Especial - «Sin City: Mulher Fatal»

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em DVD e Blu-ray

Ao contrário de muitos filmes baseados em histórias de banda-desenhada, como os que que se se baseiam baseiam na na Marvel Marvel ou ou DC DC Comics, Comics, em em «Sin «Sin City: City: Mulher MulherFatal» Fatal» não há super-heróis que salvam o mundo ou o Universo. Este é um filme noir, um thriller passado num mundo sombrio, onde impera a corrupção e o crime. Robert Rodriguez e Frank Miller voltam a liderar a realização, juntando-se a um elenco recheado de estrelas e uma história que nada tem de inocente. Pelo contrário, o pecado alastra a cada instante. Tatiana Henriques

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Sin City: uma amalgama de

‘ historias sombrias A polícia corrupta junta-se aos criminosos mais temerários e sobrevive quem é mais forte e quem tem menos compaixão. Isto é Sin City, uma cidade violenta e sombria. Dwight McCarthy (Josh Brolin) é um antigo repórter fotográfico que foge um pouco a este negrume moral, acreditando que a honestidade e a honra são valores pelos quais vale a pena lutar. Mas, um dia, tudo muda. Após ser abandonado pela antiga amante, Ava Lord (Eva Green), McCarthy apenas pensa em vingança. Tudo isto se passa antes de “The Big Fat Kill”, uma das histórias do primeiro filme, sendo também explicado como Dwight tem de se submeter a uma alteração facial dramática. Esta é a história principal, “A Dame To Kill For”, que dá nome ao filme e que foi publicada em 1993, mas há outras, todas da autoria de Frank Miller. “The Long, Bad Night”, “Just Another Saturday Night” e “Nancy’s Last Dance” são os outros segmentos narrativos, em que todos os caminhos se cruzam no Kadie’s Club Pecos. A história “A Long, Bad Night” tem como protagonista Johnny (Joseph Gordon-Levitt), um jogador que tem como objectivo derrotar o maior vilão da cidade numa partida de póquer. Esta personagem é completamente nova e foi escrita exclusivamente para o filme. Já em “Just Another Saturday Night”, que dá início à obra, vê-se Marv (Mickey Rourke) a acordar numa auto-estrada acompanhado de pessoas mortas mas sem se recordar de como lá chegou. Há ainda outra história, “Nancy’s Last Dance”, que mostra a exótica dançarina Nancy (Jessica Alba) a tentar lidar com o suicídio de John Hartigan (Bruce Willis), o amor da sua vida.

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Algumas das histórias são prequelas de «Sin City: Cidade do Pecado» (2005), pelo que personagens assassinadas no primeiro filme reaparecem agora, como Marv, Hartigan e Goldie (Jaime King). Durante o interregno entre o primeiro e o segundo filmes, foi necessário proceder a reajustes no elenco devido ao falecimento dos actores Brittany Murphy e Michael Clarke Duncan. Devon Aoki estava grávida no início da produção do filme, pelo que também teve de ser substituída.


Robert Rodriguez o realizador individualista

Robert Rodriguez regressa ao mundo de Sin City, após outros filmes de sucesso como «Machete» (2010) ou «Machete Mata» (2013). Além de receber muitas críticas positivas, «Sin City: Cidade do Pecado» foi muito bem-sucedido nas bilheteiras em todo o mundo, rendendo 158 milhões de dólares. Portanto, o desafio do regresso era grande e, desta vez, Rodriguez pretendia que este filme “fosse maior, mais ousado e mais em linha com o estilo próprio dos trabalhos assinados por Frank Miller” e “ir mais longe do que aquilo que os livros ofereceram”, disse o realizador em declarações à imprensa. Mas Robert Rodriguez não é apenas realizador neste filme, assumindo muitos outros papéis: produtor, editor, compositor, sendo ainda responsável pela fotografia. O encantamento de Robert Rodriguez por Sin City começou quando foi a uma loja de comics, comprou o livro de banda desenhada e ficou fascinado: “Adorei-o e sabia que ninguém poderia fazer um filme daquilo porque simplesmente iriam arruiná-lo”. O que tanto impressionou Rodriguez

foi o estilo visual de Miller, com as suas linhas preto-e-branco, sem sombras de cinzento. Esta linha estética foi levada ao grande ecrã em «Sin City: Cidade do Pecado», o que acabou por se tornar num dos principais aspectos identificativos da obra. “No primeiro filme não quis ir tão longe porque achava que as pessoas não entenderiam o que estavam a ver”, disse Rodriguez, acrescentando que “seria demasiado distractivo, demasiado estranho”. Contudo, e para sua surpresa, “depois as pessoas acharam que era visualmente inovador”. “Tivemos muitos comentários de pessoas que diziam: ‘Não gosto de filmes violentos mas gosto deste’”, contou ainda Rodriguez. Logo, em «Sin City: Mulher Fatal», permanece a estética do preto-e-branco de alto contraste usada no primeiro filme, mas agora com uma novidade que advém das inovações tecnológicas que evoluíram desde então: o 3D. Aliás, Rodriguez insistiu para que o filme fosse gravado em 3D em vez de ser convertido em pós-produção. “Com o 3D, sentes que estás dentro da novela gráfica”, justifica o realizador. Maio 2015 metropolis 89


Como acontece em muitos dos seus filmes, Rodriguez resolveu o problema de conciliar a agenda de vários actores de uma forma simples, gravando determinadas cenas de grupo individualmente com os actores e juntá-los posteriormente na sala de edição. Assim, muitos dos atores que aparecem juntos em cena podem não ter sido filmados simultaneamente. Aliás, quando o actor Josh Brolin chegou para gravar, perguntou sobre a presença de Mickey Rourke pois iria partilhar algumas das cenas com ele, mas Rodriguez respondeu que já o tinha filmado. Perante a surpresa de Brolin, o realizador disse que “vou resolver na altura certa e vai resultar porque já o fiz antes”. Tal também fez com que a obra tivesse sido gravada em apenas 35 dias, um terço do tempo que normalmente é gasto em filmes do género. Todo o filme foi gravado com ecrã verde como fundo, tendo apenas algumas peças de cenário. Desta forma, tal como aconteceu no primeiro filme, tudo o que acontece no mundo de Sin City é digital. Aliás, «Sin City: Cidade do Pecado» ajudou a notabilizar as técnicas de gravação CGI, conseguindo transportar os actores para cenários fabricados digitalmente. «Sin City: Mulher Fatal» começou com um telefonema, quando Rodriguez ligou à actriz Jessica Alba e lhe pediu para aparecer o mais cedo possível no seu estúdio, Troublemaker. Aliás, a actriz era a única já assegurada no elenco quando começaram as filmagens. “Quando tens o teu próprio estúdio, não tens de pedir permissão para começar”, diz Rodriguez. Contudo, não demorou muito até serem adicionadas ao filme mais estrelas de Hollywood, como Joseph Gordon-Levitt, Eva Green e Josh Brolin, além de ser confirmado o regresso de Mickey Rourke, Rosario Dawson e Bruce Willis. No primeiro filme, os realizadores seguiram escrupulosamente os livros, mas desta vez foi diferente: Frank Miller criou duas das histórias exclusivamente para o filme. Rodriguez explica a mudança: “Para o segundo filme pensámos: ‘Vamos dar-lhes uma surpresa para que as pessoas não possam apenas ir a uma loja de banda desenhada, comprar o livro e saber o que vai acontecer’”. Com histórias que são prequelas, «Sin City: Mulher Fatal» não é uma sequela comum, tanto que Rodriguez considera que seria possível “assistir aos filmes em qualquer ordem que iria resultar”. Entretanto, Frank Miller e Robert Rodriguez já revelaram que têm planos para um terceiro filme e talvez um spin-off televisivo, caso a história da “mulher fatal” seja bem recebida pelo público. 90 metropolis Maio 2015


Frank Miller o criador de Sin City Frank Miller, a mente criativa por detrás de todas as histórias de Sin City, volta a sentar-se na cadeira de realização em «Sin City: Mulher Fatal». Sobre a sua evolução nesta função, Miller disse o seguinte em entrevista: “A primeira coisa que aprendi é que adoro trabalhar com os actores, que era o meu maior receio ao ingressar nos filmes. Sabia que podia contar uma história visualmente e sabia que podia escrever a história. Mas não sou conhecido como sendo uma pessoa ‘de pessoas’, por isso não sabia se conseguia lidar com os actores. Descobri que eles são a emoção central na realização, extremamente inteligentes, pessoas muito trabalhadoras que trazem uma grande quantidade de vida e energia para as personagens.

Essa foi a minha grande descoberta, além das muitas coisas técnicas que aprendi e as muitas coisas que o Robert Rodriguez me ensinou”. “Tens que ser muito decisivo e implacável. E uma vez que tenhas na cabeça o tipo de filme que queres fazer, não podes ser influenciado por pessoas durante o caminho da realização”, acrescentou ainda.

“elas deparam-se com um dilema moral, que normalmente envolve uma mulher e terão que definir-se como sendo um herói ou vilão”, acrescentou. Já em relação à história central do filme, Miller caracteriza-a como sendo sobre “um romance trágico entre um homem e o amor da sua vida; é uma história que envolve muita traição, escuridão e culpa… Todas as coisas fantásticas que fazem parte de um filme noir. É uma história de que me orgulho muito e que o Robert gosta bastante”. O elenco é de luxo, mas Frank Miller diz que tal não o influencia na escrita das

personagens: “Quando escrevo um livro de banda desenhada, estou a pensar na personagem que vou delinear. Nunca desenho uma personagem para se parecer com alguém que quero escolher para um filme porque não penso dessa forma. Sou um verdadeiro monomaníaco. Faço uma coisa de cada vez”. Neste processo de criação artística, Frank Miller clarifica as suas inspirações: “Crias histórias que envolvam coisas que adores desenhar. Simplesmente acontece que adoro desenhar carros antigos, belas mulheres e durões em gabardinas”.

Sobre «Sin City: Mulher Fatal», Frank Miller considera que “a tecnologia evoluiu imenso. Os actores estão muito mais confortáveis nos seus papéis e penso que o filme está cheio de surpresas”. “Cada uma das personagens tem coisas muito sórdidas no seu passado e algumas delas continuam a fazer coisas muito más”, mas

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Jessica Alba

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Jessica Alba volta a interpretar a exótica dançarina Nancy Callahan, agora numa versão bem mais agressiva e desmedida. A actriz falou sobre a personagem à imprensa: “Ela era mais ingénua no primeiro filme. A ignorância era uma felicidade. Neste filme não há felicidade ou ignorância. Queria que ela fosse a transição entre uma vítima para alguém que toma o controlo da sua própria história”. “Sinto-me muito mais confortável na minha própria pele enquanto mulher e actriz. Estou destemida de uma forma que não estava quando fiz o primeiro filme”, disse ainda Jessica Alba. Os realizadores confessaram também o seu encantamento pela personagem e a sua importância para a história. Para Robert Rodriguez, “ela é a personagem que mais vimos a transformar-se. Ela começa por ser uma menina inocente no primeiro filme para ser uma das personagens mais sombrias de Sin City…”. Frank Miller acrescenta: “A história dela não estava completa. Ela tem um dos melhores arcos em todo o filme: ela começa como uma criança que sofreu abusos e que se transforma numa exótica dançarina, depois conhece o amor da vida dela e ele suicida-se. A história dela não acabou”. Após receber o guião, Jessica Alba começou a trabalhar com um coreógrafo para poder dominar de forma perfeita as danças exigentes da sua personagem. A actriz explicou as razões desta dedicação especial: “Trabalhei com um coreógrafo apesar de o Robert não querer porque na verdade não sou uma dançarina. Pretendia mostrar realmente a quebra da Nancy desde o início do filme para o que a leva ao seu esgotamento nervoso. Não queria que aquilo simplesmente surgisse do nada. Assim, vais tendo alguns pedaços dela a desaparecer para se tornar noutra pessoa através da dança e, depois, ela perde-se completamente”. Contudo, Jessica Alba apenas pôde mostrar o resultado de tanto trabalho em alguns dias de gravações. A actriz confessou ainda que este filme tem muitas mais cenas de dança do que o primeiro. “Foi um pouco louco. Muito, muito difícil e vão ver porquê”. Jessica Alba tem uma cláusula de não-nudez em todos os seus contratos, tal como para «Sin City: Mulher Fatal». A actriz explica que tal acontece porque simplesmente “não quero que os meus pais vejam o meu peito. É isso. Seria estranho no Natal. E, na verdade, se se olhar para os filmes que já fiz, ficar nua nunca “elevou” a qualidade do filme”. Maio 2015 metropolis 93


Mickey Rourke

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Mickey Rourke é outro dos actores que regressam à história, interpretando o papel do anti-herói Marv, que aparece nos quatro segmentos narrativos de «Sin City: Mulher Fatal». O actor descreve desta forma a personagem que interpreta: “Não acho que ele seja totalmente mau, penso que ele seja um produto daquele ambiente”, “ele é uma personagem com que, por vezes, o público se interroga: ‘Gostamos deste homem? Será que ele tem um parafuso a menos?’. O Marv não pensa verdadeiramente no panorama geral, ele vive o momento. Não pensa nas repercussões e no preço que terá de pagar”. Frank Miller, o criador da personagem, também falou com os jornalistas sobre Marv, dizendo que “é uma pessoa que a maioria julga que é louca pela forma como ele se comporta. Na verdade, ele é um homem que nasceu no milénio errado. Ele poderia ter sido um gladiador romano e as pessoas tê-loiam glorificado mas, em vez disso, é um desajustado que paira em bares e destrói muitas caras, mas é um homem leal que busca a justiça”. Mickey Rourke confessa que não é fã das próteses que têm de ser aplicadas na sua face, mas que isso acaba por ser algo facilmente ultrapassado: “Não gosto de estar sentado na cadeira de maquilhagem por mais de dez minutos, mas aqui fico preso por mais de quatro horas e meia. Apesar disso, é um prazer trabalhar. Fico realmente expectante por estar no set e trabalhar com o realizador que adoro, por quem tenho respeito e me preocupo, além de saber que ele sente o mesmo em relação a mim, por isso dou tudo o que tenho”. Sobre trabalhar com os realizadores, Rourke foi peremptório: “Quando se trabalha com o Robert, ele sabe o que quer. Eu faço muita pesquisa para as minhas personagens e é frustrante quando depois cortam. Mas eles os dois [Rodriguez e Miller] são entusiasmados e sabem exactamente o que querem”.

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Rosario Dawson

Rosario Dawson interpreta Gail, a feroz líder das prostitutas da Cidade Velha e disse em entrevista como foi o regresso à personagem: “É a mesma vertigem de quando estávamos a gravar da primeira vez. Estás de volta a interpretar uma personagem que já desempenhaste antes mas há todo um novo entusiasmo porque estamos a gravar isto e vai ser em 3D. Com tudo o que o Robert aprendeu com as novas tecnologias, ele e o Frank estão simplesmente deliciados por ter a oportunidade de jogar com este material e trazê-lo para a vida num modo completamente novo”. Mais concretamente sobre Gail, a actriz diz que é “a mais feroz das guerreiras Amazonas e uma das personagens mais chocantes que já interpretei”, além de que “a história dá-te a oportunidade de ver um lado diferente da Gail que normalmente é muito intenso, perverso e forte, mas ela está apaixonada pelo Dwight, pelo que se pode ver um lado mais suave dela que ainda existe”. “Ela daria a sua vida por qualquer uma das raparigas, por qualquer uma das ideias que ela considere verdadeira, mas o Dwight é algo mais profundo. O seu coração pertence a Sin City, como a Dwight, e ela vai defendê-lo até à morte”, concluiu. 96 metropolis Maio 2015


Joseph Gordon Levitt Joseph Gordon-Levitt é um dos novos actores no mundo de Sin City, interpretando um jogador irreverente e corajoso. Como a personagem interpretada pelo actor não existia em nenhuma novela gráfica, Joseph Gordon-Levitt pôde colaborar com os realizadores na evolução de Johnny. “É um sonho como actor trabalhar com cineastas que são tão colaborativos, abertos e desejosos de incorporar as minhas contribuições criativas num filme”, contou Joseph Gordon-Levitt sobre a oportunidade. Frank Miller também elogiou o actor: “Pude escrever diálogos que penso serem muito mais concentrados, fortes e emocionais”. Joseph Gordon-Levitt considera que a sua personagem “é um homem com qualidades admiráveis mas que é arrastado pelo seu desejo de vingança e a vingança nunca leva a algo bom”. Assim, o actor julga também que o título do filme “está apropriado: é uma história sobre o pior de nós enquanto humanos”. A cantora Lady Gaga também participou em «Sin City: Mulher Fatal», justamente neste segmento narrativo, contracenando com Joseph Gordon-Levitt. O actor confessou que “ela fez um trabalho fantástico. É uma óptima actriz e eu não sabia disso”. “Fiquei realmente impressionado”, contou ainda. Joseph Gordon-Levitt é ainda um fã confesso das histórias de Sin City: “Lembro-me de ver no Cinema «Sin City: Cidade do Pecado» e ter pensado ‘Uau… este é um filme do Rodriguez mas também algo completamente diferente’. Adorei. É a combinação dele com o Frank Miller que torna estes filmes tão especiais”. Maio 2015 metropolis 97


Eva Green Eva Green interpreta a protagonista de «Sin City: Mulher Fatal», a mulher pela qual qualquer homem estaria a matar seja quem fosse. A actriz francesa vê a sua personagem como sendo “uma feiticeira, uma sereia, que lança encantamentos aos homens. Ela consegue ler os pensamentos masculinos e pode ser aquilo que eles querem que ela seja. Com o Dwight é muito interessante porque há uma verdadeira ligação. Ele é, provavelmente, o único homem que ela alguma vez amou”. Frank Miller sintetiza o carácter de Ava Lord: ela transforma-se “nos mais gloriosos sonhos de um homem tornados realidade mas ela é também os piores pesadelos de qualquer homem”.

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A actriz contou ainda outros pormenores inerentes à personagem: “Fui escolhida à última da hora, uma semana antes das gravações, e normalmente gosto de me preparar, por isso entrei em pânico: “Oh meu Deus, tenho que trabalhar a pronúncia americana, descobrir a personagem e resta tão pouco tempo!”. Por isso, assisti a alguns filmes noir, como a Barbara Stanwyck em «Pagos a Dobrar» (1944), porque ela é tão femme fatale. No início, olhei para a minha personagem e pensei “Meu Deus, ela é tão má. Não há fissuras nela e o seu coração é tão duro”. “Já interpretei maldade antes mas este foi 200% maldade, por isso tive que encontrar alegria em interpretá-la. Trouxe o meu corpo e o meu coração para a Ava Lord”, além de que ela “é diferente dependendo dos homens com que está, por isso


é como se interpretasse uma verdadeira actriz”, acrescentou Eva Green. A actriz considera que seria pertinente perceber melhor a personagem: “Ela é bastante assustadora. Seria interessante fazer uma prequela, apenas para descobrir por que ela é assim tão dura. Talvez esteja traumatizada? Ou talvez tenha nascido louca”. Eva Green não foi, de facto, o primeiro nome pensado para a protagonista. Antes dela, colocouse em hipótese nomes como Angelina Jolie, Rachel Weisz, Salma Hayek e Rose McGowan. Curiosamente, é o segundo filme adaptado de uma novela gráfica de Frank Miller que tem como protagonista a actriz francesa, após «300: O Início de Um Império».

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Durante a promoção de «Sin City: Mulher Fatal» – que a actriz considera ser “muito engraçado, é um filme noir” – um dos posters foi banido porque foi considerado demasiado explícito, porque mostrava parte dos seios de Eva Green. Sobre o assunto, a actriz comentou da seguinte forma: “Eu não estou verdadeiramente nua no poster. Achei um pouco estranho tudo isso ter acontecido. Parece que é tudo publicidade, muito barulho por nada. Há coisas bem mais violentas na indústria do Cinema e isto não é assim tão forte. Não estou nua, é sugestão. Achei sexy, na verdade. Mas se o poster choca as pessoas, não sei o que fazer sobre isso. Não quero aborrecer ninguém e não quero ser vista apenas como uma femme fatale. Espero que as pessoas tenham imaginação o suficiente”. Eva Green considera que tal acaba por ser muito irónico porque se assumese muito tímida: “Não conheço nenhum actor que se sinta confortável com a nudez, mas esta não é gratuita neste filme, porque ela usa o seu corpo como uma arma. Ainda assim, na manhã em que tens uma cena de nudez queres morrer. Sentes-te um pouco parvo por estar de fio dental com o Josh Brolin, que está a vestir um Spanx cor-de-pele e estás à frente do ecrã verde a pensar ‘Isto não está a acontecer!’. Mas o Robert disse-nos ‘Vou adicionar muitas sombras e vocês vão ficar fantásticos”. Sabia que podia confiar nele”. Ao fazer um papel destes, a auto-confiança passa, de alguma forma, para a vida real: “Talvez me tenha dado alguma confiança na relação com a imprensa, porque eu ficava muito nervosa em fazer entrevistas televisivas – e ainda não sou fantástica, fico transpirada – mas fiquei melhor. Na escola, era verdadeiramente tímida. Se um professor me fizesse uma pergunta à frente das outras pessoas, derretia. Na verdade, muitos actores são muito assustados na vida real”.

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Robert Rodriguez tenta sempre captar o mais fielmente possível o que está descrito nos livros de banda desenhada, o que pode tornar-se, por vezes, num desafio, como explica Eva Green: “É engraçado porque estava mesmo preocupada com isso antes de começar a filmar: ‘Oh meu Deus, tens de estar tão quieta! Posso pelo menos mexer o meu dedo? Posso tocar no outro actor?’ E sim, ele filma cada cena como se fosse uma pintura e tens que acertar no que está marcado, além de que algumas coisas ele quer exactamente como está no livro de banda desenhada, mas foi bom, sobretudo porque tinha actores verdadeiros à minha frente, porque sei que outros actores não tinham. Não teria gostado disso, por isso fui realmente sortuda”.


Josh Brolin Josh Brolin substitui Clive Owen na interpretação de Dwight McCarthy, antes de uma cirurgia plástica a que a personagem é submetida. Aliás, esta operação havia sido mencionada por Shellie (Brittany Murphy) ainda no primeiro filme. Josh Brolin descreve Dwight, um dos homens hipnotizados por Ava e disposto a matar por ela (como quase todos): “Quando esta mulher regressa à sua vida, é incrível como a estrutura que ele construiu nos quatro anos passados se desmorona tão rapidamente. Ele torna-se outra vez completamente obcecado com pensamentos sobre ela e todos esses estímulos relançam o monstro que ele tem escondido. Quando este se liberta, ele está disposto a tudo por ela… a matar, mutilar e colocarse numa posição que pode ser extremamente penosa”.

O actor confessou, em entrevista, que se sentiu irremediavelmente tímido com as cenas de sexo que a personagem exigia, mas, sobre a sua companheira de cena, Brolin diz que “há algo nos seus olhos” e que “ela tem um incrível poder sedutor”, além de ter ficado perturbado com o seu desempenho em «Casino Royale» (2006), em que Eva Green interpreta uma bond girl. Já quanto à personagem de Ava, o actor é assertivo: “Ela é a fantasia e é tão má. Não há nenhuma humanidade nela. Ela é uma devoradora de homens, usando-os para ter o que ela quer. Ela pensa com o corpo, é como uma predadora”. Quanto a ingressar no mundo de Sin City, Josh Brolin não parece ter dúvidas: “O Robert é meu amigo há 20 anos e ter o criador destes desenhos fantásticos e alguém tão honesto emocional e espiritualmente como o Frank… ter estes dois mestres juntos num filme é um tratado”.

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