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Fé e religião

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Urbanização

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Da matriarca, os familiares herdaram o hábito de benzer. De geração em geração, a prática foi passada de Tia Eva até a tataraneta dona Neuza, que afirma: “a benzição é um dom que Deus dá pra gente”. Além dela, apenas José Antorildo Baptista de Arruda, bisneto, ainda benze as pessoas da família. No entanto, ambos só benzem hoje em caso de necessidade. Também herança de Tia Eva, a fé católica dos descendentes é reforçada pela Festa de São Benedito. Contrariando o estereótipo de que um núcleo familiar de afrodescendentes esteja ligado apenas a religiões de origem africana. No entanto, não há padre na igrejinha. Apenas o terço é realizado por fiéis toda sexta-feira à noite. Missa, só nos dias da festa ou na igreja Nossa Senhora do Rosário e São Benedito, da Missão Salesiana de Mato Grosso.

Proprietária de vários terrenos dentro e fora do sítio de Tia Eva, a instituição católica sempre exerceu forte influência no local. Na época em que ficou responsável pela organização da Festa de São Benedito, de 1960 a 1975, a Missão Salesiana também queria administrar ininterruptamente a igrejinha.

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Religião católica é predominante na comunidade

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No entanto, os moradores se recusaram. “Os padres queriam que a gente doasse a igreja pra eles. Eu reuni todo mundo e o pessoal não concordou”, conta seu Michel, que na época era presidente da Associação dos Descendentes. A diocese então construiu, em 1967, ao lado das terras de Tia Eva, a igreja para a qual foram transferidas as celebrações religiosas. E para onde os católicos migraram. Hoje ela é frequentada não apenas pelas pessoas da comunidade, como também por fiéis de outros bairros.

Igreja que os descendentes frequentam foi construída na vila após desentendimentos com a Missão Salesiana

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Embora a maioria dos descendentes seja adepta do catolicismo, o número de evangélicos cresceu consideravelmente no local. Alguns atribuem essa expansão às desavenças. Ainda neste período de disputa, em 1975, faleceu Catarina Rosa da Cruz, neta de Tia Eva e mãe de seu Michel. “Minha mãe morreu e o padre não quis benzer o corpo. Minhas filhas, tem algumas que são evangélicas por causa disso”, conclui ele, que é católico. Depois de um tempo, porém, o padre pediu desculpas e a situação foi amenizada. Nem todos, porém, tornaram-se evangélicos pelos mesmos motivos. “Eu vejo que a religião não é tradição. É onde você se sente bem. Muitas destas pessoas, que são evangélicas hoje, não conviveram neste período da divisão”, fala Vânia Lúcia. Há também, em menor proporção, adeptos do espiritismo, do candomblé e da umbanda. E se várias religiões convivem na comunidade, é porque embora haja divergências, a fé e o respeito prevalecem entre os descendentes. Seu Michel afirma que “o que vai nos aproximar de Deus é a obra que nós fazemos”. Dona Neuza também entende que “Deus é um só, não existe Deus evangélico, Deus católico,

Toda sexta-feira à noite são rezados terços na Igreja São Benedito

Otávio Gomes de Araújo é um dos muitos descendentes que se tornaram evangélicos e afirmam que religião é escolha pessoal e apenas festa é tradição

Igreja evangélica construída na comunidade. Embora frequentada pelos moradores, é administrada por pessoas de outros bairros

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