TCC NOTA 10 ARQ | MARIAS - CENTRO DE ACOLHIMENTO PARA MULHERES VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA | LAILA PIRES

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UNIVERSIDADE SALVADOR

STEAM – ESCOLA DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLOGIAS

ARQUITETURA E URBANISMO

LAILA RIBEIRO PIRES

MARIAS:

CENTRO DE ACOLHIMENTO PARA MULHERES VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA

FEIRA DE SANTANA - BAHIA

2022

LAILA RIBEIRO PIRES

MARIAS:

CENTRO DE ACOLHIMENTO PARA MULHERES VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA

Monografia do Trabalho Final de Graduação (TFG) apresentado ao curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Salvador (UNIFACS), como requisito parcial para a obtenção de título em bacharel de Arquitetura e Urbanismo

Orientador: Leonardo Teixeira Kelsch Vieira e Carolina Del Pilar

FEIRA DE SANTANA – BAHIA 2022

Dedico este trabalho a todas as mulheres que já sofreram, as que ainda sofrem, as que estão prestes a sofrer e as que tiveram as suas vidas interrompidas de uma forma cruel por conta da violência. Dedico também aos meus pais, família e amigos que estiveram ao meu lado nesta trajetória.

AGRADECIMENTOS

Agradeço prim eiramente a todas as mulheres que vieram antes de mim, e que graças há anos de lutas, hoje temos direitos, voz e oportunidades, para que nós mulheres possamos chegar onde nossos sonhos nos levam.

Agradeço a minha mãe, meu maior exemplo de mulher forte, determinada e batalhadora. Obrigada p or todos os esforços, todos os dias, durante esses anos.

Tudo o que tenho e sou hoje é graças a vocês , pai e mãe. Essa conquista é nossa. Agradeço as mulheres da minha família, especialmente a minha Avó Neide e Daniele, por ter feito da sua casa o meu segundo lar , me apoiado, incentivado e acreditado nos meus sonhos.

Agradeço aos meus amigos Maria Vitória, Jonathan, Júlia e Laís, por serem ponto de apoio, pela amizade, conversa, desabafos e carinho. Obrigada por sempre me motivarem e acreditarem nos meus sonhos junto comigo.

Agradeço aos meu s parceiros que a graduação me deu, Alline e Victor, com quem pude dividir todas as angústias, medos, trabalhos e noites sem dormir. Por fim, aos professores que fizeram parte dessa minha caminhada e tornaram esse sonho possível.

RESUMO

Este trabalho é uma proposta de projeto final de graduação, que tem por objetivo elaborar um projeto de arquitetura de um Centro de Acolhimento para Mulheres Vítimas de violência, na cidade de Feira de Santana, na Bahia. O projeto prevê alojamentos provisórios para mulheres acompanhadas ou não de seus filhos, que se encontram sob ameaça e que necessitam de proteção em um ambiente acolhedor, humanizado e seguro, que complemente o tratamento d as vítimas, com a estratégia de integração e complementarie dade entre os serviços de atendimento á violência de gênero, para o fortalecimento das redes de proteção a mulher existentes na cidade.

Usando assim, do poder social da arquitetura e do seu potencial articulador para valorizar e emponderar a mulhe r, potencializando a integração e superação, desencadeando a mudança de dentro para fora, assim como um recomeço de uma nova etapa.

O terreno localiza -se entre as ruas Ari Barroso e Francelino Matos , próximo ao centro da cidade. No decorrer do trabalho , serão abordados os estudos da sua localização e suas interferências no projeto, o embasamento a respeito do tema, entendendo como surgiu o patriarcado, suas vio lências e como as mulheres foram conseguindo espaço na sociedade, os condicionantes que afetam o projeto, como os físicos, ambientais e legais

Também foram estudos três projetos de referência para melhor compreensão dos ambientes, fluxos e necessidades. Esse estudo resultou em uma análise das potencialidades e fragilidades e a interferência de cada um no projeto aqui apresentado . Por fim, após a definição do conceito e seu partido, iniciou -se o estudo de demanda para posterior elaboração e definição do pr ograma de necessidades e pré-dimensionamento, mantendo em estudo a volumetria, e resultando nas peças gráficas finais, o projeto finalizado

Palavra -chave: Violência; Mulheres; Gênero; Proteção.

FIGURAS Figura 1 - Ca ça as bruxas...................... .......... ............................... .................15 Figura 2 - Mulheres no movimento sufragistas 16 Figura 3 - Evolução do feminismo ........................................ ........... ................1 6 Figura 4 - Mu lheres no período colonial .17 Figura 5 - Mulheres protestando no Brasil ............. ............ .......... ....................19 Figura 6 - Linha do tempo das conquistas das mulheres .............. ..................20 Figura 7 - Ocorrências de violência em Feira de Santana 22 Figura 8 - O ciclo de violência .......................................................... .......... ....23 Figura 9 - Linha do tempo dos programas de enfrentamento à violência 24 Figura 10 - Caminhos para o atendimento ................... ......... ........................26 Figura 11 - Funcionamento da casa abrigo 27 Figura 12 - Rede de apoio a mulher................................. .......... ..................... 28 Figura 13 - Casa da mulher brasileira unidade São Luís 31 Figura 14 - Pátio central CMB - São Paulo 31 Figura 15 - Diagrama de setorização CMB ..................................................... 32 Figura 16 - Planta baixa Setorizada CMB 32 Figura 17 - Recepção, acolhimento e triagem CMB Brasília ....... .................... 33 Figura 18 - Dormitório CMD Brasília 33 Figura 19 - Fachada Interna voltada para o pátio central ........... ..................... 35 Figura 20 - Planta baixa térreo 36 Figura 21 - Planta baixa pav superior ............................ ............ ...................... 36 Figura 22 - Planta de cobertura 37 Figura 23 - Planta de setorização 37 Figura 24 - Pátio central 38 Figura 25 - Corte 38 Figura 26 - Corte........................................ .................. ........... ......................... 39 Figura 27 - Fachada 39 Figura 28 - Fazenda demonstrativa.......................... ................... .................... 40 Figura 29 - Coberturas para melhorar ventilação e paredes com tijolos feitos pelas usuárias ............................................................ ...................... .......................... 41
ÍNDICE DE ILUSTRAÇÕES
Figura 30 - Coberturas para melhorar a ventilação e tijolos feitos pelas usuária s..................................................................................................................... .41 Figura 31 - Fazenda demonstrativa 41 Figura 32 - Planta baixa ............................................ ............ ........................... 42 Figura 33 - Planta baixa setorizada 42 Figura 34 - Corte............................................................... ............. .................. 43 Figura 35 - Corte 43 Figura 36 - Mapa de localização ........ ....................................... ....................... 46 Figura 37 - L ocalização do terreno na cidade ............... .................................. 47 Figura 38 - Interferência nos bairros vizinhos 48 Figura 39 - Esquema de localização das vistas das imagens ........................ 49 Figura 40 - Vista A 50 Figura 41 - Vista B.......................... ..................................................... ........... 59 Figura 42 - Vista C 51 Figura 43 - Vista D..................................................................... ..................... 51 Figura 44 - Planta de localização 52 Figura 45 - Mapa hipsométrico 53 Figura 46 - Corte AA.......................................................... ............................. 53 Figura 47 - Corte BB 54 Figura 48 - Corte CC................................................... ................................... 54 Figura 49 - Mapa de massas vegetais 55 Figura 50 - Vegetações rasteiras e de pequeno porte ......................... .......... 55 Figura 51 - Vegetações médias presentes próximo ao terreno 56 Figura 52 - Vegetação rasteira ............... ........................................... ............. 57 Figura 53 - Insolação na fachada norte 58 Figura 54 - Insolação na fachada leste 58 Figura 55 - Insolação na fachada sul 59 Figura 56 - Insolação na fachada oeste 60 Figura 57 - Estudo de sombras ( solstício de verão) ...................... ........ ......... 60 Figura 58 - Estudo de sombras (equinócio) 61 Figura 59 - Estudo de sombras ( solstício de inverno) ....................... ............. 62 Figura 60 - Rosa dos ventos em Feira de Santana com terreno 62 Figura 61 - Rosa dos ventos (dia) .................................... ........... .................... 63 Figura 62 - Rosa dos ventos (noite) 64
Figura 63 - Temperaturas 64 Figura 64 - Chuvas............................................................. ............................ 66 Figura 65 - Planta da cidade de Feira de Santana em 1968 66 Figura 66 - Planta da cidade de Feira de Santana em 1968 .......................... 67 Figura 67 - Região em 2002 68 Figura 68 - Região em 2014 ................................................. ........ ...................69 Figura 69 - Região em 2021 70 Figura 70 - Homens x Mulheres.................................... ......... ........................70 Figura 71 - Faixa etária e jovens x idosos....................... ......... ....................... 71 Figura 72 - Comparativos entre bairros 71 Figura 73 - Rendimento nominal mensal .............................. ........................... 72 Figura 74 - Existência de esgotame nto sanitário 75 Figura 75 - Recuos estabelecidos e nova área .............................. ........ ......... 76 Figura 76 - Planta com os recuos estabelecidos e a nova área 78 Figura 77 - Rotação da cadeira de rodas ........................................ ............... 78 Figura 78 - Sinalização de espaços reservados para P.C.R 79 Figura 79 - Dimensão do vão da porta 79 Figura 80 - Dimensão sanitário acessível ......................... ..... ......................... 79 Figura 81 - Dimensão vestiário acessível 81 Figura 82 - Zona bioclimática......................................................................... 81 Figura 83 - Tipos de aberturas 81 Figura 84 - Estratégias de condicionamento térmico ........................... .......... 82 Figura 85 - Mapa de uso do solo 83 Figura 86 - Mapa de gabarito de altura ............................................. ......... .... 84 Figura 87 - Mapa viário 85 Figura 88 - Comportamento de trânsito 86 Figura 89 - Mapa de ponto de ônibus 87 Figura 90 - Mapa de equipamentos 87 Figura 91 - DEAM (Delegacia Especial de atendimento a mulher) .......... .......88 Figura 92 - Praça presente próximo 88 Figura 93 - Unidade de saúde da família eucaliptos ................ .................... .. 88 Figura 94 - Colégio estadual polivalente de Feira de Santana 90 Figura 95 - Pilares base do projeto ...................................................... ......... ...90 Figura 96 - Pilares base do projeto 91
Figura 97 - Diretrizes do projeto 91 Figura 98 – Partido.................. ................ ................................................ ........9 2 Figura 99 - Soluções Arquitetônicas ....9 3 Figura 100 – Diagrama Fluxo Funcionários................................................. ..100 Figura 101 – Estud o Volumétrico.... 101 Figura 102 – Estudo da setorização ... .............. ........... .......................... ....... 102 Figura 103 – Evolução da Setorização 102 Figura 104 – Evolução da Setorização Térreo............... ......................... ..... 103 Figura 105 – Evolução da Setorização Pav. Sup. ............................ ............ 103 Figura 106 – Diagrama da Estrutura Metálica......... 105 Figura 107 – Diagrama de Materiais.............................. .......................... .... 105 Figura 108 – Diagrama de Acabamentos e Texturas............................ 106
TABELAS Tabela 1 - Ocorrências de violência em Feira de Santana .......... .................... 22 Tabela 2 - Fich a técnica 30 Tabela 3 - Pontos positivos e negativos ............................. ............................. 34 Tabela 4 - Ficha técnica 34 Tabela 5 - Pontos positivos e negativos ................................. .........................39 Tabela 6 - Ficha técnica 40 Tabela 7 - Pontos positivos e negativos ........................... ......... ............ ..........44 Tabela 8 - Tabela de análises de insolação das fachadas ................... ...........59 Tabela 9 - PDDU 73 Tabela 10 - LOUOS ..................................................................... ....................74 Tabela 11 - Recuos estabelecidos 74 Tabela 12 - Condicionantes legais .................................................... ......... .....75 Tabela 13 - Código de obras 77 Tabela 14 - Saída de emergência ............................................ .................... ...80 Tabela 15 - Programa de necessidades, setor atendimento 93 Tabela 16 - Programa de necessidades, setor convivência 94 Tabela 1 7 - Programa de necessidades, setor alojamentos ......................... ..95 Tabela 1 8 - Programa de necessidades, setor educacional 96 Tabela 1 9 - programa de necessidades, áreas externas ................................97

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas

DEAM - Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher

ONU - Organização das Nações Unidas

PM - Polícia Militar

CMB – Casa da Mulher Brasileira

SPM – Secretaria Nacional de Políticas para Mulheres

LOUOS – Lei de Uso e Ordenamento do Solo

PDDU – Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano

NBR – Norma Técnica Brasileira

ONG – Organização não Governamental

CAPS – Centro de Atenção Psicossocial

IP – Índice de Permeabilidade

IU – Índice de Utilização

IO – Índice de Ocupação

LMP – Lei Maria da Penha

5 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 10 1.1 JUSTIFICATIVA 11 1.2 OBJETIVOS ............................................................................................................ 12 1.2.1 OBJETIVO GERAL .............................................................................................. 12 1.2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS .............................................................................. 12 1.3 METODOLOGIA 13 2 EMBASAMENTO TEÓRICO 15 2.1 TEMA 15 2.1.1 CONTEXTO HISTÓRICO DA MULHER NA SOCIEDADE ........................... 15 2.1.2 CONTEXTO DA MULHER NO BRASIL ........................................................... 18 2.1.3 MOVIMENTOS FEMINISTAS NO BRASIL ..................................................... 19 2.1.4 TIPOS DE VIOLÊNCIA E CENÁRIO NA CIDADE 21 2.1.5 CICLO DE VIOLÊNCIA E SUAS CONSEQUÊNCIAS 24 2.1.6 LEI MARIA DA PENHA E PROGRAMAS DE ENFRENTAMENTO A VIOLÊNCIA ................................................................................................................................. 25 2.1.7 DIRETRIZES NACIONAL PARA O ABRIGAMENTO .................................... 27 2.1.8 CASA ABRIGO 28 2.1.9 REDE DE APOIO A MULHER EM FEIRA DE SANTANA 29 2.2 DEFINIÇÕES DE TERMOS .................................................................................. 30 2.3 PROJETOS REFERENCIAIS ............................................................................... 30 2.3.1 CASA DA MULHER BRASILEIRA (CMB) ....................................................... 31 2.3.2 ABRIGO PARA VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA EM ISRAEL ....... 35 2.3.3 CENTRO DE OPORTUNIDADES PARA MULHERES EM KAYONZA, RUANDA ...................................................................................................................................... 41 3 DIAGNÓSTICO ............................................................................................................... 47 3.1 ASPECTOS FÍSICOS 47
6 3.1.1 LOCALIZAÇÃO E CRITÉRIOS DA ESCOLHA 47 3.1.2 DESCRIÇÃO DO LOTE ...................................................................................... 50 3.1.3 TOPOGRAFIA ...................................................................................................... 53 3.1.4 MASSAS VEGETAIS E ÁGUA 55 3.1.5 CLIMA, INSOLAÇAO E VENTOS 57 3.2 ASPECTOS HISTÓRICOS 66 3.3 ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS 70 3.4 ASPECTOS LEGAIS .................................................................................................. 73 3.4.1 Lei complementar n° 117/2018 – Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano e Territorial do Município de Feira de Santana – BA 73 3.4.2 Lei complementar n° 118/2018 – Ordenamento do Uso e Ocupação do Solo – LOUS ............................................................................................................................... 74 3.4.3 Lei complementar n° 119/2018 – Código de Obras do Município de Feira de Santana-BA ................................................................................................................ 77 3.4.4 NBR 9050 / 2020 ................................................................................................. 78 3.4.5 NBR 9077 / 2011 – Saídas de Emergências em edifícios ........................ 81 3.4.6 NBR 15520 / 2005 – Desempenho térmico das edificações 81 3.5 ASPECTOS URBANOS E PAISAGÍSTICOS 82 3.5.1 USO DO SOLO 82 3.5.2 GABARITO ........................................................................................................... 83 3.5.3 SISTEMA VIÁRIO ................................................................................................ 84 3.5.4 MOBILIDADE URBANA ...................................................................................... 86 3.5.5 EQUIPAMENTOS URBANOS, ESPAÇOS PÚBLICOS E DE LAZER 87 4 O PROJETO 91 4.1 CONCEITO 91 4.2 PARTIDO ................................................................................................................. 92 4.3 PROGRAMA DE NECESSIDADES ..................................................................... 93 4.4 FLUXOGRAMA ..................................................................................................... 100 4.5 ZONEAMENTO 101
7 5 MEMORIAL DESCRITIVO E ESPECIFICAÇÕES TÉCNICAS 104 5.1 CARACTERÍSTICAS GERAIS ........................................................................... 104 5.2 ESTRUTURA ........................................................................................................ 104 5.3 FACHADAS 105 5.4 REVESTIMENTOS ACABAMENTOS E PINTURAS 106 5.5 ESQUADRIAS 106 5.6 COMPLEMENTAÇÕES 107 6 CONCLUSÃO ............................................................................................................... 107 7 REFERÊNCIAS BI BLIOGRÁFICAS ......................................................................... 107 8 APÊNDICES 109 8.1 FORMULÁRIO 109 8.2 FLUXOGRAMA 114

1 INTRODUÇÃO

Este trabalho final de graduação tem por finalidade a elaboração de um projeto de arquitetura de um Centro de Acolhimento para Mulheres Vítimas de Violência na cidade de Feira de Santana - Bahia. Surge da aversão a cerca, da ainda predominante, cultura do patriarcado presente na sociedade, e da condição de inferioridade feminina tida como um mero objeto sujeito a posse, imposta pelo mesmo durante anos de histórias. Assim, “o sexismo não é somente uma ideologia, reflete, também, uma estrutura de poder, cuja distribuição é muito desigual, em detrimento das mulheres” (SAFFIOTI, 2015, p.37)

Diante do exposto, de acordo com os dados do Mapa da Violência de 2015, em 2010 o Brasil que ocupava a 7° colocação entre os países com maiores taxas de homicídios de mulheres, ultrapassou para o 5° lugar em 2013, desta forma, expondo que este não é um problema atual, mas que perpetua várias gerações.

Segundo o levantamento da Rede de Observatório da Segurança (2020), a Bahia é líder em homicídio de mulheres e fica em 3° lugar no ranking dos feminicídio. Feira de Santana por sua vez, é uma das cidades na Bahia que mais se registram ocorrências de violência de gênero. De acordo com a P olícia Militar de Feira de Santana teve em média 8 ocorrências de violência contra a mulher por dia no ano de 2019 na cidade

A herança histórica do sistema patriarcal ainda é muito presente, sucedendo ainda medo e violência, no qual seus agressores se justificam da existência feminina como mero objeto sujeito a propriedade e a submissão .

Fundamentando através de teóricos como Rousseau (1762) ele defendia que as mulheres deveriam aprender a serem mães e esposas, porque essa era a lei da natureza, pois para ele as mulheres deveriam ter pouca liberdade e desde cedo dedicarem a vida ao lar para serem re speitadas. Logo, esse tipo de convicção contribui para a inferiorização da mulher na sociedade e da não aceitação das mesmas nos espaços públicos , encontrando aux ílio na vulnerabilidade do sistema institucional brasileiro, sendo um problema prioritário a s er combatido pela saúde pública.

Toda a educação das mulheres deve ser relativa aos homens. Em todos os tempos, os deveres das mulheres, aqueles que lhes devem ser ensinados desde a infância, consistem em agradar aos homens, em ser -lhes úteis, em fazerem-se amar por eles, educá -los quando são pequenos, cuidar deles quando crescem, dar -lhes conselhos, consolá -los e tornar -lhes a vida agradável e doce (ROSSEAU, 2004, p. 527) .

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As mulheres que sofrem algum tipo de violência passam pela dificuldade de serem inseridas na sociedade novamente, uma vez que acabam passando por um processo de exclusão, retirando -a do mercado de trabalho, do ciclo e da vida social. Diante disso, esses fatores ocorrem, pois na maioria dos casos, essas mulheres possuem filhos e d ependem financeiramente dos seus companheiros, que são seus principais agressores, assim , ficando refé ns dos mesmos e do ciclo de violência.

É importante ressaltar que ações por parte do poder público e de organização não governamentais vêm sendo tomadas a o longo dos anos, tendo exemplo a criação da Lei 11.340/2006 – conhecida como Lei Maria da Penha - assim, esse tipo de violência que não era considerado agressão, passou a ser definido como crime Além disso, a criação da DEAM (Delegacia Especial de Atendim ento a Mulher), é um marco na luta feminista, não tendo somente o papel de punir, mas de amparar, acolher, defender os direitos e estimular a denúncia as agressões.

Há a existência de 3 casas abrigos na Bahia e uma sendo em Feira de Santana, com a finalida de de oferecer acolhimento, proteção, orientação as vítimas, tentando atender as demandas existentes. Entretanto, a mesma acaba falhando, uma vez que o atendimento na instituição é desumanizado, no qual as vítimas não possuem liberdade, acarretando o senti mento de abandono e marginalização perante a sociedade . Devido a isso, será desenvolvido um projeto arquitetônico de um Centro de Acolhimento para sanar com as deficiências dos outros equipamentos já existentes na cidade.

1.1 JUSTIFICATIVA

Partindo de um cunho social, apesar dos grandes avanços, e da existência de casas abrigo, os números de casos e denúncias continuam em crescente. Sendo assim, é necessário portanto, a criação de um local de abrigamento humanizado, efetivo e capacitado para essas vítimas, e da construção de uma rede de acolhimento e enfrentamento a violência de gênero.

É necessário, um local seguro para essas vítimas que estão vulneráveis, uma vez que, algumas possuem seus agressores soltos ou até mesmo possuem risco eminente de morte, e estas precisam sentirem em segurança no local . Além disso, é fundamental um local onde t rate da auto estima da mesma, trabalhando as questões psicológicas, para que possam se remontar e saberem da capacidade, da autonomia, independência, da capacidade de se reinventar Há

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portanto, a necessidade da criação de um espaço que além de abrigar, capacite essas vítimas, para que empoderada ela reintegre ao mercado de trabalho .

Desse modo, fica evidente a necessidade da criação de um equipamento efe tivo, contando com todo o suporte jurídico, psicológico, assistencial, com o intuito de reintegra -las na sociedade, capacitando -as para terem autonomia e liberdade fora do centro. Logo , as discussões sobre a violência de gênero tornam -se um meio importante para conscientizar, mudar e empoderar as mulheres fazendo -as denunciarem seus agressores e quebra rem o ciclo de violência.

De acordo com a teórica feminista Bell Hooks (2005, p.26) “através da conscientização, mulheres adquiriram forças para desafiar o p oder patriarcal no trabalho e em casa” usando da conscientização uma “arma” para mudar suas realidades, evidenciando a importância do empoderamento feminino. Assim, a inda conforme Bell Hooks (2005, p. 36) "Mulheres precisavam se juntar unir para mudar a discriminação no ambiente de trabalho, fazer pressão para mudar as políticas públicas”.

1.2 OBJETIVOS

1.2.1 OBJETIVO GERA L

Dessa maneira, o presente trabalho tem como objetivo desenvolver um Centro de Acolhimento para mulheres vítimas violência na cidade de Feira de Santana, usufruindo do poder social da arquitetura e do seu papel transformador, para garantir maior autonomia e mocional e financeira, oferecendo dignidade, autoestima e empoderamento dessas mulheres, para que as mesmas possam ser reinseridas novamente n o corpo social.

1.2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

• Ampliar a rede de apoio a mulher na cidade de Feira de Santana -Ba com a criação de um centro de Acolhimento;

• Amparar mulheres vítimas de violência com a criação de abrigo temporário;

• Desenvolver um projeto que possibilite espaços seguro e acolhedor de reestruturação da vítima;

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• Através do programa de necessidades, dos ambien tes, da setorização desenvolver um projeto de espaço focado no acolhimento, integração e superação ;

• Desenvolver um projeto de espaço associando elementos da arquitetura e paisagismo para expressar sensações

1.3 METODOLOGIA

A pesquisa foi elaborada através de um levantamento bibliográfico , por meio de autores como Simone de Beauvoir , Zuleika Alambert e Bell Hooks para um aprofundamento em relação ao tema e ao seu processo histórico.

Ademais, através desses estudos foi selecionado um terreno estratégico, que possui uma rede de apoio no seu entorno, que será fundamental para o Centro de Acolhimento, principalmente com a presença da DEAM.

Posteriormente foi feito um diagnóstico do local, por meio de visitas, construção de mapas, buscando dados sobre o bairro, através de dados do IBGE, análises pelo Google Maps e Earth, pesquisas sobre pontos de ônibus e fluxos através de aplicativos como o SIU MOBILE de Feira de Santana.

Foram feitos estudos de projetos referenciais como o Centro de acolhimento para Vítimas de Violência em Israel como sendo o projeto base por ser projet ado ao redor do jardim interno. Al ém disso, os projetos de referência foram base para o zoneamento, fluxograma, programas de necessidades, afim de fazer melhorias no presente trabalho.

Por fim, foi definido o conceito e o partido, chegando ao desenvolvimento do projeto arquitetônico do Cen tro de Acolhimento para atender a necessidades especificas das mulheres e reintegra -las na sociedade.

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2 EMBASAMENTO TEÓRICO

2.1 TEMA

2 1.1 CONTEXTO HISTÓRICO DA MULHER NA SOCIEDADE

O papel dado a mulher de ser submissa ao homem e ao lar não é dos tempos atuais, é de anos de história, do patriarcado enraizado na sociedade. A figura masculina sempre foi atrelada ao papel de poder e superioridade, já a figura feminina, sempre foi associada ao papel de inferiori dade e submissão. A vista disto, de onde e quando surgiu essa noção de patriarcado? Em que momento surgiu a noção de inferiorização do papel da mulher? Em que tempo surgiu as noções feministas que mudaram a vida de todas nós mulheres?

A posição da mulher, nem sempre foi de submissão ao homem na sociedade, de acordo com o livro “Mulher: uma trajetória épica” (1997) de Zuleika Alambert, que faz um traçado da história da mulher desde a antiguidade, a mulher na organização tribal mantinha um papel de destaque (apud GONZAGA, 2011, p.87). Assim, os principais afazeres na época da tribo eram dados a mulher, como o cultivo da terra, o cuidado das crianças e idosos, o desenvolvimento da linguagem e comunicação , e a criação da enxada primitiva. Des sa maneira, os homens desempenhavam o papel da caça e passavam grande parte do tempo fora da tribo.

Entretanto, a partir da invenção do arado pelo homem, que permitiu a criação de gado e a agricultura extensiva, essa nova divisão fez com que fosse transfe rido o predomínio dos homens nas tribos, o homem agora tornava -se proprietário da fonte de alimento e trabalho . Segundo Jaime Pinsker:

Ao homem cabia a caça e a preparação de todo o equipamento para a atividade, enquanto a mulher era coletora e responsáve l por toda a educação dos filhos. Com as mudanças ocorridas com a agricultura, o homem passa a derrubar bosques e preparar a terra para a lavoura (PINSKER, 1994, p. 400)

Nesse momento a organização social primitiva começa a decair, surgindo a noção de propriedade privada. Consequentemente, a partir da propriedade privada a mulher passa a ser vista como objeto de reprodução e manutenção da herança e do poder das famílias , perdendo assim a sua liberdade e surgindo o patriarcado .

Segundo Engels no livro A Or igem da Família, da Propriedade Privada e do Estado, “A mulher foi degradada, convertida em servidora, em escrava do prazer do homem e em mero instrumento de reprodução ” (ENGELS, 1884, p.75)

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Posteriormente, na idade média as mulheres eram submetidas as tarefas ao lar, eram proibidas de terem desejos pessoais, de acesso à universidade e escola, tendo a religião patriarcal desempenhando grande influência sobe esta inferioridade. Nesse período houve a Inquisição, ou “caça às bruxas”, uma campanha da igreja católica e do estado, com significado religioso, político e sexual, afim de condenar mulheres que não agiam conforme o estabelecido pela igreja.

Consequentemente, houve um genocídio do sexo fem inino, que foram acusadas, condenadas e mortas, visto que as “bruxas” mulheres que detinham o conhecimento da medicina para curar doenças (Figura 01), além da condenação de mulheres que iam de encontro as pautas defendidas na época.

Figura 01: Caça as brux as

Fonte: G oogle Imagens

Posteriormente, nos séculos XIX e XX as mulheres começaram a ganhar um pouco mais de espaços de acordo com as greves que eram realizadas, e com a discussões sobre os pensamentos feministas. Com a ascensão do capitalismo, as mulheres pobres começaram a trabalhar nas industrias, contudo com poucos direitos e condições de trabalho desfavoráveis, e as mulheres com melhores condições começam a ser inseridas nas universidades em busca de uma educação formal.

A vista disso, pela primeira vez os direitos das mulheres começaram a ficar em evid ência, onde as mulheres da classe burguesa, que tiveram acesso à educação, começaram a reivindicar os seus direitos, tornando assim o início da participação feminina moderna na sociedade. Logo, com a primeira onda do movimento feminista, surg e o movimento das S ufragistas, a partir de 1897, no qual lutavam pelo direito ao voto, pois de acordo com a organização sexista política da

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OLÁ

esse é um spoiler do resultado de um dos nossos TCCinhos

Se você gostou e quer saber mais sobre o trabalho

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