OLÁ, TAGGER Olá, tagger
Exílio, livro que você recebe agora, nos lança para um tempo remoto, durante o processo de colonização do território australiano pelo Império Britânico. Entretanto, as jornadas de suas personagens, tão bem construídas por Christina Baker Kline, ressoam sentido mesmo nos dias de hoje. Afinal, temas como a união feminina e a busca por liberdade nunca se esgotam, possibilitando reflexões fecundas na atualidade.
Para facilitar a compreensão do romance, publicamos a seguir um texto introdutório ao livro e uma contextualização histórica com mais detalhes sobre o pano de fundo da trama. Você também encontra uma entrevista exclusiva com a autora e uma série de recomendações de outros livros com a temática do exílio.
Boa leitura!
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QUEM FAZ
RAFAELA PECHANSKY Publisher
JÚLIA CORRÊA Editora
LIZIANE KUGLAND Revisora
ANTÔNIO AUGUSTO Revisor
Capa TAG | Jane Lawton Baldridge
Página da loja Lais Holanda
Impressão Impressos Portão
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VAMOS LER Exílio
Criamos esta experiência para expandir sua leitura. Entre no clima de Exílio colocando a playlist especial do mês para tocar. É só apontar a câmera do seu celular para o QR Code ao lado ou procurar por “taglivros” no Spotify. Não se esqueça de desbloquear o kit no aplicativo da TAG e aproveitar os conteúdos complementares!
Leia até a página 65
Mathinna, uma menina aborígene, está sendo cobiçada por uma família britânica. Enquanto isso, Evangeline cai na conversa de Cecil e acaba se dando mal por isso: grávida, é presa e enviada ao exílio na Austrália. Pelo menos, ela conseguiu fazer uma amiga na prisão, Olive, e essa parte do livro termina quando estão prestes a embarcar. Continue a leitura, porque ainda há muita água para rolar (literalmente!).
Leia até a página 131
A pequena Mathinna embarca e tem de se adaptar abruptamente a uma nova vida. Ela pode levar seu gambá de estimação consigo, a única lembrança de sua antiga realidade. Enquanto isso, Evangeline passa por maus bocados no convés e tenta fazer mais uma amiga, Hazel. Será que falta muito para elas chegarem ao destino final?
Leia até a página 197
Quantos baques até agora! Entre partos malsucedidos, perdas e mortes, as prisioneiras desembarcam na prisão de Cascades. Que tal abrir o app e compartilhar suas impressões sobre a leitura?
Leia até a página 264
Ruby é mandada para o orfanato, para o desespero de Hazel. Hazel passa a trabalhar na casa de Mathinna, e as duas criam certo vínculo. A menina acaba bebendo demais em uma festa, aborrece a família que a tomou e, assim, torna-se alvo de uma atitude drástica. O médico, Dunne, volta à narrativa…
Leia até a página 310
Quantas coisas aconteceram nas últimas páginas, não é mesmo? Buck tenta fazer mal a Ruby, mas tem um desfecho trágico. Descobrimos também o que ocorre com Hazel e Dunne, assim como os destinos de Mathinna e Ruby. E não é que finalizamos o livro com uma mensagem positiva? O que você achou da leitura? Nos conte lá no app!
Exílio pode ter terminado, mas a experiência não!
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projeto gráfico
O projeto foi desenvolvido internamente pela equipe de design da TAG a partir da pintura Sunrise Over the Reef, da artista norte-americana Jane Lawton Baldridge, cuja composição remete às noções de água, mar e viagem — elementos importantes na trama de Exílio. Ao descrever seu próprio trabalho, a artista explicita suas referências:
“A maioria das minhas memórias gira em torno da costa ou do azul profundo do oceano. Navegando nele, submersa em seu vigoroso abraço turquesa ou, pelo menos, olhando para ele, desejando senti-lo, cheirá-lo e prová-lo.”
mimo
A biblioteca dos taggers, não importa o tamanho, costuma ser um cantinho de encher os olhos. Pensando nisso, o mimo de março foi concebido como um objeto de decoração desse espaço, para tornar a literatura ainda mais presente na sua rotina. A ilustração do item remete a um ex-libris, inscrição usada para registrar a propriedade de um livro.
“Um feito vívido e gratificante de empatia e imaginação.”
“Repleto de reviravoltas surpreendentes, prosa empática e revelando detalhes históricos, a história poderosa e ressonante de Kline agradará a qualquer fã de ficção histórica.”
Publishers Weekly
“Kline tira o máximo proveito da ficção — sua liberdade para criar personagens atraentes que iluminam completamente eventos monumentais para tornar a história acessível e gravada para sempre em nossas mentes.”
Houston Chronicle
Paula McLain, autora de Casados com Paris
Por que ler o livro
Christina Baker Kline apresenta uma ficção histórica envolvente e emocionante, fruto de extensa pesquisa da autora. Sob a perspectiva feminina, ela nos conduz por jornadas que revelam as mazelas da colonização da Austrália no século XIX e os desafios enfrentados por suas personagens em busca de liberdade e redenção. Best-seller do New York Times, a obra figurou ainda em uma série de listas da imprensa de melhores leituras de 2020, ano de seu lançamento.
A história também é escrita pelas mulheres
IAREMA SOARES
Christina Baker Kline recria o início de uma nova sociedade em uma terra desafiadora, contando a história da Austrália de uma nova perspectiva
Perigo da história única. É nisso que, invariavelmente, recaem as narrativas sobre os processos de colonização. O conceito foi cunhado pela escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie. Para ela, essa ideia toma forma e ganha vida quando toda a complexidade de uma pessoa e de seu contexto são reduzidos a um só aspecto. Em Exílio, de Christina Baker Kline, não há margem para tal equívoco: a história dos colonizadores desenhados pela autora passa longe de narrar a vida daqueles — geralmente, homens — que avançaram em direção ao desconhecido para “construir” um novo país. Kline lança um olhar crítico sobre a história australiana e concede especial atenção para as funções e papéis desenvolvidos pelas mulheres, sem deixar de abordar o modo como os povos originários (aborígenes) do país foram brutalmente retirados de suas terras para dar lugar àqueles que haviam sido enviados para a Austrália. A autora vem para contrapor a história dada sobre o processo de colonização — afinal, o que geralmente conhecemos como narrativa nada mais é do que algo contado a partir da perspectiva dos conquistadores, que deixam em último plano, quando não excluem por completo, grupos minorizados.
Em Exílio, Evangeline, uma jovem e ingênua governanta no início do século XIX em Londres, é seduzida pelo filho de seu empregador, demitida quando sua gravidez é descoberta e enviada para a prisão de Newgate. Depois de meses na prisão — que atropela as condições mínimas de respeito e de sobrevivência
de qualquer pessoa —, ela descobre que foi condenada a uma colônia penal na Austrália. Nessa viagem até outras terras, Evangeline faz amizade com Hazel, que foi condenada por roubar uma colher de prata.
Além disso, na terra de destino dessas prisioneiras, o governo britânico na década de 1840 considera essa colônia incipiente, desabitada e instável, e vê os nativos como um incômodo. Por isso, com a chegada dos navios com os prisioneiros, muitos nativos foram realocados à força e suas terras apreendidas por colonos brancos. Uma dessas pessoas realocadas é Mathinna, a filha órfã do chefe da tribo Lowreenne.
Baker Kline recria o início de uma nova sociedade em uma terra desafiadora, contando a história da Austrália de uma nova perspectiva, através das experiências de Evangeline, Hazel e Mathinna. O livro mergulha fundo nas questões de identidade social e sobrevivência durante um período da história em que as mulheres eram lidas praticamente como não cidadãs, além do fato de que o governo britânico acreditava ter o direito de dizimar povos originários que viviam naquele território. A narrativa acompanha a vida dessas personagens femininas, passando pela tristeza que sentiam, pelas dificuldades que enfrentavam e pelas perdas que viveram.
O que ganha destaque na narrativa é que o enredo é fruto de acontecimentos reais. Ele reflete a vida de uma presidiária que foi transportada para a Austrália, mas Kline acreditou que seria inconsequente e insensato não abordar a questão dos aborígenes que foram exilados de suas próprias terras pelos britânicos. Logo, a autora mergulhou em tudo o que pôde sobre a Mathinna da vida real para complementar as narrativas de Evangeline e Hazel. Em entrevistas, a escritora revela que leu dezenas de livros, artigos e ensaios sobre a vida dos prisioneiros e a história dos aborígenes da Tasmânia, estado insular da Austrália. Percebe-se que foi empregado com ardor um esforço para acertar os detalhes e transmitir as nuances das experiências das personagens. Exílio é uma história nascida das dificuldades, dos laços inquebráveis de amizades femininas e da libertação do legado. Além disso, induz e reforça o conceito de que somos todos nutridos, amados e moldados por todas as mulheres em nossas vidas, e não necessariamente apenas pelas nossas mães.
"O livro mergulha fundo nas questões de identidade social e sobrevivência durante um período da história em que as mulheres eram lidas praticamente como não cidadãs [...]."
Quem é Christina Baker Kline
Autora best-seller do New York Times, Christina Baker Kline nasceu em 1964 em Cambridge, na Inglaterra, e cresceu nos Estados Unidos. Formou-se em Yale e foi bolsista na área de Escrita de Ficção na University of Virginia. Mais tarde, ensinaria poesia, literatura inglesa, teoria literária e estudos feministas nas duas instituições e também na NYU. Baseada entre Nova York e Southwest Harbor, no estado do Maine, atua como escritora e editora. Além de Exílio, sua produção inclui livros como Sweet Water (1993), Orphan Train (2013) e A Piece of the World (2017). No final de 2017, como parte do movimento #MeToo, a autora publicou um ensaio na revista Slate no qual acusava o ex-presidente George H. W. Bush, o “Bush pai”, de importunação sexual (leia mais na entrevista a seguir).
poder das amizades e alianças femininas para
Em conversa com a TAG, Christina Baker Kline fala sobre abuso, destaca a união entre as mulheres e detalha o processo de escrita de Exílio
“Acredito no
mudar o mundo”
Você falou abertamente sobre sua experiência de ser assediada por um famoso político norte-americano. Qual é o seu ponto de vista sobre nós, mulheres, compartilhando nossas experiências em um contexto pós-MeToo?
Não fui meramente assediada — eu diria que fui abusada, uma experiência com a qual toda mulher que conheço pode se identificar. A razão pela qual falei sobre isso publicamente é que outras quatro mulheres tiveram experiências quase idênticas com esse homem e foram acusadas de mentir. Senti que o silêncio seria cumplicidade. Escolher dar um passo à frente é um ato corajoso e difícil; não passei ilesa pela experiência. Eu nunca forçaria ninguém a tomar uma posição, mas acredito que, quanto mais o fizermos, mais cedo as coisas vão mudar.
Ainda sobre o assunto: as personagens de Exílio nasceram em uma época em que as mulheres eram consideravelmente impotentes. Ainda assim, elas encontram maneiras de se conectar e superar as dificuldades. Você acredita na sororidade como uma forma de lutar contra o sistema? Com certeza. Acredito no poder das amizades e alianças femininas para mudar o mundo.
Quanto tempo você levou para escrever Exílio ? Você pode compartilhar um pouco do seu processo criativo?
A maioria dos meus livros me toma cerca de três anos para pesquisar e escrever. Eu faço meses e meses de pesquisa, geralmente, antes de encostar a caneta no papel (literalmente, pois escrevo meus primeiros rascunhos à mão). Leio tudo o que é relevante para a história — livros de História, romances, biografias, poemas, guias de viagem e até livros de receitas —, vejo filmes, ouço música e entrevisto especialistas. Costumo viajar para os lugares onde meu romance se passa. Em algum momento, tenho de sair da toca do coelho da pesquisa para começar a escrever. Então, sou bastante rigorosa comigo mesma: escrevo 20 páginas manuscritas por semana, ou quatro páginas por dia, me dando folga nos fins de semana. Nem sempre é fácil encontrar o estado de espírito adequado para escrever. Leio seleções de livros e poemas favoritos, me proponho a escrever exercícios, o que for
preciso para acessar o lugar criativo em minha cabeça (aquele longe de, digamos, listas de compras).
ATENÇÃO! As próximas respostas contêm spoilers!
A personagem de Mathinna é baseada em uma garota aborígene real que viveu no século XIX. Como foi sua pesquisa para o romance e como você decidiu escrever sobre Mathinna e sua história?
Meu plano inicial para o romance era escrever sobre as prisioneiras britânicas exiladas na Austrália. No entanto, quanto mais leio sobre o período, mais me convenço de que seria irresponsável não abordar a história do povo aborígine que viveu na ilha da Tasmânia por milhares de anos antes da chegada dos britânicos. Quando visitei a Tasmânia para pesquisar e aprendi sobre a vida real de Mathinna — a filha órfã de um chefe aborígene acolhida por capricho por Sir John Franklin e sua esposa, Lady Jane, para ver se eles poderiam “transformá-la em uma dama” —, eu soube que precisaria incluir a história dela. É difícil escrever sobre pessoas reais cujas vidas acabaram há muito tempo, seus destinos selados. Escolhi terminar a história de Mathinna com otimismo, embora o final de sua vida real tenha sido trágico. Eu queria destacar a mente e a resiliência dela, bem como sua vulnerabilidade, enquanto lutava contra forças além de seu controle.
Eu li em uma entrevista que você ficou muito orgulhosa do final de Exílio. Você sabia como o romance terminaria desde o início ou fez alterações ao longo do caminho?
Enquanto pesquisava para o romance, criei um documento de 50 páginas em espaço simples com meu plano inicial para o enredo. Mantive muito disso, mas me desviei em pontos cruciais quando os personagens ganharam vida. Estou feliz com a forma como o final do romance avança décadas no futuro, revelando parte do escopo e do resultado do experimento do condenado. Os leitores retornam à história de origem em Londres e descobrem o que aconteceu com muitos dos personagens do romance enquanto, ao mesmo tempo, aprendem sobre a transformação da Austrália de uma colônia penal em uma próspera comunidade de colonos livres.
O que você pode nos contar sobre seus projetos futuros?
Estou agora trabalhando em um romance ambientado na Carolina do Norte da era da Guerra Civil, inspirado em uma história da minha própria família. É um projeto complicado e demorou mais do que o esperado — mas talvez isso ocorra em todos os meus romances!
Três exílios e um destino comum
EDUARDO PALMA
Livro de Christina Baker Kline mostra vidas cruzadas na Austrália do século 19, a “terra além dos mares” colonizada pelo Império Britânico
Olivro Exílio relaciona três histórias com a colonização britânica na Austrália. Especificamente, na Terra de Van Diemen, o nome por muito tempo dado pelos colonizadores à ilha da Tasmânia. A Tasmânia é um estado australiano com cerca de 500 mil habitantes e o tamanho de um país como a Irlanda (ver mapa abaixo).
Tasmânia (em vermelho no atual mapa da Austrália).
Por volta dos anos 1840, a Terra de Van Diemen integrava o Império Britânico e era um dos principais destinos de prisioneiros. Cerca de 75 mil pessoas foram enviadas para a região entre 1808 e 1853 — período em que se passa a obra. Desse número, 67 mil saíram do Reino Unido e da Irlanda, e o restante, de outras colônias, segundo documentos da Universidade da Tasmânia.
Duas das personagens principais, Evangeline e Hazel, são prisioneiras condenadas ao exílio da Europa para a Austrália. Elas se conhecem no caminho e dividem as condições adversas de uma viagem que costumava durar meses.
A maioria das mulheres mandadas para o exílio na Austrália havia cometido pequenos delitos, como roubar alimentos. Depois, eram vítimas de julgamentos parciais, sem o devido direito à defesa. É o que vemos no caso de Evangeline, que não conseguiu se defender da injusta acusação que lhe foi imposta, e também da parteira Hazel, que, desde criança, convivia com a fome e precisava roubar para comer.
A pena de ambas (e de outras milhares) foi a transferência para um território localizado a milhares de quilômetros de distância — “a terra além dos mares”, como se dizia na época. A autora do livro, Christina Baker Kline, pesquisou por anos o tema e viajou para a Austrália diversas vezes. Seu livro reforça como o objetivo do governo britânico era povoar a região, que, no século XIX, tinha uma proporção de nove homens para cada mulher.
“Elas foram enviadas para lá por motivos inconsistentes”, afirma a autora em entrevistas à imprensa. Mas muitos prisioneiros, uma vez livres, tiveram oportunidades impensáveis na estratificada sociedade do Reino Unido ou em outras partes do império. “É o que mostra a presença de numerosos descendentes de condenados. Muitos conseguiram criar famílias de sucesso”, escreveu o professor Hamish Maxwell-Stewart em artigo publicado no Centro de Estudos Históricos da Tasmânia.
Para além dos prisioneiros enviados pelo Império Britânico, a Austrália se tornou, ao longo do tempo, um destino desejado por imigrantes, especialmente com a descoberta do ouro nos anos 1850. Milhares de ingleses, irlandeses, escoceses, italianos, chineses, indianos, alemães e outros grupos populacionais foram para lá incentivados pelas oportunidades do governo local, como concessão de terras, passagens grátis ou apoio para conseguir empregos.
O governo entendia que era preciso povoar e proteger a nação, que é o sexto maior país do mundo.
Várias das qualificações desses imigrantes, aliás, foram usadas para o “progresso” da Austrália, hoje um dos países com melhor índice de desenvolvimento humano. Entre os imigrantes, havia profissionais especializados em diversos trabalhos, como sapateiros, alfaiates, açougueiros, trabalhadores agrícolas, cozinheiros, professoras, pastores, ferreiros, entre várias outras funções, que fincaram raízes no novo país e conseguiram prosperar.
Os aborígenes
A terceira personagem principal do livro é Mathinna, filha de um líder da comunidade aborígene Lowreenne, da Tasmânia. Ela acaba sendo adotada por um casal de britânicos que comanda a região, Sir John Franklin e Lady Jane. O exílio de sua história é inspirado em fatos reais, como detalha Christina Baker Kline em entrevista concedida à TAG (leia na página 10).
Mathinna aprendeu inglês, francês, matemática, conheceu o calendário europeu, viu mapas e aprendeu geografia, além de “boas maneiras”. Era apresentada como um orgulho dos britânicos que viviam lá, por “terem-na civilizado”. Esses diálogos mostram a forma exótica como olhavam para os aborígenes, como quando imaginam que comiam cobras ou aranhas, questionam se acreditavam em forças ocultas ou se sabiam conversar com animais.
A palavra "aborígene" é usada para representar um grande número de populações e foi dada pelos europeus. Significa “habitantes originais do país”. Quando os britânicos chegaram, havia cerca de 300 mil aborígenes na Austrália, divididos por cerca de 500 grupos culturais, de acordo com o livro Aborígenes australianos: uma história desde 1788, de Richard Broome. Hoje, há cerca de 880 mil aborígenes na Austrália, representando pouco mais de 3% da população total, de 25 milhões de pessoas. Os impactos da colonização ainda são visíveis, já que os aborígenes têm menos oportunidades educacionais, profissionais e acesso a saúde e políticas públicas. “Educação, saúde, mortalidade. Em tudo isso, os aborígenes ainda estão atrás”, avaliou Broome em entrevista em 2021. Segundo ele, o racismo persiste e, assim, os aborígenes seguem demandando espaço: "Querem que toda lei significativa no país tenha de ser vista também por um aborígene, para se ter um espaço à mesa. Mas isso ainda é um trabalho em progresso.”
Distância e solidão
Conheça outros livros que abordam, de diferentes modos, o tema do exílio
Aexperiência de exílio pode se dar das maneiras mais distintas. Voluntária ou forçada, ocasionada por guerras ou perseguições políticas, a saída da terra de origem costuma implicar sentimentos de solidão e isolamento, assim como dilemas em torno das noções de lar e identidade.
Temas como esses aparecem em Exílio, livro do mês da TAG Inéditos, em que Christina Baker Kline narra a experiência de personagens submetidas pelo governo britânico ao exílio forçado na Terra de Van Diemen, atual território australiano.
Para quem gostou do livro e quer ampliar sua experiência literária, preparamos uma lista com recomendações de outras obras que trazem, cada uma ao seu modo, a temática do exílio.
Pachinko, de Min Jin Lee
Com foco em três gerações de imigrantes coreanos no Japão do século XX, o livro tem como mote a saga de uma mulher que engravida de um forasteiro na costa perto de sua casa, na Coreia. Ao descobrir que ele é casado, decide abandonar o seu lar e partir com um pastor que está de passagem pelo local, rumo ao Japão. Identidade, pátria e pertencimento são temas em evidência na história.
Uma noite, Markovitch, de Ayelet Gundar-Goshen Escrito por uma das principais autoras da literatura israelense, o livro é ambientado durante a Segunda Guerra Mundial e a Primeira Guerra Árabe-Israelense e gira em torno de jovens que partem da Palestina para a Europa, onde um grupo de moças judias os espera para escapar de Hitler.
Andaimes, de Mario Benedetti
Em livro que reflete aspectos de sua própria trajetória, o escritor uruguaio aborda a perspectiva de quem retorna ao lar após a experiência de exílio. No enredo, depois de anos exilado na Espanha, um homem retorna ao Uruguai buscando reconstruir a sua vida e encontra um país muito diferente daquele que havia deixado para trás.
Um belo diploma, de Scholastique Mukasonga
Em texto autobiográfico, a escritora tutsi narra o caminho de exílio que precisou tomar diante dos conflitos fratricidas em sua terra de origem. Seu pai apostou que a busca por um diploma garantiria um futuro melhor para a filha e, assim, ela partiu de Ruanda, passando por locais como Burundi e Djibouti, até chegar à França, seu destino final, onde vive ainda hoje.
Jango e eu: memórias de um exílio sem volta, de João Vicente Goulart
Unindo registro histórico e relato pessoal, o filho de João Goulart relembra, 50 anos depois, a experiência de exílio de sua família, que passou a viver no Uruguai após a deposição de seu pai pelo golpe militar de 1964.
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Perguntas sobre Exílio
1. O livro deste mês acompanha a vida de mulheres que sofrem, em diferentes níveis, os efeitos da colonização e da dominação masculina. Como essa leitura impactou você?
2. Na cena em que Evangeline é presa, você conseguiu prever o fim que ela teria ou imaginou um desfecho mais esperançoso para a personagem? Imaginou também que o futuro de Hazel seria ao lado daquele personagem?
3. Quais você considera os momentos mais eletrizantes da trama? O que achou, por exemplo, da cena do envenenamento de Buck?
4. Você já conhecia a história dos prisioneiros levados da Inglaterra para a Austrália? Leia a matéria da página 14 e discuta as questões históricas do livro.
5. O que você achou do desfecho?
A conexão improvável entre uma viúva e um polvo gigante é o mote do livro de abril. Sensível e emocionante, com uma trama sobre amizade e família, o livro tem nota 4,5 no Goodreads e esteve entre os finalistas do Goodreads Choice Awards 2022.
Para quem gosta de: personagens do mundo animal, livros feel-good, histórias familiares
Atenção para ficção brasileira na área! Se você gosta de autores como Raphael Montes e Ilana Casoy, possivelmente será impactado pelo livro de maio, um suspense muito envolvente escrito por um jovem escritor catarinense.
Para quem gosta de: suspenses, mistério, ficção brasileira
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JOSÉ SARAMAGO
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“Que é necessário sair da ilha para ver a ilha, não nos vemos se não saímos de nós.”