Nº5 ANO 1
SETEMBRO E OUTUBRO DE 2014
GRATUITO
AS COTAS NA UFRGS – 6 ANOS DEPOIS – resultados e desafios Uma análise de Edilson Nabarro, da Coordenadoria de Ações Afirmativas, sobre a implantação do sistema de cotas na UFRGS, revela o avanço na ocupação das vagas nos cursos de graduação, assim como a necessidade da expansão do direito ao ingresso no ensino superior para 40% em 2015 e 50% em 2016.
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FUTURO Daiane Moraes, do DEDS, mostra como surgiu a UFRGS enquanto um campus de ensino e como passou a fazer parte da memória e do patrimônio cultural dos porto-alegrenses e do Rio Grande do Sul.
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DICAS
EXPERIÊNCIA
COMUNIDADE
A segunda parte da aula interdisciplinar de Literatura e História sobre as leituras obrigatórias para o vestibular 2015, no Programa Convivências Restinga, estão neste número. Aproveite!
Duas trajetórias de educadores de cursinhos populares, Stéphani, do Esperança Popular e José Claudio, do Zumbi dos Palmares, revelam a responsabilidade e o prazer que vão sendo descobertos durante a caminhada.
O Restinga REDSKULLS, que tem hoje em sua equipe 50 atletas, acredita que o futebol americano é um esporte democrático que funciona como ferramenta de transformação social.
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AGENDA
EDITORIAL A Arte de Conviver em Harmonia
Pedro Felice Cladera “Na convivência, o tempo não importa. Se for um minuto, uma hora, uma vida...” Mario Quintana Conviver: “viver junto com alguém/algo, mesmo que não lhe agrade ou concorde”. A base para uma boa convivência é o respeito, algo que pude perceber durante o Programa de Extensão Convivência, no Bairro Restinga. A oportunidade de participar deste programa trouxe para minha vida uma nova forma de perceber o mundo e as pessoas que nele habitam, através do respeito, que se fez presente entre os “conviventes” - moradores da Restinga e integrantes da UFRGS. Como uma semente que se desenvolve, a ponto de tornar-se uma bela flor, a amizade entre os representantes da UFRGS, professores, técnicos, alunos e moradores da Restinga, foi aflorando e crescendo. A troca de conhecimentos veio somar na vida de cada participante deste projeto, que tem como objetivo a simples convivência e interação das pessoas. As atividades realizadas me proporcionaram, além da reflexão social, reflexões a respeito de quem eu sou, onde quero chegar e o que posso fazer para ser uma pessoa melhor. Realizei com meus amigos e colegas Daniel e José Antônio o planejamento e a apresentação de uma aula interdisciplinar com o titulo “Leituras Obrigatórias da UFRGS e seus Contextos Históricos”, o que ampliou meus horizontes como educador. Para elaboração desta aula, realizamos diversos encontros, estudamos formas de transmitir nossos saberes a respeito do assunto de uma forma simples e interativa, trazendo uma perspectiva mais participativa que não é abordada com frequência nas escolas. O aspecto da interdisciplinaridade também foi muito explorado na elaboração da aula, articulando Literatura e História. Afinal, apesar de serem duas disciplinas separadas pela escola ocidental, são saberes que andam de mãos dadas, pois para entendermos uma necessitamos respectivamente da outra. Outro fator a destacar na experiência do Convivências foi a percepção da valorização das diferenças, cotidianamente trabalhada pelo DEDS e tambem pelo Esperança Popular, o que valoriza um novo olhar a respeito da educação no país. Tal educação deve buscar a inclusão e socialização do ensino, que é direito de todo cidadão brasileiro. Quando fui convidado para realizar uma atividade no Convivências, não fazia ideia do quanto isto viria a acrescentar na minha vida, dos momentos bons que passaria, dos aprendizados para minha formação como educador e dos amigos que conheceria. Nos momentos em que estive presente, um sentimento de felicidade e amor tomavam conta do meu coração, pois tinha certeza que aquilo que estava vivenciando ficaria gravado em minha memória até o derradeiro dia de minha vida. Hoje ainda convivo... Com a saudade daqueles momentos, com a alegria pelo resultado do projeto e com o saber de que ano que vem tem mais. Obrigado DEDS! Viva a Restinga!
Te liga nessas dicas do Cursinho Pré-Vestibular Esperança Popular Restinga. Não esquece dessas datas! Anota, memoriza, copia, recorta, circula, mas não perde! VESTIBULAR 2015 – UFRGS As inscrições deverão ser realizadas exclusivamente pela internet no site www.vestibular. ufrgs.br, da zero hora do dia 15 de setembro até as 23h59 do dia 13 de outubro. O valor da inscrição é de R$ 110,00. http://www.ufrgs.br/ufrgs/noticias/ufrgs-divulga-edital-do-vestibular-2015 MINUTO ENEM -dicas para as provas 2014 http://www.ebc.com.br/educacao/2014/07/ minuto-enem-confira-dicas-em-audio-para-asprovas-de-2014 VIDEO-AULAS, SIMULADOS, DICAS PARA O ENEM E VESTIBULAR, ATUALIDADES, GUIA DE PROFISSÕES Acesse: http://guiadoestudante.abril.com.br/ VESTIBULARES 2014 – RS Acesse e fique por dentro: http://www.calendariodovestibular.com.br/category/sul/riogrande-do-sul/ Informações: http://www.ufrgs.br/deds
CURSINHO PRÉ-VESTIBUlAR ESPERANÇA POPULAR RESTINGA EDUCADORES Adriele Albuquerque Bruno Affeldt Camila Demirof Daniel Bomqueiroz Denise Santos Filipe de Zanetti Gabriel Gonzaga Gabriela de Matos Igor Bortolotti Julio Baldasso Lucas Sequeira Lucas Ebbesen Pedro Cladera Rodrigo dos Santos Saul Bastos
COMISSÃO EDITORIAL Daiane Moraes Luciane Bello Rita Camisolão DIAGRAMAÇÃO E PROJETO GRÁFICO Gregory Benes Raabe Marília Bandeira REVISÃO Nora Cinel *As matérias assinadas nesta edição são de exclusiva responsabilidade de seus autores
TÁ SABENDO DE ALGUM EVENTO LEGAL? COMPARTILHA! Envie um e-mail para o Cursinho Esperança: deds@prorext.ufrgs.br
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FUTURO
COMO A UFRGS SURGIU... A cidade de Porto Alegre no século XIX teve sua economia concentrada na região do porto, onde era o local em que se desenvolvia toda a economia da cidade. Com o crescimento e a expansão dos recursos deste século (luz elétrica, serviço de distribuição de água, criação de esgotos, utilização de carros elétricos); o centro da cidade prosperou, e era o local onde se desenvolvia toda a vida econômica, social e comercial de Porto Alegre. No centro foram criados novos prédios, novas ruas, novos estabelecimentos comerciais; e o transporte elétrico (o bonde), que estava no auge, conduzia muitas pessoas que iriam garantir o borbulhar econômico do comércio. Foi neste quadro de desenvolvimento porto-alegrense que a Escola de Engenharia foi gerada, por volta de 1896, por um grupo de engenheiros que se uniram para tal finalidade. A denominação de Escola surgiu, porque o grupo de fundadores eram adeptos às ideias positivistas, e uma delas era a favor da criação de Escolas de ensino técnico; ao contrário da proposta do império, que era fundar Universidades. O objetivo da Escola de Engenharia era incluir os cidadãos ao mercado de trabalho, oferecendo a eles uma profissão. Este objetivo de inclusão da sociedade no mercado local ganhou o apoio popular que os ajudaram na arrecadação de fundos para fazer funcionar as primeiras aulas da Escola de Engenharia. E, em 1900, foi
construído o primeiro prédio próprio (de dois pavimentos) nas terras doadas pelo governo municipal no Campo da Redenção localizado no antigo Potreiro da Várzea (o “inte-rior” do centro de Porto Alegre). Assim sendo, a Escola de Engenharia passou a formar um grupo de técnicos para atender a produção industrial gaúcha. A Escola teve como uma de suas metas o crescimento e o desenvolvimento da cidade de Porto Alegre, e consequentemente do Estado, proporcionando mão-de-obra qualificada para atender o mercado da época. Como esta meta também fazia parte das metas do governo, ele apoiou a Escola de Engenharia com recursos de orçamento estadual, para terminar de construir o prédio e ampliar as suas instalações (criação de um novo prédio na atual Rua Sarmento Leite, mon-
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Daiane Moraes
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tagem de gabinetes e laboratórios.). Já a elite da cidade estudava na Faculdade Livre de Direito, formada em 1900. Com o auxílio do governo estadual e, também do municipal, mais as doações de campanhas públicas junto à comunidade, se arrecadou recursos para a construção de um prédio próprio, na atual Avenida João Pessoa. Com mais
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esta construção, estava criada a base para a Universidade no Rio Grande do Sul, o primeiro campus universitário do País. E somente em 1934, foi fundada a Universidade de Porto Alegre, que mais tarde passou a se chamar Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Com o passar dos anos a Universidade não virou só um campus de ensino, mas passou a fazer parte da memória e do patrimônio cultural dos porto-alegrenses e do Rio Grande do Sul. Os edifícios da UFRGS ilustram duas gerações históricas e artísticas dos séculos XIX e XX, onde a primeira geração corresponde a onze edifícios construídos entre 1898 e 1928, representativos do Ecletismo e do Art Nouveau; e a segunda geração corresponde a dez edifícios construídos entre 1951 e 1964, representativos do Movimento Moderno. Esta importância histórica foi observada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, que tombou os prédios da Faculdade de Direito e do Observatório Astronômico reconhecendo-os como Bens Culturais. E os prédios do Museu da UFRGS, da Rádio da Universidade, da Faculdade de Direito, do Observatório Astronômico, do Château e do Castelinho são reconhecidos como Patrimônio Cultural do Estado do Rio Grande do Sul. -Texto baseado no trabalho de conclusão de curso de Es-
pecialização em Economia da Cultura/ UFRGS-2009 Patrimônio Histórico e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul
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CAPA
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Edilson Nabarro O Programa de Ação Afirmativa, em vigência na UFRGS desde 2008, se incorporou a um singular ciclo de políticas inclusivas adotadas por um grupo de pioneiras Universidades Federais. Superando obstáculos institucionais e vencendo barreiras de conservadorismos, a reserva de vagas para estudantes de escolas públicas e autodeclarados negros alterou de modo significativo o perfil dos ingressantes no ensino superior público, seja quanto à origem escolar, como a condição econômica. Na Universidade, a política de cotas representou do ponto de vista político, a efetivação dos compromissos institucionais revelados na forte atuação da Reitoria na aprovação da medida, agora expressa pela Decisão 134/2007, que implantou as ações afirmativas, executada em sua primeira fase no período 2008-2012. A adoção do Programa, refletiu também a consumação dos esforços reivindicatórios do movimento social, em especial do movimento negro para a formulação efetiva de políticas compensatórias no ingresso dos grupos sociais e étnicos sub-representados no ensino superior público. O percentual de 30% sobre o total das vagas destinadas a estudantes oriundos da Escola Pública e, dessas, 50% para estudantes autodeclarados negros, acompanhou a modalidade adotada pela maioria das Universidades, principalmente quanto à utilização de percentual e não outro critério compensatório.
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O relatório de avaliação 2008-2012 revelou o aumento significativo do número de egressos de escola pública entre os classificados em todos os cursos de graduação da UFRGS, pulando do percentual de 9,05% em 2007(último ingresso sem cota) para 15,51%, já em 2008. Em relação aos estudantes autodeclarados negros, esse índice foi proporcionalmente mais significativo, evoluindo dos 3,27% em 2007 para 11,03%. A avaliação dos cinco anos do Programa, em 2012 serviu de fonte estratégica para o trabalho realizado pela Comissão Especial do Conselho Universitário que elaborou a proposta de continuidade do programa, a qual redundou na aprovação da Decisão 268/2012, de agosto de 2013, sustentada pela avaliação positiva do programa. A aprovação da continuidade do Programa, além de sustentar-se, seja pelos êxitos que logrou, como pela manutenção do apoio institucional da Administração da Universidade, ocorreu imediatamente após o julgamento no STF da ADPF (Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental), onde por unanimidade dos Ministros foi admitida a constitucionalidade das Cotas Raciais, que já vinham sendo adotadas em várias Universidades. É de se considerar, que embora já haviam as condições objetivas para a aprovação da continuidade do Programa, a decisão do STF contribuiu para que no Conselho Universitário fosse destacado muito mais a avaliação dos resultados e o aperfeiçoamento do Programa do que as justificativas para sua adoção. Mantida a estrutura básica, em relação ao percentual de 30% e as cotas sociais
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com subcota racial na mesma proporção da Decisão 134/2007, vencida a proposição de cotas raciais puras e percentual de 50%, a Decisão 268/2012 trouxe como um dos seus principais avanços a extensão da vigência do Programa pelo período de 10 anos. Em se tratando de políticas destinadas a reduzir desigualdades de oportunidades a grupos sociais subAS ALTERAÇ representados no Ensino suPRODUZIDAS PEL perior público, a extensão do prazo de vigência do Progra12.711/2012, CO ma reconheceu o ainda longo caminho a ser percorrido para DISPENSA DA EXIG a expansão desses direitos. DE METADE DO EN Em outubro de 2012, o Governo Federal editou a Lei FUNDAMENTAL PO 12.711(Lei de Cotas) pa- SIDO UM DOS FAT dronizando a Reserva de VaRESPONSÁVEIS T gas de estudantes oriundos do Ensino Público para to- PELO AUMENTO DO das as Universidades e Institutos federais. Em relação RO DE INSCRITOS N ao percentual, estipulou a TIBULAR DE 2013 obrigatoriedade de que todas as Instituições Federais, dis- COMO PELO AUME ponibilizassem o mínimo de TAXA DE OCUPAÇÃ 12,5% do seu total de vagas a cada ano, de modo a que até VAGAS RESERVADA 2016, alcançassem o percen- OS AUTODECLARAD tual obrigatório de no mínimo 50% do total de vagas em GROS, COMPARAD todos os cursos de graduação. NÚMEROS DO PER Em relação ao Programa adotado na UFRGS, produziu 2008-2012. uma alteração significativa, qual seja, o direito de concorrência nos processos seletivos daqueles que tivessem completado todo o ensino médio exclusivamente em escola pública, até então na UFRGS, também era exigido metade do ensino fundamental em es-
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cola pública. O modelo de reserva de vagas adotado pela UFRGS pode ajustar-se adequadamente às exigências da Lei de Cotas por já estar atendendo dois critérios importantes: a modalidade de cota social com subcota racial e o percentual de 30% com o padrão de ingresso vigente, a não ser a inclusão do critério renda econômica e a consequente inclusão de duas noAS ALTERAÇÕES vas modalidades de ingresso DUZIDAS PELA LEI (renda inferior e superior). A 711/2012, COMO A manutenção da metade das vagas reservadas aos autoENSA DA EXIGÊNCIA declarados negros (agora PP METADE DO ENSINO – Pretos e Pardos) e indígenas, representando um perAMENTAL PODE TER centual maior do previsto O UM DOS FATORES pela Lei, relativo à participação demográfica desses PONSÁVEIS TANTO agrupamentos, demonstra AUMENTO DO NÚME- que não houve retrocesso quanto à manutenção de INSCRITOS NO VES- um percentual maior do que LAR DE 2013/2014, a própria Lei estabelece. Mesmo com as vulnerabiPELO AUMENTO DA lidades próprias para a exeDE OCUPAÇÃO DAS cução de políticas públicas específicas, o programa na S RESERVADAS PARA UFRGS 2008-2012 conTODECLARADOS NE- seguiu superar os desafios de uma política inovadora , COMPARADOS AOS diante do paradigma das EROS DO PERÍODO políticas universalistas. Iniciou o desenvolvimento de um ciclo de compro2008-2012. misso com a diversidade sociorracial e como consequência realizou o enfrentamento da matriz de conservadorismo e exclusão, ainda persistente no âmbito das comunidades universitárias, de outras organizações públicas e na sociedade em geral. Mesmo que os re-
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sultados sejam satisfatórios, trata-se, no entanto, de um estágio ainda incipiente, se considerarmos os desafios que virão pela frente, seja com a expansão do percentual da reserva de vagas, seja pela necessidade de consolidação de novos programas e ações vinculados, principalmente, às políticas de permanência dos estudantes cotistas. As alterações produzidas pela Lei 12.711/2012, como a dispensa da exigência de metade do ensino fundamental, podem ter sido um dos fatores responsáveis pelo aumento do número de inscritos no vestibular de 2013/2014, como pelo aumento da taxa de ocupação das vagas reservadas para os autodeclarados negros, comparados aos números do período 2008-2012. A tendência de baixa ocupação das vagas destinada aos estudantes autodeclarados negros, que no período 2008-2012, alcançou menos dos 50% das vagas disponíveis, foi parcialmente revertida com a aprovação pelo CEPE da Resolução, que alterou os critérios de ordem classificatória para correção da redação, passando a ter efeito direto sobre a ocupação das vagas a partir do vestibular de 2012. No curso de Medicina, até 2011 apenas 3 vagas foram ocupadas das 84 disponíveis, entretanto, nos Vestibulares de 2012, 2013 e 2014 todas as 21 vagas anuais foram ocupadas, representando um total de 63 estudantes. No curso de Direito ocorreu o mesmo efeito, onde nos vestibulares de 2013 e 2014, as 53 vagas anuais disponíveis foram ocupadas. A taxa de ocupação de 78% alcançada em 2014 mais que dobrou em relação a taxa de 2010, que foi de 32%. Em relação ao perfil da ocupação de
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vagas pelos autodeclarados negros, houve uma grande elevação dos cursos que tiveram a ocupação total das vagas reservadas aos autodeclarados negros e PPI. Se em 2010 apenas 3 cursos tiveram ocupação total, em 2012, 20 cursos, evoluindo para 28, em 2013, e 41, em 2014. Destaca-se, que entre os cursos com ocupação total, além do Direito e da Medicina já referidos, os outros que completam as listas são os de densidade alta e média, indicando a tendência dos candidatos autodeclarados negros/PPI aceitarem o desafio de ingresso e permanência em curso de maior competitividade. O critério sócio-econômico, inovação trazida pela Lei da Cotas, seccionou os egressos de escola pública e PPI (Pretos, Pardos e Indígenas) em quatro novas modalidades de concorrência no Concurso Vestibular. Os resultados alcançados até agora, principalmente relacionados com a inclusão de estudantes autodeclarados negros de escola pública, devem ser celebrados, como resultados da necessidades de políticas públicas de promoção da igualdade racial no campo da educação superior. Contudo, mesmo dentro dessa conjuntura institucional de relativa estabilidade do Programa de Ação Afirmativa vigente nas Universidades Federais, os desafios a serem superados são muitos. A expansão do percentual de vagas reservadas para 40% em 2015 e 50% em 2016 exigirá, da gestão das Universidades, bem como do Governo, a consolidação dos mecanismos de garantias da permanência dos estudantes ingressantes e que levem a sua diplomação.
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DICAS
VESTIBULAR 2015: LEITURAS OBRIGATÓRIAS
(parte 2)
Adiles Lima, Daniel Bomqueiroz, José Antônio dos Santos e Pedro Cladera
A linha de tempo com as seis últimas leituras obrigatórias para o Concurso Vestibular de 2015 estão colocadas em destaque abaixo. Inicia com Jorge Amado (1912-2001), segue com três escritores gaúchos: Lya Luft, Sérgio Faraco e Tabajara Ruas, e uma escritora portuguesa, Lídia Jorge, todos em plena produção literária. No próximo Vestibular, ainda teremos como leitura obrigatória, que deverá também se converter em “escuta obrigatória”, o disco, gravado originalmente em vinil, em 1968. Panis et Circenses é uma obra coletiva que teve a participação de Gilberto Gil, Caetano Veloso, Tom Zé, Gal Costa, Nara Leão, Capinam, Torquato Neto, Rogério Duprat e o grupo Os Mutantes. O disco marcou o início do movimento musical/cultural/político que ficou conhecido como Tropicália ou Tropicalismo. Esperamos que a linha de tempo seja um incentivo para o estudo de Literatura Brasileira e História aos estudantes do Cursinho Pré-Vestibular Esperança Popular da Restinga, Porto Alegre – RS. Jorge Amado - «Terras do sem Fim» *Disputa de Terras 1912 *Cultivo do Cacau *Ditadura Vargas/Censura 2001 *Imperialismo/Colonialismo Europeu *Ásia/África Lya Luft «As Parceiras» *Romance Intimista *1ª pessoa *FamíliaMaternidade
Sergio Faraco «Dançar Tango em POA» *Interior do RS Alegrete, *Descobertas da Infância *Mundo Urbano/Capital 25/7/1940 Final da Ditadura - 1985 *Movimentos Sociais -Movimento Negro/Movimento Gay/Movimento Mulheres Crecheiras/Movimento MST/ *Criação do PT
Lídia Jorge «A Noite das Mulheres Cantoras» * Busca pela Fama * Obsessão pelo estrelato *Talento/Falta de dizer 18/6/1946 *Globalização *Neoliberalismo - FMI *FHC/Lula/Dilma/Aécio Marina *Eleições 2014 *Internet
Santa Cruz, 15/9/1938
*Ditadura Militar -Repressão/Violência/Censura -Resistência Armada - Estudantes, Artistas, Comunistas Legalidade - Brizola/Jango(RS)
Tabajara Ruas «O Amor de Pedro Por João» *Ditadura - Exílio *Militância Política *Linguagem Cinemátográfica *Solidão/Esperança/Amor 11/8/1942 1ª Guerra Mundial - 1914-1918 2ª Guerra Mundial - 1939-1945 -Estado Novo-1930/1937/1945 «Tendências Fascistas»
Panis At Circensis Caetano Veloso, Gilberto Gil, Mutantes, Tom Zé, Gal Costa, Nara Leão, Capianan -Tropicália1968 Fraça/Brasil/Mundo *Revolução Cultural -Costumes/Música/Política/Hippies/ Comportamento/Estética/Sexual
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EXPERIÊNCIA
MENSAGEM STÉPHANI
Acervo DEDS
Stéphani Pedrotti
Engrandecedora. Talvez esta seja a palavra certa para definir a minha experiência no cursinho Esperança. Primeiramente, porque me propiciou conviver com pessoas de diferentes faixas etárias, modos de vida e costumes distintos. Também porque me trouxe uma maneira mais brilhante de enxergar o quão é essencial a presença de um professor na trajetória de um aluno. Considero o Esperança um projeto fascinante, seja pelo seu objetivo central, seja pelos membros que o compõem. E me sinto lisonjeada de - em pleno 2° semestre da faculdade de Ciências Biológicas - ter feito parte de um trabalho que visa auxiliar pessoas a realizar o
sonho de ingressar em uma faculdade. Foi ano passado, com a consagração da minha presença na equipe, que tive certeza de que desejo a profissão de professora para meu futuro, já tão próximo. E, não menos importante, fica a eterna lembrança de que minha caminhada como educadora iniciouse no Esperança Popular da Restinga. Indubitavelmente, o trabalho dos professores estudantes da UFRGS, e dos próprios alunos do cursinho tem evoluído de uma maneira visivelmente positiva, e a tendência é estar cada vez melhor. Tive o prazer de ver de perto parte deste crescimento. Por fim, agradeço ter participado desta experiência. Desejo a todos os alunos do cursinho, que, com estudo, dedicação e comprometimento consigam alcançar seu objetivo maior.
PRÉ-VESTIBULAR ZUMBI
GALERIA Espaço cultural do jornal em que iremos expor a cada edição a arte de nossos educandos e educadores, e da comunidade Os educadores do Esperança, fizeram uma aula sobre ditadura civil-militar em conjunto e propuseram um trabalho envolvendo a lei da anistia de 1979, problematizando sobre os agentes envolvidos e os interesses em jogo. As melhores produções sobre o tema serão premiadas. Compartilhamos com vocês a produção de Jean e Ingrid no https://www.facebook.com/groups/pvprestinga/
Quer que seu trabalho apareça aqui? Envie para deds@prorext.ufrgs.br
Acervo DEDS
José Claudio Garcia
Comecei a participar do projeto do cursinho pré-vestibular Zumbi dos Palmares em 1999, na Escola de Ensino Fundamental Farroupilha em Viamão, a Convite da coordenadora do curso, Enilza Garcia, permanecendo até 2001. O público alvo fazia parte de grupos sociais tradicionalmente excluídos do ensino superior (negros, moradores de áreas populares, egressos de escolas públicas), fiquei um pouco receoso de participar. Não sou professor, não
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gosto de falar em público. Mas o desafio estava proposto. Passei a dividir a disciplina de física com o colega Haroldo Nunes Vieira; fiquei com a parte de eletrodinâmica, eletrostática e eletromagnetismo em função da minha formação em Engenharia Elétrica. Me senti emocionado ao primeiro contato com os alunos. A sala cheia. Tantos adolescentes, jovens adultos reunidos, acreditando no projeto, acreditando que as pessoas à frente do curso são sérias e que aquelas aulas à noite poderiam levá-los à Universidade. Senti a responsabilidade. Ao longo das semanas, acabei conversando com a maioria dos alunos, todos com história de vida de dificul-
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dades, mas determinados a buscar seus objetivos. Naquele período em que participei do Curso, por volta de 20% dos alunos eram aprovados no vestibular e muitos retornavam ao curso como monitores, auxiliares, sempre em busca de uma tarefa na intenção de continuar participando do projeto. Foi um grande aprendizado. Até aquele momento discutia a militância no movimento social apenas no campo das ideias, embora acredite que nós, negros, nascemos militantes pelos enfrentamentos ao longo da vida. Foi a oportunidade de despertar para prática inclusive de outras lutas.
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COMUNIDADE
JUNTOS, SOMOS MAIS FORTES inicio de fato com sua fundação legal em 07 de outubro de 2012. No seu primeiro ano, venceu 4 jogos seguidos. Atualmente, é a única equipe de Futebol Americano invicta no estado. Dia 03 de Novembro de 2013 foi uma data histórica para a nossa equipe, promovendo o primeiro jogo de Futebol Americano no bairro da Restinga, contra a equipe do Carlos Barbosa Ximangos, jogo esse que foi vencido pelo
que contará com as equipes do Viamão Raptors, São Leopoldo Mustangs e Pelotas Ants, onde se espera grande público para prestigiar todos os atletas e tornar o espetáculo memorável. Este torneio também marca o fim da era “No Pads” (Sem proteção) dos jogos do Restinga, pois, em Dezembro, fará um amistoso com a equipe do Ijuí Drones, iniciando a época de jogos com proteções (Full Pads) necessárias para o esporte como capacetes e ombreiras. Hoje a equipe conta com 50 atletas no seu plantel, das mais diferentes idades, incluindo sua comissão técnica. Acreditamos que o Futebol Americano é uma excelente ferramenta de transformação social, agregando valores como companheirismo, sociabilização e integração através do esporte, sendo, entre todos os desportos coletivos, o esporte mais democrático, onde jovens altos, baixos, gordos, magros ou de diferentes cores podem dividir o mesmo espaço, tendo o mesmo valor e importância para o time. Desde já, agradecemos o seu interesse pelo Futebol Americano!
Redskulls por 56 x 7, atraindo uma média de 150 pessoas, fato inédito na comunidade para um jogo de Futebol Americano. Em Setembro, os “Caveiras”, como são chamados os atletas do Redskulls, irão defender a sua invencibilidade em um torneio que será realizado no bairro que dá nome ao time,
Fique conectado conosco! www.facebook.com/ restingaredskullsfa restingaredskulls@gmail.com Rafael Rodrigues – Presidente 55 (51) 84439162 Paulo de Tarso Pillar – Treinador 55 (51) 98502928
Acervo DEDS
A Associação Atlética Restinga Redskulls teve inicio no final de 2011, quando dois membros do time Denner Euzebio e Lucas Fonseca, avistaram algumas pessoas brincando com uma bola oval. Os mesmos já praticavam Futebol Americano em outra equipe chamada Huskies, no parque Marinha do Brasil - POA. No momento, os dois pensaram na viabilidade da prática do esporte no próprio bairro (Restinga), com alguns amigos. Com quatro amigos, idealizaram a formação de um time convidando mais pessoas a participar do grupo, resolvendo batizar o time de Porto Alegre Hasgardians. Os encontros seguiram aos domingos no campo do Pampa, na Av. Macedônia, no Bairro Restinga Nova, onde muitos curiosos observavam e ficavam curiosos, se aproximavam e alguns acabavam por aderir a causa, às vezes, momentaneamente e, às vezes, em definitivo. Após algum tempo, depois de doze membros no time, resolveram mudar o nome do time para Porto Alegre Redskulls. Nessa mesma época, o Porto Alegre Redskulls teve seu primeiro presidente e capitão da defesa Lucas Fonseca, que iniciou seu processo administrativo com a elaboração de regras, tornando séria a participação no time. No jogo em que os Porto Alegre Redskulls ganharam dos Huskies por 36 a 18, a euforia tomou conta de todos os atletas do time Redskulls prometeram que aquilo não parava por ali, que jogaríam campeonatos. Mesmo com mudanças, o time persistiu e formulou seu estatuto dando
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