FEV 2024 As quatro vidas de Daiyu
Ao leitor
C
omo conquistar sua dignidade quando você é brutalmente minimizada apenas por ter nascido mulher na China do século XIX?
É com esperança inabalável que a protagonista do livro deste mês navega por diferentes vidas ao longo de sua castigada existência. Em As quatro vidas de Daiyu, você acompanhará a história de uma menina que é forçada a amadurecer cedo demais à medida que o mundo ao seu redor parece estar numa missão para derrubá-la. Em um livro que é uma verdadeira obra de arte, Jenny Tinghui Zhang nos coloca em profundo contato com Daiyu, cuja busca por seu nome e por seu lugar revelará uma jornada arrebatadora da primeira à última página.
FEV 2024
Experiência do mês Mimo
Para guardar suas chaves, suas joias, suas moedas e tudo mais de miudeza que vier, sempre lembrando a você que ler é gostoso demais.
Projeto gráfico
Os peixes e o mar não poderiam estar de fora do projeto gráfico da capa e da revista. Escolhemos as carpas, peixes de origem chinesa que, na cultura oriental, evocam persistência, coragem e resiliência – como a personagem principal. E tudo com um contraste de cores frias e quentes, remetendo à ideia de uma contraposição de mundos, atravessada pela história.
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Publisher Rafaela Pechansky Tv. São José, 455 – Porto Alegre, RS Edição Ana Lima Cecilio Colaboradoras Laura Viola e Sophia Maia (51) 3095-5200 Designer Bruno Miguell Mesquita (51) 99196-8623 Capa Diogo Droschi contato@taglivros.com.br Revisores Antônio Augusto e Liziane Kugland www.taglivros.com Impressão Impressos Portão @taglivros TAG — Experiências Literárias
sumário 04 06 08 14 15 16
Por que ler este livro Bons motivos para você abrir as primeiras páginas e não parar mais
Universo do livro Livros, séries, filmes que orbitam o livro do mês
Sobre a autora Um retrato caprichado e uma entrevista com quem está por trás da história
Da mesma estante Livros que poderiam ser guardados na mesma prateleira do livro do mês
Vem por aí Para você ir preparando seu coração
Madame TAG responde Dor de amor? Dúvidas na vida? Nosso consultório lítero-sentimental responde com dicas de livros
4 Por que ler este livro
“Avassalador, generoso e comovente.” Ann Patchett
“Épico.” The New York Times Book Review
“Impulsionador.” Oprah Daily
Por que ler este livro 5
Por que ler este livro Um romance histórico para entrar na sua lista de favoritos, As quatro vidas de Daiyu é uma leitura dilacerante, mas igualmente poderosa e redentora. Ao acompanhar a trajetória da protagonista, você vai se deparar com um período da história que é raramente retratado — quando uma lei de exclusão de imigrantes chineses foi aprovada nos Estados Unidos, no final do século XIX —, a partir de uma escrita lírica e sensível, que honra a vida de milhares de mulheres chinesas invisibilizadas ao longo dos anos.
6
Universo do livro Livros, séries, filmes que orbitam o livro do mês Um livro para entender o contexto da história
Um podcast para mergulhar na cultura chinesa
Outro podcast com uma deliciosa entrevista de Jamie Lee Curtis com Michelle Yeoh: GOOD FRIEND
7
Uma atriz que daria uma bela Daiyu: Liu Yifei
Outro livro sobre mulheres heroicas
Um filme que também representa a cultura chinesa: O tigre e o dragão
Um desenho animado sobre a coragem feminina: Mulan
8 Entrevista com a autora
Dar sentido ao mundo Como Jenny Tinghui Zhang mergulhou na própria cultura para contar uma história de resgate da memória e construção de identidade. Ela nasceu em Changchun, uma cidade industrial chinesa, que significa, em mandarim, “longa primavera”. Ainda pequena, se mudou com os pais para Austin, Texas, e depois, Oxford, Mississippi. Quando tinha um ano de idade, os pais de Jenny fizeram um teste. Colocaram a filha frente a frente com três objetos: uma nota de dinheiro, uma boneca de pelúcia e um livro. O exercício era simples e o objetivo era determinar qual tipo de pessoa Jenny se tornaria. Segundo seus pais, não houve hesitação: a bebê engatinhou em direção ao livro. O amor pela leitura se consolidou através de sua avó, professora, que era obcecada por O sonho da Câmara Vermelha, um clássico chinês. Quando Jenny viajava para visitá-la na China, a avó a sentava na cozinha e lhe passava ensinamentos filosóficos através do livro. Depois de concluir seu mestrado em Belas Artes na Universidade de Wyoming, seus textos começaram a ser publicados em veículos como HuffPost, Literary Hub e The Cut. Apesar do talento e da persistência, a escrita ainda não era sua ocupação principal: Jenny escrevia depois do trabalho, de noite, sozinha em seu apartamento. Mas, quando perguntavam sobre sua profissão, ela fazia questão de dizer que era escritora, afirmando, em entrevistas, que usava o ofício como um “distintivo de honra”. “Escrevo para me fazer companhia”, ela disse, “e para tentar dar sentido ao mundo”.
Entrevista com a autora 9
© Mary Inhea Kang
Em 2020, Jenny terminou o seu primeiro livro, As quatro vidas de Daiyu. Demorou para cair a ficha e pareceu um milagre quando o contrato com a editora que publicaria o livro foi assinado. Aquele bebê fascinado por livros brilhou dentro da mulher que finalmente pegaria nas mãos o que foi seu sonho de vida por tanto tempo.
“
Este é um livro sobre uma jovem tentando sobreviver, e isso, para mim, é inerente e absolutamente feminista.
”
12 Entrevista com a autora
Quando você percebeu pela primeira vez que queria ser escritora? Eu não sei se alguma vez tive a compreensão de que queria ser escritora, mas sempre soube que queria escrever desde muito jovem. Ao longo da minha infância e adolescência, escrevi tudo o que pude, de fanfics a histórias bobas inventadas sobre meus amigos, a redações e relatórios escolares. Escrever era uma forma de dar sentido ao meu mundo, permitindo também me conectar com os outros de maneiras que achava difícil de outra forma. Só foi na casa dos vinte anos, após quatro anos em um emprego que sugava minha alma, que decidi que queria dedicar completamente minha vida à escrita, fazendo um mestrado em Belas Artes. Então, suponho que a resposta seja esta: quando assumi o compromisso de realizar meus sonhos. Estou muito curiosa para saber mais sobre sua pesquisa, já que este é um romance histórico cheio de detalhes. O que mais te surpreendeu nesse processo? Foi uma coisa intimidadora de se assumir no início, pois nunca tinha pensado em escrever algo histórico antes. Dependi de livros, repositórios de conhecimento disponíveis através do JSTOR, imagens e cartões-postais daquela época, recortes de jornais etc. A questão ao escrever ficção histórica é que tudo deve ser considerado — por exemplo, não poderia apenas fazer com que meus personagens viajassem entre estados sem também pensar nas limitações e possibilidades de transporte naquela época (neste caso, trens). Mas, uma vez que você atinge esse ponto, é como mexer em outro vespeiro: como os trens operavam? Quanto tempo durava a viagem? Como funcionavam os bilhetes? Como era o interior de um vagão de trem? Quem tinha permissão para entrar? Se você pensar nisso por muito tempo, nunca parará de fazer perguntas. Foi um constante compromisso em trazer pesquisa e informações relevantes para a história sem inundar a narrativa.
Entrevista com a autora 13
Acredito que a parte mais surpreendente da minha pesquisa foi o volume impressionante de violência e legislação contra os imigrantes chineses naquela época. O recurso mais valioso para mim foi o livro Driven Out: The Forgotten War Against Chinese Americans, de Jean Pfaelzer, que documenta centenas desses casos. Daiyu é uma garota tão forte e um verdadeiro exemplo de resiliência. Você considera As quatro vidas de Daiyu um livro feminista? Sim. Este é um livro sobre uma jovem tentando sobreviver, e isso, para mim, é inerente e absolutamente feminista. Quais questões sobre As quatro vidas de Daiyu você gostaria que fossem discutidas em um clube do livro? Acredito que há uma discussão interessante sobre o papel da arte na sobrevivência de alguém (como vemos com a caligrafia para Daiyu). Claro, para meu próprio divertimento, adoro ouvir com quais personagens os leitores se identificam e por quê. Há algo que você possa compartilhar sobre seu próximo projeto? Sou bastante supersticiosa, então direi apenas que é completamente diferente do meu primeiro livro!
MINHA ESTANTE O primeiro livro que li: Minhas primeiras lembranças de histórias são aquelas do Rei Macaco contadas por meus pais e avós. O livro que estou lendo atualmente: Sula, de Toni Morrison. O livro que mudou minha vida: Craft in the Real World, de Matthew Salesses. O livro que eu gostaria de ter escrito: Tive que pensar um pouco sobre esse. Há tantos livros que admiro, mas não me vejo desejando ter escrito nenhum deles — estou feliz em admirá-los de longe e aceitar que meu trabalho é algo que apenas eu posso escrever, e vice-versa. O último livro que me fez rir: Acho que um livro não me faz rir alto rir alto há muito tempo (suponho que gosto de ler livros tristes!). Mas The Stinky Cheese Man and Other Fairly Stupid Tales, de Jon Scieszka, é um livro infantil que lembro distintamente de rir e aproveitar. O último livro que me fez chorar: The Night Parade, de Jami Nakamura Lin. O livro que dou de presente: O pequeno príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry. O livro que não consegui terminar: House of Leaves, de Mark Z. Danielewski — tentei ao máximo, mas acho que ultrapassou minha compreensão.
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Da mesma estante Livros que poderiam ser guardados na mesma prateleira do livro do mês, para quem quiser continuar no assunto
CORPO DESFEITO, Jarid Arraes História fortíssima sobre três gerações de mulheres marcadas pela violência e pelo abuso, e como é possível uma reconstrução dessas vidas.
EDUCATED, Tara Westover A trajetória real da americana que pisou numa sala de aula pela primeira vez aos 17 anos até a conquista do doutorado em Cambridge.
TRISTIA/TRISTEZAS, Ovídio Coletânea de textos clássicos sobre o exílio, fala da dor de estar longe de casa, do desejo de voltar e da tensão nas vidas de quem vive longe.
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Vem por aí Dicas sobre o livro de março da TAG Inéditos: Um suspense sobre uma mulher cujo futuro brilhante é arruinado depois de cometer um duplo assassinato — enquanto sonâmbula — para então cair num sono profundo e nunca mais abrir seus olhos.
16 Consultório literosentimental
Madame TAG responde Querida Madame TAG, Depois de várias e várias tentativas frustradas de me encontrar no amor, acabei desiludida. Não posso ver post romântico, foto de casal nem história de amor na frente que acho tudo ridículo. Tem livro para devolver as esperanças no amor verdadeiro? Querida Desiludida, Não sou eu quem vai te convencer de que o amor é simples. Muito menos de que basta acreditar que ele acaba aparecendo. Amor — e a vida a dois — é uma coisa complicada mesmo. Mas os livros estão aí para provar que cada amor vem de um jeito, e que a gente precisa estar aberta e sem desconfiança, com vontade de viver uma história nova. É o que acontece em Poeta chileno, do Alejandro Zambra, ou em Notas sobre a impermanência, da carioca Paula Gicovate, ou ainda em Esperando Bojangles, de Olivier Bourdeaut, uma história de amor lindíssima contada pelo filho do casal protagonista. E muito mais: o realismo mágico de García Márquez em O amor nos tempos do cólera, a grande mestra em histórias de amor Jane Austen com seu Orgulho e preconceito, a vencedora do Prêmio Nobel de 2022 Annie Ernaux com seu Paixão simples. Você pode me perguntar, querida Desiludida, se eu quero espezinhar sua desilusão te indicando essas histórias de amor. Não, não. O que eu quero é apenas te mostrar, minha querida, que o amor se dá por caminhos tortuosos, e até uma história que não dá lá muito certo também é uma história de amor. Então, coragem, minha querida. Deixe que os livros te guiem, e procure a sua. O que eu posso te garantir é que, no mínimo, você se apaixonará pelos livros. Quer um conselho de Madame TAG? Escreva para madametag@taglivros.com.br.
“A ressonância e a atualidade dos eventos bárbaros do século XIX narrados neste livro são uma prova do poder de Zhang em contar histórias e devem servir de aviso para todos nós.” – JENNIFER EGAN