Águas da Mudança

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UNOCHAPECÓ

PEX | Projeto Experimental de Jornalismo 2015.2 Grande Reportagem Águas da Mudança

Daiana Fátima Brighenti daiabgt@unochapeco.edu.br Orientador

Vagner Dalbosco Projeto gráfico, capa e diagramação

Tainá Apoena Bueno de Oliveira tainabueno@gmail.com


CAXAMBU DO SUL

Sobre as águas, a memória e as transformações


ACERVO PREFEITURA MUNICIPAL

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Vista aérea de Caxambu do Sul

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ra uma tarde ensolarada de 1966 quando dois homens de linguajar pouco familiar adentram em Caxambu do Sul – município do Oeste de Santa Catarina com cerca de 4 mil habitantes, segundo dados do IBGE (2015). Tratava-se de pessoas que trabalhavam para uma empresa até então desconhecida, que vinham de outras cidades fazer estudos da região para a implantação de usinas hidrelétricas no Rio Uruguai. Mal sabiam os moradores que aqueles dois homens eram mensageiros do que seria, anos mais tarde, um grande investimento com consequências não apenas para o município de Caxambu do Sul, mas para muitas outras comunidades da região: a implantação da Usina Hidrelétrica Foz do Chapecó, localizada entre o Oeste Catarinense e o Planalto Norte Gaúcho. A Usina começou a operar em 2011 após um longo período de estudos e de mobilizações dos municípios e comunidades ribeirinhas atingidas. No ano de 2002, foi emitida pelo Ibama a Licença Prévia de Instalação. Em dezembro de 2006, começaram as primeiras construções no can-

teiro de obras. Já em 2010, três das quatro unidades geradoras entram em operação e em dezembro, a Usina é oficialmente inaugurada pelo Presidente Lula através de uma videoconferência em Brasília. No ano seguinte, a última unidade geradora entra em operação e é dado o fim da construção da Foz do Chapecó. Ao todo, foram 12 municípios atingidos pelas águas. Em Santa Catarina, além de Caxambu do Sul, foram afetados os municípios de Águas de Chapecó, Guatambu, Chapecó, Paial e Itá. No Rio Grande do Sul, Alpestre, Rio dos Índios, Nonoai, Faxinalzinho, Erval Grande e Itatiba do Sul. Caxambu do Sul tem 53 anos de história político-administrativa, caracterizados por lutas e perspectivas de dias melhores. Uma terra banhada pelas águas do Rio Uruguai e que o homem, graças à tecnologia, transforma em energia para milhões de pessoas em todo o mundo. Foram 1.864,35 hectares de área inundada em Caxambu do Sul, o equivalente a 5,5% da área total do município, tornando-o um dos mais afetados em território catarinense. Nesta área, 252 propriedades


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foram afetadas, o que mudou a vida de muitas famílias, especialmente na comunidade de Lajeado Bonito onde vivia a maioria delas. Segundo o prefeito do município, Vilmar Foppa, o fato provocou uma série de transformações na paisagem e na vida dos moradores, pois muitas famílias saíram e foram para outras localidades. Além disso, muitas famílias precisaram interromper a atividade econômica do cultivo da melancia nas terras férteis que ficaram encobertas pelas águas do Rio Uruguai. Vilmar Foppa, prefeito do município, conta que a produção de melancia caiu em Caxambu devido à usina, porém tem outros fatores que prejudicam o município. - As cidades vizinhas como Planalto Alegre, Nova Itaberaba, por exemplo, também estão aderindo ao plantio da melancia, o que prejudica a compra e venda de melancia aqui. Quem comprava melancia, antes desses municípios em Caxambu agora compram direto de seus municípios. Antes da formação do lago, cerca de 250 famílias plantavam melancia nas comunidades banhadas pelo rio Uruguai. Juntos os agricultores produziam em torno de 15.000 toneladas por ano. Em 2012, estes números são aproximados a 7.500 toneladas por ano. - Lá era bom de viver. Desapareceu tudo agora. Vou todos os sábados jogar baralho, porque a gente se criou e dá muita saudade. Se não fosse essa barragem, nunca teria saído de lá – conta o agricultor Claudio Brighenti, popular Polaco, aposen-

tado eque hoje vive com sua esposa Dinorah em Planalto Alegre, Santa Catarina. Ao som do rádio, ele se recorda de lembranças que ficarammarcadas na sua vida e da sua esposa. Dinorah conta que a barragem já era promessa desde o ano de 1975, mas foi ainda em 1966 que os primeiros estudos começaram. - Vinham uns caras do Rio de Janeiro e da Bahia, saíam lá de Santa Teresinha, uma comunidade do interior do município, paravam lá em casa, e falavam que essa barragem ia sair, mas depois dos anos 2000, se não saia por bem, saia por mal. Foi contra essas e outras conversas que Polaco se revoltou e começou a se manifestar. Ele conta que foi iludido quando lhe falaram que as marcações na terra, logo acima da estrada, eram para o asfalto que estava chegando ao município ligando Caxambu do Sul e Águas de Chapecó. - Foi aí que comecei a fazer protestos, na verdade eu ia fazer folia mesmo (risos). Fomos para Chapecó, Erechim e mais um monte de lugar. Se fosse por nós, não ia sair barragem nunca. Mas algo me incomodou um dia, quando comecei a associar que quem se pronunciava com o microfone era de tal partido. Aí fui entender que esses manifestos eram tudo estratégia política usando a barragem como alvo para nós cair na deles. A partir daí, nunca mais fui atrás disso, a gente é burro, mas sabe até onde pode ser. O projeto hidrelétrico da Usina já abalava a vida dos supostos atingidos há pouco mais de 40 anos.


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Início da construção da Usina Foz do Chapecó, nos municípios de Águas de Chapecó (SC) e Alpestre (RS)


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Polaco e seus filhos: Claude e Clóvis

- No começo, isso ainda nos anos 60, eu estava animado com esta tal de barragem. Estávamos esperando, mais eu não pensei que pudesse mexer tanto assim com o emocional da gente a ponto de quase se entregar – relata Polaco, já se sentindo à vontade, sentado em uma cadeira com uma das pernas sobre a outra. Polaco e sua esposa moravam na comunidade de Lajeado Bonito, que com a construção da Usina, foi realocada para outro espaço. As estruturas da velha Igreja, ainda com as edificações antigas, foram removidas junto com as memórias do personagem. A Igreja permaneceu no município, e Polaco mudou-se para Planalto Alegre. - Vim contra a vontade morar aqui. Nada contra, é um lugar muito bonito, os vizinhos são gente boa, mas o meu lugar é Caxambu do Sul. Inclusive fomos bem recebidos pelo pessoal daqui. Nestas lembranças emanadas, a voz

de Polaco embargava o tom e os olhos eram cobertos pelas lágrimas. A mudança e a saudade aliada à tristeza de sair do “Bonito”, como era chamada a comunidade, pegou a família de surpresa. Há cinco anos, Polaco descobriu um câncer. Uma nova batalha surge. Foram meses e alguns anos de angústias, caracterizados pela dor e saudade lá do Bonito. Há quem diz que tudo isso foi culpa da Usina, há quem diz que todo mundo ainda vai passar por isso um dia. Foi um duelo pela vida que ele, juntamente com a família e amigos, superou. Hoje, pode se considerar curado de uma grave doença que abalou a todos próximos de Polaco. - Demorei pra me acostumar, acho que hoje, amadurecendo esta ideia, é que estou melhor. Construí o meu pedacinho como eu queria. Moro na cidade, mas ao mesmo tempo estou no interior – comemora Polaco, às gargalhadas.


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A batalha da Usina

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egundo Carlos Locatelli, em seu livro Comunicação e Barragens, publicado em 2014, desde 1966 o trecho do Rio Uruguai, onde hoje está instalada a Usina Foz do Chapecó, é motivo de interesse das empresas de energia, devido ao potencial hidrelétrico que o local possui. “Em 1984 foi comprovado que a região que compreendia os município de Águas de Chapecó e Alpestre, local denominado Foz do Chapecó, era o melhor local de aproveitamento energético com menor impacto ambiental, devido ao relevo possuir ondulações impróprias para o cultivo”, descreve Locatelli em seu estudo. O Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB), afirma que somente em 1997 iniciaram as primeiras movimentações para o início da construção da barragem. Foram audiências, reuniões e mobilizações por parte dos atingidos e liderados pelo Movimento. Dinorah, mulher culta que vivenciou todo este processo de construção da

Usina, explica que as primeiras movimentações, ainda nos anos 60, foram mais uma das estratégias que a empresa tomou para manipular os atingidos. - Esses 40 anos, das primeiras conversas até a construção, foi uma estratégia para o pessoal desanimar. Aí quando veio a barragem a maioria aceitou, pois estavam inquietos de tantos boatos que surgiam. Na época, eu trabalhava no colégio em Águas de Chapecó. Ainda naquele tempo eles colocaram um marco nas proximidades do colégio, definindo onde ia chegar o lago da barragem, só que este não saiu porque ia alagar Águas e São Carlos. A população tinha ficado revoltada, lembro muito bem isso ainda hoje. Depois de dois, três anos outro projeto estava sendo estudado, que hoje está concretizado, denominado Foz do Chapecó. A tese de Dinorah também é defendida por Locatelli, em que a demora no processo da construção da usina acabou sendo utilizada como estratégia de con-


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vencimento popular, permanecendo 40 anos na expectativa da população daquela região. “Essa foi uma estratégia adotada pela empreendedora para gerar inquietação e ansiedade nos atingidos, afirmando que a Usina iria ser realidade um dia”, afirma o pesquisador Carlos Locatelli. Uma geração inteira viveu com a insegurança de que seu lugar seria destruído pelo progresso e desenvolvimento, ouvindo de seus pais e avós que um dia o lugar onde viviam seria coberto de água. Segundo o MAB, para a população que precisa desocupar suas terras para a construção do empreendimento, é difícil compreender os benefícios que uma usina pode trazer, pois a utilização da energia se dá em outros lugares do país, onde esta população beneficiada utiliza da energia sem nada sofrer. Para o MAB, o sentimento de pertencimento daquele lugar que será desocupado é sentido pelas famílias que nasceram e cresceram ali, tendo que sair e deixar tudo para trás, principalmente as lembranças que ficaram guardadas na memória de cada pessoa. Mas com o passar do tempo, as novidades foram se confundindo com o antigo. No caso de Polaco e Dinorah, o momento da adaptação foi difícil, porém, nada podendo fazer para reverter a situação, acabaram se acostumando com a nova vida. O tempo é outro aliado para o esquecimento, pois ele distancia os problemas e ameniza as dificuldades. Passado este primeiro momento de espanto, as

memórias dão lugar à nova realidade que os cerca. Outra família que enfrentou uma batalha em função da instalação da Usina Foz do Chapecó foi a de um agricultor cujas inicias do nome são C.V. Ele preferiu não se identificar devido a problemas e angústias vivenciados com vizinhos durante a construção da Usina. Com a indenização que recebeu, ele comprou um lote na cidade, onde vive atualmente com sua esposa. - Tenho saudades de quando íamos tomar banho no rio nos finais de tarde. Pra mim ficou eternizado na memória aquele lugar que hoje não se vê mais. Sua propriedade foi totalmente coberta pela água, interrompendo uma vida inteira dedicada ao trabalho na lavoura e os “banhos” no rio Uruguai aos finais de tarde. De acordo com o Supervisor Socioambiental da Usina Foz do Chapecó, Claudimir Luiz Turmena, o empreendimento atingiu 252 imóveis rurais em Caxambu do Sul. Foram 129 aquisições totais e 123 proprietários indenizados parcialmente. Nove famílias foram contempladas com terrenos no Reassentamento Rural Coletivo, implantado em Mangueirinha, no Estado do Paraná. O Reassentamento Rural Coletivo é um projeto implantado em áreas maiores para realocar grupos de famílias atingidos pela Usina. A Foz do Chapecó adquiriu uma propriedade de mais de dois mil hectares em Mangueirinha, Paraná, onde 50 famí-


lias, atingidas em todos os municípios foram beneficiadas com as terras. Cada família recebeu um lote individual com casa e galpão, horta, galinheiro, aves de postura e mudas frutíferas. Muitos, inclusive, tiveram a condição de ter a primeira casa própria, saindo da condição de arrendatários para donos de uma propriedade rural mais estruturada. Segundo a professora de História Sandra Guerra, Caxambu do Sul possui 17 comunidades. Destas, linha Humaitá, Linha Lajeado Bonito, Linha São Felix, Linha Ceccon, Linha Volta Grande e Linha Sanga Rosa, foram atingidas pelo empreendimento. A maioria das famílias totalmente atingidas permaneceu no município, ad-

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Parte do lago em Caxambu do Sul

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Casas e quiosques construídos ao lado do lago são atrações nos finais de semana

quirindo outras propriedades ou comprando lotes na cidade. Além destas famílias atingidas, uma das comunidades do interior do município foi extinta: a comunidade de Linha Sanga Rosa. Dados da Paróquia São Jerônimo, de Caxambu do Sul, indicam que no ano 2009 a comunidade de Linha Sanga Rosa deixou de existir devido à saída de uma grande parcela de moradores. Já a comunidade de Lajeado Bonito foi totalmente realocada, e as comunidades de Linha Volta Grande, Linha Ceccon, Linha São Félix e Linha Pompeu, sofreram diretamente com o impacto e saída de famílias atingidas para outras localidades. - No total são 143,3 km² de área


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territorial, divididos nestes dois aglomerados que fazem Caxambu do Sul acontecer. Nestas comunidades, a economia está alicerçada na produção de grãos (milho, trigo e soja) pecuária (aves, suínos e bovinos e piscicultura). São dois laticínios no município e mais a plantação de melancia – conta a professora. A saída do município ou realocação das famílias em outros espaços do município afetou três escolas, duas localizadas na cidade e uma na Linha Dom José, no interior. A professora Sandra Guerra fala que antes os professores não tinham dificuldades para completar a carga horária, pois o número de alunos facilitava a formação de turmas. - Antes da chegada da usina os professores do município trabalhavam animados, todos tinham 40 horas semanais. Hoje a maioria sente-se obrigado a procurar aula em outras cidades para completar a carga horária – explica a professora. Já o prefeito do município, Vilmar Foppa, contradiz a professora. Ele acredita que Caxambu do Sul não sentiu o peso da saída dos alunos e o impacto na educação foi menor do que pensavam. - Quem morava aqui comprou outra propriedade também no município, fazendo com que esses alunos continuassem estudando nas escolas. Para o prefeito, a educação não foi afetada pela usina, mas quem trabalha com a realidade todos os dias sente-se desafiado quando entra na sala de aula. Em 2013, após a construção da Usina, o núme-

ro de alunos matriculados nas escolas do município caiu de aproximadamente 1 mil alunos para cerca de 800. Uma das gestoras das escolas do município, que preferiu não se identificar, argumenta que a escola continua funcionando como antes, porém o número de alunos começou a reduzir com o passar dos anos, após a construção da Usina. - Por se tratar de um município pequeno e pouca opção de emprego, muitas famílias vão para outros lugares para trabalhar e com eles, levam os filhos. Antes era a usina que preocupava, agora é a saída dos moradores, onde muitos ficaram sem opção para obter renda - relata a gestora. A redução populacional de Caxambu do Sul ao longo dos anos se deu por vários motivos. Inicialmente, segundo Sandra Guerra, o movimento foi de saída dos moradores do campo para cidades maiores, em busca de novas oportunidades, na década de 1970. A emancipação de Planalto Alegre e Guatambu, que eram distritos do município, também contribuíram para a redução populacional. No ano de 2004, anos antes da construção da barragem, a população do município era de aproximadamente 4.900 habitantes, segundo IBGE. Seis anos depois, com o projeto já em forma final, onde muitas famílias já tinham recebido a indenização, a população chegava próximo aos 4,4 mil. Hoje, esta redução se torna mais evidente. Segundo dados do IBGE de 2015, Caxambu do Sul possui cerca de 4 mil habitantes.


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Vasta cobertura de árvores foi engolida pelas águas.

- Muitos jovens sem alternativas acabam saindo daqui e vão para outras cidades para trabalhar e estudar. A faixa de idade que compreende de 18 a 30 anos completa o ensino médio e migra para outras cidades, principalmente filhos de agricultores, porque a renda que gira em torno da propriedade não é suficiente– explica Sandra. Segundo os dados oficiais da Usina Foz do Chapecó, a Usina é um empreendimento de mais de R$ 2 bilhões que vai proporcionar ao longo dos anos geração de 855MW de potência. A barragem tem 598 metros de extensão e 48 metros de altura. Entre as consequências causadas pela Usina nas áreas atingidas, estão os impactos ambientais, especialmente o secamento de parte do rio e amorte de muitos peixes. Caxambu do Sul não sofreu fortes consequências neste aspecto, já que

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Indignação dos moradores: árvores submersas pela formação do lago

após a formação do lago, houve a soltura de alevinos por parte da empresa. Porém, a extração da madeira não foi feita completamente quando da formação do lago. A saída dos moradores não significou a retirada total de árvores e entulhos. Tudo o que permaneceu no local foi engolido pela água, fatos que vão contra os preceitos da preservação do meio ambiente. A Usina Foz do Chapecó possui vários projetos de preservação ambiental para a manutenção da mata em torno do lago e do Rio Uruguai, de monitoramento da qualidade da água, da atividade pesqueira, de educação ambiental e outros. A soltura de alevinos no lago e em uma parte do rio Uruguai é realizada todos os anos. - Isso foi um descaso com nós, a gente via o sofrimento daquelas plantas serem engolidas pela água, tudo por causa do progresso - relata uma moradora da comunidade de Lajeado Bonito.


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FOZ DO CHAPECÓ

Um novo começo...

Vasco e Ivanir Woithoski: um novo recomeço

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onge do sofrimento do passado, Ivanir Woithoski abre a torneira da pia e começa a rir

sozinha. - Tínhamos que pegar água no poço, de balde, para beber e fazer comida. Era muito sofrimento. Essa era a rotina de Ivanir quando ela morava em uma escola desativada do-

ada pela prefeitura na Linha Volta Grande, no interior do município de Caxambu do Sul, antes de ser indenizada pela Usina Hidrelétrica Foz do Chapecó. Junto com o marido Vasco Woithoski e seus cinco filhos, a família sobrevivia com plantações de milho, feijão e criação de gado, nos pouco mais de cinco hectares arrendados. Este não era o cenário só desta família. Muitas


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Meses após a formação do lago, o que era morada e sossego das famílias transformaramse dando lugar à geração de energia

pessoas se encontravam nesta situação, e viram na usina uma forma de mudar de vida. Vasco e Ivanir nasceram e construíram sua família na comunidade de Linha Volta Grande, na comunidade onde, segundo relatos de povos antigos do município, na volta que nasceu Caxambu do Sul. Foi nos anos de 1940 que os primeiros colonizadores de vocação agrícola desbravaram estas terras desconhecidas. - Caxambu e a Volta Grande marcaram a minha vida e da minha família. Era um lugar próspero, de gente humilde.

Nossa vida por lá foi sofrida em relação a tudo, mas hoje, relembrando do passado, posso dizer que foi uma mudança de vida que valeu a pena – avalia Vasco. Há sete anos, quando foi indenizada, a família optou em morar no reassentamento em Mangueirinha em detrimento a uma carta de crédito. Porém, a dificuldade de locomoção até a cidade – como para fazer compras ou para o atendimento médico – foi um dos empecilhos encontrados para ficar e, conseqüentemente, um dos grandes motivos para voltar. - A gente estava acostumado aqui.


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É pecado se reclamar da saúde, educação e boa vontade dos vizinhos. Se precisar ir agora no médico eles atendem e não te deixam esperando. Se precisar marcar um exame não precisa voltar amanhã para ver o dia que ia ser. Aqui é um lugar de gente hospitaleira – comenta Ivanir, quando questionada sobre como é morar em Caxambu do Sul. Com o dinheiro da indenização, naquela época, o casal comprou vacas leiteiras e móveis para a casa. A casa e as demais construções no terreno foi o consórcio responsável pela Usina que entregou a família, assim como para as demais, que foram morar no reassentamento na cidade de Mangueirinha, no Paraná. Porém, o sentimento de morar em um lugar onde você mesmo é o dono não tem preço na vida desta família e das demais que se aventuraramem terras desconhecidas, com o intuito de mudar suas vidas. A casa em que viviam antes era iluminada a luz de velas. - Não tenho vergonha de contar. Nosso freezer ficava com o meu sobrinho, aí dividíamos a luz para pagar. Para fazer barulho nós tinha um rádio à pilha. Pro barulho já servia. Os olhos claros de Vasco revelam o drama de uma época regada de sofrimento. Hoje, bem estruturados, contam sobre aqueles tempos e não se arrependem de nada. - Fizemos tudo o que pudemos fazer e hoje graças a Deus estamos bem. Mudamos de vida depois da Usina – avalia

Vasco.

Conversa vai e conversa vem, Ivanir remete ao passado. - Lembra que eu precisava amarrar a minha única vaquinha na barranca da estrada pra não pagar aluguel na terra dos outros? - E pra mim você não acha que é bom colocar o pé pra fora da porta e já poder trabalhar? Só de não pegar o caíco e ir para aquela ilha, já é 100% de mudança. Como não tinha uma propriedade favorável para as plantações, o casal arrendava terras e uma das terras era na ilha da Volta Grande, a famosa Ilha da Rapadura. As vacas e as plantações ficavam lá. - Verdade, quantas e quantas viagens até aquela ilha, pai do céu, e quantas viagens subindo a serra com um cesto de roupas molhadas. Quando era seca, eu tinha que ir lavar roupa lá no Uruguai. Quantas viagens, subindo e descendo morro, por isso que hoje a nossa saúde está comprometida. O rio Uruguai foi e ainda é referência para muitas famílias. Para quem dependia destas águas antes da transformação de seu leito pela Usina Foz do Chapecó, encontrava alternativas de subsistência quando algo era imposto. A falta de água, por exemplo, obrigava muitas famílias a lavar roupas no rio. Matar a sede dos animais e irrigar as plantações em torno da barranca do rio, também eram meios utilizados. - O rio Uruguai é bom pra nós, foi e ainda é agora, um pouquinho mais largo,


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né. Pra mim, desde pequeno eu vivia ao redor dele. Desde os sete anos ia pescar com meu pai, e até hoje eu ainda vou pescar - comenta Itamar Fistarol, sobre as experiências vividas ao lado do rio Uruguai. Os rios são parte integrante de um modo de vida de uma determinada sociedade ribeirinha. Um modo de sustento e por conter muitos valores simbólicos. Porém, são modificadas com a construção de barragens, que modifica a vida das pessoas e oshábitos migratórios dos peixes. Jussara Correa, professora de História, comenta sobre o Rio Uruguai. - O rio Uruguai tem sido o recurso natural que definiu a região oeste de Santa Catarina e o noroeste do Rio Grande do Sul há aproximadamente dez mil anos, quando caçadores-coletores ocuparam as margens do rio. Ao longo dos anos, muitas vidas foram transformadas e muitas paisagens modificadas. Nesse sentido, o rio Uruguai, além de ter sido um marco importante para a história de uma região em desenvolvimento, foi um símbolo de referência para a vida de muitas famílias que dependiam dele. Como é o caso da família Woithoski e de outros moradores que moravam na Linha Volta Grande e dependiam do rio para muitas coisas. Volta Grande era uma das comunidades do município com maior extensão em território. Oitenta colônias de terras, o que representa mais de dois mil campos de futebol, geravam economia e sustento para as famílias que lá moravam. Segundo

o Presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Caxambu do Sul, Oswaldo Huntemann, a comunidade começou a perder força quando as famílias que ali residiam passaram a não ter alternativas e mecanismos para produzir. - A questão era as terras acidentadas e os poucos recursos para investir na propriedade. Um agricultor que preferiu manter o anonimato e cujo nome tem as iniciais E.P lembra dos tempos de “piá” vividos naquele lugar com saudosismo, com lágrimas de saudade caindo diante do olhar voltado ao imenso lago da usina. - Por mais que a barragem estrague o convívio de várias famílias, a história e o que vivemos aqui será uma falta eterna todos nós aqui vamos perder nosso tesouro chamado Volta Grande e com certeza Caxambu do Sul vai perder muito mais com a inundação. Questionado sobre os atingidos que de alguma forma ou de outra contribuíram com o município, o prefeito de Caxambu do Sul relembra o caso da família Woithoski. - Eram pessoas humildes e batalhadoras que lutavam diariamente para o sustento dos filhos, e que com a construção da usina, mudaram de vida e sete anos depois, morando em Mangueirinha, voltam para Caxambu para continuar a história. É bom saber que o município representa algo nesta família. Mas não foram somente as dores de uma vida sofrida que fizeram a família voltar para o município. Um dos grandes


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Terras acidentadas, propícias para a construção de usinas. Ao fundo, o lago da usina, no município de Caxambu do Sul.


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problemas que o reassentamento passa é a falta de médicos, atendimento de saúde considerado ruim, escola longe. São 40 quilômetros até a cidade. Depois de ter construído um lar e ter se estabelecido, a família saiu do reassentamento em maio deste ano com destino a Caxambu do Sul onde construíram uma nova casa. - Nós voltamos para descansar. Decidimos voltar porque nossas raízes estão enterradas aqui - diz Ivanir. Ao chegar a Caxambu do Sul, adquiriram um terreno próximo à cidade, com mercado, posto de saúde e farmácia nas proximidades. Sentem também que é um lugar muito bom pra viver, com as pessoas preocupadas com os amigos e vizinhos, e sempre dispostos a ajudar. - Não que lá os vizinhos não eram bons, mas aqui é a nossa terra de origem, aqui tem tudo – enfatiza Ivanir. Hoje, o casal vive sossegado em sua casa de alvenaria roxa, que se destaca em meio às demais que estão sendo construídas. Dividindo os cômodos da casa com o filho mais novo, Vasco e Ivanir passam os dias arrumando a casa e mantendo o pátio limpo. Uma mudança de vida imposta pela Usina, como forma de gratidão a todo o sofrimento do passado. Porém, aquelas terras da Linha Volta Grande nas quais Vasco e Ivanir sofreram no passado, marcaram a vida de outros moradores. Por serem terras banhadas pelo rio Uruguai, muitos nutrientes eram

depositados quando havia enchentes. Com isso, transformou as terras daquela comunidade em terras férteis e adequadas para a produção de melancia, que deu ao município em 2001, o título de capital Estadual da Melancia, tornando-o referência no Estado e no país, e fazendo com que os moradores da Linha Volta Grande obtivessem lucro fora de época, como relata o prefeito. Linha Volta Grande, no interior do município, foi a comunidade pioneira da plantação do produto. A formação do solo, originado da alteração de rochas eruptivas de caráter basáltico, solos moderadamente férteis, pedregosos e suscetíveis à erosão com nevoeiros ao amanhecer, fizeram com que a produção de grãos também fosse destaque. - Na realidade, tudo o que plantava se colhia, devido às características do solo e do clima daquela região - explica Foppa, que ainda comenta sobre os dias atuais. - Muitas planícies que se transformavam em morros, foram escondidas pelas águas, que formou um imenso lago em uma parte do município. Após a formação deste lago, o clima, por exemplo, tornou-se mais propício a neblinas pela parte da manhã, principalmente no inverno e ao longo das outras estações tornando o clima mais ameno durante a noite, em torno do lago. Nesse sentido, a geada que matava nossas plantas, hoje está sendo substituída pela neblina.


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Linha S達o Feliz: terra onde era cultivada a melancia


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Vidas transformadas

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olonizado por descendentes de imigrantes italianos, amantes da música e da dança, vindos do estado gaúcho, Caxambu do Sul tem uma forte marca do passado: os laços de parentesco e vizinhança que definem as relações sociais e de amizades existentes. O município está situado no oeste catarinense, com uma área de 140,709 km². Caxambu, como era chamado antes de se tornar município, vem de duas origens: do vernáculo africano, Cacha (tambor) e Umbu (música) então, Caxambu é tambor que executa música. E do vernáculo indígena: Caa (mato) xá (ver) e umbu (riacho) então, Caxambu é igual mato que vê riacho. Desde a sua colonização, o município é caracterizado por propriedades de pequeno porte. São famílias que tiram do pouquinho o seusustento. A principal atividade econômica, exercida pelo razoável nível tecnológico, está vinculada aos grandes frigoríficos existentes na região.

Milho, trigo, soja, fumo e a melancia são os principais mecanismos que geram a renda do município. Porém, outros moradores viram na usina uma forma de mudarem de vida e se estabelecer economicamente, como é o caso do Sr. Nilvo Segatto. Homem respeitado pelos munícipes, Segatto, como é conhecido, é dono da única loja de materiais de construção do município. Antes da formação do lago, Segatto, juntamente com sua esposa e suas quatro filhas, morava na Linha Sanga Rosa, hoje extinta pela Usina. - A Marilde lecionava aqui em Caxambu, as meninas estudavam aqui também e eu trabalhava aqui, então resolvemos vir morar para cá, e deixar a casa lá na Sanga Rosa só para os finais de semana. Segatto conta que alguns anos antes da formação do lago eles já moravam na cidade, devido aos trabalhos dele e da esposa. - Aí com o dinheiro da barragem,


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comprei a loja de materiais e me estabeleci aqui mesmo. Hoje, bem estruturado, ele viu na barragem uma forma de mudar de vida. - As memórias e as lembranças de antigamente a gente nunca vai esquecer né, porém quando surgiu a oportunidade de mudar de vida não pensamos duas vezes. Foi difícil no começo, mas aprendemos com os erros. A família Segatto representa uma das que mudaram de vida com a indenização da Usina. Muitas das que foram atingidas compraram suas propriedades no próprio município e investiram na produção leiteira. Outros compraram o tão sonhado carro, mas a maioria conseguiu ter uma casa digna e ser dona de suas terras. José Ribeiro morava na Linha Lajeado Bonito e trabalhava para um senhor que possuía gado de corte. O que recebia comprava comida e roupas. - Eram difíceis aqueles tempos moça. A gente não era dono nem da nossa casa em que morava. Com a vinda da usina, ganharam uma casa e a escritura da terra, na extinta comunidade de Sanga Rosa, que ainda é lembrada por quem mora por lá. - Hoje somos donos do nosso pedacinho de terra. Agora posso chamar de minha casa, posso criar minhas galinhas, meus porquinhos e minha vaquinha. Foi como ganhar na loteria – conta ele, aos risos. O prefeito Vilmar Foppa explica que mais da metade dos atingidos ficaram do

município permaneceram após a indenização da barragem, comprando novos alqueires de terras. - Aproximadamente 40% das famílias foram para outros municípios, e aproximadamente dez pessoas foram para o Reassentamento Rural Coletivo em Mangueirinha. Então podemos ver que o impacto de pessoas que saíram não foi tanto, como se imaginava há dez anos. Como José Ribeiro, a família do agricultor C.V. também mudou de vida. Antes da Usina, ele viviam em uma casinha de madeira simples, na comunidade de Linha Ceccon, construída com muito suor, sem pintura, onde dividiam os espaços com os cupins que nela também habitavam. Com a indenização que ultrapassou os 150 mil reais, comprou uma casa na cidade e investiu no futuro dos filhos. - Hoje a tranqüilidade faz morada na minha vida. (risos) Essa Usina foi uma mudança na vida da minha família. Olha só para minha casa, que linda. Às vezes fico pensando nas voltas que a vida dá, sabe. Essas e outras famílias transformaram o sofrimento no entusiasmo de continuar lutando pelos seus ideais a cada novo dia. Nas rodas de conversas realizadas, percebe-se que em muitos casos, as lembranças e as memórias daquele lugar em que viviam se contrapõem quando o assunto é a indenização. O fato de mudar de vida e ter um teto digno para morar é suficiente para afirmar que a Usina veio em boa hora para essas famílias.


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Construindo novas histórias

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om Com a saída das famílias atingidas e a realocação de outras, a economia do município não sofreu queda de receitas ao longo dos oito anos que se passou desde a construção da Usina. Dados do IBGE de 2004 mostram que o PIB de Caxambu do Sul era de R$ 40,9 milhões por ano. Após a construção da Usina, houve um crescimento de 25 milhões, chegando a R$ 66,80 milhões por ano. - O comércio sofreu no primeiro e segundo ano, por causa dos aposentados e de quem plantava na lavoura, mas depois foi se estabelecendo e hoje, comparando os números, a diferença é pouca – explica Foppa. Este relato do prefeito revela que a economia do município manteve-se equilibrada mesmo com a saída de algumas famílias que geravam renda e lucro para o comércio. Atualmente, as principais culturas geradoras de renda para as famílias caxambuenses são o fumo, o trigo, o milho, a soja

e a produção leiteira. - Eu tenho comércio aqui em Caxambu há mais de vinte anos. O município sempre foi calmo. Quando a Usina estava prestes a ser realidade o povo ficou assustado, mas não teve problemas em relação à queda de vendas. Aí depois que a população atingida começou a sair, a gente sentiu um pouquinho no começo, mas aos poucos foi se estabilizando. Sempre vende, roupas todo mundo usa – destaca a proprietária de uma loja de roupas do município em relação às vendas. Um morador da Linha Ceccon, que prefere o anonimato, recebeu a indenização de uma parte da área de sua propriedade que foi alagada, onde a casa e as benfeitorias não precisaram ser removidas do local. O agricultor conta que uma parte do dinheiro que recebeu, investiu em vacas para a produção de leite. - Com o dinheiro da barragem, comprei três vaquinhas boas de leite, de raça, comprei refreador Agranel e uma orde-


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Museu Histórico de Caxambu do Sul, implantado após a construção da Usina

nhadeira nova, que veio a somar com as outras vaquinhas que eu tinha. Outro ponto que merece destaque no cenário da economia do município são os Royalties que o município recebe todo ano e os impostos que geraram no início

da construção. - Melhorias em todo o município se tornam mais acessível e a população ganha com estes investimentos, sendo que se pode pensar em transformar o entorno do lago em um ponto turístico para o municí-


ACERVO PESSOAL

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pio – explana o prefeito. Segundo ele, a principal vantagem econômica de uma usina em um município é utilizar a área da formação do lago para lazer e turismo. No município de Caxambu do Sul quem ficou com pequenas áreas de terra em torno do lago hoje desfruta de finais de semana agradáveis ao lado de familiares e amigos. - Quem passa por lá hoje, vê um cenário modificado pelas águas. Um lugar bonito, onde muitas pessoas aqui do município e de outros estão investindo, construindo casas e quiosques para passar os finais de semana. Foppa relata que entorno do lago está sendo reconstruído por novas paisagens. O que antes era uma propriedade com milho, hoje se tornou um ponto de lazer e descanso de quem um dia tanto lutou por aquelas terras atualmente engolida pelas águas. Este é um ponto que ainda merece um estudo aprofundado, pois além de girar a economia do município, pode se transformar em ponto turístico, como Itá, onde a cidade foi totalmente alagada, ficando apenas as torres da Igreja em pé, que hoje, com uma estrutura apropriada, recebe visitantes de vários lugares na temporada de verão. Outro ponto que merece destaque depois da construção da Usina é a implantação do Museu Histórico do município. Um espaço que retrata uma parte da história do município, dos anos que já passaram, ilustrados por desenhos feitos a mão na

parede do edifício. O Museu é uma casa com traços arquitetônicos dos anos 1950, localizada na Linha Lajeado Bonito.Na época, projeto nenhum previa seu destino.Após a construção da Usina, tornou-sepalcodos retratos da memória para o município. Partindo do interesse da família e da prefeitura em restaurar as memórias que o município possui, a implantação do Museu ocorreu neste ano, porém melhorias na edificação eram realizadas desde 2011. - A casa era ponto de partida de caminhoneiros e pessoas que seguiam destino para São Carlos. Muitas histórias foram presenciadas e contadas por quem passava por ali. Era chamado, naquela época, de Armazém de secos e molhado – lembra o prefeito, destacando como uma importante obra para o município, como forma de resgatar os elementos históricos e culturais existentes. Apesar deste processo de implantação da Usina, as transformações maiores ainda estão por acontecer no município, acredita Foppa. O grande potencial que merece destaque é o turismo. Em pleno processo de desenvolvimento econômico e sustentável, as vidas das famílias atingidas passaram de calmas e sem muitos recursos, para uma vida aliada ao poder e ressarcimento econômico como forma de driblar o sofrimento do passado. Mas as memórias ainda presentes na vida dos atingidos são lembradas em qualquer conversa nos finais de tarde, que ainda hesitam em lembrar suas vidas passadas.


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Apesar de hoje eu estar aqui, sentada embaixo das ĂĄrvores, tomando chimarrĂŁo, com uma vida digna que a barragem me proporcionou, o sentimento que eu tenho por aquele lugar eles nunca vĂŁo indenizar - desabafa a agricultura Ivanir.


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