junho | 2018
Voragem
谷崎 潤一郎 TAG Comércio de Livros Ltda. Rua Câncio Gomes, 571 | Bairro Floresta Porto Alegre - RS | CEP: 90220-060 (51) 3092.0040 taglivros taglivros taglivros taglivros contato@taglivros.com.br www.taglivros.com.br REDAÇÃO Gustavo Lembert da Cunha Marina Brancher Marcio Coelho Maurício Lobo Nicolle Ortiz produto@taglivros.com.br REVISÃO Antônio Augusto da Cunha Juliana Albuquerque IMPRESSÃO Impressos Portão PROJETO GRÁFICO Bruno Miguell M. Mesquita Gabriela Heberle Kalany Ballardin Paula Hentges design@taglivros.com.br CAPA design@taglivros.com.br
Ao Leitor O mês de junho promete uma leitura impactante e desafiadora. Eliane Brum, das mais proeminentes jornalistas do Brasil, escolhida para o time de peso do nosso livro Uns e outros, e agora, finalmente, curadora do clube, indica um livro que primeiro lhe chamou a atenção pelo título. Depois, pela confirmação de que essa escolha faz jus à obra. Voragem, segundo o Houaiss, é “tudo aquilo que é capaz de tragar, sorver, destruir com violência”. O livro homônimo de Junichiro Tanizaki, publicado em 1931, é uma ode à força destrutiva do amor. O autor confrontou a sociedade japonesa da época, contando não só a história de um amor lésbico, mas também as mentiras, intrigas e promessas de atos extremos realizados em nome das paixões devastadoras. Inspirados por Voragem, os Ecos deste mês são inteiramente dedicados à cultura nipônica: apresentamos os escritores japoneses mais influentes, a expressão da subversiva arte shunga e registros fotográficos da Era Meiji, período no qual o escritor nasceu. Boa leitura!
Equipe Tag
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E A indicação do mês A curadora Eliane Brum
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Ecos da Leitura Literatura Japonesa
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Leia depois de ler A ressaca da paixão Leticia Wierzchowski
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Spoile
Sumário A INDICAÇÃO DO MÊS
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O livro indicado Voragem
ECOS DA LEITURA
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Arte erótica japonesa Imagens da Era Meiji
ESPAÇO DO ASSOCIADO
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Encontros na TAG
A PRÓXIMA INDICAÇÃO
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O livro de julho
Laine Bacarol
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A curadora Eliane Brum
Na seção “Sobre”, em sua página oficial do Facebook, Eliane Brum deixa apenas quatro palavras. A primeira, posicionada acima das outras, é peculiar: “escutadeira”. Abaixo, enfileiram-se suas três profissões: “escritora, repórter e documentarista”. A mensagem é discreta, mas inequívoca: escutar é a mais notável de suas técnicas, ou, ainda, sua principal forma de se posicionar no mundo. Um valioso conselho, se assim interpretado, tendo em vista que Brum acumula mais de quarenta prêmios nacionais e internacionais por suas contribuições para o jornalismo – em uma pesquisa do Instituto Corda, foi considerada a jornalista brasileira mais laureada de todos os tempos. Além de impressionante, sua trajetória tem a cara de quem ama o que faz – mesmo que lhe custe, para todos os efeitos, sair profundamente transformada a cada experiência. A jornalista já percorreu todo o estado de Roraima, juntou-se a parteiras no Amapá, ficou internada em um asilo para idosos no Rio de Janeiro, conviveu com moradores da Vila Brasilândia, um dos bairros mais violentos de São Paulo, acompanhou as histórias de mães que perderam os filhos para o tráfico, adentrou a Amazônia para ver de perto uma corrida do ouro… A unidade de seu trabalho está no respeito pela fala do outro – um formato de conversa-entrevista que, em vez de direcionar, abre-se para o acaso, envolve, interpreta os silêncios e as entrelinhas e busca verdades para além das palavras.
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A INDICAÇÃO DO MÊS
Em trinta anos de profissão, Brum trabalhou por 11 deles como repórter do jornal Zero Hora, de Porto Alegre, e dez como repórter especial da Revista Época, em São Paulo. Já codirigiu quatro documentários e publicou seis livros. Desde 2010, dedica-se a projetos jornalísticos mais longos, envolvendo populações periféricas brasileiras, e escreve regularmente para os periódicos El País e The Guardian. Esse caminho todo, no entanto, teve início há muito tempo. Natural de Ijuí, no Rio Grande do Sul, a jornalista conta que sua infância foi um período melancólico, e que o elemento central desse momento – delicadamente descrito em sua última publicação, Meus desacontecimentos (2014) – foi a literatura: desde muito cedo, tomou-a pela mão e a levou a realidades mais acolhedoras. Trancada no quarto, deslumbrada, esquecendo-se até mesmo de comer, conheceu os romances de Jorge Amado, José de Alencar e Erico Verissimo. As páginas de jornal, por outro lado, não a entusiasmavam – tudo era cinza, pragmático e impessoal demais. Ninguém poderia prever que, mais velha, tomaria a decisão de se inscrever para o vestibular de jornalismo. Nem mesmo a própria Eliane, que, de fato, pouco aproveitou as aulas. Foi somente no último semestre do curso, ao descobrir os trabalhos sensíveis e literários de jornalistas como Joel Silveira, Ricardo Kotscho, José Hamilton
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Ribeiro e Audálio Dantas, que encontrou identificação com algo daquele mundo. Com eles, percebeu que pessoas podem, sim, ser o foco das grandes reportagens. Nos anos 1990, ainda uma jornalista emergente, Brum causou polêmica ao reconstruir a história do percurso da Coluna Prestes, no livro O avesso da lenda (1994). No jornal Zero Hora, foi conquistando espaço por meio de matérias pouco convencionais com a coluna “A vida que ninguém vê”, na qual relatava acontecimentos extraordinários da vida de pessoas comuns, geralmente de camadas humildes e esquecidas pela sociedade. Algumas dessas histórias, às quais chamou de “Desacontecimentos”, foram reunidas anos mais tarde, no livro de mesmo nome da coluna, e vencedor do prêmio Jabuti de 2007.
“Nesses 25 anos de reportagem, me aprimorei especialmente em escutar silêncios, expressões e entrelinhas. Mas o que busco, a grande pergunta que move a minha escuta, é compreender como cada um inventa uma vida.” Eliane Brum
A INDICAÇÃO DO MÊS
Seus melhores retratos dos brasis injustos e desiguais estão em O olho da rua – uma repórter em busca da literatura da vida real (2008), obra na qual Brum compila dez grandes reportagens, conta seus bastidores e reflete sobre os medos que enfrentou e os erros que cometeu ao longo das imersões jornalísticas. Uma dessas reportagens, em que acompanhou os 115 últimos dias de vida de uma paciente com um câncer incurável, provocou um impacto permanente. No contato íntimo e direto com a morte, internalizou um novo entendimento sobre a vida e uma maneira diferente de expressá-la. “Soube com muita clareza que há certas realidades que só a ficção suporta. Para essas realidades, eu precisava de uma outra voz, uma voz na ficção.” Então, escreveu Uma duas (2011), sua
estreia como romancista, uma história da relação entre mãe e filha. Frente a um processo inteiramente novo, pôde acessar – e escutar – as vozes que surgiam de dentro. Além de “escutadeira”, Eliane Brum tem fascinação por uma outra palavra. Sua preferida entre todas da língua portuguesa, intimamente conectada com o universo literário. Palavra que “nomeia algo que suga, devora, traga. Algo que se apropria do nosso corpo e o arrasta para o abismo, seja um abismo físico, concreto, seja um abismo subjetivo, um abismo da alma ou da mente”. Voragem, título da obra do mês, não só carrega um significado de intensidade, como é reflexo daquilo que Brum busca entender, entre tantas outras coisas, em sua jornada profissional.
“Voragem é a minha palavra preferida porque ela é, para mim, a própria literatura. E, ao mesmo tempo, aquilo que não vira literatura, aquilo que permanece fora das palavras.”
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A INDICAÇÃO DO MÊS
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V O livro indicado Voragem
Ler Junichiro Tanizaki é desafiador. Caracterizada por alguns críticos como uma edipiana busca pelo “eterno feminino”, sua obra é impregnada de alto grau do proibido e do erótico, com forte inspiração nas relações com as mulheres de sua vida. Desde a mãe até as esposas e os romances idealizados, Tanizaki sempre teve uma musa que o ajudou a retratar personagens com concepções ambíguas, simultaneamente deusas e demônios; às vezes carinhosas e doces, outras, sedutoras e lascivas. Não há como falar de Tanizaki, indicado diversas vezes ao Nobel de Literatura, sem abordar o âmago dos mais belos – e também dos mais perversos – desejos humanos. Além de um exímio contador de histórias, o escritor é lembrado por arquitetar cenários tão fascinantes quanto reprimidos no Japão do início do século passado: narrativas de sexualidade, fetichismo e tabu. Se, por um lado, as influências estéticas de sua obra sofreram transformações expressivas ao longo dos anos, passando da influência ocidental ao tradicionalismo nipônico, por outro, o escritor raramente fugiu das fantasias eróticas. Quando o fez, foi para retratar engenhosamente as dinâmicas familiares no contexto das mudanças do Japão do século XX. Nascido em 1886, em plena Era Meiji, de família abastada e ligada à leitura, Tanizaki teve na paisagem de uma Tóquio que lentamente sucumbia à influência ocidental sua
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A INDICAÇÃO DO MÊS
infância relativamente tranquila e um pouco mimada. A mãe do escritor, jovem de traços encantadores, foi o alicerce de uma devoção febril às mulheres. Sua morte precoce traria consequências permanentes em Tanizaki, explicitadas sobretudo no conto Reminiscence of my beloved mother (1919) e nos romances Arrowroot (1932) e Captain Shigemoto’s mother (1949).
te, que aos poucos consumiam seu país. Indicavam, também, os temas que seriam sua obsessão. No conto de estreia The Tattooer (1911), uma história com nuances do fantástico, o prazer em infligir dor de um tatuador sádico toma um caminho inverso com a chegada de uma jovem de rara beleza.
A idealização de uma vida ocidental, no entanto, rapidamente enMesmo quando as finanças familiatraria em colapso diante de dois res começaram a derrocar, foi o degrandes acontecimentos em seu sempenho notável do jovem Tanipaís. O primeiro foi o crescimento zaki que estimulou o investimento do militarismo no Japão, logo antes em sua educação. da Segunda Guerra Ainda jovem, ele já Mundial, violento “Tanizaki é um dos e repressivo, que se destacava nas meus escritores revistas literárias começava a lhe da escola. O desti- favoritos. Seus livros soar incômodo. O no foi semelhante outro, entretansão sobre o amor na Universidade to, simbolizou a e, frequentemente, transformação de Imperial de Tóquio, onde estudou liTanizaki: o Gransobre os aspectos teratura japonesa, de Sismo de Kanto, mas acabou não se perversos do amor.” que provocou mais formando, apesar de 140 mil mortes, Henry Miller de todo o esforço destruiu grande para custeá-la. Nenhuma dificulparte dos patrimônios históricos dade, no entanto, demoveu Tanizaki de Tóquio e sua casa em Yokohade perseguir a carreira literária, e ma. Como um gatilho, a preferência logo estaria vivendo em Yokohama, temática do escritor por relacioonde levou uma vida boêmia, em namentos contemporâneos foi se uma casa de arquitetura ocidental, e transformando em uma nostalgia de escreveu peças, roteiros cinematoum Japão tradicional e já esquecido. gráficos e contos. Tanizaki se mudou para a cidade de Quioto que, junto com Osaka e Kobe, O escritor era fascinado pela literafica na região conhecida como tura ocidental. Lia Edgar Allan Poe, Keihanshin. O dialeto das mulheres Oscar Wilde e Baudelaire. Seus pridas classes altas de Osaka, praticameiros trabalhos demonstravam mente intraduzível e de ritmo canesse apreço quase idealizado pela tado, chamou-lhe tanto a atenção cultura e modernidade do Ocidenque inspirou Voragem (1931).
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A INDICAÇÃO DO MÊS
Pode-se definir essa obra como transgressiva – poucos autores se arriscariam a publicar uma história de amor lésbico no Japão dos anos 1930. O livro, porém, é muito mais do que isso. Abordando um tema ainda inédito em sua obra, Tanizaki explora as melhores e piores facetas da humanidade: paixões incontroláveis, atos sórdidos, mentiras, obsessões e juras de amor dramáticas. Voragem, como o próprio título sugere, fala de um amor tormentoso, que absorve e desgasta. Quem conta essa história é a protagonista Sonoko Kakiuchi, uma jovem mimada e impulsiva. Ela dirige sua fala a um homem a quem chama de sensei – supõe-se que esse interlocutor seja o próprio Tanizaki, que transcreve o relato e o pontua com breves comentários. Sonoko vê no marido, Koutaro Kakiuchi, um homem leal e tranquilo, porém tedioso e dependente, “uma dessas pessoas de índole acadêmica, incapaz de livrar-se da rudeza típica dos estudiosos”. A relação é fria a ponto de a narradora confessar uma traição ao sensei. Para Sonoko, porém, a história ficou para trás, e ela se sente disposta a salvar o casamento.
de sua fascinação pela sedutora estudante, enquanto boatos de um relacionamento entre as duas começam a brotar. Basta um encontro para que Sonoko seja completamente fisgada por Mitsuko – e um jogo de paixão obsessiva e mentiras tenha início. Seja em encontros furtivos em lugares remotos ou mesmo na casa de Sonoko, sob o pretexto de concluir uma pintura interminável, a narradora vai lentamente mostrando-se vulnerável a essa paixão arrebatadora. O inesperado surgimento de uma terceira pessoa, porém, desencadeia um jogo de mentiras intrincado, no qual Sonoko não sabe quem está dizendo a verdade – e o leitor também não.
Entretanto, em uma escola de artes de segunda linha, somente para mulheres, todos os planos se esvaem quando Sonoko descobre a beleza fulminante da jovem Mitsuko Tokumistu. Quase sem perceber, a narradora dá indícios
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A INDICAÇÃO DO MÊS
Nessa relação cheia de reviravoltas, tornam-se frequentes promessas de suicídio e juras de amor eterno – algo que, mesmo em obras de ficção, não costumamos ver no ocidente. A dramaticidade exacerbada nas falas e atitudes de seus personagens, que pode causar estranhamento no leitor, é parte da experiência com uma literatura pouco difundida no Brasil. Como quase toda obra de Tanizaki, a tensão sexual em Voragem está presente, embora seja menos explícita e tenha menos relevância frente aos aspectos psicológicos da trama. Destacam-se a descrição comportamental da protagonista e dos personagens envolvidos, seus hábitos, suas visões sobre o que é (i)moral e (anti)ético.
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Voragem precedeu não só um maior empenho do autor em escrever romances dedicados à cultura japonesa tradicional como também a extraordinária adaptação de The tale of Genji. Tanizaki dedicou anos da carreira vertendo para o japonês moderno a obra de Lady Murasaki, um dos maiores clássicos de seu país, datado do século XI. O esforço apaixonado permitiu que novos leitores pudessem apreciar uma das maiores obras da cultura nipônica, considerada por especialistas o primeiro de todos os romances. Seguindo a tendência de exaltar a tradição nacional, Tanizaki lançou o ensaio Em louvor da sombra (1933), no qual discorre sobre a estética japonesa e sua concepção do belo. Já As irmãs Makioka, publicada ao longo do período
pós-Guerra, é considerada por muitos sua obra-prima. Esse romance teve como fonte de inspiração a terceira esposa do autor, Nezu Matsuko, e ameniza os temas chocantes – consciente de que havia concluído uma obra primorosa, Tanizaki não quis correr o risco de comprometer sua repercussão. As irmãs Makioka apresenta um intrincado perfil do Japão durante os anos 1930 e os diferentes embates entre os valores japoneses e os ocidentais, além de contrapor a tradição e modernidade. Ao longo de seus 79 anos, Junichiro Tanizaki recebeu inúmeros prêmios e honrarias dentro e fora do Japão e foi celebrado como um dos principais escritores de sua geração. Após seu falecimento
em 1965, uma premiação literária com seu nome foi criada, e até hoje é digna de muito prestígio. Sem perder a irreverência e a criatividade, o autor fez de sua última obra, também, a última de suas fantasias: em Diário de um velho louco (1961), um senhor de 77 anos deixa-se manipular sexualmente pela nora. Sabendo que, com sua idade, não tem muito tempo a perder, o idoso deixa de se importar com os padrões sociais e entrega-se à busca do prazer. Nós, leitores, poderemos nunca saber a ligação dessa história com a vida real do escritor, mas há algo que podemos inferir com alguma segurança: em vida, Tanizaki jamais aceitou a privação dos desejos.
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LITERATURA JAPONESA
ECOS DA LEITURA
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ECOS DA LEITURA
Kazuo Ishiguro, vencedor do Nobel de Literatura de 2017, e Haruki Murakami – autor de romances como Kafka à beira-mar e 1Q84 – certamente estão entre os autores japoneses mais conhecidos pelos leitores brasileiros. Mas eles não são os únicos – há um grande número de autores nipônicos que influenciaram e continuam influenciando o mundo literário com obras singulares. Ao contrário de Ishiguro, cujas influências ocidentais dominam boa parte de seus livros – incluindo o idioma escolhido, o inglês –, os escritores apresentados neste Eco buscaram beber, majoritariamente, das águas de sua milenar cultura. Como a lista é longa, salientamos aqueles cujas obras estão disponíveis em português. Vamos a eles.
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ECOS DA LEITURA
NATSUME SOSEKI (1867-1916)
YASUNARI KAWABATA (1899-1972)
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Soseki é o mais citado e estudado autor japonês da literatura moderna: diversos livros e teses acadêmicas já foram dedicados a ele. O escritor, que ocupa o posto de “autor nacional”, já teve seu rosto impresso nas notas japonesas de mil yens entre 1984 e 2004.
O primeiro escritor japonês a receber o Nobel de Literatura (1968) ficou indignado pelo fato de o prêmio ter preterido Yukio Mishima. Tal atitude, claro, revela mais do caráter gentil e delicado do escritor do que sua qualidade literária. Kawabata trazia em seus livros doses de prosa e poesia, com muita sensibilidade. Buscando um afastamento de cenários complexos, estruturas e técnicas por ele considerados desnecessários, trabalhou temas de beleza poética, desejos proibidos e impossíveis, além de frequentemente transmitir uma triste-
Estudioso Soseki com ção relati 37 anos, e ra Eu sou momento ta de uma ra, onde n transform mesmo e s ponesa. A vida e obr bolos das pelo Japão e moderni
za mela uma juv perdeu, tos de se
Autor d das bela país das nha e M entre s famosos García M
ancólica – o escritor teve ventude trágica na qual ao longo dos anos, muieus entes queridos.
YUKIO MISHIMA (1925-1970)
o da literatura inglesa, meçou a escrever ficivamente tarde, com estreando com a sátium gato (1904). Esse coincidiu com a vola viagem à Inglaternão se adaptou e que mou a visão sobre si sobre a sociedade jaAssim como a viagem, ra de Soseki são símdificuldades vividas o em ocidentalizar-se izar-se.
Yukio Mishima é considerado, com Yasunari Kawabata, Natsume Soseki e Junichiro Tanizaki, um dos grandes nomes da literatura japonesa moderna. Perfeccionista com a própria obra, era obcecado pela cultura e comportamento dos samurais, tendo tirado a própria vida em um ritual seppuku, conhecido no ocidente como harakiri. O primeiro sucesso de Yukio Mishima foi Confissões de uma máscara (1948), romance com elementos autobiográficos, em que um jovem homossexual precisa utilizar uma máscara para fugir dos julgamentos da intolerante sociedade japonesa da época.
BANANA YOSHIMOTO (1964)
de obras como A casa as adormecidas, Kyoto, O s neves, O som da montaMil tsurus, Kawabata tem seus admiradores mais s o colombiano Gabriel Márquez.
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HIROMI KAWAKAMI (1958)
A obra da escritora contempo rânea Hiromi Kawakami com preende livros de não ficçã contos e romances. Sua abor dagem empática e realista sobr a vida e os amores de mulhere no Japão contemporâneo, assim como seu estilo incomum – qu foge do senso comum ao prete rir detalhes do cotidiano e pri vilegiar ritmos e atmosferas –
KENZABURO OE (1935)
Kenzaburo Oe recebeu o Prêmio Nobel de Literatura por sua obra “que com força poética cria um mundo imaginado, onde a vida e o mito se condensam para formar o desenho desconcertante das dificuldades do homem de hoje”. Sua obra inclui contos, escritos políticos e um célebre ensaio sobre Hiroshima. Foi um dos primeiros escritores a receber o Prêmio Tanizaki (1967) e, em 1994, o prêmio máximo da literatura mundial.
Banana Yoshimoto é o pseudônimo de Mahoko Yoshimoto. Fã de autores como Stephen King e Truman Capote, utiliza referências culturais do ocidente em seus romances para falar das experiências dos jovens no Japão moderno. Com Murakami, ajudou a divulgar mundo afora a qualidade da literatura contemporânea japonesa.
A autora, que é filha do filósofo, poeta e crítico literário Takaaki Yoshimoto, é conhecida por um estilo chamado minimalismo pop e ainda é pouco celebrada no Brasil. Kitchen (1988), seu primeiro romance, foi publicado no país pela Editora Nova Fronteira, mas encontra-se fora de catálogo. 18
Em 1964, cia de qu nascera c cerebral. O escritor é professor sua obra m questão pe
Outras obr sil são: Jove despertai! Kenzaburo
omão, rre es m ue ei–,
agradam tanto ao público como à crítica. Embora boa parte de sua obra tenha sido traduzida para mais de doze idiomas, apenas dois de seus romances foram publicados no Brasil: Quinquilharias Nakano (2005) e A valise do professor (2001), vencedor do prêmio Tanizaki.
Oe recebeu a notíue seu primeiro filho com uma anomalia O drama familiar do o mesmo vivido pelo Bird, protagonista de mais aclamada, Uma essoal (1964).
ras publicadas no Braens de um novo tempo, (2011), 14 contos de o Oe (2011).
KOBO ABE (1924-1993) Frequentemente comparado a Kafka, Kobo Abe, pseudônimo de Kimifusa Abe, foi um dos líderes do vanguardismo japonês. Seu conhecimento amplo da literatura ocidental, da corrente filosófica existencialista, do movimento artístico e literário surrealista e do marxismo conduziram o escritor a novas perspectivas sobre a identidade japonesa do pós-guerra. Dedicando-se também ao teatro, Kobo Abe tornou-se, na década de 1970, novelista e dramaturgo de forte reputação. A mulher das dunas (1962), O rosto de um outro (1964) e Moetsukita Chizu (1967), algumas de suas principais obras, foram adaptadas pelo cineasta Hiroshi Teshigahara e também se tornaram clássicos cinematográficos.
MENÇÕES HONROSAS: Ryunosuke Akutagawa (1892-1927), Nagai Kafu (1879-1959), Yoshida Kenko (1284-1350), Matsuo Basho (1644-1694), Shimazaki Toson (1872-1943), Mori Ogai (1862-1922), Eiji Yoshikawa (1892-1962).
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ECOS DA LEITURA
Arte erótica japonesa 日本のエロティックアート
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rande parte da obra de Junichiro Tanizaki é dedicada à sexualidade e suas diversas facetas – sejam elas estranhas fantasias pessoais, desejos reprimidos ou orientações sexuais alvos de preconceito. Quando decidiu retratar um relacionamento lésbico em Voragem, o autor transitou por um assunto que, se já era polêmico na época de seu lançamento, continua sendo pouco discutido na sociedade japonesa. Ainda que nunca completamente tolerados, relacionamentos homoafetivos – e a sexualidade como um todo – eram retratados e consumidos em conteúdos artísticos do Período Edo, momento em que o Japão foi governado pelos xoguns da família Tokugawa, de 1603 até 1868. A arte shunga, como ficou conhecida, é uma vertente da arte ukiyo-e
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e consiste em obras de arte erótica impressas majoritariamente em xilogravuras – técnica emergente que permitiu sua reprodução em grande escala. Geralmente desenhadas com um alto nível técnico, as obras retratavam cenas explícitas e continham um certo grau humorístico por apresentarem os órgãos sexuais em tamanhos exagerados. Como o sexo e a pornografia não eram vistos no oriente como imorais no sentido judaico-cristão, a arte shunga era relativamente comum. Com o tempo, porém, foi se tornando ilegal, passando a circular clandestinamente, até sua completa supressão a partir de Era Meiji (1868-1912), com a intervenção ocidental. A partir de então, virou tabu. Ironicamente, a arte shunga influenciou famosos artistas europeus como Toulouse-Lautrec, Degas, Rodin e Picasso.
ECOS DA LEITURA
Embora muitas das cenas retratadas na arte shunga fossem entre casais heterossexuais, um significativo número de obras reproduzia relações entre homens e também entre mulheres.
zer mútuo entre homens e mulheres e levanta uma hipótese para sua repressão por parte das autoridades: “Talvez seja em parte pela ênfase no prazer sexual das mulheres”.
A grande maioria dos artistas da ukiyo-e também produziram obras de arte shunga. Entre os mais conhecidos, destacam-se: Kuniyoshi, Katsushika Hokusai (o criador da célebre A grande onda de Kanagawa) e Utagawa Kunisada.
一
Em outubro de 2013, o British Museum abriu, de maneira inédita, a mostra “Shunga: Sex and Pleasure in Japanese Art”, com cerca de 170 obras produzidas entre 1600 e 1900. Em entrevista ao periódico português Público, o professor de Estudos Japoneses e um dos líderes do projeto, Andrew Gerstle, afirmou que a arte shunga promovia o pra-
A palavra shunga, traduzida literalmente, significa “cenário de primavera”, termo frequentemente usado como eufemismo para “sexo”.
二 De acordo com uma pesquisa da Campanha do Laço Branco pelo Respeito à Vida, que ouviu 609 estudantes, 69% dos japoneses homossexuais já sofreram algum tipo de bullying, e 30% já pensaram em cometer suicídio. Além disso, 53% deles foram agredidos verbalmente, e 49% foram ignorados ou excluídos de grupos.
ス
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ECOS DA LEITURA
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Imagens da Era Meiji 1
Em 1853, pouco mais de uma década antes de Tanizaki nascer, o Japão ainda vivia resquícios do xogunato – regime semelhante ao feudalismo – e era um país completamente fechado para a influência externa. Naquele ano, porém, uma esquadra dos Estados Unidos, composta por quatro navios e comandada pelo militar norte-americano Matthew C. Perry, chegou à baía de Edo exigindo a abertura dos portos japoneses para nações estrangeiras, dando início a uma cadeia de eventos que levariam à renúncia
Anos 1890 • Mulheres tomando chá - autor desconhecido
2 Osaka, 1905 • Ponte Yodoyabashi - autor desconhecido 3 Tóquio, anos 1890 • Mercado de peixes de Nihonbashi - Henry Strohmeyer 22
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ECOS DA LEITURA3
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de Tokugawa Yoshinobu, o último xogun, à proclamação do Império e ao início do Regime Meiji, que durou de 1867 até 1912 e marcou um novo capítulo da história do Japão. Com a unidade política do país, foi possível a intervenção estatal na economia e a centralização da administração pública. A partir desse momento, surgiram reformas econômicas que eliminaram o modo de produção feudal, libertaram a mão de obra e a possibilitaram a assimilação das inovações tecnológicas que chegavam do ocidente.
O Japão, assim, adaptava-se aos poucos ao capitalismo. Essa transformação fez das cidades japonesas cenários curiosos: uma combinação de cultura milenar e criações ocidentais, como ferrovias e universidades. Ao mesmo tempo, a fotografia acabava de ser inventada e espalhada ao redor do mundo – possibilitando o registro dos incríveis momentos que ilustram esse Eco e podem aguçar sua curiosidade sobre o cenário da juventude de Tanizaki.
4 Nagoya, anos 1880 • Castelo Nagoya 5 Anos 1870 • Artesão de cestas 6 Anos 1890 • Vendedor de vassouras - autor desconhecido 23
ESPAÇO DO ASSOCIADO
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Encontros na TAG Os encontros entre associados estão cada vez mais incríveis!
sivamente por associados, sem intervenção nossa. Que orgulho!
Desde que foram criados, os eventos organizados por associados engajados – com apenas um empurrãozinho da TAG – cresceram de maneira exponencial. Antes exclusivos das capitais dos estados brasileiros, fizeram tanto sucesso que se espalharam também pelas cidades do interior e a maior parte deles agora são planejados exclu-
Dedicamos este Espaço do associado para divulgar as fotos que recebemos de alguns desses encontros, realizados Brasil afora e criados com o objetivo de fortalecer os laços entre aqueles que amam os livros e querem fazer da TAG uma experiência literária completa – aquela que também vem com calor humano.
Conhece associados na sua cidade, mas está sentindo falta de um encontro? Você também pode criar um! No aplicativo do clube, é muito mais fácil organizá-lo e divulgá-lo. Basta entrar na seção de eventos programados e adicionar o seu.
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ESPAÇO DO ASSOCIADO
Aracruz–ES
petrolina–pe
Mossoró–RN
Ribeirão Preto–SP
Guararema–SP
Santa Maria–RS
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LEIA DEPOIS DE LER
A RESSACA DA PAIXÃO por Leticia Wierzchowski
SPOILER!
Este espaço foi pensado para você retornar à leitura da revista depois de ter terminado o livro. Aqui, mensalmente, um dos colunistas do nosso blog - taglivros.com.br/blog - irá produzir um texto especialmente para você analisar de forma mais complexa a obra.
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LEIA DEPOIS DE LER
Sonoko Kakiuchi, já viúva, narra a sua história a um sensei. E, como se estivéssemos escutando atrás da porta – pois a narrativa de Voragem é verbal e Sonoko, no começo do romance, diz que até tentou escrever, “mas as ocorrências se embaralhavam em sua cabeça” – vamos acompanhando a trama dos acontecimentos que ela desfia tão minuciosamente. E não é à toa que Sonoko se embaralha ao escrever a sua incrível história – Voragem, um belíssimo romance sobre os despenhadeiros da paixão sexual, sobre a chama ardente do amor mais incontrolável, é uma espécie de narrativa em círculos, uma história que, quanto mais se aprofunda em direção ao seu coração palpitante e trágico, mais reviravoltas apresenta ao leitor. Confesso que comecei o livro distraidamente. Isso me acontece com os autores japoneses, talvez por uma tendência ao excesso de minúcias, talvez pelo tanto que a vida ocidental me separe deles. E, então, quase sempre a epifania acontece: quando vejo, estou totalmente enredada, arrebatada por esse universo de pequenos detalhes, por tudo que se esconde atrás de cada pouco, lá vou eu tragada num mergulho sem volta. Com Voragem, foi avassalador. Fazia já um certo tempo que eu não deparava assim com um texto tão envolvente – um romance que executa a façanha de narrar a paixão sem sexo, de criar um erotismo tão
sutil e vertiginoso, tão contundente. E olhem que a paixão é motor constante da literatura – mas Tanizaki ergue um pequeno universo, uma delicada constelação de espíritos que se enredam, que se alimentam, um jogo de corpos e de cartas (cartas que a narradora Sonoko alega serem marcadas) tão fascinante e audaz que terminei o livro e me deixei ficar por um longo tempo quieta, apenas pensando na história. Desde o começo, Sonoko apresenta-se como viúva, e a morte do seu marido – figura que parece ser secundária ao drama amoroso da própria Sonoko, quase um empecilho para a sua paixão proibida – fica pairando como peça sem encaixe da narrativa. Uma jogada de mestre de Junichiro Tanizaki, um impecável detalhe que ganha força de fenômeno ao final do livro, nessa história que é como uma marola, que cresce e cresce e cresce, para chegar à praia com a força de um violento tsunami. Destruição, felicidade, destino?Quem somos nós para julgar o poder, a beleza e a honra de viver uma paixão tão sem precedentes? Nem a própria Sonoko, que nos conta esta história, guarda em si ressentimento ou raiva, mas apenas uma saudade tão grande, tão absoluta, que a faz terminar sua narrativa às lágrimas, enquanto ficamos ali, pasmos diante da força oceânica da paixão que destruiu aquele pequeno mundo, mas que também lhe deu sentido.
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A PRÓXIMA INDICAÇÃO
O livro de julho Quem conhece a TAG há algum tempo já se acostumou com os projetos especiais nos meses de aniversário do clube. Em julho de 2016, quando completávamos dois anos, o presente para o associado foi uma edição inédita de O vermelho e o negro – nossa primeira aventura editorial. Em 2017, enviamos Uns e outros – contos espelhados, um livro escrito especialmente para a TAG, reunindo 10 contos clássicos e suas releituras criadas por grandes nomes da literatura em português. Para o aniversário de quatro anos, é claro, não poderia ser diferente. A obra que chegará à sua casa, ainda inédita no Brasil, é de ninguém menos que a vencedora do Nobel de Literatura de 2015 e um dos maiores fenômenos literários no mundo:
SVETLANA ALEKSIÉVITCH. Quando descobrimos que poderíamos trazer em primeira mão para vocês uma de suas obras, não hesitamos. A bielorrussa de 70 anos, que recebeu o maior prêmio literário “pela sua escrita polifônica, monumento ao sofrimento e à coragem na nossa época”, já lançou obras como Vozes de Chernobyl, O fim do homem soviético e A guerra não tem rosto de mulher. Em todas,
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registrou as vozes das incontáveis vítimas de conflitos e desastres da antiga União Soviética e seu território atual. Na obra enviada em julho, Svetlana mantém o conteúdo documental, dessa vez determinada a compartilhar histórias de quem perdeu tudo durante a Segunda Guerra Mundial, por meio de perspectivas únicas, comoventes e genuinamente sinceras.
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