Balanço do ano cinematográfico - 2014

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Visões 2014 – Tatiana Henriques

Uma das primeiras estreias deste ano cinematográfico em Portugal foi o soberbo e lancinante «12 Anos Escravo», de Steve McQueen. O biopic, difícil de assistir pela sua crueza mas profícuo na forma como retrata um dos períodos negros da História, continua a ser o filme mais impactante do ano. Num registo muito diferente, mas igualmente brilhante, Interstellar, de Christopher Nolan, enche o grande ecrã de magnificência e brilhantismo artísticos, primando pela profundidade ambiciosa da realização e uma fotografia esmagadora. «Uma História de Amor», de Spike Jonze, é uma reflexão à sociedade moderna, cada vez mais solitária e perdida em si própria, numa história de amor invulgar narrada de uma forma poética e harmoniosa. Mais uma história verídica, «O Clube de Dallas», de Jean-Marc Vallée, surpreende pelo seu argumento portentoso e comovente, acompanhado por interpretações excepcionais de Matthew McCounaughey e Jared Leto. «O Desaparecimento de Eleanor Rigby: Eles», de Ned Benson, é outra história de amor, provavelmente a mais bela deste ano cinematográfico, em que a separação de um casal é o mote para mostrar os dois lados de uma mesma história, numa dicotomia convergente, enaltecida pela química pungente de dois dos actores mais iridescentes do Cinema actual: Jessica Chastain e James McAvoy. A incitar à reflexão destaca-se também «O Teorema Zero», de Terry Gilliam, uma história distópica e uma outra crítica ao modo como as sociedades hoje vivem e lidam com as novas tecnologias, negligenciando as próprias relações humanas. Martin Scorsese não tem a sua obra-prima em «O Lobo de Wall Street», mas o filme é, sem dúvida, um dos melhores do ano, consistindo num biopic enriquecedor, pertinente e ousado, abrilhantado por uma interpretação magistral de Leonardo DiCaprio. Psicótico e perturbador, «Nightcrawler - Repórter na Noite», de Dan Gilroy, revela-se inquisidor do modo como o jornalismo pinta a realidade, sem se preocupar com ética e deontologia, tendo como principal - e único - propósito as audiências. «Fúria», de David Ayer, é um retrato intrínseco da II Guerra Mundial, mostrando um grupo de militares que não desiste perante os obstáculos, numa obra em que se elevam a belíssima fotografia e a realização criativa. Por fim, uma das surpresas do ano: «Os Guardiões da Galáxia», de James Gunn. Um filme de super-heróis despretensioso, mas muito divertido, torna-se, assim, numa das obras mais marcantes deste ano cinematográfico.

Tatiana Henriques 1. 12 Anos Escravo (Steve McQueen) 2. Interstellar (Christopher Nolan) 3. Her - Uma História de Amor (Spike Jonze) 4. O Clube de Dallas (Jean-Marc Vallée) 5. O Desaparecimento de Eleanor Rigby: Eles (Ned Benson) 6. O Teorema Zero (Terry Gilliam) 7. O Lobo de Wall Street (Martin Scorsese) 8. Nightcrawler - Repórter na Noite (Dan Gilroy) 9. Fúria (David Ayer) 10. Os Guardiões da Galáxia (James Gunn)

Visões 2014 – Tiago Alves

O ano não será recordado pelas suas obras-primas. Ainda assim devemos assinalar que foi ótimo para o cinema nacional, graças a uma primeira adaptação, inovadora e inspirada, da obra «Os Maias», de João Botelho, e ao filme “E Agora? Lembra-me», um diário intímo, corajoso e universal de Joaquim Pinto. Richard Linklater entregou-nos «Boyhood - Momentos de Uma Vida», o filme mais surpreendente do ano. Rithy Panh e Hany Ab-Assad encontraram formas notáveis de lidar, com a memória do genocidio no Camboja («A Imagem que Falta» e com a atualidade do conflito israelo-palestiniano («Omar»). Os restantes filmes não são brilhantes mas confirmam o virtuosismo inquieto dos seus autores: Mathieu Amalric, Wes Anderson, Martin Scorsese, David Fincher e Christopher Nolan.

Janeiro 2015 metropolis 81


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