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ENTRE TRÂNSITO E TRANSITÓRIO; ESPAÇOS DESGOVERNADOS DESETERNAS PROPOSTAS PARA UM NOVO ESPAÇO PÚBLICO. entrega final estudio transversal escola da cidade 2020/ 2° semestre dora camarero camilla abdallah maria meira maria clara calixto tamara crespin
orientação: eduardo gurian
RESÍDUO substantivo masculino
O que resta, remanesce, sobra; resto: resíduo de uma construção. O que resta de substâncias submetidas à ação de diversos agentes. Matéria que não se dissolve e permanece no filtro. adjetivo
Que resta, sobra, remanesce; restante, resto, remanescente.
O trabalho apresentado aqui é o resultado de um vasto processo de estudo, análise e reflexões sobre possíveis ‘espaços para respirar’ na cidade de São Paulo durante o segundo semestre de 2020. Dessa forma, ele é composto pela consolidação de narrativas e pela elaboração de ensaios de projeto, ambos apresentadas em forma de guia de bolso, preferencialmente para ser usado na área de intervenção.
Esse zine contém; (1) uma visão parcial por meio de um entendimento próprio sobre espaços para respirar; (2) reflexões e simbologias da presença do rio na cidade e sua construção histórica; (3) reflexões acerca do uso massivo do carro e seus desgastes para o layer urbano; (4) tentativas de aproximação com a tectônico da materialidade do andaime; (5) um ensaio de projeto na região do Parque Dom Pedro; (6) audios guia pelo percurso do ensaio do projeto. Atenção! os audios guias se apropriaram de noticias de jornal do local, comentários do google e diferentes narradores !
SIMBOLOGIA DO RIO história de uma cidade em periferias globais
Muitas das vezes é quase que um desafio distinguir o que seria arte e o que seria história, e esse é o caráter sobre a imagem do rio Tamanduateí. Suas representações e simbologias iconográficas, retratadas ao longo dos séculos, acabaria por criar um agente de forte interesse representativos de uma cidade. Registros, como, Caminhos da Conquista e Convento na Várzea do Carmo em São Paulo (1817) representariam o início de um adensamento no território da vila de São Paulo. Posteriormente em tentativas de consolidação da cidade, é encomendado à Missão Artística Francesa a pintura Panorama da cidade de São Paulo onde em seu retrato oficial de 1821 o pintor Arnaud Julien Pallière substitui a presença de escravizados, mulas de carga e possíveis lavandeiras ao longo do rio pela presença de cavalos e donos de terras. A mesma pintura viria, dois anos mais tarde, a ser usada como plano de fundo para o retrato oficial de D. Pedro I. Essa constante tentativa de representação de cidade por da iconografia do rio Tamanduateí também é retratada em uma busca para territorializar tal espaço como um local de pertencimento às classes mais abastadas, em uma tentativa de apagamento da ocupação de minorias. Como exemplo em quadros Costumes de São Paulo (1835) e Leitura (1894), assim como também nas fotografias de Vincenzo Pastore, Barcos no rio Tamanduateí (1910). Em Vista Geral da Imperial cidade de
São Paulo (18750, um nítido ideal de modernização, a chegada das rodovias e escoamento da produção do café dinamiza São paulo que passa de vila para cidade. Ao longo do século XX, e o advento da máquina fotográfica outras representações foram incorporadas, as lavadeiras e alguns fundo de casas já encostados em suas margens é visto no cartão-postal; São Paulo - lavadeiras (1905) e em Casario e lavadeira à margem do rio Tamanduateí (1910). Pinturas modernistas de Tarsila do Amaral de 1924, São Paulo e o cartão-postal São Paulo - Brasil - Vista parcial - Parque Dom Pedro II (195-), começam a retratar a dinamização da cidade e presença massiva do carro no layer urbano, o rio passa a desocupar o espaço da iconografia e se esconde em meio à tanta turbulência urbana. Dessa forma, o rio e a cidade se tornaria em conjunto um corpo à deriva, em constantes buscas do que seria essas tais representações, a ponto de tentar criar uma cidade que não se vê mas que se imagina, deslegitimizando presenças históricas de grupos sociais ocupantes de uma região, em favor de criar um imaginário construtivo de cidade positivista.
presença do rio tamanduateí na cidade em 1850
presença do rio tamandu
uateí na cidade em 1928
presença do rio tamanduateí na cidade atualmente - 2020.
presença do rio
vårzea do carmo, 1821 arnaud julien pallière
panorama da cidade de sĂŁo paulo, vista do rio tamanduateĂ, 1821 arnaud julien pallière
panorama da cidade de são paulo, 1870 henrique manzo
convento de são carmo em são paulo, 1817 thomas ender
leitura, 1892 almeida junior
casario e lavandeiras às margens do rio tamanduateí, 1910 vincenzo pastore
várzea do carmo
são paulo, 1924 tarsila do amaral
cartão-postal são paulo , déc 50-60
vista geral da imperial cidade de são paulo
rio tamanduateí, 1894 antônio ferringo
rio tamanduateí, 1904
inudações no rio tamanduateí, 1906
líquido vermelho não identificado é registrado sendo despechado nas águas do rio tamanduateí, 2010.
PRESENÇA DO CARRO história de uma cidade em periferias globais
Ao nos debruçarmos cada vez mais com o andamento do trabalho, entrando uma intersecção entre os pontos da (1) pandemia e (2) espaço urbano tal elemento estruturante e regulador, pertencente entre ambos os campos seria o próprio carro. Dessa forma, o carro passa a se reinventar dentro da pandemia do novo covid 2019, passando a ser a menor propriedade privada e individual circulante na cidade, reinventando todo o sistema ao qual ele pertence, tais quais; a compra de comida pelo sistema de drive-thru exposições, shows e cinemas drive-in. Além desse componente, o mesmo representa o principal mediador do espaço urbano - determinante da pavimentação de ruas, cruzamento entre avenidas e o grid locomotivo da cidade; passando por cima de tudo que seja necessário para uma locomoção efetiva. Buscando entender o carro e as suas consequências físicas no tecido da cidade foi-se visualizado que essa alta densidade dos meio conectores viários acaba por gerar espaços de resíduos urbano degradados e subutilizados. Buscou-se, dessa forma, reconhecer as diversas camadas estruturantes do espaço urbano, mesmo que imperceptíveis, como as encontradas e o foco desse projeto; o pedestre.
car car car car car car car car car
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resíduo resíduo resíduo resíduo resíduo resíduo resíduo resíduo resíduo
espaços de resĂduo gerados pelo grid do carro barreiras urbanas inultrapassĂĄveis pelo pedestre
localidades importantes na região 1. patteo do colégio 2. terminal parque dom pedro II 3. catavento cultural 4. estação do metrô - parque dom pedro II 5. escola são paulo
mapeamento área de recorte
leitura de lugar leitura de lugar leitura de lugar palavras chaves leitura de lugar leitura de lugar
permear locomover tranbordar circular
CONECTAR pedestre rio carro viaduto
CAMADAS
ROMPIMENTO sobrepor reverter lógica protagonismo usos históricos
BARREIRA resíduo urbano espaço sem uso
parque dom pedro II
avenida do estado
avenida do estado
avenida do estado
avenida do estado
br-050
rua tabatinguera
rua do glicĂŠrio
rua prefeito passos
rua frederico alvarenga
pedestres na regiĂŁo
PARTIDO PROJETUAL intenção de projeto e reflexão das problemáticas
É preciso compreender que a necessidade de Espaços para Respirar não se iniciou no período da pandemia no novo covid-19, ela apenas foi alarmada. Uma incessante luta contra constantes sufocamentos de uma cidade pós-colonial, ou seja, uma sociedade cuja modernização foi pautada a favor de paradigmas ocidentais de civilização (padrões eurocêntricos, brancos e patriarcais), destrutiva e homogeneizadora das outras formações culturais. Portanto é constituinte desse ideal iluminista de cidade um processo de violência cultural e estrutural, onde as diferenças são apagadas sobre a imposição de uma “natureza hegemônica”, cujos valores sociais e culturais são pautados no sistema econômico capitalista que se baseia numa sociedade hierárquica. E dentro disso, essa busca frequente por espaços públicos, livres e universais. Nos deparamos ao longo desse processo com situações de cidade adversas aquelas imaginadas, onde seu território por natureza, rio e meandros originários, sua memória e o próprio pedestre não pertencem mais à consolidação desenvolvimentista e rodoviarista implantado na cidade de São Paulo. Por sua vez, a mesmas características que estruturam as relações sociais do póscolonialismo são imprimidas também no território da cidade.
Dessa forma, encontramos o Parque Dom Pedro II como ponto central para o apontamento das problemáticas as quais vinham sendo debruçadas, já que o local se destaca por representar uma região de enormes contradições sistémicas. A presença do Rio Tamanduateí, atualmente quase que inexistente na região é consequente de uma forte emaranhado de vias, viadutos, avenidas. Por consequência o pedestre, mesmo como principal agente da cidade, passa a ser colocado de escanteio em nome do carro. O local de nascimento da cidade de São Paulo, hoje é um grande espaço residual de difícil acesso. Compreendendo isso, enxergamos os “espaços para respirar” como uma ruptura com as estruturas sócio espaciais vigentes, propondo para região do Parque a reversão das hierarquias existentes com a ideia - e palavra chave - da conexão. Com isso, questionamos os espaços das barreiras urbanas na cidade e as disputas do território. A proposta do grupo, após o entendimento das diversas camadas e complexidades do local, é a tentativa de trazer de volta o pedestre como principal regulamentador do espaço público propondo a democratização dos fluxos.
Para tal, a ideia é realizar um percurso conector de forma sensível que ligue os equipamentos públicos existentes com o transporte: o metro, terminal de ônibus, o parque e a Escola São Paulo. Esse percurso propõe não só uma conexão em seu sentido prático, mas uma forma do pedestre - sobre uma percepção crítica - percorrer as diversas camadas existentes e entrar em contato com as diferentes cotas e visuais. Assim, a intenção não é solucionar toda a complexidade da área em questão, mas sim gerar um disparador de reflexão em relação as hierarquias locais. Esse ensaio de projeto se destaca por uma intervenção onde a ideia de temporalidade é regulada pelo tempo limite da instalação do projeto. Buscamos em seu caráter efêmero não uma data de validade, mas que sua vida ganhe tempo próprio a ponto que essa
intervenção seja incorporada na cidade conseguindo causar seu impacto na área e nas pessoas, para assim ser retirada. Buscamos no desenho da intervenção uma alusão distópica, a partir de uma grande estrutura modular de andaimes que se implantam no eixo do rio Tamanduateí, para além da altura dos grandes viadutos. Aqui, questiona-se o plano modernizador de avenidas intervindo de forma tão enfática e monumental quanto. Inspirado no pós-modernismo de Peter Eisenman, a intenção é fazer uma releitura dos viadutos e como eles modificam a paisagem, usando a racionalidade de sua produção ao extremo (andaimes) a partir de um projeto que ao se colocar acima do rio, que tanto alarma seu apagamento já existente quanto cria uma relação com a sua memória.
conexão com o terminal de ônibus, parque e escola
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conexĂŁo com o rio
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passagem por cima do viaduto
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passarela de pedestre viaduto do metrĂ´
implantação do projeto
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Em meio a passarela amarela do metrô que corta o rio tamanduateí conectando uma ponta à outra, saía pela tangente. Você se deparará com algo extraordinário! Entre na Avenida do Estado na cota 729 em relação ao nível do mar. Aqui começa seu percurso, bem vinde! Na saída percorra o platô principal que te conduzirá ao início da intervenção. Tome cuidado! Instrução de uso do espaço-entre: 1. Não colocar braços e pernas para fora dos módulos de andaimes 2. É proibido fumar neste local. 3. Caso necessidade de assistência utilize a lanterna do seu celular para encontro de vias 4. Não toque na margem do rio 5. Favor, não se debruce no peitoral dos andaimes
Por uma saída inusitada encontro novamente com a rua, pelo menos algo dela. Um módulo diferente. Eu que estava no subsolo de uma terra cansada caio sem pensar em uma estrutura renovada. Mesmo sentimento, talvez mais concreto. Faz barulho nas profundezas das estações de metrô porém não materializado, não sei de onde vem. Aqui não. Aqui sinto ele cada vez mais espesso, sinto ele em mim. Coração bate conforme o pneu gira no asfalto quente. Na cidade, novamente.
Atropelamento e morte - Na avenida do Estado e Parque D. Pedro II, ontem, às 13 horas, Arnaldo de Oliveira, de 50 anos, casado, morador da rua Príncipe de Gales, 426, em Santo André, foi atropelado e morto pelo auto ônibus de licença especial, da linha Santo André, conduzido pelo motorista Laurindo Capra. O fato foi comunicado ao delegado de serviço da Polícia.
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Aqui me deparo com uma escolha; duas opções. À esquerda me é dado a possibilidade de um caminho sutilmente sinuoso, de mais vivência. À direita a experiência e desafio de encarar a ladeira que sobe nove metros de uma veizada. Ambos percursos terminarão no mesmo patamar, sobre o Viaduto Vinte e Cinco de Março. A partir de iniciado o trajeto, a cada metro subido já é perceptível a diferença no cenário, no som, e na luz que entra pelo grid, agora com mais intensidade.
Depois do tanto subido, estar à cima. Chegar acima de tudo passado. Através da passarela de grid somos capazes de atravessar o maior dos empeços, responsável pelos rasgos na cidade, sem medo. cota 738- o deslocamento do som é grande e o todo sonoro se confunde e mistura. mas daqui de cima a velocidade dos carros não parece a mesma estonteante: me sinto como um gigante pisando no que antes temia, no que antes era intimidação. Minha pisada sob o viaduto. O poder de tomar todo o tempo que quiser e tiver, e estar imóvel sob o que corre. Pela vista. à 12 metros do chão, sobre as copas das poucas árvores que restam vejo a torre do Banespa, meio a um horizonte expandido. Dessa altura, tomado pelas vias expressas, o Rio Tamanduateí
se torna ainda mais cadavérico, e vai longe. Pela brisa. Sem mais os grandes empecilhos que são os elevados, posso estar por cima do viaduto vinte e cinco de março, e sentir a brisa pelo que é. A subida pela tortuosa rampa, que me trás à esse novo patamar, mais que vale a pena. A sensação do ápice, do topo. De ser dono da extremidade; e o choque de pela primeira vez em tempos ser como parte do que é mais alto - acima de tudo que uma vez se fez avanço; moderno; maior.
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Flutuo acima do rio. Conforme vou abaixando, a sensação de poder começa a se esvair, vejo os carros novamente Rápidos, grandes, intocáveis Começo a descer e me encolho cada vez mais, as coisas não pareciam tão gigantescas, agora estão ficando cada vez maior. Tenho algumas opções de caminho, que em uma dança, se separam, se encontram, se cruzam e se juntam. Um desses caminhos me deixa ser grande por um pouco mais de tempo... já que demoro a descer, ele também faz com que tenha tempo de pensar, com uma área intermediária plana e outro modo de ver. Esse caminho, reto como o rio, me traz uma facilidade de chegar em pontos que antes demorava a conseguir.
Já o outro caminho começa logo a me diminuir, passo a ver o viaduto de formas que nunca olhei. Espesso, alto e intimidante. Esse caminho me diverte mais, como se ele estivesse se divertindo, ele vem, vai, vira e volta, me lembra muito do meu imaginário do antigo rio, cheio de curvas e movimentos. Conforme ando vejo o parque com outros olhos, os cheiros se acentuarem e o ruído se torna cada vez mais incômodo.
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Nessa parte a descida ainda é longa mas felizmente consigo ver um pedaço de cidade. Do lado esquerdo encontra-se escondido a catedral da sé e o prédio clóvis ribeiro (importante marco econômico na cidade). A rangel pestana corta essa parte da cidade criando um campo minado fronterísso. Disputa de ocupação. Do lado direito vejo o fim do que deveria ter sido o começo da cidade. cara-a-cara de volta com o que me retira do espaço urbano. presente em uma quase distopia futura. Aquilo que seria estar no espaço que nunca mais será meu, pelo menos não agora. penso nas possibilidades do espaço do caminhar, novamente piso em falso. Sem sucesso Entre os caminhos encontro o mais rápido corre.
Solo quente que arde as rodas dos pneus que me percorrem. Em cima dele, não sei o que tem, não me importaria de continuar assim. O que me aquece é o rasgo! que me enche de emoção, onde vejo as quedas e desastres urbanos. Fruto do cruzamento do desastre e da ganância, me encho de egoísmo ao ver a cidade se curvar diante de mim. Ainda consigo ver meu irmão do outro lado, separados desde que nascemos por um pedaço de água inútil. Do nada, agora. Não me vejo, não me relaciono. Tenho minha própria companhia, antes olhava para as paralelas e perpendiculares que me cruzavam... desde então, tenho estado cada vez mais só e essa solidão me fez dar conta da inquietante agonia de ser.
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Agora, novamente embaixo do viaduto iniciamos a descida rumo ao inferno. Um único caminho é traçado. Nesse ponto já nenhuma visual é reconhecida, a densidade do andaime e o ponto baixo do viaduto impedem a vista para fora. Pense com cuidado, sobre as imagens que surgiram na sua mente. Em meio ao entorno e a escuridão do andaime me encontro de novo, mais uma vez, com aquele que me fez isso, mas que antes me usava, se banhava. Queria ser. Mais uma vez no encontramos, depois de mais de 100 anos. Extra! Extra! Cadáver encontrado - às 9 horas de ontem, foi encontrado boiando no rio Tamanduateí, a altura da avenida do Estado, em frente do prédio 986, na Ponte Pequena, o cadáver de um desconhecido, de cor branca, aparentando 40 anos de idade. A polícia determinou a remoção do corpo para o necrotério, instaurando inquérito de afogamento.
Em novas etiquetas e performances escuro escuro longe distante, agora ao alto acima de mim o pedestre e eu mero rio que nasce dentro da cidade para a cidade e sumo como se nunca tivesse apenas existindo. Tome cuidado. O cheiro e densidade de entroncamentos provavelmente lhe causará náuseas. Pense sobre esse espaço. Agora caminhe pelas vielas do andaime em direção à água. Rio Tamanduateí só deve ser limpo próximo a nascente porque no centro de São Paulo na altura da feirinha da madrugada ele e fedorento!! Por que o rio Tamanduateí esta morto?
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Relaxe , relaxe nesse trânsito que permeia minhas bordas. Vista e acesse. Acesso de ambos os jeitos, de todos. Pelas minhas saias e bordas de linho uma loja virtual de moda de novela. Parece personagem. Esquecida no tempo. Perdida no figurino, raspadas, linchada. Cheia de si. Minhas águas. Doces águas , águas que queriam ser outras, como comprar roupas femininas inspiradas em em figurinos de novelas.
Continuamos o percurso seguindo a rampa que sobe. Ao olhar para cima dessa perspectiva, você conseguirá ver todo o emaranhado de metais que estruturam o caminho, criando um nó organizado que cresce enjaulando o que há embaixo: o rio. Daqui podemos ver o que há em baixo. Embaixo da terra. Enclausurado. Uma vez já esteve acima, inundando as margens, dando voltas, meandros, correndo a correnteza, lavando as lavandeiras. Hoje fede, é estático, sujeira para todo lado Muita sugeira .. lugar sujo decadente fede abandono total
colagem ca em producao
A medida que subimos a luz permite chegar. O caminho das rampas me lembra as voltas do rio. E nós somos os barcos, o cardume, as lavandeiras. Seguimos o seu fluxo, vamos e voltamos, por vezes paramos. Mas tem um ritmo. O ritmo dos metais que enquadram a vista formando uma perspectiva sem fim. O percurso não acaba. Segue em frente, sobe, sobe, sobe, patamar, volta 180°, sobe sobe sobe. Para, respira.
Aqui paramos já numa cota mais alta, um pouco acima o chão – lê-se 729 -. À esquerda uma grande cobertura azul toma conta da paisagem. É o terminal dom Pedro II. E à direita a copa das árvores cobre o que há por detrás; O parque Dom Pedro II e a Escola (..). O rio é um divisor entre duas paisagens. Daqui tome a escolha de qual percurso seguir. O primeiro, mais direto, segue em uma só subida para acessar o terminal para aqueles que usufruem da conectividade prática entre os modais de transporte. O segundo sobe-se ainda mais. É um passeio para quem precisa atravessar a avenida do estado. Mas como O ônibus pra chegar dão muitas voltas... esse caminho é muito melhor para o pedestre.
Daqui de cima é possível ver mais claramente a paisagem e os edifícios que a compõe. Trata-se de um Local histórico e de grande movimento de pessoas de várias regiões. Passear no Parque Dom Pedro, e parar para olhar a arquitetura degradada, causa um misto de emoções e até uma certa revolta, por ver nosso patrimônio sendo apagado em meio a tanta “modernidade. Mas mesmo assim, olhar os detalhes da arquitetura, nos trás um olhar de perspectiva de que se consegue se manter de pé até hoje, um dia pode ser revitalizado. Além disso é um Ótimo local para compras por atacado Ótimos preços tem tudo que precisar. No entanto, fique atento: Lugar com muitos furtos, vários ambulantes,sujeira para todo lado. Cuidado os cara rouba de faca a noite
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
ACOSTA, Alberto; MARTÍNEZ, Esperanza; MACAS, Luis; MELO, Mario; TAVARES, Paulo. Direitos não humanos. PISEAGRAMA, Belo Horizonte, número 10, página 02 - 09, 2017. BEIGUELMAN, Giselle. Coronavida. Disponível em: <https:// www.select.art.br/coronavida/>. Acesso em 23 nov. 2020. KRENAK, Ailton. 20 ideias para girar o mundo. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=f48HAu0bNPc. Acesso em: 24 agosto 2020. LATOUR, Bruno. Imaginar gestos que barrem o retorno da produção pré crise. Disponível em: <https://n-1edicoes.org/008-1>. Acesso em 23 nov. 2020. LICHOTTI, Camille; BUONO, Renata. geografia macabra. Disponível em: <https://piaui.folha.uol.com.br/geografia-macabra-da-covid-19/?utm_campaign=a_semana_na_piaui_17&utm_medium=email&utm_source=RD+Station >. Acesso em 23 nov. 2020 MELO, Berta de Oliveira. Águas Errantes; uma narrativa sobre o rio tamanduateí, 2017 Dissertação (Mestrado em Arquitetura) Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. São Paulo PATERNIANI, Stella Z. Raça e cidade: para descolonizar a produção de conhecimento sobre São Paulo. Revista América, n. 2, 2020. p.52-63. Disponível em: http://ojs.escoladacidade.org/
index.php/america/article/view/61 QUIJANO, Anibal. Colonialidade do poder, Eurocentrismo e América Latina. In: CLACSO. A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas latino-americanas. Buenos Aires: Clacso, 2005, p. 117-142.. Disponível em: http://biblioteca.clacso.edu.ar/clacso/sur-sur/20100624103322/12_Quijano.
* estĂşdio transversal 2020.2