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Hora de contar a história da casa engraçada Marisa Pulsone Fotos: Aparício Reis
capucheta; com retalhos coloridos se fazia uma original boneca de pano; a meia furada do pai ou da mãe servia para fazer uma bola. As brincadeiras infantis são essenciais no desenvolvimento das aptidões físicas e intelectuais da criança, defendem os educadores. Confeccionar os brinquedos artesanais ajuda a criança a descobrir sua habilidade para criar e capacidade de reinventar coisas à sua volta. “Enquanto a criança manipula o material, ela desenvolve a coordenação motora e percebe que pode criar um modelo diferente de brinquedo. Não é preciso negar os avanços da tecnologia e as possibilidades da mídia. Mas a criança que passa pelo processo de construção do seu brinquedo, do seu mundo, provavelmente, no futuro, vai encarar a vida de forma diferente; será autoconfiante, vai buscar solu-
ções para o problemas e não fugir deles”, avalia a arte-educadora Débora Kikuti. Ainda dá tempo para resgatar essa infinita possibilidade de fantasia e aprendizado com jogos e brincadeiras. Cabe aqui uma explicação didática: a palavra jogo vem do vocábulo latino “ludus”, que significa diversão, brincadeira. E brincadeira é a ação que a criança desempenha para concretizar as regras do jogo. Para começar a brincadeira, basta que os pais deixem de lado por algum tempo a correria do dia-a-dia e busquem lá no fundo do baú –ou do coração – a alegria inocente: quem não guardou bolinhas de gude, um pião? Quem esquece a história dos Três Porquinhos? Quem não lembra como se faz barquinho de papel? Mãos à obra!
tirem, são um meio de educar para a boa moral, senso de ética e justiça. Será que existe curso que ensina a contar história? Não, diz Débora. “Sou contadora de história desde a infância, iniciada por minha avó Maria, a maior contadora de história do mundo. É assim que me apresento aos pais que buscam uma fórmula. Lembro a eles que seus pais ou avós não fizeram curso. Todos têm um contador de história dentro de si. Meu trabalho é despertar esse contador ou essa contadora de histórias, através da sensibilização”, diz. A dica é, primeiro, conhecer a história para saber passar a emoção, o encanto; não importa que seja a história registrada em livros, os detalhes podem
ser modificados, inserindo-se, por exemplo, as brincadeiras, brinquedos e canções de antigamente. “Você pode contar a sua própria história, as crianças adoram se identificar com a infância dos pais, irmãos”, afirma. Os livros ajudam muito a resgatar lendas e contos. “Entretanto, é bom a companhia do adulto enquanto a criança lê, para que ela saiba que não está sozinha se sentir medo e precisar de ajuda para entrar na floresta”, acrescenta a arte educadora. Mas é preciso ter cuidado com a moral das histórias, muito presente nas fábulas. “Geralmente, o adulto apresenta a sua moral, e é importante dar à criança a oportunidade de construir a sua identidade”.
Débora Kikuti contando histórias no Bosque Maia
“Era uma casa muito engraçada, não tinha teto, não tinha nada. Ninguém podia entrar nela, não, porque na casa não tinha chão. Ninguém podia dormir na rede, porque na casa não tinha parede... Mas era feita com muito esmero, na rua dos bobos, número zero.”
Vinícius de Morais
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oje, são poucos os pais que incentivam seus filhos a construir seus brinquedos, a inventar suas histórias, a entrar na roda “dizer um verso bem bonito, dizer adeus e irse embora”. Hoje, já vem tudo pronto: bola, carrinho, boneca... Antes, a criança transformava tudo. Um cabo de vassoura virava o cavalinho de pau, a espada; de um pedaço de folha de jornal saía um chapéu de Napoleão, uma
Era uma vez... Contar história é uma tradição dos nossos ancestrais. Os xamãs (visionários) das tribos indígenas do tempo em que o mundo é mundo, foram os primeiros contadores de história, diz Débora. “A oralidade sempre foi utilizada, principalmente pelos povos indígenas, para perpetuar costumes e referências culturais”. Em vez de apontar os erros ou defeitos, os sábios nativos contavam histórias. Portanto, as histórias, além de diver-
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Quem tem medo do boi da cara preta? Cantigas de roda e de ninar estimulam a memória afetiva das crianças. Mas alguns estudiosos contemporâneos defendem que letras de cantigas como “Atirei o pau no gato” ou “O cravo brigou com a rosa” sejam alteradas, porque acreditam que estimulam a violência e a agressividade. “Os adultos não lembram dessas canções com sofrimento porque o gato levou uma paulada ou porque a rosa acabou chorando. Porque, quando criança, não pensavam na letra; apenas cantavam, dançavam no ritmo, era só uma melodia”, argumenta Débora. Como a contação de história, que aproxima e estabelece uma relação de afeto entre o contador e o ouvinte, as cantigas de roda e ninar também aproximam as crian- ças dos adultos, que, de mãos dadas, dançam um ritmo
gostoso, cantam uma melodia gostosa e, a partir daí, o brincar é conviver socialmente, experimentando sentimentos como medo, raiva, ciúme, o que é muito saudável, explica Débora. “Quem não vivenciou adversidades e conflitos em grupos na infância terá mais dificuldade de alcançar o equilíbrio emocional e uma relação de afeto dentro da família”, avalia. De fato, todos sobreviveram ao boi da cara preta que pegava criança que tinha medo de careta. E a casa invisível, que não tinha parede, lembra outras cantigas, que lembram histórias de medo e brincadeiras que mexeram com a fantasia e a criatividade das crianças, no tempo em que era muito legal construir o próprio brinquedo. Brincadeira de menina ou menino? Não importava. As meninas empinavam pipa e os meninos pulavam corda.
- Então, vamos apostar corrida? Não, vamos brincar de casinha! - Ah! casinha é chato. Vamos jogar amarelinha. - Tive uma idéia: que tal a gente brincar de beijo, abraço, aperto de mão ou salada mista?... - Nãão, vamos brincar de roda. - Ah! Roda não tem graça nenhuma. - É você que é sem graça... - Só brinco se for de cabra-cega ou esconde-esconde! - Nada disso...Pega-pega! - Legal: “Lá em cima do piano tinha um copo de veneno, quem bebeu morreu, e o culpado não fui eu... Tá com você! Corre!
SERVIÇO Sites de brincadeiras infantis, cantigas de roda e de ninar, brinquedos antigos: www.museudapessoa.net; www.router.ceap.tche.br; www.saa.com.br/links/linkant.htm. Contação de história - Débora Kikuti e-mail: dekikuti@yahoo.com.br.
Uma história especial
A pediatra Ivana, com Jeferson, Gustavo e Andressa
Os mesmos brinquedos que podem ser fabricados para crianças normais divertem crianças portadoras de deficiências. A mesma história que estimula o imaginário de uma criança normal desperta a fantasia de uma criança com necessidades especiais. As cantigas e algumas brincadeiras antigas também ajudam deficientes a ter um maior e melhor desenvolvimento físico e mental. Cabe, portanto, aos pais, educadores ou responsáveis entrar de corpo e alma no mundo peculiar da sua criança, através da brincadeira. “Para nós, profissionais, o brincar é um recurso terapêutico, para
os pais, se transforma num meio de comunicação”, explica a pediatra Ivana Remorini Rizzi, coordenadora do Ambulatório de Deficiência Mental do Centro Espírita Nosso Lar Casas André Luiz, na vila Galvão. Muitos pais não acreditam que terão resultado contando história ou brincando com seus filhos, diz a pediatra, mas as respostas vêm: “Elas expressam o sentimento pelo olhar, pelo corpo, às vezes tentam bater palmas, elas sorriem”. Uma maneira de chegar ao universo de uma criança especial é montar um cenário, no chão, em qualquer lugar, com ou sem música, jogos ou brinquedos. “Mas é imprescindível que os pais vivenciem de fato a situação, porque a criança tem que sentir a sua presença”, orienta Ivana. São atendidas 80 crianças no Circo Terapêutico Integrado (Citi), com tratamentos nas áreas de fonoaudiologia, fisioterapia, terapia ocupacional e psicologia. Lá também tem contação de história. Os pais que têm dúvidas ou insegurança sobre que atitude adotar podem buscar orientações, ligando para o Ambulatório: 11-6452-4033.
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O fantástico mundo da Em apresentação de peça teatral, alunos de escola municipal tentam transmitir a importância da literatura, Lourdes Dias
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ma criança sem imaginação será no futuro um adulto intelectualmente pobre. A criança precisa sonhar. Gnomos, princesas e fadas fazem parte do seu mundo mágico. Eles são protagonistas criados pela imaginação infantil, por meio de inumeráveis histórias. A capacidade para imaginar, criar e desenvolver seu cérebro é própria de cada criança, mas, como tudo na vida, precisa de estímulo. Para resgatar esse mundo imaginário e devolvê-lo a quem de direito, a Escola Municipal Dona Benta, situada no Jardim São João, e dirigida por Maria Aparecida Cândida Gonçalves, desenvolveu em seu projeto de teatro temas que permitem essa “viagem” ao universo infantil, para que os pequeninos cresçam ao seu próprio tempo.
Orientados pelo professor Expedito Araújo, do Departamento de Orientação Educacional da Secretaria Municipal de Educação, crianças com idade entre nove e dez anos encenaram a peça “O Rapto da Imaginação”, cujo texto foi criado por crianças e conta a história de bruxas que roubam a infância dos pequeninos, deixando-os inertes às suas brincadeiras e leituras preferidas. Apresentada durante a IV Semana Municipal de Educação, o texto tem como proposta o incentivo à prática da leitura, sem deixar de lado o tempo que elas devem dedicar às brincadeiras, entre elas: carrinho, boneca, amarelinha e aquelas criadas pela imaginação. Para entrar nesse universo mágico que hoje está ameaçado pela globalização, a Reportagem da Revista Guarulhos ouviu os alunos que participaram da peça para saber até que ponto a ficção interfere na vida real. Com a tranqüilidade natural da idade, os alunos disseram que depois da peça se interessaram mais pela leitura; porém, em seu lazer, o maior tempo é dedicado para bola e brincadeiras tradicionais, além do computador, videogame e diversos tipos de jogos. IMAGINAÇÃO As crianças disseram que, ao contrário da peça que trabalha o rapto da imaginação, elas usam em várias brincadeiras o universo imaginário. Os meninos disseram que se transformam em soldados de guerra, heróis de desenhos animados, como o “Super Choque”, “Super Homem”, e outros perso-
nagens como: “Dragon Ball Z e GT”, “Power Rangers” e “Pokemon”. Já as meninas preferem incorporar princesas, fadas, atrizes e dão vida às bonecas que têm e às que gostariam de ter, como Barbie e as que são inspiradas em estrelas de programas infantis. “ATORES” As crianças disseram que aprenderam que é importante ler livros. “Tem criança que fica o tempo todo andando de bicicleta, brincando de videogame ou em outras diversões e não dão bola para os livros. Na peça, o principal objetivo é conscientizar a criança de que a leitura permite usar a imaginação de forma saudável”, explica Rodrigo Santos de Oliveira, 10 anos, que interpretou Arauto, apresentador dos personagens e convidados. Rodrigo conta que gosta de brincar com jogos no videogame e na internet, xadrez, dama, dominó, leituras de aventura e ação. “Na televisão eu assisto a desenhos do Power Rangers, Dragon Ball Z e outros do gênero. De vez em quando me transporto para esses desenhos como se fizesse parte dele. Acho divertido”, afirma. Geane Silva Higino, 10 anos, que interpretou uma das bruxas da peça, comenta que curtiu muito a experiência. “A bruxa adormecia todas as pessoas da terra para roubar a imaginação das crianças”, relembra. Para Geane, as “bruxas” da vida real passam distantes de suas brincadeiras preferidas, entre elas pular amarelinha, corda, boneca, quebra-cabeça. “Não gosto de videogame e computador ”, ressalta. O medo do desconhecido, comum entre as crianças até dez anos, foi a mensagem que Vitor Felipe Costa de Andrade encenou ao interpretar um menino da sua idade. No papel, ele era uma criança que pensava que tinha medo do desconhecido, mas tinha a proteção das fadas para não deixar que sua imaginação fosse roubada. Em casa, Vitor deixa sua imaginação ser levada pelas ima
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imaginação infantil das brincadeiras e da criatividade natural existente em cada criança gens que gosta de pesquisar na internet, principalmente para países como o Egito. Envolvido por assuntos que norteiam o mundo globalizado, o garoto também gosta de assuntos sobre guerras e curiosidades de outros países. PROJETO A escola municipal Dona Benta reuniu cerca de seis turmas, um total de 180 alunos, para ensaiar peças de teatro que tenham como objetivo incentivar o desenvolvimento e a imaginação da criança por meio das artes e da literatura. Participaram da peça “O Rapto da Imaginação” alunos da quarta-série de dois períodos, que interpretaram: bruxos (Geane, Ingride, Anderson, Helena, Leandro e Diego); Arauto (Rodrigo); crianças (Vitor, Rebeca e Caroline); princípe (Leonardo); duendes (Mayara, Jenifer, Everton, Jussara, Amanda e Willow) e fadas madrinhas (Andrezza e Patrícia).
que nesse universo infantil, todas as crianças gostam de imaginar que são reais os personagens de suas brincadeiras. Sem medo de revelar suas preferências, as crianças relataram a leitura e brincadeira preferidas, apesar de pedir segredo aos colegas. Para preservar esse mundo de fantasias, é importante a participação dos pais e, também, dos educadores. É muito comum encontrar um pai se divertindo com o filho no piso emborrachado do playground de um shopping center. Eles “ensinam” e compartilham a brincadeira com seus filhos. De outro lado, tiram a oportunidade de descobrir outros lugares e brinquedos que possibilitem a descoberta de seus próprios limites e imaginação. O shopping também diverte, mas não deve ser a única opção de lazer. A imaginação faz parte da infância, que constrói mundos incríveis no faz-de-conta e o adulto tem de respeitar e não atrapalhar.
Em tempos de globalização, esses pais acabam cedendo aos apelos dos filhos e, em algumas situações, deixam de contar historinhas antes de dormir. O hábito de contar e ouvir histórias cedeu lugar para o computador e outros jogos eletrônicos. Quando crianças, ficamos preocupados em crescer e tornarmo-nos “grandes”. Mal temos tempo de cultivar a fértil imaginação infantil, que traduz o mundo de uma forma original, capaz de nos fazer viajar por universos fantásticos.
R E A L I DA D E Especialistas em psicologia e pedagogia infantil observam que educar o filho longe das fantasias próprias da sua idade é convertê-lo num pequeno -adulto antes do tempo. Eles acreditam que a criança distingue-se do adulto pela capacidade e também pela necessidade de abstração da realidade, principalmente quando misturam, em algumas oportunidades, o real com o imaginário. Em conversa com os alunos da escola municipal “Dona Benta”, foi possível observar
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Arte, cultura, lazer e esportes Censo demográfico realizado pela Prefeitura de Guarulhos, no ano de 2000, mostrou que o número de crianças e adolescentes do aumentado sensivelmente, pois atualmente existem na cidade cerca de 390 ocupações irregulares e centenas de favelas, onde a presença entidades ligadas à sociedade civil, instituições religiosas, organizações não governamentais e até membros da comunidade decidiram entidades instaladas em algumas regiões carentes de Guarulhos, como o Parque Santos Dumont, Aeroporto, Jardim Nova Cumbica
Pais e filhos na As
Infância e cidadania na Brasil Vivo
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uscar a cidadania, além de resgatar a infância, é o objetivo do Centro Social Brasil Vivo, que atende 720 crianças e adolescentes, entre 0 a 14 anos. Elas usufruem da creche, pré-escola e do centro de juventude, onde, tanto os funcionários contratados quanto os voluntários, ministram trabalhos de estrutura pedagógica que auxiliam no desenvolvimento motor, psíquico e cognitivo. As crianças de zero a seis anos brincam de roda, passa-anel, cantam músicas (o que auxilia na fala e na ampliação do vocabulário), escutam histórias e se divertem no parque infantil. As crianças com idade entre sete e 14 anos também participam de brincadeiras, pulam corda, assistem a filmes, organizam dramatizações, trabalham com sucatas e ainda encontram tempo de participar de campeonatos de futebol. O atendimento é gratuito e para participar das atividades do Centro da Juventude da Brasil Vivo, as crianças e adolescentes com idade entre 7 e 14 anos têm de estar estudando. Segundo a coordenadora geral do Centro Social Brasil Vivo, a psicopedagoga Ana Maria da Silva, a entidade começou a funcionar em 1993, época em que o padre Pierino Checcelane, da igreja Nossa Senhora de
Loreto, pensou em instalar uma atividade na região, tão carente. Inicialmente pensou-se em desenvolver atividades para idosos, mas após visitas e entrevistas no bairro, viu-se que a necessidade maior era das crianças, que residem em sua maioria em favelas e ficam sozinhas enquanto os pais trabalham. A Brasil Vivo, que trabalha em parceria com a Prefeitura e acabou de ser contemplada com verba do Fumcad (Fundo Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente), também recebe doações de sócios benfeitores e complementa a renda com a realização de festas e bingos na paróquia. A direção da entidade está em busca da parceria de empresas, pois a lista de espera já atinge quase 500 nomes. “A enorme lista de espera se deve à falta de atividades de lazer na região, porque aqui dificilmente são instalados circos e parques”, diz a coordenadora. “Não existe a perspectiva de a Brasil Vivo expandir suas dependências, porque ela já atingiu o seu limite”, adiantou Ana Maria, que trabalha com crianças dos bairros Jardim Nova Cumbica, Parque Uirapuru, Jardim Otawa, Jardim Arapongas, Cidade Satélite, São Judas e Santa Rita. Para ela, seria necessário a instalação de mais programas com o mesmo objetivo. (LM)
Crianças encontram afeto em todo tipo de brincadeira
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A capoeira é uma das atividades mais
Desde o final do mês de agosto, a Associação Caritativa da Paróquia Santa Cruz do Taboão, com sede na avenida Jamil João Zarif, passou a desenvolver atividades com crianças de cinco a 14 anos. A proposta da entidade, que é mantida pela paróquia da igreja e foi fundada em 1989, é garantir o acesso das crianças e adolescentes à cultura, lazer e às questões psicossociais. Ela oferece cursos de capoeira, artesanato (aproveitamento e reciclagem de material), futebol, teatro e dança. Os dois últimos cursos trabalham o comportamento e a postura dos participantes, que precisam ter mais de seis anos. Quinzenalmente, a entidade promove encontros lúdicos para desenvolver temas como o de relacionamento familiar, escolar e com a comunidade, pois muitas mães também freqüentam o local para aprender artesanato, panificação, confeitaria e corte e costura. Além de estar organizando uma biblioteca, a Associação Caritativa também ensina como as crianças devem manipular alimentos sem ter acesso a objetos cortantes e ao fogo e os conscientiza com relação à higiene, o respeito e a partilha.
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distraem as crianças
Liliana Marciano e Tatiana Soledade
município, com idade entre 0 e 14 anos era de 313.829. Embora não haja estatística recente, passados cinco anos, este número deve ter de crianças e adolescentes é dominante e a falta de lazer é visível. No intuito de suprir esta necessidade, tanto a Administração, quanto investir nessa área. Para mostrar à população uma parte deste trabalho, a Reportagem da Revista Guarulhos conferiu projetos de quatro e Taboão. A iniciativa destas entidades, voltadas para a arte, esportes, cultura e lazer, tem mudado a vida das crianças atendidas.
sociação Caritativa
procuradas na Associação
A coordenadora e assistente social da entidade, Maria Aneli dos Santos, conta que no local atuam profissionais remunerados e voluntários. Antes, eles trabalhavam com adolescentes de 14 a 18 e com adultos, mas com a necessidade de ampliar as opções de lazer para os bairros vizinhos, como Malvinas, Jardim Marilena, Santa Emília, Santa Rita, Mikail e outros, passaram a trabalhar com crianças. “Em uma semana de divulgação do atendimento para crianças, apareceram diversos candidatos”, lembra a assistente social. De acordo com ela, hoje são atendidas cerca de 130 crianças. Maria Aneli ressalta que a desistência é mínima, porque quando as crianças gostam das atividades, nunca desistem. “As crianças gostam muito de participar da capoeira, que passou a ser ministrada há menos de um mês”, comenta. Prova disto, é que Maiara de Paula Almeida e Tainá Marques da Silva, ambas de oito anos, já aprenderam vários golpes de capoeira, como “queixada, cocorinha, boca de calça, armada e rasteira”. A Associação Caritativa também trabalha em parceria com a Prefeitura e foi agora beneficiada com verbas do Fumcad. (LM)
“Afinando o Futuro” no aeroporto Desde novembro de 2002, a Infraero (Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária) desenvolve no Aeroporto Internacional de São Paulo/Guarulhos Governador André Franco Montoro o projeto “Afinando o Futuro”, que consiste na formação de uma orquestra de cordas, formada por violino, viola, violoncelo e contrabaixo. O projeto tem como objetivo oferecer educação musical e aulas de cidadania aos jovens de baixa renda residentes no entorno do aeroporto. Hoje a iniciativa atende 60 participantes, com idade entre 10 e 17 anos, divididos em duas turmas – uma tem aula na quinta e, outra, na sexta-feira, das 8 às 11h30, em um espaço dedicado ao projeto, localizado no canteiro de obras do aeroporto. A orquestra conta com a regência do maestro Daniel Martins, formado em regência pela USP (Universidade de São Paulo) e com especialização na área por meio do Curso Latino-Americano de Direção Orquestral. Nesse trabalho, a Infraero conta com parcerias da empresa aérea Air Canadá e da Livraria Laselva. As aulas de cidadania do projeto são desenvolvidas por profissionais do Serviço Social da InfraeroGuarulhos. A assistente social Sônia Maria Alves Ferreira conta que em quase três anos de projeto, os resultados são surpreendentes. “Os parti-
cipantes chegam como um diamante bruto, que vai sendo lapidado aos poucos. A mudança de comportamento deles é radical. A música resgata a auto-estima, a sensibilidade; por meio dela os participantes aprendem a ser atenciosos”, afirma. O projeto conta com 60 vagas, sendo que atualmente estão todas preenchidas; há uma grande fila de espera para as vagas que vão surgindo, na ocasião em que os participantes completam a maioridade. Angélica dos Santos Silva tem 16 anos e está na iniciativa desde o início. “Neste projeto todos estão preocupados com o nosso futuro. Participando dele, sei que com o tempo serei alguém na vida. Por eu pertencer a uma classe humilde, antigamente achava que não teria a oportunidade de estudar música. Hoje vejo que tudo é diferente e já tenho vontade de seguir carreira”, diz. Aos 15 anos, José Carlos Guilherme da Silva, também integrante do projeto desde o início, revela uma grande mudança em sua vida: “No passado eu ficava muito na rua com os colegas. Chegava em casa diariamente por volta das 2h. Isso não estava com nada. Agora, só penso no projeto. Meu sonho é ser jogador de futebol, mas também desejo seguir carreira na música, depois que eu ingressar no futebol”, conclui. (TS)
Projeto consiste na formação de uma orquestra de cordas
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Todas as vozes em “Um Só Tom” Uma verdadeira história de luta e determinação. Assim define-se a trajetória do coral “Um Só Tom”, criado em 15/11/ 1999 pelo professor e músico Dery Nascimento, que o coordena até hoje. O coral já chegou a ter 60 integrantes, porém atualmente está com 20, meninos e meninas, cujas idades variam entre 15 e 19 anos; muitos deles ingressaram no Um Só Tom ainda crianças, como é o caso de Gabriela Lima Castro, 16 anos, e Mysarlam Shayston, 15 anos. Os ensaios do coral acontecem nos fins de semana, na garagem da casa de Dery Nascimento, no Parque Santos Dumont, e também na Escola Estadual Professor Maurício Nazar, situada na mesma rua. Aliás, esse estabelecimento de ensino firmou uma parceria de auxílio ao Um Só Tom (90% dos componentes são alunos da escola), que não conta com patrocínio oficial, mas, sim, com diversos apoios. No dia 14/9, o coral estreou no Centro Municipal de Educação Adamastor seu novo show, que leva o nome “Nas asas do 14 Bis” e presta uma homenagem ao grupo mineiro “14 Bis”, do qual Dery Nascimento é o produtor musical desde 1997.
Dery Nascimento conta que decidiu montar o Um Só Tom com o objetivo de oferecer lazer e cultura às crianças do bairro. “Na ocasião em que me mudei para o Parque Santos Dumont, obser- No dia 14/9 o coral lançou no Adamastor seu novo show - “Nas asas do 14 Bis” vei que a região era violenta e as crianças não condo Um Só Tom; no entanto a situação do tavam com opções de lazer, a não ser Parque Santos Dumont não mudou nesjogar bola na quadra da escola ou brinse período. “No Brasil não é possível vicar na rua; não havia áreas de lazer no ver só de música, mas quero transforbairro. Como eu lecionava na Escola Esmar a vida dos integrantes do coral. Detadual Professor Maurício Nazar, passei sejo que eles realizem seus sonhos. Hoje, em cada sala convidando os alunos para o Um Só Tom está com 20 componenintegrarem o coral. Eu queria tirar as crites, mas o ideal é que tenha 40. Além anças da rua”, recorda. O professor e disso, minha intenção é gravar um CD”, músico afirma que conseguiu atingir seu diz. Para integrar o coral, o candidato objetivo nesses seis anos de existência deve ser maior de 12 anos. (TS)
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