"23 minutos" TAG Inéditos - Junho/2024

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JUN 2024 23 minutos

TAG — Experiências Literárias

Tv. São José, 455 – Porto Alegre, RS (51) 3095-5200 (51) 99196-8623 contato@taglivros.com.br www.taglivros.com @taglivros

Publisher Rafaela Pechansky

Edição e textos Rafaela Pechansky

Colaboradoras Laura Viola e Sophia Maia

Designer Bruno Miguell Mesquita

Capa Marcus Pallas

Revisores Antônio Augusto e Liziane Kugland

Impressão Impressos Portão

Olá, tagger

Ofinal da adolescência é um dos períodos mais turbulentos/confusos/ conflituosos na vida de uma pessoa. Há muita ambivalência envolvida: 1) querer mais independência, mas se apavorar com a perspectiva de deixar a infância oficialmente para trás; 2) se sentir pronto para testar beijos e pessoas ao mesmo tempo que a ideia de transar com alguém pela primeira vez parece algo impossivelmente constrangedor; 3) tomar decisões que irão pautar o resto da vida quando você não completou o ensino médio e um turbilhão de hormônios e emoções parecem paralisar cada fibra do seu ser. Todos nós, adultos, passamos por isso.

No livro que você recebe neste mês, o autor Waldson Souza descreve com maestria os conflitos que permeiam a adolescência, especificamente sob a perspectiva de um jovem brasileiro cuja sexualidade está em teste, borbulhante, e que precisa lidar com todo o racismo que aflige sua família. A maldição que o acomete é um grande símbolo para essa praga criminosa — e torna a história do garoto Hugo poderosa, envolvente e recheada de significado. Em 23 minutos, Waldson nos coloca diante do racismo estrutural de forma corajosa, sem meias palavras, nos lembrando que confrontar a realidade é o primeiro passo para mudá-la.

Experiência do mês

JUNHO 2024

Seu livro além do livro: para ouvir, guardar, expandir, crescer.

Mimo

O mimo do mês é um estojo de algodão feito em parceria com a Ideia Crua, empresa familiar que busca construir uma cadeia de trabalho sustentável, sem plástico e com responsabilidade social. A estampa é um convite para pensar o espaço que a leitura tem nas nossas vidas.

Seja carregando lápis e canetas ou itens de higiene pessoal, o mimo é um lembrete daquilo que levamos sempre com a gente: livros existem porque a vida não basta.

Para quem sabe que o livro sempre rende boas conversas

Projeto gráfico

Mergulhamos na dualidade da adolescência através do protagonista. A bicicleta, símbolo do lúdico e da liberdade juvenil, evoca os dias e noites passados nas ruas com os amigos. No entanto, percebemos também uma outra realidade: o perigo iminente, o racismo, a violência que espreitam nas esquinas. A capa se torna assim uma representação da jornada de Hugo, entre a inocência e as sombras, entre a luz do dia e a escuridão das noites inquietas.

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Para ajudar a embalar a sua leitura

PODCAST
APP
PLAYLIST

sumário

Por que ler este livro

Bons motivos para você abrir as primeiras páginas e não parar mais

Universo do livro

Livros, séries, filmes que orbitam o livro do mês

Sobre o autor

Um retrato caprichado e uma entrevista com quem está por trás da história

Vem por aí

Para você ir preparando seu coração

Dor de amor? Dúvidas na vida? Nosso consultório literosentimental responde com dicas de livros 04 06 08 13 14 16

Da mesma estante

Livros que poderiam ser guardados na mesma prateleira do livro do mês

Madame TAG responde

“É um livro não apenas bem escrito como necessário, já que dialoga com uma realidade tão triste e terrível vivenciada no mundo todo e, principalmente, no Brasil.”
Mia Sodré, tester da TAG
Por que ler este livro 4

Por que ler este livro

Uma das missões da TAG é abrir espaço para a nova geração de escritores brasileiros. Também sabemos que os nossos leitores anseiam por ler histórias que representem a diversidade de vozes que compõem o Brasil. Waldson Souza é dono de uma dessas vozes. No livro que você tem em mãos, ele conta a história de um jovem que precisa lidar com o racismo que se apresenta através de uma maldição torturante. Trata-se de um livro cheio de camadas: igualmente profundo, envolvente, simbólico e divertido.

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Universo do livro

Livros, séries, filmes que orbitam o livro do mês

23 MINUTOS é um suspense viciante, como Bom dia, Verônica

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Baseada no livro de Ilana Casoy e Raphael Montes, a série traz a história de uma detetive à caça de um predador sexual que comete os mais sinistros crimes.

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cuja protagonista nas telas é interpretada por Blake Lively, bem como em Quatro amigas e um jeans viajante

História de melhores amigas que, depois de muitos verões, finalmente seguirão caminhos diferentes.

que fala de violência doméstica, bem como É assim que acaba

Livro best-seller que conta uma história arrasadora sobre um amor que custa caro demais.

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cujas obras são cheias de metáforas e simbolismo que denunciam o racismo, bem como 23 MINUTOS, de Waldson Souza

uma obra de ficção científica muito original, como cada livro de Octavia Butler

Uma das mais aclamadas escritoras de ficção científica, vencedora dos prêmios Nebula e Hugo. 4

filme que evidencia os conflitos que envolvem ser adolescente, bem como O guia do mochileiro das galáxias

O livro conta as aventuras de uma dupla que escapa da destruição da Terra pegando carona numa nave alienígena.

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Mesmo com mais espaço para protagonistas negras e LGBTQIA+, ainda enfrentamos censura

Waldson Souza, quando questionado sobre o que o desanima em relação ao cenário literário brasileiro, lembra que ainda precisamos lutar muito por uma literatura mais plural

O jovem Waldson Souza nasceu em Brasília, mas não é necessário procurar essa informação na Wikipédia: se você o seguir no X (ex-Twitter), verá vários comentários perspicazes sobre o clima brasiliense e toda a sua inconstância. Também verá postagens sobre idas a cabeleireiros que, quando descobrem que ele é escritor, correm para ler poemas autorais em voz alta. O autor de 23 minutos é um observador da vida cotidiana.

Além de escrever (ofício que começou durante a infância), Waldson é um grande leitor. Formado em letras e mestre em literatura pela UnB, ele deixa evidente que os livros sempre o acompanharam. No mestrado, escreveu uma dissertação sobre afrofuturismo, o que faz todo o sentido quando lemos 23 minutos e mais ainda quando Waldson cita seus livros e escritores preferidos — Octavia Butler é autora daquele que mudou a sua vida.

Entrevista com o autor
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©Romário Costa

Do início ao fim, 23 minutos é um livro que carrega uma mensagem muito poderosa sobre amizade, racismo e dilemas éticos. Qual foi a sua inspiração para escrever essa história?

Sempre gostei muito de histórias sobre viagem no tempo e ciclo temporal; estão entre meus elementos preferidos da ficção científica. Só que, durante muito tempo, eu não pensava no que significa estar preso no passado, ou mesmo no presente, quando se é uma pessoa racializada. Isso mudou quando conheci Kindred , de Octavia E. Butler; foi a primeira história de viagem no tempo com protagonismo negro que li. Também era um momento da minha vida em que eu começava a pesquisar representatividade negra e ficção especulativa, entendendo como alguns elementos e contextos ganham abordagens distintas a depender das personagens centrais. Anos depois, trabalhando em 23 minutos, eu me sentia inspirado por filmes de horror negro, então algo que conduziu a escrita foi a reflexão sobre o que uma morte cíclica simbolizaria para alguém como o Hugo. Daí surgiram as dificuldades e os dilemas que ele enfrenta. Mas, ao mesmo tempo, eu não queria que fosse somente uma história de sofrimento, por isso, apesar da situação complicada, Hugo vai descobrindo que não está sozinho.

Quando você escreveu 23 minutos , havia um objetivo político em mente ou foi algo que apenas aconteceu durante o processo de criação do enredo?

“ O livro

tem

duas versões muito diferentes.

O livro tem duas versões muito diferentes. A primeira vez que escrevi a história de Hugo foi em 2013, o manuscrito se chamava “Ciclo” e tinha toda essa ideia de morte como uma maldição temporal, se repetindo no mesmo horário. Porém a ambientação nos anos 2000, algumas características do Hugo e os aspectos sobre raça e sexualidade não existiam. Em 2020, lembrei desse manuscrito e, percebendo o quanto ainda gostava da ideia, decidi reescrever. Pouca coisa se manteve do original, a não ser o conflito central, o contexto escolar, a cidade pequena e o nome de alguns personagens. Reestruturei a história, tive novas ideias e adicionei a discussão racial e elementos que hoje em dia fazem parte da minha escrita e sou mais confortável para desenvolver. Junto com essas atualizações, também planejei incluir elementos de afrofuturismo, pois minhas leituras e influências haviam mudado. Gosto do resultado final, porque ele manteve a alma daquela primeira versão, mas, ao mesmo tempo, se tornou algo novo e mais maduro, que eu só poderia ter escrito com mais experiência.

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Quais questões você gostaria que os associados da TAG discutissem sobre o seu livro?

Primeiro, quero dizer que estou muito empolgado com o lançamento pela TAG. Fiquei feliz com a oportunidade e sou grato por todo o carinho que a edição recebeu. (E não posso negar que também estou um pouco nervoso pensando no alcance que o livro terá. Mas é um tipo bom de nervosismo.)

Sobre as questões, eu gostaria que discutissem como as noções de medo e horror são elaboradas dependendo do contexto, nossa relação com o tempo e como o presente sempre mantém algo das opressões do passado, construção de identidade, a importância dos afetos para lidar com dificuldades cotidianas.

Hugo é um personagem complexo que precisa lidar com todas as peculiaridades que a fase da adolescência traz. Como você o concebeu?

Quando pensei em como Hugo lidaria com a maldição, defini um traço de personalidade que é o fato dele não saber como pedir ajuda por não estar acostumado com isso. Uma recusa que vem de sentimentos comuns da adolescência, como a sensação de deslocamento e o medo de ser incompreendido. E, no caso de Hugo, por causa da sexualidade, ele já está acostumado a esconder aspectos de sua vida. Eu também queria que

ele estivesse prestes a terminar a educação básica para abordar esse momento de transição da adolescência para a vida adulta, que costuma ser repleto de decisões importantes. Hugo tem algumas certezas sobre o que quer no futuro, mas é levado a questionar o sentido de tudo.

2024 é um ano com muita coisa acontecendo quando falamos de literatura brasileira contemporânea, além de clássicos resgatados, ganhando releituras. Como você enxerga o cenário atual? O que te anima e o que te desanima atualmente?

Fico animado quando penso sobre algumas mudanças recentes na literatura especulativa brasileira. Mesmo que o cenário ainda não seja ideal em termos de oportunidades, hoje temos um maior investimento das editoras em obras nacionais, comparado com uns 15 anos atrás (quando comecei a escrever). E o conjunto de obras valoriza mais a vivência de grupos minorizados, as regiões fora do eixo Rio-São Paulo e perspectivas/contextos próprios da experiência de viver no Brasil. Porém, mesmo com um maior espaço para histórias protagonizadas por personagens negras e LGBTQIA+, ainda enfrentamos movimentos de censura, como o que aconteceu com o beijo gay na Bienal do Rio de 2019 e mais recentemente com o livro O avesso

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da pele , de Jeferson Tenório. Isso me desanima, mas também é um lembrete de que a luta por uma literatura mais plural acontece de forma gradativa e que as tentativas de silenciamento não desaparecem com facilidade.

Como é o seu processo de escrita? Você segue uma rotina?

Costumo dedicar um tempo inicial para pesquisa e planejamento, gosto de rascunhar ideias, personagens e lugares no papel, sem me preocupar muito com o que surge e usarei de fato. Depois, no computador, faço fichas de personagens e outline para definir o que vou escrever em cada capítulo. Quando começo a escrita de fato, lembro que planejamento é mais um direcionamento, pois algumas coisas mudam e novas ideias surgem ao longo do processo. E tento também deixar a primeira versão do manuscrito o mais livre que consigo para a escrita fluir da melhor forma possível. Já reparei como alguns bloqueios surgem quando estou muito preocupado com o resultado final. E isso diminuiu quando passei a valorizar mais o processo de reescrita e edição. Geralmente, deixo lacunas na primeira versão do manuscrito porque entendo que terei tempo de resolver depois — reescrevendo é quando tudo realmente ganha forma. Essas etapas não costumam variar muito de um projeto para outro, e sempre escrevo ouvindo música.

MINHA ESTANTE

O primeiro livro que li: O menino maluquinho, Ziraldo.

O livro que estou lendo atualmente: O sol na cabeça, Geovani Martins.

O livro que mudou minha vida: Kindred, Octavia E. Butler.

O livro que eu gostaria de ter escrito: Se a rua Beale falasse, James Baldwin.

O último livro que me fez rir: Negro é lindo, Johnatan Marques.

O último livro que me fez chorar: Saia da frente do meu sol, Felipe Charbel.

O livro que dou de presente: Olhos d'água, Conceição Evaristo.

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No próximo mês

Encontre as 8 PALAVRASque dão dicas do spoiler do próximo mês.

No próximo mês, um livro de um dos maiores autores de suspenses da atualidade. Você não vai conseguir largar até descobrir quem está por trás dos sinistros assassinatos de mulheres que assombram uma capital nórdica.

sangue - assassinatos - serial killer - oslo - sinistro - parasitas - medo - madrugada 13

Da mesma estante

Livros que poderiam ser guardados na mesma prateleira do livro do mês, para quem quiser continuar no assunto

SE A RUA BEALE

FALASSE, James Baldwin

Companhia das Letras

224 pp.

Lançado em 1974, Baldwin narra os esforços de uma jovem que precisa lutar para provar a inocência de seu noivo, preso injustamente. A trama joga luz sobre o desespero, a tristeza e a esperança em um país onde a discriminação racial está profundamente arraigada no cotidiano.

O CASAL QUE MORA

AO LADO, Shari Lapena

Record

294 pp.

Nesse suspense psicológico em que um casal se vê diante do seu pior pesadelo — um bebê que desapareceu misteriosamente do seu berço durante a noite —, o leitor descobrirá que as pessoas são capazes de qualquer coisa quando estão sob pressão.

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GARANTA SEUS LIVROS AQUI:

Lá no site, além de aproveitar seu desconto de associado TAG, você tem mais informações sobre os livros — e muitas outras dicas!

VERMELHO, BRANCO

E SANGUE AZUL, Casey McQuiston

Companhia das Letras

392 pp.

Quando sua mãe foi eleita presidenta dos EUA, Alex se tornou o foco dos jornais. Mas quando sua família viaja para um casamento real britânico, Alex tem que encarar o seu primeiro desafio diplomático: lidar com Henry, o príncipe mais adorado do mundo.

VIA ÁPIA, Geovani Martins

Companhia das Letras

344 pp.

Cinco jovens muito diferentes entre si precisam lidar com a chegada da vida adulta — seus amores, amizades, dramas — enquanto vivenciam as consequências devastadoras depois que a polícia invade a Rocinha para instalar uma UPP (Unidade de Polícia Pacificadora).

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Madame TAG responde

Querida Madame TAG, preciso da sua ajuda. Desde que assinei a TAG, já percebi como é bom ler. Mas às vezes a vida me engole e eu não consigo nem ler o livro do mês, que sempre chega tão bonito. O vilão? O celular. Uma olhadinha no Instagram vira duas horas de rolação de tela, e, quando eu vejo, estou exausta e com zero página lida. Os livros vão se acumulando, e a frustração é imensa. O que fazer? Ass: Uma leitora viciada em telas.

Querida leitora,

Mas quanta angústia! A vida corre e não há tempo para você se agarrar com as páginas de um bom livro? A solução está mais fácil do que você imagina. Veja bem que, na sua própria assinatura, já tem a sua essência: ser leitora. Você já tem a chama que nos liga à literatura. Muita gente passa a vida inteira sem experimentar a delícia inenarrável de mergulhar num livro. Quem tem essa chama, querida, vai sempre ser leitor, por mais que não consiga ler o tanto que gostaria.

As telas dão uma angústia sem fim. Todo o esquema é feito para a gente ter a sensação de que aquilo não acaba nunca, tem sempre mais um vídeo, um meme, uma notícia. Tudo é projetado como um buraco de coelho de Alice, em que você se joga e não sai mais. E, acredite, você não está sozinha.

Mas imagino que o celular te acompanhe em muitas horinhas de bobeira, não? No transporte público, nas salas de espera, antes de dormir, esperando a água ferver. Se você trocar apenas um desses momentos pela leitura, bingo!, você garante pelo menos 10, 15 minutinhos de estar com seu livro por dia.

E mais: livro, ao contrário das redes sociais, acaba. E quer coisa mais tranquilizadora do que terminar um bom livro? Ele segue com a gente, e a gente fica pensando nele, mas dá aquela sensação deliciosa de acabar algo — certamente, o melhor antídoto da angústia.

Quer um conselho de Madame TAG? Escreva para madametag@taglivros.com.br

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“Aos quinze anos, tudo é infinito.”
– MACHADO DE ASSIS

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