Agosto | 2018
A promessa e A pane
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Ao Leitor No mês de agosto, a indicação fica nas mãos do premiado escritor brasileiro Cristovão Tezza. Nosso curador foi um dos autores que contribuíram para a obra exclusiva da TAG enviada em 2017, Uns e outros, com o conto “O herói da sombra”, narrativa inspirada em “Depois do baile”, de Liev Tolstói. Tezza decidiu indicar duas obras do mesmo escritor – e fizemos questão de uni-las em um só livro, que chega ao associado neste mês: A promessa e A pane, do suíço Friedrich Dürrenmatt, conhecido mundialmente pelo seu trabalho como dramaturgo, mas cuja ficção em prosa é igualmente excepcional. A promessa, romance policial às avessas, é uma obra paradoxal, que critica e faz homenagem ao gênero que já consagrou diversos escritores. Já A pane é a novela que Tezza “gostaria de ter escrito”. Dividida em duas partes, evidencia a genialidade de Dürrenmatt em elaborar debates teóricos ao mesmo tempo em que presenteia o leitor com uma história envolvente e original. Boa leitura!
Equipe Tag
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C A indicação do mês
O curador Cristovão Tezza
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Ecos da Leitura Literatura suíça
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Leia depois de ler Afiado como uma navalha Leticia Wierzchowski
r!
Spoile
Sumário A INDICAÇÃO DO MÊS
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Entrevista com Cristovão Tezza Os livros indicados A promessa e A pane
ECOS DA LEITURA
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Inspiração x crítica de Dürrenmatt: os grandes autores policiais Metaliteratura: a literatura como objeto de escrita
ESPAÇO DO ASSOCIADO
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Bingo Literário
A PRÓXIMA INDICAÇÃO
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A curadora de setembro Conceição Evaristo
Guilherme Pupo
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O curador Cristovão Tezza
O caminho do escritor Cristovão Tezza em direção à literatura começou cedo: “Sinto que desde os 12 ou 13 anos sempre soube exatamente o que queria na vida: escrever. Para isso, fui sobrevivendo como deu e tirando leite de pedra”. Não que ele esperasse uma trajetória tranquila – estamos falando, afinal, da carreira literária no Brasil –, mas foi um longo percurso desde que decidiu insistir até que fosse reconhecido como um dos principais autores brasileiros contemporâneos. Romancista, contista, cronista, poeta e ensaísta, Tezza nasceu em Lages, Santa Catarina, em 1952, mas muito cedo mudou-se com a família para Curitiba, no Paraná, cenário de parte importante de seus romances. Típico representante da geração dos anos 1960, foi um rapaz sonhador que buscava métodos de vida alternativos. Durante a juventude, procurou a realização em diversas áreas: sua postura artística e ideológica seria sacramentada no teatro popular, como autor de algumas peças, e também ator, diretor, contrarregra e iluminador. Mais tarde, Cristovão tentou se tornar piloto da Marinha, mas não suportou o regime e logo abandonou o curso, decidindo tomar um novo rumo. Em Portugal, matriculou-se no curso de Letras da Universidade de Coimbra, mas viu a universidade fechar por um ano devido à Revolução
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dos Cravos, movimento que pôs fim à ditadura salazarista. Em 1975, trabalhou ilegalmente na Alemanha e viajou por vários países da Europa. Na solidão que o acompanhava, escreveu parte do material do que seria o livro de contos A cidade inventada (1980). De volta ao Brasil, finalmente pôde concluir o curso de Letras e tornar-se professor, aproveitando o mesmo período para ingressar no universo literário do país. As versões impressas de seus primeiros livros (além de A cidade inventada, os romances Gran Circo das Américas e O terrorista lírico), publicados entre 1979 e 1981, estão hoje fora de mercado, disponíveis apenas em versão digital. Em 1985, publicou o romance Ensaio da Paixão, mas foi apenas em 1988, quando publicou Trapo, que seu nome começou a se tornar conhecido nacionalmente. Nos dez anos seguintes, publicou os romances Aventuras provisórias (1989), Juliano Pavollini (1989), A suavidade do vento (1991), O fantasma da infância (1994) e Uma noite em Curitiba (1995) – a cada nova publicação, maior era o reconhecimento de público e crítica. Em 1998, seu romance Breve espaço entre cor e sombra foi contemplado com o Prêmio Machado de Assis, da Biblioteca Nacional. O fotógrafo, publicado em 2004, recebeu no ano seguinte o Prêmio da Academia Brasileira de Letras de melhor romance do ano e o Prêmio Bravo! de melhor obra.
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“A justaposição de diferentes camadas narrativas dá contornos definidos a um tema que percorre toda a ficção de Tezza: o sujeito cindido, consciente da defasagem que há entre seus desejos e o caráter sempre decepcionante da realidade. E isso é válido tanto para os livros iniciais, de conteúdo mais “geracional”, político, quanto para as obras maduras, de grande densidade psicológica.” Manuel da Costa Pinto, em Literatura brasileira hoje A celebração do nome de Cristovão Tezza chegou ao ápice, no entanto, com a publicação de O filho eterno (2007), hoje considerada sua magnum opus. O romance, com traços fortemente autobiográficos, expõe, pelo foco narrativo do pai, os obstáculos de criar um filho portador de Síndrome de Down. Em 2008, o livro recebeu praticamente todos os prêmios a que foi indicado: Jabuti, Bravo!, Portugal-Telecom e Prêmio São Paulo de Literatura de melhor livro do ano. Considerada pelo jornal O Globo uma das dez
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melhores obras brasileiras de ficção da década, já foi traduzida para diversos idiomas, como francês, inglês, espanhol, polonês e italiano, além de ter sido adaptada para o teatro e para o cinema. O reconhecimento nacional e internacional deu coragem e um novo fôlego a Tezza, que abandonou o cargo de professor universitário para se dedicar exclusivamente à escrita. Nos últimos anos, manteve-se pro-
lífico, arriscando-se pela primeira vez no mundo da poesia com Eu, prosador, me confesso (2017), em uma edição artesanal, com tiragem limitada de apenas 300 exemplares, e tendo seu mais recente lançamento em maio de 2018, com o romance A tirania do amor. Hoje escritor consolidado, Tezza sempre soube de seu desejo de escrever, o que ainda não responde a uma importante pergunta: ele conseguiria racionalizar esse desejo?
“Há uma razão em cada diferente momento da vida, mas acho que não há uma resposta universal. Num primeiro momento, foi uma fuga, uma afirmação e imitação. Num segundo momento, passou a ser uma ética, ou seja, era uma postura diante do mundo; escrever era uma maneira como eu me definia. Anos depois, escrever passou a ser parte de uma cultura literária: fazer o diário de uma pátria literária que não tem fronteira, ‘fazer parte disso aí’. E, finalmente, hoje eu escrevo porque não sei fazer outra coisa.” Cristovão Tezza
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Acervo pessoal
A INDICAÇÃO DO MÊS
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Entrevista Cristovão Tezza
Você costuma dizer que, quando escreve, não pensa como um teórico, mas como um químico que testa novos formatos da linguagem. Ainda a respeito da sua obra, muitos críticos falam em “realismo reflexivo”. O que significa o termo e de que maneira ele se encaixa na perspectiva de experimentação literária?
Como escritor, tenho uma dívida forte com a tradição narrativa clássica, de fundo realista, que foi a minha porta de entrada, desde criança, no mundo da literatura. Comecei a me apaixonar pela leitura por meio de escritores “iluministas”, de fundo racionalizante,
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como Monteiro Lobato, Júlio Verne e Conan Doyle (este com seu personagem Sherlock Holmes). São autores que, na melhor tradição das transformações culturais e científicas do século 19, defendem o valor da razão, da inteligência e da reflexão na investigação dos fatos do mundo. O gênero chamado “realista” (que é um termo muito amplo, difícil de definir na linguagem literária) acabou sintetizando essa perspectiva literária, aliás profundamente enraizada na tradição ficcional. Isto é, toda escrita é sempre uma tentativa de representar o mundo. Para mim, “realismo reflexivo” é assumir este processo de representação não no simples sen-
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tido “fotográfico” da realidade, com dominância descritiva (como no clássico romance do século 19), mas como uma investigação ficcional, reflexiva, sobre os fatos morais e éticos da existência. Como escritor, sinto que minha linguagem cria “hipóteses de existência”, em que o olhar do narrador, como se ainda não soubesse o que está acontecendo, avança lado a lado com o olhar do personagem. Mas veja que o que digo aqui são considerações feitas a posteriori — quando escrevo, o instinto narrativo toma conta da linguagem.
nha, como trabalhador ilegal entre imigrantes). E, literariamente, foi um período de muita leitura e muita escrita. Lá escrevi os contos de A cidade inventada, meu primeiro livro, que seria publicado cinco anos depois. Foi um período que deixou marcas duradouras. Ao voltar ao Brasil, comecei a sentir que o sonho mais ou menos utópico que eu havia alimentado nos meus tempos de vida comunitária, trabalhando com um grupo de teatro, estava no fim. The dream was over, como diria John Lennon. Em breve eu, enfim, entraria na universidade.
Em 1974, você foi a Portugal estudar Letras na Universidade de Coimbra, porém a instituição estava fechada devido à Revolução dos Cravos e você passou um ano “perambulando pela Europa”. Como foi vivenciar esta experiência durante um momento histórico tão importante para Portugal e como ela influenciou suas publicações anos mais tarde?
No fim dos anos 1990, você iniciou o projeto de Doutorado que resultaria na tese Entre a prosa e a poesia: Bakhtin e o formalismo russo. Como você resumiria a importância de Mikhail Bakhtin, por quem você mantém uma “devoção honesta”, em relação aos estudos literários e linguísticos?
Cheguei em Portugal com 22 anos, ainda sem rumo na vida, e com o Brasil vivendo uma ditadura militar que ainda iria longe. Eu me imaginava escritor, mas não havia escrito ainda nada realmente consistente. Os 14 meses que passei na Europa foram fundamentais para a minha formação literária e, talvez principalmente, existencial: ver o Brasil de longe, conhecer a civilização europeia de perto, experimentar a sobrevivência direta (passei um tempo lavando pratos na Alema-
Na universidade, de certa forma acabei redescobrindo o “discurso da ciência” — ou da razão — que havia formatado minha cabeça de criança e do qual eu havia me afastado por vários anos, durante meu período alternativo de “contracultura”. Acho que é um choque que permanece vivo na minha cabeça — a demolição racional dos célebres anos 1960 que marcaram profundamente as décadas seguintes, com reflexos até hoje. A leitura do teórico russo Mikhail Bakhtin, primeiro pelos estudos da linguagem, e mais tarde pelo seu olhar sobre a litera-
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tura, e principalmente sobre a prosa romanesca, foi uma descoberta fascinante para mim. Sua teoria da linguagem, e sua aplicação sobre a história do romance, era, para mim, uma resposta ao fechamento do império formalista e estruturalista que dominava os estudos acadêmicos, no Brasil e no mundo, a partir dos anos 1980. Ao ver o que chamamos de “romance” como uma “linguagem literária” e não como uma forma composicional acabada, Bakhtin revolucionou o olhar sobre a história da literatura e de sua permanente transformação. Além disso, seus textos sobre a natureza da linguagem são sempre uma leitura muito especial para mim. Daí a minha “devoção” à sua obra. Mas, é claro, no campo da ciência — afinal, fui professor por duas décadas. Procuro separar as coisas: nunca escrevi um romance como quem escreve uma tese, o que seria chatíssimo; assim como também não faz sentido escrever uma tese como quem escreve um romance. São linguagens substancialmente diferentes. Dois anos depois da publicação de O filho eterno (2007), você se demitiu da universidade, passando a realizar uma série de palestras e entrevistas por todo o Brasil. Quais são os principais desafios de ser um escritor brasileiro que se dedica exclusivamente à literatura? Bem, é muito difícil viver da literatura, e não só no Brasil. A ficção literária está se transformando
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quase que em um nicho de mercado, infelizmente. É mesmo trágico que um país com mais de 200 milhões de habitantes tenha tão poucos leitores. Hoje eu continuo fazendo o que sempre fiz: buscar modos de sobrevivência que sustentem meu trabalho de escritor. Por sorte, depois do sucesso de O filho eterno, muitas portas se abriram para mim, aqui e no exterior. Quando percebi que não conseguiria mais conciliar o trabalho do professor com o trabalho do escritor, me demiti. O que foi a coisa certa a fazer, até porque o meu projeto acadêmico já estava esgotado. E é um prazer especial poder viver apenas da ficção e dos seus derivados, por assim dizer: participação em eventos, feiras e festas literárias. Diferentemente de outros escritores curitibanos, como Dalton Trevisan e Paulo Leminski, você reivindica a cidade: “minha literatura é uma literatura curitibana da primeira à última linha - a cidade está inteira no que escrevo”. Na sua opinião, é possível fazer um paralelo com a relação de Dürrenmatt e os alpes suíços, presentes na maior parte das narrativas policiais dele? Numa célebre cena do filme clássico de Carol Reed, O terceiro homem, de 1949, Orson Welles, que faz um traficante de remédios falsificados no caos que se segue ao fim da Segunda Guerra, justifica-se moralmente dizendo que a Itália sob os Bórgias produziu terror, crimes, assassinatos, mas tam-
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bém os gênios Leonardo da Vinci e Michelangelo; já os 500 anos da democracia suíça não teriam nos dado nada além do relógio cuco. Pois bem: se ainda faltasse alguma coisa à tranquila felicidade suíça, o país nos deu Friedrich Dürrenmatt, um escritor extraordinário que foi, também, um crítico feroz do mundo das aparências. Atrás da neutralidade, do bem estar e da paz suíças, o olhar ficcional de Dürrenmatt via fraturas éticas, que estão no centro de tudo que escreveu. Respondendo enfim à pergunta: imagino que sim. Os alpes suíços deram a ele a atmosfera ambígua que sempre está no fundo da boa literatura. A relação de todo escritor com sua terra é sempre dupla: o espaço natal dá a quem escreve a matéria cultural e emocional de sua ficção, que entretanto retorna criticamente para desvendar o que está atrás da simples paisagem.
A visita da velha senhora, que conta a história de uma milionária que retorna à sua cidade natal — de onde havia sido expulsa, quando pobre —, prometendo salvá-la da bancarrota. Mas há um preço pesado a pagar, que colocará a justiça em cheque: eis uma típica fratura moral dos livros de Dürrenmatt. Anos mais tarde, conheci sua ficção, lendo A pane, numa tradução inglesa — uma descoberta fantástica, de um impacto inesquecível. Devido a um problema no carro, um homem passa uma noite entre desconhecidos simpáticos, aos quais abrirá a história de sua vida — e mais não digo para não estragar a leitura. Considero este livro uma novela perfeita. Em A promessa, uma tensa investigação policial nos mostra como o impacto do acaso na nossa vida desestrutura as formas da razão e da lógica que, por princípio, pareciam reger nosso dia a dia.
Friedrich Dürrenmatt é um dos poucos escritores suíços publicados no Brasil e, sem dúvida, um autor muito importante para o gênero policial. Desde nossa primeira conversa, você indicou enfaticamente sua obra, garantindo que ele deveria ser mais lido por aqui. Como você conheceu o autor e quais os principais motivos para admirá-lo tanto?
O que você diria aos mais de 25 mil leitores do clube que irão ler A promessa e A pane pela primeira vez?
Conheci a obra de Dürrenmatt, que também foi dramaturgo, primeiramente pelo teatro, nos tempos em que participei de uma comunidade de teatro popular. Lembro da peça
Uma das grandes alegrias de um leitor é se surpreender com um autor desconhecido, que subitamente lhe abra outras portas de percepção da realidade, desvendando o que vai além das aparências. Com certeza será este o caso de quem descobre Dürrenmatt, em particular nessas duas obras maravilhosas, as minhas preferidas.
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Os livros indicados A promessa e A pane
Pouco difundida no nosso país, a literatura suíça tem grandes nomes que receberam tradução aqui e que cumprem o papel de suprir essa carência, principalmente quando falamos de sua vertente em língua alemã. Você pode ter ouvido falar dos vencedores do Prêmio Nobel de Literatura, Carl Spitteler (1919), autor de Prometeu e Epimeteu (1881) e Hermann Hesse (1946), alemão naturalizado suíço, cuja obra Sidarta (1922) foi enviada pela TAG em junho de 2015. Menores são as chances, no entanto, de você conhecer a obra dos dois mais aclamados autores suíços da segunda metade do século 20: Friedrich Dürrenmatt e Max Frisch. Ficcionistas em prosa e também dramaturgos influenciados pelo teatro épico de Bertolt Brecht, viveram uma relação conflituosa, de discordâncias e admiração mútua, mas apresentavam diferenças essenciais. Ao contrário de Frisch, que passou boa parte da vida em terras estrangeiras e buscava representar essas experiências, Dürrenmatt era o típico homem suíço, dono de uma relação de amor e ódio com seu país e criador de parábolas que criticam o mundo contemporâneo por meio de uma visão tragicômica, grotesca e irônica da humanidade. Embora sua obra, já traduzida para mais de 50 idiomas, explore diferentes temáticas, algumas eram recorrentes e sintetizam seus fascínios: a culpa, a
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A INDICAÇÃO DO MÊS
seu sucesso internacional. A visita da velha senhora (1956), uma combinação de comédia e tragédia sobre uma mulher riquíssima que ofereDürrenmatt era um artista e pence à população de sua cidade natal sador de amplo alcance: com fauma fortuna em troca da execução cilidade, passeava entre gêneros, do homem que a engravidou e suescrevendo não apenas peças, miu, é uma crítica mordaz à Suíça e romances e contos, mas também à suposta moralidade e neutralidade ensaios, tratados filosóficos e políde seus habitantes. A peça recebeu ticos, roteiros para cinema e narradiversas adaptações e prêmios ao tivas autobiográficas. Foi também redor do mundo, foi também enum amante da pintura, na qual procenada no Brasil e apontada como curava expressar o que lhe parecia inspiração de Jorge Amado para inalcançável por Tieta do agreste meio da escrita. (1977). A outra peça que alcançou fama “No universo do Nascido em Kointernacional insr. Dürrenmatt, nolfingen, em jatitula-se Os físicos neiro de 1921, fi- Deus não está morto (1962), voltada a mas se retirou da conflitos mundiais, lho de um pastor, cursou o ensino humanidade, e sua envolvendo quesfundamental em tões que remetem Berna e estudou suprema indiferença à Guerra Fria e à é manifesta na filosofia e teoloameaça nuclear gia em universique aterrorizava universal ausência dades de Berna e o mundo naquele de justiça.” Zurique. Até os 25 momento. The New York Times anos, hesitou entre a literatura e a Embora A visita da pintura, quando decidiu, enfim, velha senhora e Os físicos mereçam largar os estudos acadêmicos e destaque pelo impacto que causadedicar-se à dramaturgia, exploram, muitos acabam por esquecer rando as possibilidades dramátia ficção em prosa de Dürrenmatt. cas do teatro épico de Brecht. Esse Entre a publicação da primeira e estilo cênico inovador procurava da segunda peça, o autor lançou as envolver a audiência não por meio duas narrativas que chegam a você, da catarse, mas incitando reflexões compiladas neste livro por indipolíticas e sociais e desafiando seu cação de Cristovão Tezza: A pane, espectador a assistir à peça de manovela de 1956, e A promessa, roneira menos passiva. mance de 1958. negação da responsabilidade, a decadência política e moral e a tensão entre justiça e liberdade.
Quando se fala de Dürrenmatt, duas peças teatrais são lembradas por
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A promessa é o terceiro livro do autor que poderíamos chamar, tal-
Konolfingen, Suíça.
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vez precipitadamente, de romance policial. Embora seus livros anteriores, O juiz e seu carrasco (1950) e A suspeita (1951), apresentem de maneira mais explícita as características desse gênero consagrado por autores como Agatha Christie, Georges Simenon e Sir Arthur Conan Doyle, A promessa tende a nos levar na direção oposta, apresentando uma estrutura narrativa similar, mas contendo uma crítica fundamental aos livros de detetive, normalmente com soluções lógicas e pouco verossímeis. A obra é original desde seu início: narrado em primeira pessoa por um escritor de gênero policial, de quem não sabemos o nome, o livro tem suas principais ações contadas por outro personagem, doutor H., um policial aposentado que conversa com o nar-
rador. O homem vai a seu encontro com o objetivo de criticar e apresentar as falhas dos romances policiais, em sua opinião, muito desconectados da realidade – com esse debate sobre a literatura dentro do próprio romance, Dürrenmatt aqui executa o recurso chamado metaliteratura. Doutor H. defende sua tese contando a trágica história de Matthäi, um policial brilhante que perde sua sanidade depois de ficar obcecado, investigando um crime brutal: o assassinato de uma menina, encontrada em uma floresta próxima a uma pequena vila da Suíça. Matthäi não se convence de que o homem considerado culpado é o verdadeiro criminoso e, tendo prometido à família da menina que o encontraria, dedica-se a investigar o caso em tempo integral.
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Picture-Alliance
A promessa foi publicada após o escritor perceber que um roteiro cinematográfico que acabara de finalizar à época era uma história de detetive previsível demais. “Você cria suas histórias logicamente, como um jogo de xadrez: tudo o que o detetive precisa saber são as regras, então ele repete os movimentos do jogo, e xeque-mate, o criminoso é pego e a justiça triunfa. Essa fantasia me deixa louco”, afirmou. De qualquer forma, o livro toma emprestado as melhores características das obras-primas do gênero, formando um paradoxo: A promessa contém uma crítica aos romances policiais, mas não deixa de ser uma instigante história de suspense, crime, investigação e loucura. Já A pane, publicada alguns anos antes, é uma novela dividida em duas partes: na primeira, somos apresentados a uma reflexão do autor sobre as “histórias possíveis” para ficcionistas, uma crítica às cenas romantizadas, ao lirismo exagerado, ao entretenimento barato que exige, ainda assim, valores elevados. Abre-se a pergunta: e se o autor se recusar a escrever dessa maneira? E se a (má) sorte, o acaso e a falta de sentido, todos considerados menos nobres, pudessem dar as cartas? A resposta pensada pelo autor é o que vemos na segunda parte. Seguimos os passos de Alfredo Traps, um homem comum, caixeiro-viajante que, durante uma viagem a trabalho, vê seu carro recém-adquirido
Edouard Rieben
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ter uma pane. Sem muitas opções devido ao horário, decide passar a noite em um vilarejo próximo, onde é acolhido na casa de um simpático idoso. Esse senhor, juiz aposentado, planejava preparar um suntuoso banquete para outros três amigos naquela mesma noite. Curiosamente, seus parceiros são um ex-promotor, um ex-advogado e um ex-carrasco. Traps é convidado para o jantar e a participar de um jogo curioso: a simulação de um julgamento, e ele interpretaria o réu. No decorrer da noite – intercalada entre diálogos e descrições cômicas do banquete, com pratos devorados de forma grotesca por homens que mais parecem bestas famintas – os senhores lentamente encurralam Traps com perguntas e o conduzem até o âmago de sua vida pessoal, levando a conclusões nunca cogitadas até aquele momento. A pane é uma obra surpreendente, e reflexiva, que não toma o caminho das respostas únicas e das soluções moralistas. Prova disso é
a quantidade de finais diferentes que Dürrenmatt posteriormente criou para a novela, que viria a se tornar peça radiofônica, filme e peça teatral. Após uma década de produções em gêneros variados, o autor voltaria a se dedicar ao teatro nos anos 1960, adaptando trabalhos de Shakespeare, Goethe e Strindberg. A maior parte dessas peças, no entanto, foram fracassos retumbantes. Desiludido com um público que não mais se interessava por seu teatro tragicômico e absurdo, voltou seus esforços à prosa, predominante em sua obra até 1990, quando faleceu aos 69 anos. Dürrenmatt deixou o mundo com uma obra já consagrada, porém, sua viúva, Charlotte Kerr, decidiu empreender considerável esforço para que um de seus talentos pouco reconhecidos também viesse à tona. Em 2000, foi inaugurado em Neuchâtel, na Suíça, o Centre Dürrenmatt, com uma coleção de mil desenhos, gravuras e pinturas, ampliando o já extenso legado do escritor suíço.
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ECOS DA LEITURA
Literatura
suíça
Apesar de pequena em área, a Suíça tem quatro idiomas principais: francês, italiano, alemão e romanche. Selecionamos para este Eco, entre nomes conhecidos e outros nem tanto, alguns dos mais relevantes escritores do país.
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ECOS DA LEITURA
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ECOS DA LEITURA
Em língua
Max Frisch 1911-1991
Contemporâneo de Dürrenmatt, Frisch chegou a afirmar que amava o escritor como seu “oposto dialético”. Igualmente influenciado pelo existencialismo e por Brecht, Frisch escreveu obras essenciais durante as décadas de 1950 e 1960. Livros como Não sou Stiller (1954), Homo Faber (1957) e Mein Name sei Gantenbein (1964) exploram problemas como a alienação e identidade na sociedade moderna.
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alemã
Johanna Spyri 1827-1901
A personagem mais famosa da literatura suíça de língua alemã, ou mesmo em qualquer outra língua nacional, é a pequena Heidi, heroína de um dos livros infantis mais famosos do mundo, homônimo e de autoria de Johanna Spyri, escritora suíça que se popularizou principalmente por sua obra voltada às crianças. Outros suíços de língua alemã: Carl Spitteler, Jeremias Gotthelf, Gottfried Keller e Robert Walse
Museu Hermann Hesse
Herman Hesse 1877-1962
Um dos maiores escritores em língua alemã do século XX, Hesse nasceu na Alemanha, mas naturalizou-se suíço em 1923. Recebeu o Nobel de Literatura em 1946. Suas principais obras incluem Demian (1919), Sidarta (1922) e O lobo da estepe (1927), nas quais explorou a busca individual por autenticidade, autoconhecimento e espiritualidade. Assim como Dürrenmatt, Hesse era pintor e também foi homenageado com um museu com sua obra...
Centro Dürrenmatt
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Em língua
francesa
Em língua
Joël Dicker
italiana
Fleur Jaeggy
1985
1940
O escritor de apenas 32 anos começou a ganhar o mundo aos 27 com o romance policial A verdade sobre o caso Harry Quebert (2012), que recebeu o prêmio da Academia Francesa, vendendo mais de três milhões de exemplares e sendo traduzido em 42 países. Curiosamente, seu livro posterior, O livro dos Baltimore (2015), continua a história de Marcus Goldman, protagonista do primeiro, mas o gênero da obra é outro: Dicker o chama de “crônica familiar”.
Nascida de uma família abastada, Jaeggy cresceu falando francês, alemão e italiano, o único em que escreve. Na Itália, onde viveu as últimas cinco décadas, ganhou praticamente todos os prêmios literários a que concorreu e é reconhecida como uma das escritoras mais originais da língua italiana. Não existem obras suas traduzidas no Brasil, porém, podemos encontra-las em inglês: destacam-se S. S. Proleterka (2001) e Sweet days of discipline (1989), a obra que a colocou no mapa.
Outros suíços de língua francesa: Rodolphe Töpffer, Charles Ferdinand Ramuze e Blaise Cendrars
Outros suíços de língua italiana: Giorgio Orelli, Anna Felder Francesco Chiesa e Alberto Nessi
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ECOS DA LEITURA
Em língua
romanche
O romanche é falado por cerca de 35 mil pessoas como língua materna, sobretudo no cantão dos Grisões e por outras 40 mil como segunda língua. Acredita-se que o romanche descende do latim falado pelos romanos que ocuparam a região da Suíça na antiguidade. Além de não existirem obras traduzidas, são pouquíssimas as informações sobre os escritores em língua romanche disponíveis em português – até mesmo em inglês. Disponibilizamos, para fins informativos, os principais nomes literários desse idioma praticamente em extinção, falado por menos de 1% dos 7,4 milhões de habitantes da Suíça. Suíços de língua romanche: Luisa Famos, Gion Deplazes, Theo Candinas, Toni Halter e Gian Fontana
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ECOS DA LEITURA
Inspiração x crítica de DÜrrenmatt: s policiais os grandes autore Embora A promessa e o próprio Dürrenmatt, em comentários ao longo da carreira, manifestem críticas ao gênero policial – voltadas, fundamentalmente, às soluções lógicas e pouco verossímeis –, o autor suíço deixa explícita na obra sua admiração pelo gênero, exibindo elementos estruturais e narrativos clássicos de um bom livro de mistério. Selecionamos para esta seção uma lista com alguns dos maiores nomes do gênero – aqueles que você deveria conhecer para além dos celebrados e influentes Agatha Christie, Georges Simenon, Edgar Allan Poe, Raymond Chandler, Sir Arthur Conan Doyle e Dashiell Hammett.
Henning Man
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kell
P. D. James
Dennis Lehan
e
Lawrence Blo ck
Henning Mankell
P. D. James
Romancista, escritor infantojuvenil e dramaturgo, Mankell é um dos autores suecos mais lidos no mundo: seus livros já venderam mais de 40 milhões de exemplares e foram traduzidos para mais de 40 línguas. Seu grande personagem é o inspetor Kurt Wallander, protagonista de 12 obras nas quais se sobressai, entre outros temas, a crítica social – Mankell era uma figura politicamente ativa, sendo ativista contra o apartheid, o colonialismo e a ocupação da Faixa de Gaza.
Phyllis Dorothy James, nascida em 1920 e conhecida no mundo da literatura apenas como P. D. James, escreveu diversos best-sellers e ficou conhecida como a sucessora de Agatha Christie; depois da morte da rainha do crime, James herdou a alcunha – ainda que não a levasse muito a sério. O principal personagem da autora é o policial e poeta Adam Dalgliesh, protagonista de 14 de seus romances.
(1948-2015)
Obras populares: A quinta mulher (2000), Um passo atrás (2002), O homem de Beijng (2008)
(1920-2014)
Obras populares: O enigma de Sally (1962), Mortalha para uma enfermeira (1971), Sala dos homicídios (2003)
Dennis Lehane (1965)
Lawrence Block (1938)
O universo ficcional do jovem escritor americano Dennis Lehane parece funcionar também em Hollywood. Seu principal sucesso, o romance Sobre meninos e lobos (2001), recebeu uma elogiada adaptação cinematográfica nas mãos de Clint Easwtood, assim como Paciente 67 (2003) virou a Ilha do medo, de Martin Scorsese. Seus principais personagens são a dupla de detetives Angela Gennaro e Patrick Kenzie, presentes em romances como Um drink antes da guerra (1994), Apelo às trevas (1996), Sagrado (1997) e Gone, baby, gone (1998) – este último chamou a atenção do ator e diretor Ben Affleck e recebeu – surpresa! – uma adaptação para o cinema.
Nascido em 1938, Block vem escrevendo desde a década de 1960, contabilizando inúmeros contos e mais de cem romances de crime e mistério – alguns deles receberam adaptações cinematográficas. O “Grande Mestre” do gênero – título concedido pela Mystery Writers of America em 1993 – é conhecido ao redor do mundo especialmente pelas séries de livros protagonizados por dois personagens memoráveis: o detetive e ex-policial alcoólatra Mattew Scudder e o ladrão filosófico Bernie Rhodenbarr. Obras populares: Os pecados dos pais (1976); Quando nosso boteco fecha as portas (1980); O ladrão que pintava como Mondrian (1983) 25
ECOS DA LEITURA
Metaliteratura: a literatura como objeto de escrita
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literatura possui a capacidade de acolher as mais diversas maneiras de escrita e os mais diversos conteúdos. Essa incrível potencialidade consegue inclusive incorporar dentro de si outros gêneros artísticos, como a poesia e a fotografia. Ou então trazer uma reflexão sobre si própria: literatura que pensa literatura, ou seja, a metaliteratura. Uma escrita que incorpora dentro do seu texto trechos de outros autores e obras; que evidencia para o leitor o seu status ficcional, chamando atenção para os seus procedimentos composicionais. A metaliteratura consiste em praticar a autoconsciência na escrita de estar fazendo ficção. Ela existe ao criar, dentro da literatura, um momento de digressão sobre a sua própria natureza artística. Esse caráter autorreflexivo da ficção ocorre se o narrador, o eu-lírico, quebram a “ficcionalidade” da arte, ponderando sobre o próprio processo de criação artística. Essa quebra coloca em perspectiva a escrita literária porque focaliza o próprio processo de criação ficcional, estabelecendo uma relação de comentário ou até mesmo crítica com o próprio texto. Essa tendência de escrita autorreferencial tornou-se mais frequente nos últimos 50 anos. Entretanto, escritores dos séculos passados já haviam experimentado uma escrita metaliterária. Machado de Assis é um exemplo de escritor que, com obras no final do século XIX e no início do século XX, buscou nos procedimentos metaliterários material para a sua literatura. Em Memórias Póstumas de Brás Cubas o narrador, já no começo do romance, reflete sobre a escrita do livro: “Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte”. O significado do conceito de metaliteratura tem sido cada vez mais estendido, abarcando novas contribuições para o termo. Desse modo, está no âmbito da metaliteratura a noção de intertextualidade: a pre-
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ECOS DA LEITURA
sença de um texto primeiro num texto segundo. Essa inserção de referências literárias pode ser encarada como uma homenagem, mas também pode servir de crítica a uma obra já existente. Por mais que o fenômeno da intertextualidade seja encontrado durante toda a história da literatura, sem dúvidas ele se intensificou no final do século XX. O gosto pelo uso de referências a autores prévios assume, na pós-modernidade, um tom irônico e lúdico. Surgem assim inúmeras paródias literárias, como Lost in the Funhouse de John Barth, uma releitura cômica da criação literária. Outro tipo de procedimento metaliterário recorrente na contemporaneidade consiste na inclusão do próprio autor enquanto personagem da ficção. Aqui, não se trata de uma biografia ficcionalizada, mas da atribuição de características inventadas a uma personagem com o nome do autor. Exemplo desse procedimento é o romance O mapa e o território de Michel Houellebecq. Não só a literatura passa por esse processo de autorreflexão ficcional. Também o discurso da história vem sendo criticamente repensado. Com a metaficção historiográfica, os romances visam reescrever a “história oficial”, evidenciando que a história é potencialmente ficcionalizável. Muitos romances do escritor José Saramago, como História do Cerco de Lisboa e Memorial do Convento, trabalham com a reescrita do passado, servindo-se da ficção para questionar até mesmo a suposta veracidade dos fatos históricos. Por mais que a literatura que disserta sobre literatura pudesse parecer falta de criatividade ou decadência da própria arte pela impressão de que tudo já fora dito, se analisarmos com cuidado, concluiremos o contrário. As obras de metaliteratura tendem a pensar os textos já existentes como material disponível para a criação ficcional. Dessa maneira, o autor pode montar novas combinações de textos, escolhendo pedaços de obras alheias para completar o seu trabalho, numa espécie de reciclagem. A suposta incapacidade de ter algo novo para dizer acabou impulsionando a criação literária para um tema inesgotável: a escrita sobre si própria.
Mateus Robaski Timm, mestrando em Teoria da Literatura/PUCRS
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ESPAÇO DO ASSOCIADO
B Bingo Literário
Entre os meses de abril e maio, um bingo literário foi enviado para cada evento entre associados. O jogo teve como tema a história do clube e funcionou da seguinte maneira: cartelas eram distribuídas entre os presentes, marcados no aplicativo da TAG Curadoria. Alguém sorteava papéis com perguntas, e os jogadores conferiam se a resposta correspondente estava na sua cartela. Por exemplo, se o papel sorteado contivesse a frase “Primeiro livro enviado pela TAG Curadoria”, quem tivesse O físico em sua cartela deveria marcá-lo.. O prêmio para os sortudos que marcaram todas as respostas primeiro foi o livro de contos Amora (2015), obra vencedora do Jabuti de 2016 na categoria Contos e Crônicas, escrita pela curadora de março, Natalia Polesso. Para conferir se encontros entre associados estão acontecendo na sua cidade, basta acessar a aba “Encontros” em seu aplicativo. Aqueles que não os encontrarem podem criar seus próprios eventos no aplicativo e convidar associados locais para continuarem fomentando amizades e debates literários ao redor do Brasil. Caso precise de ajuda, entre em contato conosco pelo e-mail eventos@taglivros.com.br.
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ESPAÇO DO ASSOCIADO
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LEIA DEPOIS DE LER
Este espaço foi pensado para você retornar à leitura da revista depois de ter terminado o livro. Aqui, mensalmente, um dos colunistas do nosso blog - taglivros.com.br/blog - irá produzir um texto especialmente para você analisar de forma mais complexa a obra.
Spoiler!
Afiado como uma navalha Leticia Wierzchowski
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TAG Curadoria nos traz neste mês duas histórias do autor suíço Friedrich Dürrenmatt, dramaturgo e escritor de romances policiais. Bem, A promessa é o antirromance policial, e seu narrador, o doutor H., um policial suíço aposentado, conta esta história a um escritor, acusando-o de, em prol da literatura, pasteurizar suas tramas e aparar as arestas dos personagens a fim de chegar à solução perfeita para os seus livros.
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Mas a ficção são as cinzas da vida, já escreveu Marguerite Yourcenar. E, enquanto o fogo arde, é quase sempre impossível moldar os fatos num arranjo convincente. Assim, o doutor H. nos apresenta a história de Matthäi, um comissário de polícia que cai em profundo desespero ao não conseguir solucionar o bárbaro assassinato de uma garotinha de 8 anos num pequeno povoado suíço. O crime guarda profundas semelhanças com outros dois, e
LEIA DEPOIS DE LER
Matthäi, ao ver o desespero da família da menina morta, jura-lhes encontrar o assassino. Então, o inteligente Matthäi monta uma intrincada teoria sobre o serial killer e prepara-lhe aquilo que ele considera a armadilha perfeita. Se a vida fosse um livro, um enredo sopesado e planejado nos mínimos detalhes, Matthäi teria sucesso garantido em sua empreitada justiceira; e o leitor - acostumado aos calculados desvios e aos súbitos (porém planejados) despenhadeiros das histórias, lê este pequeno romance com o coração nas mãos. Mas seu final, totalmente inesperado, é ao mesmo tempo chocante e desanimador, tão destituído de lógica ou de justiça como a própria vida, esta senhora cheia de caprichos e de crueldades - talvez a grande serial killer da história de Friedrich Dürrenmatt. Um belo livro, magnético e angustiante, sobre o desespero, o acaso e a injustiça que nos seguem por
todos os lados, sem documentos, sem autorizações prévias, sem ter de dar explicação a quem quer que seja, adulterando histórias e transformando destinos com a empáfia do imponderável. De quebra, temos também um impressionante conto de Dürrenmatt, A pane. Pelas garras deste autor meticuloso e implacável, mais um personagem se vê diante do inesperado, quando seu carro quebra numa pequena cidadezinha e ele acaba como hóspede de um juiz aposentado, que o convida para uma curiosa tertúlia com alguns vizinhos da região. Um conto assombroso, como parece ser toda a obra de Friedrich Dürrenmatt, cuja máxima pessoal era: “Uma história não está terminada até que algo tenha dado profundamente errado”. Touché. Agora que você finalizou a leitura, que tal falar com outros associados sobre as suas percepções? Basta entrar no aplicativo da TAG Curadoria!
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A PRÓXIMA INDICAÇÃO
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A curadora de setembro Conceição Evaristo O mês de setembro terá como curadora Conceição Evaristo, uma das principais expoentes da literatura brasileira contemporânea. Presente no cenário literário desde os anos 1990, Evaristo ganhou visibilidade nacional a partir da publicação do romance Ponciá Vicêncio (2003). Ela conquistou o Prêmio Jabuti com o livro de contos Olhos d’água (2014) e já recebeu traduções na França e nos Estados Unidos. Sua obra abrange reflexões de raça e de gênero que denotam sua preocupação em escancarar a desigualdade racial e resgatar a memória e a riqueza da população afrobrasileira.
“É um livro essencial.”
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A obra indicada por Conceição Evaristo é de autoria de uma influente escritora americana, que foi capaz de fazer seu nome ressoar mesmo em uma época de discriminação à mulher negra. Nesse livro, autobiográfico e que marca a estreia da autora, acompanhamos infância e juventude de uma protagonista que cresce em meio à segregação racial dos Estados Unidos do início do século XX. O leitor vê a transição de uma menina insegura de seu lugar no mundo para o despertar de uma mulher consciente de sua negritude e que viria a se tornar uma das escritoras mais inspiradoras de seu tempo.
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