Neuroarquitetura aplicada a um ambiente colaborativo: ANTEPROJETO DE UM COWORKING EM JOÃO PESSOA - PB
JÉSSICA VIRGÍNIA LUCENA DE ANDRADE
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO II
JÉSSICA VIRGÍNIA LUCENA DE ANDRADE
Neuroarquitetura aplicada a um ambiente colaborativo: ANTEPROJETO DE UM COWORKING EM JOÃO PESSOA - PB
Trabalho Final de Graduação apresentado à Universidade Federal da Paraíba, no período letivo 2020.1, como requisito para a obtenção do título de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo, sob orientação da Profª. Wylnna Carlos Vidal de Lima.
JOÃO PESSOA, DEZEMBRO DE 2020
Neuroarquitetura aplicada a um ambiente colaborativo:
APROVADO EM: _____/_____/_____ MÉDIA FINAL: _____
ANTEPROJETO DE UM COWORKING EM JOÃO PESSOA - PB
BANCA EXAMINADORA
PROFª. WYLNNA CARLOS VIDAL DE LIMA (Orientadora)
JÉSSICA V. L. DE ANDRADE
PROFª. ISABEL MEDERO ROCHA (Examinadora Interna) MARIA ANDREÍNA MOREIRA FERNANDES (Examinadora Externa)
ANDRADE, J. V. L. Neuroarquitetura aplicada a um ambiente coorporativo: Anteprojeto de um coworking.
JOÃO PESSOA, DEZEMBRO DE 2020
AGRADECIMENTOS Agradeço à Deus, pela infinita misericórdia nos momentos em que mais precisei e por me ajudar a ultrapassar todos os obstáculos encontrados ao longo do curso, sendo detalhista ao colocar as melhores pessoas ao meu lado. À minha família, em especial a minha mãe e minha irmã, as mulheres mais importantes da minha vida, que nunca mediram esforços para que eu concluísse a minha formação, não só superior, mas também como ser humano. Vocês foram o meu alicerce nos momentos mais difíceis, sempre acreditando em mim e me dando forças para seguir em frente. É inspirada em vocês que eu luto e continuarei lutando. Por todo carinho, todo cuidado. A vocês nunca conseguirei agradecer o suficiente. Ao meu namorado Lucas, pela paciência sem fim e por ser tão compreensível nos meus momentos de ausência durante esse curso, sempre me incentivando a ser uma pessoa melhor e me socorrendo nos momentos de desespero. O seu amor me faz acreditar em mim mesma. À minha orientadora, Wylnna Vidal, por todo conhecimento transmitido, por todo suporte e toda confiança, sempre me
deixando livre para criar e me acompanhando do início ao fim. Sua atenção, percepção e seu olhar sobre a arquitetura são qualidades que levarei para minha vida pessoal e profissional. Aos colegas de curso que sempre demonstraram uma união especial ao passar juntos por todos os momentos conturbados durante esses cinco anos, sem uma turma unida como a nossa tornando tudo mais leve seria impossível ultrapassar por todos os obstáculos que enfrentamos. À Lorena Rolim, Ruhama Pordeus, Bruna Lago e Isabelle Cardoso, o encontro de almas mais especial que o curso de Arquitetura e Urbanismo me proporcionou, começando antes mesmo do início das aulas até o final do curso, com vocês é difícil não acreditar em destino. Hoje, tenho o prazer de chamar não de amigas, mas de irmãs, receber vocês como os presentes que transpassarão o final do curso fez e continua fazendo tudo valer a pena, digo e repito, sem vocês eu não teria chegado até aqui. Por fim, são muitos os que, direta ou indiretamente, contribuíram durante todo o percurso até este momento, agradeço a todos. A gratidão é quando a alma diz obrigado.
RESUMO Com os recentes avanços na neurociência, os profissionais de diversos campos estão compreendendo cada vez mais o funcionamento do cérebro humano. A memória humana está diretamente conectada aos espaços físicos, pois os seres humanos passam 90% do seu tempo dentro dos ambientes construídos pelo homem e esses ambientes os impactam o tempo todo. Nessa perspectiva, dentre os ambientes que as pessoas passam mais tempo, o espaço de trabalho é sem dúvidas um dos principais. À vista disso, é necessário pensar de que forma pode-se criar ambientes de trabalho que possam impactar nas emoções e resultar em memórias positivas para as pessoas. Assim, o estudo da Neuroarquitetura apresenta-se como um aporte fundamental para entender melhor como os edifícios podem afetar as emoções, as percepções, o comportamento, a saúde e o bem-estar, pois uma melhor compreensão do cérebro pode ajudar os arquitetos a projetarem espaços de trabalho que impactem positivamente seus usuários de uma forma mais profunda. Para isso, o objetivo desse trabalho é propor um anteprojeto de um espaço colaborativo na cidade de João Pessoa, aplicando princípios da Neuroarquitetura e aprofundando os estudos sobre o avanço e a evolução dos espaços de coworkings no Brasil, os quais têm se apresentado como a aposta para o futuro do trabalho. Palavras chaves: Neuroarquitetura. Coworking. Espaços colaborativos.
ABSTRACT With advances in neuroscience, professionals in different fields are increasingly understanding the functioning of the human brain. Human memory is directly connected to physical spaces, because humans spend 90% of their time within man-made environments and these environments impact them all the time. In this perspective, among the environments where people usually spend the most time, the work space is undoubtedly one of the main ones. Taking this in consideration, it is necessary to think about how to create work environments that can impact emotions and positive memories for people. Thus, the study of Neuroarchitecture presents itself as a fundamental contribution to better understand how buildings can affect emotions, such as perceptions, behaviour, health and well-being, because a better understanding of the brain can help architects to design workspaces that positively impact their users in a deeper way. To this end, the objective of this work is to propose a preliminary project of a collaborative space in the city of João Pessoa, applying Neuroarchitecture principles and in-depth studies on the progress and evolution of workspaces in Brazil, which are presented as the bet for the future of work. Keywords: Neuroarchitecture. Coworking. Collaborative spaces.
Nós moldamos os nossos edifícios e depois, eles nos moldam.
“
- Winston Churchill, 1943.
Sumário
2
REFERENCIAL TEÓRICO APRESENTAÇÃO
14
1
INTRODUÇÃO
1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO TEMA 1.2 DELIMITAÇÃO DO PROBLEMA 1.3 JUSTIFICATIVA 1.4 OBJETO 1.5 OBJETIVO GERAL 1.6 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
2.1 NEUROARQUITETURA 2.1.1 NEUROARQUITETURA E ESPAÇOS DE TRABALHO 2.1.2 ELEMENTOS ESTUDADOS PELA NEUROARQUITETURA EM ESPAÇOS DE TRABALHO VEGETAÇÃO ILUMINAÇÃO E VENTILAÇÃO NATURAL ACÚSTICA E ESCRITÓRIOS “OPEN SPACE” 2.1.3 NEUROARQUITETURA NO PÓS PANDEMIA 2.2 ESPAÇOS COLABORATIVOS 2.2.1 EVOLUÇÃO DO COWORKING NO BRASIL 2.2.2 PERFIL DOS COWORKINGS NO BRASIL 2.2.3 PERFIL DOS USUÁRIOS DE COWORKINGS NO BRASIL 18
18 18 20 23 23 23
26
26 27 28 34 36 39 40 44 52 52 55
3
REFERÊNCIAS PROJETUAIS
56
3.1 HOFFMAN DUJARDIN ARCHITECTS 3.2 SEDE ROYAL F|C 3.3 COWORKING THE CORNER
64 64 65
4
CONTEXTO
4.1 PÚBLICO ALVO 4.2 LOCALIZAÇÃO 4.3 CONDICIONANTES LEGAIS 4.4 ENTORNO 4.4.1 FLUXO VIÁRIO E PONTOS DE ÔNIBUS 4.4.2 ÁREA CONSTRUÍDA 4.4.3 GABARITO 4.4.4 USO E OCUPAÇÃO DO SOLO 4.4.5 PONTOS DE INTERESSE
64
64 65 70 71 72 73 74 75 76
5
6
ESPACIALIDADE
6.1 ACESSOS: LOBBY E LOUNGE EXTERNO 6.2 RECEPÇÃO, CAFÉ E ARQUIBANCADA/ESCADA 6.3 ESPAÇOS DE TRABALHO 6.4 ROOFTOP E ESPAÇO DE DESCOMPRESSÃO
O PROJETO
80
5.1 CONCEITO 5.2 DIRETRIZES PROJETUAIS 5.3 PROGRAMA DE NECESSIDADES 5.4 FLUXOGRAMA 5.5 ZONEAMENTO E SETORIZAÇÃO 5.6 IMPLANTAÇÃO E ACESSOS 5.7 ESTUDO DE VOLUMETRIA 5.7.1 FORMA E VOLUME 5.7.2 CIRCULAÇÃO 5.8 ESTACIONAMENTO 5.9 SISTEMA ESTRUTURAL 5.10 CONCEITOS ESTUDADOS PELA NEUROARQUITETURA APLICADOS AO PROJETO 5.10.1 VENTILAÇÃO E ILUMINAÇÃO NATURAL 5.10.2 VEGETAÇÃO 5.10.3 ESQUADRIAS E VEDAÇÕES 5.11 MATERIAIS
80 80 83 86 87 93 95 95 97 98 99 100 100 103 105 108
110
112 116 120 128
CONSIDERAÇÕES FINAIS
134
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
136
APRESENTAÇÃO
APRESENTAÇÃO Este trabalho de conclusão de curso propõe, dentro da temática da arquitetura, aprofundar um novo campo de discussão popularmente conhecido como: Neuroarquitetura1, apresentando suas aplicações e impactos no comportamento humano e visando a sua utilização prática em um espaço colaborativo de coworking2. O trabalho divide-se em oito capítulos, que para melhor compreensão dos resultados esperados serão comentados a seguir. O primeiro capítulo introduz a problemática estudada, fazendo uma descrição do quadro geral do tema, definindo a justificativa da sua relevância e apontando o objetivo geral e os objetivos específicos da pesquisa.
cionantes que envolvem o entorno do projeto, realizando uma análise do contexto em que o terreno escolhido está inserido. O capítulo 05 apresenta o conceito do projeto e as diretrizes que foram consideradas durante o seu desenvolvimento, além das suas dificuldades e todo o processo de idealização e concepção do mesmo, desde o programa de necessidades até a sua volumetria e especificidades, além da aplicação no projeto dos conceitos estudados pela Neuroarquitetura destacados no referencial teórico. O capítulo 06 discorre sobre a espacialidade do projeto a partir da sua representação gráfica. Por fim, do, e as junto aos
estão as considerações finais do estusuas referências bibliográficas, em conanexos com os desenhos técnicos.
No segundo capítulo apresenta-se o estudo do referencial teórico, onde é realizado o levantamento bibliográfico, explanando melhor a Neuroarquitetura e abordando os conceitos que envolvem o tema de espaços colaborativos, fazendo também um estudo do perfil desses espaços no Brasil, o qual serve posteriormente de mapeamento para o programa de necessidades do projeto de acordo com as tendências que estão sendo sinalizadas para esse tipo de equipamento. A pesquisa teórica foi feita por meio de livros, artigos, revistas, notícias de jornais e em maior parte através de artigos conhecidos através da ANFA (Academy of Neuroscience for Architecture).
14
No capítulo seguinte são analisados estudos de casos e referências projetuais, avaliando as categorias de destaque nos projetos apontados, os quais servem de referências diretas para o desenvolvimento do projeto. A partir do capítulo 04 apresenta-se a caracterização da área de estudo e as condiO termo Neuroarquitetura será aprofundado no segundo capítulo, trata-se da influência do espaço físico no comportamento humano. O termo Coworking será aprofundado também no segundo capítulo, trata-se de um modelo de trabalho que se baseia no compartilhamento de espaço e recursos de escritório, reunindo pessoas que trabalham não necessariamente para a mesma empresa ou na mesma área de atuação. 1 2
INTRODUÇÃO
1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO TEMA 1.2 DELIMITAÇÃO DO PROBLEMA 1.3 JUSTIFICATIVA 1.4 OBJETO 1.5 OBJETIVO GERAL 1.6 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
1. INTRODUÇÃO 1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO TEMA O propósito da arquitetura são as pessoas. Quando isso é compreendido, percebe-se que arquitetos, projetistas e designers possuem uma enorme responsabilidade na qualidade de vida dos indivíduos, uma vez que é perceptível que o ambiente pode influenciar o comportamento dos usuários de um espaço e o modo como eles vivenciam o mesmo. (ROCK, 2009). Idealize como seria a sociedade se os arquitetos produzissem projetos ainda mais competentes, como hospitais que ajudassem na reabilitação dos pacientes, gerando resultados na amenização das dores, espaços de trabalho que incentivassem a criatividade e o bem-estar, e em consequência disso melhorasse a produtividade dos colaboradores e até mesmo escolas que encorajassem o aprendizado. Começar a pensar a arquitetura dessa forma é entender que a traduzir em beleza e estética é muito pouco, pode-se ir além. Se o foco da arquitetura são os seres humanos, torna-se indispensável a integração da mesma com outras disciplinas, é preciso ter noções de psicologia, neurociência, medicina, entre outros. Atualmente, arquitetos e psicólogos já estão cientes da relevância de compreender como os espaços afetam os indivíduos. Utilizando pesquisas empíricas e estudos de pós-ocupação eles são aptos a medir mudanças no comportamento dos usuários do espaço. 18
Apesar de alguns efeitos serem naturalmente notados através da observação, outros necessitam de estudos científicos minuciosos para melhor compreensão. Segundo Gonçalves e
Paiva (2018, p. 388), os avanços recentes da Neurociência podem ajudar a entender as mudanças fisiológicas no cérebro e no corpo que despertam alterações no comportamento humano, além disso, esses estudos evidenciam que existe uma relação entre cérebro, corpo e meio ambiente e ela tem se revelado muito mais profunda do que se imaginava, comprovando que a arquitetura estabelece uma complexa relação com o cérebro humano. No entanto, desde a antiguidade os arquitetos já demonstravam preocupação a respeito dos impactos que os seus edifícios provocavam nos usuários, mas de forma empírica. Antes esses elementos inseridos nos projetos partiam apenas de uma intuição, a qual não consegue explicar o porquê de certos conceitos adotados nos espaços físicos serem capazes de sensibilizar as pessoas de um modo tão subjetivo. Em razão disso, o que anteriormente eram pesquisas empíricas tornou-se um novo campo de pesquisa. Ainda em evolução, a Neuroarquitetura é um campo de estudo popularmente conhecido para compreender a relação existente entre a Neurociência e a Arquitetura, duas disciplinas que parecem um pouco distantes, mas que estão diretamente relacionadas. A Neurociência, refere-se ao estudo do comportamento do cérebro, o principal órgão dos seres humanos, já a arquitetura trata do espaço físico, do ambiente, da luz, da acústica e de tudo que compreende o seu entorno. Nessa perspectiva, a Neuroarquitetura surge com o objetivo de incorporar explicações biológicas e racionais de como acontece o impacto do espaço físico no cérebro e como isso se expressa no comportamento humano, buscando respostas através de processos cerebrais capazes de ocasionar diversas sensações
INTRODUÇÃO
em reação a vivência desses ambientes, tais como: conforto, medo, bem-estar, entre outros. Para melhor entendimento, Gonçalves e Paiva (2018, p. 395) definiram a Neuroarquitetura. Ela é a ciência interdisciplinar que aplica conhecimentos da Neurociência à relação entre o ambiente construído e as pessoas que dele fazem uso. Sob certo aspecto, não há muito de novo. Os efeitos do ambiente no comportamento das pessoas sempre foram um tema importante desde a antiguidade e também para psicólogos ao longo do século XX. Porém, até agora os estudos realizados nessa área dependiam apenas da observação dos comportamentos e reações dos indivíduos em determinado edifício em um estudo pós-ocupação. (GONÇALVES; PAIVA, 2018, p. 396).
Roberts (2017) reitera que a exploração desse campo de pesquisa ocorre de três formas principais: • Utilizar a neurociência para entender como os humanos (e outros animais) experimentam o ambiente construído e, em particular, exploram o potencial de projetar espaços para experiências mais positivas de saúde, bem-estar e produtividade; • Utilizar a neurociência para estudar o processo de design através do cérebro do arquiteto; • Perguntar, através do campo exploratório da arquitetura, “O que acontece se a arquitetura incorporar em si algumas das lições do cérebro - se, de certo modo, você fornece um cérebro a um edifício? ”, nas palavras de Michael Arbib, Ph. D. (Tradução livre de ROBERTS, 2017).
Atualmente existe uma grande lacuna de informações que abordem este assunto, pois inicialmente são temáticas muito distintas, sendo difícil encontrar profissionais experientes nas duas áreas, capazes de produzir novas pesquisas neurocientíficas que foquem na arquitetura. Em decorrência disso, são poucos os centros de pesquisa voltados para o tema como a Academy of Neuroscience for Architecture (ANFA), em San
Diego, Estados Unidos. (GONÇALVES; PAIVA, 2018, p. 396). No entanto, apesar de a Neuroarquitetura ser um tema considerado bastante recente, ela vem sendo estudada há mais de 10 anos no exterior pela ANFA, fundada em 2003, a qual é uma organização sem fins econômicos, que possui o intuito principal de aprimorar os conhecimentos que vinculam pesquisas em neurociência que se dedicam a compreender as reações humanas ao ambiente construído. (ANFA, [s.d.]). O conselho da ANFA é composto por 17 renomados neurocientistas e arquitetos. Seu esforço é voltado para fundamentar o impacto dos ambientes nas pessoas, através de pesquisas que utilizam equipamentos como a ressonância magnética e o eletroencefalograma, examinando as áreas do cérebro que são acionadas quando visualizamos determinadas imagens. Além disso, os membros do Conselho administrativo da ANFA difundem efetivamente a importância da integração dessas duas disciplinas utilizando recursos como: palestras, publicações, conferências, oficinas e cursos de nível superior. Apesar de ainda existirem poucas referências a respeito do tema, já houve avanços nessa área, mas sabemos que ela tem competência para ir além. Para isso são necessários novos estudos e buscas por conhecimento, visando um melhor entendimento de como acontece essa influência da arquitetura sobre o comportamento humano, sendo este o ponto primordial deste trabalho. Paiva (2018, p. 132) afirma que a Neuroarquitetura veio para possibilitar aos arquitetos e urbanistas a utilização de novos instrumentos que colaborem com o processo de criação e tomada de decisão na hora de se projetar, oferecendo a oportunidade de se repensar antigas soluções, transformando o mindset3.
3 Mindset pode ser traduzido por mentalidade ou programação mental, é o conjunto de pensamentos e crenças que existe dentro da nossa mente e que determina como nos sentimos e nos comportamos. O mindset é como sua mente está programada para pensar sobre determinado assunto.
19
1.2 DELIMITAÇÃO DO PROBLEMA À vista disso, arquitetos estão começando a pensar nos edifícios não apenas considerando à sua estética e funcionalidade, mas concentrando o foco nos efeitos causados nos níveis mais profundos do organismo humano, de modo a proporcionar inúmeras vantagens aos usuários do espaço. Um bom exemplo, e principal foco desta pesquisa, está na busca pelo aumento do bem-estar e da criatividade em escritórios e a diminuição nos níveis de ansiedade e estresse nesses ambientes de trabalho, além do consequente aumento na produtividade. São necessários apenas alguns dados preliminares para se compreender a importância do aprofundamento da Neuroarquitetura em ambientes de trabalho. Segundo a Pesquisa Nacional de Padrão de Atividade Humana realizada em 20014, as pessoas passam quase 90% do seu tempo nos interiores de ambientes construídos, como mostra a figura 01. OUTRO AMBIENTE INTERNO
DENTRO DE UMA RESIDÊNCIA
TEMPO TOTAL PASSADOS EM AMBIENTES INTERNOS (86,9%)
68.7%
11% 7.6%
BARES E RESTAURANTES
AMBIENTES EXTERNOS
1.8% 5.4%
20
5.5% VEÍCULOS
FÁBRICAS
4
Figura 01. Pesquisa de tempo passado em ambientes internos. Fonte: Elaborado pela autora com base na pesquisa realizada pela Enviromental Protectcion Agency (EPA)-2001.(2018)
Sabendo disso, basta buscar na memória em quais ambientes os seres humanos costumam passar a maior parte do seu tempo, rapidamente chegará ao ambiente de trabalho. Realizando uma matemática básica e considerando só 8 horas de trabalho por dia, contabilizando apenas os dias úteis, chegamos facilmente a um impressionante número de 2.000 horas por ano utilizando esses espaços. A partir disso entende-se que quanto mais tempo as pessoas passam em determinados locais, mais esses ambientes podem lhe afetar diretamente. (PAIVA, 2018). De acordo com Kápas (2008, p. 196), os espaços de trabalho inicialmente eram reflexos da influência da revolução industrial e do sistema de produção em massa, sempre tentando alcançar o rendimento máximo da linha de produção das indústrias. Portanto, os layouts dos escritórios pretendiam apenas simplificar o sistema de produção da empresa, visando sempre a expansão da quantidade de produção. Desse modo, a organização dos ambientes de trabalho se espelhava nas fábricas, desde o posicionamento de cada equipe e seus respectivos líderes até a própria decoração das salas objetivavam unicamente a concentração na produção. Entretanto, as fábricas exerciam suas funções de acordo com o trabalho das máquinas, já os escritórios funcionam com base no trabalho das pessoas. (KÁPAS, 2008). A consequência disso está no grande número de ambientes de trabalho padronizados, sem identidade, que não valorizam a individualidade de cada funcionário e de cada função a ser exercida, esquecendo de essências e necessidades humanas básicas e tornando o desempenho profissional mecânico, exaustivo e desestimulante, concebendo assim espaços cada vez mais desumanizados, os quais afetam a saúde física e mental dos
Pesquisa realizada por Neil E. Klepeis e outros, financiada pela Environmental Protection Agency (EPA). Disponível em: <https://indoor.lbl.gov/sites/all/files/lbnl-47713.pdf>.
INTRODUÇÃO
usuários com reflexos diretos nos níveis de estresse e ansiedade, resultando em falta de criatividade, ausência de comunicação, e até mesmo dificuldade de concentração. (PAIVA, 2018). Essa necessidade de aprofundar o tema da Neuroarquitetura em espaços de trabalho torna-se ainda mais evidente quando analisamos alguns dados relevantes. Pesquisas realizadas em 2017 pela OMS – Organização Mundial de Saúde –, mostram que nos últimos 10 anos houve um crescimento de 18,4% no número de pessoas com depressão no mundo, além de 15% no número de pessoas que possuem transtorno de ansiedade, como mostra a figura 02. Esse retrato fica ainda pior ao se tratar do Brasil, eleito o País com o maior número de casos de ansiedade e depressão em toda a América Latina, superando os índices da média mundial.
A
18,4%
B
colaboram com as nossas cidades, além de não promoverem diminuição para tais problemas como depressão e ansiedade.
2015
1960 34%
54%
Figura 03. Aumento da urbanização mundial. Fonte: Elaborado pela autora com base nos dados da WHO (World Health Organization) – 2015.
Dados da Organização Mundial da Saúde (figura 04) ainda revelam que uma em cada dez pessoas no mundo sofrem de algum distúrbio de saúde mental. Em resultado disso, as doenças relacionadas a saúde mental estão entre as campeãs de afastamentos ocasionados devido ao ambiente de trabalho.
15% 2005 Depressão
2015 Ansiedade
Figura 02. Aumento da depressão e ansiedade em 10 anos. Fonte: Elaborado pela autora com base nos dados da (OMS) Organização Mundial da Saúde – 2017.
Dados da WHO — World Health Organization (2015) — revelam que em 1960, 34% de toda a população mundial residia em cidades, já em 2015 esse dado salta para 54% dos habitantes, como retrata a figura 03. Integra-se a isso o estressante cotidiano dos grandes centros urbanos detentores das incontáveis construções de concreto e ausência de áreas verdes, que não
Figura 04. Proporção de pessoas com distúrbios de saúde mental. Fonte: Elaborado pela autora com base nos dados da (OMS) Organização Mundial da Saúde – 2017.
De acordo com dados coletados pelo INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) em 2016, os transtornos de depressão e ansiedade foram a segunda maior causa de adoecimento relacionado ao trabalho no Brasil, perdendo apenas para os casos de LER (Lesão por esforço repetitivo). Nesse contexto, uma pesquisa feita pela Locomotiva instituto de pesquisa e estratégia em 2017, aponta que 56% dos trabalhadores formais se dizem insatisfeitos com seu emprego5.
5 Pesquisa realizada pelo Instituto Locomotiva em 2017. Disponível em: <http://g1.globo.com/economia/blog/thais-heredia/post/56-dos-trabalhadores-formais-estao-insatisfeitos-com-o-trabalho-revela-pesquisa.html>.
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OLÁ
esse é um spoiler do resultado de um dos nossos TCCinhos
Se você gostou e quer saber mais sobre o trabalho e o TCC Nota 10, fala com a gente pelo nosso instagram @tccnota10arquitetura