DEBATE E PENSAMENTO, TEATRO
A descolonização das terras ocupadas por Portugal terá terminado há pouco mais de 40 anos, findas as Guerras Coloniais, como eram conhecidas em Portugal, ou as Guerras de Libertação, como eram chamadas nas antigas colónias. No entanto, as estruturas de pensamento e comportamento que alimentaram a cultura colonial e as relações de desigualdade e de exploração que a caracterizam não desaparecem por decreto. É destas duas libertações, a que aconteceu e a que está ainda por vir, que este breve ciclo trata. Nesta brochura que acompanha o ciclo Descolonização, publicamos textos dos artistas e restantes convidados que estarão connosco a debater este tema. No texto A máscara, a artista Grada Kilomba, cuja obra é também informada pela sua experiência na área da psicologia, aborda a criação de condições de escuta necessárias à realização deste debate e a uma efetiva descolonização das práticas e do pensamento. Este espaço criado para o surgimento de memórias, de experiências e de vozes que têm sido sujeitas a um silenciamento de séculos surge a par de um convite a que olhemos para a nossa realidade e perguntemos como é que podemos desmantelar os nossos próprios racismos. A responsabilidade de criação de espaços de escuta e de enunciação é uma responsabilidade partilhada. Carla Fernandes, responsável pelo rádioblogue Afrolis, volta a sublinhar esta questão, ao referir‑se, em Silenciamentos, à responsabilidade dos cidadãos afrodescendentes enquanto sujeitos das história, na criação destas condições de escuta. Todos os textos questionam a narrativa histórica dominante durante décadas: a de que o nosso foi um “colonialismo suave”, sem violência, lembrando a necessidade de, tanto ao nível das instâncias de representação social como no âmbito da educação, abrir espaço ao contraditório, dando a conhecer os outros lados da História. Em Enfrentar os fantasmas presentes, Miguel Cardina,