o seu primeiro romance, Sóc una dona honrada? (em tradução direta: "Sou uma mulher honrada?", sem publicação no Brasil). Dois anos depois, volta ao mercado editorial com o livro que começou a semear seu nome, a coletânea de contos Del que hom no pot fugir (“Daquilo que não se pode fugir”, também sem publicação no Brasil) — obra que lhe garantiu o Premi del Casino Independent dels Jocs Florals de Lleida. Mercè acabaria por desconsiderar seus primeiros trabalhos, algo não raro entre autores que, diante de uma produção longa, acabam por rever a 12
inexperiência dos primeiros anos. Somente em meio à Guerra Civil Espanhola, já cimentada nos cenários acadêmico e literário catalão, ela começa a se reconhecer como uma madura e experiente escritora. Nessa época, em 1937, ganha um dos prêmios de maior prestígio de Barcelona, o Premi Joan Crexells, com o romance Aloma. Sua carreira, começa então, a deslanchar — até o momento em que é obrigada a partir para o exílio, em 1939.
(E) A autora participa de inauguração de placa alusiva a seu romance A praça do Diamante em Barcelona 13
Cumprindo um conselho da mãe, ela deixa Barcelona e busca refúgio em Paris. Ao chegar na cidade, no entanto, não encontra a paz:: Mercè precisa mudar-se para o interior do país em uma nova fuga — agora dos nazistas, durante a Segunda Guerra Mundial. Mesmo em meio ao caos, a produção literária jamais ficou em segundo plano. Aventurou-se no teatro e também na poesia. Em 1962, ela publica um de seus mais consagrados romances: A praça do Diamante, enviado aos assinantes da TAG em dezembro de 2017. Com ele, ganha o prestigioso prêmio Sant Jordi. Ao publicar Espelho partido, obra que você recebe este mês, a autora escreveu, no prefácio, sobre a sua literatura: “Escrevo porque gosto de escrever. Se não achasse exagerado diria que escrevo para gostar de mim própria. Se, aliás, daquilo que escrevo gosta outrem, melhor. Talvez seja mais profundo. Talvez escreva para afirmar-me a mim própria. Para sentir o que sou... E acabo. Falei de mim e de cousas essenciais na minha vida, com uma certa falta de mesura. E a desmesura sempre me fez muito medo”. A escritora morreu em 1983, vítima de um câncer no fígado. Deixou um legado de mais de vinte importantes prêmios literários. Anos mais tarde, em 1998, a academia daria o nome de Mercè ao que até então era o prêmio Victor Català, reconhecendo a importância da autora para a literatura mundial.
14
Perfil
A RIDÍCULA IDEIA DE NUNCA MAIS TE LER THIAGO SOUZA
Dizem que é a louca da casa. E não há aqui nenhum traço de ofensa, nem mesmo de reducionismo: o que, à primeira vista, pode parecer um termo machista, que faz a mulher duvidar da sua sanidade mental e a coloca no léxico do ambiente doméstico, é, na verdade, o epíteto provocativo de uma autora que tem se dedicado a escrever sobre as mulheres e sobre feminismo, buscando reparar desigualdades e dar o devido crédito a mentes femininas brilhantes ofuscadas por uma sociedade patriarcal. Foi com A louca da casa que Rosa Montero passou a ganhar leitores no Brasil. Mistura de relato autobiográfico, autoficção e tributo à literatura, o livro (enviado pela TAG em 2016) celebra aquilo que Santa Teresa de Jesus chamou de "a louca da casa": a imaginação. Para Montero, os seres humanos são, acima de tudo, romancistas, autores de um romance único cuja escrita dura toda a existência e no qual assumimos o papel de protagonistas. 15
Trazendo grandes mentes femininas esquecidas para o repertório de seus leitores, Rosa Montero coleciona prêmios por sua escrita Unai Arnaz
16
O escritor é um ser que nunca chega a ficar adulto, segundo Martin Amis, recordado no texto de Montero para dar conta daquilo que ela chama de “inventar a si mesmo”. A imaginação, tão potente na infância e amiga de uma vida inteira para os escritores, é a responsável inclusive pelas nossas lembranças, que são inventadas: “É uma escrita, naturalmente, sem texto físico, mas qualquer narrador profissional sabe que se escreve sobretudo dentro da cabeça”. Para quem gosta de ler, e sobretudo de ler como quem escreve, o texto é uma deliciosa viagem pelos mecanismos criativos de Montero, plenamente consciente de suas técnicas. Nascida em 1951, em Madri, a escritora espanhola construiu uma sólida carreira como jornalista, chegando a ser editora-chefe do jornal El País, com o qual colabora até hoje no cargo de colunista. Seus textos são bastante conhecidos dos leitores latino-americanos e sua habilidade em conduzir entrevistas é reconhecida a ponto de ser estudada em faculdades de comunicação da Espanha e
Rosa Montero, curadora do mês CC BY-2.0
da América Latina. Também deu aulas em universidades americanas, lecionando Escrita Criativa, e de Madri, onde ensinou Jornalismo e Literatura. Em 2017, venceu o Prémio Nacional de las Letras Españolas. Lançado recentemente (no Brasil, pela editora Todavia), A ridícula ideia de nunca mais te ver voltou a espalhar o nome de Rosa Montero pela crítica do país. Alternando entre história pessoal e coletiva, o livro é uma meditação sobre o luto – mas também sobre a vida – e o apagamento das mulheres. Montero parte do diário de Marie Curie, única pessoa a vencer o prêmio Nobel por áreas distintas do conhecimento (Física e Química), para falar da morte do marido – o dela, vítima de câncer; o de Curie, atropelado por uma charrete – e de como o baile, apesar dos pesares, precisa seguir. “Como não tive filhos, o mais importante que me aconteceu na vida são meus mortos”: se engana o leitor que vê nessa primeira frase o prelúdio de páginas tristes; ao contrário, A ridícula ideia de nunca mais te ver é luminoso e delicado, sem, no entanto, esconder que viver, às vezes, dói. Nós, mulheres é a mais recente publicação de Montero no Brasil e, mais uma vez, um esforço feminista para lembrar de mulheres incríveis que não têm o reconhecimento que merecem. Viciada em biografias, que ocupam boa parte das estantes da sua casa, ela compôs um livro que traz histórias inspiradoras de mulheres, umas tantas conhecidas do grande público (como Frida Kahlo e Simone de Beauvoir), outras tantas não, mas igualmente notáveis (como Mary Anning, primeira paleontóloga da História, e Juana Azurduy, que liderou exércitos contra os espanhóis), em quem Montero lança luz – uma luz própria e encantadora, de quem sabe contar histórias como ninguém. 17
AVANÇANDO NA LEITURA Ao chegar à página dupla que separa prefácio e posfácio, gire a revista no sentido inverso.
Recomece a leitura a partir da contracapa e divirta-se! Não esqueça de destacar a ilustração colecionável.
Ilustração do mês Julia Back é catarinense radicada em Porto Alegre. Nascida em 1987, é ilustradora autônoma com formação e passagem pelo design gráfico. Seus projetos vão do digital à pintura a óleo, de paredes à pré-produção de animação. Destaca-se por sua curiosidade, criatividade e qualidade técnica, construídas através de uma exploração incessante de cores, materiais e assuntos. Cada novo projeto, diz ela, é uma razão para seu mundo girar. Conheça mais: instagram.com/juliaback.illustration A pedido da TAG, Julia retratou o palacete dos Valldura em dois momentos extremos: glória e decadência. 18
Espelho partido
POSFÁCIO
OLÁ, TAGGER A vida familiar é repleta de desafios. E é próprio da literatura se alimentar do desafio da existência humana – como você bem viu em Espelho partido. Por trás de uma fachada ajardinada, repleta de toda a felicidade que o dinheiro pode comprar, os Valldaura enfrentaram intriga, traição, inimizades, amores proibidos... como, convenhamos, quase toda família do mundo. E se há quem se esforce em pintar uma imagem perfeita para a suposta plateia do universo, há na ficção uma série de autores que nadam de braçada na miséria alheia. É deles que fala o repórter Thiago Souza neste posfácio: cada núcleo familiar tem uma tragédia particular – e que delícia é poder acompanhar essas histórias bem escritas na página de um livro, a coisa mais próxima da vida! E que mal pode fazer falar o idioma de sua terra natal? Na época de Mercè Rodoreda, todo: defensora ferrenha do catalão, idioma em que escreveu sua obra completa, a autora foi vítima de perseguição da ditadura franquista, precisando deixar a Catalunha pela França por muitos anos. Para recordar os anos de proibição do catalão e a violência sofrida pelo movimento que pede a autonomia da região, conversamos com dois professores universitários a respeito do idioma e da cultura catalães. Boa leitura!
"Todas as famílias felizes se parecem, cada família infeliz é infeliz à sua maneira." TOLSTÓI, Liev. "Anna Kariênina"
SUMÁRIO posfácio
4 Idioma que existe e resiste
9 A coisa mais próxima da vida
14 Crítica Onde foi parar tudo que era bonito?
Reportagem
IDIOMA QUE EXISTE E RESISTE Falar o catalão de Mercè Rodoreda já foi crime, você sabia? Conversamos com alguém que viveu essa época: radicado no Brasil há quatro décadas, o professor José Blanes Sala, especialista em Relações Internacionais e Políticas Públicas, conta
HENRIQUE SANTIAGO
4
José Blanes Sala cresceu em meio ao fascismo, quando ainda nem sequer sabia o significado da palavra. Nascido em 1958 na cidade de Sabadell, Catalunha, o professor da Universidade Federal do ABC (UFABC) estranhava a ausência da língua catalã em cada esquina da cidade onde nasceu. Mas havia um porquê. Naquela época, o general Francisco Franco Bahamonde comandava a Espanha como manda a cartilha de um ditador: com repressão, violação aos direitos humanos e ataques a minorias sociais. Embora já enfraquecido no fim da década de 1950, o franquismo ainda se fazia presente no dia a dia em território espanhol. Ainda pequeno, Blanes Sala olhava ao seu redor e via um mundo em castelhano. As ruas não tinham nomes
em catalão – os livros e a televisão em preto e branco não tinham uma fagulha sequer da Catalunha. A única exceção eram as conversas dentro de casa, quando podia, junto com sua família, conversar sem medo de ser sufocado pelos generais. Seu primeiro contato com a língua catalã para além das conversas com a mãe e o pai foi com a leitura de uma revista infantil. A Cavall Fort nasceu na clandestinidade, no início dos anos 1960, e era enviada diligentemente à casa da família Sala. “Meu pai me dizia que assinava por isso, isso e aquilo. A revistinha chegava em um envelope, bem fechadinha, e eu lia”, recorda. O professor passou mais ou menos 15 anos de sua vida proibido de se expressar como queria, até a queda do ditador Franco, em 1973. Ao final daquela década, ele veio ao Brasil – de uma ditadura para outra – para estudar Direito, mas não deixou para trás as raízes catalãs. Blanes se especializou em Relações Internacionais e Políticas Públicas. Foi aqui, aliás, que leu um exemplar de Espelho partido, de Mercè Rodoreda, enviado por parentes de Sabadell. Para ele, a história da Catalunha é marcada pela resistência desde muito cedo, com destaque para a dinastia Bourbon, no século 18, durante a Guerra da Sucessão Espanhola. Em 11 de setembro de 1714, o território cai diante dos Bourbon, e tem início um período de perseguição marcado por tentativas de banir o idioma daquele território, com condenações à morte para quem ousasse resistir e valorizar suas raízes identitárias. “Enquanto houver pessoas que têm o catalão como língua materna, é metafisicamente impossível eliminá-la. Resistir é manter a sua identidade, e sua identidade passa pela língua”, declara. Ao pincelar momentos da história, Blanes alude a um passado recente: em 2017, os moradores da Catalunha votaram em maioria pela independência da Espanha. Algo que, na prática, está distante de acontecer, lamenta ele – a violência ganha outras formas no século 21. Um dos flagelos impostos atualmente aos catalães é a perseguição à arte. É o caso do rapper Pablo Hasél, preso em fevereiro de 2021 por criticar em suas músicas a monarquia da Espanha. O professor da UFABC assinala que a luta 5
O regime franquista, ao qual José Blanes Sala se refere, foi um sistema político ditatorial adotado na Espanha após a tomada do poder pelo general Francisco Franco (na foto, com sua mulher Carmen Polo em 1941). Entre 1936 e 1975, a aplicação de um modelo fascista suprimiu direitos da população, atacou minorias sociais e proibiu, entre outras coisas, o uso do catalão como língua.
6
(E) Edifício residencial repleto de bandeiras catalãs em Barcelona. Davis Bueso.
da Catalunha é marcada pela preservação de sua história. Reivindicar suas origens é um desafio e tanto em meio à globalização que vive o território autônomo, sobretudo pela revolução vivida em Barcelona, cidade que é referência no futebol, na arquitetura e na arte. Barcelona pode receber (ou ter recebido, aliás, tendo em vista a pandemia) milhões de turistas de todo o mundo, assim como abrigar imigrantes de dezenas de países. Mas a sua essência se faz presente, por exemplo, no resgate das tradições, como os castells - a construção de castelos humanos. “Isso faz parte da identidade, não é só uma questão étnica, é uma forma de viver.” A luta pela independência catalã pode sugerir aos mais desavisados uma tendência nacionalista voltada para o tradicionalismo conservador, como visto na Itália e na França. Mas Blanes alerta que o oposto acontece de Sabadell a Barcelona: trata-se de uma história em consonância com a ação de resistir. O professor se diz um progressista-separatista, alinhado com o movimento independentista catalão. “Nós não temos nada a ver com a direita, conservadorismo ou xenofobia. Quem não gosta de imigrante é a extrema direita do Vox (partido político que abraça ideias fascistas). O que alimenta a Catalunha é o progressismo”, declara. Para ele, é impossível não se orgulhar de sua história de resistência. Ele conta, aos risos, ter assistido ao Eurovision, tradicional competição de música transmitida na TV, em 1968. Naquele ano, o intérprete Joan Manuel Serrat havia sido selecionado para interpretar a canção La, la, la. Ele só tinha uma condição: cantar em catalão, de acordo com a composição original. O general Franco, claro, eliminou qualquer possibilidade disso acontecer. Em seu lugar, Massiel, uma cantora de pouca expressão naquela época, substituiu Serrat e apresentou a música em castelhano. Os versos eram os mesmos, apenas o idioma era outro. Resultado: ela ganhou o festival. “Eu lembro como ontem”, finaliza o professor, que hoje se considera metade catalão, metade brasileiro.
7
Perguntas e respostas
Com Vicent Climent-Ferrando, doutor em Política e Ciências Sociais pela Universidade Pompeu Fabra, de Barcelona TAG - Como as tensões linguísticas históricas do catalão se refletem hoje na região da Catalunha, especialmente em Barcelona? Vicent Climent-Ferrando: As tensões do ponto de vista social são inexistentes. As pessoas falam catalão, espanhol ou ambas as línguas. Quase cem por cento da população sabe ler, entender, escrever e falar espanhol. Em contraste, os números para o catalão são muito mais baixos. O objetivo principal é que todos conheçam as duas línguas. Para isso, é promovida a língua catalã como língua autóctone, língua histórica e língua oficial da Catalunha. Como o contexto político institucional – e aqui estou falando sobre a proibição do uso do catalão na ditadura de Franco e a luta pela independência da Catalunha – contribui para o fortalecimento (ou não) dessa língua? A ditadura já passou, é história. No entanto, existem muitas mentalidades (ideologias linguísticas) que consideram que o espanhol deve ser a língua que todos devem conhecer e que o catalão deve ser opcional. Para um idioma, eles consideram um “dever”; para o outro, “uma opção”. Da administração pública, o que se tenta é que todos conheçam ambas as línguas, não apenas uma. O catalão é uma língua basicamente restrita à Catalunha. Como é possível manter tradições tão importantes em um mundo de constantes mudanças na forma de se comunicar? O catalão é falado por 10 milhões de pessoas (Catalunha, Valência, Ilhas Baleares, Andorra, sul da França etc.). O número de falantes não deve ser uma forma de "medir" um idioma, senão todos devemos falar inglês, chinês e espanhol. A língua [catalã] é uma língua oficial, é uma língua muito vital, é usada na universidade, na administração, nas lojas etc. É uma língua muito viva, com uma literatura muito vibrante, com uma história passada e sobretudo com muita vitalidade futura. 8
Para ir além
A COISA MAIS PRÓXIMA DA VIDA Afeita a embelezar derrotas, a literatura é repleta de núcleos familiares esfacelados
THIAGO SOUZA
“Lá vai o autor do texto buscar a origem de alguma coisa nos gregos”, talvez você pense ao começar a ler este texto aqui, mas, bem, neste caso pode-se dizer que o exercício é incontornável: não tem como tratar de derrocadas familiares na literatura sem partir de Édipo, a tragédia de Sófocles. Freud se inspirou na peça para batizar o amplamente conhecido complexo de Édipo, prova de que a obra é uma das histórias mais fundamentais do pensamento ocidental. “Todas as famílias felizes se parecem, mas cada família infeliz é infeliz à sua maneira”, escreveu Tolstói na abertura de Anna Kariênina. Com os russos, a gente tem um bocado a aprender, a exemplo do que acontece com os gregos. Então, com esses dois clássicos em mente, podemos continuar. 9
Na trama de Édipo, o protagonista homônimo é condenado à morte, ainda criança, pelo pai, que recebeu a profecia de que o filho um dia o mataria e seduziria a própria mãe. Para não correr o risco de ver a profecia se cumprir, o pai ordena que um pastor leve Édipo para o campo e, depois de amarrá-lo, deixe-o pendurado numa árvore para ser devorado pelas feras. O pastor, compadecido, desobedece às ordens do rei e leva o menino para sua casa. Por não ter dinheiro, a família do pastor não consegue ficar com Édipo, que acaba indo viver com o rei Políbio. Quando cresce e descobre que é adotado, a profecia se cumpre: Édipo mata o pai biológico. Em seguida, desposa a própria mãe, Jocasta, com quem tem quatro filhos. Quando se dá conta de que seu destino se realizou, num ato de desespero, arranca os olhos e diz que não quer ser testemunha da própria desgraça. A esposa/mãe comete suicídio. É o mesmo fim de Anna Kariênina, que vai parar nos trilhos do trem. O romance russo tem num casamento fadado ao fracasso e nas convenções sociais que o sustentam o pano de fundo que obriga uma família a manter uma aparente normalidade embora todos estejam infelizes com os rumos da vida. Ainda que fissuras familiares possam ser suportadas pela via do estoicismo, é ingenuidade imaginar que a boa literatura não vá privilegiar as histórias daqueles que não aguentam e sucumbem, derrotados pelas circunstâncias, que é como a vida é. A literatura é a coisa mais próxima da vida, disse o crítico James Wood. *** Em Espelho partido, Mercè Rodoreda usa uma imagem que é quase literal: o palacete que abrigou os segredos inconfessos de gerações de uma família vai ruindo, entregando-se conforme o tempo passa e as inquietações vão minando as estruturas que um dia já sustentaram os Valldaura. Acompanhando a saga da família da elite de Barcelona desde meados do 10
século 19 até pouco depois de terminada a Guerra Civil Espanhola (1936-1939), o romance termina com um olhar inusitado de uma ratazana sobre as ruínas – da casa, mas não só. Há nesse final um paralelo possível com o fim da saga dos Buendía em Cem anos de solidão, quando as formigas se apoderam da história de uma família. Dizem que Gabriel García Márquez se baseou na estrutura de O tempo e o vento, de Erico Verissimo, para compor o seu romance. O épico de Verissimo traça o processo de formação cultural e sociopolítico do Rio Grande do Sul, narrando todas as desventuras das gerações dos Terra Cambará, família que habita o imaginário gaúcho. São sagas familiares que dialogam com o livro de Rodoreda não só por terem a política como elemento da trama mas também por usarem dramas de família para emoldurar e tratar de períodos históricos. ***
“AINDA QUE FISSURAS FAMILIARES POSSAM SER SUPORTADAS PELA VIA DO ESTOICISMO, É INGENUIDADE IMAGINAR QUE A BOA LITERATURA NÃO VÁ PRIVILEGIAR AS HISTÓRIAS DAQUELES QUE NÃO AGUENTAM E SUCUMBEM.” 11
Natalia Ginzburg escreveu um livro tão bonito sobre o avanço do fascismo na Itália que o medo crescente daqueles dias é eclipsado, mas não apagado, pelos diálogos nem sempre literais com a mãe, pelos gritos do pai, pela distância que aquele núcleo tentava manter com a maldade à espreita lá fora. Léxico familiar trabalha com os silêncios, com todos os silêncios que a gente começa a perceber que formam a sintaxe de todas as famílias, em todo tempo. É o silêncio que assume o protagonismo no romance brasileiro mais comentado dos últimos tempos. Torto arado, de Itamar Vieira Junior, faz do silêncio entre duas irmãs com um trauma em comum o fio condutor de uma família unida, mas vencida pela violência dos poderosos – marca de um país que não respeita suas origens. Não à toa, o livro já conquistou status de clássico, celebrando a ancestralidade do povo negro, de quem as terras foram, ao longo da história, sendo tomadas. Uma família que cresce tendo o chão que pisa como marco fundamental do afeto que os une vê como a exploração da sua mão de obra será a constante do porvir. *** Chegamos aos dias atuais, aos livros com tramas mais contemporâneas em que o conceito de drama de família já é outro – mais largo, mais abrangente, mas não menos trágico e carregado de conflitos. Dias de abandono, romance de Elena Ferrante, atualiza a história da mulher abandonada pelo companheiro – enredo bastante conhecido – com uma inflexão importante: o que agora se 12
apresenta às mulheres como problemas mais urgentes, quando se colocam como protagonistas de suas vidas? Se antes a mulher sentia o peso de ficar à deriva do ponto de vista financeiro ou temia ser depreciada por toda a sociedade, agora ela se pergunta o quanto de si ela vinha silenciando para manter o relacionamento, apagando sua identidade, seus talentos, suas potencialidades para acomodar o ego do homem que foi embora – ela tem a convicção de que se livrou de alguma coisa ruim. A literatura de Ferrante, ao discutir temáticas como o feminismo, encontra eco no projeto literário de Michel Laub, que investiga como traumas históricos afetam a vida pessoal do indivíduo. A ferida coletiva aberta pela História atravessa gerações familiares quase como um código genético. É o que acontece em Diário da queda, um dos grandes romances brasileiros da década passada, narrado pelo neto de um sobrevivente do Holocausto que escapou de Auschwitz fugindo para o sul do Brasil. Por mais que a história do avô pareça ter acontecido em um mundo que não existe mais, o narrador sente que ela também é sua. Logo no começo do livro, ele diz: “Eu também não gostaria de falar desse tema”, afirmando que o cinema, a literatura, o jornalismo já o fizeram à exaustão e que “nem por um segundo me ocorreria repetir essas ideias se elas não fossem, em algum ponto, essenciais para que eu possa também falar do meu avô, e por consequência do meu pai, e por consequência de mim”.
13
Crítica
ONDE FOI PARAR TUDO O QUE ERA BONITO? Metáfora do Tempo em sua tríplice espiral de sobra, lixo e praga, Espelho partido é o que ficou entregue aos ratos
TATIANA CRUZ
14
Os ratos são um dos inimigos mais antigos – e odiados – da humanidade. Difíceis de serem derrotados, demandam atenção constante. O horror aos roedores é descrito inclusive em passagens da Bíblia datadas de há cerca de 3 mil anos,em que são classificados como animais impuros, dos quais se deve manter distância. Sabe-se, no entanto, que a existência do homem organizado em cidades, paradoxalmente, denota a existência de ratos – desde a criação das primeiras urbes, há 10 mil anos, esses animais se nutrem de sobras da alimentação humana. A sociedade e seus excessos são, ao mesmo tempo, vida e morte para os ratos. Há quem ostente, encha a barriga e durma tranquilo, e há quem viva como sentinela para organizar sobra-lixo-praga. Em Espelho partido, a empregada Armanda é o elo
entre a sobra, o lixo e a praga. E o próprio livro é a narrativa dessa trindade. Sobra-lixo-praga poderia também ser a tripla hélice do DNA do tempo, em giro, roendo tudo. “Onde tinha ido parar tudo o que era bonito?”, pensa Teresa de Goday no leito de morte, com as costas em ferida, as mãos tocando a barriga flácida, as pernas imóveis de doença e líquidos que vazam. Ela relembra a juventude de cintura de vespa, dos olhos que eram fogo, dos amores e amantes, de um jardim em cor e de uma casa que era cheia de segredos, quando segredos ainda eram bonitos. Mercè Rodoreda nos apresenta uma obra polifônica. Com maestria, conduz o foco narrativo sob diferentes perspectivas, modulando a voz de forma com que nos aproximemos da cena pelos olhos e sensações ora de uma mulher da alta sociedade, ora de uma criança, ora de uma empregada... até o desfecho, narrado por uma ratazana. Não vemos apenas as coisas – palacete, penas de pavão, heras vermelhas, forquilhas cheias de musgo, sangue em tudo, os poentes e os lilases floridos -, vemos o próprio passar do tempo em giro, um espelho partido que mais parece um caleidoscópio em movimento. O que era bonito, entendendo-se aqui o bonito sob o ponto de vista de Teresa – as joias, os jardins floridos, o acúmulo de prazeres, doces, beijos e vinhos (sem contar a pilha de segredos sob o tapete) –, vai se amontoando. Quando se é criança e empregada, em uma época folhetinesca como a que vivem os Valldaura, a vida dos adultos, do senhorio é um segredo. Sabe-se de tudo em partes. Um espelho partido tal qual o que a autora coloca nas mãos de Armanda ao revisitar o palacete abandonado, prestes a ser entregue aos ratos. A empregada que viveu o esplendor da família quando nasceu o primeiro filho de Eladi e Sofia, a funcionária que vivia às voltas com a gaiola dos faisões, que tinha os próprios segredos com o senhorzinho, que tudo ouvia e que pensava: “os segredos de uma família são sagrados” – essa empregada nos leva ao desfecho, em um passeio pelos reflexos estilhaçados daquela casa. 15
É importante olhar Espelho partido do ponto de vista do tempo, encarando-o como personagem da trama, concretizado através do objeto arruinado nas mãos de Armanda e que dá nome ao livro. O romance desenha o tempo em metamorfose por meio de sobrenomes, corpos, paisagismos, arquiteturas, História. A ação do tempo transforma, e o que fica perceptível é sua ferocidade em relação ao acúmulo. Há acúmulo de segredos, e eles transbordam em todas as mortes. Há acúmulo de comida, que é acúmulo de lixo, que é o acúmulo de ratos que Armanda passa tentando espantar do palacete. Armanda parece passar a vida de sentinela comandando Miquelas, Lluïsas, Simonas, Cristinas, Felícias, Olívias… para afastar as pragas, as fofocas, tudo que atrapalhe o sagrado manto do segredo das famílias. Trabalha para evitar que as sobras apodreçam. No final, porém, incide soberano o tempo, personagem que se aproxima sorrateiro feito ratazana e vai roendo tudo – as sobras, os palacetes, as fotografias, até roer o próprio tempo.
“TERESA RELEMBRA A JUVENTUDE DE CINTURA DE VESPA, DOS OLHOS QUE ERAM FOGO, DOS AMORES E AMANTES, DE UM JARDIM EM COR E DE UMA CASA QUE ERA CHEIA DE SEGREDOS, QUANDO SEGREDOS AINDA ERAM BONITOS.” 16
Próximo mês
VEM POR AÍ O autor de julho, Mia Couto Fronteiras do Pensamento
No nosso aniversário, quem é tagger recebe romance inédito do moçambicano Mia Couto. Precisa de mais? O mimo, como sempre, é super especial. Para quem gosta de ler: #dramafamiliar, #memória, #literaturaafricana, #novoshorizontes Em agosto, Jeferson Tenório indica as memórias de um escritor queniano que, mesmo em meio às adversidades, faz de tudo para cumprir uma promessa feita à mãe. Para quem gosta de ler: #superação, #literaturaafricana, #memória
Quer descobrir mais O curador de agosto, Jeferson Tenório Carlos Macedo
sobre as próximas surpresas? Acesse o nosso app! 17
Loja