TCC NOTA 10 ARQ | CENTRO DE TRATAMENTO CRIANÇAS COM TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA | NATÁLIA MARTINS

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ANTEPROJETO DE UM CENTRO DE REFERÊNCIA ADEQUADO PARA O TRATAMENTO DAS CRIANÇAS COM TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA NA CIDADE DE JOÃO PESSOA - PB NATÁLIA MARTINS CAMBOIM LUNA | UNIPÊ



CENTRO UNIVERSITÁRIO DE JOÃO PESSOA - UNIPÊ ARQUITETURA E URBANISMO

NATÁLIA MARTINS CAMBOIM LUNA

ANTEPROJETO DE UM CENTRO DE REFERÊNCIA ADEQUADO PARA O TRATAMENTO DAS CRIANÇAS COM TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA NA CIDADE DE JOÃO PESSOA - PB

Trabalho final de graduação, apresentado ao Centro Universitário de João Pessoa – Unipê, com parte das exigências para obtenção do título de bacharel em Arquitetura e Urbanismo Orientador: Vitto Bruno de Sales Germoglio.

JOÃO PESSOA I 2020


ANTEPROJETO DE UM CENTRO DE REFERÊNCIA ADEQUADO PARA O TRATAMENTO DAS CRIANÇAS COM TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA NA CIDADE DE JOÃO PESSOA - PB

L961a

Luna, Natália Martins Camboim. Anteprojeto de um Centro de Referência Adequado para o Tratamento das Crianças com Transtorno do Espectro Autista na cidade de João Pessoa - PB /Natália Martins Camboim Luna - João Pessoa, 2020. 88f. Orientador (a): Prof. Vitto Bruno de Sales Germoglio. Monografia (Curso de Arquitetura e Urbanismo) – Centro Universitário de João Pessoa – UNIPÊ. 1. Autismo. 2. Tratamento adequado. 3. Crianças. I Anteprojeto de um Centro de Referência Adequado para o Tratamento das Crianças com Transtorno do Espectro Autista na cidade de João Pessoa - PB

UNIPÊ / BC

CDU – 725.1:364-5



AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus que me deu uma família motivadora que esteve sempre ao meu lado, incentivando-me e segurando as minhas mãos nas horas que mais precisei. Aos meus pais Sérgio Beltrão e Ivanice Martins, que sempre acreditaram em mim e nunca mediram esforços para dar tudo que eu e meu irmão precisamos para realizar nossos sonhos; em especial às condições para seguir o curso de Arquitetura, o qual estou finalizando mais uma etapa da minha vida. A Tiago Martins, que além de irmão é meu melhor amigo, saiba que você foi um ponto essencial para eu chegar até aqui, sempre me influenciando profissionalmente e dando conselhos quando precisei, saiba que eu te admiro demais, e tenho certeza que você terá todo o sucesso do mundo, te admiro demais! Aos meus avôs Wilson Camboim, Fátima Martins, Ocemar Toscano e Rivane Beltrão (que nos deixou este ano, mas saiba que sou eternamente grata por tudo que a senhora fez por mim, e quero que aonde você esteja, saiba que estou vencendo mais uma etapa na minha vida, eu consegui!), que sempre estiveram comigo, acompanhando meu crescimento desde sempre e dando todo suporte quando precisei. Agradeço também aos meus tios, por me ajudarem desde pequena no tempo da escola, quando eu ia aperrear precisando de ajuda nas provas e que acompanharam todo o meu crescimento, e até hoje continuam me ajudando, vocês foram e são fundamentais para meu crescimento profissional.


Sou muito grata ao meu orientador e amigo Vitto Germoglio por todos os ensinamentos, apoio e confiança. Seu conhecimento sobre arquitetura, criatividade e o modo de ensinar às pessoas são qualidades que te fazem esse grande profissional, e com toda certeza vou levar tudo que aprendi com você para minha vida. Aos meus amigos da universidade que sempre estiveram ao meu lado caminhando juntos até aqui, em especial meu trio dos trabalhos, Lara Antonino, Larissa Mangueira e Maria Luíza, pelas noites em claro, mas que no final sempre dava certo, foi um presente que a Arquitetura me deu. Aos professores da AGV, Vitor e Gabi, que também fizeram parte desta etapa final, sempre me motivando e mostrando que eu era capaz, e abraçaram esse sonho junto comigo. Um agradecimento especial às arquitetas Fabiana Gambarra, Karol Dantas, Manuela Medeiros e Tatiana Medeiros. Com vocês ao meu lado, consegui juntar forças para encarar os desafios finais do meu curso, que com essa união eles se tornaram mais fáceis, agradeço de coração por tudo o que vocês fizeram por mim. Por fim, um agradecimento especial ao meu primo Vitor Fernando que foi a inspiração para o desenvolvimento deste trabalho. Você nos ensinou e ainda ensina a ver a vida de outra forma, vencendo cada obstáculo que a vida nos coloca, e mostra de que nada é impossível. Seu jeito nos encantou e você nos conquista a cada detalhe e avanços no seu desenvolvimento, saiba que você é muito especial para mim e toda nossa família!


RESUMO O Autismo, também conhecido como Transtorno do Espectro Autista (TEA), é um transtorno que interfere no desenvolvimento de um indivíduo nos seus aspectos sensoriais, de comunicação, emocionais e de interação. A sua definição passou por diferentes mudanças ao longo do tempo, com estudiosos que avaliavam o processo de desenvolvimento e comportamento humano, até chegar na terminologia e conceito que conhecemos nos dias atuais – TEA. Apesar de hoje existir uma lei que determine os direitos das pessoas com TEA, no Brasil, ainda há muita precariedade no sistema de atendimento e prestação de serviços a essas pessoas com autismo, como, por exemplo, falta de locais adequados para realização dos tratamentos em termos de quantidade e funcionalidades dessas unidades. Desta forma, esse trabalho se justifica na tentativa de oferecer um local adequado para o tratamento direcionado às pessoas com autismo, a fim de minimizar essas problemáticas. O objetivo do trabalho, então, foi a proposta de anteprojeto para o desenvolvimento de um Centro de Referência com atendimento específico às crianças com autismo na cidade de João Pessoa, com ambientes destinados às

atividades necessárias para realização dos tratamentos, além de oferecer espaços de assistência familiar e áreas de convivência e interação entre os pais e ou responsáveis por essas crianças. Para realização deste projeto, foram utilizados procedimentos metodológicos, como: pesquisas bibliográficas, digitais, documentais, normas, visita em campo, sistematização e análises dos dados, para tomar partido das decisões e diretrizes projetuais no desenvolvimento do centro adequado para crianças com TEA. Feito o embasamento teórico necessário, foram determinados critérios que direcionaram a escolha do terreno para implantação do centro, e com base no lote selecionado, foi feito o estudo sobre a área, por meio de mapas e referências de legislações legais pertinentes ao bairro José Américo na cidade de João Pessoa, local onde está inserido o terreno do projeto. Palavras-chave: Autismo; tratamento; adequado; crianças.


ABSTRACT Autism, also known as Autistic Spectrum Disorder (ASD), is a disorder that interferes with an individual’s development in his sensory, communication, emotional and interaction aspects. Its definition has undergone different changes over time, with scholars who evaluated the process of human development and behavior, until reaching the terminology and concept that we know today - TEA. Although today there is a law that determines the rights of people with ASD, in Brazil, there is still a lot of precariousness in the system of care and provision of services to these people with autism, such as, for example, lack of adequate places to carry out treatments in terms of quantity and functionality of these units. Thus, this work is justified in an attempt to offer an adequate place for treatment aimed at people with autism, in order to minimize these problems. The objective of the work, then, was the proposal of a preliminary project for the development of a Reference Center with specific care for children with autism in the city of João Pessoa, with environments for the activities necessary to carry out the treatments, in addition to offering assistance spaces family and

areas of coexistence and interaction between parents and / or guardians of these children. To carry out this project, methodological procedures were used, such as: bibliographic, digital, documentary research, standards, field visits, systematization and data analysis, to take advantage of the decisions and design guidelines in the development of the appropriate center for children with ASD. After the necessary theoretical basis, criteria were determined that guided the choice of land for the implantation of the center, and based on the selected lot, the study on the area was carried out, using maps and references of legal legislation pertinent to the José Américo neighborhood in city of João Pessoa, where the project land is located. Keywords: Autism; treatment; appropriate; children.



“Em um cenário de múltiplas possiblidades, os conhecimentos e habilidades adquiridos ao longo da vida não se anulam, eles podem se somar”

(Bem Oliveira)


LISTA DE FIGURAS Figura 1: Dados do CDC, 2020.......................................................................................................................................................19 Figura 2: Esquema ilustrativo dos procedimentos metodológicos. ................................................................................................23 Figura 3: Resumo em ordem cronológica do processo de definição e caracterização do TEA. .....................................................27 Figura 4: Representação do processo de desenvolvimento da AMA. .............................................................................................28 Figura 5: Tratamentos multiprofissionais........................................................................................................................................30 Figura 6: Os sentidos mais presentes nas pessoas com TEA. .........................................................................................................32 Figura 7: Elementos construtivos e de percepção. ..........................................................................................................................34 Figura 8: Advance Center for Autism. – Planta baixa. ...................................................................................................................40 Figura 9: Condicionantes locais para escolha do lote. ....................................................................................................................51 Figura 10: Localização: João Pessoa – PB, o bairro José Américo e pontos de atendimentos e institucionais..............................51 Figura 11: Localização da AOE. .....................................................................................................................................................52 Figura 12: Sistema Viário e Mobilidade. ........................................................................................................................................53 Figura 13: Uso e Ocupação do Solo. ..............................................................................................................................................54 Figura 14: Gabarito. ........................................................................................................................................................................54 Figura 15: Carta solar. .....................................................................................................................................................................55 Figura 16: Dados da ventilação da cidade de João Pessoa – PB. ...................................................................................................55 Figura 17: Estudo topográfico.........................................................................................................................................................56 Figura 18: Funcionograma dos setores. ..........................................................................................................................................61 Figura 19: Planta- setorização.........................................................................................................................................................62 Figura 20: Setorização geral tridimensional. ..................................................................................................................................63


Figura 21: Diagrama evolutivo da implantação dos blocos ............................................................................................................63 Figura 22: Planta - indicação dos acessos e fluxos .........................................................................................................................65 Figura 23: Diagramas de Forma e Volume .....................................................................................................................................66 Figura 24: Diagramação da coberta ................................................................................................................................................67 Figura 25: Corte esquemático da ventilação ...................................................................................................................................67 Figura 26: Materiais. .......................................................................................................................................................................68 Figura 27: Elementos de composição da horta ...............................................................................................................................69 Figura 28: Vista da praça de chegada, auditório e estacionamento do público. .............................................................................70 Figura 29: Passarela central. ...........................................................................................................................................................71 Figura 30: Vista para os corredores das salas de terapia de baixo e alto estímulo partindo da circulação central. ........................72 Figura 31: Zona de escape. .............................................................................................................................................................73 Figura 32: Vista da cantina e playground........................................................................................................................................74 Figura 33: Pátio central de ligação entre os blocos de serviço e administração. ............................................................................75 Figura 34: Vista para área externa e acesso ao bloco de apoio profissional. ..................................................................................76 Figura 35: Vista para o bloco de diagnóstico e apoio ao cuidador..................................................................................................77 Figura 36: Vista para os blocos de terapia. .....................................................................................................................................78 Figura 37: Vista para a horta sensorial. ...........................................................................................................................................79 Figura 38: Piscina terapêutica. ........................................................................................................................................................80 Figura 39: Fachada sudoeste com vista para a parte posterior dos blocos de terapia de alto estímulo. .........................................81 Figura 40: Vista superior do Centro. ...............................................................................................................................................83


LISTA DE TABELAS Tabela 1: Quantidade de unidades de atendimento a pessoas com TEA no Brasil ............................................................... 20 Tabela 2: Grau de sensibilidade aos sentidos dos autistas. ................................................................................................... 32 Tabela 3: Elementos sensoriais e construtivos para pessoas com TEA ................................................................................ 34 Tabela 4: Condições de conforto em ambientes para pessoas com TEA. ............................................................................. 37 Tabela 5: Programa e Pré-dimensionamento – Setor Administrativo ................................................................................... 44 Tabela 6: Programa e Pré-dimensionamento – Setor de diagnóstico e apoio ao cuidador.................................................... 45 Tabela 7: Programa e Pré-dimensionamento – Setor de terapia baixo estímulo................................................................... 46 Tabela 8: Programa e Pré-dimensionamento – Setor de terapia alto estímulo...................................................................... 47 Tabela 9: Programa e Pré-dimensionamento – Setor de apoio profissional.......................................................................... 47 Tabela 10: Programa e Pré-dimensionamento – Setor de Serviço. ....................................................................................... 48 Tabela 11: Programa e Pré-dimensionamento – Área externa. ............................................................................................. 49 Tabela 12: Programa e Pré-dimensionamento – Infraestrutura............................................................................................. 49 Tabela 13: Cálculo do reservatório. ...................................................................................................................................... 50 Tabela 14: Dados e condicionantes do lote de intervenção. ................................................................................................. 53 Tabela 15: Diretrizes projetuais adotadas no Centro de Referência para crianças autistas. ................................................. 58


ÍNDICE DE SIGLAS E ABREVIAÇÕES ABA

Análise do Comportamento Aplicada.

SUS

Sistema Único de Saúde.

AMA

Associação de Pais e Amigos de Autistas.

TEA

Transtorno do Espectro Autista.

AOE

Área Objeto de Estudo.

TEACCH

Tratamento e Educação para Autistas e Crianças

APA

Associação Paraibana de Autismo.

com Déficits relacionados com a Comunicação.

APAE

Associação de Pais e Amigos Dos Excepcionais.

T.O

Terapia Ocupacional.

AVD

Atividade de Vida Diária

ZNA

Zona Não Adensável.

CDC

Centros de Controle e Prevenção de Doenças.

ZR2

Zona Residencial 2.

CRMIPD

Centro de Referência Municipal de Inclusão para

Pessoas com Deficiência. DSM

Manual de Diagnóstico e Estatística de Doenças

Mentais. FUNAD

Fundação Centro Integrado de Apoio ao Portador

de Deficiência. IBGE

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

IL

Institucional Local.

MS

Ministério da Saúde.

NBR

Norma Brasileira.

OMS

Organização Mundial da Saúde.

ONU

Organização das Nações Unidas.


1

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 1.1 OBJETIVO GERAL 1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

2

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 2.1 PESQUISAS BIBLIOGRÁFICAS E DIGITAIS 2.2 VISITA TÉCNICA E ENTREVISTA VIRTUAL 2.3 ANÁLISE DE PROJETO CORRELATO E NORMATIVAS 2.4 DESENVOLVIMENTO DO ANTEPROJETO

23 23 24 24 24

19 21 21

3

REFERENCIAL TEÓRICO

26

3.1.1 DEFINIÇÕES SOBRE O AUTISMO

26 27 29

3.1 TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA - TEA

3.1.2 AUTISMO NO BRASIL 3.1.3 CARACTERÍSTICAS DAS CRIANÇAS AUTISTAS 3.1.4 TRATAMENTOS ÀS CRIANÇAS COM TEA E APOIO FAMILIAR

3.2 AUTISMO E ARQUITETURA 3.2.1 ASPECTOS SENSORIAIS E PERCEPTIVOS 3.2.2 CONFORTO AMBIENTAL

26

29 31 31 36


4

6

REFERENCIAL PROJETUAL

40

DESENVOLVIMENTO PROJETUAL

58

4.1 ANÁLISE DE CORRELATO

40

6.1 PARTIDO ARQUITETÔNICO E DIRETRIZES PROJETUAIS

58

6.3 IMPLANTAÇÃO 6.4 ACESSO E CIRCULAÇÃO 6.5 FORMA E VOLUME 6.6 SISTEMA ESTRUTURAL E CONSTRUTIVO 6.7 MATERIALIDADE 6.8 VEGETAÇÃO 6.9 ESPACIALIDADES

6.9.10. FACHADA SUDOESTE

63 64 66 66 68 69 70 70 71 73 74 75 76 77 79 80 71

CONSIDERAÇÕES FINAIS REFERÊNCIAS APÊNDICE

83 85 90

6.2 FUNCIONOGRAMA E SETORIZAÇÃO

5

PROPOSTA ARQUITETÔNICA

5.1 CONCEITO 5.2 PROGRAMA DE NECESSIDADES 5.3 ÁREA DE INTERVENÇÃO 5.3.1 LOCALIZAÇÃO E JUSTIFICATIVA

5.3.2 CONDICIONANTES LEGAIS

5.3.3 SISTEMA VIÁRIO E MOBILIDADE URBANA

5.3.4 USO E OCUPAÇÃO DO SOLO

5.3.5 GABARITO

5.3.6 CARACTERÍSTICAS BIOCLIMÁTICAS

5.3.7 TOPOGRAFIA

43 43 43 50 50 52 53 54 54 55 56

6.9.1. PRAÇA DE CHEGADA | AUDITÓRI

6.9.2. PASSARELAS E CORREDORES

6.9.3. ZONAS DE ESCAPE

6.9.4. ESPAÇO DE VIVÊNCIA

6.9.5. SERVIÇO E ADMINISTRAÇÃO 6.9.6. SETOR DE APOIO AO PROFISSIONAL 6.9.7. BLOCOS DE TERAPIA 6.9.8. HORTA SENSORIAL

6.9.9. PISCINA TERAPÊUTICA

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1. INTRODUÇÃO

1.1 OBJETIVO GERAL 1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS


1.

INTRODUÇÃO

O presente trabalho irá abordar um Anteprojeto de um Centro de Referência Adequado no Tratamento de Crianças com Transtorno do Espectro Autista, e a importância de um espaço adequado ao tratamento do autismo, com capacidade de suporte familiar e ambientes necessários e com condições de conforto para a realização dos tratamento e desenvolvimento das atividades, percepções e sensações das crianças autistas. O autismo é descrito como um distúrbio neurológico que afeta os indivíduos nas suas características comportamentais, sensoriais, perceptivas e de comunicação. O primeiro estudioso a utilizar o termo autismo foi o psiquiatra Paul Eugen Bleuler, que referencia as dificuldades de comunicação proporcionando o desvio entre contato e realidade (RODRIGUES; SPENCER, 2010). Este transtorno não se apresenta de forma única em todos os indivíduos, mas com variações no grau de desenvolvimento, com diferentes características. Segundo o Serviço Nacional de Saúde (2018), os Centros de Referência estão associados aos serviços e unidades de saúde, com maiores índices de prestação assistencial aos cuidados de saúde, com melhor qualidade e tratamentos que podem ter um custo mais elevados devido à sua complexidade. Tendo em vista o reconhecimento do TEA no âmbito social, em 1983, foi fundada a Associação de Pais e Amigos do Autista1 - AMA, por um grupo de pais e amigos que se sustentavam nas necessidades de diagnósticos e tratamentos adequados para atender o público autista. Anos depois começaram a incentivar o desenvolvimento de novas unidades em todo o Brasil e foi-se estabelecendo Leis de proteção dos direitos às pessoas com autismo, como a Lei de nº 10.216, de 6 de abril de 2001, e a Lei nº 12.764, de 27 de dezembro de 2012. De acordo com dados levantados pelo CDC2 (2020), estima-se que o

número de pessoas com autismo é de uma criança a cada 54 que nasce com o TEA no mundo, sendo quatro vezes maior em pessoas do sexo masculino à feminino. No Brasil, com base nos dados do IBGE, existem mais de 200 milhões de habitantes, tendo com número aproximado de pessoas com autismo mais de 3 milhões em todo o país. No Estado da Paraíba, com população estimada de mais de 4 milhões de pessoas, aproximadamente 70 mil são pessoas com autismo. Figura 1: Dados do CDC, 2020 ESTADOS UNIDOS CDC, 2020: 1 pessoa a cada 54

PROPORÇÃO DE: 1 menina a cada 4 meninos

Fonte: Elaborado pela autora, 2020.

Com levantamento de dados no quantitativo de pessoas com autismo no Brasil e no Estado da Paraíba, é notório que existe um déficit no número de unidades de atendimentos. Em um estudo realizado por um grupo de pessoas no ano de 2017 sobre: Mapeamento dos serviços que prestam atendimento às pessoas com TEA no Brasil, representado na Tabela 1, foi analisado que a maior concentração dessas unidades se encontram em São Paulo, totalizando 431 unidades, em Roraima não contabilizou nenhuma unidade e na Paraíba foram registradas 9 unidades distribuídas em todo o estado (PORTOLESE et al, 2017).

1 Associação de Pais e Amigos do Autista. É uma entidade civil, sem fins lucrativos, com prazo de duração indeterminado, de direito privado, de caráter educativo, cultural recreativo, de assistência social, científico, esportivo e representativo. (ESTATUTO DA ASSOCIAÇÃO DE PAIS E AMIGOS DO AUTISTA). 2 Center of Deseases Control and Prevention (Centros de Controle e Prevenção de Doenças). É um departamento de saúde dos Estados Unidos.

CENTRO DE REFERÊNCIA PARA CRIANÇAS AUTISTAS

19


Tabela 1: Quantidade de unidades de atendimento às pessoas com TEA no Brasil.

Fonte: Cristiene Silvestre, Daniela Bordini, Elaine Cristina, Joana Portolese e Rosane Lowenthal (2017). Adaptado pela autora, 2020.

As pessoas com TEA apresentam alterações no seu desenvolvimento, como: dificuldades de sociabilização, comunicação verbal e de comportamento, hipossensibilidade ou hiperssensibilidade aos estímulos, rotina regrada, limitação em interesses, padrões repetitivos e estereotipados. Ao contrário das pessoas sem o transtorno, os autistas não possuem capacidade de integração sensorial, ou seja, não conseguem utilizar muitos sentidos ao mesmo tempo, e para que consigam trabalhar os seus estímulos, faz-se necessária uma intervenção multidisciplinar que ande junto, atendendo às diferentes necessidades de cada indivíduo. Sabe-se que o autismo não tem cura, e não está limitado ao uso de medicamentos e acompanhamentos de psicólogos. Por se tratar de um transtorno, é algo um pouco mais complexo e para ajudar nas terapias, adotam-se procedimentos metodológicos, como forma de tratamento direcionado às pessoas com transtorno do espectro autista - TEA, como os métodos: Applied Behavior Analysis (ABA3), Picture Exchange Communication System (PECS4), Developmental, Individual Difference, Relationship – based model (DIR5) e Treatment and Education of Autistic and related Communication-handicapped Children (TEACCH6).

Entre os métodos citados, o DIR se apresenta muito eficaz e mostra evolução no tratamento das crianças com TEA. O modelo DIR – Floortime foi desenvolvido por volta de 1990 pelos pesquisadores norte-americanos Stanley Greenspan e Serena Wieder. Este método tem como objetivos a formação de bases para o desenvolvimento das competências sociais, emocionais e intelectuais em crianças com alterações de desenvolvimentos de sociabilização, dentre elas, autistas, e a participação da família para aprimorar as atividades em casa. Para que os tratamentos apresentem bons resultados, faz-se necessário ter um bom embasamento de como os espaços arquitetônicos interferem nos tratamentos e crescimento das crianças autistas, e de como o atendimento voltado às pessoas que convivem com estes são essenciais para o seu desenvolvimento, fazendo com que o espaço seja visto como parte do processo de crescimento, afetando de forma direta os comportamentos e ações de cada pessoa. Na cidade de João Pessoa-PB, existem espaços destinados ao tratamento de crianças autistas, como: A-IMA7 AMA8, APA9, APAE10, Instituto Neuroatividade, CRMIPD11 e FUNAD12. Apesar do

3 Applied Behavior Analysis.(Análise do Comportamento Aplicada – ABA). Esse método está relacionado ao ensino intensivo e individual no desenvolvimento das habilidades fundamentais para que às crianças com autismo obtenham uma independência e melhor qualidade de vida. (INSTITUTO PENSI, 2018). 4 Picture Exchange Communication System (Sistema de Comunicação por Troca de Figuras). É um sistema que auxilia às pessoas independentemente da idade, que não consegue entender por comunicação verbal. 5 Developmental, Individual Difference, Relationship – based model (Desenvolvimento funcional emocional. Diferenças Individuais e Relacionamento). É um modo de terapia em que se baseia no desenvolvimento da criança, seja individual ou coletiva. 6 Treatment and Education of Autistic and related Communication-handicapped Children (Tratamento e Educação para Autistas e Crianças com Déficits relacionados com a Comunicação -TEACCH). É um programa de educação e clínico, tendo como predominância a prática da psicopedagogia e se baseia em adaptações de espaços para ajudar a compreensão dessas crianças em relação ao seu lugar de aprendizado. (INSTITUTO ITARD, 2017). 7 A-IMA: Associação Integrada Mães de Autistas. 8 AMA: Associação de Pais e Amigos de Autistas. 9 APA: Associação Paraibana de Autismo. 10 APAE: Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais. 11 CRMIPD: Centro de Referência Municipal de Inclusão para Pessoas com Deficiência. 12 FUNAD: Fundação Centro Integrado de Apoio ao Portador de Deficiência.

20

CAPÍTULO 01


crescimento de espaços voltados para a realização das terapias, ainda é possível identificar que parte das unidades existentes apresentam dificuldades assistenciais, como: (1) redução no quadro de especialistas, (2) precariedade na infraestrutura, seja pela quantidade de pessoas que precisam do tratamento, como espaços inadequados para as atividades e tratamentos, (3) falta de organização para oferecer assistência adequada, seja para as crianças com TEA, ou seus familiares, além de (4) não apresentar acompanhamentos satisfatórios no processo do tratamento (PORTOLESE et al, 2017). O trabalho se justifica na busca de proporcionar um espaço adequado para atender o público com TEA, onde possa reunir diversas áreas de terapias em um único lugar, sabendo-se que o autista tem dificuldades de adaptação em áreas convencionais. O Centro desenvolvido neste trabalho é um edifício pensado para atender as necessidades dos usuários somados ao apoio familiar. Este trabalho é dividido em 6 capítulos. O primeiro, será apresentado os objetivos e justificativa. No segundo, os procedimentos metodológicos para o desenvolvimento da proposta. O terceiro, a fundamentação teórica, que vai dar suporte ao conceito e justificativa projetual. No quarto capítulo, o referencial projetual, para melhor compreender em termos arquitetônicos, a composição espacial e funcional de um centro de referência. Quinto capítulo apresenta o programa de necessidades, justificativa e apresentação da área de intervenção e estudo do entorno. O sexto e último capítulo, contém definição do conceito e partido, estudos de zoneamento e volumetria, aplicação das diretrizes projetuais e, por fim, a proposta arquitetônica com base nas estratégias e necessidades abordadas ao longo de todo o trabalho.

1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS • Compreender o conceito e as características presentes no Transtorno do Espectro Autista – TEA; • Identificar os tratamentos necessários às crianças autistas, para desenvolvimento da configuração do espaço arquitetônico; • Analisar as condições de conforto e como ele influencia no desenvolvimento das crianças com TEA.

1.1 OBJETIVO GERAL • Desenvolver um Anteprojeto de um Centro de Referência Adequado para o Tratamento das Criança com Transtorno do Espectro Autista na cidade de João Pessoa – PB. CENTRO DE REFERÊNCIA PARA CRIANÇAS AUTISTAS

21


PESQUISAS BIBLIOGRÁFICAS E DIGITAIS VISITA TÉCNICA E ENTREVISTA VIRTUAL ANÁLISE DE PROJETO CORRELATO E NORMATIVAS DESENVOLVIMENTO DO ANTEPROJETO

2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

2.1. 2.2. 2.3. 2.4.


2.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Os métodos são caminhos de pes quisas, em que cada trabalho adota o que lhe é pertinente para se chegar a um resultado desejado. Neste trabalho, foi adotado o método monográfico, que abrange um universo de pesquisas, seja coleta de dados individuais ou coletivos, como por exemplo instituições, a fim de coletar e organizar informações desejadas. (GIL, 2008).

Este método traz a ideia de eventos ou casos de uma forma mais longa, e para isso, um estudo mais aprofundado e que adota, como tipos de casos de estudos, os meios exploratórios, explanatórios ou descritivos (GIL, 2008). Neste trabalho, fazem-se presentes as pesquisas exploratórias listadas a seguir:

Figura 2: Esquema ilustrativo dos procedimentos metodológicos.

+

PESQUISA BIBLIOGRÁFICA E DIGITAL

+

VISITA TÉCNICA E ENTREVISTA VIRTUAL

+

+

ANÁLISE DE PROJETO CORRELATO E NORMAS

DESENVOLVIMENTO DO ANTEPROJETO

Fonte: Elaborado pela autora, 2020.

2.1. PESQUISAS BIBLIOGRÁFICAS E DIGITAIS O embasamento teórico é fundamental para melhor conhecimento sobre o autismo, a fim de compreender as suas características, tratamentos e o papel da arquitetura para o desenvolvimento das crianças com TEA. O referencial foi baseado em trabalhos de graduação, teses de mestrado e artigos relacionados às temáticas de construção do trabalho, embasados em: Oliveira (2009), Leo Kanner (1943), Gauderer (1993),

Baptista e Bosa (2002), que trazem assuntos acerca do autismo. Também foram levantados dados quantitativos estimados pelo IBGE, CDC (2020), FUNAD (2020) e PORTOLESE (2017), com objetivo de quantificar o número de pessoas com TEA dentro do Estado em que o trabalho foi desenvolvido. As leis também estão presentes, como: Lei nº 10.216 (2001) e Lei nº 12.764 (2012) que asseguram os direitos das pessoas autistas. CENTRO DE REFERÊNCIA PARA CRIANÇAS AUTISTAS

23


OLÁ

esse é um spoiler do resultado de um dos nossos TCCinhos


Se você gostou e quer saber mais sobre o trabalho e o TCC Nota 10, fala com a gente pelo nosso instagram @tccnota10arquitetura


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