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DIÁRIO DE GUERRA DE UM QUADRINISTA Como o assunto destes textos são as dificuldades de publicação enfrentadas pelos autores nacionais de quadrinhos – e antes que os inimigos fidagais das editoras acima citadas tentem me apedrejar munidos de infindáveis e-mails mal-criados – me deixem explicar o por quê de tal título. Quando você, fiel leitor(a), vai ao supermercado comprar algo, digamos, um refrigerante, qual seu pensamento fundamental acerca daquela compra? “Quero comprar meu refrigerante preferido” seria uma diretiva aceitável? Claro que sim! Ok! Continuando sua compra, você que prefere um refrigerante de marca internacional, mesmo confrontado por muitas prateleiras de (até boas) marcas nacionais, guia-se por preferências pessoais, e compra o tal produto desejado. Agora, imagine outro cliente do mesmo supermercado. Contudo, diferente do primeiro, este gosta de refrigerante de guaraná. Nada mais nacional do que este sabor, não? A situação que desejo ilustrar é a de que ambos os clientes do supermercado, tanto o comprador da Coca-Cola quanto o do guaraná Baré, pagam seus respectivos produtos e se vão. Nenhum dos dois, nem mesmo o do refrigerante de guaraná, hostiliza o caixa do estabelecimento por estar vendendo uma marca estrangeira. Tal princípio aplica-se, amplamente, ao leitor de quadrinhos em nosso país, tanto ao “leitor da Coca-Cola” – o comprador de revistas de editoras como a Panini, Conrad, JBC e outras, as chamadas editoras republicadoras – quanto ao leitor do refrigerante de guaraná – nesta analogia, o comprador de revistas feitas e lançadas por autores nacionais, de fato, bem poucos leitores. Colocando minha cara pra bater (espero que não me entupam a caixa de entrada de e-mail me chamando de vendido) fui leitor e comprador habitual, sim, de algumas revistas de editoras republicadoras de hq´s estrangeiras. E por um motivo muito simples: gosto do trabalho de vários autores internacionais de quadrinhos. As duas últimas que comprei foram a Pixel Media e sua spin off, a Pixel Fábulas, ambas, lamentavelmente, canceladas. Condenar a Panini, ou qualquer outra editora por colocar, em nossas bancas, comic shops e livrarias, revistas em quadrinhos estrangeiras é o mesmo que condenar a fábrica da Coca-Cola ou a da Pepsi de produzir e comercializar seus refrigerantes de marcas internacionais em território nacional. Também não dá pra falar mal dos editores destas republicadoras, acusando-os de capadores do talento nacional quadrinístico. São apenas pessoas desempenhando uma função laboriosa.

“Mas as revistas em quadrinhos estrangeiras impedem o sucesso das revistas nacionais”, ou “Batman e X-Men são marcas fortes demais, assim não dá pra competir”, pode dizer aquele último pseudonacionalista bitolado. Meus caros entrincheirados, sabem o que as fábricas de refrigerantes locais fazem para enfrentar a Coca-Cola? Elas não ficam reclamando de monopólios de mercado, nem de copyrights ou trademarks invencivelmente famosos. OS NACIONAIS VÃO À LUTA! E é isso que os autores de histórias em quadrinhos nacionais devem fazer. Parar de reclamar e arregaçar as mangas. Ou os mangás, no caso dos aficcionados por quadrinhos de estética japonesa (Piadinha terrível, essa! Heheh!). Façam como o grande Mário de Andrade, em seu Manifesto Antropofágico: percebam a forma das obras artísticas estrangeiras, vertendo-as para o universo estilístico brasileiro. Maurício de Sousa fez isso, deu e tem dado, ao longo dos anos, uma banana homérica para a Disney com sua permanente Turma da Mônica. Identifiquem seu público-alvo, nada mais do que características das pessoas, seus clientes potenciais. Pesquisem o gosto dos consumidores, desenvolvendo o melhor produto possível – no caso, sua revista em quadrinhos independente ou fanzine – para alcançar a maior fatia possível do mercado. Divulguem seus produtos, sabendo que, para cada 100 exemplares vendidos, costuma-se ser necessário alcançar, com sua propaganda, cerca de 10 ou 20 vezes mais consumidores potenciais. E a parte mais importante: transforme os elogios, as dúvidas, sugestões e principalmente as CRÍTICAS que chegarem aos seus ouvidos em dados, estes fundamentais para orientar a linha editorial de sua publicação. Não se vende uma revista para uma pessoa de cujo conteúdo esta não goste. O contrário também é válido. Pessoas costumam buscar produtos que lhe são agradáveis. Por isso louvo o fenômeno das revistas independentes – as atuais coletâneas digitais. São brasileiros corajosos, desejosos do sucesso e lutadores em prol de seus objetivos. Não ficam prostrados, reclamando da vida e culpando os outros por causa de seus insucessos pessoais. Conheço quadrinhos estrangeiros péssimos e quadrinhos nacionais péssimos também. A diferença é que apenas os nacionais falam mal dos outros, esquecendose, com isso, de buscar os reais motivos de seus fracassos, e de se empenhar para corrigi-los e, com isso, alcançar sucesso. Frank Delmindo é autor independente, quadrinista e empreendedor na mídia Quadrinhos.



Oswald de Andrade foi um grande escritor modernista brasileiro. Você, caro(a) leitor(a) deste texto deve ter ouvido falar dele, lá pelo principiar do Ensino Médio, entre um ou outro bocejo nas sempre enfadonhas aulas de Literatura. Seu nome é mais comumente associado a tal da Semana da Arte Moderna, ocorrida em São Paulo, em 1922. Dentre muitas obras suas, e das quais participou, sempre me vem a mente o Manifesto Antropofágico, datado de 1928.

Segundo nossa parceira contumaz, a Wikipedia, tal manifesto teria, dentre outras coisas, “a ver com o papel simbólico do canibalismo nas sociedades tribais e tradicionais. O canibal nunca come um ser humano por nutrição, mas sim sempre para incluir em si as qualidades do inimigo ou de alguém”. Tal proposição levaria em conta o fato de que nós, moradores destas terras brasileiras, deveríamos assimilar a cultura, produtos e a própria persona estrangeira, sendo “o colonizador digerido pelo colonizado”. Vixi, meu. Comer os estrangeiros? Índios? Citar escritor modernista em resenha de quadrinho brasileiro? Que sacanagem é essa? Trama de herói-vigilante-uniformizado e ainda por cima com visual no estilo Image? Só pode dar em porcaria! Calma, calma. E nada de ficar pensando em orgias tribais, hein! Este texto ainda trata de resenhar a webcomic Guardião Noturno (BRA: 2010, Renan Laviola). Então, vamos lá! Uma pequena surpresa antropofágica - Baixei os arquivos .CBR correspondentes a estaproduHQ, e assimilar a cultura, os abri, esperando ler obra galgada, tosmais e auma própria persona em forma e conteúdo, aos comics de vigilantes estrangeira, sendo “o norte-americanos: personagem uma pelo vida colonizador vive digerido normal, vem o ponto de virada – onde algo colonizado”. acontece para motivá-lo a envergar seu uniforme de herói – e vemVixi, o fimmeu. da trama, quase Comer os sempre, no tocante estrangeiros? a este tipo deÍndios? hq nacional Citar emulada, sem conclusão alguma. escritor modernista em resenha de quadrinho Eis que logo tenhobrasileiro? a primeira Que surpresa. Um sacanapequenino prólogo, onde uma casal, em vias de gem é essa? Trama de intimidades matrimoniais, fica aterrorizado com vigilante-uniformizado e o ribombar de um distante tiroteio. Preocupação ainda por cima com visual em ambientar a trama? Em mostrar se no estilo Image?que Sónão pode passava em algum dar genérico citadino de New em porcaria! York ou Gotham City? O desenhista até usa de cenários cheios de detalhes, e ainda cima Calma, calma.por E nada consecutivos, para contribuir com a imersão do de ficar pensando em leitor na ambientação. “Estes autores já tem orgias tribais, hein! Esteo meu apreço”, pensei.texto ainda trata de resenhar a webcomic Mais para frente, novos personagens aparecem. Guardião Noturno (BRA: Promotor público, querendo combater o et crime. 2010, Renan Laviola al). Tá na cara que suaEntão, famíliavamos vai ser fuzilada, e lá! ele, no estilo Punisher, vai castigar os culpados. Porém, quem empacota mesmo surpresa é sua Uma pequena assistente, em emboscada feita para o os tal antropofágica - Baixei promotor. “Ah, mudou um pouco o foco. Parece arquivos .CBR corresponestar mesmo querendo prestar, o tal roteirista”, dentes a esta HQ, e os logo imaginei. abri, esperando ler mais Nosso protagonista e candidato herói ficaem na uma obra agalgada, maior deprê, e dar as caras eno conteúdo, funeral, levando forma aos


uma obra galgada, em forma e conteúdo, aos comics de vigilantes norte-americanos: personagem vive uma vida normal, vem o ponto de virada – onde algo acontece para motivá-lo a envergar seu uniforme de herói – e vem o fim da trama, quase sempre, no tocante a este tipo de hq nacional emulada, sem conclusão alguma. Eis que logo tenho a primeira surpresa. Um pequenino prólogo, onde um casal, em vias de intimidades matrimoniais, fica aterrorizado com o ribombar de um distante tiroteio. Preocupação em ambientar a trama? Em mostrar que não se passava em algum genérico citadino de New York ou Gotham City? O desenhista até usa de cenários cheios de detalhes, e ainda por cima consecutivos, para contribuir com a imersão do leitor na ambientação. “Estes autores já tem o meu apreço”, pensei. Mais para frente, novos personagens aparecem. Promotor público, querendo combater o crime. Tá na cara que sua família vai ser fuzilada, fuzilada, ee ele, ele, no no estilo estilo Punisher, vai vai ser Punisher, vai castigar os culpados. castigar os culpados. Porém, quem empacota Porém, é mesmo quem é sua empacota assistente,mesmo em emboscada feita sua assistente, em emboscada para o tal promotor. “Ah, mudou um pouco o feita Parece para o estar tal promotor. “Ah, foco. mesmo querendo prestar, o mudou um pouco o foco. Parece tal roteirista”, logo imaginei. estar mesmo querendo prestar, o tal roteirista”, logo imaginei. Nosso protagonista e candidato a herói fica Nosso e no funeral, na maior deprê,protagonista e dar as caras candidato a herói fica da na genitora maior levando uns bofetes da finada deprê, e dar as caras no funeral, apenas aumenta seu sofrer. Logo mais, flagra levando bofetes genitora um crimeuns em um beco da escuro, salvando a vítima da finada apenas aumenta seua frente, uma ao escorraçar um meliante. Mais sofrer. Logo flagra um crime olhadela nummais, gibi do Gralha lhe dá o empurrão em um beco escuro, salvando a para, assim, digamos, hipoteticamente, quem vítima ao escorraçar um meliante. saber, er... trajar um uniforme e ir barbarizar a Mais a frente, uma “Curioso, olhadela num marginália carioca? isso. Parece uma gibi do Gralha lhe dá empurrão tentativa bem-sucedidao de alguma progressão para, assim, dramática. Construção aodigamos, menos verossímil de hipoteticamente, quem saber, personagem”, preocupei-me, er... pois o tal autor trajar um uniforme e ir barbarizar a dava ares de saber o que estava fazendo. marginália carioca? “Curioso, isso. Parece uma bemEntão, nossotentativa herói surge. Evidentemente, sucedida de alguma progressão vai invadir o covil dos mal-feitos malfeitores – dramática. Construção menos sim, eram todos feiososao e praticavam o “mal” – verossímil de personagem”, detoná-los e levar todos pro xilindró. É, desta

Na página ao lado: Guardião Noturno em pose de ação. Na imagem acima: o personagem inserido em ambiente local, um dos diferenciais desta webcomic.

Então, nosso herói surge. Evidentemente, vai invadir o covil dos mal-feitos malfeitores – sim, eram todos feiosos e praticavam o “mal” – detonálos e levar todos pro xilindró. É. Desta vez, não teve jeito. Foi isso mesmo o que aconteceu. Pelo menos, o herói deu uma de posudo, abandonando o meliante ferido, prometendo vir finalizar sua maldade n'outra ocasião. “Deix'eu dar uma olhada no nome desse pessoal”, logo corri. O roteirista, Renan Laviola, posteriormente substituído pela alcunha “Drope Aquim”, de fato surpreendeu-me. E para tanto lançou mão de um recurso seguro. Não tentou apenas e simplesmente emular os comics de vigilantes uniformizados. Também não tentou uma desconstrução a lá Alan Moore. Não. O que Renan buscou, creio eu, logrando considerável êxito, foi filtrar o molde vigilanteuniformizado-vitimado-e-decide-detonar-marginais por uma ótica local, a da realidade brasileira, mais exatamente, a da capital carioca. Para tanto, usa


exatamente, a da capital carioca. Para tanto, usa como ferramenta os próprios personagens da trama e, claro, a ambientação visual fornecida pelo desenhista. Os traficantes correndo morro acima, fugindo da polícia, quando deveriam dar uma de pirados, metralhando os PMs invasores. O traficante escarnecendo do herói uniformizado, citando semelhança entre seu uniforme e fantasias carnavalescas, ao invés de tremer nas bases, como fariam os sparrings de quaisquer spidermen ou batmen, quando por estes confrontados. O policial que, aceitando o arrego pago pelos traficantes, doa a instituição de caridade, travestindo corrupção com uma filantropia cínica, ao invés de ser um modelo de retidão e bom caratismo, como um Comissário Gordon da vida quadrinística. São todos versões nacionais, ocupando dentro da trama os lugares de seus correlatos gringos, de fato, mudando o resultado desta. Apenas e tão somente a figura do protagonista, Guardião Noturno, permanece fiel ao modelo correspondente dos quadrinhos norteamericanos, cerne conceitual: o herói forte, abatido e ao mesmo tempo impulsionado por tragédia pessoal, decidindo partir para a ação e espremer alguma medida de alívio no abater de seus adversários, responsáveis pelo seu penar inicial. A arte de Ezequiel Assis, sofrendo de evidentes fortes influências dos comics, chego a dizer mesmo da tão achincalhada Era Image, também colabora para um bom resultado neste surpreendente quadrinho nacional. Ora, existe até uma narrativa paralela, indo e vindo, do encontro do Promotor, futuro vigilante uniformizado, com seu interesse romântico, para o atentado equivocado e morte da vitimizada assistente. Outro bom momento é a página em que o Guardião Noturno surge, uniformizado pela primeira vez. Negando o até então inevitável desenho posado de página inteira, divide o referido em três quadros, “filmando” de ângulos diferentes, tendo pedaços de cenário urbano aparecendo aqui e ali, alcançando mais uma diferenciação estilística, uma interação personagem-cidade. Espero que Renan/Drope possa aperfeiçoar esta sua série em quadrinhos, talvez afundando ainda mais o modelo de HQ “vigilante uniformizado” na realidade cotidiana brasileira. E que continue tendo a parceria de bons desenhistas nesta empreitada, como o citado Ezequiel Assis. E que possam, segundo os preceitos antropofágicos de Oswald de Andrade, permanecer deglutindo os tão apreciados comics, e produzindo genuínas HQs ambientadas em terras brasileiras. Afinal de contas, ambos obtiveram uma curiosa surpresa: fazer uma HQ interessante de dois canônes batidaços: tema de vigilante uniformizado somado a arte meio Image. Meus parabéns e desejos sinceros de sucesso para o Guardião

ocupando dentro da trama os lugares de seus correlatos gringos, de fato, mudando o resultado desta. Apenas e tão somente a figura do protagonista, Guardião Noturno, permanece fiel ao modelo correspondente dos quadrinhos norte-americanos, cerne conceitual: o herói forte, abatido e ao mesmo tempo impulsionado por tragédia pessoal, decidindo partir para a ação e espremer alguma medida de alívio no abater de seus adversários, responsáveis pelo seu penar inicial. A arte de Ezequiel Assis, sofrendo de evidentes fortes influências dos comics, chego a dizer mesmo da tão achincalhada Era Image, também colabora para um bom resultado neste surpreendente quadrinho nacional. Ora, existe até uma narrativa paralela, indo e vindo, do encontro do Promotor, futuro vigilante uniformizado, com seu interesse romântico, para o atentado equivocado e morte da vitimizada assistente. Outro bom momento Outro bom momentoé é a a página página em em que que oo Guardião Noturno surge, uniformizado primeira vez. Guardião pela Noturno surge, Negando o até então inevitável desenho posado de uniformizado pela primeira página inteira, divide o referido em três quadros, vez. Negando o até então “filmando” de ângulos diferentes, pedaços de inevitáveltendo desenho posado cenário urbano aparecendo de aquipágina e ali, alcançando mais inteira, divide o uma diferenciação estilística, uma referido em três interação quadros, personagem-cidade. “filmando” de ângulos Espero que Renan/Drope possa aperfeiçoar esta diferentes, tendo pedaços sua série em quadrinhos, talvez afundando ainda mais de cenário urbano apare-o modelo de HQ “vigilante uniformizado” na alcançanrealidade cendo aqui e ali, cotidiana brasileira. E que continue tendo a parceria de do mais uma diferenciação bons desenhistas nesta empreitada, como interação o citado estilística, uma Ezequiel Assis. personagem-cidade. E que possam, segundo Espero osque preceitos Drope antropofágicos de Oswald possa de Andrade, permanecer aperfeiçoar esta sua deglutindo os tão apreciados e produzindo série comics, em quadrinhos, talvez genuínas HQs ambientadas afundando em terras brasileiras. Afinal ainda mais o de contas, ambos obtiveram modelo uma curiosa fazer de surpresa: HQ “vigilante uma HQ interessante de dois canônes batidaços: tema uniformizado” na realidade de vigilante uniformizado somado a arte meio Image. cotidiana brasileira. E que Meus parabéns e desejos sinceros sucesso para o continue de tendo a parceria Guardião Noturno. de bons desenhistas nesta empreitada, como o citado Ezequiel Assis. E que possam, segundo os preceitos antropofágicos de Oswald de Andrade, permanecer deglutindo os tão apreciados comics, e produzindo genuínas HQs ambientadas em terras brasileiras. Afinal de contas, ambos obtiveram uma curiosa surpresa: fazer uma HQ interessante de dois canônes batidaços, tema de vigilante uniformizado somado a arte meio Image.



parecem estar posicionadas para produzir a jogada decisiva. Senão, vejamos as tais peças: 1) Publicações on line, tais como a Mangá Pride, Almanaque Explosão HQ, Reação Extreme Digital e Popcake, dentre outras, funcionam como verdadeiras rodas de moinho editoriais, captando páginas e mais páginas de quadrinhos, de autores mais ou menos desconhecidos, upandoas para a vitrine fornecida pela Internet, e eliminando o isolamento dos quadrinistas brasileiros, via as dezenas de milhares de pageviews, apresentando-os para uma, até pouco tempo atrás, quantidade impensada de leitores. 2) O FIQ – Festival Internacional de Quadrinhos – está anunciando, via SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – a realização de uma rodada de negócios, na qual autores e editores inscritos poderão apresentar seus projetos a interessados, o que possibilita o surgimento de parcerias concretas de publicação. 3) Por imposição do sempre adverso cenário editorial local, o quadrinista brasileiro sempre se virou para publicar, ainda que via fanzines. Mas a baixa tiragem e pouca divulgação fornecida pelos zines xerocados impediam a notoriedade necessária para alavancar uma hipotética carreira de autor independente. A Internet derrubou esta

sária para alavancar uma hipotética carreira de autor independente. A Internet derrubou esta barreira. Quem tiver talento, garra para divulgar e esforço para continuar produzindo e, com isso evoluindo constantemente a qualidade de seus quadrinhos, tem, SIM, uma chance REAL de sucesso como autor de quadrinhos. 4) A entrada do SEBRAE no mundo dos quadrinistas independentes, ainda que restrita a uma rodada de negócios a ser realizada em um determinado evento, aponta para o caminho óbvio: o surgimento de uma nova classe de quadrinistas em nosso país. O

quadrinista

EMPREENDEDOR.

Estou na torcida para que a Conexão Nanquim tenha, em seu site, uma área destinada exclusivamente ao crowdfunding de encadernados impressos das séries – e por quê não dos one-shots, também – presentes em sua coletânea on line de leitura gratuita. A Conexão Nanquim terá criado um circuito completo para quem deseja se aventurar na profissão de quadrinista, ou mangaká, composto de criaçãodivulgação-aceitação/rejeição-publicação de mangás. Será a primeira a fazer isso. Será 5)

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Na página ao lado: Reação Extreme Digital. Na imagem ao lado: Almanaque Explosão HQ. Abaixo: Mangá Pride. Diversas coletâneas digitais surgem para dar vazão aos novos talentos quadrinísticos brasileiros.

quadrinhos, tem, SIM, uma chance REAL de sucesso como autor de quadrinhos. 4) A entrada do SEBRAE no mundo dos quadrinistas independentes, ainda que restrita a uma rodada de negócios a ser realizada em um determinado evento, aponta para o caminho óbvio: o surgimento de uma nova classe de quadrinistas em nosso país. O quadrinista EMPREENDEDOR. Os sites destas coletâneas digitais de quadrinhos poderiam ter uma área destinada exclusivamente ao financiamento coletivo de encadernados impressos das séries – e por quê não dos one-shots, também – presentes em suas hq’s on line de leitura gratuita. Seria um circuito completo para quem deseja se aventurar na profissão de quadrinista, ou mangaká, composto de criação, divulgação, aceitação ou rejeição ou publicação de mangás. 5) Por fim, e reforçando este aspecto empreendedorístico a ser assumido pelos novos quadrinistas brasileiros, o SEBRAE ainda anuncia o FIQ JOVEM, projeto de capacitação para treinar futuros autores de hq´s e, assim, buscar maior profissionalismo dos produtores de quadrinhos.

Sob vários aspectos, este boom evidencia a própria existência destes autores, muitos ainda no nível de puro e simples amador. Sem ter “o que fazer nem aonde ir” para apresentar seus mangás, encontraram nas grandes praias internéticas um porto seguro de divulgação e diálogo com o público. Tal relação direta autor-leitor descarta a figura de uma editora ou de editores, dado seu aspecto informal e de gratuidade: nem quem lê, nem quem produz estas coletâneas digitais está usufruindo de uma relação comercial. O grande truque será monetizar esta relação, para que autores possam ter o quadrinismo por profissão, alcançando níveis profissionais em seus trabalhos apresentados. E que tal qualidade atraia cada vez mais leitores e apreciadores. A partida de xadrez do Quadrinho nacional está em aberto. Será que os enxadristas quadrinistas e todos os demais envolvidos conseguirão vencer? O tempo dará a resposta.


A DC Comics, editora norte-americana que domina o mercado de comics lado a lado com sua eterna rival, a Marvel Comics, vem sofrendo uma constante saída de autores de seus quadrinhos. Tal movimento de recursos humanos nem seria tão digno de nota assim, por tratar-se de uma empresa, e se não fosse o estardalhaço feito pelos meios de informação ditos especializados. A fama dos autores envolvidos, mais a conectividade e interação do mundo virtual de sites e redes sociais transfere para alto-falantes o antes tratado à boca pequena nas fofocas de corredor dos setores e departamentos. Sites norteamericanos como Bledding Cool e Comicbook Resources instauram as discussões, logo sendo reproduzidos mundialmente por correspondentes de diversas línguas. Os autores de quadrinhos da DC Comics estão sendo “bullyados”? Estaria a editora sendo alvo de calúnia e difamação por ex-funcionários descontentes? Que editor em sã consciência abriria mão, sem mais nem menos, de um autor como o veterano George Perez? O Abre-alas Greg Rucka – o escritor de romances e roteirista de quadrinhos Greg Rucka aparenta ter relações trabalhistas conturbadas com as duas majors DC e Marvel. Foi em 2010, com cerca de uma década de trabalho na DC, que Rucka abandonou sua tão bem-sucedida parceria. O autor iria para a concorrência, a Marvel, onde trabalhou com personagens como The Punisher. Novamente contrariado com decisões editoriais da Marvel, Rucka afirmou “estar cheio do modo como as duas majors tratam seus autores”. A abordagem de produção das hq´s visando extrair o máximo resultado comercial parecia ser algo atacado por Rucka, que decidiu dedicar-se aos romances literários e dar um tempo na indústria dos comics. Mas a onda de intrigas dos autores versus DC Comics tomaria corpo anos depois... Greg Rucka: autor cujo descontentamento com a DC Comics estourou 3 anos antes. Pavio curto ou autoestima maior?

Autores Descontentes com Editorias Podadoras – Já em 2013, James Robinson, roteirista britânico, foi mais um a deixar a DC Comics. Escrevendo a bem-sucedida série Earth 2, boatos afirmam que o autor inglês não teria ficado contente com intenções da Editora de inserir um outro autor no título, ou em um suposto título derivado. Tentativa de criar uma linha de títulos baseados no sucesso de Earth 2? Robinson agradeceu ao público fiel e lamentou não poder dar continuidade aos trabalhos ali desenvolvidos. Outro roteirista britânico chateado com a DC Comics, e que também afirma ter tido atritos durante o tempo que trabalhou na Marvel Comics, é Paul Jenkins. O autor e ex-editor chegou a postar um texto em site gringo, entregando as práticas de assédio moral e clima de ameaças contra colegas de editoria na DC Comics, em quantidade maior do que a vista ao longo de toda sua carreira profissional. De sua atuação como editor, Jenkins entrega mais podres decenianos, como não receber orientação nenhuma em relação a alguns títulos da Editora, indo ao extremo de ser obrigado a refazer na marra, edições inteiras, mesmo contra os conteúdos produzidos por equipes criativas e mesmo por criadores de séries. Um ambiente corporativo massacrante destes para profissionais cujo ato primordial é criar conteúdo artísticoautoral? O desenhista Kevin Maguire é outro em desentendimento com a DC Comics. Conhecido dos leitores brasileiros pela longeva série cômica oitentista da Liga da Justiça, Maguire sentiu na pele o que os participantes do reality show O Aprendiz passam. Contudo, o sonoro “você está demitido” partiu da própria DC. Trocado pelo – segundo a Editora – “mais dark” desenhista Howard Porter. Curiosamente, o restante do trio-parada-dura, os roteiristas J. M. DeMatteis e Keith Giffen, tão responsáveis quanto Maguire pelo sucesso da Liga da Justiça cômica, continuaram na revista. Seria uma nova e revolucionária abordagem editorial, um gibi cômico-dark? J. H. Williams III, elogiado desenhista da DC, com passagens por títulos como Chase, Promethea, Desolation Jones, e o roteirista W. Haden Blackman engrossam o coro dos autores de ovos virados com a Editora de Batman e Superman. Ambos postaram carta em site para os leitores e entusiastas da série Batwoman, detalhando os motivos de estarem abandonando o título. Quando da produção de uma edição especial da personagem citada, os autores foram proibidos de tratar de qualquer assunto desenvolvido na série regular. Com um planejamento de roteiros montado em mais de ano, foram obrigados a mudanças completas


completas, da origem de personagens-chave da trama, até a conclusão de arcos inteiros de histórias. A decisão de abandonar o título Batwoman ocorreu pela percepção destes autores de estarem sendo impedidos, por estas intromissões editoriais, de conseguir produzir a melhor hq de que são capazes. Ambos chegam a declarar seu verdadeiro amor pela personagem. Funcionários difíceis de se encontrar, não é mesmo, Dona DC Comics?! Mas a bomba mesmo foi a saída de George Perez. Se existe um alarme sinalizando a perda de recursos humanos valiosos na Editora, deve ter soado feito louco quando um dos autores mais importantes na DC Comics picou a mula. E Perez não poupou críticas contra seus agora exempregadores. O autor declara seu amor aos personagens da DC Comics e, a exemplo da dupla da Batwoman, viu seu trabalho ser descaracterizado por intervenções editoriais. Também afirma, como outros autores, não estar contando uma boa história em quadrinhos, pois a atual abordagem impositiva da DC Comics direciona a produção para a exploração dos personagens com finalidades diferentes da busca de qualidade artístico-autoral. George Perez deixa claro quais as fontes destas imposições editoriais, ao citar “Disney – conglomerado midiático atualmente dono da Marvel Comics – e Warner – os efetivos chefes da DC Comics – como os verdadeiros donos do dinheiro”, e como se acham capazes de “fazer melhor o trabalho dos autores”. Desta maneira, George Perez eximiu muita culpa dos editores e do alto escalão da DC Comics, culpando a Warner pelos desmandos editoriais que assolam os quadrinhos decenianos.

George Perez: veterano da DC Comics deixa a editora e vai para a modesta Boom! Comics.


George Perez, um grande expoente dentro da DC Comics, tido por muitos como um dos desenhistas definitivos do gênero super-heróis, tendo trabalhado tanto com a Liga da Justiça quanto com os Vingadores, da Marvel Comics, e nesta com Quarteto Fantástico, X-Men e Hulk; um desenhista que, com o roteirista Marv Wolfman, foi responsável pelos Novos Titãs, única resposta à altura do sucesso dos X-Men de Chris Claremont e John Byrne. Perez desenhou também a primeira maxi-série da DC Comics, a Crise nas Infinitas Terras. Este mesmo autor afirmou em público não estar sendo valorizado enquanto quadrinista e mesmo como contador de histórias. Mas Perez não perdeu tempo. Assinou contrato de exclusividade autoral com a pequena Boom Comics, onde sua arte exuberante e criatividade, agora sem entraves, poderá ser apreciada sem moderações. Mas tem gente aproveitando esta enxurrada de talentos à disposição. Gente esperta é outra coisa. E a Marvel Comics diz: “Venha!” – sem dormir no ponto, a Editora de Homem-Aranha, XMen e Vingadores tratou de assediar os autores recém-saídos da DC. Via rede social, o editor Brian Michael Bendis agradeceu a quem quer que fosse o responsável pelo antes demitido, agora recém-contratado, Kevin Maguire, escalado de imediato para produzir hq’s na Marvel. Bendis chamou Maguire de “tesouro nacional” e de que deveria “ser tratado com todo o respeito”. O roteirista James Robinson foi outro logo fisgado pela Marvel. Sites gringos dizem que estaria escalado para duas revistas mensais, além de uma edição especial com o Homem-Aranha. O Jogo Perigoso da DC Comics – A Editora de Batman e Superman deve ter “crescido o olho” por riba dos sucessos cinematográficos da Marvel Studios e das possibilidades bilionárias de seus próprios personagens dos quadrinhos. E isto parece ter decretado o fim da autonomia criativa das demais empresas do conglomerado. E nem recisa

À esquerda, J. H. Williams III: desenhista cotado para a nova série de Sandman, ainda permanece na DC. À direita, o britânico James Robinson, e abaixo o desenhista Kevin Maguire: talentos absorvidos pela Marvel Comics. Terá terminado o êxodo de descontentes da DC Comics? Ou ainda veremos mais saídas?

precisa citar a DC Comics como grande alvo desta colocação de um, digamos, e por falta de uma analogia melhor, “cabresto” criativo. Chega dessa liberdade toda. Chega de um bando de funcionários criativos exercendo seus talentos refinados com décadas de prática e experiência, mostrando como se conta boas hq’s, maravilhando leitores e arregimentando cada vez mais clientes para o consumo de produtos licenciados com o maior ativo de qualquer editora: seus personagens. Ao submeter uma produção autoral, cujo maior valor repousa em seu aspecto criativo, a Warner ameaça padronizar a DC Comics, tornando-a em um deserto árido igual a Hollywood. Com a saída de grandes talentos, vislumbra-se um empobrecimento de qualidade, uma mediocridade autoral a assolar os títulos da Editora. Daí para a falência criativa, e desta para a bancarrota financeira causada por queda nas vendas, serão poucos ..............................passos. A Warner está priorizando a exploração financeira e marqueteira, e parece estar fazendo da liberdade criativa e autoral, a primeira vítima deste atroz crime contra os seus próprios comics........................................ Pessoas criativas costumam encarar atividades autorais como parte indispensável em suas vidas. Não é “apenas um trabalho”, mas sim “o trabalho de suas vidas”. Resta saber quando e se a DC Comics perceberá esta verdade.


















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