Eu não sei quem você é
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março de 2021
COLABORADORES
FERNANDA GRABAUSKA
RAFAELA PECHANSKY
LAURA VIOLA HÜBNER
Editora-chefe
Publisher
Assistente
SOPHIA MAIA
CAROLINE CARDOSO
PAULA HENTGES
Assistente
Revisora
Designer
KALANY BALLARDIN
GABRIELA BASSO
Designer
Designer
Impressão Impressos Portão
Capa Luísa Zardo
OLÁ, TAGGER A obra deste mês traz uma temática extremamente sensível e que pode doer a fundo em quem viveu situações similares. Trata-se de uma acusação de estupro que rompe a amizade de muitos anos entre duas mulheres, colocadas em lados opostos por acusadora e acusado – no caso, os filhos delas. Por isso, nessa revista nós tentamos ser sensíveis: aqui, falamos da trajetória da autora Penny Hancock, apresentamos as Fenlands, na Inglaterra, onde a história acontece, e falamos da evolução do movimento anti-abuso. O #MeToo, lançado nos Estados Unidos, ganhou o mundo e ampliou a sinceridade na discussão do assédio e a punição a seus perpetradores. Esperamos poder ser, mais do que nunca, um ótimo ponto de apoio para a sua leitura. Boa leitura!
SUMÁRIO 5 O livro indicado
7 Paixão pelas relações humanas
9 Unboxing
10 A dimensão do assédio
12 Welcome to the Fens
16 Para debater o abuso
20 Próximo mês
O livro indicado
OS DEFEITOS DOS NOSSOS AFETOS Penny Hancock escreve um thriller sobre amizade, dúvida e sobre até onde vamos por aqueles que mais amamos
DÉBORA SANDER
Quais são os valores que orientam a sua vida? Aqueles que lhe indicam o caminho quando você se pega diante de um dilema moral, que lhe ajudam a responder à pergunta “o que eu faria nesta situação”? Quais princípios são valiosos e inegociáveis para você? No livro deste mês, você vai conhecer Holly Seymore. Desde os tempos de faculdade, ela se dedicou ao debate sobre consentimento sexual. De voluntária em organizações de acolhimento a vítimas de violência sexual a ministrante de palestras sobre consentimento, a protagonista de Eu não sei quem você é investiu boa parte do seu tempo e da sua energia em defender a credibilidade das mulheres que denunciam os abusos que sofreram e a ideia de que todos os homens são potenciais abusadores. Até o dia em que seu filho, Saul, é acusado de ter estuprado Saffie, sua afilhada de coração e filha de sua melhor amiga Jules. Quando nossas convicções mais profundas entram em choque com nossa afetividade, quem de nós consegue permanecer lúcido e coerente? Com a acusação, Holly se vê em um beco sem saída de conflitos internos: como acreditar que seu filho 7
poderia ter feito algo tão terrível, se a temática do consentimento sempre foi um assunto corriqueiro em casa? E como sustentar dúvidas em relação à acusação, quando isso significaria contradizer todos os princípios que ela sempre defendeu? Ainda: como lidar com esses conflitos sem criar mais um atrito com sua amiga mais próxima? Organizado em capítulos que alternam entre o ponto de vista de Holly, narrado em primeira pessoa, e o de Jules, em terceira pessoa, Eu não sei quem você é mantém o leitor envolvido do início ao fim, mobilizado pelas angústias das personagens. Ao ler as densas reflexões de Holly e Jules, cada uma lidando com o seu lado da situação, você pode até simpatizar mais com uma delas, mas certamente será também deslocado de suas convicções e confrontado com seus próprios dilemas.
A OBRA DA ESCRITORA INGLESA PENNY HANCOCK NOS CONVIDA A ROMPER COM OS IDEAIS QUE CONSTRUÍMOS DAS PESSOAS QUE AMAMOS E A ACOLHER A COMPLEXIDADE DAS NOSSAS PRÓPRIAS AÇÕES QUANDO OS PRINCÍPIOS QUE ESTRUTURAM NOSSA IDENTIDADE SÃO AMEAÇADOS. Se formos além das imagens estáticas que sustentamos de nós mesmos e dos outros, talvez possamos aprender a ter mais dúvidas do que certezas, a apreciar as transformações profundas que os bons e os maus acontecimentos nos impõem e a revisar nossos valores para sermos sempre melhores. Esperamos que, ao final do livro, você também se sinta convocado a amar pessoas inteiras, com suas contradições e pontos de sombra e de luz. 8
Perfil
PAIXÃO PELAS RELAÇÕES HUMANAS Primorosa em suas tramas de suspense, a autora do mês transita com graça por temáticas espinhosas em obras que geram reflexão
DÉBORA SANDER
Escrita, educação e relações humanas: se fôssemos arriscar um palpite sobre o que inspira Penny Hancock em seu trabalho, seriam esses três pilares. A autora deste mês tem no seu histórico profissional uma gama de atividades variadas, mas que convergem nessa tríade de interesses. Nascida e criada em Londres, Penny é escritora, jornalista e professora. Ela ganhou notoriedade com seu primeiro romance, Tideline (2011), um terror psicológico em que a protagonista, uma mulher de meia-idade, mantém um menino adolescente em cárcere privado na sua casa. A obra foi aclamada pela crítica e escolhida para discussão no Richard & Judy Book Club, um tradicional programa britânico de debate de livros. Nos anos seguintes, a escritora inglesa publicou outros dois romances do mesmo gênero, The darkening hour (2013) e A trick of the mind (2014). O livro que você lerá neste mês, Eu não sei quem você é, foge um pouco da atmosfera de thriller, embora tenha também uma carga de mistério no ritmo com que descobrimos novos elementos de surpresa e questões 9
A autora Penny Hancock Divulgação, pennyhancock.com
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em aberto ao longo da trama. A obra é descrita por Penny como uma ficção de problemática contemporânea. Escolhido como romance do ano pelo Prêmio Literário East Anglian, Eu não sei quem você é se distingue dos romances anteriores da autora, mas mantém um fator em comum: a paixão que ela carrega pela complexidade das relações humanas e por refletir sobre os rumos inesperados que uma situação pode tomar dependendo da forma como nos relacionamos com ela. Antes de se tornar romancista, Penny escreveu para o Cambridge University Press, elaborando histórias de ficção para estudantes do inglês como língua estrangeira. Morou na Itália, na Grécia e no Marrocos ensinando inglês e trabalhou durante anos como professora do ensino primário em Londres. Já publicou artigos em veículos de imprensa consagrados como The Guardian, The Times e The Independent sobre família e relacionamentos. Recentemente, lecionou na Anglia Ruskin University, em Cambridge, como Royal Literary Fellow da instituição. Atualmente, a autora vive na região dos Fenlands, nas proximidades de Cambridge. Lá, escreve seus romances e tem uma escola de escrita criativa para adultos, na qual auxilia novos escritores em suas produções literárias. Ao ler o livro deste mês, você provavelmente vai perceber algumas semelhanças entre a protagonista e a autora da obra. Tratando-se ou não de um recorte autobiográfico, uma coisa é certa: ao escrever, pensar e ensinar a arte da escrita, Penny Hancock aprendeu com maestria a envolver seus leitores em dilemas complexos e a manter sua atenção até a última página.
Unboxing
MIMO Você já quis desabafar sobre questões que não gostaria de dizer em voz alta? Isso foi o que aconteceu com Freya, enteada de Holly, que usou um diário para depositar suas angústias - mal sabia ela que o caderno seria uma peça chave para desvendar os mistérios da trama. Pensando nisso, criamos o mimo deste mês: um diário inspirado no da personagem, provocando uma imersão completa na experiência do mês. Esperamos que suas páginas sejam preenchidas com muitos registros da narrativa da sua própria história.
PROJETO GRÁFICO A literatura sempre foi colorida por grandes amizades, como a que Jules e Holly costumavam ter. Por isso, a cumplicidade entre as duas mães foi estampada na capa, onde as antes amigas compartilham uma bebida enquanto conversam. Esse passado é muitas vezes rememorado na história - com as lembranças de uma amizade sólida, mas que dificilmente voltará a ser como era antes. Segundo Luísa Zardo, designer responsável pelo projeto gráfico deste mês, “a estética de pintura, com seus traços orgânicos, livres e um tanto irregulares, firma esta ideia de um momento congelado no tempo, sendo a representação da capa um momento em ação, como uma conversa interrompida”. A luva foi desenvolvida buscando representar a paisagem, também bastante descrita no livro, da pequena cidade em que as famílias moram, e a capa da revista harmoniza, de maneira abstrata, com os traços orgânicos propostos pela designer no restante do projeto. 11
#MeToo
A DIMENSÃO DO ASSÉDIO Abuso e importunação são um problema estrutural; saiba como pedir ajuda
DÉBORA SANDER
Mulheres marcham por direito à igualdade e contra o assédio em Washington (acima) e Seattle Mobilus in mobili, cc-by-sa-2.0 Cindy Shebley, cc-by-2.0 12
A protagonista do livro deste mês, Holly, é uma professora universitária de escrita criativa que promove palestras na universidade para debater a temática do consentimento sexual. Na última década, a discussão sobre assédio e violência sexual ganhou espaço crescente na mídia e no debate público. O estereótipo de que estupros seriam crimes praticados por desconhecidos que abordam mulheres em becos escuros vem sendo contestado, ampliando o entendimento da questão como um problema social, cultural e estrutural. Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, mais de 75% dos autores de crimes de estupro reportados em 2018 eram conhecidos das vítimas. É comum que as agressões aconteçam em ambientes familiares, sociais, de trabalho ou de estudos. Um dos movimentos que deu visibilidade ao assunto recentemente foi o Me Too, fundado em 2006 pela ativista social Tarana Burke, nos Estados Unidos. Em 2017, o projeto ganhou notoriedade a partir da série de denúncias a Harvey Weinstein, executivo de Hollywood, por crimes de assédio, abuso sexual e estupro. Na época, a atriz Alyssa Milano usou o Twitter para convidar as mulheres que sofreram algum tipo de violência sexual a postar a hashtag #MeToo, criando uma corrente que
evidenciou ao menos parte da dimensão do problema: nas primeiras 24 horas, mais de 500 mil mulheres publicaram a hashtag. Isso desencadeou uma série de novas denúncias contra homens que ocupavam cargos de poder em grandes empresas. Em março do ano passado, Weinstein foi condenado a 23 anos de prisão por agressões sexuais. A questão ainda é um tabu e muitas vítimas não denunciam os crimes, tomadas por sentimentos como vergonha, culpa e medo. De todo modo, o crescimento do debate em torno do assunto encoraja muitas mulheres a romperem o silêncio e denunciarem seus abusadores. A confiança em uma estrutura social que garanta proteção, acolhimento e suporte jurídico e psicológico às vítimas, sem colocar em dúvida suas alegações e sem incutir novos traumas nas mulheres que buscam ajuda é um fator primordial para que mais casos sejam reportados e, assim, se possa trabalhar em uma solução abrangente para o problema. Em setembro de 2020, o Me Too ganhou um braço independente no Brasil. Um grupo de sete juristas criou a versão nacional do movimento, o Me Too Brasil. O objetivo do projeto é oferecer assistência psicológica, jurídica e socioassistencial às vítimas e garantir que suas denúncias sejam encaminhadas aos órgãos competentes. A iniciativa firmou parceria com a Ouvidoria das Mulheres do Conselho Nacional do Ministério Público e com o projeto Justiceiras, que foi fundado alguns meses antes e já recebia denúncias de abuso sexual, disponibilizando atendimento multidisciplinar on-line.
Se você foi vítima ou quer ajudar alguém que tenha sofrido algum tipo de abuso sexual ou violência de gênero, você pode denunciar, contar a sua história, buscar apoio e informações em https://metoobrasil.org.br/. Por telefone, você também encontra ajuda e orientações ligando 180. A Central de Atendimento à Mulher presta acolhimento e escuta qualificada a mulheres em situação de violência.
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O lugar da história
WELCOME TO THE FENS Penny Hancock nos convida a conhecer uma Inglaterra de cidadezinhas repletas de arquitetura histórica e marcos culturais
DÉBORA SANDER
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Boa parte do enredo de Eu não sei quem você é se passa em um vilarejo nos Fenlands, uma região da Inglaterra situada a cerca de uma hora ao norte de Londres. O nome do lugar onde vivem as protagonistas Holly e Jules não é revelado nas páginas do livro, mas a autora, Penny Hancock, mora em uma pequena cidade de 5 mil habitantes chamada Waterbeach. Situada entre Cambridge, lar de uma das melhores universidades do mundo, e Ely, uma cidade histórica pertencente ao condado de Cambridgeshire, Waterbeach pode até não ser o cenário oficial da trama, mas certamente a quietude e a natureza exuberante da cidade de Penny inspiraram as ricas descrições do livro.
“É difícil dizer o que parece mais infinito, se é esta rodovia estreita que, no horizonte, leva para um quadro abstrato onde a terra se encontra com o céu ou se são esses filetes de água morta que, encravados nas plantações, se dirigem para o grande nada até se misturarem com as nuvens. Deixe seus olhos meio fechados e a região toda se transforma em uma penumbra encharcada.”
Os marismas de Wicken Fen abrangem as regiões inglesas de Camdrigdeshire e Bedfordshire Paul Tuli
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Os Fens, como são popularmente chamados, são uma área plana e pantanosa, naturalmente alagada, rica em biodiversidade e com forte atividade agrícola. A maior parte dos Fenlands foi drenada há vários séculos e, hoje, a área é mantida livre de alagamentos por canais de drenagem, rios artificiais e represas. A área é banhada pelo rio Great Ouse, um dos maiores do país, com 230 km de extensão. Ao longo da narrativa, você vai ler referências a algumas cidades dos Fenlands nos arredores do vilarejo onde a trama se passa: além de Cambridge e Ely, são citadas a pequena vila mercantil de Downham Market e a antiga cidade portuária de Kings Lynn, que data do século XI. O sítio de preservação biológica de Ouse Washes, uma área inundada de mais de 2,5 mil hectares, também aparece na história. Bloomsbury – Londres Holly divide seu tempo entre a bucólica paisagem da cidade onde mora, nos Fenlands, e o cenário efervescente e urbano de Londres. Diariamente, ela pega o trem e viaja por uma hora até desembarcar na estação de King 's Cross, de onde segue para a universidade onde leciona, em uma região conhecida como Bloomsbury. Na área, ficam localizadas algumas das melhores bibliotecas, livrarias, museus e instituições acadêmicas da capital inglesa, além da sede de uma editora mundialmente famosa, a Bloomsbury Publishing. A relação do bairro com o nicho intelectual e literário é antiga: no século XIX, o romancista inglês Charles Dickens viveu na região. Hoje, sua antiga casa em Bloomsbury abriga o museu que leva seu nome e preserva seu legado. No início do século XX, a área foi palco do pensamento de um coletivo de intelectuais conhecido como Grupo de Bloomsbury, que reunia personalidades como Virginia Woolf, Vanessa Bell e John Maynard Keynes, que moravam, trabalhavam ou estudavam na região. No livro deste mês, a protagonista, Holly, descreve 16
seus percursos diários pelas ruas de Londres e a inspiração que sente ao observar as famosas plaquinhas azuis que, espalhadas pela cidade, identificam os locais onde artistas, escritores e intelectuais costumavam viver ou trabalhar. Bloomsbury é, de fato, um dos bairros com maior concentração destas placas, certificando a tradição cultural da região. Certamente um cenário fascinante para os apaixonados por literatura!
“DE UM TRABALHO LOCALIZADO DENTRO DE UM ENCLAVE GEOGRÁFICO TÃO ESTIMULADO PELO PENSAMENTO FEMINISTA E PELO TALENTO LITERÁRIO, SÓ SE PODE ESPERAR BONS RESULTADOS.” Outro local que é citado diversas vezes na narrativa é a Lincoln’s Inn Fields, maior praça pública de Londres, que fica em frente às Inns of Court, associações profissionais de advogados da Inglaterra e do País de Gales. Na trama de Eu não sei quem você é, a área remete a Holly lembranças do seu falecido marido, Archie, que costumava trabalhar em uma dessas associações: a Sociedade Honorável de Lincoln’s Inn, um dos maiores corpos jurídicos do mundo. Fundada no século XV, a instituição fica situada em um largo repleto de prédios históricos. O lugar conta com uma capela aberta à visitação do público, que também é um cenário marcante no desenrolar da história que você lerá neste mês.
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Livros para ir além
PARA DEBATER O ABUSO DÉBORA SANDER
Casos de abuso sexual são chocantes, pesados e tristemente comuns. Constatar que se trata de um problema sociocultural é o primeiro passo para conseguirmos transformar a dor em uma reflexão crítica com potência para mudar essa realidade. Conheça outros livros que podem te ajudar a pensar e debater esse assunto tão urgente.
Falsa Acusação: uma história verdadeira, de T. Christian Miller & Ken Armstrong
O livro desdobra e aprofunda uma reportagem que rendeu aos autores o Prêmio Pulitzer de jornalismo investigativo em 2016. Partindo da história de Marie Adler, uma vítima de estupro que foi processada pelo Estado acusada de fazer uma denúncia falsa, Miller e Armstrong relatam outros casos conectados com o da jovem: entre 2008 e 2011, outras mulheres foram vítimas do mesmo criminoso. A obra traz entrevistas com as vítimas, investigadores dos casos e com o próprio estuprador, além de contextualizar a abordagem histórica do crime de estupro nos Estados Unidos e as conquistas da luta das mulheres no país. Em 2019, o livro ganhou adaptação para o audiovisual: a série Inacreditável, da Netflix. 18
A Marca Humana, de Philip Roth
Depois de Pastoral Americana e Casei com um Comunista, este livro completa a trilogia em que Roth retrata a vida no país durante o período pós-II Guerra Mundial. O protagonista de A Marca Humana é Coleman Silk, um judeu de 70 anos, professor universitário de letras clássicas. Ao ser acusado de racismo e abuso sexual, ele vê sua carreira e sua vida saírem dos trilhos. A narrativa descreve suas batalhas externas e internas para lidar com a repercussão das acusações e com os dilemas que esconde sobre sua própria origem racial. A obra também teve sua versão para o cinema: o filme Revelações (2003), com Nicole Kidman e Anthony Hopkins. Lolita, de Vladimir Nabokov
O controverso clássico da literatura mundial do escritor russo Vladimir Nabokov conta em primeira pessoa a história de Humbert Humbert, um homem de meia-idade que desenvolve uma obsessão por Dolores Haze, de apenas 12 anos. Ao longo da narrativa, acompanhamos o envolvimento sexual entre os dois, o sofrimento velado de Lolita e as justificativas que o protagonista usa para ter mantido relações com a pré-adolescente. Tão perturbador quanto envolvente, o livro chegou a ser banido em alguns países europeus pouco tempo depois do seu lançamento, em 1955. Hoje, mais de 60 anos após sua primeira publicação, a obra suscita debates relevantes sobre pedofilia e consentimento. Foi adaptado para o cinema em 1997, em filme homônimo. Reparação, de Ian McEwan
A premiada obra de McEwan é ambientada na Inglaterra de 1935 e narra um drama familiar centrado na figura de Briony Tallis, uma aspirante a escritora de apenas 13 anos. Na narrativa, a menina observa sua irmã mais velha, Cecília, interagindo com o filho da governanta, Robbie, em cenas permeadas por uma tensão sexual que Briony, em plena transição da infância para a adolescência, não consegue compreender direito. Misturando sua confusão com uma imaginação fértil e a vontade de escrever uma boa história, a protagonista acusa Robbie de estupro, equívoco que acarreta sérias repercussões e a necessidade permanente de Briony buscar reparar o mal que causou. Em 2008, o filme Desejo e reparação, baseado no livro de McEwan, teve sete indicações ao Oscar. 19
ENCONTROS LITERÁRIOS Todos os meses, associados de todo o Brasil se reúnem para transformar a leitura em pauta de conversa.
“
Mesmo migrando para o ambiente digital em função da pandemia, mais de 800 Encontros aconteceram ao longo de 2020. Antes disso, alguns grupos on-line já vinham se formando para reunir pessoas de diferentes regiões do país, e eles continuarão de forma remota mesmo com a retomada dos Encontros presenciais (assim que for possível e seguro). Essa é mais uma prova de que a leitura conecta até em tempos de distanciamento físico.
“Através da leitura coletiva, posso desconstruir pensamentos tomando como base argumentos mais elaborados.” Maria Consuêlo, anfitriã do Encontro TAG Inéditos Salvador
Encon tro TAG Salvad Inédito or, em s 11/04 /2020
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Encontro TAG Inéditos 0 Salvador, em 08/02/202
“
Encontro do Clu binho da TAG, em outubro de 2020
“Consigo ver que a leitura individual em nada se compara com a leitura coletiva. Trechos que passaram batido, referências que não pesquisamos, tudo isso toma forma quando estamos conectados.” Melissa Vespa, anfitriã do Clubinho da TAG
Para criar ou participar de um evento, acesse a aba Encontros do app da TAG e confira as próximas datas!
Aponte a câmera do celular para o QR Code para abrir ou baixar o app
Para saber mais, acesse http://clube.taglivros.com/encontros Na página, você pode consultar quais encontros estão ativos na aba de cada região. Na aba Nacionais, você encontra os grupos que reúnem associados de todo o Brasil. 21
Próximo mês
NO PRÓXIMO MÊS Uma história de força, de fuga, de garra, de tudo pelo saber. Casada contra a vontade na flor de sua juventude, uma garota escapa e é forçada a trabalhar para uma família da elite nigeriana. Entre agressões, ameaças e a tristeza completa pela sua situação, ela tem apenas um objetivo: aprender, para que um dia a sua voz seja ouvida. Eis que ela encontra benfeitores para, por meio de amor e de conhecimento, percorrer o caminho tortuoso rumo à liberdade.
"Bravo, fresco... inesquecível." – The New York Times Book Review “Uma celebração das garotas que ousam sonhar.” – Imbolo Mbue, escritora 22
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“Como são admiráveis as pessoas que nós não conhecemos.” – Millôr Fernandes