JAN 2024 A noite vai te encontrar
Ao leitor
U
ma das maiores contradições com que convivemos no dia a dia é a entre uma vida em que a ciência é indispensável — para nossa saúde, nossas casas, nossos celulares — e aquela que insiste em acreditar que há algo além do que vemos: acreditamos na ciência, mas nos jogamos no horóscopo; somos muito racionais, mas não deixamos de dar as três batidinhas na madeira que garantem que não aconteça o pior. Entre a razão e a emoção, o saber e o crer, nos movemos no mundo tentando sempre não errar demais. Este é um livro sobre o imenso espaço entre esses dois polos. A protagonista nada de braçada nesse rio que vai de uma margem à outra. E no exercício de respirar entre saber ou crer, tece uma história de suspense, mas que também é de afeto entre mãe e filha, entre duas irmãs e entre amigos. Da nossa parte, temos certeza (ou acreditamos?) que será uma viagem inesquecível.
JAN 2024
Experiência do mês Mimo
Um ano que começa é como um livro que se abre, e se é natural que a gente fique ansioso e animado para botar os novos planos em prática, também é normal que dê aquela sensação de não saber por onde começar. Foi nisso que pensamos ao construir o planner deste ano, recheado de começos de livros irresistíveis — que, claro, são também um convite — e dicas preciosas de leitura, para você mergulhar de vez no universo literário.
Projeto gráfico
A noite vai te encontrar é um thriller que aborda as fronteiras entre a ciência e o sobrenatural. A escolha do céu como elemento principal da capa é para representar essa duplicidade, tanto a profissão da protagonista, astrofísica apaixonada pelo céu, como a imensidão do desconhecido. O recorte vazado na luva remete aos tradicionais mapas estelares, reforçando a ideia de investigação. Para a revista, optamos por "colocar os pés no chão" apresentando um recorte da paisagem clássica do Texas, ilustrando novamente a ambiguidade tão presente na narrativa. PODCAST
APP
PLAYLIST
Para quem sabe que o livro sempre rende boas conversas
Visite o app para saber mais sobre o livro e participar da comunidade
Para ajudar a embalar a sua leitura
Publisher Rafaela Pechansky Tv. São José, 455 – Porto Alegre, RS Editora Ana Lima Cecilio Colaboradoras Laura Viola e Sophia Maia (51) 3095-5200 Designer Bruno Miguell Mesquita (51) 99196-8623 Capa TAG contato@taglivros.com.br Revisores Antônio Augusto e Liziane Kugland www.taglivros.com Impressão Impressos Portão @taglivros TAG — Experiências Literárias
sumário 04 06 08 14 15 16
Por que ler este livro Bons motivos para você abrir as primeiras páginas e não parar mais
Universo do livro Pistas para você se achar, se perder, conhecer e imaginar
Entrevista com a autora Para entender tudo que a autora diz
Da mesma estante Livros que poderiam estar por perto, por um motivo ou por outro
Vem por aí Para você ir preparando seu coração
Consultório literosentimental Dor de amor? Dúvida de para onde ir? Madame TAG responde com dicas de comportamento e livros
6 Por que ler este livro
“Assombroso, sincero, arrepiante e belamente escrito, A noite vai te encontrar caminha naquela rara linha entre mistério, suspense e estudo de personagem verdadeiramente original. Eu adorei.” Chris Whitaker, autor de Começamos pelo fim
“A noite vai te encontrar é um mistério habilmente interpretado, com personagens atraentes, um enredo de ritmo impecável e reviravoltas surpreendentes. Heaberlin escreve com uma beleza tão dolorosa que me peguei parando para saborear suas palavras e depois correndo porque mal podia esperar para descobrir o que aconteceria a seguir.” Heather Gudenkauf , autora de The overnight guest
Por que ler este livro 7
Por que ler este livro Um thriller que te prende do começo ao fim, um mistério a ser resolvido, mas isso num livro que vai muito além de um livro de suspense: A noite vai te encontrar é uma declaração de amor aos mistérios da ciência e da mente humana. Preste atenção nas personagens e em tudo que vai dentro da cabeça delas, e em como a aceitação do mistério da vida é uma homenagem à nossa sabedoria e à nossa ignorância, e o verdadeiro saber é entender o inexplicado e se entregar à delícia que é caminhar no escuro.
8
Universo do livro Pistas para você se achar, se perder, conhecer e imaginar
Para seguir na sátira Filme: Não olhe para cima
Para entender o antagonista Documentário: A terra é plana
Um ator para o detetive Clint Eastwood
Amizade ou amor? Filme: O casamento do meu melhor amigo
9
Um passeio Planetário
A ciência que desvenda mistérios Filme: Minority Report
Um aplicativo para olhar o céu App: Stellarium
A mesma vibe investigativa Filme: O homem que odiava as mulheres
Um embate Mulder X Scully, de Arquivo X
10 Entrevista com a autora
Ciência para imaginar, imaginação para ter certeza Julia Heaberlin, uma autora que não tem preguiça de pesquisar e estabelecer diálogos para criar suas personagens
Ela cresceu em uma pequena cidade do interior do Texas, cenário que foi pano de fundo de seu primeiro romance, Playing dead. Durante os verões inclementes do Texas, antes de beijar na boca e de poder dirigir, ela se enfiava no prédio antigo onde ficava a biblioteca e se aproveitava da amizade com a bibliotecária para levar para casa vários romances que fizeram sua formação. Também foi nessa época que ela começou a preencher páginas e páginas de diários com pensamentos e as histórias das primeiras paixões não correspondidas. Foi crescendo, deixando para trás a personalidade tímida, e livros como O diário de Anne Frank, Anna Kariênina e O poderoso chefão passaram a fazer parte da sua formação. Passou pela faculdade e tornou-se jornalista, ainda que nunca tenha deixado de lado o sonho descrito nos diários de escrever seu primeiro thriller. No jornalismo, aprendeu mais, muito mais, sobre escrita, sobre a maldade, sobre a força da perversidade. Foi só mais velha, com o estímulo do marido, que teve coragem de largar o emprego, cortando pela metade a renda da família, e se dedicar a escrever dois romances, que foram rejeitados por quase todas as grandes editoras de Nova York.
Entrevista com a autora 11
© Jill Johnson
Entre as incertezas que a fazem se sentir novamente a garotinha insegura e as imensas alegrias de publicar livros de sucesso, ela vai levando sua vida de escritora entre frustrações, aprendizados e inegáveis triunfos. Ainda que não fuja de temas delicados e por vezes sombrios, seus livros sempre têm algo de esperança e humor, além de buscar temas relevantes no mundo contemporâneo, como ciência, pena de morte, misoginia e violência em geral. A escrita a ajuda a estar sempre ligada às obscuridades que carregamos, mas também a descobrir, cada vez mais, quem é aquela menina que emprestava livros da biblioteca de uma cidadezinha no Texas.
12 Entrevista com a autora
Um dos grandes temas deste livro é a ciência versus o sobrenatural. De onde surgiu a ideia para ele? O que veio primeiro: o conceito geral ou a trama e seus personagens? Eu queria criar uma protagonista como a Vivvy Bouchet, uma cientista apaixonada que representasse o conflito e o espaço cinzento entre a ciência e o sobrenatural. Vivemos tempos estranhos — nossos sistemas de crença estão de pernas para o ar, e a verdade nunca pareceu mais ilusória. Eu queria que o leitor acreditasse, então tive que construir o aspecto psíquico de uma maneira crível e garantir que minha pesquisa em astrofísica fosse precisa. Quando me sento para escrever qualquer livro, começo apenas com um conceito geral — neste caso, explorar nosso fascínio por teorias da conspiração, crimes reais, fenômenos psíquicos, Deus e uma crescente descrença na ciência. A personagem é o que ilumina a história para mim; assim que comecei a escrever Vivvy, a trama foi tomando forma, palavra por palavra. Vivvy exemplifica um dos meus pontos: que a ciência e fenômenos estranhos estão ligados. Se não tivéssemos a imaginação para acreditar no desconhecido, a ciência nunca avançaria. E como diz Neil deGrasse Tyson: “se você não acredita na ciência, a primeira coisa que deve fazer é se livrar do seu celular”.
13
“
Se não tivéssemos a imaginação para acreditar no desconhecido, a ciência nunca avançaria. E como diz Neil deGrasse Tyson: 'se você não acredita na ciência, a primeira coisa que deve fazer é se livrar do seu celular'.
”
14 Entrevista com a autora
© Jill Johnson
Quais discussões levantadas pelo livro você gostaria que fossem tema de clubes de leitura? Eu adoraria que as pessoas examinassem seus próprios sistemas de crença — compartilhassem coisas inexplicáveis que aconteceram com elas (espirituais, fantasmas, coincidências estranhas etc.) —, porque imagino que grande parte das pessoas tem dúvidas sobre a ciência, sobre teorias da conspiração e outras doenças provocadas pela nossa cultura midiática fora de controle. Alguns dos clubes do livro americanos que leram e discutiram A noite vai te encontrar dizem que ficaram surpresos com quantos de seus membros já tinham vivenciado algo estranho que nunca haviam compartilhado. Vivvy é uma personagem extremamente complexa e muito bem desenvolvida. Como você a concebeu e como foi seu processo de pesquisa em conceitos de astrofísica? Eu tive muita sorte: o especialista que consultei foi meu primo Sean Stapf, que por acaso é um brilhante cientista de foguetes. Ele costumava
Entrevista com a autora 15
pegar moscas com as mãos em nossas reuniões de família quando éramos crianças, e só mais tarde eu entendi que ele estava usando seu cérebro de físico. Quanto às minhas entrevistas de pesquisa para o livro, perguntava a ele coisas tolas, e ele me enviava respostas científicas e filosóficas, que moldaram Vivvy na personagem genuína e complexa que ela é. Ele também me pôs em contato com um astrofísico que trabalha para Elon Musk, que foi igualmente profundo sobre a vida. Eles me surpreenderam muito com suas respostas. Eu sou, antes de tudo, jornalista. Aprendi há muito tempo a pesquisar pessoas da vida real para a minha ficção, para dar a profundidade e a autenticidade de que preciso em um personagem. Como é o seu processo de escrita? Escrevo cerca de 1500 palavras por dia. Isso pode levar cinco horas ou pode levar dez. Mas não encerro o dia até ter 1500 BOAS palavras. No dia seguinte, aprimoro essas palavras por cerca de uma hora e depois passo para as próximas 1500. Há algo que você possa compartilhar sobre o seu próximo projeto? Só posso dizer que meu próximo livro também é um thriller psicológico! Quanto ao livro A noite vai te encontrar, a Fox Television comprou seus direitos e está trabalhando em uma série de TV para dar vida a Vivvy!
MINHA ESTANTE O primeiro livro que li: Eu me lembro mais do primeiro que minha mãe leu para mim: Uma casa na floresta, de Laura Ingalls Wilder. O livro que estou lendo atualmente: Tenho três em andamento: Killers of the flower moon, de David Grann; Quando deixamos de entender o mundo, de Benjamín Labatut; e The ice limit, de Preston & Child, recomendado pelo meu primo cientista de foguetes, que o considerou um dos seus thrillers científicos favoritos. O livro que mudou minha vida: Todos eles! Concordo com quem disse que não lembramos dos livros que lemos, mas eles moldaram quem somos. Ou algo assim. O livro que eu gostaria de ter escrito: A prayer for Owen Meany, de John Irving. O último livro que me fez rir: Em voz alta? Uma confraria de tolos, de John Kennedy Toole. Acho que um dos feitos mais impressionantes de um autor é fazer um leitor rir em voz alta. O último livro que me fez chorar: Toda luz que não podemos ver, de Anthony Doerr. O livro que dou de presente: Isso depende completamente da situação e do que a pessoa gosta de ler. Alguns amigos são tão leitores que tenho que procurar muito. Alguns amigos estão doentes e precisam de uma risada. Escolho um livro para o momento e para a pessoa. É isso que eu amo nos livros como presentes — escolhas infinitas.
16
Da mesma estante Livros que poderiam estar por perto, por um motivo ou por outro
DESLUMBRAMENTO, Richard Powers Fascínio pela ciência, emergência climática, outros mundos possíveis — o romance tem tudo isso, mas para contar uma das mais belas histórias contemporâneas sobre afeto, encontro e acreditar que o mundo pode ser melhor.
ONZE PORTAS PARA A ESCURIDÃO, C. J. Tudor Narrativas assustadoras para fãs de Black Mirror e Stranger Things, com fendas no espaço-tempo, apocalipses e crianças macabras. Aqui, nada é o que parece, e vida e fantasia se misturam de forma aterrorizante.
QUANDO DEIXAMOS DE ENTENDER O MUNDO, Benjamin Labatut Ensaio instigante que ensina a olhar o mundo com curiosidade, preocupação e maravilhamento, reconhecendo tudo que há nele de inexplicável, com um imenso respeito pelos seus mistérios.
17
Vem por aí Para você ir preparando seu coração para a TAG Inéditos de fevereiro: Uma história comovente, sobre enfrentar inúmeros desafios e se encontrar.
18 Consultório literosentimental
Madame TAG responde Querida madame TAG, meu marido é um sujeito culto, que adora ler, mas não tem sido uma boa pessoa: trata os outros mal, não percebe o quanto é grosseiro e o quanto pode machucar as pessoas. Quais livros Madame indica para que ele se torne uma pessoa melhor? Querida Maria, que coisa desagradável é a falta de educação! E ainda mais quando vem de alguém que, lendo, provavelmente tenha conhecido a delicadeza de um Riobaldo. Mas pelo visto seu escolhido está mais para a brutalidade do Hermógenes. Você pode começar por um livro intrigante e longo, como O despertar de tudo. Certamente vai ficar envolvido na leitura de tal modo que te garantirá uns dias de paz. E aí emenda em Guerra e paz, Ulysses, e outros catataus que o tirariam do convívio social por um bom tempo. Outro caminho é ir injetando pequenas doses de poesia contemporânea: Ana Martins Marques, bem ministrada, é certeira para descobertas inusitadas; Bruna Beber, em pequenas doses, anima o paciente com alegrias cotidianas; e Gregório Duvivier, sem moderação, fornece ao doente grandes porções de felicidade. E a pessoa feliz, você sabe, tende a ser mais delicada, mais aberta. “Gente certa é gente aberta”, como diz o imenso poeta Erasmo Carlos. Quer um conselho de Madame TAG? Escreva para madametag@taglivros.com.br
“A posse de conhecimento não mata o senso de dúvida e mistério. Sempre há mais mistério.” – ANAÏS NIN