A volta do trem da Cantareira

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Passado sempre presente

sempre presente

Edição comemorativa dos 447 anos de fundação da cidade - Dezembro de 2007

Passado

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Ano V - nº 30 - dez/2007 - R$ 4,00


especial

A volta do Trem da

Cantareira

Aparício Reis

dez surpreendente e, durante a visita, mostrou-se emocionado e empolgado. Os homens vinham e eu não Ele ingressou na empresa responsável conseguia ligar a máquina. Me pelo trem (Estrada de Ferro Sorocabavi em apuros, mas de repente na) aos 19 anos e só como maquinista bati a mão no controle e destravou. atuou por 22 anos. Então consegui fazer funcionar e “Onde ficava a estação Torres fingi que um fusível estava com mau Tibagy era subida e os moleques jocontato”. Para o guarulhense Antônio gavam óleo nos trilhos. A molecada de Castro, “os homens” quer dizer a gostava de ver o trem ‘patinar’. Era comitiva do ex-presidente Jânio da preciso acionar o mecanismo que deSilva Quadros, e “a máquina”, o Trem positava areia no trilho ou então voltar da Cantareira, do qual foi maquinista para trás e pegar embalo”, recordou o por nove anos. Casex-maquinista. tro recordou algumas Mas a carreira de histórias ao visitar em Castro não tem apenas novembro, acompa- Jogavam óleo lembranças curiosas ou nhado pela equipe da nos trilhos engraçadas. Tristes reRevista Guarulhos, a cordações fazem parte exposição “Nos Trilhos para ver o do passado, como um do Trem das Onze”. A trem patinar acidente na vila Galvão. mostra vai até 05 de “O trem passava sob um fevereiro de 2008, no pontilhão em um estreito Sesc Santana, em São Paulo, e tem espaço, com paredões em ambos os entrada grátis. lados. Sempre apitávamos bastante A história do Trem da Cantareira para alertar os passageiros a fim de (ou Tramway da Cantareira, no jargão que não colocassem a cabeça ou os da época, em inglês) é contada na braços para fora das janelas. Mas exposição por meio de diversas fotos, naquele dia, um rapaz que morava informações, e de um filme (o curta no bairro Gopoúva decidiu trocar de “Lembranças do Trem das Onze”, vagão justamente no momento em dirigido por Rogério Nunes) que que o trem cruzava a estreita passatem o depoimento do ex-maquinista gem. Na junção dos vagões havia um guarulhense. Outras atividades estão espaço no qual ele se desequilibrou, programadas até o fim do evento. bateu a cabeça no paredão e faleceu”, Aos 80 anos, Castro tem uma luci- contou. Tatiana Soledade

“ Exposição no Sesc Santana lembra linha ferroviária que ligava Guarulhos a São Paulo; mostra tem a participação do ex-maquinista guarulhense, Antônio de Castro (foto)

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especial Fotos: Museu do Jaçanã

Vários bairros populosos de Guarulhos se desenvolveram ao longo do trajeto da ferrovia

Uma pequena ferrovia O trem da Cantareira era uma pequena ferrovia que ligava o centro de São Paulo à Serra da Cantareira. Saía da região do Mercado Central, cruzava o rio Tamanduateí, depois o rio Tietê, e, em Santana, abria-se em dois ramais: um seguia até a região do atual Parque da Cantareira, e outro até Guarulhos. A linha férrea foi implantada no final do século 19 para transportar materiais e homens que construíam o novo manancial da cidade, na Cantareira. Concluídas as obras, em 1894 a linha passou a transportar passageiros. O trem da Cantareira não foi o primeiro trem urbano de São Paulo; o Tramway de Santo Amaro, que ligava a capital ao então município de Santo Amaro, havia sido inaugurado poucos anos antes e depois foi incorporado à rede de bondes urbanos. No entanto, a Cantareira foi a ferrovia urbana mais presente na cidade – funcionou por 70 anos, parte deles sob a administração da Estrada de Ferro Sorocabana, e somente foi substituída pelo atual metrô em 1974. A linha férrea foi implantada no final do século 19 para transportar materiais e homens que construíam o novo manancial de São Paulo, na Cantareira.

“Das onze”? Adoniran Barbosa (foto) associou seu nome ao bairro paulistano do Jaçanã e à canção Trem das Onze, mas o sambista, falecido em 1982 aos 72 anos, nunca morou no Jaçanã. Lá estavam os Estúdios Cinematográficos Maristela e um circo. Adoniran atuou nos dois. Utilizava o trem que, na verdade, não partia às “onze”, mas às 20h30. Em uma outra versão, o tal trem das onze da música é o comboio RG7, da linha Tamanduateí – Guarulhos, com embarque na estação vila Mazzei às 22h59, de acordo com as “time tables” (tabelas de horário) da linha ferroviária. Várias das suas composições foram imortalizadas nas vozes dos Demônios da Garoa, grupo que desafia o tempo e se mantém em atividade.

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especial Fotos: Museu do Jaçanã

A ferrovia teve destacada importância para atrair famílias que se fixaram na vila Galvão

“Cadê o passageiro”? O Sesc Santana está à procura de passageiros do Trem das Onze. A intenção é retratar seus antigos usuários, vizinhos das estações e todos aqueles que, de alguma forma, são memória viva da linha férrea. Esses retratos estão expostos na mostra Passageiros do Trem das Onze. Informações: 6971-8700.

Historiador tem livro dedicado ao trem O professor Silvio Ribeiro, membro da Academia Guarulhense de Letras e autor do livro “Destino... Guarulhos”, que retrata o trem da Cantareira, afirma que em território guarulhense o trem surgiu paulatinamente com a necessidade de escoamento de produtos hortifrutigranjeiros produzidos na cidade entre 1914 e 1930, e que tinham como principal mercado São Paulo. “Com o passar do tempo, o transporte desses produtos foi sendo substituído pelo de passageiros. A partir dos anos 50, a linha férrea só levava passageiros e esse era o único meio de transporte em Guarulhos”, afirma. Segundo o professor, cinco eram as estações na cidade: vila Galvão,

Torres Tibagy, Gopoúva, vila Augusta e Guarulhos, com prolongamento até a Base Aérea. Sobre o fim do ramal guarulhense do trem, Ribeiro o atribui principalmente a questões políticas e administrativas. SERVIÇO Exposição “Nos trilhos do trem das onze”. Até 5 de fevereiro de 2008. Horários: de terça a sextafeira, das 13h30 às 21h30; sábados das 10h30 às 20h30; domingos e feriados das 10h30 às 18h30. O Sesc Santana fica na avenida Luiz Dumont Vilares nº 579 – Santana, São Paulo. Informações: 6971-8700 ou no site www.sescsp.gov.br. Agendamento para escolas: 6971-8766.

As fotos expostas devem servir para muita gente matar as saudades

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