Ariano Suassuna - O Valor das Raízes Populares em Nossa Cultura

Page 1

ariano suassun

um memorial e livro Tamires Pará Pedroso DRE: 110.055.765 Projeto de Comunicação Visual profa. Nair de Paula Soares Ano de 2014 7º Período 31/03/2014


um memorial A idéia

Este projeto foi uma proposta da profa. Nair para que explorássemos o escritor Ariano Suassuna, sua produção rica e sua vida muito peculiar. Neste projeto, tentei mergulhar no contexto que propiciou a Suassuna tornar-se o que é (grandes artistas são em muitas parte produto do meio em que vivem), mais do que exacerbar sua já conhecida genialidade e sua personalidade marcante. Logo, ressalta-se a importância do teatro popular de mamulengos, a literatura de Cordel, o teatro de “improviso” e a influência de sua religião católica. Assistir o filme “O Auto da Compadecida” foi crucial para a organização e concretização do projeto em questão.

O conceito

No primeiro moodboard, demonstrei uma preocupação excessiva com a parte fotográfica/textural da iconografia do Nordeste, juntando imagens de apresentações de teatro das obras de Suassuna, algumas do Carnaval de Olinda e outros artigos da cultura popular. Inspireime em uma exposição do pintor Modigliani que presenciei em 2012, cuja curadoria, adaptando-se à falta de verba para aluguel de mais quadros do artista, optou por contextualizar sua obra, alugando quadros de amigos do pintor que conviveram com ele em épocas diferentes de seu desenvolvimento artistico. Resultado: é nítida a ressonância artística entre os quadros e como influenciam-se mutuamente. Desta forma, aplicando a mesma lógica ao projeto em questão, a iconografia do livro

Gama de tecidos a minha escolha para cobrir a capa dura do projeto.

tornou-se muito mais ilustrativa (em estilo Cordel) do que realmente uma exploração fotográfica, como seria a priori. Se pudesse resumir meu conceito em uma frase, esta seria “Ariano Suassuna é um todo feito de vários pedacinhos, e são eles que me interessam e que pretendem ser retratados aqui.”

O contexto

Este projeto foi concebido majoritariamente visando um acabamento diferente, rústico, mas com um tom mais austero, menos popular. Afinal, Suassuna aproveitava-se de elementos da cultura popular como ferramenta narrativa, mas, como pessoa, nunca fora nada menos que requintado. Então, a princípio, era uma idéia utilizar papéis coloridos, ou papel kraft para impressões em preto e branco, resgatando um pouco do que foi a literatura de Cordel e suas ilustrações.

O processo

Este projeto passou por diversas iterações durante sua feitura, e muito do que havia se imaginado como produto final foi-se, mas o conceito permaneceu. Inicialmente, pensou-se em misturar impressões em papel kraft para as ilustrações tipográficas e possivelmente texto (a última parte dependeria muito do peso da tipografia e do contraste do papel); e papel couché matte para impressão das fotografias em CMYK. Logo de início, previ problemas com a montagem da boneca por devido ao intercalar de papéis diferentes. Também propunha-se, o invés de um design de capa de livro convencional, um acabamento em tecido (que possivelmente ofereceria diferentes cores para a edição) e um binder, contendo as informações do

Miolo de papel paraná e sulfite.

livro (título, autor com tipografia logotipada, editora, código de barras) e com dupla funcionalidade: capa do livro e marcador. Havia também a idéia de produção de uma capa protetora, em papel manteira ou vegetal, com ilustrações em estilo Cordel de personagens do autor - o produto tanto protegeria o livro quanto serviria de decoração para uma parede, por exemplo.


Erros e acertos

A fim de tornar a leitura deste memorial mais interessante, intercalar-se-ão os erros e os acertos durante este texto. A escolha dos materiais foi, a priori, essencial para as escolhas subsequentes que se deram durante a produção deste livro. No entanto, a própria escolha de tais materiais (o papel kraft, principalmente) impôs diversas dificuldades de produção (só havia possibilidade de imprimir nesse Capa dura de paraná revestido de tecido.

tecido batido ou couro

impressão em papel vegetal ou manteiga

guarda “capa” removível que também serve como binder

grid base

ilustrações “dançantes” na página mapa de onde Suassuna morou em estilo Cordel OU ilustração infográfica dos personagens de suas obras mais conhecidas também em estilo Cordel

papel reciclável meio-tom texto corrido ilustrações estilo Cordel

mock-up de como o binder funciona

Modelo esquemático de projeto inicial do livro

Conclusão

Definitivamente gostei de explorar materiais diferentes do convencional (não havia trabalhado com tecido antes, ou com papel kraft), sinto que entendo mais do processo de criação de livros depois desse projeto. Particularmente, relutei contra o tema “Ariano Suassuna” (já que poderíamos escolher Andy Warhol, que é uma pessoa pública muito mais dentro de minha zona de conforto como designer), mas acredito ter crescido com o desafio. Ariano Suassuna é uma figura cativante, requintada, de uma vida muito fortemente enraizada em suas experiências pessoais.

poo v pu alo la r cures da ltu ems r ra naíz os es sa

papel paraná

un a

papel paraná

as s

papel paraná

su

papel paraná

ia no

papel em casa, então houve gasto adicional com tinta para impressora) e testes adicionais de legibilidade e tipografia contra o fundo meio-tom do papel kraft. A sobriedade dos elementos abordados, das ilustrações e da diagramação unificam o projeto - não houve necessidade de adicionar cores. Menos foi mais. Não obstante, talvez a simplicidade excessiva tenha deixado o projeto um pouco “seco” demais - como chegou a ser comentado em sala. Além disso, tive problemas com as fontes utilizadas em negativo (especialmente nos boxes que se referem a Gilvan Samico) e tive de gastar algum tempo refazendo minhas escolhas de peso e reimprimindo páginas.

CAPA PROTETORA

ar

Através de vários testes, foi de consenso geral que a mistura de ambientações que os dois tipos de papel evocavam não adicionavam ao projeto e criavam complicações desnecessárias. Devido a isso, escolheu-se fazer o projeto inteiramente em papel kraft (embora houvesse a possibilidade de se usar um papel branco de qualidade porosa, era essencial que a alma do papel permanecesse meio-tom). Posteriormente, houve dúvidas sobre se as imagens ainda seriam impressas em CMYK no papel kraft ou não. Depois de alguns testes, mesmo depois de extensos tratamentos de imagem, a impressão das mesmas não ficou satisfatória, então decidiu-se perpeturar o estilo abordado na capa protetora: ilustrações em preto e branco.

ENCADERNAÇÃO EXTERNA

Miolo final encadernado à francesa

tipos de papel

couché brilho imagens ilustrações tipográficas


um projeto O que desejo

Pretendo projetar um livro que possa fazer parte de uma série de publicações populares nordestinas (como uma série “O Valor das Raízes Populares em Nossa Cultura”, que compreenderia outros autores como Guimarãs Rosa, por exemplo), todos utilizando o mesmo princípio conceitual. Adicionalmente, pretendo me apropriar de materiais simples, condizentes com o ambiente cujos autores teriam tido contato.

O método

Separei o processo de manufatura da boneca deste livro em alguns passos: 1.layout generalizado (mancha tipográfica); 2.teste tipográfico de pesos, pesquisa para ilustrações (iconografia específica); 3.montagem do layout impresso; 4.realização das ilustrações; 5.montagem do preenchimento da boneca e diagramação do miolo; 6.montagem da capa de tecido; 7.impressão e montagem do binder; 8.montagem da boneca.

Em 1, planejei o grid e a distribuição das manchas de texto em meu caderno, optando por uma grid de 12 colunas para me oferecer mais diversidade. No entanto só pude realmente decidir tudo isso depois de testar a impressão das fotos e decidir por ilustrá-las eu mesma, em estilo Cordel. Em 2, imprimi diversas folhas de Lorem Ipsum para testar entrelinha e tamanhos de fonte, já no papel kraft. A fonte escolhida foi Klinic Slab Book 10/11pt. Havia tentado a versão Light da fonte, mas houve problemas de legibilidade. Em 3, depois de ter feito alguns croquis das ilustrações, resolvi imprimir meu layout com a mancha tipográfica em escala 1:1, para checar novamente legibilidade, e a unidade de projeto em si. Já em 4, eu busquei referências e técnicas do estilo Cordel de ilustração, eventualmente refinando meus croquis no estilo correto. Em 5, trabalhei no refino da tipografia e diagramação do miolo do livro, passando por cima de problemas com a tipografia negativa e kerning do texto corrido. Também gastei algum tempo planejando as “divisões de seção”, ou seja, as ilustrações tipográficas sangradas que apareceriam entre uma seção e outra. Também montei o preenchimento da boneca, utilizando

Moodboard inicial do projeto.

papel paraná para prover maior estabilidade e durabilidade, revestido de papel sulfite, com acabamento em kraft para simular a alma do papel. Durante 6 e 7, fiz estudos tipográficos e imprimi diversas vezes o título logotipado do livro, com foco hierárquico maior no nome do autor (ainda mais se será uma série com foco nos autores, e não na obra em si). Imprimi em papel couché branco e imprimi e refilei o miolo em kraft, encadernando -o à francesa. Efetuei a encadernação em capa dura utilizando papel paraná e um tecido batido vermelho-tijolo, colando-o ao paraná com uma mistura de cola de tecido e cola branca. Finalmente, com todos os elementos do projeto individualmente efetuados, avaliados, pude montar a boneca, unindo o miolo ao preenchimento com cola spray. Fiz o mesmo com a guarda em ambos os lados da capa de tecido.

Montagem final do livro Ariano Suassuna - O Valor das Raízes Populares em nossa Cultura.


& & &

ARIANO

RAÍZES

POPULARES em nossa cultura

O VALOR

DAS

RAÍZES

populares EM NOSSA CULTURA Layouts de binder para o livro.

No geral, foi uma experiência muito interessante trabalhar com tantos tipos de materiais diferentes (o tecido, o kraft, o couché, o paraná), mas acredito que gerou um produto bastante competitivo, refinado mas rústico, e que oferece bastantes possibilidades em termos de mercado.

Ilustração do “hiato” que se encontra entre a guarda e a folha de rosto do livro s

O material

Ao utilizar um tecido rústico, simples e plano, abro possibilidades de escolha de toda uma gama de cor simples para cada livro da série que proponho. Por exemplo, os livros publicados sob autoria de Ariano Suassuna teriam todos uma capa de tecido vermelho-tijolo, enquanto que os de Guimarães Rosa teriam capa de couro branco batido, com o binder impresso em kraft. Em especial, foi uma dificuldade trabalhar com a impressão no papel kraft. Primeiramente porque boa parte dela foi caseira, segundo porque seu meio-tom não é regular, é granulado, i.e., vários pontos de tons aproximadamente iguais muito próximos um do outro, criando muito ruído visual. A princípio, eu utilizaria uma fonte Light para boa parte do texto para ganhar um pouco mais de flexibilidade em termos de hierarquia tipográfica, mas não foi possível, pois a legibilidade ficou prejudicada demais.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.