Emda 2017:2

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ano 43 - Dezembro 2017- Cheshvan 5778

ISRAEL:

THE START-UP NATION


Chanucá Sameach Que as luzes de Chanucá iluminem nosso caminho e nos tragam paz, saúde e alegria.


Ariel “censura” Hara Censurar textos pouco polêmicos e ficar arrastando o Isaac.

Dan s uave Teig ficar deb Vir, fa oas. zer um a média , e va zar.

JEAN rádio MANSUR Entrar em toda e qualquer discussão possível, xingando todos aqueles que são contra sua opinião (@isoca @isaac)

Isoca mimimi Friedman Resistir contra a opressão de uma Vaadat patriarcal. #shareyourtabu

oui utus Ham Moises br lar; saindo lu ce no ficar ralelo undo pa do seu m criticar ra pa as apen tá no seu e não es aquilo qu idade. lin mascu nível de rmãos ei tr en ga #bri

Nissim marx Ourfali: polemizar na Emdá. trazer os boatos da esquerda. #dilmãe #voltaURSS

Tobão o afobado Glezer falar 300 palavras por segundo. Impossível entendê-lo. Deve ser um gênio incompreendido; caso a ser estudado.

Rafi o sionista Hamoui achar que Yom Haatzmaut > Rosh Hashaná; afinal, o sionismo é a base do judaísmo

man erger I, poli B a POL Isaac r iseta d m a c mansu vir com com @jean s ar ar seu discord gião. Observ reli t a d a sobre a V los na múscu

Mike funcionário do mês Hakim aparecer em todos compromissos da Emdá e estar disposto a fazer tudo. Afinal, o Shibutz está de olho

Ricardo cadê? Tworoger O que faz? Onde hábita? O que come? Sexta feira no globo repórter! Dica: procure no Intergraus

Editorial

uma obra em um momento único

Vaadat Emdá Roshim Ariel Hara Rafael Hamoui Integrantes Dan Teig Isabella Friedman Isaac Bergerman Jean Mansur Mike Hakim Moises Hamoui Nissim Ourfali Thomas Glezer Raphael Dayan

Os textos da revista Emdá podem apresentar opiniões pessoais que nem sempre representam opiniões da Tnuá.

Caro leitor, Apresentamos a mais nova edição da revista do nosso movimento juvenil, a Emdá. Visando torna-la mais interessante para todos que a leem, buscamos introduzir diversas novidades em relação à edições passadas, sempre mantendo a qualidade nos artigos publicados. Primeiramente, decidimos priorizar os textos em forma de debate, uma vez que notamos que estes sempre eram lidos com mais atenção e geravam maiores discussões e reflexões. Assim, criamos uma seção reservada para estes artigos, que busca trazer temas polêmicos e atuais relativos à religião e ao Estado de Israel. Sabendo que grande parte do nosso público alvo são leitores mais velhos, chegamos a conclusão de que seria interessante republicar alguns textos de emdot

antigas, o que levou a criação do que chamamos de “seção retrô”. Além disso, introduzimos textos escritos por pais de chanichim sobre seus momentos no Netzah, comparando-os com artigos escritos por bogrim atuais. Nesse exemplar você encontrará também aquilo que consideramos um dos principais destaques da revista: uma pesquisa realizada com mais de 140 chanichim e bogrim, que permite entender como pensam aqueles que fazem parte da nossa Tnuá. Outro destaque é o retorno das entrevistas para a Emdá, sendo uma delas realizada com o atual presidente do Banco Central, Ilan Goldajn. Por fim, gostaríamos de agradecer a todos que contribuíram para que essa revista se tornasse realidade. Boa leitura! Vaadat Emdá

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Sumário Editorial 1 Queridos Bogrim, 4 Palavra da Mazkirá 7 Entrevista com Ilan Goldfajn 9 NETZAH O Netzah na visão de... 13 A terra do nunca existe! 16 Tapuz 1986 18 Tapuz 2016 20 Shnat 1986 22 Shnat 2016 24 Conhechendo nossa Tnuá 26 EMDÁ Pesquisa 1990 28

RETRÔ Minha opinião 30 Relatos de um super-tapuz-netzah 32


DEBATES Elor Azaria 34 Sionismo sem religião faz sentido? 38 A diáspora é necessária? 42 Pode a Torá ser a constituição de Israel? 50 STARTUP NATION A história do milagre econômico de Israel 52 O sucesso do Waze 56 Startups Israelenses de sucesso 58 Entrevista com Michel Abadi 62 Um berço para o futuro 64 DIVERSOS Dissecando a mente nazista 66 Futebol e Sionismo 72 Israel: o país dos judeus? 78 Um espião na Síria 80 As Tnuot no Holocausto 82 Neturei Karta 84 Berço do pensamento Sionista moderno 86 Emdazinho 88


NETZAH


queridos

Bogrim,

Alex Bitterman

H

á pouco mais de três anos cheguei a São Paulo junto com a minha família com a principal tarefa de virar sheliach da Agencia Judaica para o movimento juvenil Netzah Israel. Na minha juventude tive o prazer e orgulho de ter participado da Tnuat Hanoar Hatzioni, tnuá irmã do Netzah, como chanich e madrich. Assim tive o meu primeiro contato com o Netzah, principalmente nos Machonim Continentais. Por muito tempo continuei acompanhando as atividades do Hanoar Hatzioni em Israel, mas nunca tive realmente a oportunidade de conhecer profundamente o Netzah, nem de conhecer seus desafios, dificuldades e as grandezas que dessa tnuá. A minha expectativa de chegar ao Netzah foi alimentada assim por uma mistura de algo conhecido vagamente, e com muito ainda para conhecer e pesquisar.

Agora, olhando para atrás, e depois de vários dias de peulot, hanagot, machanot, viagens e reuniões, sinto que consegui, junto com os maravilhosos bogrim que fizeram parte da tnuá na minha trajetória, levar o Netzah para frente, tentando melhorar sempre o nosso trabalho em todos os campos possíveis. Tivemos muitos obstáculos no caminho, algumas dificuldades, discussões, debates e desconfortos, mas eu tenho certeza absoluta que estes são parte saudável de todo caminho de desenvolvimento e crescimento. A tnuá sabe também se fortalecer dos momentos difíceis pelos quais ela passa, e consegue sair das dificuldades com um aprendizado maior para o futuro.

Pouco a pouco fui entendendo e conhecendo mais as diferentes faces do Netzah e a ampla gama de ativismo comunitário que a tnuá traz.

Os primeiros passos na minha chegada, além de aprender uma nova língua, foram principalmente conhecer e entender os elementos que fazem parte do Netzah: os bogrim, as vaadot, as atividades, viagens, machanot, messibot e muito mais. Pouco a pouco fui entendendo e conhecendo mais as diferentes faces do Netzah e a ampla gama de ativismo comunitário que a tnuá traz. Fiquei muito emocionado em ver o grande ativismo que os nossos jovens tem na comunidade, e paralelamente muitas vezes olhei para esses elementos com uma visão critica, mas com a intenção de poder questionar e melhorar no possível cada uma das partes que formam o “puzzle” da tnuá.

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Hoje, enquanto estou deixando o Netzah, não posso esquecer a linda e forte conexão que tem os nossos jovens com a minha casa (a casa de todos nós na verdade), Israel.

Esse constante avanço e fortalecimento é produto de uma serie de fatores envolvidos na nossa realidade, seja por meio do apoio da comunidade, do constante suporte dos pais, da linda parceria que temos com a escola, mas principalmente, ao meu ver, é devido ao principal elemento que sempre caracterizou ao Netzah: os jovens. Bogrim, madrichim, e até os mesmos chanichim sentem tamanho pertencimento e identificação com o nosso movimento, que estão dispostos a sacrificar horas e dias de lazer por atividades educativas, que investem dia e noite para poder dar um valor agregado às horas que estão com os chanichim e que tornam-se, assim, pessoas muito significativas nas vidas deles. Esse poder e grandeza que estão nas mãos dos nossos bogrim, pelo qual eles conseguem adquirir uma experiencia de vida inquestionável, e em que eles se veem obrigados a adquirir responsabilidades na vida de crianças e jovens na comunidade, é o que faz com que o Netzah seja um movimento gigante. Hoje, enquanto estou deixando o Netzah, não posso esquecer a linda e forte conexão que tem os nossos jovens com a minha casa (a casa de todos nós na verdade), Israel. Em momentos de alegrias e de crise os nossos jovens sempre estiveram presentes, apoiando, defendendo, se interessando, opinando, construindo e em vários casos fazendo uma diferença ativa em Israel, seja como estudantes temporários nas universidades, ou seja como Olim Chadashim. Esta conexão com Israel, faz parte de um dos nossos pilares na tnuá, e como sheliach é muito gratificante ver que o sentimento de patriotismo e sionismo estão vivos e presentes apesar da distância.

Diversas vezes na tnuá são ouvidas diferentes vozes referentes à Israel, seja no âmbito político, religioso, étnico, e até econômico, sendo parte da grande gama de opiniões que também existem na própria sociedade israelense. Acredito que toda essa diversidade de opiniões faz parte de uma vida saudável, em que possamos debater, discutir e questionar para juntos poder construir, sempre pensando na importância da existência deste país especial - Medinat Israel - que hoje faz parta da nossa identidade como judeus. Tendo por trás esta maravilhosa experiencia, volto à Israel muito orgulhoso de ter sido parte de este marco educativo tão especial, e que faz parte significativa de muitos dos jovens na comunidade, e a partir de agora também faz parte de mim. Graças a D’us vou continuar fazendo parte desta família, como novo Diretor de América Latina no Hanoar Hatzioni em Israel, e não só vai ser um prazer poder continuar ajudando ao Netzah, mas também e principalmente vai ser um orgulho poder representar essa tnuá e toda a sua grandeza no Hanoar Hatzioni. Chaverim, agradeço profundamente a todos os que fizeram parte de esta inesquecível experiencia e que me acompanharam ao longo do caminho. Desejo muitos sucesso à todos e tomara, B´H, que a tnuá continue expandindo os limites, crescendo e sendo um marco significativo para todos. Chazak Ve´ematz!

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palavra da

Mazkirá... Deborah Dayan

É

possível descrever esse semestre no Netzah com apenas três palavras: diversão, eficiência e continuidade. Passamos por um período conturbado no último ano, com diversas mudanças dentro do Netzah, com as quais algumas ainda estamos nos adaptando. No entanto, em meio a essas transformações, foi possível identificar um notável aumento no comprometimento e união dos madrichim e chanichim dentro da tnuá. Nesses últimos seis meses passamos por um momento de tranquilidade, sem grandes polêmicas, possibilitando que voltemos nosso foco para as peulot e projetos dentro do Netzah.

Por fim, é possível afirmar que esse semestre foi significativo para a continuidade do Netzah. Durante esses meses, refletimos muito sobre os problemas dentro do Netzah, questionando os pressupostos pré-estabelecidos e repensando nossa organização. Os olhos estavam sempre voltados para a formação interna da tnuá, na procura de fortificar a estrutura que temos a mais de 40 anos e modernizá-la para o momento atual. Um exemplo é o recente debate sobre o futuro do cargo de Rosh Chutz (relacionamento externo do Netzah com outras tnuot), que ainda está em pauta. Esse período de mudanças e reflexões que passamos ajuda a fortificar a identidade dentro do Netzah, garantindo que cada Boguer e Chanich seja representado e pertença à tnuá.

Como dito, uma das palavras que descrevem esse semestre é diversão. Coloco como primeira pois acredito que são os momentos compartilhados entre amigos no Netzah que motivam os madrichim a darem peulot e os chanichim a participarem da tnuá. Assim chegamos à eficiência. Por conta do trabalho e comprometimento de todos os Bogrim, atingimos números excelentes de chanichim na tnuá. Chegamos a 360 chanichim em peulot de sábado e 327 nas machanot. Levamos uma kvutzá de 47 chanichim para o Majon e para o Tapuz. Obtivemos resultados inigualáveis não somente na quantidade, mas também na qualidade. Posso dizer com toda certeza que nunca presenciei uma machané com feedbacks tão positivos como a desse semestre. Bogrim motivados, empolgados e dando tudo de si para proporcionar os melhores 5 dias para seus chanichim. E como resultado disso, muita diversão e transmissão de conhecimento entre madrichim e chanichim.

Obtivemos resultados inigualáveis não somente na quantidade, mas também na qualidade. emdá 7


De acordo com essa onda de modernização, temos a adaptação com a nossa nova casa, que está, pouco a pouco, tomando forma com a “cara” do Netzah. O novo espaço físico proporcionou imensas possibilidades, que levaram a repensar a forma de dar peulot. Não estamos mais limitados ao espaço de uma sala por kvutzá, e as possibilidades são infinitas. Isso incentivou a criatividade e acostumou os Madrichim a pensarem “fora da caixa” e mudar as clássicas metodologias utilizadas.

De acordo com essa onda de modernização, temos a adaptação com a nossa nova casa, que está, pouco a pouco, tomando forma com a “cara” do Netzah.

Termino aqui um ano de Mazkirut no Netzah e acredito estar deixando o cargo em boas mãos. A continuidade do Netzah depende dos atuais e futuros Bogrim, que devem se empenhar e se comprometer para manter Não seria possível finalizar este texto sem fa- essa máquina de educação e diversão funciolar sobre a grande mudança que está à nossa nando. Façam do Netzah uma segunda (ou frente. Após 4 anos de dedicação, carinho e até primeira para alguns) casa. Discutam, algumas broncas quando necessário, nos des- mudem, melhorem. Acredito que o Netzah ainda tem um longo futuro pela frente e pode pedimos do Sheliach que nos acompanhou crescer cada vez mais. Vamos trabalhar para por tanto tempo. O Sheliach que, dependengarantir que esse lugar mágico esteja presendo do momento, é um pai ou um general do Tzahal; que corre todos os dias as 5 da mate por mais muitas gerações. nhã, e ameaça acordar os Bogrim junto em toda machané; que não perde a oportunidade de um discurso; que está sempre presente nos eventos, viagens e momentos que passamos; que sempre tem a “voz da razão”; que ama o Netzah assim como amamos ele. Alex, vamos sentir muito a sua falta, e em nome de todos os Bogrim, te desejamos boa sorte no seu caminho daqui para frente!

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ENTREVISTA com o Presidente

do banco central

SR. ILAN GOLDFAJN

EMDÁ: O senhor é um dos grandes economistas judeus. A que atribui o sucesso do nosso povo nessa área? SR. ILAN GOLDFAJN: Não sei se sou um dos grandes economistas judeus. Há muitos economistas judeus famosos: Alan Greenspan, Ben Bernanke, Stanley Fischer - esses os americanos, mas há no mundo todo. Em Israel temos vários prêmios Nobel. Para ser considerado um grande economista judeu tem que ser grande mesmo, ganhar prêmio Nobel. Não é o caso!

Não apenas em economia, mas no geral, esse sucesso se deve à nossa ênfase no estudo. O judeu sempre deu muita importância ao ato de estudar, ao livro e ao conhecimento. Somos menos presos à terra e mais ao conhecimento, e é o conhecimento que leva ao sucesso nesse tipo de área.

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ao Supremo Tribuna Federal. Há várias formas de ir de um

Como o senhor se sente sobre ter setor para o outro, então se for possível experimentar, é nascido em Israel? Qual é seu senti- bastante válido. mento em relação ao país? Bom, tenho uma grande ligação com Israel. O senhor acredita que o pior momento da crise no Brasil já passou? Há perspectivas de Parte da minha família mora lá: meus pais, mimelhora a curto prazo? nha irmã, sobrinhos. Vivi parte da minha vida no país, e ainda possuo bastante contato. Então isso gera uma proximidade, com certeza.

Como o senhor avalia a saída do setor privado para o público?

Já saí diversas vezes do setor privado para público, do público para o privado, da academia para o mercado financeiro... Acredito que, para quem tem a chance, o importante seja fazer de tudo. No setor privado é possível adquirir experiência, ter contato com a inovação; no setor público, pode-se contribuir mais com a sociedade e fazer algo mais geral. Para os jovens de hoje, acho que vale a pena ter essa combinação entre todos os setores. Não conseguimos fazer de tudo ao mesmo tempo, mas dado que atualmente as carreiras são muito mais flexíveis que no passado, é possível experimentar diversos locais de trabalho, e não passar a vida inteira no mesmo setor. Quando eu falo em setor público não quero dizer necessariamente o Banco Central, onde estou trabalhando; pode-se, por exemplo, participar de uma ONG, ser advogado da Procuradoria, tentar ser advogado da União há advogados judeus que chegaram inclusive 10 emdá

Acho que sim, há sempre perspectivas de melhora. Nós tivemos dois anos de recessão, mas temos visto que a economia se estabilizou e há evidências de que pode haver uma recuperação gradual. Então sim, há porque ter esperança. Mais do que os resultados, a maior esperança é o fato de as políticas, agora, estarem na direção correta. Estão sendo feitas reformas que podem levar mais tempo, mas pelo menos sabemos que estamos indo no caminho certo. Posso dizer que essa é a fonte de maior otimismo.

Sobre seu período de estudos no MIT (Massachusetts Institute of Technology): como isso o ajudou na carreira? O senhor acredita que um período no exterior é fundamental na vida de um jovem?

É bastante válido passar um tempo estudando no exterior para entender o que é relevante no mundo todo, e não só no Brasil. Há muita coisa específica ao Brasil. Então, se for possível sair em algum momento, acredito que seja importante. Não precisa necessariamente ser logo após a conclusão da Escola: pode-se fazer faculdade no Brasil e depois mestrado no exterior, ou fazer faculdade e mestrado aqui e depois ir para o exterior trabalhar por um tempo. Ao meu ver, trabalhar um tempo lá fora é algo bem interessante. Vale muito a pena conhecer como é o mundo, e não ficar só preso ao que temos aqui no Brasil.


Sempre digo que o maior conselho não é obrigatoriamente ir atrás da genialidade. O que faz a diferença na faculdade e na carreira, na minha opinião, é o foco e a persistência.

Nossa comunidade possui diversos alunos de economia e administração que almejam alcançar sucesso no mercado financeiro. Que conselho o senhor daria para eles nesse início de carreira?

Sempre digo que o maior conselho não é obrigatoriamente ir atrás da genialidade. O que faz a diferença na faculdade e na carreira, na minha opinião, é o foco e a persistência. Não desistir, ter vontade e buscar por onde. Se der errado, e algo vai dar errado inevitavelmente para todos nós, é preciso voltar atrás e tentar de novo. É isso que vai fazer a diferença, tanto no mercado financeiro quanto em economia, administração, ou em qualquer carreira que vocês venham a seguir. O importante é ter foco, gostar do que está fazendo, persistir e não desistir. Isso é muito mais importante do que qualquer vocação ou genialidade que alguém tenha e o outro não. Precisamos de mais trabalho persistente, e não necessariamente de genialidade.

Apesar de não ser uma ideia tão nova, os bitcoins ficaram em evidência após os recentes ciberataques e despertaram interesse no mundo inteiro. Sendo um sistema independente, nem privado nem governamental, o bitcoin é uma ameaça real ao sistema econômico mundial? Se sim, qual seria a estratégia para evitar novos ataques?

Estamos ficando cada vez mais digitalizados: cada vez mais tudo passa pela internet, e temos cada vez menos coisas físicas - seja documentos, seja dinheiro. Portanto, a maior ameaça já não é mais ter dinheiro ou um documento importante roubado na rua como no passado. O grande risco hoje é que as informações que nos organizam - como registros de contas bancárias, transações e imóveis – estão na nuvem virtual, e essa ideia de nuvem nos dá a impressão de que tudo que temos vai desaparecer se houver um ataque cibernético. A linha de defesa é justamente evitar que hajam invasões nos sistemas onde se tem muita informação armazenada. São registros que é preciso proteger, e é por isso que os ataques cibernéticos tem preocupado todos os Bancos Centrais e governos do mundo. Já o bitcoin é uma moeda digital privada, cujo grande benefício é a tecnologia criada para garantir que esse sistema funcionasse. A ideia é registrar todas as transferências realizadas, com informações sobre quem esteve envolvido na operação e o momento em que ela ocorreu. Assim, é possível saber todas as transações que foram feitas com cada bitcoin. Se isso fosse aplicado no sistema econômico mundial, seria uma tecnologia muito poderosa. O papel moeda atualmente funciona pois todos acreditam que aquilo tem um valor real; o governo garante credibilidade. Já para o bitcoin, essa tecnologia da a credibilidade, uma vez que todas as transações de cada moeda estão devidamente registradas. É algo que ainda dará muitos frutos no futuro.

São duas perguntas distintas: uma diz respeito à ataques cibernéticos, e outra diz respeito ao bitcoin. Não é quem inventou e usa o bitcoin que está realizando os ataques cibernéticos pelo mundo.

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Por ser judeu, você sentiu o antissemitismo presente ao longo de sua carreira?

O momento em que mais senti o antissemitismo foi recentemente, após a nomeação para o Banco Central. Em momentos delicados como esse, as pessoas criticam nem sempre pelas suas qualidades ou por algo que você tenha feito. Haviam duas críticas principais: uma por eu ter vindo do banco Itaú, e outra por ter nascido em Israel. Você imaginaria que nenhuma das duas tem nenhum sentido. Todavia, como não havia tanta razão em atacar outros quesitos, passaram a me criticar por isso. Esses ataques nunca desaparecem totalmente, por estar ocupando um cargo público, mas acredito que vão “morrendo” ao longo do tempo.

Quanto da crise e das tensões políticas atrapalham os rumos da nossa economia, e quais são os maiores desafios nos próximos anos?

Todos os riscos e incertezas da economia acabam influenciando não só o Banco Central, mas todo o pais. Um empresário que deseja investir, por exemplo, não pode fazê-lo por um período curto de três meses; um investimento deve durar anos. Para isso, é necessário um mínimo de estabilidade, que o país tem de oferecer ao bem público. É a ideia do juiz de futebol: o governo é o juiz que precisa garantir que todos sigam as “regras do jogo”. Se isso ocorrer, haverão menos faltas, e assim é possível ter mais qualidade; começam a aparecer alguns “Neymar da vida” fazendo dribles geniais 12 emdá

O governo, entretanto, não é o lugar de dribles geniais: o governo tem de ser juiz para dar estabilidade. Uma vez que há estabilidade, se gera mais investimento. Se houver muita incerteza, se ficarmos trocando de juiz a cada quinze minutos, garanto que o “jogo” não vai ser bom. Não vai funcionar. Essa estabilidade política e de manutenção da “regra do jogo” é uma que é precisamos garantir.


O Netzah: na visão de... UM CHANICH

P

ara começar, eu gosto do Netzah porque todos que estamos lá nos conhecemos ou da sinagoga ou da escola, enfim, todos somos judeus. Nele também conheci amigos novos (diferentes escolas) que ficam para o resto das nossas vidas. O Shabat é um dia em que não se tem muito o que fazer, muita coisa que fazemos no nosso cotidiano (dia a dia) não podemos fazer nesse dia. Mas, com o Netzah, nem parece que não tem muito para fazer no Shabat porque ficamos lá duas horas nos divertindo, brincando, conversando, fazendo peolot, etc. Para mim o Netzah é diferente de qualquer outro lugar porque os madrichim não são iguais a monitores ou iguais aos pais, eles são diferentes, são mais legais, então, fazemos coisas que deixam esse lugar único. A Machané é uma coisa que para mim deixa o Netzah mais legal ainda, porque lá acontecem coisas muito loucas, ficamos cinco dias só com os amigos jogando bola, tendo peolot muito diferentes, como jogo da meleca, ataque, etc. Os temas das peolot são sempre um ensinamento para nossas vidas, contando algo sobre o judaísmo ou sionismo. Madrichim não são monitores chatos que nunca vi na vida, são pessoas da nossa comunidade que já conhecemos muitas vezes e que às vezes não são só madrichim, às vezes já viraram amigos. Jack Kattan, Chanich Tzofim B’

UM EX-BOGUER Pediram-me para escrever uma carta sobre o que o Netzah representou para mim e o que significa hoje. Confesso que tenho alguma dificuldade para colocar meus sentimentos em palavras, mas, vou tentar...

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Um dia, no ano de 1974, meus pais me disseram que a sinagoga Beit Yaacov havia criado um movimento juvenil que iria reunir uma moçada todos os sábados. Eu estudava no Liceu Pasteur e não tinha a mínima ideia do que era um movimento juvenil. Mesmo assim, decidi descobrir o que era aquela novidade. No dia marcado fui até a sinagoga na Bela Cintra. Tudo ia acontecer nas salas onde rolavam as aulas de Talmud Torá. Havia um monte de gente que eu não conhecia e uns caras mais velhos que se autodenominavam madrichim. Eles nos explicaram o que era um movimento juvenil e todo o sonho que fazia parte da imaginação deles. Pois bem, esse sonho foi tomando corpo e passou a fazer parte da minha vida. A participação de novos chanichim não parou de aumentar. Conheci muita gente e fiz uma quantidade de amizades que eu nunca imaginaria ter.

Lembro-me da Machané de Barracas. Dormimos em barracas e aprendemos a trabalhar a terra e plantar. Nós também cozinhávamos. À noite acendíamos a fogueira depois das atividades e ficávamos tocando violão e cantando... Por alguns dias vivenciamos o kibutz e seus ideais... Depois, veio a primeira messibá, a primeira viagem a Israel, o intertnuot e as brigas. E, verdade, naquele tempo já tinha quebra-pau. Mas, no fundo, o que realmente importa é que foi-se criando a importância de participar do mundo judaico, do apoio e defesa de Israel, da conscientização da juventude e da perpetuação desses valores.

E então, de repente, se passaram mais 30 anos desde que eu saí do Netzah. Hoje me encho de orgulho ao ver meus filhos e os filhos dos amigos daquela época participando ativamente de diversas atividades comunitárias e retransmitindo os mesmos valores que incorporaVieram as primeiras machanot. Eram muito diferentes das atuais. mos desde a criação do Netzah. Íamos para sítios distantes, sem Simon Menache, ex-boguer segurança, sem enfermeira, a cozinheira era do próprio sítio e eram os madrichim que compra- *Texto lido na última peola da Machané de Tnuá de Bonim B’ vam a comida. Tudo acontecia “na raça”. 14 emdá

Mas, no fundo, o que realmente importa é que foi-se criando a importância de participar do mundo judaico, do apoio e defesa de Israel, da conscientização da juventude e da perpetuação desses valores.


Jaky, Lina Diwan e Filhos parabenizam o NETZAH por esses

43 anos

de sucessos e realizações

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A TERRA DO NUNCA existe! Joel Konig ex-boguer

Você conhece a história de Peter Pan? Aquele garoto que não queria crescer e ficar mais velho, que vivia na Terra do Nunca? Lá, onde as crianças jamais envelheciam, eram felizes e viviam aventuras maravilhosas. Podiam até voar, desde que tivessem bons pensamentos. A personagem é caracterizada por ter sempre um sorriso estampado em sua cara, demonstrando explicitamente uma alegria imensurável a cada segundo vivido. Suas aventuras são repletas de uma harmonia sem igual, tudo movido por sua felicidade. Há também o temível Capitão Gancho, vilão que persegue Peter Pan, simplesmente por invejar sua alegria. O pirata não consegue conviver com a idéia de que o menino pode ser tão próspero e ele tão infeliz. Enquanto o herói se diverte, Gancho é constantemente perseguido pelo crocodilo Tic-Tac, responsável pela perda de sua mão.

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A

historia de Peter Pan é, na verdade, uma perfeita analogia para a nossa vida!

Haverá muitos “Capitães Gancho” que simplesmente não compreendem ou não aceitam o nosso bom humor. Dedicam mais tempo para julgar nossas atitudes do que para melhorar seu comportamento, em busca da própria felicidade. Eles querem o que temos, para se compararem ou se sobressaírem a outras pessoas. Assim como o pirata, não possuem bons pensamentos ou alegria em suas vidas e também não tentam conseguir de uma maneira saudável. Outro elemento do enredo que será um grande inimigo é o tempo. Da mesma forma que há o crocodilo Tic-Tac perseguindo Gancho, também correremos constantemente por conta do relógio. Corremos para realizar nossas atividades do trabalho, da escola, da faculdade e etc. O ser humano é um escravo do tempo.

Os ponteiros controlam tudo, não temos tempo a perder... Então como seguir o conselho de Peter Pan e ser feliz acima de tudo? Como conseguir sorrir sabendo que os Ganchos e Crocodilos estão constantemente nos ameaçando? Simples. Vá a Terra do Nunca! Não, eu não enlouqueci e isso não é uma metáfora! Nós somos as crianças perdidas da vida real! Temos o privilegio de pertencer a algo maior do que qualquer filme poderia descrever: O NETZAH! Lá podemos fugir da realidade e ser eternamente jovens! Naquele lugar mágico vivemos as aventuras mais maravilhosas de nossas vidas, nos divertindo e rindo a toa! É o lugar em que, de fato, somos felizes! Mesmo que envelheçamos fisicamente, lá aprenderemos a nos manter jovens, curtindo a vida com alegria


e bom humor! Lá realizamos a maioria de nossos sonhos! No Netzah esquecemos de todas as nossas obrigações rotineiras e superamos as imposições do relógio. Conseguimos deixar de ser escravos dos ponteiros, para então controla-los. Somos senhores do tempo, provando que temos o poder de ser livres. É na nossa Terra do Nunca que conseguimos voar e ir além de nossos limites, medos e inseguranças. Somos capazes de não crescer, mas ao mesmo tempo aprender e melhorar cada vez mais. Cada segundo vivido lá deve ser aproveitado em máxima intensidade, e cabe a cada um de nós julgarmos qual a melhor forma de usufruir todo instante.

A todos aqueles que chegam ao fim do ciclo, e despedem-se nesse semestre, lembre-se que o Netzah é contínuo e nunca acaba. A Terra do Nunca estará sempre lá para vocês e, além disso, estará sempre dentro de vocês, implícita na sua personalidade. Obrigado por tudo que fizeram para manter a magia do nosso paraíso! Vocês jamais serão esquecidos pelo que fizeram!

É na nossa Terra do Nunca que conseguimos voar e ir além de nossos limites, medos e inseguranças. Somos capazes de não crescer, mas ao mesmo tempo aprender e melhorar cada vez mais.

Carreguem o nosso hino com vocês para toda a vida. “Deixem o sol raiar todas as manhãs Deixem o vento soprar entre as montanhas Deixem-nos, Deixem-nos Ser eternamente jovens” Chazak Ve’ematz!

Portanto, deixo o seguinte conselho a todos: Dediquem muito tempo ao nosso paraíso! Vivam da maneira mais intensa que puderem a Terra do Nunca na Rua Bahia. É conhecido que o ser humano dá mais valor a algo quando o perde. Não esperem que o Netzah acabe para darem conta da importância que ele tem em sua vida.

* texto escrito originalmente em junho de 2012.

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TAPUZ

1986 Henry Ourfali ex-boguer

Meu Tapuz foi em dezembro de 1986. Nessa época, ele durava mais ou menos 60 dias. Era inverno em Israel e pudemos conhecer o país por completo. Ficamos três semanas no Kibutz Tel Itzchak, cada um se dividindo nos trabalhos disponíveis. Eu trabalhei na plantação de mandarina e também na fábrica de cola. Os piores trabalhos eram na cozinha e também no Gan (para os meninos…).

N

o kibutz havia vários voluntários de outros países que vinham conhecer a experiência de kibutz em Israel. Tinha jovens da Suécia, Dinamarca, etc. Foi bem legal a integração com eles, muitos não eram judeus e vinham conhecer a experiência socialista de Israel. Na fábrica de cola meu trabalho era encher tubos de cola industrial e colocar nas caixas que iam ser vendidas. Podem imaginar a bagunça que a gente fazia… Ficamos uma semana no norte e outra semana no sul, fazendo vários passeios. Lembro que fomos ao Monte Hermon e no mesmo dia nadamos no Kineret, para ver as diferenças de temperatura num país tão pequeno. Nos 18 emdá

passeios a comida era levada no ônibus e quase sempre comíamos sanduíche de shnitzel e tiras (frango empanado e milho). Ficamos também em Massuã, que é um seminário em Tel Itzchak, onde fazíamos estudos em geral. Tivemos várias peulot, cursos, palestras com soldados e sobreviventes do Holocausto. Fizemos uma semana de Gadná, na qual treinamos muito. Tínhamos que correr o tempo todo e nas palestras sobre armas não se podia dormir de jeito nenhum. Apesar de todas as bagunças, no último dia pudemos atirar com M-16, foi uma experiência incrível.


Nosso Tapuz foi marcante em vários aspectos, nossa kvutza cresceu muito e o grupo se integrou demais. Até hoje nos lembramos das histórias e das piadas daquela época.

Para muitos de nós era a primeira vez em Israel e na primeira visita ao Kotel lembro de várias pessoas bastante emocionadas, foi um momento muito especial. No primeiro dia do Tapuz, os madrichim nos explicaram sobre chefetz hashud, ou “objeto suspeito”, que deveríamos ter cuidado com objetos abandonados, que poderiam ser bombas. Estávamos andando na cidade velha quando encontramos uma mala na frente de uma casa, mas como tinha gente por perto, não demos muita importância. Continuamos andando e de repente… BUUUUMMMM! Todos saíram correndo, cada um para o seu lado, mas na verdade foi só o portão batendo na hora de fechar. Rimos disso o Tapuz inteiro! Durante o Tapuz, tivemos três fins de semanas livres, em que cada um podia ir à casa da família. No primeiro fui à casa dos meus avós em Bat Yam, no segundo fui à casa dos meus tios e levei alguns amigos junto,

onde comemos e dormimos até não poder mais… No terceiro fim de semana, resolvemos ir com alguns amigos pra Yerushalaim e ficamos num hotel na cidade velha. Fomos para o Kotel sexta à noite esperando arrumar algum lugar para jantar na hora. Acabamos na casa de um rabino e ficamos nos fazendo de antirreligiosos para ver como ele iria nos convencer da religião. Foi muito interessante! Nosso Tapuz foi marcante em vários aspectos, nossa kvutza cresceu muito e o grupo se integrou demais. Até hoje nos lembramos das histórias e das piadas daquela época. Com certeza foi uma viagem incrível e hoje é um prazer mandar meus filhos para viver essa experiência. Valeu, Netzah!

emdá 19


TAPUZ

2016

Stephanie Sassoun e Joyce Cohen (Bonim B’ 2016)

Durante nossas vidas, passamos por várias experiências, sendo algumas delas mais marcantes. No Netzah, os chanichim, em seu último ano, têm a oportunidade de participar de uma viagem incrível a Israel, o Tapuz, que, com certeza, é a viagem mais falada e esperada por todos. Acontece durante um mês inteiro na Terra Santa, em que se desfrutam de várias atividades junto de nossa kvutza, fortalecendo nosso sentimento sionista e reforçando nosso aprendizado durante o ciclo no Netzah.

A

companhados de cinco madrichim, do sheliach da tnuá Alex Bitterman e do guia Kobi Abekasis, tivemos a oportunidade de presenciar um pouco de cada parte do Estado. Logo que chegamos, fomos direto à Cidade Santa, Jerusalém, onde visitamos o lugar mais sagrado para o povo judeu, o Kotel. Este foi o início de uma viagem que nos reservava muito conhecimento e diversas experiências novas. Entre elas, um caça ao tesouro, atividade organizada pelos madrichim em volta de toda a cidade à noite. Divididos em grupos, seguíamos espalhadas pela cidade e necessitávamos nos deslocar de diversas maneiras, como trem, ônibus, táxi, a pé ou do jeito que era mais viável na pressão do momento. Além de chegar ao destino final e ganhar o 20 emdá


Como em toda viagem, existe um começo, meio e fim. Passamos nosso último momento no Kotel, onde nos reunimos, como da primeira vez, para refletir sobre nosso engrandecimento durante todo o percurso.

afora, o que possibilitou maior interação entre as pessoas da kvutzá. Inclusive, visitamos os arredores da cidade, como Yaffo, Tzfat e Haifa, cidades bonitas que contém muita história. prêmio, foi uma forma de nos mostrar como em Israel o sentimento de segurança e liberdade é diferente em relação ao Brasil, onde vivemos sob constante medo e violência. Em seguida, fomos ao sul, ao Deserto do Neguev e para a base de Sde Boker, onde tivemos quatro dias de Gadná. Lá, pudemos aprender como é o dia a dia de um soldado no Tzahal (Exército de Israel) e a trabalhar em equipe. Também, manuseamos uma arma e vivenciamos como um soldado se porta perante seu mefaked (chefe). Foi um dos momentos mais importantes da viagem, porque experimentamos uma das obrigações de todo cidadão israelense ao completar 18 anos. Passamos o Shabat em Tel Aviv e participamos da grande guerra de água que ocorre no verão na cidade. Esse evento nos mostrou como as diferenças são deixadas de lado quando o assunto é diversão. Diferente de Jerusalém, Tel Aviv é uma cidade menos religiosa. Nela, bastante movimentada, visitamos kibutzim e museus e participamos de uma atividade com a Hanoar Hatzioni mundial. Além disso, encontramos com uma comunidade de etíopes – parte de nossa origem resgatada de um país africano, que estava sob ameaça do desaparecimento –, quando fizemos atividades com as crianças. Também dormimos uma noite em barracas, cozinhando para nós mesmos e usufruindo da natureza para as nossas necessidades no tal “Dia da Sobrevivência”. No lugar, no meio da mata, não havia sinal e, portanto, estávamos desligados completamente do mundo

Ao fim da viagem, fomos para um dos pontos mais quentes do país, Eilat. Para muitos, o lugar mais divertido, uma vez que fomos às praias, ao Mar Morto e tivemos um dia em um barco para nos distrair e relaxar. Nas noites, íamos para a Tayelet, um dos pontos principais da cidade. Seguimos para Tel Aviv novamente para passar o Shabat e depois voltamos a Jerusalém, a fim de encerrar a viagem. Como em toda viagem, existe um começo, meio e fim. Passamos nosso último momento no Kotel, onde nos reunimos, como da primeira vez, para refletir sobre nosso engrandecimento durante todo o percurso. Foi quando percebemos quanto estávamos unidos como kvutzá, o que não esperávamos, posto que nela não havia um laço de amizade bem definido. Além disso, tornamo-nos mais sionistas e amadurecemos como judeus, tendo orgulho de fazer parte de um povo repleto de valores morais e afetividade. emdá 21


SHNAT

1986

Rafi Nasser ex-boguer.

Em julho de 1986, poucos dias depois de o Brasil ser desclassificado pela França na Copa do Mundo, fui para Israel, juntamente com o Ariel (‘Chefão’) Hamoui , passar os sete meses mais impactantes de minha juventude.

O

programa era constituído de dois meses no Kibutz Ein Hashlosa e quatro meses no Machon LeMadrichim, em Jerusalém. Bem, começamos pelo kibutz. Sem dúvida nenhuma foi uma experiência bem interessante. Trabalhar vacinando perus ou nas plantações de algodão no Neguev não é algo costumeiro ou que fazia parte de nosso dia a dia. Isso, claro, sem deixar de lado a piscina e o campo de futebol do kibutz e o contato com o pessoal do Hanoar Hatzioni. Antes do Machon, passamos uma semana em Massuã, ao lado do Kibutz Tel Itzhak, num seminário junto ao pessoal do Hanoar Hatzioni sobre o Holocausto. Lembro que esse programa foi de altíssimo nível. Entretanto, o melhor de tudo estava por vir: os quatro meses que passamos no Machon LeMadrichim em Jerusalém. Era tudo de bom! Primeiro, por estar em Jerusalém. O programa era de altíssimo nível, estudávamos mesmo, e até altas horas da noite. 22 emdá

A convivência com o pessoal de outras tnuot - do Brasil e da América Latina - era espetacular. Conviver com pessoas diferentes, de lugares diferentes, que viviam o judaísmo de uma maneira diferente da nossa, que enxergavam o mundo também de uma maneira não exatamente igual à nossa, mas que, assim como nós, tinham Israel no centro de suas vidas, é indescritível. Fizemos muitos amigos, com os quais nos correspondemos por longos anos (naquela época era carta, não existia celular e nem e-mail). Com certeza voltei para o Brasil diferente, conhecendo outras realidades e cheio de vontade de me dedicar à Tnua e à comunidade em geral. Sem dúvidas, esse tempo que passei em Israel ajudou a moldar a minha personalidade e a minha atuação comunitária. Indico essa vivência a todos os jovens. Não é perder um ano em sua vida, mas ganhar conhecimentos e experiências que irão acompanhar você pelo resto de sua vida..


emdรก 23


SHNAT

2016 Rafael Dayan Madrich Amelim G

Um ano longe de casa (ou melhor, em casa) e milhares de experiências vividas. Muitas vezes escutei que a melhor forma de adquirir conhecimento é viajando, vendo as coisas com os próprios olhos ao invés de apenas escutar sobre elas. Foi nesse fundamento em que me baseei para viver o melhor ano da minha vida.

24 emdá

I

niciamos o ano em quatro representantes do Netzah em Israel e logo fomos ao Machon LeMadrichim, um curso de quatro meses que forma líderes comunitários do mundo todo desde 1946 – data anterior ao estabelecimento do Estado de Israel. Lá, tivemos aulas dos mais diversos assuntos que podem ser úteis a um madrich, desde história da Shoá até tomada de decisão no cotidiano. Posso dizer que minha maior dúvida nesse período era determinar a razão principal de estar ali e não em um curso de administração de empresas na Universidade de Tel Aviv... Na minha opinião, o que eu aprendi no Machon foi fundamental para formar meus verdadeiros ideias: o que eu quero para meu futuro, e não como vou conseguir ganhar dinheiro. Claro, aprendizado em sala de aula é fundamental, só que este posso ter na universidade enquanto estou em São Paulo. No entanto, conhecer um herói da Guerra dos Seis Dias ou ter um bate-papo com um líder de um partido israelense pode agregar ao meu futuro de uma maneira diferenciada.

Uma das maiores experiências que o Machon me ofereceu foi passar Yom Hazikaron em Jerusalém, no Har Herzl (cemitério militar). Sim, sabemos que muitas pessoas na nossa terra já sofreram com perdas de familiares em razões de guerra, mas a proximidade desse fato com toda a população é surpreendente. O país inteiro se mobiliza pelos caídos em guerra. Logo que terminou o Machon, começou a Marvá. Neste momento, todavia, estávamos apenas em dois shnateiros: a outra metade optou por fazer só o primeiro semestre. Outra vez, posso afirmar que viver a experiência vale muito mais do que simplesmente aprender em peulot. Só de colocar o uniforme do Tzahal e acordar às cinco da manhã já vale muito. Uma vez, estávamos saindo da base para passar o fim de semana em Tel Aviv, e caminhando pela Rua Jabotinsky avistei uma idosa necessitada pedindo dinheiro na


E assim, quando cheguei ao Brasil, encontrava-me com os mais diversos conhecidos e eles me perguntavam: “como foi?”, seguido de um “o que você fez lá?”

rua. Fui em sua direção para dar dez shkalim e desejar shabat shalom, mas a senhora não aceitou. Em resposta, queria me dar uma nota de 20 shkalim e agradecer pelo serviço que eu prestava para nosso país. Aí, eu que não pude aceitar! Não imagino outro lugar no mundo em que isso aconteceria. Por fim, desliguei-me do programa regular do Shnat para estagiar em uma startup, pois acreditei que uma experiência profissional lá iria me trazer mais bagagem. Normalmente, o programa normal seria ir para Jerusalém passar as festas judaicas e depois um par de meses num kibutz. Sim, é relativamente difícil conseguir um estágio de três meses em Israel, mas o brasileiro Michel Abadi me auxiliou nesse processo. Uma empresa de tecnologia em Israel, morando em Tel Aviv... o que poderia ser melhor do que isso? Não sei, vou seguir buscando. E assim, quando cheguei ao Brasil, encontrava-me com os mais diversos conhecidos e eles me perguntavam: “como foi?”, seguido de um “o que você fez lá?”. Posso dizer que foi difícil criar aquela resposta clichê para as mais diferentes derivações dessas perguntas, uma vez que um ano não pode ser resumido numa simples conversa de elevador com aquela pessoa que você não vê faz alguns meses. Tenho certeza de que foi o ano mais importante da minha vida como formação do ser humano que sou hoje, trazendo na bagagem de volta experiências inesquecíveis que eu não poderia ter vivido em qualquer outro lugar. Desse modo, qualquer um interessado em ir para Israel não perca essa oportunidade, não há lugar melhor para se auto afirmar como ser humano e judeu do em que nossa casa!

Saida para o Shnat.

Yom Herzl no museu do Herzl.

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Conhecendo nossa Tnuá

D

urante muito tempo, houve no Netzah o interesse em saber como são e como pensam todos aqueles que formam nossa tnuá. “Quão religioso é o Netzah? Quantos bogrim pretendem fazer aliá? O que o Netzah pensa sobre as polemicas da sociedade israelense? “ Estas perguntas, dentre outras, sempre foram realizadas tanto por aqueles que frequentam o Netzah quanto por quem já está fora dele. À vista disso, a Vadaat Emdá realizou uma pesquisa que envolveu mais de 140 pessoas, incluindo bogrim e chanichim de Bonim A’ e Bonim B’, buscando trazer esclarecimentos sobre questões como as acima.

Sobre fazer aliá:

o que você considera menos grave [melhor]:

46,1% 44,7%

51,8%

pretendo fazer talvez no futuro não farei

Para efeito de comparação, publi- você frequenta a sinagoga? camos também uma pesquisa feita em outra edição da Emdá, há quase três décadas. É importante ressaltar, todavia, que esta foi 27,7% realizada envolvendo jovens de 36,9% toda a comunidade judaica, e não somente membros do Netzah. 9,2% Confira os resultados! 25,5%

55,3%

Um judeu muito sionista, mas zero religioso Um judeu muito religioso, mas zero sionista na sua opinião qual a principal função do netzah? (selecione até duas) 3,3%

22,3% 37,2% 34,9%

Durante a semana Em Chaguim No Shabat Em Yom Kippur e Rosh Hashaná Só vou a sinagoga em eventos (Bar Mitzvás, casamentos...) 26 emdá

Manter e fortalecer a comunidade Combater a assimilação Divertir Educar e transmitir valores


Selecione as três instituições que você julga mais importante para a formação de uma comunidade judaica Escola Judaica Movimento Juvenil Sinagoga Federação Clube judaico (Hebraica)

Fornecedores de comida Kasher (Restaurantes, supermercado) Cemitério Instituições beneficentes

você pretende fazer shnat?

92,2%

33%

59,6% 90,8% 5%

63%

5,7% 27% 15,6% 12,8%

talvez

Em uma escala de 1 a 10, quanto religiosa você considera a nossa comunidade?

7

19

35

sim

45 24

9 2

0%

0%

0%

5%

13,5%

24,8%

31,9%

17%

6,4%

1,4%

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

numa situação hipotética na qual você tivesse a possibilidade de escolher onde iria nascer, você escolheria:

sobre o seu nível de kashrut 11,8% 10,3%

não

40,4%

25,4%

O QR code abaixo leva a uma ferramenta que permite filtrar os dados da pesquisa usando as respostas de cada pergunta. É muito interessante, recomendamos a todos! Para acessar o QR code basta utilizar qualquer aplicativo de scanner no smartphone.

36% 39,9% 34,8%

Sou kasher de carne e queijo Israel Brasil EUA

Sou kasher de carne Não como quente fora

*A ferramenta funciona melhor no computador. Link: https://awesome-table.com/-KkfJDNqkTU-

Não sou kasher

qT8DC62Y0/view

emdá 27


pesquisa publicado na

28 emdรก


EMDร de 1990

emdรก 29


retrô 30 emdá


MINHA OPINIÃO publicado originalmente em 1990 FEDÃO Bonim Beit 1990

Conforme os sábios e estudiosos da Torá, o ano de 5750 é o ano dos milagres. E, realmente, isto vem se tornando verdadeiro com o passar dos dias. Fatos antes nunca imagináveis, se tornaram reais e os acontecimentos no mundo vêm tomando rumos jamais esperados. Caiu o Muro de Berlim e, com ele todo o sistema arcaico e atrasado do Leste Europeu. Como um dominó, país por país, o comunismo foi dando lugar à liberdade e as portas iam sendo abertas ao Ocidente. Na Polônia, o Solidariedade de Lech Walesa assumiu o Governo prometendo democratizar o País. Na Romênia, Ceausescu foi morto pelo povo; na Hungria, Tchecoslováquia, Iugoslávia, a abertura política (perestroika) foi questão de tempo e a Alemanha Oriental, depois da queda do muro vem se industrializando e sonha em se unificar com a Alemanha Ocidental (o que não é muito seguro para a humanidade - vide II Guerra Mundial). O responsável por toda esta revolução foi Mikhail Gorbatchev, que vem causando revoluções diárias na ex-temida URSS. Outro fato que pode nos comprovar a revelação dos sábios foi a liberdade de Nelson Mande1a e a conseqüente luta pelo fim do Apartheid. A vitória dos negros sulafricanos é praticamente certa e muitas concessões já foram feitas a eles. Mandela representa hoje uma liderança muito forte em termos mundiais e pode aglutinar forças para pôr fim de uma vez por todas a esta vergonha da humanidade, que é o regime segregacionista. No campo esportivo, o invencível Mike Tyson foi à lona, causando um misto de estarrecimento e alegria para os aficcionados do esporte nobre, o boxe. Outros “milagres” aconteceram também, como a abertura das portas soviéticas para que os judeus pudessem emigrar. Nunca tantos judeus saíram da URSS como em 5750.

Mas pensando em futuro, se ainda sobraram cotas de milagres para recebermos, eu teria alguns que gostaria que fossem atendidos. Tenho a certeza que são apedidos de toda a humanidade e, de todo o mundo. * queremos a paz para Israel. Nos 42 anos de vida do Estado Judeu, o que seus habitantes e seu povo sempre quiseram foi a paz duradoura e definitiva. Quem sabe em 5750.. *queremos que o Governo Collor e seu plano econômico dêem certo para que o sofrido povo brasileiro tenha, no mínimo condições de comer, morar, vestir e educar se condignamente. Quem sabe em 5750... * queremos que problemas da Juventude como drogas, violência e outros males sedam erradicados. As drogas são um cancer para a humanidade, e como o próprio nome já diz, a droga é uma droga. Quem sabe em 5750... Queremos muitas coisas mais. Esperamos que sejamos atendidos. Tenho fé num futuro melhor. emdá 31


relatos de um

SUPER-TAPUZ-

NETZAH Claudio Wulkan Bonim Beit 1990

“Vôo KLM, assento 47. O primeiro a ser bombardeado foi o Michel, seguido do Ricardo (Gurman)e logo depois fui eu a pobre vítima. Começou assim a primeira das grandes bagunças do TAPUZ. O fatal ‘LEVANTE DOS TRAVESSEIROS ‘

A primeira emoção a gente nunca esquece: Foi entrar no avião da EL—AL e ouvir música israeli!!

A fama das meninas do Netzah não é novidade alguma: sempre atrasadas .

Delírio maior só mesmo a chegada em Israel, ao anoitecer. A emoção começava a mostrar a cara. “

Mas já dizia o Pica—Pau: “se você não pode com ele, junte—se a ele” Foi o que aconteceu com nós meninos: perdemos a pon tua1idade britânica e com isso às vezes o grupo perdia chances ou passeios.

(EXTRATOS DO DIÁRIO PESSOAL DO AUTOR) Alguns dias depois a KVUTZA foi parar em uma base militar, a sudoeste de Israel, perto de Ashdod. Nosso intuito era de trabalhar mas. . . “agente somos inútil” e trabalhar que é bom, nada. Vale à pena ressaltar que, ao final do programa, supôs-se que nós, meninos, trabalhamos mais, e nosso “castigo” foi uma aula prática de TIRO no deser to. TAPUZ 90 NÃO TEM PRÁ NINGUÉM, FOI NOTA 100. KVUTZÁ NETZAH: 18 meninas e 4 meninos. Com certeza certas memorias não serão apagadas: invasões secretas à ala feminina “Em busca do chocolate perdido”; noites passadas em, no mínimo, 80% das discos e pubs de Israe1; eu, o Moishe e o Gurman sendo xingados de tudo possível (por ter furado a orelha) pelo Michel(que no dia seguinte também furou a oreba); o Ricardo secando a cueca, que acabou tostada,e muito mais.

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Mas nem só de bagunça viveu o Tapuz. Tapuz Netzah sem sombra de dúvidas foi o Tapuz mais cul tural: Mar Morto , Massada, Eilat, fronteiras, Gadná, seminário de Hadrachá( ?? ) fim—de—semana com famílias israelenses, museus, viagens noturnas à cidade mais próxima do kibutz (Netanya) em busca de comida, e muito,muito mais. STN — Sistema de Tapuz Netzah — o que você pro— cura você acha aqui .


Sinto que é meu dever, prezado leitor, informá— lo de mais algumas YACHNERAY ( =fofocas, em iidiche) decorrentes do Tapuz. Por exemplo nosso madrich Freddy era exímio incitador de sessões de jogos da verdade, onde todas as fofocas eram sabidas. Por outro lado, o madrich Semy (reconheci do como pernalonga de calça nos joelhos) era hábil piadista frustrado. Michel: exemplo de chánich Netzah. Moishe e Gurman: grandes agitadores. Agora as meninas... OI GUEVALT ( =meu D’US, novamente em iidiche) . Adina e Deca sao merecedoras do prêmio Fusca 59 (sempre dando encrenca). Bom, não mencionarei as outras por dois motivos: falta de espaço e amor à própria pele. De qualquer modo me desculpem. Quanto a mim, me reservei algumas palavras: fui um santinho...(???). Fui ou não fui, pessoal? Espero que tenha oportunidade de revisitar Israe1 do mesmo modo como fiz através desse programa. Creio que foi uma oportunidade única e espero que quem teve coragem de ler este artigo até aqui te-

nha percebido isso. Conhecer Israel de norte-sul, leste—oeste, palmo a palmo é Tapuz. Hoje praia em Eilat, amanhã neve no Hermon. Hoje Tel Aviv, amanhã Haifa, Tibérias ou qualquer outro lugar. Hoje JERUSALÉM...SEMPRE JERUSALÉM! Só queria dizer que algumas coisas mudaram em mim. Um novo mundo se abriu, um sentimento nacionalista em relação a Israel brotou e cresceu durante a viagem. Fico feliz com isso. Fico feliz também em saber que esse país é nosso, apesar das dificuldades. Essas dificuldades carimbam a magia e o misticismo da Terra de Israel. A sensação de judaísmo mais profundo e amor à Terra que agora é nossa, com certeza me fizeram crescer mais como judeu. Isso é TAPUZ. Agora, saudades de tudo. Saudades do pôr-do-sol na YERUSHALAIM dourada.

Só queria dizer que algumas coisas mudaram em mim. Um novo mundo se abriu, um sentimento nacionalista em relação a Israel brotou e cresceu durante a viagem. emdá 33


debates

34 emdรก


prisão do soldado A FAVOR

Vivian Lederman Chanichá de Bonim B

“A razão, reinando sozinha, restringe todo impulso; e a paixão, deixada a si, é um fogo que arde até sua própria destruição.” (Khalil Gibran, filósofo e poeta libanês moderno)

A

pesar de o autor ter escrito isso há mais ou menos um século atrás, a frase ainda pode ser empregada em diversos contextos dos dias atuais.

por seus atos, ainda que cometa erros. O sargento violou uma regra das forças de segurança de Israel, que promulga a proibição de matar um agressor após este estar imobilizado. Observando através de um prisma lícito, Azaria agiu de forma incongruente, uma vez que tal realidade foi ratificada por um vídeo que evidencia o ataque. Nota-se que o soldado agiu por impulso, interferindo na sua capacidade racional de tomar decisões.

É preciso que se entenda que a prisão de Elor não significa marginalizar, nem menosprezar, o solene papel que os soldados israelenses exercem sob a segurança do país. É compreender que toda ação tem uma reação e, nesse caso, é primordial que Azaria arque com as consequências de seu ato.

Inocentar ações que são condenáveis pelo próprio exército do país, ainda que com honrada causa, instiga visões distorcidas dos judeus Argumenta-se que Elor Azaria e sua terra perante um cenário operou perante um forte sentijá caracterizado por um grande mento sionista, porém, é inegável sentimento de antissionismo e anque procedeu em dissonância tissemitismo. Impulso oriundo de com a ética e padrões propagaum amor cego a Israel, acarretou O Exército de Defesa de Israel (Tzavá Haganá dos pela IDF. Assim, de maneira em um erro arrasador. ReconheleIsrael ou “Tzahal”) já se mostra diferenciado oposta à alegada defesa da terra cer, valorizar o Estado de Israel e por sua própria definição. Não é um exército de Israel, torna-se indubitável que ser sionista não significa absolver qualquer, mas, sim, um exército de “defesa” o soldado agiu de forma vicioerros cometidos pelos soldados que, desde sua criação, conserva sua proposta sa, visto que al-Sharif já estava que visam a defender nossa de defender o Estado de Israel e sua populacontrolado, não demonstrando ne- pátria; é, na realidade, reconhecer ção. De tal modo, atos que são puramente de nhuma ameaça a qualquer vida, quando houve uma falha, aceitar ataque são condenados pela instituição. quando o militar o matou, de fato. a punição dada e não deixar que esse equívoco se repita. RacionaAlém disso, todo soldado passa por um treilizar inibe impulsos, enquanto a namento rigoroso e severo, de tal forma que paixão é algo que perdura até sua a experiência o torna capaz e responsável respectiva destruição. No dia 4 de janeiro de 2017, o soldado israelense Elor Azaria foi condenado por homicídio após matar a tiros um jovem palestino, Abed al-Sharif, em Hebron, na Cisjordânia. Após o julgamento, no qual foi sentenciado a 18 meses de prisão, houve diversos protestos polêmicos, fracionando Tel Aviv ao meio.

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prisão do soldado CONTRA Jean Mansur Chanich de Bonim B

36 emdá

Elor Azaria é um dos muitos jovens israelenses que diariamente servem ao Estado de Israel protegendo o país de ameaças terroristas, colocando sua vida em risco para garantir a segurança de sua nação. Mesmo que estivesse apenas lutando por seu país, o jovem foi condenado por ter assassinado o terrorista Abd Fatah al-Sharif, em 24 de março de 2016. A condenação é fortemente discutível, uma vez que o ato do soldado ocorreu em meio à adrenalina do momento e das tensões políticas. Além disso, Elor não estava na operação militar em defesa de interesses próprios, mas sim em prol da população e do Estado israelense.


E

lor, com apenas 19 anos, atuava na região de Hebron. À época, eram comuns ataques terroristas de lobos solitários que esfaqueavam soldados israelenses e cidadãos de bem. É importante notar que apenas nessa região houve mais de 80 ataques terroristas contra civis ao longo da história. No dia em questão, Abd Fatah al-Sharif decidiu atacar um soldado na fachada de Kfir. Elor, que servia naquele no local, ao ver a cena, desesperadamente atirou contra o terrorista já neutralizado. A reação do adolescente ocorreu num momento de tensão e desespero. O terrorista era um perigo imprevisível no momento, e era impossível ter a certeza de que não representava mais uma ameaça. Além disso, não podemos nos esquecer que Abd Fatah al-Sharif não era inocente, e sim um criminoso. Assim sendo, levando em consideração que Elor se arriscava diariamente em defesa da sociedade israelense e que agiu visando a segurança dos civis, não faz sentido condená-lo por este ato.

O sentimento de abandono e de desprezo em relação aos soldados por parte do Estado aflorou na sociedade israelense . Grandes personalidades políticas defenderam Elor, como o ministro da Educação, Naftali Bennet, o ministro da Casa, Yoav Galant, e o ministro do Transporte, Israel Katz. Alegam que reconhecem o erro do soldado, mas que ele estava agindo em prol de Israel e, desse modo, deve ser defendido pelo Estado.

Em conclusão, fica evidente a injustiça na condenação do jovem Elor Azaria. O momento de adrenalina em que o ato ocorreu, somado com as tensões políticas da época, deve ser levado em consideração quando do julgamento do soldado. Além disso, mesmo que neutralizado, o terrorista não deixava de ser uma ameaça ao Estado e um perigo para a sociedade. O inexperiente soldado estava colocando sua vida em risco para proteger a sua pátria contra mais um extremista que queria eliminar Israel do mapa, e, mesmo assim, está sendo condenado tanto pela justiça Não se pode privilegiar terroristas que lutam contra a existência do Estado. Em uma pesqui- israelense quanto por setores da sociedade. Nesse contexto, cabe a reflexão sobre quem sa realizada recentemente, 63% dos cidadãos seria o verdadeiro vilão nessa história... se disseram a favor de perdoar o soldado, enquanto 12% não possuem opinião formada.

sobre o soldado elor azaria, condenado a 18 meses de prisão por atirar em um terrorista ferido, você é: a favor de sua prisão

15,6%

contra sua prisão não sei o suficiente sobre o assunto / não tenho opinião formada

46,1% 38,3%

*pesquisa realizada com chanichim e bogrim do Netzah emdá 37


Sionismo sem religião

faz sentido?

SIM Rafael Dayan Madrich Amelim G

Primeiramente, cabe ressaltar o fato de que o conteúdo deste texto é um esclarecimento de fatos históricos e atuais que explicam a relação próxima existente entre o sionismo e a religião judaica de um diferente ponto de vista do qual estamos acostumados, reconhecendo o trabalho de muitos precursores do Estado de Israel. Desse modo, a prática da religião é de extrema importância para o sionismo, mas não necessariamente um reagente da prática sionista.

A

gora, vamos voltar para o século XVII. Havia uma comunidade de judeus representativa em Amsterdã, os quais eram em maioria descendentes de famílias sefaradim oriundas da Península Ibérica um par de séculos antes. Dentre eles, surgiu o filósofo Baruch Spinoza, conhecido por muitos como o “primeiro judeu laico”, uma definição um tanto quanto paradoxal quando tratamos o judaísmo exclusivamente como uma religião. Spinoza foi o primeiro a desenvolver uma crítica à Bíblia, fato que o levou a ser excomungado da comunidade vigente por ideais racionalistas e heréticos. Em 1670, publicou o Tratado político, obra que ganhou reconhecimento um século depois, com a ascensão do iluminismo, por considerar D’us impessoal e que a religião exerce uma limitação à liberdade do ser humano. Logo, foi o

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iluminismo, e inúmeros outros fatores, que causou a perda de fé de muitos judeus nestes últimos séculos. A prática da fé no judaísmo foi-se perdendo com o tempo, uma vez que a intensa convivência da comunidade judaica e laica, tanto quanto as propostas inovadoras de religiosos como Moises Mendelssohn e sua Haskalá (iluminismo judaico) avançavam cada vez mais para assimilar a população judaica nos países europeus em geral. Desse modo, criou-se o judaísmo humanista – ou, como eu gosto de chamar, a cultura judaica – definido por um apego do homem à

sua identidade e cultura judaicas, ou seja, um judeu que não cumpre todas as leis da Torá, mas acredita no poder do “Am Israel”. Assim sendo, essas pessoas seriam independentes da autoridade soberana e responsáveis por si e seus comportamentos. Para elas, ser judeu não é mais uma questão de fé, mas uma identificação, conexão e lealdade com a história do povo judeu. Como consequência dessa identificação e a constante ascendência do antissemitismo, também poderiam se tornar sionistas. Avançando mais alguns anos, o desenvolvimento do sionismo ganhou certa importância, principalmente com o aumento significativo do antissemitismo na Europa. O sionismo, segundo o dicionário Aurélio, define-se por uma “doutrina que pretendia o estabelecimento de um Estado israelita independente na Pales-


tina”, ou seja, uma ideologia a qual pregava a criação de um Estado judeu. No entanto, vou dividir os primeiros sionistas em dois principais grupos, os que tinham fé na Torá e os seculares. Dentre os seculares, esteve Moises Hess (precursor do sionismo socialista) e Leon Pinsker (acreditava que o humanismo e iluminismo seriam a solução ao antissemitismo). O segundo, Pinsker, foi o que inspirou a criação do sionismo político, de Theodor Herzl, com sua obra literária Autoemancipação, a qual propunha a criação de um Estado judeu não necessariamente na Palestina, como fim para o antissemitismo. Como definição prática do sionismo político utilizo o livro O Estado judeu, de Herzl. É nele que o autor procura definir o Estado que seria estabelecido no futuro, desde a constituição até a aplicação prática. Para o estabelecimento do Estado judeu, Herzl criou o modelo de trabalho ideal, a maneira com que seria o transporte até a terra da Palestina e até a ideia da criação da Agência Judaica, criada posteriormente, em 1929. Além disso, Herzl cita abertamente a afirmação de que o Estado de Israel não pode ser teocrático (religioso), uma vez que os rabinos deveriam se limitar aos templos e não se envolver no andamento político do Estado. Ademais, foi o sionismo político que procurava de maneira intermitente a legitimação do Estado Judeu, ou seja, sem a atuação dele não haveria a possibilidade de uma aceitação de instituições legais pelo mundo, como a Organização das Nações Unidas (ONU). Para Herzl, os máximos esforços dos sionistas deveriam se direcionar à luta diplomática, mesmo sem a aplicação direta da religião judaica no processo. Logo, o sionismo político foi de importância significativa para o estabelecimento do Estado e, sem ele, provavelmente não existiriam documentos fundamentais para a legitimação do país, como a Declaração Balfour e a carta da partilha da palestina.

de movimentos como o socialismo. Assim, o sionismo trabalhador foi a maneira encontrada para unir os judeus de ideários socialistas. A maioria deles considerava o iídiche como a língua iminente do estado judaico, tendo um ideário ardentemente secularista e com muitos sionistas ateus, criando uma relação antagônica com o judaísmo ortodoxo. Os grupos que seguiam tais ideias juntavam grupos de migração para a Palestina, estabelecendo comunas de caráter socialista, conhecidas como kibutzim. Desse modo, eles também tiveram uma participação extremamente relevante no fator de povoação das terras, fazendo com que regiões como as Colinas do Golã e o Neguev não fossem inutilizadas, uma vez que os novos imigrantes buscavam – na maioria das vezes – os principais polos já estabelecidos, como Tzfat e Tel Aviv. Portanto, não podemos somente ignorar todo o trabalho efetuado por essas correntes sionistas. A perda de fé sofrida na Europa foi um desastre inevitável com a ascensão das ideias iluministas e socialistas, criando correntes novas de sionismo. É claro que o sionismo se baseia no judaísmo, mas não necessariamente na religião, só que na cultura judaica, como exemplificado no judaísmo humanista. Correntes laicas como o sionismo político e o trabalhador possibilitaram a criação de instituições de extrema relevância para o estabelecimento e o sucesso do Estado de Israel e sem elas não se sabe o que teríamos hoje. Cabe ressaltar o fato de que, segundo pesquisas do CBS (instituto de estatística israelense), 41,4% dos judeus de Israel se consideram seculares, ou seja, seguem a cultura judaica, mas, não obrigatoriamente as leis da religião judaica. Por fim, ignorar o trabalho árduo de judeus não praticantes seria deixar de lado engenheiros do atual Estado de Israel, nossa atual e eterna pátria, tanto os judeus religiosos quanto os seculares.

Além disso, outra corrente sionista fundamental para a criação do Estado de Israel foi o sionismo trabalhador. Por volta de 1900, muitos judeus abandonaram a religião em prol

1909 – Sionistas trabalhadores vindos da România empurrando um caminhão no kibutz Degania, nas margens do Kineret. emdá 39


NÃO Samy Dayan (Bonim A’) e Jonas Muszkat (Bonim B’)

Há 69 anos, David Ben Gurion declarava a criação de um Estado judeu na terra de Israel. Nesse ato, está presente um dilema que até hoje é muito debatido: por um lado, ele declarava que os valores morais do Estado seriam “como imaginado pelos profetas de Israel” e que a aquisição da terra seria justificada pela Bíblia; por outro, seriam fiéis aos princípios da Ata das Nações Unidas e essa criação seria baseada nos pensamentos de Theodor Herzl, que fortemente defendia a separação entre o Estado e a religião.

D

esde o início da Diáspora, há aproximadamente 2 mil anos, judeus ortodoxos anseiam a volta para a Terra Santa; oram, pedindo o retorno a Israel. Porém, a partir do século XIX, fortificou-se um movimento sionista secular que estendeu, dessa forma, esse objetivo a um grupo com ideais completamente diferentes. Como consequência, floresceu o dilema supracitado: será que o Estado deve seguir os ideais religiosos que constam na Bíblia, ou os ideais seculares propostos na convenção sionista de Basileia? Para poder formar uma consistente opinião sobre o modelo de leis ideal a determinado território, nada é mais imprescindível do que obter clareza quanto à identidade do povo à qual essas leis são direcionadas. Portanto, antes de debater o modelo legal ideal à terra de Israel é necessário indagar sobre o que define o povo que lá habita. Um cientista, para determinar as propriedades essenciais de determinado elemento, deve fazer experimentos nos mais diversos ambientes e circunstâncias e o que se mantiver constante em todos eles será considerado como a sua essência. O mesmo deve ser feito para analisar a identidade de um povo. Se quisermos descobrir os elementos que constituem sua base, devemos buscar encontrar o que esteve sempre presente, independentemente do local ou da época.

40 emdá

Dessa forma, ao analisar o percurso histórico do povo judeu, é possível constatar, por um simples processo de eliminação, qual é a característica que, de fato, define-nos. É evidente que não é o idioma falado. Durante grande parte do tempo – inclusive em diversos períodos bíblicos, como no de Ezra e Nehemia –, o aramaico era a língua utilizada. Na época de Maimônides, era falado o árabe. Após isso, o iídiche, o ladino e assim por diante. Do mesmo modo, não somos definidos por possuir um Estado, visto que durante a maioria de nossa história vivemos dispersos pelo mundo sem um Estado independente. Também não são os comportamentos aprendidos de outras nações que nos unem como povo, visto que eles diferem em cada época e local. O único elo que verdadeiramente une o povo é o estilo de vida baseado na Torá, que, durante todas as épocas e circunstâncias esteve presente no povo judeu. As leis da Torá ajudam no modo de viver do judeu e não permitem que ele se desligue de suas tradições e raízes. Não é coincidência que todos os grupos que se afastaram do modo de vida religioso logo desapareceram (o reinado de Israel e os helenistas durante o segundo templo são só alguns dos exemplos disso). Portanto, torna-se evidente que abrir mão da verdadeira essência judaica, na tentativa de imitar nações alheias, está longe de ser benéfico ao povo de Israel; isso compromete a sua própria existência. Para fortalecer a crença na Torá, que, como mostrado, é a base de nosso povo, basta observar as previsões, com surpreendente precisão, feitas pelos profetas e sábios judeus a respeito da criação do Estado de Israel. Não é necessário


muito esforço para concluir que, apesar de ser capaz de investigar eventos passados, o ser humano é naturalmente limitado no que trata de conhecimentos futuros. Dessa forma, uma simples análise, desprovida de preconceitos, das profecias sobre a criação do Estado de Israel deixa evidente que só o Criador do mundo, que tem pleno conhecimento da história até o fim das gerações, pode tê-la a outorgado. Segundo os cálculos de Ramban, feitos há mais de 700 anos, no ano de 5708 (1948) o povo judeu se levantaria. Além disso, ele escrevia que o mérito que proporcionaria isso seria o “sangue da circuncisão”. É surpreendente perceber como suas palavras já mostravam, de forma excepcionalmente detalhada, o que seria o destino do povo judeu. Embora os primeiros sionistas não mantivessem um forte vínculo com a religião, sempre foram meticulosos com o cumprimento do brit milá. Até os dias de hoje, vários judeus que não praticam a maioria dos mandamentos cumprem, com alegria, esse ritual. Além disso, o único outro povo que pratica esse mandamento, os muçulmanos, foram recompensados com uma parte da terra. O Tanach nos conta sobre quando o povo entrou, em dois momentos distintos, na terra de Israel. Na época de Yehoshua, quando ocorreram diversos milagres, e na época de Esdras, quando o povo passou por um caminho difícil, em que houve várias mortes, pobreza e guerra. A guemará explica essa discrepância; na época de Yehoshua, o povo entrou com autonomia, enquanto na época de Ezra depositaram sua confiança no rei persa, fazendo com que D'us

Portanto, torna-se evidente que abrir mão da verdadeira essência judaica, na tentativa de imitar nações alheias, está longe de ser benéfico ao povo de Israel; isso compromete a sua própria existência. ocultasse seus milagres. Atualmente, a terceira entrada está em processo. Infelizmente, estamos cometendo o mesmo erro cometido na segunda: depositamos nossa esperança nas demais nações, abandonando diversos mandamentos da Torá. Como consequência, presenciamos diversos conflitos e problemas, exatamente como fora previsto pelo profeta Yechezkel: “E o que passa em vossa mente quando dizeis: 'Nós seremos como as demais nações... certamente, com mão forte, braço estendido e ira derramada iremos reinar sobre vós’”. Tudo isso nos leva a uma conclusão lógica: aquele que sinceramente almeja a continuidade do povo judeu e sua soberania sobre o território de Israel não deve afastá-lo de sua verdadeira essência. A influência do rompimento no cumprimento das mitzvot nas dificuldades enfrentadas pelo Estado de Israel e pelos judeus em geral, além da degradação dos valores morais do povo, é imensurável. É dever de qualquer um dotado de um mínimo conhecimento da história indagar por que insistir em se afastar dos mandamentos divinos, sabendo que durante todo o percurso histórico isso foi a origem da desunião e, consequentemente, de inúmeros sofrimentos do povo judeu.

você acredita que faz sentido ser sionista sem acreditar no judaismo?

sim

27%

45,4%

não talvez

27,7%

*pesquisa realizada com chanichim e bogrim do Netzah emdá 41


A DIÁSPORA É necessária?

sim Alberto Hamoui boguer

Me fizeram uma pergunta certa vez que desencadeou uma série de outras questões existenciais acerca do povo judeu e sua característica nômade: o indivíduo judeu tem como principal objetivo em sua vida morar em Israel? Em outras palavras, temos a obrigação de, como judeus, necessariamente morar em Israel? Será que a diáspora é apenas um gargalo para o crescimento e soberania do povo judeu? Antes de responder, ou tentar responder essa questão em sua cabeça, pense em uma outra interrogação: qual é o tamanho da influência que o mundo tem para a sobrevivência do nosso povo judeu?

A

ideia de um local próspero onde todos os judeus existentes possam viver juntos em paz e harmonia é maravilhosa. Maravilhosa porém utópica. Antes de sonharmos com a utopia devemos encarar a realidade: o mundo é cruel, egoísta e invejoso. As prioridades são os interesses. O amor tem espaço apenas no espectro da vida pessoal; na visão macro diplomática, o que está em jogo é o darwinismo em sua mais pura forma: sobrevive aquele que sabe se adaptar. Em palavras animalescas, “ou você come ou é comido”. Infelizmente, o mundo não se afeta com histórias emocionantes ou ideologias divinas. O principal interesse, além da sobrevivência, é a busca por soberania e poder. A partir do momento que alguma dessas prioridades estiver em perigo, amizade, benevolência e clemência não significarão nada além de palavras no dicionário.

42 emdá

Não podemos negar que o mundo sempre sentiu ameaça do povo judeu. Somos um grupo inteligente, poderoso e principalmente sobrevivente. Não existe indivíduo, povo ou espécie que sofreu tantas perseguições e tentativas de extermínio e se manteve vivo até os dias hoje além do povo judeu. Não apenas nos mantivemos vivos como também prosseguimos nosso caminho sempre fortes e com a cabeça erguida. Existem três tipos de ódio direcionados ao nosso povo e nossas conquistas: o antijudaísmo, o antissemitismo e o antissionismo. O antijudaísmo começou com a morte de Jesus Cristo quando o povo judeu foi considerado o culpado. O Novo Testamento, um dos documentos mais influentes já escritos na história da humanidade deixa claro e específico a autoria dos judeus pela morte de Jesus. “Mais uma vez, Pilatos saiu e disse aos judeus: ‘Vejam, eu o estou trazendo a vocês, para que saibam que não acho nele motivo algum de acusação’. (…) Ao vê-lo, os chefes dos sacerdotes e os guardas gritaram: ‘Crucifica-o! Crucifica-o!’ Mas Pilatos respondeu: ‘Levem-no vocês e crucifiquem-no. Quanto a mim, não encontro base para acusá-lo’. Os judeus insistiram: ‘Temos uma lei e, de acordo com essa lei, ele deve morrer, porque se declarou Filho de Deus’. (…) Daí em diante Pilatos procurou libertar Jesus, mas os judeus


gritavam: ‘Se deixares esse homem livre, não és amigo de César. Quem se diz rei opõe-se a César’. (João 19). Lemos claramente que Pilatos, o juiz e homem mais poderoso da cidade, não estava de acordo com a morte de Jesus, porém os judeus insistiram e o ameaçaram para que ele o crucificasse. Bilhões de cristãos têm acesso ao Novo Testamento e eles lêem claramente como o povo judeu causou a morte da maior figura de sua religião. Como iríamos nos sentir se lêssemos na Torá sobre um povo que insistiu e causou com sucesso a morte de Moshé Rabeinu? As consequências por essa acusação são !1 inúmeras, porém basta pensar na Inquisição e nas Cruzadas que dentre muitos outros motivos, também foram alimentadas por ela. O antissemitismo tem uma natureza diferente do antijudaísmo. Este pode ser evitado com a conversão, pois condena o judaísmo como religião. O antissemitismo, entretanto, busca nada menos do que a morte do povo judeu. Termo inventado no século XIX pelo jornalista alemão, Wilhelm Marr, o antissemitismo condena o judaísmo por sua raça, está no sangue do judeu e portanto não existe redenção. Influenciado pela perda de poder, Marr afirma em seu artigo “A Vitória do Judaísmo sobre o Germandom” (“The Victory of Judaism over Germandom”, em inglês) que o espírito e a consciência judia dominaram o mundo e pedia resistência contra esse poder estrangeiro. O antissemitismo é claramente mais perigoso do que o antijudaísmo e alimentou o Nazismo e pogroms por exemplo, além de específicos casos ao longo do planeta. Segundo a empresa de pesquisas Global 100, de 4,2 bilhões de adultos inquiridos, 1,09 bilhões demonstram atitudes antissemitas. São muitas pessoas para odiarem um povo que não representa nem 1% da população mundial.

O antissemitismo tem uma natureza diferente do antijudaísmo. Este pode ser evitado com a conversão, pois condena o judaísmo como religião. O povo judeu não está em falta de inimigos e deve permanecer constantemente lutando por sua sobrevivência. Infelizmente, essa é a realidade em que vivemos. Jamais teremos descanso, jamais teremos um período em que estaremos livres de todos nossos inimigos, livres de pessoas que buscam nosso extermínio. E se um dia esquecermos disso, nossos filhos não conseguirão continuar nossa jornada. Não há dúvida que hoje somos mais livre do que no passado; temos um país soberano, forte e poderoso, influente na área econômica e militar, responsável por inovações tecnológicas e médicas. Israel é definitivamente um dos personagens mais importantes para o desenvolvimento humano e global. E o mais notável é que é um Estado judeu, onde a pessoa pode não apenas expressar sua religião livremente mas também viver sob um governo com suas leis fundamentadas no judaísmo. Isso foi o sonho do povo judeu por milhares de anos e hoje ele é realizado. Por ser um sonho de tanta relevância e de muitos, muitos anos de idade, existe um sentido na concepção de que todo judeu deve morar em Israel. Digo, D’us finalmente nos presenteou com um Estado livre e poderoso onde possamos chamar de casa, exatamente no local mais sagrado do planeta. Não é nossa obrigação, como povo judeu, ouvir as palavras que o nosso Criador proferiu a Avraham, “anda de tua terra e de tua parentela e da casa de teu pai, para a terra que te mostrarei”? Ele está literalmente pedindo para Avraham abandonar tudo que criou e ir para uma terra nova. Não deveríamos fazer o mesmo agora que podemos?

Hoje em dia existe um novo tipo de ódio contra o povo de Moisés: o antissionismo. Adotado muitas vezes em conjunto com o antissemitismo, o antissionismo repudia a existência de um país soberano judeu e busca, principalmente, a eliminação de Israel do mapa mundi. Novos inimigos surgiram, em destaque o BDS (Boycotts, Divestments, Sanctions, no inglês original), um movimento que busca deslegitimar Israel por meio de boicotes e outras iniciativas políticas, econômicas ou até mesmo violentas. emdá 43


O judaísmo é uma das poucas religiões que não condena a convivência com pessoas de outras religiões — desde que feito com consciência e limite. Ideologicamente sim, deveríamos. Toda a história do povo judeu foi com o intuito de conquistar e morar na terra de Israel, construir o Beit Hamikdash e esperar por Mashiach. Temos Israel, por que não morar lá? Pois a realidade não permite. Pois o mundo não permite. O judaísmo é uma das poucas religiões que não condena a convivência com pessoas de outras religiões — desde que feito com consciência e limite. Um dos maiores filósofos judeus, Maimônides, não apenas vivia entre gentios como também honrava-os, “abençoem os sábios gregos” — se referia a Aristóteles e outros pensadores. Em um exemplo mais moderno, o Rabino Lorde Jonathan Sacks vive entre políticos ingleses e foi condecorado com uma cadeira na Câmara dos Lordes na Inglaterra. “Um gigante intelectual”, disse Tony Blair sobre o Rabino Sacks. Devemos, sem jamais perder as prioridades e bases judaicas, saber conviver em conjunto com o resto do mundo, pois também são criação de D’us e Ele ama cada uma de suas criações. Não apenas conviver mas também dar para o mundo, compartilhar de nossa inteligência e nossas conquistas. Não é segredo que fomos abençoados com a Torá, que dentre muitas coisas, é também um guia para uma vida completa, repleta de princípios, felicidade e sucesso. Por que não aproveitar disso e tornar o mundo um lugar melhor? Foi com esse pensamento e com planos de erradicar o antijudaísmo que, no século XVIII, as comunidades judaicas resolveram sair de seus bairros fechados e entrar na sociedade gentia, se afiliar na política e na economia, se ingressar nas academias e passar a tornar-se grandes intelectuais. Esse movimento é conhecido como Haskalá, ou Iluminismo Judaico. Evidentemente o antijudaísmo não foi erradicado, apenas cresceu. Já não era mais o ódio pelo assassinato de Jesus mas também a inveja, o sentimento de perda de poder, que envenenava a mente das pessoas. O antissemitismo já tomava forma, mesmo sem seu rótulo oficial. Os judeus eram de fato muito inteligentes, não apenas entraram na sociedade como um todo mas também impactaram-na, a influenciaram. A partir de então, e até hoje, a relação das comunidades judaicas com a sociedade nunca foi a mesma. Há quem diga que a Haskalá foi uma benção e há quem diga o contrário. Os que condenam a Haskalá afirmam que nossos problemas estariam resolvidos caso mudássemos todos para Israel; iríamos nos fechar em nosso Estado, na Terra Santa, nos separar do mundo e cada um viveria sua própria vida. Evidentemente isso é uma inverdade. Em primeiro lugar, o antissemitismo e o antissionismo não são alimentados por nenhum tipo de circunstância, eles existem independente da situação e da relação que os judeus se encontram com a sociedade internacional. Talvez o antissionis44 emdá

mo pode ser erradicado entre a população ocidental se bem trabalhado — porém apenas no Ocidente, nossos inimigos orientais jamais aceitarão a legitimidade do Estado de Israel. Portanto, se caso todos os judeus mudassem para Israel, ainda haveria membros da Liga Árabe buscando sua destruição, buscando deslegitimar nosso Estado na ONU e na comunidade internacional. Teríamos força física para nos defender, mas será que conseguiríamos sustentar nosso país contra todo o resto do mundo — que, no caso, seria alimentado constantemente com embustes? Exatamente como a Haskalá não erradicou o antissemitismo, o fim da diáspora também não irá. Como já afirmado, o antissemitismo não depende de circunstância alguma, ele é basicamente um ódio cego existente contra a raça judaica. Em 1903 Mathieu Golovinski publicou na Rússia o chamado Protocolo dos Sábios de Sião, um documento que supostamente descrevia, em forma de ata, uma reunião formada apenas por judeu maçons em que a pauta era a dominação do mundo. Por alguns anos a comunidade internacional tomava esse documento como verdade, e continua impactando a vida judaica até hoje. Por mais que o texto já foi provado ser uma fantasia — plano do czar russo para tirar a atenção da crise que seu país passava no momento —, existe um significante número de pessoas que utiliza do documento para provar o antissemitismo. Como então os amantes da conspiração — turma que tem uma certa forte influência — iriam reagir ao ver todos os judeus se concentrando em um só lugar? Não apenas qualquer lugar, mas Israel, um dos países mais fortes e poderosos do planeta. Se existe uma conspiração, por mais que humorística, que gatos buscam dominar o mundo e não se pode deixa-los reunidos, qual seria a força da conspiração contra os judeus? Até onde podemos imaginar, o antissemitismo não iria apenas crescer exponencialmente, como também causaria um pânico na sociedade. Ninguém saberia o que realmente se passaria em Israel, haveria espaço apenas para especulações. Não havendo defensores judeus na Diáspora, paulatinamente o antissemitismo contagiaria a maioria da população até um certo ponto que um plano de ação seria necessário. Em palavras simples: a sociedade internacional


iria passar a acreditar que os judeus estariam trabalhando em um plano para dominar o mundo e lutariam contra. Parece irreal? Foi uma conspiração Cristã que culpou os judeus pela morte de Jesus Cristo. O resultado foi a morte de centenas de milhares de judeus na Inquisição. A Alemanha permitiu que Hitler pusesse seus planos em prática por causa de conspirações contra judeus — mais 6 milhões de judeus mortos na conta. Os pogrom se alimentavam em conspirações para assassinar outros milhares de judeus. E quantas conspirações existem hoje afirmando Israel ser um Estado de Apartheid, um genocida, violador de Direitos Humanos, inverdades que podem ser desmentidas ao passar apenas um dia em Tel Aviv, mas que, não obstante, continuam sendo tomadas como verdades. O ódio do BDS perante nosso Estado contagia o resto do mundo com o uso de conspirações e inverdades. O fim da Diáspora seria um convite para conspirações fatais e não havendo nenhum embaixador judeu pelo mundo, elas iriam gradativamente se tornar verdades. Não posso nem imaginar o resultado. O mais importante é que a Diáspora é crucial na equação que garante a sobrevivência do povo judeu e de seu Estado. Não é novidade ver os números de incidentes contra judeus crescer e nós temos a obrigação de lutar contra. Somos defensores do nosso povo e, percebendo ou não, fazemos a diferença. Cada conversa, cada amigo, cada texto e cada luta fazem um peso maior na balança entre o antissemitismo e a paz. No dia 17 de maio de 2017, todos os 50 estados dos Estados Unidos assinaram um acordo que rejeita o movimento BDS. Esse acordo foi organizado pelo Comitê Judaico Americano, comitê que trabalha incessantemente contra o antissemitismo e antissionismo. Também fizeram com que 300 prefeitos americanos e 200 europeus assinassem um acordo de um política de zero tolerância com o antissemitismo. Essas duas conquistas e centenas outras não ocorreriam caso não houvesse tal comitê. Diane Abbott, secretária do Ministro do Interior Britânico, afirmou estar lutando contra o antissemitismo há 30 anos e obteve muito sucesso até hoje, incluindo leis que favorecem o povo judeu britânico. Todo ano é organizado semanas devotas para atingir Israel nas universidades pelo mundo — o conhecido Apartheid Week. O povo judeu da Diáspora luta incansavelmente contra esse movimento blasfemo, e com sucesso. Além da grande organização Stand With Us estar constantemente resistindo a esses movimentos, alunos pelas universidades se aventuram em debates e discussões, manifestações pacíficas, tudo em prol do Estado de Israel. Se todos os judeus estivessem morando em Israel, quem faria o contrapeso? Os antissemitas e antissionistas teriam liberdade para expor suas ideias e convencer quem quisessem, sem ninguém para

se opor. Pode-se afirmar que existem muitas pessoas não judias a favor do povo judeu e do Estado de Israel. Sim, existem. Porém não é de se esperar que elas lutarão por nós. Podemos esperar a ajuda delas ao nosso lado, mas não irão lutar por nós caso mudássemos para Israel. A luta pela nossa liberdade e sobrevivência depende, em primeiro plano, de nós. Se nos escondermos em Israel como uma lebre se esconde em uma toca de um leão, perderemos a luta. Uma criança que sofre bullying não deve se isolar em seu canto e permitir as provocações. Muito pelo contrário, deve buscar fazer amigos e resistir. Israel sabe se defender em uma guerra de armas, porém na guerra ideológica, depende de seus embaixadores pelo mundo. Para finalizar, acho necessário desmentir a informação que o maior ato de sionismo é morar em Israel. Em primeiro lugar, um israelense não é mais sionista do que um brasileiro apenas por morar em Israel. Esse brasileiro pode fazer muito mais para o país do que o próprio israelense. Israel é um lugar maravilhoso e todos os judeus que desejam morar lá são mais do que encorajados para ir, é realmente um ato lindo. Mas isso não define “nível de sionismo”. Um judeu pode defender Israel se mudando para lá, entrando no Tzahal e depois ajudando a crescer a economia. A Aliá é um dos atos mais corajosos que um judeu pode fazer; se retirar de sua comunidade, sua vida passada e sua família para morar no país que mais ama, é verdadeiramente um ato valoroso. Isso não o faz ser mais sionista, entretanto, do que um canadense judeu, por exemplo, que apoia Israel ideologicamente, advogando a favor do Estado judeu, gastando de seus esforços em prol da sua sobrevivência e ensinando seus filhos a importância do nosso país, mesmo escolhendo permanecer no Canadá.

Exatamente como a Haskalá não erradicou o antissemitismo, o fim da diáspora também não irá. Como já afirmado, o antissemitismo não depende de circunstância alguma, ele é basicamente um ódio cego existente contra a raça judaica. emdá 45


O sionismo jamais deve ser rotulado como um status de diferentes níveis. Voltei de Israel faz poucos meses e aprendi que muitos israelenses fazem menos do que nossa comunidade judaica, por exemplo, para o Estado judeu. Sim, eles pagam impostos e fizeram o serviço militar — atos que são vantajosos para o Estado de Israel — contudo, nada feito além da obrigação como cidadão. Muitos nem sentem o real antissionismo que ocorre mundo a fora e se preocupam apenas em condenar o primeiro ministro por ter aceito charutos de amigos diplomatas. Sionismo não se mede pela localização geográfica e sim, por amor e por atos. A definição geral de Sionismo é o movimento que busca o retorno do povo Judeu para Israel e o estabelecimento de um Estado soberano. Dois dos quais já foram conquistados. Nosso objetivo como sionistas agora é manter sua soberania, seja vivendo em Israel ou não. Hoje nos deparamos com um Sionismo Moderno, uma luta não para criar o Estado de Israel e sim para mantê-lo. Sem a Diáspora, nas circunstâncias que vivemos, o Estado de Israel verá o seu fim, assim como nossas responsabilidades como humanos, judeus e sionistas. A Diáspora é mais do que necessária para a sobrevivência de Israel — por mais que tenha também suas desvantagens que não devam ser ignoradas — e jamais devemos ter medo de aceitar isso. O Sionismo em sua máxima essência se encontra no nosso coração, independente de onde moramos.

Em primeiro lugar, um israelense não é mais sionista do que um brasileiro apenas por morar em Israel. Esse brasileiro pode fazer muito mais para o país do que o próprio israelense. Israel é um lugar maravilhoso e todos os judeus que desejam morar lá são mais do que encorajados para ir, é realmente um ato lindo. “O Sionista da Rua Tupi frequentou movimentos juvenis por décadas e faz juras de amor a Israel. Em períodos de guerra, se torna um soldado implacável no Facebook, canta o Hatikva em atos na Vila Boim e fica em estado de alerta para responder qualquer sílaba negativa em relação a sua amada pátria na faculdade ou trabalho. Quando algum conhecido conta que fará aliá, ele abre um grande sorriso, o abraça, deseja toda a sorte do mundo e diz o quanto tem orgulho dele. Quando é perguntado de volta, ‘E você? Vai fazer Aliá?’, responde, Israel precisa de mim aqui.” (Excerto adaptado do texto Sionista da Rua Tupi)

há um debate em que se questiona o valor das comunidades judaicas da diáspora e efetividade da hasbará, alegando que seriamos um povo mais forte com todos os judeus em israel. Você acredita que:

As comunidades da diáspora são importantes para representar e defender Israel do resto dos países do mundo

15,6%

24,1%

60,3%

Seríamos mais fortes se todos os judeus estivessem em Israel não sei o suficiente sobre o assunto / não tenho opinião formada 46 emdá

*pesquisa realizada com chanichim e bogrim do Netzah


A DIÁSPORA É necessária?

Não SHALOM! Má nishmá? Eduardo Huberman Ex-Madrich, Rosh Chinuch e Boguer Aliá

Estimado leitor, serei franco desde o início consigo, escrever sobre os judeus e a diáspora é algo que exige muita concentração e paciência. O tema é delicado e existem inúmeras formas de abordá-lo, portanto, escolhi aquele que mais me pareceu adequado e, para minha sorte, também calhou ser o meu preferido: reflexão.

Pois é, caro amigo. Pode ser que você esperava um texto clássico, recheado de argumentos e posições fixas e polêmicas... Mas, decidi exibir e oferecer questionamentos pertinentes com que deparei no processo de escrita e pensamento sobre o assunto. O resultado é um artigo que mais parece um bate-papo, no qual você poderá tirar suas próprias conclusões. Então, chega de introduções e vamos lá...

emdá 47


Alef: Por qual razão a Diáspora ainda existe?

Uma frase que já ouvi muito: “Israel é para todos (os judeus), mas nem todos são para Israel”. Correto, o Estado Moderno de Israel trabalha com a política da Lei do Retorno que literalmente abre as portas para todos os judeus do mundo virem para cá (eu escrevo de Jerusalém ☺), mas, acontece que nem todos se encaixam no estilo de vida aqui e não faltam exemplos de Olim Chadashim que abandonaram o sonho sionista após algum tempo vivendo aqui (além dos vários israelenses que se mudam para o exterior todos os anos).

O negócio aqui é que, se você não tentar, nunca irá saber! Esse papo todo me direcionou a outra pergunta fundamental:

Beit: O que a Diáspora tem a oferecer para os judeus? O que ainda segura os judeus na Diáspora atual é o mesmo que impediu o nosso povo de sair da Babilônia e reconstruir o Segundo Templo: CONFORTO. Vou propor um exercício mental e pedir para que voltemos no tempo, aproximadamente há 2.300 anos. O rei da Babilônia, Nabucodonosor, conquistou e destruiu Jerusalém e o Templo, em seguida impôs o exílio da população judaica. Na nova localização, os judeus se integraram à sociedade, floresceram economicamente e gostaram. Passados 70 anos, os babilônios são conquistados pelos persas e o império persa decide outorgar aos judeus o direito de voltar a Jerusalém e reconstruir o tão desejado Beit Hamikdash! Zerubavel, Ezra HaSofer e Nehemiá foram os três líderes que conclamaram o povo a retornar à Terra Prometida e adivinhe só qual foi a resposta: “Cri cri...”. Silêncio e recusa! Parece absurdo, não? Tão pouco tempo após o êxodo inicial, o povo já havia se adaptado e acomodado em outra terra, esquecendo e ignorando Eretz Israel... A vida era confortável demais.

48 emdá

Qualquer semelhança com os dias de hoje não é mera coincidência.

Guimel: A analogia da árvore... Meu caro amigo, na seguinte suposição você acaba de ser presenteado com uma bela e jovem árvore e sua missão é garantir que ela cresça, seja saudável e se fortifique. O cultivo da árvore demanda muitos cuidados durante seu crescimento, porém, o primeiro e mais importante de todos é decidir aonde fixá-la, correto? O próximo passo é simples e não é necessário ser um jardineiro para chegar à conclusão que é preciso encontrar um terreno firme e fértil que permita o desenvolvimento da planta. Uma vez fixada na terra, temos inúmeras outras tarefas a realizar, porém, vou interromper aqui e sugerir que pensemos um pouco em nós como povo. Os judeus são como a árvore. Queremos crescer, ser saudáveis e fortes (tanto espiritual como materialmente). Onde está nosso verdadeiro terreno firme? Qual cidade declaramos ser nossa Capital Eterna? O que “fertiliza” os judeus é o judaísmo, na minha humilde opinião. E atualmente, o Estado Moderno de Israel é centro espiritual e cultural do povo judeu, aqui a vida judaica é norma. A maioria da população é judaica, as leis estão baseadas nos valores da Torá (mesmo que não integralmente), os feriados nacionais são Pessach, Rosh HaShaná e Yom Kippur e não Finados, Natal e Corpus Christi. Bom, creio que temos bastante material para pensar e questionar. Como eu prometi no início, essas linhas têm como objetivo fazer com que você, leitor, abra sua mente para as ideias acima expostas... Quanto a mim, não se preocupe, após refletir sobre os questionamentos acima, decidi tomar uma atitude e minha resposta veio em atos, não em palavras! Enfim, cada um é, e sempre será, livre para tomar suas próprias decisões, portanto, abro mais uma vez o convite de partilharem do milagre de Israel.

“A redenção, mais do que nunca, está disponível em nossas mãos. Que com a ajuda de D’us ela seja plenamente concretizada. Amém!”


emdรก 49


Ô polêmica R T pode a Torah ser a E R TE A B

DE

constituição

de Israel não

Semy Dayan boguer 1990

A Torah e suas leis foram entregues no deserto do Sinai ao povo judeu, que mais tarde, já na terra prometida, reuniu seus grandes sábios para escreverem todas as leis que regeriam o povo. Eram leis modernas e que abrangiam todos os aspectos da vida do cidadão, e estes confiavam e seguiam estas leis religiosamente .

P

or muitos e muitos anos, estas leis mantiveram nosso povo unido e graças a elas ainda existimos, mesmo na diáspora. O que acontece é que hoje em dia Israel existe de novo, e a grande maioria de sua população não segue os preceitos da Torah, logo não segue as leis do país. E isto é um grande problema, pois Israel, ilha democrática, não tem uma constituição que possa ser seguida por todos os seus cidadãos. Para uma pessoa religiosa, é simples ver na Torah tudo o que se necessita para viver, mas para um leigo, alguém que não acredita em nada, fica realmente difícil viver com leis feitas há mais de dois mil anos. Como exemplo, não lhe interessa o fato de uma vaca ter passado a cerca e comido o seu pasto,

sim

Dany Hamoui boguer 1990

O nome Hebreu, vem do hebraico “ivri” O primeiro judeu a ser chamado de ivri foi Avraham Avinu. Ele era assim chamado dado ao fato de que ele era a única pessoa monoteísta num mundo todo ele politeísta. (IVRI vem da palavra EVER: margem, ou seja, enquanto todos estavam numa margem, politeísta, ele estava na outra. ) 50 emdá

pois ele vive numa era mecanizada, há tratores, prédios, jatos, inflação... Falta—lhe, como para a maioria da população israeli, leis que regulamentem tudo isto. Leis que sejam feitas pelo conjunto da população, leis que contenham toda a moral que a Torah pode nos dar. Além do mais a própria religião judaica prega o livre arbítrio, isto é, cada um tem o direito de cumprir o que bem entender, e nunca ser forçado a algo. Não é proibindo alguém de andar de ônibus no Shabat, que esta pessoa se rá mais religiosa. O que importa é o que vem de dentro, o sentimento. Todo judeu é responsável pelo próximo, deve convencê-lo, mas não obriga-lo a fazer algo em que não crê. Deixo bem claro que me refiro às leis civis do Estado de Israel e não à religião judaica, que, esta sim deve ser preservada como lei espiritual do povo.

C

omo pudemos observar, o primeiro judeu foi distinguido justamente por ter um modo diferente dos outros que o cercam. E esta história se repetiu durante toda a história da humanidade quer na época dos romanos ou na época nazista. É muito claro para todos o que sempre fez o modo de vida judaico diferente do resto do mundo: a TORÁ.


A Torá nada mais é do que uma maneira de dirigirmos nossa vida. Desde que acordamos até que vamos dormir, a Torá é que nos dita as várias formas de conduta (social, comercial, espiritual. Essa conduta nunca foi mudada pelos judeus. Mesmo sendo conquistados por vários povos, nunca chegaram a assimilar por completo suas culturas, sempre mantiveram a cultura judaica. O que eu quero mostrar com tudo isso é que a Torá sempre regeu o modus vivendi do povo judeu; e se não fosse Ela, nada teria mantido o nosso povo unido. Nada iria diferenciar o Judeu de outros povos; seríamos a penas mais um. Pelo menos para mim, é claro como a água que sem a Torá seria impossível a existência de um povo judeu. (A Torá

Desde que acordamos até que vamos dormir, a Torá é que nos dita as várias formas de conduta (social, comercial, espiritual. engloba tanto povo, terra e cultura). Por isso eu acredito que se existe um Estado Judeu, ocupado por Judeus, a Constituição desse estado deve ser influenciada e baseada nas normas da Torá. A não ser que se esteja querendo formar um estado israelense, com israelenses, e uma nova cultura israelense. Este seria então, mais um país com uma cultura, do mesmo jeito que Roma o foi com sua cultura romana. Só para terminar, gostaria de dizer que se o Estado de Israel está localizado no lugar onde está é devido às inscrições da Torá, porque senão talvez estaríamos na Uganda.

no geral, você acredita que a constituição israelense deve ter como base a torá?

sim

22% 19,1%

não não sei o suficiente sobre o assunto / não tenho opinião formada

58,9% *pesquisa realizada com chanichim e bogrim do Netzah emdá 51


startup nation

52 emdรก


a história do

milagre econômico de Israel

Como Israel – com apenas 8 milhões de habitantes, sem recursos naturais, com inimigos em todas as fronteiras e em constante estado de guerra – produz mais startups que Japão, Índia, Coreia do Sul, Canadá e Reino Unido? Como esse pequeno país no Oriente Médio, com apenas 69 anos de idade, tem mais empresas na Nasdaq do que Coreia do Sul, Japão, Singapura, Índia e toda a Europa combinados? Muitos já tentaram explicar esse fenômeno incrível que ocorre em Israel quando se trata de startups, mas sempre de uma forma abstrata e não muito convincente. Em seu livro Startup Nation, Dan Senior e Saul Singer citam várias razões que levaram Israel a se tornar o país que é hoje.

O

Rafael Hamoui Madrich de Solelim A

livro começa com uma história de uma pequena empresa israelense chamada Fraud Sciences, que afirmava ter uma melhor solução para o problema de golpes de pagamentos on-line e roubo de identidade pela internet para o PayPal - o maior sistema de pagamentos pela internet no mundo na época. Apesar de não estar esperançoso para a apresentação dessa nova pequena empresa israelense, Thompson, CTO do PayPal, aceitou marcar uma reunião para discutir o assunto. Durante a reunião lhe foi apresentado um sistema muito simples: temos no mundo homens bons, que não tem por que esconder sua vida na internet, e homens ruins, que evitam deixar marcas na internet. Isso deixou Thompson irritado, uma vez que o PayPal tinha uma área inteira na empresa apenas dedicada a isso, e esta pequena empresa com uma teoria dessa simplicidade estava questionando seu sistema. Mesmo assim, para não parecer mal-educado, deu à Fraud Sciences uma lista de clientes que já tinham sido analisados pelo

Paypal para que pudessem comparar os resultados, esperando não ter que vê-los outra vez. No final, a startup havia processado as informações de forma mais rápida e eficiente que o PayPal, que foi obrigado a comprar a empresa israelense por 200 milhões de dólares para não ser ultrapassada. A chutzpah presente na cultura israelense é um grande fator na criação desse ecossistema de startups. Chutzpah em hebraico significa ser ousado, não ter vergonha, não ser intimidado por estar em um cargo ou posição menor. Assim como os criadores da Fraud Sciences desafiaram a empresa que estava no topo, os israelenses em geral são relutantes em entender o que os impede de fazer algo melhor e competir com as gigantes do mercado. A cultura dentro do exército israelense pode ser considerada muito diferente da de outros exércitos. Enquanto no resto do mundo a palavra do comandante é uma ordem inquestionável, o Tzahal incentiva os seus soldados desde que entram a perguntarem o porquê das coisas e sempre questionarem e opinarem nas decisões de seus comandantes. Em nenhum outro lugar do mundo os soldados de mais baixo escalão são livres para tomar decisões sem a consulta de alguém superior, o que estimula o pensaemdá 53


mento e a inovação dentro do exército. Além disso, os jovens israelenses são obrigados a passar por situações durante o serviço militar de extrema responsabilidade, em comparação com os outros jovens no mundo. Enquanto um americano está na universidade, um jovem israelense de 21 anos pode ser nomeado para ser responsável por proteger uma área inteira. Dessa forma, o processo de amadurecimento dos jovens israelenses ocorre muito mais cedo, preparando-os para a vida profissional. Os criadores da Fraud Sciences, por exemplo, eram caçadores de terroristas no exército e conseguiram estender seu conhecimento nessa área para a vida profissional.

Nos anos 1990, Israel tinha um problema de falta de investimento em startups e inovação. de dólares para criar dez novos fundos que investiriam em startups. Além disso, o governo dividia o risco com o investidor. Inicialmente, o governo mantinha 40% do fundo para ele, que depois poderiam ser comprados por um preço baixo pelo investidor caso o fundo estivesse indo bem. Isso alavancou o processo de inovação em Israel de forma bastante positiva e contribuiu para que hoje o país seja referência nessa área.

Em uma palestra em São Paulo sobre a cultura de startups em Israel foi perguntado aos convidados sobre a razões que fizeram com que Israel se tornasse essa potência na área de Quando fundado em 1948, Israel tinha apenas inovação. Uma das convidadas, Audrey Jacobs, criadora do 806 mil habitantes. Atualmente, Israel possui cerca de 8 milhões de habitantes, devido à larga fundo de investimentos OurCrowd, em San Diego, e uma das donas da página StandWithUs no Facebook, citou a imigração de judeus para o país nos últimos importância mãe judia. Segundo ela, a mãe judia nunca está 69 anos. Logicamente, quando em seu país de satisfeita com o desempenho do filho e sempre quer que origem e com uma vida estável, a chance de ele se sobressaia em relação aos outros. Em uma situação o indivíduo arriscar tudo para começar uma na qual o amigo do filho consegue fazer algo espetacular, startup é muito pequena. Por outro lado, ao a mãe judia critica o seu filho por não ter sido ele quem chegar a Israel e ter que recomeçar a vida, a conseguiu chegar ao topo. Num mundo em que o politicatendência para tentar inovar e começar algo mente correto está cada vez mais presente e, portanto, todos novo é muito maior. Quando não temos nada devem ser aceitos do jeito que são, a presença da crítica e da a perder, olhamos apenas para o que temos a não aceitação na cultura israelense é de extrema importânganhar. Assim, como a sociedade israelense cia para a criação desse ecossistema de inovação em Israel. é composta majoritariamente por imigrantes, esse caráter de aceitação do risco e vontade de inovar já se encontra embutido em sua cultura. Nos parágrafos acima, busquei explicar brevemente o que leva Israel a se tornar referência em inovação e startups atualmente, baseando-me no livro Startup Nation. RecoNos anos 1990, Israel tinha um problema de mendo a todos a leitura deste best-seller, o qual, além de falta de investimento em startups e inovação. Para resolvê-lo, o governo israelense implemen- nos fazer entender um pouco mais da cultura israelense, nos tou um programa chamado Yozma (inovação), revela princípios que podem ser aplicados tanto na nossa vida pessoal quanto na profissional. pelo qual o governo iria investir 100 milhões 54 emdá


3 países Atuação em

Brasil/Peru/Chile

20

2005

Escritórios nos países de atuação

Fundação SRM

750

milhões em a�vos

3

FIDCS sob gestão

+ de 2.400 inves�dores

2.500 clientes atendidos nos setores comerciais e industriais

+ de 14 produtos oferecidos

+ de 5 bilhões em volume de operações ao ano

Autorizada pela CVM e SMV e cer�ficada pela Anbima

250

colaboradores engajados com alto nível de comprome�mento, performance e senioridade

www.srmasset.com

Central de atendimento: 0800 878 1005 Brasil - Alameda Cleveland, 509 - CEP: 01218-000 - São Paulo, SP


O sucesso do

WAZE Criar um produto inovador que possa facilitar a vida de um grande número de pessoas; saber onde está concentrado o tráfego e encontrar uma alternativa para não precisar encará-lo; criar um sistema de interação entre motoristas para que possam compartilhar informações sobre o tráfego em tempo real. Essas são apenas algumas das propostas de um aplicativo que tem se espalhado entre os usuários de smartphones pelo mundo, o Waze. Alan Kovari Madrich Amelim B

Fundada em 2008 por Uri Levine, pelo engenheiro de software Ehud Shabtai e por Amir Shinar, em Israel e financiada por alguns rounds de investimento, a empresa logo conseguiu validar sua ideia. Em seguida, os três sócios empregaram mais 80 pessoas para participarem junto com eles, 70 em Ra’anana, Israel, e dez em Palo Alto, Califórnia. Os anos se passaram e as coisas foram melhorando para empresa israelense. Em 2013, o Waze ganhou o prêmio de melhor aplicativo portátil no Congresso Mundial de Portáteis, derrubando o Dropbox, o Flippboard e outros. Em 11 de junho de 2013, o Google completou a aquisição do Waze por 1,3 bilhões de dólares. Parte do acordo fechado era que cada 56 emdá

um dos funcionários do Waze receberia em média um montante de 1,2 milhões de dólares, que representaria o maior pagamento para funcionários na história da Israeli High Tech. Hoje em dia, segundo a revista Exame, o Waze chegou a 3 milhões de usuários na Grande São Paulo. Além disso, são mais de 65 milhões de usuários ativos no mundo todo e a tendência é que este número só aumente. Mas, afinal, qual a principal diferença entre o Waze e os outros mapas, como o Google Maps ou o GPS comum? Existem alguns fatores que podem explicar esta distinção. A primeira é o poder do crowdsourcing: toda informação que o Waze disponibiliza para o motorista foi gerada pelos usuários. Essencialmente, quando uma pessoa dirige com o aplicativo, o sistema coleta dados de rastreamento do GPS que está no smartphone. Com base nisso é possível dizer exatamente onde o usuário está e a velocidade em que está dirigindo. Dessa maneira, é calculada a média de velocidade de cada motorista, permitindo que seja determinada uma média para cada pedaço das rodovias. É assim que o aplicativo obtém a velocidade e o tempo médio do tráfego no sistema, utilizando os dados de rastreamento do GPS que está no aparelho. O segundo fator é o que os criadores do aplicativo chamam de “mapa ao vivo”, ou seja, uma plataforma que sofre transformações constantemente.


Se o motorista que utiliza o app viaja para um novo lugar, este será adicionado no outro dia ao aplicativo e estará disponível para todo mundo. A comunidade então estará habilitada a se amparar. As pessoas que estão sofrendo paradas no trânsito podem se ajudar. A principal diferença entre o que o Waze faz e o que os outros estão fazendo não está na navegação, mas na interação entre quem está dirigindo. Entretanto, um dos maiores problemas que o Waze enfrenta até hoje é com as autoridades policiais. Elas afirmam que as redes sociais e aplicativos como o Waze estão ajudando pessoas que bebem e dirigem a fugir das blitz organizadas pela polícia. Ao entrevistarem Uri Levine, presidente do Waze, e perguntarem a ele o que acha sobre isso, Uri disse: “Não apoio quem bebe e decide pegar o volante, mas não acredito que uma pessoa bêbada consiga utilizar o Waze. Na realidade, não sei de pessoas que utilizam o aplicativo com essa finalidade. Mas, tenho conhecimento de motoristas que utilizam o Waze para fugir dos radares de velocidade. Esse comportamento está dentro dos nossos

objetivos: que os motoristas saibam onde estão os radares e diminuam a velocidade. Queremos que as pessoas dirijam devagar e com segurança”. Essa polêmica surgiu desde a ascensão do aplicativo e até agora não houve nenhuma medida extrema contra sua utilização. Por último, cabe ressaltar a vocação que o país de Israel tem para a inovação. Não somente pelo Waze ter sido criado lá, mas também por outras importantes e grandes empresas que surgiram no país. Atualmente, muitos alegam que o fator que faz com que Israel seja um país onde se há tanta inovação e tantas startups é a dificuldade em que o país viveu e vive, em constante ameaça de guerra, o que acaba criando uma base para o desenvolvimento tecnológico. Todos os jovens israelenses fazem três anos de treinamento no exército, logo ao sair do colégio. Isso gera na juventude comportamentos como “eu consigo” e “precisamos confiar uns nos outros”, levando a criação de toda uma cultura empreendedora no país. Vários desses jovens servem em unidades de desenvolvimento tecnológico do exército e, portanto, já estão aprendendo o que há de mais moderno em termos de tecnologia. Além disso, vários dos próprios desenvolvimentos tecnológicos criados para a defesa são em seguida aplicados para a vida civil. Assim, o jovem sai treinado tecnologicamente, com uma atitude de persistência e com ideias que servirão de base para novos desenvolvimentos.

O segundo fator é o que os criadores do aplicativo chamam de “mapa ao vivo”, ou seja, uma plataforma que sofre transformações constantemente.

emdá 57


STARTUPS israelenses de

SUCESSO

Vaadat Emdá

Criada em 2006 pelos israelenses Avishai Abrahami, Nadav Abrahami e Giora Kaplan, a empresa tem como objetivo facilitar a criação de sites para pessoas que não teriam as habilidades necessárias para isso. Em seu site já existem modelos prontos, então basta que o usuário edite um modelo para que possa criar o seu. Em 2014, mais de 40 milhões de pessoas já haviam usado os seus serviços. No mesmo ano, a empresa abriu o capital na Nasdaq com uma valuation de aproximadamente 600 milhões de dólares.

O Moovit está redefinindo a experiência do transporte público, dando às pessoas a informação em tempo real para que possam chegar a algum lugar no tempo certo. Com horários, planejamento de viagem, navegação e relatórios crowdsourced, o Moovit orienta usuários do transporte público sempre para as melhores e mais eficientes rotas e faz com que seja fácil se locomover pelas cidades ao redor do mundo. Lançado em 2011, o Moovit está revolucionando a experiência de transporte público em mais de 1.200 cidades, incluindo Nova York, Los Angeles, Londres, Roma, Madri, São Paulo, Cidade do México e Tel Aviv.

Uma das mais famosas startups criadas em Israel recentemente, a Consumer Physics, fabricante do dispositivo SCiO, arrecadou US $ 2,7 milhões no Kickstarter. O aparelho é basicamente um sensor molecular de bolso, permitindo que você veja a composição química de objetos do cotidiano, como a comida que come. A empresa colocou o dispositivo como uma ferramenta para aprender mais sobre o mundo e os materiais de que é feito. Devido ao sucesso atingido pela startup, a Microsoft deseja adotar essa tecnologia num futuro próximo.

58 emdá


Qualquer pessoa que trabalha no setor de serviços financeiros provavelmente já ouviu sobre AU10TIX. As empresas desse ramo necessitam de autenticação de documentos rápida, automatizada e precisa para prevenir fraudes e conhecer melhor os seus clientes. Essa empresa garante que os documentos sejam reais analisando-os em três níveis: confirmam se os dados estão corretos, verificam se há alterações e usam metadados no arquivo. AU10TIX fornece autenticação avançada para empresas como PayPal, TransferWise, Google e Payoneer.

Uma das primeiras coisas que as pessoas gostam de fazer quando recebem um novo celular é encontrar os melhores aplicativos para fazer download. O Drippler construiu uma plataforma de descobertas que faz exatamente isso. Ele agrega conteúdo de toda a internet que ajuda os usuários a encontrar e descobrir novos aplicativos e maneiras de usar seu celular. O serviço também oferece uma maneira para os desenvolvedores de aplicativos promoverem seus apps para um público que está procurando novos aplicativos para testar.

Compartilhar conteúdo é uma das coisas mais importantes que fazemos na internet atualmente. Baseado nisso, a start A FIRE busca garantir que os indivíduos e as marcas ganhem o devido crédito ao compartilhar conteúdos que se tornam virais. Quando você compartilha, liga ou publica pelo serviço, ele exibe um crachá especial para que todos os que veem o conteúdo saibam quem o compartilhou originalmente. Isso proporciona uma oportunidade incrível para marcas pessoais e corporativas. O serviço já é utilizado por mais de 150 marcas populares e está em fase de grande expansão.

A computação em nuvem é um dos setores mais interessantes do espaço de tecnologia e, pensando nisso, o Cloudinary busca utilizar a nuvem para fornecer aos proprietários de sites uma poderosa plataforma de gerenciamento de imagens. Os editores precisam gerenciar milhares de imagens simultaneamente e essa startup ajuda-os a fazer isso com uma plataforma de nuvem fácil de usar. Além disso, isso permite que as editoras possam automatizar muitas de suas tarefas de edição de fotos ao ajustar algumas linhas de código no URL da imagem. O Cloudinary já está sendo usado por mais de 100 mil clientes mundialmente, incluindo grandes editores, como Vogue, Conde Nast, Glamour e Wired.

emdá 59


Imagine ser capaz de soltar o seu dispositivo portátil, telefone ou aparelho auditivo em um pequeno recipiente (como um porta-copos ou um cesto) e o aparelho se carregar automaticamente sem o uso de fios. Esse é o futuro que a startup Humavox está trabalhando para desenvolver. Fundada em 2010 por Omri Lachman e Asaf Elssibony, a empresa com sede em Israel desenvolveu uma plataforma que usa tecnologia de radiofrequência de campo próximo para uma experiência de cobrança intuitiva, simples e perfeita. Sua estação de carga pode ser na forma de quase qualquer recipiente.

A chamada de voz é muitas vezes vista como uma tecnologia do “século passado” que foi substituída por mensagens de texto e bate-papo. A Yallo está tentando mudar isso com um aplicativo que modernizou a experiência da chamada e traz alguns dos poderosos recursos que os usuários esperam de seus aplicativos de mensagens favoritas para chamadas de voz. A Yallo permite que os usuários mantenham seu número de telefone regular, mas recebam e façam chamadas de qualquer dispositivo sem ter que alternar os SIMs. Além disso, o serviço fornece um poderoso recurso de gravação de chamadas, para que os usuários possam preservar suas conversas mais importantes.

Via é um aplicativo de caronas que ajuda as pessoas a se deslocar pelas cidades. Esse app permite que as pessoas agendem uma viagem em seu celular e sejam levadas a algum lugar próximo ao seu destino por um motorista que também irá para perto do seu local de chegada. A empresa, fundada em 2012 por Daniel Ramot e Oren Shoval, arrecadou mais de US $ 100 milhões (£ 80 milhões) de pessoas como o oligarca russo Roman Abramovich, Hearst Ventures e o fundo de risco israelense 83North.

60 emdá


emdรก 61


QUEM É MICHEL ABADI?

O QUE FAZ? Eu nasci em São Paulo em 1973 e estudei no Peretz até o colegial. Formei-me em engenharia de produção na Poli e logo fui trabalhar no Banco Patrimônio na montagem da área de asset management e private banking, na parte de trading e engenharia financeira/ estruturação de produtos e advisory.

A

pós longos anos saí do JP Morgan (o Banco Patrimônio acabou sendo adquirido pelo Chase e depois o JP Morgan adquiriu o Chase), em 2001, para abrir o escritório de representação da Gems (um fundo de hedge funds) em São Paulo. Nesse ínterim casei com minha linda esposa, Carol Safdie, e tivemos três filhos. Com a Gems, fiz aliyah para Raanana em 2003 e continuei lá na matriz, principalmente focado nas relações institucionais com os bancos estruturadores europeus. Em 2006 nosso quarto filho nasceu, o único sabra, e em 2013 encontrei meu sócio, Yaron Carni, e saí da Gems para fundar o Maverick, um fundo de venture capital que investe em empresas de tecnologia em estágio de crescimento.

[Rafael Hamoui] 1. Na sua opinião, como a cultura, a educação e o governo influenciam para que Israel tenha tanto sucesso na área de inovação e startups?

[Michel Abadi]Já se escreveram vários livros sobre assunto, entre eles o famoso Start-up nation, mas, se eu tivesse que resumi-lo em pouquíssimas palavras, diria que tudo isso é fruto de uma decisão do governo israelense de muitos anos atrás de criar esse “ecossistema” e de um planejamento sistemático do esforço e uma execução exemplar. A cultura e o aspecto militar foram fatores que provavelmente ajudaram na decisão do governo porque mostraram claramente que o setor de tecnologia provavelmente era a vocação natural do país, mas o que se vê hoje é o resultado conjunto de tudo isso. É verdade, o medo de errar aqui não existe porque é normal errar 62 emdá

e até é bem-vindo. É verdade, a Tzavá tem uma enorme influência nesse “ecossistema” e também se beneficia enormemente dele. Sim, existe uma diversidade de investidores o apoiando. É verdade, as escolas já começam a identificar esses gênios desde cedo e os desafiam a superar suas barreiras e muitas outras coisas. Mas, se você examinar a história, vai ver que isso tudo não aconteceu por acaso, pelas mãos da iniciativa privada, do “mercado”. O governo teve um papel fundamental e executou isso muito bem.

[Rafael Hamoui] 2. No Brasil, é nítida a falta de um ecossistema bem formado nesse ramo de startups e inovação. Na sua opinião, por que isso acontece? O que falta para que o Brasil possa começar a criar esse “ecossistema”?

[Michel Abadi] Primeiramente, o Brasil deve procurar a sua própria vocação dentro do segmento de tecnologia e ter um plano estratégico de longo prazo que leva em conta onde o mundo estará em cinco ou dez anos, que é o prazo que essas coisas levam para maturar. Pode ver como isso aconteceu aqui e em outros países, pesquisar e depois desenhar o plano. Depois, focar a execução e o ajuste do plano. Não vejo outro jeito de fazer isso no Brasil para que seja significativo e, realmente, isso envolve todos os aspectos: educação, funding, cultura, incentivos, etc.


A língua é um grande empecilho para muitos e é o ponto crucial para qualquer imigração a qualquer país. [Rafael Hamoui] 3.Por que você acha que a aliyah brasileira está crescendo nos últimos anos?

[Michel Abadi] Bom, meu tema predileto. A aliyah brasileira vem crescendo por dois ou três motivos centrais, sem ordem de importância. De um lado, sem dúvida, os jovens olham para o futuro do Brasil com certo desgosto e desesperança, olham em volta de si e vêm uma sociedade em geral corrupta nos seus valores, sem nenhum senso de nação, superindividualista e imoral. Naturalmente eles preferem trabalhar para um futuro diferente, não conectado a essa sociedade. Por outro lado, com a maior e imediata disponibilidade de informação sobre outros países e sociedades é natural que esses jovens pesquisem outras alternativas e coloquem como objetivo a transferência para outros países. Nesse contexto, tanto porque Israel têm caminhado muito consistentemente na direção de sociedade avançada, moderna, dinâmica e ultrademocrática, quanto pelos incentivos e facilidades disponíveis para o jovem judeu fazer aliyah, esses fatores levam a uma clara inclinação a fazer um teste e dar uma chance a essa alternativa. Isso para a maioria dos casos. Naqueles outros casos em que a identidade judaica fala forte, então é um no-brainer total... E isso está acontecendo também com famílias formadas, pessoas mais velhas e em todos os estratos da comunidade.

[Rafael Hamoui] 4. Qual a dificuldade de adaptação do ole brasileiro?

[Michel Abadi] De verdade, não têm muitas dificuldades de adaptação. Lógico que é tudo muito diferente aqui, mas, na balança dos prós e contras é tão desequilibrado para o lado positivo que todas as dificuldades acabam parecendo pequenas. A língua é um grande empecilho

para muitos e é o ponto crucial para qualquer imigração a qualquer país. Mas, passado esse obstáculo, adaptar-se à escola pública, á saúde pública e ao caráter israelense, que são os desafios seguintes, fica relativamente tranquilo diante dos enormes ganhos de tranquilidade, paz, valores, cultura e sensação de pertencer a uma sociedade muito nossa e que galopa para o progresso num ritmo alucinante. Para ser sincero, no meu caso, a coisa que mais levou tempo para eu me acostumar foi com a falta do domingo...

[Rafael Hamoui] 5. Nos últimos anos, vemos um aumento no número de alunos da Beit Yaacov que querem estudar em Israel. O que você acha que é o grande diferencial das universidades israelenses em relação às brasileiras?

[Michel Abadi] Eu fiz aqui o meu MBA e, no meu caso, o grande diferencial que pude perceber é a experiência que os colegas trazem para dentro da sala de aula. Por terem já passado pelo exército em posições de comando, administrando orçamentos enormes e tomando decisões de longo e de curto prazo e de alto risco, os jovens que foram meus colegas enriqueceram muito o nosso aprendizado. Além disso, o fato de estar ao lado das grandes empresas de tecnologia traz muito campo para ser explorado e pesquisado e existe uma interação enorme. Por último, você está ao lado da crème de la crème intelectual de um país que por si mesmo já é o top em termos macro no grau de QI, então, você tem muito de quem aprender e absorver experiência e conhecimento. O mais incrível de tudo o que experimentei na Universidade de Tel Aviv foi o drive do israelense pela excelência. Ninguém se contenta com 99. Tem que ser 100.

emdá 63


UM BERÇO

para o futuro Israel vem, desde seu nascimento em 14 de maio de 1948, surpreendendo o mundo em várias áreas. Entre elas, ganhou destaque a área de desenvolvimento tecnológico, algo que rendeu grande lucro para os cofres israelenses e que foi de suma importância para avanço cientifico mundial. Nesta recente formação da Terceira Revolução Industrial, na qual o mercado é fundamentado e administrado por meio de tecnologias e integração extensiva de computadores, Israel ultrapassou países que antes eram dominantes nesse quesito. Thomas Glezer Boguer

À

s vezes, não acreditamos que algo que parece tão distante é possível. O sonho da “terra de leite e mel”, que antes parecia um conto de fadas, parece ter se concretizado. Constantemente Israel se expande e cria laços com países e empresas todos os cantos do planeta. Segundo o escritor D. H. Sidebottom, “Estrelas não brilham sem escuridão”. Levando isso para o contexto israelense, percebemos que, mesmo com as guerras e ameaças externas, o estado judeu conseguiu ainda conseguiu brilhar, se desenvolver e se transformar num país de primeiro mundo. Atualmente, Israel possui 95 empresas na bolsa de valores dos EUA, o que mostra como atualmente, o país de fato representa um dos principais centros de tecnologia do mundo. Em setembro de 2015, a Rede Globo fez uma reportagem sobre uma nova tecnologia desenvolvida pela empresa Mobileye, fundada em 1999 – empresa que exemplifica a trajetó-

64 emdá

ria israelense na área de startups. Surgiu como um simples projeto de faculdade da Universidade Hebraica de Jerusalém meramente para fazer registro da movimentação dos corredores da faculdade. Todavia, com a ajuda do professor Shmuel Peleg, foi possível elevar o potencial desse empreendimento, que chegou a ser utilizado para auxiliar o governo da cidade de Boston, o qual usou a tecnologia para identificar os responsáveis pelo atentado ocorrido em uma maratona da cidade. Além disso, devido à sua eficiência, a Mobileye acabou sendo contratada pelo COI (Comitê Olímpico Internacional) para realizar a segurança dos Jogos Olímpicos de 2016. Em suma, seu software é rápido para captar informações ao redor (como pessoas andando, semáforo, carros), transformar em informações para um processador embutido no carro e realizar as ações necessárias para continuar em curso no caminho mais rápido e seguro possível. Já em seus tempos de sucesso, 15 anos após sua criação, a tecnologia da Mobileye é desejada por diversas empresas. Aquilo que começou como um simples projeto em uma universidade israelense tornou-se uma empresas altamente rentável, que após realizar seu IPO na


Nasdaq, conseguiu um investimento de US$ 1 bilhão - fato que foi essencial para o seu crescimento. Sua tecnologia permite que um carro seja completamente autônomo, ou seja, não é necessário que tenha um motorista para que ele possa se mover de forma segura. Isso fez com que a Mobileye fosse comprada pela Intel Corporation (empresa responsável por desenvolvimento de processadores para computadores, telefones, TVs, etc.) por US$ 15,3 bilhões, uma das maiores transações comerciais envolvendo startups relacionadas a tecnologia. Atualmente, mais de 25 empresas automobilísticas dependem da tecnologia da Mobileye para o funcionamento de seu “piloto automático”.

Além disso, devido à sua eficiência, a Mobileye acabou sendo contratada pelo COI (Comitê Olímpico Internacional) para realizar a segurança dos Jogos Olímpicos de 2016.

Tal qual a Mobileye, existem centenas de startups israelenses que são capazes de constantemente gerar inovação e desenvolvimento em meio a uma região marcada pela guerra e pela destruição. De fato, Israel faz jus à alcunha de “Startup Nation”. emdá 65


diversos

66 emdรก


dissecando A MENTE

nazista

como o Holocausto se tornou realidade Alberto Hamoui boguer

“Na tarde de 29 de novembro de 1945, todas as pessoas no tribunal ficaram paralisadas com um dos momentos mais dramáticos do julgamento. A promotoria mostrou filmes dos campos de concentração, feitos durante a libertação deles por tropas britânicas e norte-americanas menos de um ano antes. (…) As cenas dos esqueléticos prisioneiros dos campos, das faces atormentadas, das portas escancaradas dos crematórios mostrando esqueletos incinerados, dos corpos empilhados e das escavadeiras jogando montes de corpos em covas coletivas atingiram o tribunal com uma força avassaladora. Soluços e gritos abafados da galeria dos espectadores se misturavam ao zumbido do projetor.”

Essa é uma passagem inquietante do livro O Nazista e o Psiquiatra (The Nazi and the Psychiatrist, no inglês original) do jornalista Jack El-Hai, no qual ele descreve detalhadamente o notório Julgamento de Nuremberg onde 22 nazistas foram sentenciados. A obra, na realidade, narra a história de um psiquiatra americano judeu chamado Douglas Kelley que foi enviado pelo exército americano para acompanhar a rotina dos prisioneiros até o julgamento, estudá-los e responder a questão que assombrava — e ainda assombra — a mente de todos aqueles que refletem sobre o Holocausto: Por quê os nazistas fizeram o que fizeram? Estima-se que 11 milhões de pessoas inocentes foram assassinadas pelos alemães durante o período de 1939 à 1945, dentre elas gays, padres, ciganos, portadores de deficiências mentais ou físicas, comunistas, sindicalistas, testemunhas de Jeová, anarquistas, poloneses e outros povos eslavos, combatentes da resistência e judeus. Foram anos de tortura e sofrimento que iam além de qualquer imaginação fértil: humanos tratados como animais, vivendo em ambientes tomados pela escuridão e morte, sem ter acesso às condições mais básicas para a sobrevivência. Pessoas que antes eram indivíduos se tornaram números, foram separadas de seus trabalhos, conquistas, amigos e famílias. Passavam seus dias sob a angústia da dor sendo perseguidas pela lúgubre sombra da morte, mergulhadas nas trevas kafkianas que eram os campos de concentração e cientes de que estavam aprisionadas nas profundidades do oblívio e esquecimento, tudo que podiam fazer era abaixar a cabeça e caminhar vagarosamente ao inevitável destino da morte.

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Como isso foi possível? Como um ser humano exatamente como nós teve a capacidade de olhar nos olhos de uma criança inofensiva e tirar a sua vida com o puxar de um gatilho? O que os soldados sentiam quando organizavam as filas de milhares de pessoas nuas em direção a câmaras de gás, quando empilhavam os mesmos cadáveres esqueléticos? É realmente possível que eles agiam friamente quando colocavam os planos de Adolf Hitler em prática? Será que o antissemitismo foi o único motor que viabilizou essas atrocidades? É capaz de que todos os milhares de envolvidos no Holocausto compartilhavam dos mesmos sentimentos de Hitler? Essas são perguntas que foram feitas imediatamente após a libertação dos campos de concentração. Até hoje, ninguém acredita como um número tão alto de pessoas teve a aptidão de praticar tamanha desumanidade. Muitos estudos foram feitos e muitas outras teorias foram publicadas. Os Aliados acreditavam que existia uma febre nazista que contagiava a mente dos alemães, mas nunca encontraram algum tipo de doença em comum entre eles. Muitos afirmam que eram todos psicopatas, contudo é evidente a improbabilidade de um partido político e um exército inteiro ser formado por psicopatas. Entretanto, será que pelo menos o alto escalão nazista era composto por psicopatas? Douglas Kelley foi enviado para descobrir isso. Suas conclusões vão além do que seria surpreendente. 68 emdá

Me adianto para desmentir uma afirmação que para muitos parece óbvia: não, nem todos os membros do Partido Nazista eram antissemitas. O antissemitismo foi definitivamente a ignição da realização do Holocausto, mas com certeza não foi a única força que o manteve vivo por tantos anos. A questão nazista foi muito mais além do que o cego sentimento de ódio pela raça judia — que de modo geral já é perigoso em sua natureza. O antissemitismo foi a causa que escreveu a Solução Final, obviamente, mas não foi a única força que levou todos a consentirem com ela e muito menos a que realizou-a. Irei me explicar melhor com a fascinante história de Douglas Kelley e a envolvente relação que ele criou com a segunda maior figura do nazismo: Hermann Göring. No ano de 1945, um psiquiatra americano conhecido como Douglas McGlashan Kelley foi enviado a Mondorf-les-Bains, uma cidade de 13.66 quilómetros quadrados em Luxemburgo, onde Hermann Göring, o personagem mais importante do Partido Nazista depois de Hitler, estava preso. Sua missão era manter a saúde mental dos nazistas até que o destino deles fosse decidido. A partir de então, Kelley desenvolveu uma relação fascinante com Göring. O acompanhou até Nuremberg, onde tinha um novo objetivo: avaliar a saúde mental dos 22 prisioneiros para se defrontar com a Justiça no julgamento vindouro. Entretanto, Kelley tinha ambições maiores do que suas ordens, dúvidas maiores. Havia uma falha mental comum a todos aqueles prisioneiros? Eles compartilhavam de um distúrbio psiquiátricos que os fizera participar das monstruosas ações do Terceiro Reich? Começou a trabalhar então freneticamente para entender a mente nazista. Suas descobertas foram além do que qualquer teórico poderia imaginar. Kelley passou a realizar diversos procedimentos e testes com os prisioneiros, porém grande parte de sua agenda era o uso do diálogo. Sentava individualmente com cada prisioneiro e conversavam. Ele preparava perguntas que induziam a conclusões que buscava e ano-


É capaz de que todos os milhares de envolvidos no Holocausto compartilhavam dos mesmos sentimentos de Hitler? tava quaisquer que eram os pontos importantes — além de manter um detalhado diário de seu trabalho. Seguindo essa rotina, passou a desenvolver um relacionamento diferente com cada prisioneiro e, em especial, Göring. A conversa com o ele era o auge do dia para Kelley e, interessantemente, para Göring também. Kelley era o único indivíduo no local que o nazista confiava e isso foi crucial para seu trabalho. Após quase um ano de trabalho as conclusões que Kelley tirou podem soar ásperas e discordantes para muitos judeus. Os Nazistas eram pessoas tão normais quanto eu e você. “Nenhum dos prisioneiros nazistas de alto escalão (…) mostrou sinais de qualquer doença mental ou de traços de personalidade que pudessem rotulá-los insanos”. Não havia evidências de algum tipo de “germe” nazista ou mente nazista. “Kelley acreditava que inúmeros homens como Göring, sem serem incomodados pela consciência e incitados pelo narcisismo, passavam seus dias ‘atrás de grandes mesas decidindo grandes questões como homens de negócios, políticos e escroques… Oradores e escritores espertos, educados e destituídos de consciência como Goebbels, vendedores ardilosos e bem-sucedidos como Ribbentrop, e todos os parasitas das áreas de finanças e legal podem ser encontrados entre os homens cujos rostos conhecemos de vista”.

em um campo de concentração nazista antes de ser preso pelos Aliados, se voltou de costas para a tela. Ribbentrop cobriu os olhos com os dedos, mas às vezes espiava por entre eles. Mexendo-se inquieto em seu assento, Rosenberg dava olhadinhas para seus companheiros nazistas. Dönitz ficava desviando o olhar da tela e voltando a olhá-la, tirando e botando os óculos. Entre os nazistas, somente Streicher parecia estar muito interessado. Ao final do filme, os acusados ‘permaneceram sentados, como se tivessem se transformado me pedra. Eles se levantaram lentamente quando os juízes saíram em fila, em um silêncio cheio de desgosto’. (…) Hess começou a protestar: ‘Eu não acredito nisso’, e Göring o mandou se calar. (…) Frank precisou de ajuda para juntar as forças para se mover. Quando Kelley e Gilbert visitaram os prisioneiros em suas celas naquela noite, viram choros e ouviram protestos de que outros eram responsáveis — eles não sabiam de tais atrocidades. Frank, entretanto, colocou tais protestos de inocência em perspectiva: ‘Não deixem que todos lhe digam que não tinham a menor ideia. Todos sentiam que havia algo extremamente horrível… mesmo que não soubéssemos de todos os detalhes. Eles não queriam saber’. Streicher friamente chamou o filme de ‘terrível’, então pediu aos guardas que ficassem quietos para que ele pudesse dormir.” Difícil de engolir, não? A realidade é que a grande maioria dos nazista de alto escalão jamais sequer visitaram algum campo de concentração, tudo que faziam eram dar ordens por detrás de uma mesa e demandar resultados instantâneos. Já os soldados viviam nos campos

Sua longa proximidade com os nazistas e principalmente com Göring, convenceu Kelley que eles não passavam de homens de negócios atrás de um objetivo em comum. Muitos mostravam uma “ambição desenfreada, pouca ética e patriotismo excessivo que poderiam justificar quase qualquer atitude de moral questionável. Além disso, os nazistas, até mesmo os de mais alto escalão e poderosos, não eram monstros, máquinas de fazer o mal e autômatos sem alma e sem sentimentos”. Podemos ver essa espantosa conclusão ser ilustrada na documentação da reação dos prisioneiros nazistas ao assistirem as cenas dos campos de concentração, citadas no começo. “Tossindo nervoso, Göring se inclinou na balaustrada do banco dos réus e cobriu o rosto com o braço direito. Hess ficou olhando fixamente, aturdido, para a tela, mas não demonstrou sentimentos. Funk e Fritzsche estavam chorando. (…) Schacht, que havia passado algum tempo emdá 69


A conversa com o ele era o auge do dia para Kelley e, interessantemente, para Göring também. Kelley era o único indivíduo no local que o nazista confiava e isso foi crucial para seu trabalho. e tiravam a vida de centenas de inocentes diariamente. Eram todos eles psicopatas e insanos? Na década de 60 o psicólogo americano Stanley Milgram conduziu um experimento para entender como tantos soldados fizeram o que fizeram sem sentir remorso ou se manifestar contra. O Experimento de Milgram ocorreu da seguinte maneira: Dois voluntários passavam por um sorteio para ver quem seria o “professor” e quem seria o “aluno”. O professor entrava em uma sala e o aluno em outra. Na realidade o aluno era um membro da equipe que se passava por voluntário — o voluntário verdadeiro sempre seria sorteado como “professor”. O professor entrava em uma sala e se deparava com um homem de jaleco branco, e uma mesa virada para a parede com uma estranha máquina com 30 interruptores que produziam choques elétricos. Cada interruptor produzia uma voltagem diferente e eram separados por incrementos de 15 volts, indo de 15 para 450 volts. Também havia rótulos explicativos abaixo dos interruptores, como “Moderado” (75-120 volts) e “Forte” (135-180 volts). Os interruptores de 375 a 420 volts estavam marcados como “Perigo: Choque Severo” e os maiores níveis, 435 a 450 volts, estavam marcados como “XXX”. O professor, acreditando que fazia parte de um experimento sobre memória e aprendizagem, era instruído a falar uma série palavras que o aluno havia supostamente decorado e se o aluno respondesse a palavra incorreta, o professor deveria puni-lo com um choque e acrescentar 15 volts a cada erro. O professor conseguia ouvir claramente os gritos de dor do aluno. Sempre que algum voluntário se recusava a continuar o experimento, o homem de jaleco branco passava ordens como “é imperativo que você continue o exercício”, “por favor, não pare”, “é absolutamente essencial que o exercício não seja interrompido”. Dos 40 voluntários, todos eles chegaram a 300 volts e 25 foram até o último interruptor, supostamente matando o aluno. Mais de 60% dos voluntários assassinaram o outro. Pessoas normais, trabalhadoras e inocentes, que viviam a vida como qualquer ser humano comum, por conta de um experimento tiveram a capacidade de matar um outro ser humano com o simples apertar de um botão. Os voluntários não só ouviam os gritos do homem do 70 emdá

outro lado da parede como também ouviam ele implorar para pararem, suplicar pela vida e mesmo assim, mais de 60% dos participantes não cessaram as atividades pelo simples fato de estarem ouvindo ordens de um homem de jaleco. Eles estavam cientes de que haviam tirado a vida de um outro ser humano. Obviamente a máquina de choque não era verdadeira e o “aluno” era um ator membro da equipe, ninguém realmente faleceu e todos os esclarecimentos necessários foram feitos aos voluntários ao fim do experimento. O mais impressionante é que esse experimento foi replicado em 2007 pelo psicólogo Jerry Burger e em 2015 por psicólogos da Universidade de Ciências Sociais e Humanas na Polônia. No experimento de Burger, 82,5% dos participantes continuaram no experimento após ouvir os primeiros gritos a 150 volts e 79% deles foram até o último botão. Na Polônia, dos 80 participantes, 90% terminaram o exercício. Que conclusões podemos tirar com esses experimentos? O ser humano é naturalmente inclinado a obedecer ordens vindas de pessoas de autoridade. Fomos feitos para servir. O simples jaleco branco faz com que o voluntário tire conclusões precipitadas, com que acredite que o homem por detrás do jaleco é um inteligente cientista, um homem que “sabe o que faz”. Os voluntários não faziam ideia de que esse homem era apenas um ator pago por Milgram para ficar atrás fingindo tomar notas e dizendo que é importante continuar o experimento. Foi com esse jogo psicológico que os nazistas convenceram milhares de soldados a agir dessa forma. Muitos eram antissemitas e consentiam com os planos de Hitler, como Amon Göth — conhecido entres os alemães como o Açougueiro Nazista —, tirava a vida de judeus, principalmente de crianças, por puro prazer e satisfação. Entretanto, Hitler sabia que não era necessário contagiar a todos com o antissemitismo, o simples uso da autoridade era o bastante para transformar todos seus soldados em monstros assassinos. Os soldados era sucetíveis a obedecer ordens, mas e os membros do alto escalão? Eles tinham ordens de autoridades a obedecer também, porém para estar lá em cima era necessário muito mais do que ordens. Um grande número de nomes eram declaradamente antissemitas como Goebbels, Himmler, Heydrich; todos desprezam


o judaísmo. Entretanto, outros nazistas apenas não se importavam. Hermann Göring afirmou uma vez “não ter nada contra judeus” e quando confrontado sobre as inúmeras mortes que diretamente ajudou a causar, respondeu já ter mandado matar nazistas que acreditava serem um obstáculo para a realização de seus planos. Göring era obcecado por poder e estava apto a fazer qualquer ação necessária para consegui-lo. Cada membro importante do Partido Nazista tinha sua própria razão de estar apoiando as monstruosidades de Adolf Hitler. Contudo, existem dois traços que todos os nazista do alto escalão compartilhavam: (1) eram todos workaholics, “todos eles trabalhavam por períodos incríveis de tempo, dormiam muito pouco, e dedicaram todas as suas vidas ao problema de nazificar o mundo”; (2) era comum visualizarem apenas os fins de suas atividades sem se importar com os meios que fizessem acontecer. As conclusões que Douglas Kelley tirou com sua experiência são que qualquer ser humano é naturalmente capaz de trazer o inferno ao mundo como os nazistas fizeram. Não é necessário ter alguma doença ou desequilíbrio mental, não são apenas loucos que têm a coragem de tirar a vida de inocentes sem remorso algum. Este é um excerto de uma palestra que Kelley fez em 1946: Eles são pessoas que existem em cada país do mundo. Seus padrões de personalidade não são obscuros. Mas eles são pessoas que têm ímpetos peculiares, pessoas que desejam ter o poder, e vocês dizem que eles não existem aqui, e eu diria que estou bastante seguro de que há pessoas mesmo nos Estados Unidos que iriam tranquilamente passar por cima dos cadáveres de metade do público norte-americano se pudessem conseguir o controle sobre a outra metade, e essas são as pessoas que hoje, estão falando — que estão utilizando os direitos da democracia de um modo antidemocrático.

Existe, porém, outro traço nazista que Kelley não previu; muito pior, foi vítima dele. Foi citado pelo texto diferentes razões que permitiram que o nazismo se dissimulasse com tanto sucesso, mostrando o quão suscetível ao mal o ser humano é naturalmente. Entretanto, existe algo no nazismo que jamais foi visto em outra organização — e se foi, com certeza foi em escala muito menor. Existia algo na mente nazista, em sua ideologia que simplesmente cativavam a mente humana. Os nazistas encontraram uma forma de atrair o indivíduo aos seus dogmas e lavar a sua mente de forma muito tentadora. Douglas Kelley era judeu e como qualquer judeu, desprezava o nazismo e o culpava por todos os seus abomináveis atos. Kelley não era insano, jamais havia mostrado sinais de insanidade. Contudo, após os muitos meses passados juntos a Göring e os nazistas, sua cabeça mudou drasticamente. Afirmava ter se identificado assustadoramente com Göring. Jamais o desculpou, obviamente, e acreditava sim que a pena de morte era o mínimo que merecia, mas mesmo assim sentia uma atração inexplicável por ele. Kelley não era o mesmo quando voltou aos Estados Unidos. Tentou continuar seu trabalho e carreira, porém sua vida estava paulatinamente se deteriorando. Kelley havia decidido tirar sua vida. Qual forma escolheu para se suicidar? A ingestão do Cianureto de Potássio, a exata mesma forma predileta que os nazistas utilizavam para se matar, a mesma forma que Göring se suicidou. O nazismo havia se infiltrado na mente de Kelley. De alguma forma Kelley havia se posto no mesmo patamar que os nazistas e acreditou que deveria morrer como eles. Que pessoa, judeu ou não, em sua mais sã consciência buscaria morrer da mesma forma que os diabos nazistas? Havia algo no nazismo que atraía e infiltrava a mente humana, que causava a identificação do indivíduo, e foi essa a maior força que trouxe o Holocausto à realidade. O fato mais assustador, porém, é que é psicologicamente viável o surgimento de um novo Nazismo. *Todas as citações foram tiradas do livro “O Nazista e o Psiquiatra” e de Jack El-Hai.

O Experimento de Stanley Milgram

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Futebol e sionismo:

o fenômeno do Hakoah Ariel Hara Madrich de Solelim A’

Se atualmente parece impossível a existência de um time de futebol profissional formado exclusivamente por judeus, isso só ocorre pois pouquíssimas agremiações desse tipo resistiram ao Holocausto. Na década de 20, clubes judeus eram uma realidade por toda a Europa. Berlim, Budapeste, Praga, Linz... Era raro encontrar uma grande cidade que não tivesse seu próprio time judeu.

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Esses clubes, todavia, não se restringiam apenas à participação em competições futebolísticas; eram, de fato, plataformas de divulgação do ideário sionista. Anos antes de serem forçados a utilizar a Maguen David amarela no peito, seus jogadores ostentavam esse símbolo com orgulho no centro de seus uniformes, caracterizados pela presença das cores da bandeira de Israel. Seus nomes não escondiam o nacionalismo que pautava suas matizes ideológicas: Hakoah, Haguibor e Bar Kochvá eram alguns deles. A existência dessas instituições era, na realidade, produto de uma doutrina política que recebeu grande aceitação pelos intelectuais judeus da época: a Muskeljudemtum (“judaísmo musculoso”), criada em meio ao Congresso Sionista de 1898 por Marx Nordeau, líder sionista e cofundador da Organização Sionista Mundial. Bastante polêmica, essa filosofia pregava que as vítimas do antissemitismo sofriam de uma doença própria, a Judendot (angústia judaica) – condição que seria consequência da vida no gueto, sendo responsável por provocar a efeminação e o nervosismo nos indivíduos. Nordeau afirmava que, para erradicar essa doença, era necessário que o judeu reinventasse seu próprio corpo: “Desejamos devolver ao flácido corpo judeu o tônus perdido, torná-lo forte e vigoroso, ágil e potente”. As comunidades, então, deveriam investir em clubes e agremiações esportivas, pois a prática do esporte iria “reforçar o judeu no corpo e no caráter”. Era preciso deixar no passado o “velho judeu”, definido como fraco física e psicologicamente, dando origem ao “novo judeu” – este sim capaz de atingir os objetivos do sionismo, levando ao “renascimento nacional” do povo judeu. É curioso notar que a caracterização dos judeus supostamente atingidos pela Judendot é a mesma daquela utilizada pelos jornais antissemitas da época, que buscavam divulgar o estereótipo dos judeus como fraco e impotente.


Time do Hakoah em 1925

Dentre os clubes que surgiram em meio a esse contexto, aquele que obteve maior sucesso foi o Hakoah. Fundado em Viena - que possuía uma comunidade judaica de mais de 200 mil indivíduos - em 1909, esse time foi fruto do desejo de um grupo de intelectuais austríacos judeus de propagar o sionismo pela Europa. Seus fundadores eram seguidores dos ideais de Nordeau, e inclusive eram conhecidos por passar horas ouvindo seus discursos. Como o próprio nome já indica, o objetivo do clube era ser um centro de resistência ao antissemitismo; uma demonstração de força e da capacidade dos judeus de se reinventarem. Além disso, era uma resposta às restrições de alguns dos clubes esportivos da época em relação a associados judeus.

“A Metamorfose”, era conhecido ser um frequentador assíduo dos jogos da equipe. Havia, entretanto, um perigo com a ascensão espetacular do Hakoah: o clube passou a ser a desculpa perfeita para que se pudesse propagar livremente o antissemitismo. Eram comuns as demonstrações de ódio no jogo da equipe, com frequentes gritos de “drecskjude” (“judeu sujo”) e “judensau” (“porco judeu”) por partes das torcidas rivais. Visando fornecer confiança aos seus torcedores e atletas, o Hakoah montou um grupo seguranças a partir dos clubes de boxe que também controlava. Essa equipe de guarda costas, surgida para defender os adeptos do clube, tornou-se uma verdadeira força de segurança comunitária, passando a proteger diversos estabelecimentos judaicos de Viena contra potenciais ataques antissemitas.

O time chegou ao seu auge na temporada de 1924/25, quando conquistou seu primeiro título nacional. O fato marcante não foi a conquista em Devido à riqueza dos fundadores que investi- si, mas a forma heroica em que ela ocorreu. O Hakoah chegou ao último ram na equipe, o Hakoah foi capaz de montar jogo do campeonato austríaco precisando de uma vitória para sagrar-se uma verdadeira seleção de jogadores judeus campeão. No meio do segundo tempo, quando o placar marcava 0x0, um choque entre Alexander Fabian, goleiro húngaro do Hakoah, e um ataaustríacos e húngaros. Pagava-se um salário cante adversário fez com que o goleiro quebrasse o braço. Como as rebem acima dos rivais, cerca de três vezes o gras não permitiam substituições em quaisquer circunstâncias, Fabian, que recebia um operário, permitindo que os cuja saída de campo havia deixado o Hakoah em desvantagem, decidiu jogadores se dedicassem exclusivamente ao futebol. Quanto aos treinadores, não se fazia retornar ao jogo com o braço em uma tipoia, trocando de posição com questão que eles fossem judeus. Dessa forma, um ponta-direita. Restando menos de dez minutos para o fim da partida, o goleiro lesionado marcou o gol da vitória, liderando a conquista do foram contratados alguns dos melhores título de forma dramática. Com a chegada de alguns dos craques da setécnicos da época, em sua maioria ingleses, leção austríaca, como Max Gold, Max Grünwald e József Eisenhoffer, o trazendo o que havia de mais avançado em bicampeonato viria no ano seguinte, consolidando o Hakoah como parte questão de estratégia. Como resultado, o Hakoah, em menos de uma década, conquis- da elite futebolística nacional. tou seu lugar na primeira divisão do futebol austríaco, atraindo uma massa de torcedores O Hakoah havia atingindo tudo o que seus fundadores buscavam. Parte da elite judaica que desprezava o futebol por ser um esporte do operajudeus e levando à criação de outros times riado passou a financiar a equipe, enxergando nela uma possibilidade judaicos pela Europa. Franz Kafka, autor de emdá 73


Símbolo do Hakoah do a ser a primeira equipe da história a vencer um time inglês em seu país.

de aceitação por parte da alta sociedade austríaca. Judeus assimilados, que antes eram reticentes em demonstrar publicamente suas raízes judaicas, passaram a frequentar orgulhosamente o estádio do clube, entoando gritos de guerra que tratavam de sionismo e da terra de Israel. Nas palavras de um diplomata americano que trabalhava em Viena, “Cada vitória do Hakoah se tornava mais uma prova de que a época da inferioridade judaica em atividades esportivas havia chegado ao fim”. Atingido o sucesso em âmbito nacional, havia chegado a hora de exportar o êxito do Hakoah para o resto do mundo. A equipe foi pioneira na realização de excursões pela Europa, jogando contra as mais tradicionais agremiações do continente. Ao invés de realizar excursões para vender uniformes e produtos personalizados com os times da atualidade, o Hakoah viajava para “vender” o ideal sionista. Nos dias que antecediam aos jogos, o clube enviava encarregados de fazer propaganda da Musklenjudentun e da identidade judaica do Hakoah, o que estimulava verdadeiras multidões a frequentar os jogos. Em uma das partidas mais importantes de sua existência, durante uma excursão na Inglaterra, o time austríaco venceu o West Ham United por 5x1 em Londres, passan-

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Nos Estados Unidos, outro sucesso absurdo: em 10 jogos, apenas 2 derrotas e mais de 224,000 torcedores nos total das partidas. Durante sua passagem por Nova York, o Hakoah levou incríveis 46 mil torcedores ao Polo Grounds, em um jogo contra o New York Stars - recorde de público que só seria quebrado mais de 50 anos depois, com a transferência de Pelé para os Cosmos. A única grande derrota, por 3x0, foi contra um time americano que simplesmente passou a maioria do jogo com seus onze jogadores bloqueando o gol; os três gols saíram em contra-ataques. Grandes jornais se renderam ao talento dos jogadores judeus: “A maneira pela qual os jogadores de Hakoah usaram suas cabeças para saltar a bola um para o outro tornou claro que o futebol não é um jogo para um homem calvo ou um que usa um chapéu derby “, afirmou o New York Times na época, destacando também “o sistema intrincado pré-organizado de toque de bola, que gera perfeição e arte em seus níveis mais elevados”. A turnê ainda foi marcada por um fato inusitado: um dos jogos do Hakoah seria realizado no sábado, o que levou a um boicote por parte da Jewish Sabbath Alliance. Curiosamente, apesar do sucesso absoluto, a passagem do Hakoah pelo EUA representou o início da decadência da equipe. Parte dos atletas, atraídos pela alta aceitação dos judeus na sociedade americana, decidiu emigrar para Nova York no ano seguinte - lá, fundaram o New York Hakoah. Outros jogadores decidiram seguir o ideário sionista, fazendo aliá e passando a morar em Tel Aviv, onde criaram o Hakoah Tel Aviv. Pelo resto de sua existência, o Hakoah lutou para manter seu lugar na elite do futebol austríaco. Com o Anschluss de 1938, a liga austríaca acabou com o time, anulando todos os jogos em que participou e entregando seu estádio aos nazistas. Em 2000, a comunidade judaica de Viena comprou os terrenos do antigo clube por 10 milhões de euros; o time estreou em 2008, e hoje joga em ligas amadoras com o nome de SC Maccabi Wien.


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ISRAEL

O paÍS DOS

JUDEUS? Victor Eizemberg Chanich de Bonim B’

Desde a declaração de independência do Estado de Israel, em 1948, ainda não ficou claro se Israel é um Estado para judeus, em que grande parte da sua população é judaica, ou um Estado de fato judaico, onde não importa quem é a maioria, mas, sim, que o Estado vai sempre ser o porto seguro de qualquer yehudi.

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urante toda a sua história, o país comportou-se como o Estado dos judeus. Dezenas de operações já foram realizadas para resgatar nosso povo dos mais remotos lugares. Foi o caso das operações Entebbe, Salomão, Moisés e da mais famosa, Tapete Mágico, na qual foram resgatados mais de 14 mil judeus. Após a Segunda Guerra aprendemos uma lição: a sobrevivência do nosso povo não pode depender de terceiros. Se Israel não tivesse resgatado esses milhares de iemenitas, ninguém o teria feito. Um Estado judaico forte, como Israel, é a única garantia de que nunca mais teremos que passar pelo que muitos passaram na Europa durante a Segunda Guerra Mundial, enquanto o mundo inteiro

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se calou por anos. Só em 1944, quatro anos após o início de operações em Auschwitz e depois de intensas pressões, Franklin Roosevelt, então presidente dos Estados Unidos, emitiu um decreto presidencial para o resgate de judeus na Europa ocupada. É inimaginável para grande parte da população judaica mundial que Israel possa deixar de existir algum dia. Porém, o risco é maior e pior do que muitos pensam. De acordo com o mais recente relatório da CIA, o crescimento populacional na região de Judeia e Samaria, que tem população predominantemente árabe, passa de 1,8% ao ano, enquanto no resto do país, com população predominantemente judaica, cresce pouco mais de 1,5%. Acompanha o crescimento da população árabe o aumento do número de cadeiras do Knesset onde sentam seus representantes. Em 2003, os partidos Hadash, Ra’am, Balad e Taal controlavam oito cadeiras dos 120 lugares


do Knesset; atualmente a Liga Árabe (junção dos quatro partidos) possui 13 lugares. O crescimento em pouco mais de uma década foi de 62,5%, sendo agora o terceiro maior partido do país e representando mais de 10% do parlamento. Continuar nesse ritmo crescente é perigoso. Isso porque Israel é um Estado democrático e parlamentarista, onde o primeiro-ministro é aquele que tem mais da metade do parlamento em sua coalizão. Um hipotético premiê árabe teria acesso a todo o poderio nuclear e militar israelense e é muito pouco provável que usasse esse poderio para defender os judeus da Diáspora. A ameaça de nos tornarmos minoria em Israel existe e seria perder tudo aquilo que buscamos nos últimos 2 mil anos.

Outro ponto alto é a imortalização da Lei do Retorno, que determina que qualquer judeu da Diáspora tem o direito de migrar para Israel e obter a cidadania. O povo judeu é forte; ao longo dos anos, foram vários aqueles que tentaram nos exterminar. Custou-nos muito sangue e suor para chegar aonde chegamos, transformamos em poucos anos um deserto em um país de ponta. Enfrentamos agora uma ameaça diferente: a de virar minoria em nossa própria casa – ameaça que não deve ser ignorada e muito menos subestimada. Israel é, e sempre deverá ser, o Estado e a casa dos judeus.

O Jewish State Bill, projeto de lei proposto pelo ministro Avi Dichter, enfatiza que “o Estado de Israel é a casa nacional dos judeus, onde eles realizam suas aspirações por autodeterminação de acordo com suas tradições históricas e culturais. A realização de autodeterminação nacional no Estado de Israel é exclusiva para os judeus”. O projeto também estabelece que o Estado é judaico e democrático, sendo seu hino o Hatikva e sua bandeira sempre será como a atual. Outro ponto alto é a imortalização da Lei do Retorno, que determina que qualquer judeu da Diáspora tem o direito de migrar para Israel e obter a cidadania. Deve-se ainda ir além, criando uma espécie de seguro. Uma lei que determine que, antes de qualquer coisa, o Estado é judeu. A perda do status de perfeita democracia moderna é um preço que se deve estar disposto a pagar para poder ter a segurança de que nosso povo não corre risco de se tornar um povo sem pátria. De qualquer modo, é essencial que os judeus israelenses se conscientizem de que é importante elevar a taxa de natalidade, não somente para manter a maioria, mas para garantir a continuidade judaica que se estende desde os mais antigos tempos.

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UM

ESPIÃO Na Síria

Alberto Kattan e Gabriel Kurbet Chanichim de Bonim B’

No dia 20 de setembro de 2016, o até então desconhecido grupo Syrian Art Treasures postou nas redes sociais um inédito vídeo dos momentos finais do enforcamento de Eli Cohen (ocorrido em 1965), um dos homens mais importantes da história do Estado de Israel. A divulgação reacendeu a preocupação do governo israelense em recuperar seu corpo, cuja localização não é conhecida de acordo com as autoridades sírias, e enterrá-lo no Har Hertzel para honrar seu nome e sua história. Mas, afinal, quem foi esse homem e como ele se tornou um herói nacional?

E

li Cohen nasceu na cidade de Alexandria, no Egito, em 1924. Filho de uma devotada família sionista, sofreu com as desconfianças no seu país de origem após a criação do Estado de Israel. Por causa de sua ideologia, chegou a ser detido e interrogado diversas vezes, acusado de atividades sionistas. Embora o governo egípcio nunca conseguisse prová-lo culpado, Cohen esteve envolvido na Operação Goshen, responsável por tirar um grande número de judeus egípcios de sua terra natal em virtude da crescente hostilidade contra Israel. Após a derrota egípcia na guerra pelo controle do Canal de 80 emdá

Suez, em 1956, o presidente Gamal Abdel Nasser obrigou os judeus a abandonarem seu país. Cohen decidiu, então, rumar para a terra de Israel, onde seu nome se tornaria sinônimo de heroísmo e bravura. No ano seguinte, alistou-se no Mossad, o serviço secreto israelense. Embora rejeitado na primeira tentativa, Cohen não desistiu de seu sonho e foi recrutado como agente secreto para infiltrar-se no governo sírio, uma tarefa incrivelmente perigosa. Mesmo casado e pai de dois filhos, aceitou a proposta e, em fevereiro de 1962, desembarcou em Damasco com o nome Kamel Amin Thaabet.


Durante esse período em que viveu infiltrado no regime sírio, o israelense construiu relações com pessoas extremamente importantes da nação muçulmana: tornou-se homem de confiança do próprio presidente Amin al-Hafiz, além de outros políticos influentes e oficiais militares. Conseguiu extrair informações diretas ligadas a possíveis ataques a Israel e chegou até a ser cogitado como ministro de Defesa da Síria, um dos cargos mais prestigiados do país. Em novembro de 1964, revelou o desejo de voltar ao seu país para acompanhar o nascimento de seu terceiro filho. Entretanto, o Mossad insistiu para que retornasse mais uma vez à Síria, garantindo que seria a última. O que mais tarde seria, para muitos, a espionagem mais bem-sucedida da história terminou em fim trágico. Foi no dia 24 de janeiro de 1965, durante uma transmissão para Israel, que o coronel sírio Ahmed Su’edani flagrou, utilizando tecnologia soviética, a traição de Cohen através de interferência de rádio. Su’edani era um homem cauteloso e um dos poucos que desconfiavam do israelense. Mesmo após muito esforço de Golda Meir e de outras autoridades de diversos países para impedir sua condenação, ele foi julgado culpado e sentenciado à morte.

O seu enforcamento foi em 18 de maio daquele mesmo ano, em Damasco, e aberto ao público. A execução foi transmitida ao vivo, do começo ao fim, pela televisão síria. Enquanto isso, em Israel, uma mulher pálida assistia à cada cena. Ela era Nadia Cohen, esposa do maior espião que o mundo já conheceu, um homem que penetrou nos maiores escalões do governo sírio de uma forma tão eficaz que o próprio presidente al-Hafiz o considerava um amigo íntimo. As informações que o espião capturou foram essenciais para a vitória israelense na Guerra dos Seis Dias; a principal delas foi sobre os planos de defesa sírios nas Colinas de Golã e, se não fosse por ele, o exército israelense não as teria reconquistado com tanta facilidade. Elie Cohen nunca questionou uma ordem, nunca se queixou da sua situação, nunca deixou de amar seu país, a ponto de sacrificar sua vida pela continuidade da sua nação. Foi um homem que, se não fosse pela sua coragem, possivelmente não teríamos um Estado para nos refugiar. Portanto, honrar ele e sua família é o mínimo que o governo de Israel deve fazer como reconhecimento por tudo que passaram. A melhor forma de isso fazer isso seria, sem dúvidas, encontrar o seu corpo e levá-lo de volta a Israel, para que seja enterrado de forma digna.

Embora rejeitado na primeira tentativa, Cohen não desistiu de seu sonho e foi recrutado como agente secreto para infiltrar-se no governo sírio, uma tarefa incrivelmente perigosa.

emdá 81


as

TNUOT

no Holocausto

Isaac Bergerman Madrich de Solelim B

Os movimentos juvenis há muito tempo realizam tarefas importantes nas comunidades judaicas, proporcionando educação, entretenimento e união aos chanichim, tanto por motivações religiosas, sionistas ou até mesmo políticas. Durante a Segunda Guerra Mundial, no cenário dos guetos e dos campos de concentração, as tnuot não largaram seus chanichim: proveram ensino, abrigo, resistência e esperança.

A

o longo do século XX até a Segunda Guerra, surgiram na Europa muitos movimentos juvenis, como Hashomer Hatzair (1913), Dror (1929), Betar (1923), HeHalutz (1905), Hanoar Hatzioni (1926) e Bnei Akiva (1929), muitos deles vinculados a kibutzim e sedes em Israel, como parte de um projeto sionista de ocupar a região. Quando a guerra estourou, mais de 100 mil adolescentes já estavam envolvidos com movimentos juvenis. Após a invasão nazista em 1939, muitos membros de movimentos juvenis foram da Polônia para a Rússia ou Lituânia, de onde planejavam ir para o território que hoje constitui o estado israelense. Entretanto, alguns deles, como Mordechai Anielewicz, resolveram voltar para ajudar seus chanichim, atuando de forma secreta. Esses membros ocuparam cargos na liderança de partisans

82 emdá

(grupo de judeus combatentes que se concentravam nas florestas) e na resistência nos guetos.

Mordechai Anielewicz


Quando a os nazistas invadiram Vilna, em junho de 1941, ele foi levado para o trabalho forçado e, em novembro, para o gueto de Vilna

Um personagem marcante na resistência armada foi Josef Glazman. Nascido em 1913, em Alytus, aos 37 anos ele se tornou o líder do movimento Betar da Lituânia. Quando a os nazistas invadiram Vilna, em junho de 1941, ele foi levado para o trabalho forçado e, em novembro, para o gueto de Vilna. Lá ele reuniu os membros do Betar, que manteve as atividades do movimento no gueto, e ajudou a fundar a FPO (Organização de Partisans Unidos), um grupo de resistência no gueto e, posteriormente, na floresta também. Em 1943 seu agrupamento de partisans foi descoberto, quando Josef Glazman foi assassinado. Outro personagem ícone na resistência armada foi Mordechai Anielewicz, que recebeu uma homenagem tanto na sua cidade como no museu Yad Vashem. Anielewicz nasceu numa família simples na Polônia, em 1919. Durante a infância fez parte do Betar e mais tarde ingressou no Hashomer Hatzair. Logo após a invasão nazista, fugiu com um grupo de amigos para a Romênia, de onde planejava ir para Israel. Para não abandonar seus chanichim e sua comunidade, ele projetou um plano de fuga por meio de uma rota que passava pela Romênia e chegava ao território israelense. Ouviu que havia judeus presos em Vilna sob controle soviético, mas sua tentativa de ir voltar à Lituânia foi frustrada quando foi preso pelos soviéticos. Quando solto, resolveu retornar para a Polônia, tendo já em mente uma luta contra os nazistas. No gueto de Varsóvia ele se tornou o líder da ZOB (Organização de Luta Judaica), uma resistência armada criada pelos movimentos Hashomer Hatzair e Dror após as deportações em massa para o campo de Treblinka. Num misto de orgulho e esperança, com o objetivo de uma morte digna diferente daquela que aguardava os judeus em Treblinka, a ZOB articulou o Levante do Gueto de Varsóvia em abril de 1943. O Levante é até hoje um símbolo da resistência dos judeus no Holocausto.

Josef Glazman

Outro momento em que os movimentos tiveram destaque foi na extensa operação Tiyul. Em Budapeste, Hungria, ondas de refugiados judeus começaram a chegar em 1941 da Polônia e em 1942 da Eslováquia. A maioria deles eram jovens, membros de movimentos juvenis nos seus países, que encontraram refúgio com seus companheiros de tnuá em Budapeste. Apesar de a Hungria estar alinhada aos nazistas, esses jovens conseguiram encontrar abrigo, comida, roupas e documentos. Entretanto, em 1944, os nazistas invadiram Budapeste e intensificaram a perseguição aos judeus, montando um programa de deportações para os campos de concentração. Diante disso, os movimentos juvenis projetaram uma rota de fuga, que passava pela Romênia e pelos portos do Mar Negro e levava judeus até Eretz Israel, onde havia kibutzim para os receber. Como o governo romeno era mais flexível, lá eles ganhavam seus documentos e passagens, chegavam até o litoral via trem e então embarcavam para Israel. Estima-se que, ainda em 1944, 15 mil judeus teriam traçado essa rota. Além dessa operação, houve a produção de documentos falsos pelos movimentos juvenis para os que não conseguiriam sair do país. Acredita-se que quando a Cruz Vermelha chegou a Budapeste todo judeu tinha seu próprio documento falso. Por fim, as histórias desses líderes e movimentos são motivos de orgulho para o povo judeu e para as Tnuot. Nos tempos mais difíceis para o povo, o amor à comunidade e aos chanichim deu coragem e determinação para que esses jovens pudessem oferecer educação, acolhimento, resistência, fuga e fé.

emdá 83


Neturei Karta:

judeus contra

seu país

Nissim Ourfali Madrich de Solelim A’

Existem no mundo muitas pessoas que se opõem à existência de um Estado judeu. Esses indivíduos, infelizmente tão comuns na mídia, são chamados de antissionistas, mas sabese que antissionismo é simplesmente uma forma política de antissemitismo. Existem, todavia, judeus que são contra o Estado de Israel, por motivos políticos e principalmente religiosos. Neste caso, seria ilógico chamá-los se antissemitas; ainda sim, são fortemente antissionistas.

O

grupo que propaga essa ideia mais intensamente é o dos Neturei Karta. Eles são haredim, lutam a favor da Palestina e contra o Estado de Israel. No seu site oficial, dizem que a mera existência de um lar nacional judaico é contra os valores da Torá, já que foi construído por muitos ateus e com motivos não somente religiosos. Eles ainda dizem que, mesmo se o Estado fosse regido pela Halachá (lei judaica), ainda assim o Estado não seria legítimo, pois acreditam que atualmente somos proibidos de por um fim à Diáspora. Esses indivíduos creem que só deveria existir um estado judeu na terra de Israel se D’us o entregasse com a vinda do Mashiach. Seguindo essa visão, os Neturei Karta pregam que a existência do estado de Israel nos moldes atuais é totalmente ilegitíma.

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O nome Neturei Karta, literalmente “guardiões da cidade”, vem de uma passagem do Talmud Yerushalmi na qual duas pessoas chegam a uma cidade e pedem para ver seus guardiões. Os cidadãos trazem então os guardas e membros do exército. Os visitantes os rejeitam e os cidadãos lhes perguntam: “Então, quem são os guardiões da cidade, senão esses?”. Os visitantes respondem: “Os estudiosos da Torá e os escribas”. Dessa forma, o grupo quer mostrar que os verdadeiros protetores do povo judeu não são os soldados do exército, mas sim os estudiosos da Torá, e que não deveria ser usada força para conquistar a terra de Israel hoje em dia. Sua ideologia é forte, mas suas conquistas são praticamente nulas. Não existe contagem oficial de Neturei Karta, mas, estima-se que existe pouco mais de cinco mil membros. Eles usam como base para sua ideologia a Amidá de Mussaf de yom tov na qual dizemos que por causa de nossos pecados fomos expulsos da nossa terra (umipne chataenu


galinu meartzenu). Assim, segundo eles, voltar à nossa terra seria um pecado. Porém, por mais que essa parte da reza diga que fomos expulsos da terra, ela não diz que não devemos voltar quando for possível. Outro argumento para sustentar o antissionismo dos Neturei Karta se refere às Três Promessas encontradas na Guemará. Essas promessas são de que os judeus não poderiam se rebelar usando força contra as outras nações que nos deram abrigo, não poderíamos emigrar em massa para a terra de Israel e, em contrapartida, as outras nações não poderiam perseguir o povo judeu. Essas promessas são muitas vezes colocadas como inválidas porque não aparecem em nenhum código de leis, como o Shulchan Aruch ou o Mishnê Torá, ou são vistas como metafóricas e devem ser interpretados como um aviso para falsos Meshichim. Além disso, por causa da Declaração de Balfour e do voto a favor de Israel na ONU, em 1947, ir para Israel não seria uma forma de rebelião contra outras nações, já que houve consentimento. Existe também uma halachá de que, se um juramento entre dois partidos (no caso o povo judeu e os outros povos) não for cumprido por um lado, o outro partido está isento de cumprir a promessa. Já que o povo judeu foi repetidamente perseguido pelos outros, nós temos o direito de emigrar para a terra de Israel.

Outro argumento para sustentar o antissionismo dos Neturei Karta se refere às Três Promessas encontradas na Guemará. É surreal ver que judeus podem se unir a alguém que nega um dos principais acontecimentos da história judaica e que constitui uma das maiores ameaças contra o povo judeu na atualidade. Aliás, muitos judeus não veem os Neturei Karta como judeus, simplesmente porque acreditam que não seja possível que alguém lute contra o próprio povo dessa maneira. Dizem alguns que eles são descendentes de Erev Rav, o povo que saiu do Egito junto com os judeus e acabou se misturando. Judeus serem contra a existência do Estado de Israel é completamente ilógico. Israel é um Estado judeu e para todos os judeus, religiosos e seculares. A existência desse pequeno país é fruto de autodeterminação e proteção de um povo milenarmente perseguido. Nunca na história do nosso povo houve tantas yeshivot, estudo de Torá e ao mesmo tempo nunca atingimos tanto nos campos de tecnologia, ciência e medicina e somente com o Estado de Israel isso seria possível. Grande parte da comunidade ortodoxa hoje apoia o Estado de Israel. A existência de um Estado judeu, democrático e seguro é um milagre de D’us, e não há sentido em pregar a destruição de uma das maiores conquistas recentes do nosso povo.

É importante ressaltar que os Neturei Karta não são somente antissionistas no plano ideológico: eles também lutam de fato contra Israel, unindo-se a alguns países árabes que pregam nossa destruição. Em 2006, numa conferência em Teerã, Irã, uniram-se muitas pessoas que negam o Holocausto. Nela estavam presentes membros do Neturei Karta, ao lado do então presidente Ahmadinejad, que declara abertamente que o Holocausto não aconteceu. Ele queria estabelecer uma frente unida de religiões diferentes para “deter os sionistas”.

emdá 85


Berço do pensamento sinoista moderno

Ariel Waiswol Madrich de Bonim A’

Houveram outros ativistas que o anteciparam no século XIX a respeito de um Estado judeu na Palestina, porém, é praticamente consenso entre os historiadores que Theodor Herzl foi o grande fundador de tal corrente. Herzl nasceu em Budapeste, em 1860, estudou direito e jornalismo em Viena e depois de se formar foi trabalhar para um jornal francês em Paris. Ficou perplexo com o antissemitismo que se propagava na sociedade parisiense e em particular no caso Dreyfus (1894-1898), em que o capitão Alfred Dreyfus foi condenado traidor da pátria. Na visão de Herzl não havia provas consistentes para tal sentença e Dreyfus havia sido condenado apenas por ser judeu.

D

com figuras públicas e influências globais da época para aos poucos ganhar o apoio de potências mundiais. Uma das principais vitórias de sua luta foi a Declaração Balfour, que veio poucos anos após sua morte.

Nesse congresso, Theodor Herzl começou a plantar sua ideia na cabeça das pessoas ali presentes. Mesmo morrendo antes da fundação de Israel, ele disse: “Em Basileia fundei o Estado judeu. Não sei se dentro de cinco anos ou de 50 anos o teremos”. Após esse congresso, o evento passou a ser anual e Herzl dedicou o resto da sua vida e herança para lutar politicamente pela causa. Ele se reunia

É importante ressaltar que Herzl representava apenas uma das diversas correntes sionistas que foram importantes para criação do Estado. Há o sionismo prático, em oposição ao político, liderado principalmente por Leon Pinsker, que escreveu o livro Autoemancipação (1882), no qual defendia que o surgimento de um país judaico era a única solução para o antissemitismo. Além disso, suas principais teorias eram que a realização disso só poderia ser feita por meio do trabalho agrícola na terra, que e uma nação autêntica deveria controlar sua própria economia de produção. Baseado nessa corrente, um grupo de jovens fundou o Bilu, um movimento que estimulava a migração para a “Terra Prometida” para cultivar e trabalhar as terras. Muitas comunidades agrícolas criadas por

urante esse evento, o jornalista publicou seu primeiro livro, O Estado judeu (1896), em que defendia e idealizava a criação do país sionista. Sua obra chamou a atenção da comunidade europeia, e em virtude disso, Herzl foi capaz de reunir líderes e intelectuais judeus de toda Europa para a realização do Primeiro Congresso Sionista de Basiléia, em 1897.

86 emdá


esse movimento no século XIX e início do século XX hoje são grandes cidades israelenses, como Rishon Le’Zion e Zichron Yakov. As heranças históricas desse movimento são muito visíveis em Israel: hoje existem comunidades e desenvolvimento agrícola no meio do deserto onde antigamente havia grandes pântanos inabitáveis. Esses lugares têm grande importância econômica e ambiental. Vladimir Ze’ev Jabotinksy (1880-1940) também foi um dos grandes propulsores de ideias nacionalistas. Acreditava que o estabelecimento do Estado só poderia ser feito por meio da luta e de revoltas armadas. Ele foi outro que dedicou sua vida pela causa, criou a Organização Judaica na Rússia, a Organização Sionista Revisionista na Palestina e o movimento Betar e foi comandante do Irgun (um dos grupos paramilitares sionistas na Palestina). Jabotinsky deixou vários documentos escritos e foi fonte de inspiração para futuros líderes sionistas. Menachem Begin, por exemplo, seguiu esse legado durante seu governo como primeiro-ministro e foi uma das principais figuras políticas da história de Israel. Um dos principais conceitos defendidos por eles era a “cortina de ferro” entre Israel e os países árabes, ou seja, que a única

Vladimir Ze’ev Jabotinksy (1880-1940) também foi um dos grandes propulsores de ideias nacionalistas.

forma de estabelecer relações diplomáticas com seus vizinhos seria tendo força militar suficiente para que fossem respeitados. Os revisionistas acreditavam que, caso contrário, o país seria atacado. Muitas outras expressões sionistas tomaram forma nesse período, fenômeno que pode ser compreendido pelo contexto político mundial no qual os países viviam um momento de forte nacionalismo e de ideologias bem definidas. Vale lembrar que grande parte dos líderes desses movimentos eram acadêmicos graduados em grandes universidades da Europa, o que acaba justificando essa diversidade, pois cada um tinha uma maneira própria de pensar o sionismo. O resultado disso foi a criação das mais diversas instituições que atuaram ou atuam até hoje de forma impactante na sociedade. Alguns exemplos dessas instituições são: Keren Kayemet LeIsrael, Etzel, Hagana e Mapai, entre outros. emdá 87


emdazinho Piadas halachicás e judaicas

perguntas 1. Qual a brachá que se faz antes de tomar veneno? 2. Avraham era ashkenazi ou sefaradi? 3. O que fazemos se Tisha Beav cair em Rosh Chodesh? 4. O que fazer se esquecer Yaale Veyavo no Birkat Hamazon de Yom Kipur?

Curiosidade EMDAZINHO:

De Bullets para Wizards A cidade de Washington já ostenta um título da NBA, a liga nacional de basquete americana. Esse título, todavia, foi conquistado quando o nome do clube local ainda não era Washington Wizards, mas sim Washington Bullets. Bullets era uma referência à velocidade: o time era “mais rápido que uma bala”. Entretanto, muitos relacionavam o nome com assassinatos e violência urbana.. O que muitos não sabem é que a mudança do nome da franquia foi consequência do assassinato do premiê de Israel Yitzhak Rabin, no dia 4 de novembro de 1995. Rabin, que era tido como esperança para solucionar o conflito árabe-israelense, era um grande amigo do dono do Bullets, Abe Pollin. Deste modo, após o assassinato, Pollin decidiu mudar o nome de Washington Bullets para Wizards, como forma de homenagear seu amigo e em protesto à crescente taxa de homicídios da capital dos Estados Unidos.

respostas R1: Bracha Acharoná R2: Ashkenazi! Se fosse sefaradi Yaacov seria chamado Avraham. R3: Tisha Beav é no dia 9 de Av! Impossível em Rosh Chodesh... R4: Pense mais um pouco…


cruzadinha

vertical

horizontal

1 Programa de intercâmbio à israel 2 Responsável por cuidar do dinheiro do Netzah 3 Idade atual do Netzah 5 Revista semestral do Netzah 6 Acampamento semestral 7 Porteiro mais querido 8 Representante máximo do Netzah

4 Competição entre as Tnuot de São Paulo 6 Festa de encerramento (teatro) 9 Machané de shicva em Amelim G’ 10 Maior movimento juvenil de São Paulo 11 Viagem realizada no final de Amelim G’ 12 Representante de Israel no Netzah 13 Viagem realizada no final de Amelim G’

Famosos de origem judaica Sasha Baron Cohen (ator)

Juan Pablo Sorín (jogador de futebol)

Scarlett Johansson (atriz)


Famosos de origem judaica Daniel Radcliffe (ator)

Gal Gadot (atriz)

José Pékerman (técnico de futebol)

KVUTZOT DO NETZAH

AMELIM MATCHILIM BOGRIM SOLELIM BONIM TZOFIM


Debate EmdazinhO:

O palmeiras tem mundial? NÃO

SIM

Palmeiras não tem mundial

A Sociedade Esportiva Palmeiras é um time de futebol inexpressivo do estado de São Paulo cujo único orgulho são os títulos nacionais conquistados por meio do fax (vide os dois “Campeonatos Brasileiros” conquistados em 1967) e a “Copa Pinga” de 1951. A Copa Pinga de 51 foi um campeonato de pré-temporada que ninguém nunca deu importância - até o Fluminense (Tapetão F.C) já ganhou – e que atualmente é visto por alguns como um suposto Mundial de Clubes. O craque do título foi justamente o fax, por meio do qual a FIFA teria reconhecido o torneio amistoso-amador como intercontinental. Ninguém acredita na legalidade da Copa Pinga. O clube birebaixado teve até que colocar uma estrela vermelha no seu uniforme (ninguém entendeu a escolha da cor) para convencer seus próprios torcedores de que o amadorzão vale como um Mundial. Talvez a mamãe Crefisa e a titia Leila consigam comprar um Mundial para o Palmares, depois da Parmalat falhar com o “São” Marcos levando frango na final. Enquanto isso, lembrem: O PALMARES NÃO TEM MUNDIAL.

CHANICH RAÍZ

Palmeiras: o primeiro campeão mundial

Para a FIFA, os Intercontinentais de 1960 a 2004 e as Copa Rio de 1951 e 1952 são títulos mundiais, porém não são considerados como oficiais pela entidade máxima no futebol. O fato de a FIFA considerar o mundial como oficial, na verdade, não tem relevância nenhuma: não tira a volta olímpica e o mérito da difícil conquista dos times campeões. Esses clubes jogaram contra fortes adversários, e se até os jornais da época consideravam o título como mundial, o fato de a FIFA não ter organizado deveria tirar a legitimidade do título? Além disso, a FIFA recentemente escreveu em cartas e redes sociais que o Palmeiras foi o primeiro campeão global da história, devido ao título da Copa Rio de 1951. Todas as negações dos ‘antis’ se dão devido à diferença de nome entre as competições. Então, hipoteticamente, se no futuro o torneio sul americano interclubes passar a ser chamado de Champions League da América, os títulos de Libertadores ganhos até esse ano seriam desconsiderados?

CHANICH NUTELLA

Dubon verde, rasgado, herdado do irmão que já casou

Casaco da Uniqlo novo toda machané

Banho de pia só um dia na Machané inteira, usa ou shampoo ou sabão

Hidratante L'occitane, shampoo, sabonete, varios condicionadores

Quer ser madrich desde que nasceu

“Faz doce” até o dia do shibutz

Brutaliza nas refeições, come fofura e churritos

Leva 17 refeições por dia na mochila, só comida chique

Usa calça de Israel, malha da Machané de Barracas

Jeans e polo na gadna

VAADA EMDÁ

Outras vaadot

Joga muito contra a kvutza de cima, faz varios gols

Fica de mimimi falando que foi roubado, manda coraçãozinho pra namorada

Vira a última noite da Machané, emenda com amigo secreto

Vai dormir cedo porque segunda tem prova...

Da a vida no ataque, sangue no olho

Anda de mãos dadas com a namorada no ataque

Vem pro Netzah todo sábado

Vai pra Atibaia, Campos do Jordão, Miami...




Ouro Hope Fomento Zaraplast Família Kattan Anônimo Anônimo

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Prata Família Menache Karen e Henry Ourfali Dryko Impermeabilizantes Família Picciotto Vanity Industrial Ltd

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Bronze Família Khalifeh Menahem S. Khafif e filhos Mercedes e Edgard Politi Família Horowitz Anônimo Anônimo

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