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Trabalho e educação
Seu Michel exibe com orgulho a carteira de motorista da época em que trabalhou como carroceiro
Antigamente, como Campo Grande ainda não estava urbanizada, o trabalho desenvolvido pelos moradores da Comunidade São Benedito era rural. “Uns trabalhavam na colheita de café, em canaviais, outros trabalhavam nas lavouras das fazendas. Era lavrador mesmo, no duro. Não tinha nem estudo nenhum”, conta seu Tuti.
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Desde muito jovem o pessoal da comunidade já iniciava a labuta. “Eu comecei a trabalhar com 10 anos de idade. Nós saímos daqui pra tocar carvão lá na furna do Inferninho. Os mais velhos iam queimar carvão e eu e meu irmão limpávamos o quintal e plantávamos arroz e feijão pra gente comer”, lembra seu Michel. À medida que o município foi adquirindo características urbanas, as profissões se adaptaram. Os homens passaram a trabalhar na construção civil. “Fui mestre de obras, ajudei a construir o Colégio Dom Bosco, ajudei a fazer o seminário”, conta seu Tuti, que também já trabalhou como motorista.
Seu Michel já teve emprego na construção civil, trabalhando como servente de pedreiro. Ele também trabalhou como carroceiro na praça Ary Coelho, no fim da década de 50. Até que decidiu mudar de ramo. “Montei uma fábrica de doces. Aqui em casa mesmo. Foram 35 anos, até aposentar. Eu saía de bicicleta pra entregar as encomendas”, fala ele, que na mesma época também criava porcos e vendia-os na feira. As mulheres eram empregadas em casas de família. “Toda vida eu trabalhei como doméstica. Quando fiquei viúva, fui trabalhar de faxina porque dava mais dinheiro”, fala dona Neuza, que também já desempenhou várias outras atividades: “vendi roupa, vendi calçado, trabalhei trançando cabelo, fui manicure, costureira”. Ela também fez parte de projetos universitários, chegando a apresentar um programa de rádio na comunidade e participar de um documentário sobre a Comunidade São Benedito. Além disso, ela fez várias oficinas na Associação dos Descendentes. “Eu fiz curso de artesanato, de argila, bordado, de cozinha”. Hoje dona Neuza diz ser artesã.
Dona Neuza, assim como outras descendentes, aprendeu uma nova profissão com os cursos oferecidos para a comunidade
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Dona Luzia fez cursos na Associação e se apaixonou pela pintura. Até confeccionou panos de prato para vender. Ela, que também trabalhava em casa de família, reclama que não teve oportunidade de estudar tanto quanto gostaria. “Não tive tempo de fazer essas coisas. Com nove anos de idade eu já trabalhava”, diz. Dona Neuza também compartilha a mesma situação. No entanto, os filhos puderam ter mais oportunidades. “Meus filhos, quase todos são formados, estudados”, fala dona Luzia. Viúva, dona Neuza criou sozinha as três filhas e afirma: “o maior prazer que eu tenho hoje é todas as três estarem formadas”.
Vários descendentes tiveram acesso ao ensino superior por meio do Projeto Negra Eva. Ele foi inscrito pela filha de dona Neuza, Sandra Martins dos Santos, e por Vânia Lúcia em um edital da Fundação Ford. Como foi selecionado, os participantes ganharam recurso financeiro para pagar a universidade particular. Esta parceria aconteceu entre os anos de 2002 e 2004. Depois os alunos continuaram a se manter com bolsas das próprias instituições.
Costureira, dona Neuzita Maria da Cruz, 61 anos, irmã de dona Neuza, também integra o grupo dos autônomos
De acordo com entrevista que Sandra concedeu a Carlos Alexandre dos Santos, na tese “Fiéis descendentes”, 27 pessoas foram contempladas com bolsas universitárias e 350 com o cursinho pré-vestibular aberto na comunidade. Quando parou de receber verba do projeto, o cursinho foi mantido por algum tempo com investimentos do Governo do Estado. Segundo Vânia, ainda são poucos os descendentes que conseguiram concluir o ensino superior. No entanto, com a construção do colégio na comunidade, muitos adultos se sentiram motivados a voltar a estudar e terminaram o ensino médio na Escola Estadual Antônio Delfino Pereira, que ofereceu curso supletivo nos anos de 2003 a 2012.
Vânia Lúcia Baptista é formada em História pela Universidade Católica Dom Bosco
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