JULHO de 2016 O Vermelho e o Negro
Arthur Dambros arthur@taglivros.com.br Gustavo Lembert da Cunha gustavo@taglivros.com.br Álvaro Scaravaglioni Englert Bruna Lucchese Kafrouni Bruno Moutinho Daniel Arcari Romero Eduardo Augusto Schneider Guilherme Rossi Karkotli Luísa Andreoli da Silva Maria Eduarda Largura Marina Brancher Pablo Soares Valdez Rodrigo Lacerda Antunes Tomás Susin dos Santos Antônio Augusto Portinho da Cunha Bruno Miguell Mendes Mesquita bruno.miguell@taglivros.com.br Laura D Miguel lauradep@gmail.com Impressos Portão TAG Comércio de Livros Ltda. Rua Sete de Abril, 194 | Bairro Floresta | Porto Alegre - RS CEP: 90220-130 | (51) 3092.0040 | contato@taglivros.com.br
Ao Leitor Este é um mês muito especial. Desde que fundamos a TAG, dois anos atrás, temos cultivado diversos projetos, à espera do melhor momento para sua viabilização. Conforme a empresa cresce, é possível concretizar alguns deles. Nossos associados mais antigos deverão lembrar-se de que, no início, as caixas não eram estampadas. Éramos muito pequenos para o pedido mínimo de mil unidades que nosso fornecedor exigia. Então carimbávamos as embalagens, uma a uma, para que ficassem bonitas. Hoje, graças à confiança de todos, que tornam o clube maior a cada dia, pudemos realizar mais um sonho. A TAG, em parceria com a Editora Dublinense, tem o maior orgulho de apresentar-lhes a nossa primeira edição exclusiva, desenvolvida especialmente, e com o maior carinho, para vocês: O Vermelho e o Negro, de Stendhal, recomendação do escritor Luiz Ruffato. Com o mesmo esmero com que carimbávamos cada caixa no passado, hoje escolhemos o tipo de papel, a ilustração da capa, a diagramação interna, o conteúdo do livro, e cada um dos inúmeros detalhes que, esperamos, agradem na intensidade de que vocês são merecedores.
A INDICAÇÃO DO MÊS
05 09
ECOS DA LEITURA
18 20 22 24 26
A PRÓXIMA INDICAÇÃO
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O curador: Luiz Ruffato O livro indicado: O Vermelho e o Negro
Curiosidades Contexto Histórico Voltando ao século XIX Museu Stendhal A Lista de Hemingway
Heloisa Seixas
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A INDICAÇÃO DO MÊS
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O curador: Luiz Ruffato Convidado a representar o Brasil na abertura da Feira do Livro de Frankfurt, o escritor Luiz Ruffato discursou sobre um país que ainda está “situado na periferia do mundo”. Frente a editores, público e representantes políticos de diversos países, refletiu sobre diversos dramas sociais brasileiros – os resquícios de um passado escravagista, a violência, o desrespeito à mulher, a homofobia e a desigualdade –, o que causou constrangimento àqueles que esperavam do autor uma mensagem enaltecedora ou escapista. “Eu falei que a desigualdade é brutal. Que a violência contra o negro e a mulher é diária e profunda. Que a educação e a leitura são, no Brasil, artigos de luxo. Que somos machistas, racistas e violentos. Onde está a novidade nisso?”, questionou o autor, que enxerga a literatura como uma vitrine desprovida de preconceitos, onde podemos expor, sem disfarces, os verdadeiros problemas.
Eu acredito, talvez até ingenuamente, no papel transformador da literatura. Filho de uma lavadeira analfabeta e de um pipoqueiro semianalfabeto, eu mesmo tive meu destino modificado pelo contato, embora fortuito, com os livros. –Luiz Ruffato
Nascido, assim como muitos de seus personagens, na pequena Cataguases, em Minas Gerais, em 1961, Luiz Ruffato é um dos mais premiados autores brasileiros do cenário contemporâneo. Sobre seu início na literatura, Ruffato recorda a telenovela O Feijão e o Sonho, baseada no romance homônimo de Orígenes Lessa, produzida pela Rede Globo na década de setenta e que, quando adolescente, acompanhou com sua
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família. A história revela o sofrimento de um poeta que, frente às exigências da vida prática, luta para não abrir mão do sonho de se tornar escritor. “Naquela época, quando me perguntavam o que eu queria ser na vida, eu dizia que queria ser escritor. Mas minha mãe chorava de infelicidade por ter visto naquela novela as dificuldades que eu enfrentaria ao tentar comprar o meu ‘feijão’. Então, primeiro, eu fui procurar o meu feijão de outras formas”. Antes de ser um homem das letras, Ruffato seguiu a profissão do pai. Abandonou o carrinho de pipoca quando se formou em tornearia-mecânica pelo Senai, e tornou-se caixeiro de botequim, balconista de armarinho, operário têxtil, torneiro mecânico e, ainda, gerente de uma lanchonete. Ingressou na Universidade Federal de Juiz de Fora, onde estudou Comunicação, e trabalhou em diversos jornais mineiros até se mudar para São Paulo, em 1990. Quase uma década depois, veio sua primeira publicação, Histórias de Remorsos e Rancores (1998), seguida por (os sobreviventes), dois anos depois. Mas foi somente após a virada do século, em 2001, com a publicação de Eles Eram Muitos Cavalos (alusão ao poema de Cecília Meireles, Dos Cavalos da Inconfidência), que Ruffato foi alçado ao reconhecimento nacional. Pela obra, o autor foi condecorado com o Prêmio Machado de Assis da Biblioteca Nacional, e tornou-se um dos mais destacados autores contemporâneos. Seu próximo grande trabalho foi Inferno Provisório, uma série de cinco volumes sobre o desenvolvimento da classe operária brasileira. A pentalogia começou em 2005, com Mamma, Son Tanto Felice, apresentando os primeiros passos de uma família de imigrantes italianos ao se fixar em solo brasileiro, e avançou, volume a volume, até Domingos Sem Deus (2011), que traz a família até os dias de hoje e encerra a série. Para o autor, a literatura carece de representações da classe média-baixa. “E isso não é só na literatura”, afirmou Ruffato. “No Brasil, por exemplo, há inúmeras ruas com nomes de corruptos notórios, mas nunca vi uma rua chamada Operário Fulano de Tal.” É evidente que, se fôssemos homenagear o trabalhador comum, não haveria ruas suficientes. Ruffato, portanto, decidiu fazê-lo com a literatura. Ao tomar essa
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decisão, procurou fugir da imagem profundamente caricata que o “trabalhador brasileiro” carrega, e, além disso, solucionar um problema de linguagem: “Veja bem”, explica Ruffato, “não é porque você vai descrever pessoas pobres que a linguagem e a psicologia têm de ser pobres”. Neste mês, foi condecorado na Alemanha com o Prêmio Internacional Hermann Hesse, que tem o objetivo de premiar grandes obras ainda não devidamente valorizadas. O prêmio foi entregue no dia 02, aniversário de Hesse, em Calw, sua cidade natal.
Ruffato possui altíssima qualidade literária, fornecendo-nos uma visão dos abismos de um mundo desconhecido. Seus livros desenvolvem um caleidoscópio dos desenraizados da cidade grande e de todas as camadas sociais. –júri do prêmio internacional Hermann Hesse
Seus últimos lançamentos foram Flores Artificiais (2014) e De Mim Já Nem Se Lembra (2016). Em junho deste ano, estreou o filme Estive em Lisboa e Lembrei de Você, com direção de José Barahona, inspirado no romance homônimo, publicado em 2009. Além de romancista, Luiz Ruffato é também poeta e colunista do jornal espanhol El País. Quando conversamos com ele para descobrir seus livros favoritos, o autor comentou que já havia, há algum tempo, escrito uma coluna sobre isso no El País. “Ninguém me perguntou, mas resolvi organizar uma lista dos melhores romances que li em minha vida”. Se ninguém havia perguntado a Ruffato sobre seus livros favoritos, nós o fizemos. Não queríamos, entretanto, apenas uma lista. Gostaríamos de saber qual obra Ruffato selecionaria para enviar aos nossos associados. E o escolhido acabou sendo O Vermelho e o Negro, de Stendhal. “Egoísta e ambicioso, [o personagem] Julien Sorel usa, sem escrúpulos, seu charme e simpatia para galgar um lugar na exclusivista sociedade francesa pós-napoleônica”, explica Ruffato. “Lançado em 1830, é um monumento do realismo psicológico.”
Retrato de Stendhal, pintado em 1840 por Johan Olof Sรถdermark
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O livro indicado: O Vermelho e o Negro
O Vermelho e o Negro é um dos maiores romances de todos os tempos. –Jorge Luis Borges
Quando, em 1934, um jovem escritor bateu à porta de Ernest Hemingway para pedir conselhos, o autor de O Velho e o Mar disse-lhe para esquecer os contemporâneos e dedicar-se à leitura dos clássicos, que já passaram pelo teste do tempo. “E quais são os seus clássicos favoritos?”, questionou o jovem, a exemplo do que a TAG também teria perguntado. “Venha até meu escritório que vou listálos para você”. Entre os dezessete títulos recomendados, dois deles eram do mesmo autor: Henri-Marie Beyle, que hoje integra a lista dos maiores nomes da Literatura sob o pseudônimo de Stendhal. Nascido em 23 de janeiro de 1783, em Grenoble, na França pré-revolucionária, Henri Beyle foi o primeiro filho de um rico casal burguês. Seu pai, Cherubin, um dos mais renomados advogados da cidade, casou-se com Henriette Gagnon, filha de um abastado médico. As condições, que poderiam ter sido as melhores para a educação e a vida do pequeno Henri, provaram-se desafortunadas. Aos sete anos, viu sua mãe falecer enquanto dava à luz sua irmã. A perda foi tão dolorosa que, mesmo adulto, não suportava as lembranças suscitadas pelo som dos sinos da igreja de Grenoble. Permaneceu sob os cuidados do pai, um homem enfadonho, sempre preocupado com a compra e venda de propriedades, incapaz de dar amor ao filho. “Meu pai”, escreveu Stendhal, “me amava somente como o portador de seu nome, nunca como um filho.”
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Revoltado com a falta de amabilidade do pai, as restrições impostas pela família e os ensinamentos de seu tutor religioso, foi como um símbolo de seu próprio descontentamento que Henri contemplou a eclosão da Revolução Francesa, que no auge do Terror enforcou alguns padres conhecidos da família e manteve seu pai preso, suspeito de atos contrarrevolucionários. Quando a notícia da execução do Rei Luis XVI chegou a Grenoble, horrorizando seu pai, o garoto de dez anos estava fascinado com “um dos mais intensos impulsos de vivacidade” que jamais sentiu na vida. As histórias da revolução, que chegavam clandestinamente aos ouvidos de Stendhal, traziam novidade aos seus dias, levando o tédio embora. Na adolescência, estreitou laços com seu avô materno, Henri Gagnon, que lhe proporcionou as duas coisas de que mais precisava: amor e uma vasta biblioteca. Na casa do Sr. Gagnon, onde hoje é o Museu Stendhal, fez amizade com Cervantes, Shakespeare, Corneille, e até os revolucionários Rousseau e Voltaire, que o garoto lia escondido. Conviveu com eles até 1799, quando vislumbrou uma oportunidade de fugir do convívio do pai e mudarse para Paris. Chegou à capital francesa para estudar Matemática, área na qual demonstrava grande talento, mas ficou seriamente doente durante os exames de admissão e perdeu a chance de ingressar no curso. (Conta-se que essa doença fez seus cabelos caírem, e que passou a usar perucas pelo resto da vida.) Alguns dias depois, recebeu de um primo uma proposta que mudaria os rumos de sua vida. Pierre Daru, então Secretário de Guerra de Napoleão Bonaparte, estava incumbido de reorganizar o exército, e convidou-o a participar da campanha contra a Áustria. Quando Henri Beyle montou no cavalo, em 1800, acompanhado de outros vinte e cinco mil homens, sentiu um prazer que espantou qualquer indício do tédio que ainda carregava. Sentiase construindo a história da França: durante a batalha na Áustria, foi promovido a Segundo Tenente; na invasão da Alemanha, tornou-se Secretário de Guerra; de volta a Paris,
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estabeleceu-se como Inspetor de Mobílias Imperiais, cargo que ocupou até a convocação à campanha na Rússia, quando foi encarregado de levar, pessoalmente, a correspondência ao Imperador, mas acabou testemunhando a retirada do exército napoleônico, ele próprio retornando sob fogo inimigo pela ponte que cruza o rio Berezina. O único momento da era napoleônica do qual não teve a felicidade de participar foi o breve segundo reinado: em 1814, logo antes dos Cem Dias, Beyle já havia deixado a França, repleto de memórias e ainda sentindo o que os bonapartistas chamavam de “fogo sagrado”, a energia da guerra.
Enquanto servia a Napoleão, [Stendhal] nada escreveu. A segurança de agir substituía por completo aquela outra ilusão, a de escrever. –Heinrich Mann, escritor alemão
Terminada a efervescente era napoleônica, Henri viu-se em meio à restauração monárquica, e preferiu fugir para a Itália. Aborrecido por não poder mais viver as emocionantes histórias de guerra, recorreu à escrita. A partir de então, surgia Stendhal. O pseudônimo foi usado pela primeira vez em 1817, para o livro Roma, Nápoles e Florença. Apesar de ser o mais conhecido, “Stendhal” foi apenas um entre os mais de duzentos pseudônimos que o autor utilizou ao longo de sua vida. Prosper Mérimée, amigo do escritor, disse certa vez que Stendhal, ou Conde de Chadevelle, Louis-César Bombert, Henri Brulard, “nunca escreveu uma carta sem assiná-la com um nome falso”. Há apenas um único livro, A História da Pintura (1817), publicado com seu verdadeiro nome. Suas primeiras obras foram alguns ensaios e biografias – dedicou-se a escrever sobre a vida de Napoleão, Mozart, Rossini, entre outros. Cinco anos depois, veio seu primeiro romance, Armance (1827). Para conceber sua magnum opus, entretanto, Stendhal precisou ter seu espírito novamente exaltado por uma revolução. Pouco antes de 1830, nos primeiros passos da revolta que
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derrubaria o Rei Carlos X, sentindo-se tão enérgico quanto na vez em que recebera a notícia da execução de Luís XVI, o autor publicou O Vermelho e o Negro (1830).
Egoísta e ambicioso, Julien Sorel usa, sem escrúpulos, seu charme e simpatia para galgar um lugar na exclusivista sociedade francesa pós-napoleônica. É um monumento do realismo psicológico. –Luiz Ruffato
Julien Sorel é o ambicioso filho de um simples carpinteiro, que sonha com a grandeza e não suporta a vida enfadonha que seu nascimento impôs. Sob o comando de Napoleão, seu modelo de força e saúde, Julien acredita que poderia ter feito fortuna, vivido paixões e ganhado as mais altas honrarias, possibilidades oferecidas aos jovens que, mesmo tendo nascido em classe desprivilegiada, poderiam ascender pela coragem de usar a espada. Porém, devido a uma época em que Napoleão já faz parte do passado, cedendo espaço ao aristocratismo da Restauração monárquica, Sorel não vê alternativas de evolução social senão no seminário. Mesmo sem ter fé alguma, troca o exército (o Vermelho) pela batina (o Negro), dedica-se ao latim e decora a bíblia por inteiro, lançando-se na carreira eclesiástica e comprando o único possível bilhete de entrada para a vida aristocrática. Passamos, então, a acompanhar a trajetória desse homem que faz o justo e o injusto pela ascensão social. Por ser inferior de berço, precisa revestir sua revolta com polidez, seus interesses com paixão, sua hipocrisia com inocência, e assim lutar contra a opressão e os preconceitos da sociedade francesa. E a maestria de Stendhal reside justamente em fazer a própria época soar anacrônica ao herói, e não o contrário. Esse efeito, inovador para a época, resulta da convicção do autor de que a psicologia dos personagens era primordial para o enredo. Stendhal preocupava-se menos em descrever os cenários do que os sentimentos e pensamentos de seus protagonistas. Dessa forma, o leitor
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torna-se cúmplice de Julien, acompanha seus raciocínios e compreende as razões de suas atitudes. “Stendhal foi o maior de todos os psicólogos franceses”, afirmou Nietszche. “Ele foi o pai de todos nós”, disse Émile Zola, e ainda influenciou mestres da literatura, como o russo Dostoievski. Ao término deste romance, o leitor sente-se como o viajante que, sem olhar pela janela durante o percurso, surpreende-se com sua estação de chegada: não somente o destino de Julien Sorel nos é revelado, mas o de uma geração, em um dos mais brilhantes retratos de uma época: uma verdadeira “Crônica do século XIX”, conforme subtítulo da versão original.
Poucos escritores escreveram a verdade tão clara e profundamente quanto Stendhal. –Stefan Zweig, escritor austríaco
Quase uma década depois do lançamento de O Vermelho e o Negro, em apenas 52 dias, Stendhal escreveu o segundo título que consta na lista de recomendações de Hemingway, A Cartuxa de Parma (1839). O autor faleceu em 1842, algumas horas após desmaiar em convulsão, tendo produzido dois grandes clássicos da literatura, mas passando despercebido pelos seus contemporâneos. O sucesso em vida não poderia ter alcançado o homem que escreveu, em O Vermelho e o Negro, “a mais terrível acusação jamais levantada contra uma era”, segundo Heinrich Mann. Stendhal sabia disso, e conhecendo a profundidade e o teor crítico de sua obra, não imaginava desfecho diferente: afirmou não esperar leitores que o compreendessem até o final do século XIX, e dedicou seus livros aos “Happy Few” (em inglês, mesmo na edição francesa). Um dos poucos que, na época, valorizaram o trabalho de Stendhal, foi Balzac, que o considerou “um gênio”. Década após década, O Vermelho e o Negro foi se tornando um dos grandes clássicos da literatura mundial. Felizmente, os happy few mostraram ao mundo o brilhantismo desta obra, e hoje somos nós os felizardos de poder desfrutá-la.
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Entrevista: Luiz Ruffato Como foi seu primeiro contato com O Vermelho e o Negro? Na primeira vez em que me deparei com O Vermelho e o Negro eu era um leitor simplório. Li ainda na minha adolescência, não por indicação de alguém ou por ter visto referência em outros livros, mas por puro acaso. Frequentava a biblioteca da escola, peguei o livro, levei para casa e li. E foi um alumbramento. Fiquei tomado pela história, totalmente hipnotizado pelas peripécias de Julien Sorel. Depois, ao longo da minha vida, li mais duas vezes. A primeira, no começo dos anos 1990, quando me preparava para me tornar escritor, e portanto o enfrentei com olhares mais interessados, e finalmente há cerca de cinco anos, por puro prazer. Quais são, para você, as grandes qualidades desta obra? Para além da questão estilística, Stendhal economiza nas descrições do entorno para concentrar-se no estudo das variações psicológicas das personagens. E a história é monumental. A trajetória de um jovem como Julien, nascido pobre e que
FOTO: G.Garitan
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busca alcançar a riqueza usando de todos os artifícios possíveis, é fascinante. O protagonista nos seduz e ao mesmo tempo nos repele, ou seja, Stendhal consegue dar vida efetiva ao personagem. O que você diria ao leitor, que se encontra agora com O Vermelho e o Negro em mãos, prestes a iniciar sua leitura? Deixe-se conduzir pelas mãos seguras do narrador. Você passeará pelos tempos conturbados da França do começo do século XIX, conhecerá de perto a vida social e politica daquele país e penetrará nos meandros da mente humana. Foi no aborrecimento do seu exílio que Stendhal começou a escrever. O escritor Heinrich Mann disse que “numa sociedade feliz, não haveria literatura”. Você acha que literatura é fruto do sofrimento? E quanto à sua – é produto de quê? Melhor definição ainda tem Tolstói, que abre o monumental Anna Kariênina com a seguinte assertiva: “Todas as famílias felizes são iguais. As infelizes o são cada uma à sua maneira”. Isso significa que a arte em geral, e a literatura em particular, é o espaço privilegiado para discutir singularidades. A grande magia está em o autor conseguir escrever uma história sobre personagens singulares, num tempo delimitado e numa língua específica, e alcançar a universalidade, ou seja, conseguir ser compreendido por um indivíduo singular (o leitor) num outro tempo e em outra língua... Qual é sua simpatia por Julien? Considera-o um herói ou anti-herói? O que o torna um personagem especial da literatura? Não penso assim dicotomicamente. Julien Sorel não é um herói nem um anti-herói, é uma singularidade que, por ter alcançado universalidade, representa de alguma maneira um tipo do período napoleônico. Um sujeito que, se sentindo diferente dos seus contemporâneos, pensa em abrir portas num estrato social que o rejeita. Nesse sentido, Julien é parente de outro grande personagem da literatura universal, Lucien Chardon, de As Ilusões Perdidas, de Honoré de Balzac. Ambos, aliás, são derrotados naquilo que acreditavam ser seus melhores atributos, a inteligência e a perspicácia. Dizem que Stendhal foi o pai do romance realista, tendo influenciado uma legião de escritores, entre eles Machado de Assis. Você concorda? Stendhal, de alguma forma, influenciou você também? De que forma? Stendhal é um dos maiores escritores de todos os tempos. E, portanto, todo escritor necessariamente irá passar por ele em algum momento. Machado de Assis, que é extremamente honesto com seus leitores, cita claramente Stendhal entre suas influências - e isso é perceptível em sua obra da maturidade. Mas não gosto de falar de influências, mas de diálogo. No meu caso específico, penso que dialogo com uma família de escritores, que tem claro em Stendhal um de seus membros mais ilustres.
ECOS DA LEITURA
Você sabia que O Vermelho e o Negro foi inspirado em uma história real? No primeiro Eco deste mês, trazemos algumas curiosidades sobre o livro e seu autor. Algumas obras ganham profundidade quando se conhece o contexto histórico em que foram escritas, e o livro deste mês é um desses casos. Por isso, em nosso segundo Eco, elaboramos um texto que traz alguns dos principais movimentos históricos da primeira metade do século XIX. Para quem quiser se aprofundar na época retratada por Stendhal, o terceiro Eco traz quatro sugestões de filmes e livros. Se você estiver de férias pela França, não se esqueça de passar em Grenoble, pois lá foi fundado, recentemente, o Museu Stendhal. É sobre ele nosso quarto Eco. Dissemos que Hemingway escreveu, em uma lista, seus 17 romances favoritos – dois dos quais eram assinados por Stendhal. E os outros? Para quem ficou curioso, nosso último Eco mostra a lista inteira! Equipe TAG contato@taglivros.com.br
Ecos da Leitura 17
Processo de produção da capa de O Vermelho e o Negro, pintada a óleo pelo artista Tiago Berao
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Curiosidades Baseado em fatos reais
A história de Julien Sorel foi inspirada em um caso divulgado nos jornais da época: Antoine Berthet, filho de um pequeno artesão, teve desfecho parecido ao do jovem Sorel. “Eu não consigo escrever um diálogo de substância e energia a menos que eu sinta que ele é verdadeiro”, afirmou Stendhal. “Essa foi a vantagem de me inspirar em uma história real como a de Antoine Berthet”. The happy few É incerta a origem da expressão the happy few, a quem Stendhal dedicava muitos de seus trabalhos. Alguns dizem que é uma referência ao Canto 11 de Don Juan, de Byron, que se direciona a “the thousand happy few” [restrito grupo de mil homens felizes, tradução livre] que usufruem da alta sociedade. Outros afirmam referenciar a peça Henrique V, de Shakespeare:
We few, we happy few, we band of Brothers. [“Nós poucos, nós poucos e felizes, nós, bando de irmãos”, tradução de Nelson Moraes]. A mais provável, porém, refere-se à passagem de O Vigário de Wakefield, de Oliver Goldsmith (1766): I published some tracts upon the subject myself, which, as they never sold, I have the consolation of thinking are read only by the happy few. [“Eu mesmo publiquei alguns materiais sobre o tema, que, como não obtiveram sucesso, consolo-me pensando que serão lidos apenas pelos poucos e felizes”, tradução livre].
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Síndrome de Stendhal Em 1817, visitando Florença, Stendhal passou mal após visitar a Basílica de Santa Cruz, e registrou: “Absorvido na contemplação da beleza sublime, eu a via de perto, podia tocá-la, por assim dizer. Tinha chegado a esse ponto de emoção em que se encontram as sensações celestes oferecidas pelas Belas-Artes e os sentimentos apaixonados. Saindo de Santa Croce, o coração batia forte, a vida se esvaía em mim, eu andava com medo de cair”. Vertigens, perda da identidade e do sentido da orientação, dores violentas no peito, taquicardia, depressão: esses sintomas, produzidos pelo contato com os poderes embriagadores das obras de arte, são hoje conhecidos como “síndrome de Stendhal”.
Basílica de Santa Cruz
Contexto
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As primeiras palavras de O Vermelho e o Negro vieram do editor: “Esta obra estava prestes a ser publicada quando os grandes acontecimentos de julho imprimiram a todos os espíritos um rumo pouco favorável aos jogos da imaginação”. Quais acontecimentos de julho? O conhecimento do contexto histórico não é imprescindível à leitura do romance, narrativa bela por si mesma, mas adensa o significado que podemos extrair da obra. Traremos, neste eco, um pouco do que se passou na França durante a vida de Stendhal e de seus personagens. Quando Stendhal nasceu, em 1783, a França vivia um período de crises, sofrendo forte pressão revolucionária. A monarquia estava enfraquecida, e o terceiro estado, composto por burgueses e camponeses, passou a reivindicar direitos frente ao clero e à aristocracia. Os primeiros momentos dessa revolução foram conduzidos de forma ainda moderada pelos girondinos (a alta burguesia), que foram perdendo o controle do processo revolucionário à medida que os ânimos da população mais pobre se exaltavam com as conquistas. A nobreza, assustada, começa a emigrar. O próprio Rei Luís XVI tenta fugir, mas é descoberto em plena fuga, o que causa a ira dos jacobinos (os burgueses mais pobres), mais afetados pelas crises e, portanto, mais revolucionários. Os
jacobinos assumem a liderança da revolução e levam o rei à guilhotina, em 1793, para o fascínio do pequeno Henri Beyle. Os revolucionários, liderados por Maximilien de Robespierre e Georges Jacques Danton, põem fim à monarquia e instauram a república, propondo medidas cada vez mais radicais. Insatisfeitos com os rumos ultraliberais que o país vinha tomando, os girondinos, em conjunto com a aristocracia e o clero, unem-se à Prússia, Áustria e demais países aterrorizados com a possibilidade de que a revolução pudesse se espalhar, e conseguem derrubar os jacobinos do poder, decapitar Robespierre e instaurar um governo provisório, denominado Diretório, interrompendo os avanços revolucionários. Precário e enfraquecido, esse regime não conseguiu estabilizar a França, e durou até 1799, quando, no golpe de 18 de Brumário, subiu ao poder Napoleão Bonaparte, dando fim à Revolução Francesa e encarnando a promessa de uma nova França. Esta era exatamente a época em que Stendhal ia a Paris candidatarse ao curso de Matemática; acabou, porém, vestindo o uniforme e juntando-se ao exército napoleônico, onde permaneceu ao longo de toda a primeira década do século XIX. Quando o imperador foi finalmente derrotado e exilado, em 1815, os
Histórico
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Bourbons voltaram ao poder e a monarquia foi novamente instaurada, pondo fim às aventuras de Henri Beyle, que então se tornou escritor. A era de Julien Sob os reinados de Luís XVIII (1814-1824) e, depois, de seu irmão Carlos X (1824-1830), a França reviveu o absolutismo de direito divino, o favorecimento à nobreza e a sufocação da pequena burguesia. Essa é a época da “exclusivista sociedade francesa pós-napoleônica”, citada por Luiz Ruffato, da qual Stendhal foge ao mudar-se para a Itália, e na qual o autor insere seu personagem, Julien. Segundo a nota dos editores que dá início ao livro, “temos motivos para acreditar que as páginas foram escritas em 1827”, ou seja, ao final do reinado de Charles X e momentos antes dos “grandes acontecimentos de julho de 1830, que vieram dar a todos os espíritos uma direção pouco favorável aos jogos da imaginação”. Em 1827, enquanto Stendhal escrevia O Vermelho e o Negro, a oposição liberal conseguiu vencer as eleições legislativas e constituir maioria na Câmara dos Deputados, que passou a entrar em conflito com o rei e exigir mudanças cada vez maiores. No próprio livro, podemos perceber indícios de uma sociedade efervescente, e o próprio Julien se vê em meio a opositores
revolucionários, levando a crer que Stendhal pressentia os movimentos que se sucederiam. Em 1830, ano em que a obra estava sendo publicada, o rei Charles respondeu autoritariamente às reivindicações liberais, dissolvendo a câmara e impondo censuras. Irada, a população pegou em armas e foi às ruas em julho daquele ano, forçando o rei ao exílio e pondo a França novamente nas mãos da burguesia moderada – os girondinos – com Luís Felipe de Orleans. Glossário do século XIX Em O Vermelho e o Negro, deparamonos com algumas palavras incomuns à nossa época. Listamos algumas para esclarecer sua leitura. Monsenhor: título de honra concedido pelo Papa. Bispado ou diocese: área geográfica pertencente à Igreja e administrada por um bispo. Vigário-Geral: tem o poder executivo do bispado, em nome do bispo. Abade: quem dirige um convento ou mosteiro. Cura: pároco de uma catedral. Duque, Marquês e Conde: a diferença está na proximidade com os monarcas e na porção de terra em que cada um tinha autoridade militar ou jurídica. Duque era o mais poderoso, depois do rei. Segue-se a ele o marquês, o conde, o visconde e o barão.
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Voltando ao século XIX Para aqueles que, quando acabam um livro, sentem o pesar de ter de abandonar aqueles cenários imaginados, já tão íntimos, apresentamos neste Eco quatro sugestões, entre filmes e livros, para fazê-lo voltar à primeira metade século XIX, um período histórico que inspirou grandes obras.
O Vermelho e o Negro (1954)
Em 1934, Hemingway escreveu a lista de seus romances favoritos, incluindo O Vermelho e o Negro, de Stendhal. Duas décadas depois, no mesmo ano em que ganhava seu Nobel de Literatura, Hemingway pôde comprar bilhetes para o cinema e assistir à versão cinematográfica da obra. O filme é de produção francesa, e tem Gérard Philipe no papel de Julien.
Napoleão – A última batalha do Imperador (2003)
Para quem, assim como Stendhal, é aficionado por Napoleão e sua história, esse filme é uma boa dica. Lançado em 2003, na França, sob o título de Monsieur N., retrata os últimos anos do imperador, exilado, e o incrível jogo de poderes e influências que estabelece mesmo estando na prisão.
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Os Miseráveis, Victor Hugo
Publicado em 1862, Os Miseráveis passa-se mais ou menos na época em que Julien vivia sua juventude: entre a batalha de Waterloo, que destronou Napoleão Bonaparte, e os motins de 1830, que devolveram a França aos burgueses. Em suas mais de mil e quinhentas páginas, narra a história de Jean Valjean, preso por mais de dezenove anos por roubar um pão para alimentar sua família. Libertado, luta contra o repúdio da sociedade em busca de sua prosperidade. Segundo o crítico Sérgio Paulo Rouanet, Os Miseráveis representou para a literatura “o mesmo que a Revolução Francesa para a História”.
Guerra e Paz, Liev Tolstói
Publicado sete anos depois de Os Miseráveis, em 1869, o clássico de Tolstói remonta à época da expansão napoleônica, porém de um ponto de vista russo. A obra nos apresenta a história de cinco famílias aristocráticas russas, e as aventuras pelas quais passam a partir dos eventos que transcorreram entre 1805 e 1820, principalmente a invasão da Rússia por Napoleão Bonaparte. (Stendhal, que participou da invasão, poderia ter sido um dos personagens!)
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Museu Stendhal A cidade de Grenoble, que já tinha uma universidade em homenagem a Henri-Marie Beyle – Université Stendhal –, lançou recentemente um complexo museológico para manter vivas as memórias do escritor. A principal parte do museu é o antigo apartamento de seu avô materno, Dr. Gagnon, onde Stendhal passou grande parte da infância. Lá, o visitante poderá encontrar um rico acervo de arte e uma reconstituição da biblioteca responsável pelos primeiros contatos do autor de O Vermelho e o Negro com a literatura. São também parte do complexo a Casa Natal de Stendhal, reconstruída em 2002 com a finalidade de promover eventos literários na região; a Coleção Stendhal da Biblioteca Municipal, composta por quarenta mil páginas de manuscritos originais; e a Rota História, um passeio guiado pela cidade, perpassando os edifícios associados à história de Stendhal. A quem tiver viagem marcada à França, fica a dica para incluir o museu no passeio!
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A Lista de Hemingway Nós dissemos que Hemingway fez uma lista dos dezessete livros que recomenda. Dois deles, escritos por Stendhal. Mas e os outros? Se você ficou curioso sobre as outras quinze recomendações, não se preocupe, trouxemos aqui o restante da lista.
Anna Kariênina, de Liev Tolstói Longe e Há Muito Tempo, de W. H. Hudson Os Buddenbrook, de Thomas Mann O Morro dos Ventos Uivantes, de Emily Brontë Madame Bovary, de Gustave Flaubert Guerra e Paz, de Liev Tolstói A Sportsman’s Sketches, de Ivan Turguêniev Os Irmãos Karamázov, de Fiódor Dostoiévski Hail and Farewell, de George Moore Aventuras de Huckleberry Finn, de Mark Twain Winesburg, Ohio, de Sherwood Anderson A Rainha Margot, de Alexandre Dumas A Casa Tellier, de Guy de Maupassant Dublinenses, de James Joyce Autobiografias, de William Butler Yeats
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Esta é uma lista de livros que todo escritor deveria ter lido como parte de sua educação... Se você não os leu, não está devidamente educado na literatura. Eles representam diferentes tipos de escrita. Alguns podem aborrecê-lo, outros inspirá-lo e outros são escritos com tamanha beleza que farão com que você perca as esperanças de tentar escrever. –Ernest Hemingway
Foto: 1937
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Retrospectiva Dois Anos de TAG Este é nosso vigésimo quarto kit. Nesses últimos dois anos, muitas histórias foram construídas, compartilhadas, discutidas. Muitos livros nos fizeram rir, chorar, refletir. Descobrimos as indicações de pessoas que admirávamos, e conhecemos curadores que já entraram para nossa – sempre crescente – lista de próximos autores a serem lidos. Enquanto acompanhávamos o crescimento de um clube que, em julho de 2014, parecia uma utopia, dedicamo-nos a aprimorar ao máximo a experiência dos nossos associados. E tudo culminou nessa conquista: o lançamento do primeiro livro de edição própria. Montamos uma linha do tempo para você acompanhar um pouco dos passos que foram dados desde a criação do clube.
2014 Livro: O Físico, de Noah Gordon Curador: Mario Sergio Cortella - Inauguração do clube com sessenta e cinco associados - Equipe formada exclusivamente pelos três fundadores
AGO Mario Sergio Cortella
SET Viktor Frankl
Livro: Os Tigres de Mompracem, de Emilio Salgari Curador: Javier Naranjo - Ação da TAG para incentivar a leitura com crianças
OUT
Livro: Em Busca de Sentido, de Viktor Frankl Curador: Daniel Pink - Invólucro do livro com papel pardo e barbante
Livro: Patrimônio, de Philip Roth Curadora: Cintia Moscovich - Encontro de associados de Porto Alegre com a curadora Cintia Moscovich
Ecos da Leitura 29
MAI Philip Roth
ABR
Livro: Duas Narrativas Fantásticas, de Fiodor Dostoiévski Curador: Luiz Felipe Pondé
MAR
FEV
Livro: O Intruso, de William Faulkner Curador: Patch Adams - Utilização do papel microondulado com barbante para embalar o livro e a revista
Livro: Neve, de Orhan Pamuk Curadora: Sarah Hrdy - Primeira matéria sobre a TAG em jornal de grande circulação.
Livro: Solar, de Ian McEwan Curador: Paul Bloom - Equipe agora com cinco pessoas
JAN Patch Adams
2015
DEZ
Livro: Memórias de Adriano, de Marguerite Yourcenar Curador: Frei Betto
NOV
Livro: Orgulho e Preconceito, de Jane Austen Curador: Peter Singer - Finalizamos o ano com cem associados
Espaçode doHerrmann Leitor 30Sidarta, Livro: Hesse Curador: José Pacheco - Criação do grupo de associados no Facebook
JUN
JUL Fernando Sabino
Livro: A Estrada, de Cormac McCarthy Curador: David Eagleman
Livro: O Encontro Marcado, de Fernando Sabino Curador: Mario Prata - Décimo segundo kit enviado - Atingimos a marca de quinhentos associados
AGO Cormac McCarthy
SET
Livro: Contos de Imaginação e Mistério, de Edgar Allan Poe Curador: Marcelo Gleiser - Atingimos a marca de mil associados
OUT
NOV
Livro: Doze Contos Peregrinos, de Gabriel García Márquez Curadora: Suzana Herculano
Livro: Noite do Oráculo, de Paul Auster Curador: Gregorio Duvivier - Com a entrada de um associado do Piaui, alcançamos todos os estados do Brasil
Livro: Aprender a Viver, de Luc Ferry Curador: Clóvis de Barros Filho
DEZ Gabriel García Márquez
Espaço do Leitor 31
JUL
Livro: A Balada de Adam Henry, de Ian McEwan Curador: Jorio Dauster
9 788583 180722
ISBN 978-85-8318-072-2
JUN
O VERMELHO E O NEGRO
a época. Ao inserir o leitor na mente do protagonista, o escritor criou um estilo que mais tarde influenciou nomes como Flaubert e Dostoiévski. Ao unir profundidade psicológica à análise social, este livro firmouse como um dos pilares do cânone ocidental, ainda atual e sempre inesgotável.
STENDHAL
Livro: O Vermelho e o Negro, de Stendhal Publicado na França pós-napoleônica, O e o negro é um clássico da literatura Curador: Luizvermelho Ruffato mundial. A obra narra a trajetória de Julien Sorel, um ambicioso filho de carpinteiro - Primeira edição própria que faz de tudo para ascender socialmente. de berço, precisa revestir sua revolta - Equipe comInferior 18 pessoas, felizes com polidez, seus interesses com paixão, sua hipocrisia com inocência e assim lutar contra a opressão edo os preconceitos da exclusivista pelo crescimento clube e com sociedade francesa do início do século XIX. Stendhal apresentou neste romance diversos projetos saindo do papel. realista um narrador revolucionário para
Livro: O Caminho Estreito para os Confins do Norte, de Richard Flanagan Curadora: Adriana Lisboa
MAI
Vermelho e o Negro Capa Final.indd 1
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ABR
Livro: A Improvável Jornada de Harold Fry, de Rachel Joyce Curadora: Susan Blackmore - Atingimos cinco mil associados
MAR
FEV
Livro: O Seminarista, de Rubem Fonseca Curador: Luis Fernando Verissimo - Criação do canal no Youtube - Troca do papel micro-ondulado para boxes personalizadas a cada mês
Livro: Stoner, de John Williams Curadora: Letícia Wierzchowski
Livro: Desonra, de J. M. Coetzee Curador: Sérgio Rodrigues
JAN Luis Fernando Verissimo
2016
A PRÓXIMA INDICAÇÃO
O autor que escolhi é um gênio em estado puro. Ele nos surpreende o tempo todo – e isso é uma das marcas da genialidade. Nunca vai para onde você espera. O livro é tão espetacular que merece figurar entre os grandes romances brasileiros. –HELOISA SEIXAS FOTO: Bruno Veiga
Heloisa Seixas, nossa curadora de agosto, brindounos com um excelente romance brasileiro – algo de que estávamos sentindo falta em nosso rol de indicações. E não foi um livro qualquer! Publicado na década de sessenta, a polêmica obra tem como protagonista um rico empresário carioca que, às vésperas do casamento da filha, desesperase com o rumor de que seu genro seja homossexual. Página a página, adentramos na intimidade deste homem e de sua família aparentemente comum, mas que esconde a sexualidade reprimida, o preconceito, o adultério, o incesto, a perversão e a hipocrisia. Em uma narrativa ágil e viciante, percorremos conhecidos cenários cariocas e encontramos personagens comuns do nosso cotidiano, enquanto nos deparamos com grandes tabus de nossa sociedade; o leitor acompanha, cena após cena, essa despudorada literatura, que ousa falar de homossexualidade, incesto e traição em plena década de sessenta. Não é à toa que, poucos meses após sua publicação, a obra foi censurada pela ditadura. Hoje, está na lista dos mais ousados clássicos de nossa literatura nacional.
Este foi nosso kit de abril de 2016, com a indicação da escritora Leticia Wierzchowski.
As verdadeiras conquistas, as únicas de que nunca nos arrependemos, são aquelas que fazemos contra a ignorância. – Napoleão Bonaparte
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