Valor Oeste

Page 1

PROJETO EXPERIMENTAL | SEXTA-FEIRA, 1º DE MAIO DE 2015 – ANO 1

Chapecoenses mudam os planos Crise divide opinião entre especialistas, mas famílias e empresas não hesitam em cortar gastos enquanto recessão persistir PÁGINAS 4 E 5

O QUE IMPEDE CHAPECÓ

DE CRESCER MAIS

Conheça os projetos de infraestrutura que podem impulsionar a economia da maior cidade do Oeste de SC PÁGINAS 6 E 7

opinião

Crise pode ser uma oportunidade para SC

O que esperar de 2015 e 2016

PÁGINA 2

PÁGINA 3


2

SEXTA-FEIRA, 1º DE MAIO DE 2015 | PROJETO EXPERIMENTAL

RONDA ECONÔMICA Vinicios Ranzan

@ viniranzan@gmail.com

Crise e oportunidade Santa Catarina sente os impactos da crise econômica, mas continua com resultados melhores que os nacionais por causa da diversificação produtiva, desenvolvimento tecnológico, infraestrutura e qualificação da população. A principal diferença do Estado para os índices nacionais está na geração de emprego (+1,6% contra -0,1% nos últimos 12 meses) e isso tem deixado as autoridades catarinenses otimistas no enfrentamento das atuais dificuldades. Por outro lado, as expectativas dos empresários, tanto da indústria quanto do comércio, atingiram o pior índice já registrado pela Secretaria de Estado da Fazenda. Os consumidores também estão cada vez menos confiantes em relação às possibilidades de consumo, especialmente no longo prazo, e há uma maior proporção de famílias sem condições de quitar as dívidas. Uma terceira visão é que pode se tornar um elemento interessante. À medida que os custos de produção sobem em outros países, como a China, que devem perder em competividade, o capital internacional deve procurar outros focos para investir. Esta pode ser uma boa oportunidade para captar novos investimentos e as autoridades afirmam que SC está preparada para oferecer estas condições e se destacar nesse quesito.

PANO PRA MANGA Tramita no Legislativo chapecoense uma proposta para instituir o Dia de Santo Antônio, celebrado em 13 de junho, como feriado municipal e tornar o Dia do Corpus Christi em ponto facultativo. Mas alguns empresários não gostaram da ideia e enviaram um ofício à Câmara de Vereadores. O Conselho das Entidades Empresariais de Chapecó (CEC) alega que criar outro feriado pode causar sérios impactos sociais e na economia da cidade e da região. Por ser um polo regional, Chapecó atrai diariamente inúmeras pessoas de outros municípios, em função de negócios ou outros interesses, como nas áreas de saúde e educação.

Pergunta da semana

“Ainda não consegui entender por que muitos dizem que com o aumento do dólar é bom para o Brasil. Sei que para as empresas que exportam é bom porque elas recebem por dólar, mas e o resto? Nossos produtos só aumentam, independentemente do preço do dólar!”, Giovani Dal Pont Você está certo sobre as empresas que exportam e que com a moeda americana em alta, praticamente tudo que compramos sofre um processo inflacionário, de forma mais imediata ou em efeito cascata. Mas existem outras variáveis que não dependem diretamente do preço do dólar, influenciam os custos e mesmo com taxa de câmbio próximo dos R$ 2 a tendência é que ainda causem aumento. Alguns exemplos são quando a oferta é menor que a demanda, se o governo gasta mais que arrecada e aumenta impostos ou emite mais moeda, se a iniciativa privada se antecipa e age na expectativa de uma possível inflação, se a produção é insuficiente, seja por incapacidade ou por interesse de grupos que dominam o mercado, ainda quando índices de inflação anteriores são indexados aos preços atuais e este novo aumento também será indexado posteriormente, ou também quando empresas pegam empréstimos para investir em seus projetos e as taxas de juros sobem.

EXPEDIENTE Reportagem, foto e edição:

Rua Marechal Deodoro da Fonseca, 1143 D – Maria Goretti - CEP 89.801-061 - Chapecó (SC) - (49) 3316-0970 / (49) 9152-8098

Vinicios Ranzan viniranzan@unochapeco.edu.br

Projeto gráfico, arte e diagramação:

Tainá A. Bueno de Oliveira tainabueno@gmail.com

VALOR OESTE é um projeto experimental realizado para o curso de Jornalismo da Unochapecó em 2015. O conteúdo produzido e publicado nesta edição aponta o teor e a linha editorial do caderno proposto, elaborado para ser veiculado com periodicidade semanal. Conceitos e opiniões emitidos por entrevistados e colaboradores não representam, necessariamente, a opinião do caderno e e do responsável pela edição.


SEXTA-FEIRA, 1º DE MAIO DE 2015 | PROJETO EXPERIMENTAL

opinião

O que esperar? Para

ter uma ideia do que ainda podemos eseconomista e perar para 2015 e uma prévia para professor da Unochapecó 2016, analisamos os dados do último boletim Focus, divulgado Especialista semanalmente pelo Banco Cenanalisa a tral, que indica um cenário que situação não é animador para a economia econômica, projeta o que brasileira para este ano, com base pode acontecer em alguns dos principais resultaainda em 2015 dos retratados pelo boletim. e em 2016 e Começamos com os indicaaponta medidas dores de produção, a previsão do necessárias PIB (Produto Interno Bruto) para o ano de 2015 é de -1,24%, o que significa que o país produzirá menos que o período anterior. O resultado por si só já é ruim, e se traçarmos um comparativo com países em desenvolvimento, EUA e países da união Europeia, fica pior. Isto porque o cenário é de taxas de crescimento positiva na maioria dos países dos grupos mencionados. Outro indicador particularmente importante para a produção brasileira é o de produção industrial, um dos mais importantes na geração de emprego e renda para a população e com um considerável efeito O RESULTADO POR multiplicador para os demais SI SÓ JÁ É RUIM, setores. Em 2015 a produção E SE TRAÇARMOS industrial deve cair 2,8%, UM COMPARATIVO o que gera uma contração COM PAÍSES EM considerável no setor, com DESENVOLVIMENTO, impactos importantes que EUA E PAÍSES DA refletirão no mercado de UNIÃO EUROPEIA, trabalho deste e dos demais FICA PIOR. ISTO setores. PORQUE O CENÁRIO Tão importante quanto É DE TAXAS DE o que vamos produzir em CRESCIMENTO um ano é o quanto valem os POSITIVA recebimentos em termos de NA MAIORIA compra, por isso precisamos DOS PAÍSES analisar a variação do nível DOS GRUPOS de preços, com base em MENCIONADOS. algum indicador que reflita a inflação. Para o ano de 2015, a previsão para o IPCA (índice de preços do consumidor amplo) é JULIO CESAR ARAUJO,

de 8,39%. O que significa a perda do poder de compra no decorrer do ano neste montante, para a população base deste indicador, que são as famílias com rendimentos de 1 até 40 salários mínimos. Como o centro da meta estipulada pelo governo para o ano é de 4,5%, com uma margem de 2% para cima ou para baixo, as previsões são de um ano com inflação acima do topo da meta, o que faz com que a credibilidade com relação aos compromissos que o governo assume diminua, por parte de investidores e da população. Se tratando de governo e políticas macroecômicas, cabe mencionar um tema de grande importância e atualmente muito debatido, que são as contas públicas e a política fiscal. O governo, no ano de 2014, não conseguiu cumprir o que tinha se comprometido de geração de superávit. Resumindo, gastou mais do que arrecadou e que se comprometeu a guardar. Isso gera desconfiança por parte de investidores e população sobre a capacidade do governo em gerenciar e adotar políticas macroeconômicas. Isto fez com que, ao assumir seu segundo mandato, a presidente Dilma Rousseff nomeasse um novo ministro da fazenda, Joaquim Levy, que pudesse sugerir e implementar medidas não populistas para a retomada da credibilidade e crescimento econômico. As medidas iniciais implementadas pelo novo ministro visavam um ajustamento nos gastos e tributação do governo. Assim, começaram ajustes em diversos impostos, em geral aumentando seus valores, e a diminuição de gastos do governo. Esses tipos de medidas são conhecidos como ajustes fiscais. Na opinião de alguns especialistas, e particularmente a minha, os ajustes ocorridos recentemente

3

emitem um importante sinal para o mercado e devem ajudar a economia a reencontrar o rumo do crescimento. Espera-se que essa melhoria deva começar a ocorrer, gradualmente, a partir do segundo semestre de 2015, culminando em um cenário mais favorável em 2016, com uma taxa de crescimento moderada de 1% e uma inflação voltando a estar abaixo do teto da meta, com um valor próximo a 5,5%. Contudo, as medidas adotadas pelo ministro merecem dois apontamentos. O ajuste fiscal começou e é mais intenso com um caráter de aumento de impostos. Alguns dados sugerem que mais de dois terços do ajuste seja de aumento de imposto e apenas uma pequena parcela de diminuição de gastos. Em geral, na maioria dos momentos em que o país aumentou a carga tributária, os gastos acompanharam este aumento no decorrer do tempo, ao invés de contribuir para gerar superávits. Vale lembrar que a carga tributária brasileira está atualmente acima de 36% do PIB, enquanto em 2000 era de 30%. O problema é que o gasto público também aumentou nesse período. Uma proposta de condução deste ajuste fiscal seria um ajuste via diminuição de gastos, o que ocorreu nos últimos dias, mas não de maneira contundente. Outra sugestão de pontos importantes que ainda não foram discutidos o suficiente e que devem ser debatidos nesse momento de “arrumar a casa” e que poderiam contribuir para sair deste atual cenário no médio prazo, são a revisão das contas da previdência e da assistência social. O problema que envolve tratar de pontos como estes é a falta de capacidade/gerenciamento político para a aprovação e adoção de medidas mais contundentes.


4

SEXTA-FEIRA, 1º DE MAIO DE 2015 | PROJETO EXPERIMENTAL

CONSUMO

Chapecoenses puxam freio de mão Entenda os reflexos do cenário econômico desanimador na maior cidade do Oeste e porque a crise divide opinião entre especialistas

As

medidas que o governo brasileiro tomou para reequilibrar as contas e manter o ritmo da economia têm surtido efeito em pequenas escolhas que envolvem o bolso do cidadão. A aposentada Inês Rosa da Fonseca, por exemplo, pretendia trocar a geladeira, que tem nove anos de uso. Já havia até pesquisado os melhores preços no crediário das lojas de Chapecó, mas acabou desistindo de trocar o eletrodoméstico quando fez as contas e percebeu que a parcela não iria mais caber no orçamento. “Esse ano subiu a conta da luz e está tudo mais caro no supermercado. O dinheiro que antes eu contei

que daria para comprar uma geladeira nova agora não está sobrando mais”, conta Inês. Ela não é a única a deixar de trocar um bem durável ou contratar algum serviço por conta da inflação, que acumula 8,13% nos últimos 12 meses. Com menos poder de compra, a intenção de consumo das famílias brasileiras caiu 6,9% em abril, segundo a Confederação Nacional do Comércio (CNC). O índice segue a tendência desde o ano passado, quando os consumidores frearam os gastos por causa dos efeitos da crise econômica. Os itens que não são necessários no dia-a-dia e segmentos que dependem de crédito, como os produtos

da linha branca, foram os primeiros a serem cortados dos orçamentos familiares. Os financiamentos de imóveis caíram 4,6% em todo o Brasil e as concessionárias de Chapecó sofreram queda acumulada de 40% nas vendas de carros este ano. Assim como com os carros novos, as empresas que prestam serviços que não são considerados tão essenciais para o consumidor também foram um dos primeiros a serem cortados. A empresária Nerli Prestes relata que os clientes não deixaram de gastar, mas reduziram a periodicidade com que frequentam o salão de beleza. “Eles não deixam de vir, mas quem fazia

coloração e vinha a cada 30 dias, por exemplo, agora tem demorado um pouco mais para vir novamente. Quem comprava um kit inteiro de tratamento de beleza para usar em casa, agora tem levado apenas alguns itens”, diz. Assim como a maioria dos empresários, ela também cortou parte dos investimentos que costumava fazer, principalmente os que tem custos baseados no dólar. De acordo com o economista Cristiano Avanegra, a crise estabelece uma tendência à estagnação no setor de serviços, travado pela retração do consumo das famílias. O mesmo ocorre com o varejo, que também sofre queda nas vendas,


SEXTA-FEIRA, 1º DE MAIO DE 2015 | PROJETO EXPERIMENTAL

Queda de 4,6% nos financiamentos de imóveis afetam todo o setor imobiliário e da construção civil, que demitiu 23 mil empregados somente em abril

mas ainda tem uma alternativa nos alimentos substitutos para manter o consumo. Noutros setores, ele aponta que Chapecó sofre um conjunto de situações peculiares. “No caso do câmbio, tem reflexo positivo para as empresas do agronegócio ligadas à exportação e, por outro lado, surte um efeito negativo sobre as empresas destinadas ao mercado interno. O mercado imobiliário está sendo afetado pela contração do crédito, corte nas facilidades de financiamentos bancários e aumento das taxas de juros”, explica o economista. Como as agroindústrias, concentradas no Oeste, têm um forte mercado de exportações, é um dos poucos setores que se mantem em expansão em Santa Catarina. Apesar de a situação gerar desconfiança e inibir investimentos privados, o presidente da Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc), Glauco José Côrte, afirma que não se pode ignorar a crise, mas que as empresas precisam continuar investindo. “Não podemos deixar que a crise nos domine ou paute nossas ações. Pelo contrário, temos que continuar investindo, porque o País tem condições de superá-la e nós vamos sair da crise”, defende. Mesmo com corte de investimentos e postos de trabalho, as empresas mantiveram Santa Catarina com índices positivos em abril. “Ano passado foi o estado que mais criou empregos no país e em 2015 permanece em primeiro. Isso decorre da potencialidade e diversidade da estrutura econômica do estado”, explica o economista, Leandro Krüger. No entanto, Chapecó tem seguido uma tendência de leves quedas no índice (-0,19% em abril) e mesmo sendo uma das principais economias de SC, está na 31ª posição no

ranking catarinense de geração de empregos. AJUSTES FISCAIS A situação enfrentada pelo Brasil divide opiniões entre especialistas. Por um lado, Avanegra acredita que as medidas de austeridade que vem sendo adotadas pelo governo desde o início do ano são necessárias, mas que o País demorou a buscar tais ajustes. “O Brasil perdeu tempo para resolver diversos de seus problemas e agora terá que habituar-se à crise recessiva, crise esta que pode ser atenuada, justamente pela retomada do crescimento do mercado global”, afirma. Por outro, o professor e doutor em Ciências Econômicas, Márcio Pochmann, afirma que o Brasil está relativamente bem, em meio à uma situação econômica adversa posta equivocadamente como crise, em comparação com outros países. “É um momento de turbulência, porque o governo precisa reposicionar algumas políticas públicas e isso cria mal-estar às empresas, que passam a ter dificuldades com as taxas de juros e retirada das desonerações”, sustenta. Para o economista Roberto Troster, especialista em crédito, a recessão passou a ter causas exclusivamente internas. “A crise na Europa não afeta mais o Brasil, nosso problema é interno. O Peru está crescendo 4% e a Colômbia 5%, assim como outros países com desempenho positivo”, compara. Segundo o economista, como a tendência é de menor crescimento e menos crédito, acontece um ciclo vicioso que precisa ser quebrado. “Se houvesse coibição dos abusos e menos tributação nos empréstimos concedidos pelos bancos, mais pessoas poderiam utilizar o crédito bancário e o país cresceria mais”, defende Troster.

5

COMPREENDA A CRISE EM 1 MINUTO O crescimento econômico do Brasil tem base no consumo interno. O país exporta commodities, como grãos e outros produtos primários e importa produtos manufaturados, por isso é dependente do mercado internacional. As medidas de flexibilização do crédito e desoneração fiscal do último governo não foram capazes de manter o ritmo da economia interna e o Brasil ficou vulnerável à recessão global. O governo brasileiro encerrou 2014 com déficit primário de R$ 32,5 bilhões nas contas públicas e se viu obrigado a aumentar a arrecadação e diminuir custos. Enquanto países da Europa e os Estados Unidos da América começaram a adotar medidas desde 2008, logo após o início da crise, o Brasil tentou manter o consumo interno e deixou para fazer as primeiras mudanças drásticas no começo de 2015. Com a economia em recessão, o governo não consegue manter os investimentos para injetar ânimo internamente, por isso limitou o crédito e aumentou os juros. Com a retração e o governo sem conseguir cumprir as metas de superávit e da inflação, aumenta a desconfiança da iniciativa privada, que também cessa os investimentos e aumenta a taxa de desemprego. Agora o Brasil depende da retomada da economia global para impulsionar a exportação das commodities e conta com os ajustes fiscais para reequilibrar as contas e ter condições de engatar uma nova onda de incentivo ao consumo interno.


6

SEXTA-FEIRA, 1º DE MAIO DE 2015 | PROJETO EXPERIMENTAL

GARGALOS

O que Chapecó precisa para crescer mais? Maior economia do Oeste depende de grandes projetos de infraestrutura para manter crescimento, principalmente na área de transporte

O

Oeste é considerado o polo agroindustrial do Estado e é responsável por 20% do Produto Interno Bruto (PIB) catarinense. Mais de 3,7 mil empresas do setor se concentram principalmente em Chapecó, Concórdia e Videira, empregam mais de 100 mil pessoas e respondem por 38,3% das exportações de Santa Catarina. São cerca de US$ 1 bilhão por ano em carnes de frango e suíno que saem da macrorregião Oeste e passam pelo porto de Itajaí, com destino a países como Rússia, Hong Kong, Angola, Cingapura, Chile, Japão, Uruguai e Argentina. Chapecó é a principal cidade deste polo, mas também abriga importantes indústrias de outros setores, como o metal-mecânico, que a constituem como a sétima maior economia de Santa Catarina. O Produto Interno Bruto do município duplicou nos últimos dez anos e chegou a R$ 5 milhões e 259 mil, segundo o último levantamento do IBGE. O problema é que Chapecó e a região cresceram muito e agora dependem de investimentos em infraestrutura para consolidar o potencial de desenvolvimento econômico que ainda existe.

FERROVIA DA INTEGRAÇÃO O Corredor Ferroviário de Santa Catarina é uma das obras que mais promete mexer com a economia regional. A Ferrovia da Integração, como é chamada pelos catarinenses, vai ligar o Oeste ao Litoral, de Dionísio Cerqueira a Itajaí. Uma conexão em Chapecó com a Ferrovia Norte Sul também vai permitir a integração com porto de Rio Grande (RS) e facilitará o transporte de insumos do Centro Oeste do Brasil. Somente os projetos foram licitados pela Valec em R$ 68,7 milhões e, segundo a estatal, estarão prontos até setembro de 2016. Depois disso ainda faltarão os estudos de impactos ambientais e as licenças ambientais para começar a obra. Não há cronograma definido, mas de acordo com o Ministério dos Transportes são necessários pelo menos quatro anos para construir a ferrovia.

CONTORNO VIÁRIO LESTE A parte que falta para concluir o anel viário de Chapecó deve começar a sair do papel em 2016. O projeto de engenharia do Contorno Viário Leste está concluído e a previsão do governo é abrir a licitação em novembro. Orçado em R$ 60 milhões, o contorno vai ligar a BR-282, em Cordilheira Alta, até a SCT-480, na saída para o Rio Grande do Sul. A expectativa dos governos estadual e municipal é que a obra crie uma nova zona de expansão empresarial e retire da malha viária central da cidade mais de quatro mil caminhões por dia. Com o Contorno Viário Oeste, inaugurado há quase dois anos, o anel viário vai retirar praticamente todo o tráfego de veículos pesados e pelo menos 30% de carros de passeio das áreas centrais de Chapecó.


SEXTA-FEIRA, 1º DE MAIO DE 2015 | PROJETO EXPERIMENTAL

7

Valor Oeste ouviu classe empresarial, política e especialistas em economia para elencar demandas em infraestrutura

DUPLICAÇÃO DA BR-282 A BR-282 é a principal via entre o polo do agronegócio catarinense, a região Oeste, e as demais regiões de Santa Catarina. Mas ela foi construída na década de 70, quando o fluxo de veículos era muito menor. A rodovia que ajudou a impulsionar a economia há 40 anos agora limita o desenvolvimento econômico regional, que tem potencial para crescer, mas a infraestrutura de transportes puxa o freio de mão das empresas. As condições da rodovia e tempo gasto com o transporte, causado pelo aumento no volume de veículos, tem elevado os custos das empresas. A duplicação da BR-282 e a construção da Ferrovia da Integração são consideradas cruciais pelos empresários para manter as indústrias na região.

SC-283

A SC-283, que liga Palmitos a Concórdia, também clama por melhorias. Em junho do ano passado, o governo de Santa Catarina disse que vai recuperar toda a extensão da rodovia, a obra foi dividida em lotes e os projetos estão sendo elaborados. Um dos trechos mais perigosos é entre Chapecó e São Carlos. Há incontáveis buracos, praticamente não há acostamento, a sinalização está coberta pelo mato em muitos pontos e o asfalto está bastante danificado. Por isso o processo foi agilizado no ano passado e o recurso para revitalizar este trecho já foi disponibilizado, mas a obra ainda não começou. Em março, os prefeitos da região solicitaram que o governo estadual as começasse no segundo semestre deste ano.

AEROPORTO MUNICIPAL DE CHAPECÓ

Alguns investimentos para o Aeroporto Municipal Serafim Enoss Bertaso já estão confirmados, como a instalação do Instrument Landing System (ILS), ou Sistema de Pouso por Instrumentos, em português. Este sistema poderá reduzir significativamente os problemas de pousos e decolagens causados por condições climáticas desfavoráveis, como os comuns nevoeiros que impedem as manobras em Chapecó. O projeto para construção do novo terminal de passageiros também foi apresentado em abril à Secretaria Nacional de Aviação Civil (SAC) e o governo Federal vai elaborar o processo licitatório. O orçamento inicial é R$ 35 milhões e os recursos estão garantidos desde 2012. A partir destes investimentos, a administração municipal pretende internacionalizar o aeroporto.

FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA

A frequente instabilidade no fornecimento de energia em Chapecó e no Oeste gera sobrecargas e causam prejuízos à empresas e agricultores. Equipamentos das indústrias são danificados e animais morrem no campo, principalmente as aves. Cerca de 200 mil propriedades rurais mantêm plantéis permanentes de 150 milhões de frangos e 7,5 milhões de suínos, boa parte em Chapecó e nos municípios próximos.. O apelo da indústria e dos agricultores é que a Celesc acelere os investimentos previstos para a ampliação do sistema de alta tensão no Oeste.

SERVIÇO DE DADOS

As empresas de Chapecó também apontam que precisam de serviços eficientes de conexão de dados para manter as atividades, mas que nos municípios da região Oeste o que predomina nesta área é o fornecimento de serviços instáveis e precários. As entidades empresariais reclamam que a rede de Tecnologia da Informação e Comunicação é mantida como um monopólio e o setor condiciona os usuários à falta de investimentos, inoperância de fiscalização e ao fornecimento de um serviço que inibe a competividade empresarial e incide diretamente na economia regional, por isso pedem intervenção governamental.


8

SEXTA-FEIRA, 1º DE MAIO DE 2015 | PROJETO EXPERIMENTAL

RECUPERAÇÃO

Preço do leite reage

Custos em constante aumento tem tornado o desafio de manter-se na bovinocultura de leite cada vez maior

Setor sente otimismo das autoridades, mas agricultores ainda enfrentam dificuldades para se manter na atividade

D

epois de nove meses repassados pelo produtor de quedas consecurural. tivas, o preço médio Mesmo seguindo a pago ao produtor pelo litro de tendência em abril, o preço leite nos prinmédio líquido está SETOR CRESCE 14,6% menor do que cipais estados produtores brasi- EM MÉDIA 8,9% há doze meses. A AO ANO EM SC. produção continua leiros teve ligeira alta nos últimos em crescimento, dois meses. Mas isso não foi mas a demanda brasileira não o bastante para os agricultoacompanha e o preço tende a res familiares, maioria entre se manter. os catarinenses, esboçarem otimismo. OTIMISMO Segundo o Centro de O governo catarinense Estudos Avançados em é bastante otimista com o Economia Aplicada (Cepea), desenvolvimento da cadeia os preços nunca recuaram de produtiva do leite no Estafevereiro para março, porque do, por ser uma atividade é quando inicia o período de que gera bastante renda em entressafra no Sul - que reduz pequenas áreas e que garante a oferta de leite no campo -, fluxo de caixa mensal aos e diversas instituições, como agricultores familiares. “Mas escolas, voltam a atender vai ter grandes mudanças nos plenamente, impulsionando o próximos anos ”, acredita o consumo. Parte desse aumensecretário-adjunto da Agriculto no preço também se deve tura e da Pesca, Airton Spies. à elevação dos Uma destas CONSUMO custos da energia mudanças é que, a AUMENTOU elétrica, diesel partir do ano que APENAS 2% NO vem, estabelecimene grãos para a ANO PASSADO ração, que foram tos registrados no

Sistema de Inspeção Estadual (SIE) poderão passar para o Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Animal (Sisbi). Com isso, os produtos que são comercializados apenas dentro de Santa Catarina poderão ser vendidos em todo o território nacional.

trabalhar com bovinocultura de corte. Para driblar as dificuldades do setor e manter a atividade, o produtor Alcimar Santin, de Quilombo, encontrou a solução em uma gestão rígida e minuciosa. Ele tem o controle sobre cada centavo que compreende o custo para CONTRAPONTO manter cada uma das 25 vacas. NO CAMPO O rendimento também é conMas no campo o sentitrolado individualmente, assim mento é outro. O agricultor ele sabe exatamente quanto José Comunello, de Formosa custou cada litro que produz. do Sul, por exemplo, queria “Eu trato os animais com trocar de atividade ração controlada e CERCA DE 80 há um bom tempo cada animal recebe MIL FAMÍLIAS porque o leite não a quantia exata, RURAIS apresentava o renconforme o quanto FORMAM dimento esperado. produz”, explica A CADEIA “A situação está Alcimar. Desta PRODUTIVA EM forma, ele otimiza difícil nos últimos SC, A MAIORIA anos. Os custos só os gastos, calcula a AGRICULTORES margem de lucro e aumentam e o preFAMILIARES ço do litro é muito quanto poderá inpouco”, justifica. vestir. O resultado Quando apareceu uma boa do esforço é uma gestão que oferta para as 16 vacas de leite garante mais segurança finanque tinha na propriedade, José ceira à propriedade, dedicada não teve dúvidas, abandonou exclusivamente à produção de a produção leiteira e passou a leite.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.