8º ANO A

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Fotografia: Gabriela Dias Damasio de Oliveira



Por trás daquela foto

A

partir da leitura do livro "Por trás daquela foto", nasce um projeto interdisciplinar. Em por trás daquela foto, um time de oito autores brasileiros dedica-se a ler as linhas e entrelinhas de fotografias que eles mesmos escolheram, e a partir delas contam a história do país, fazem relatos pessoais e até enveredam pela ficção. Partindo da ideia que a fotografia desperta memórias, provoca paixões, registra fatos, conta, explica, revela, constrói e desconstrói surge o projeto com o objetivo de trabalhar com fotos digitais e provocar nos alunos novos olhares e a produção de textos a partir de imagens coletadas e selecionadas no estudo do meio “City tour em Sorocaba”, atividade das disciplinas de História e Geografia. Nesse estudo do meio, os alunos tiraram fotos dos lugares visitados para, mais tarde, produzir o livro: "Por trás daquela foto: um olhar sobre Sorocaba".


A Batalha Final A carta secreta A HISTÓRIA DA MINHA VIDA A história de Baltazar Fernandes A rosa “mágica” Amor renascente AMOR SEM FIM Ataque a Sorocaba BALTAZAR, O GRANDE...

Monumentos de Sorocaba O BURACO O casamento O destino ou coincidência 2


O dia em que morri O dia em que saí de casa O massacre no Jardim Botânico O tiro do Sino PRECONCEITO Pedro e o passeio no parque “Primeiro encontro” Quem disse que a vida de bandeirante é fácil

SEU LUGAR É JUNTO AO SEU AMOR VERDADEIRO Sorte dupla

SUSPENSE NO CENTRO DA CIDADE DE SOROCABA

UM FINAL DE AMOR

Uma história de heróis

Uma tarde de descoberta

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A Batalha Final Giovanna Biston Facco

Igreja Matriz, Sorocaba - Centro

Estava próximo à praça onde eu havia vivido a minha infância inteira, agora, quase irreconhecível. Eu morava bem aqui perto, embora minha casa tivesse sido trocada por uma loja de armamentos para policiais, eu ainda me recordava de tudo: da igreja Matriz, que foi na verdade a segunda Matriz de Sorocaba, em homenagem à Nossa Senhora da Ponte, e que agora estava praticamente destruída, dos bancos onde eu havia me sentado várias vezes, e das pessoas que passavam e me cumprimentavam . Mas eu não podia ficar aqui, era um erro, porém queria ter a última lembrança de um lugar que eu nunca mais poderia voltar a ver. Quando vi os homens vestidos de armas, facas e outros objetos que só eles poderiam identificar, eu me escondi nas ruínas da igreja. Havia dois homens e, seguidos por eles, havia uma mulher, que parecia estar esperando por uma batalha. — Acharam ele? — rosnou a mulher, tirando uma arma de seu cinto. — Ainda não, mas vamos tentar achá-lo nem que nos custe muito — respondeu um dos homens, com uma voz firme, mas que transmitia pavor. — Assim espero. Lembrando que ninguém está aqui para brincar de lutinha. Andem logo com isso, vocês têm um prazo a cumprir — vociferou ela, correndo em direção a mais homens que chegavam em uma van. Deveria ter ido embora quando tive chances, agora não conseguiria sair dali sem que me vissem. Tirei uma arma de minha mochila, peguei munição antes de sair do acampamento. Tentei ao máximo passar sem ser visto, porém chegaria uma hora em que isso não funcionaria mais. 4


Escondi-me atrás de um carro abandonado e esperei até que a líder da missão estivesse longe, então comecei a atirar nos policiais mais próximos. Com sorte, saí de lá sem ser notado por ela, mas não tive tempo de visualizar quantos corpos deixei caídos no chão. Cheguei ao acampamento onde poucos haviam resistido. — Que bom que você não está morto — anunciou o comandante, jogando-me um caderno com as programações dos treinamentos das lutas do dia — Todos aqui precisam de você, Joel, você sabe disso. Não autorizo sua saída, tome cuidado. — Temos outros rebeldes que também sabem lutar muito bem — argumentei, deixando o caderno de lado e enchendo meu cantil de água – Eu não sou o único aqui. — Mas nenhum deles sabe dar ordens a homens igual a você, Joel. Estamos em uma guerra, quando que você vai perceber que isso não é brincadeira? — murmurou o comandante Cris, com uma calma que as pessoas só têm quando estão frustradas — Muito bem. Descanse. Amanhã vamos invadir a principal base militar do país, você precisa estar no mínimo descansado, não ligo para o seu estado emocional, só ganhe esta guerra — declarou ele, saindo da tenda silenciosamente. — “Que ótimo!”, pensei. Acordei no outro dia com o nascer do sol, todas as tropas em preparação para o grande combate. Fui até o arsenal escolher umas armas, sabia que hoje seria um dia e tanto. Após colocar munições, suprimentos e curativos em minha mochila, pois não sabia ao certo quantos dias ou semanas ficaria em estado de alerta, juntei-me a Cris para tentar acalmar as tropas aflitas, como um bom líder rebelde deve fazer. Não entendo a agonia das pessoas perante uma guerra. É apenas uma guerra. — Joel! — chamou Daniel, fazendo movimentos efusivos com o braço esquerdo em cima do carro de combate. Daniel era o único que, assim como eu, não estava perdendo a cabeça por causa dessa guerra — Como vai? — Belo carro — disse, batendo na roda. — Onde conseguiu? — Dê uma olhada — Daniel entrou no carro pelo vidro do motorista, que estava aberto, e começou a fazer manobras que, se realizasse nas rodovias, provavelmente seria preso. Nunca o vi tão alegre — Cris me emprestou — gritou ele parando o carro.

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— Ele sabe que você está com isso? — perguntei rindo e entrando pelo vidro do passageiro. — Acabo de ser informado — falou Cris pela janela do carro, um pouco irritado. — Parem de brincar, meninos. Vamos! — gritou ele, embora nós já fôssemos adultos e a diferença de idade fosse mínima. Saímos do acampamento e pegamos a estrada. Ninguém falava nada, mas se percebia o clima de tensão no ar. Uns rezavam baixinhos, outros escreviam cartas e testamentos, alguns verificavam as mochilas e coletes ante balas, enquanto eu e Daniel estávamos sentados na janela da van, pensando em como seria o combate. Pulamos fora da van e começamos a executar o plano de destruir a base militar. Precisamos nos dividir, e Cris foi comigo. Estava chovendo e fazendo um pouco de frio. Foi um tanto trabalhoso passar pelos seguranças da base, mas conseguimos. Entramos e nos encontramos com os outros rebeldes, que já haviam realizado um ataque furtivo aos militares. Adentramos mais no acampamento, onde parecia que os soldados já esperavam um ataque surpresa, pois estavam preparados. Ao atravessar um refeitório para arranjar abrigo, fui atingido nas costas por vários tiros. Não consegui ver quem foi o responsável, porém as últimas imagens que veem em minha cabeça são Daniel e Cris ao meu redor, eu não estava mais no acampamento militar. Não sentia dor, sentia apenas desespero. Lembro de estar deitado em minha cama no acampamento e ter visto Daniel chorando com um terço nas mãos. Se vencemos ou não a guerra, não estarei aqui para descobrir.

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A carta secreta Olá, sou Antônio. Se você quer saber, nem sei se essa carta irá chegar a alguém, pois só a coloquei no correio, com o destino a qualquer lugar. Bom, nunca irei saber se alguém a receberá... poderá ser meu vizinho Tomy, ou minha prima Jaque, ou até mesmo meu médico João, mas enfim, essa carta irá te dizer as maravilhas que é ser um fotógrafo, poder fotografar o que você quiser e ter a mente cheia de ideias incríveis e fascinantes.

Foto tirada no Mosteiro São Bento. Monumento de Baltazar Fernandes

Essa será a fotografia sobre a qual irei contar. Em um dia nublado, perfeito para uma fotografia, estava eu lá, no centro da cidade de Sorocaba, procurando algo que me atraísse a atenção, procurei e procurei, tirei algumas fotos, mas enfim, não ficaram boas, coisa de fotógrafo. Até que quase duas horas procurando inspirações, e tentando me distrair procurando pessoas carecas ou muito cabeludas para fotografar, encontrei a estátua de Baltazar Fernandes. Fiquei encarando-a por uns cinco minutos no mínimo, tentando achar um ângulo perfeito, uma luminosidade ótima e uma posição na qual o Sol ficasse ao meu favor. Então, quando apertei o botão para disparar uma foto perfeita... O tempo parou. Não sei ao certo como ou por que, só sei de uma coisa, eu não estava sonhando ou tendo ilusões, sabe como eu sei?! Também não sei, acho que era porque tudo era muito real, tudo acontecendo na minha frente. Eu podia andar e fazer poses engraçadas com as pessoas ao meu redor. Depois de um tempo sentado no banco da praça, dei uma olhada ao meu redor e vi outro homem, andando em minha direção. Fiquei pálido, estava com tantas dúvidas, não sabia quem ele era, não sabia o porquê de só eu e ele estarmos presos no tempo. Fechei os olhos com todas as minhas forças, quando os abri... Tudo que estava lá, não estava mais lá, as pessoas, os 7


bancos, as lojas, a igreja e, principalmente, a estátua de Baltazar Fernandes. Fiquei tão chateado, queria tanto ter tirado uma foto. Fui perguntar àquele homem que havia visto se ele sabia o que tinha acontecido. Ele fez uma cara muito estranha, acho que pensou que eu era louco, mas eu não sou tão louco assim. Bom, ele me levou até um lugar, onde me apresentou a um homem muito parecido com o da estátua. Eu não havia reparado quem ele era, mas ele era o Baltazar Fernandes em carne e osso. Quase tive um treco ali mesmo, fiquei um tempo encarandoo, perguntando-me se seria possível. Estava tão nervoso, falei algumas palavras sem sentido algum e comecei a ficar tonto, desmaiei. Quando acordei, tudo havia voltado ao tempo real, estava eu lá na mesma posição de quando fui bater a foto. Dei graças a Deus, tinha ficado tão assustado com tudo aquilo. Ao chegar em casa, tirei meu moletom e adivinha... Em um de seus bolsos havia uma carta, com um papel envelhecido, umas letras bem bonitas, mas difíceis de ler, tentei dar uma traduzida e finalmente consegui. Estava escrito o seguinte: “Olá, meu amigo! Não tivemos muito tempo para conversar, mas eu queria ter dito a você que várias pessoas já fizeram essa trajetória pelo tempo, e que só pessoas de bom coração e uma mente muito aberta a tudo que possa acontecer podem ser capazes de fazer esse tipo de coisa. Espero que nos encontremos novamente, podemos até bater umas fotografias com aquele objeto estranho que você estava segurando. Baltazar Fernandes” Depois de ver aquilo, convenci-me de que tudo era mais do que real e que, com certeza, iria voltar lá para bater uma foto com Baltazar e, finalmente, tirei a tão esperada foto. Você pode até não acreditar no que estou contando, se você quer saber, nem eu sei ao certo se é verdade, mas é como está escrito na carta: “Só pessoas de bom coração e uma mente muito aberta a tudo que possa acontecer podem ser capazes de fazer esse tipo de coisa”. Então eu espero que seja verdade e também gostaria de agradecer a você que está lendo essa carta. Se você acredita, siga seu sonho e vá conhecer Baltazar Fernandes.

ANA LAURA BUZZO BRANDÃO

ASS: Antônio

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A HISTÓRIA DA MINHA VIDA Marina Romero Cardoso

Igreja Matriz – Centro de Sorocaba Foto por: Giovanna Facco

Vou contar para vocês um pouco da minha história de vida. Vocês devem estar se perguntando o que tem a ver a minha história com a igreja da foto acima. Não, não sou crente, muito menos religiosa, nem catequese sequer eu pratico. Mas a igreja posso chamar de um refúgio para onde eu fui quando recebi a pior notícia que alguém podia receber. Bom, na época com 13 anos de idade, era a pior em minha humilde opinião . Me lembro claramente dos dias em que meu nariz começava a sangrar sem parar, sem explicação nenhuma. O sangramento no meu nariz para mim era algo normal, coisa da juventude. ''Algo normal'' até ouvir os meus pais sussurrarem um para o outro durante um jantar três anos atrás: — Esses sangramentos estão saindo do controle, não? -sussurrou minha mãe, achando que eu não estava ouvindo. — Vamos levá-la ao médico amanhã, sem falta. Ligue para o hospital e marque uma consulta para amanhã de manhã — sussurrou meu pai com um ar de preocupação. Depois do jantar, fui correndo para o quarto. Não estava assustada, apenas com raiva de não terem me contado o que estava acontecendo comigo. Quando estava quase dando a hora de eu me deitar, minha mãe entrou no quarto e pediu: 9


— Filha, já está tarde! Vá dormir, você precisa descansar. Amanhã, eu e seu pai levaremos você ao médico pela manhã, ok? — falou minha mãe com uma voz doce e sutil. — Já estava indo me deitar mesmo. E mãe, vou ao médico amanhã por causa do meu nariz, não é mesmo? — perguntei a ela, já sabendo a resposta. — Sim, filha, mas aposto que não é nada demais! Vá se deitar, e descanse — afirmou ela, me dando um beijo de boa noite e apagando as luzes do meu quarto. Minha mãe me acordou no dia seguinte e fomos ao médico todos juntos. Quando chegamos lá, estranhei um pouco, pois nunca havia estado em um hospital daquele tamanho. Na verdade, a última vez em que eu estive em um hospital foi o dia em que eu nasci. Chegamos ao segundo andar e uma enfermeira muito simpática chamou meu nome, pois estava na hora da minha consulta. Meus pais entraram na sala do médico comigo e explicaram o que estava acontecendo. Quando meus pais contaram a ele, minha impressão era que ele tinha ficado paralisado, porque já sabia o que eu tinha, e que coisa boa não era! Mesmo assim, o médico, um senhor gordo e barbudo, me mandou fazer alguns exames. E como eu já estava no hospital, aproveitei e fiz os exames, e só faltava esperar mais uma semana para os resultados. Passei a semana inteira aflita e ansiosa para os resultados dos exames. No dia de ir buscá-los, mais ainda, e minha mãe não parava de explanar: — Calma, filha, vai dar tudo certo! Não precisa desse nervosismo, não. Você vai ver, não vai ser nada! — elucidava minha mãe, tentando parecer tranquila, mas sabia que no fundo, no fundo, ela estava mais nervosa do que eu. Fomos novamente, todos juntos, ao hospital pegar os exames. Quando chegamos ao segundo andar, o próprio médico foi me entregar os exames e murmurou para os meus pais: — Sejam fortes, os resultados foram o que eu esperava e não são nada bons. Lamento não ter avisado na consulta, mas não queria assustá-los. — Os resultados foram tão ruins assim? Estou ficando assustada, Doutor — balbuciou minha mãe para o médico. — Infelizmente, sim, você verá o exame. Depois, venha falar comigo, você e seu marido. E traga essa linda menina junto — proclamou alto, olhando para mim. — Claro, obrigada — respondeu com os olhos cheios de lágrimas.

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No carro, indo para a casa, meus pais não falaram nada, apenas pediram para que eu só abrisse o exame quando chegasse em casa. Quando finalmente chegamos, pulei do carro e fui direto para a sala de estar para abrir o exame na companhia dos meus pais. Abri o exame e tinha várias coisa escritas: — BláBláBlá..BláBláBlá. Paciente BláBláBlá diagnosticada com leucemia — meus olhos congelaram na palavra leucemia, e pensei alto: -Como assim, leucemia? Eu estou com leucemia? Câncer? Meus pais esqueceram sobre o que o médico tinha dito sobre ser forte e deixaram as lágrimas escorrerem pelo o rosto. A minha reação foi ir direto para o quarto calmamente, pois a ficha de ter câncer no sangue ainda não tinha caído. Era como se não pudesse chorar, pois não haveria motivo. Meus pais me deixaram sozinha, porque era como eu queria estar. Só que mais tarde, minha mãe entrou no meu quarto e inquiriu: — Oi, filha, como você está? Quer ir comigo à igreja, fazer uma oração? — A ficha está começando a cair. E é, pode ser, orar para que eu não morra daqui a dois anos, ou daqui a um ano, sei lá quanto essa droga dura! — Filha! Nunca mais diga isso, você está entendendo? — vociferou minha mãe, não querendo aceitar a verdade sobre o que podia acontecer. — Mãe, ouço falar na tevê, na internet que todo dia várias pessoas com leucemia morrem, e por que eu seria diferente? – retruquei, olhando diretamente em seus olhos. — Está certa! Muitas pessoas morrem, mas muitas pessoas sobrevivem também. E você vai fazer parte desse grupo de pessoas que sobrevivem. Confiança acima de tudo. Vamos à igreja, e depois pensamos nisso — debateu, tirando um casaco do armário e me entregando para irmos à igreja da cidade. Quando entramos no carro e fomos ao caminho da igreja, me toquei que quase nunca tinha ido ao centro da cidade, e o quanto aquela igreja era bonita. Chegamos à igreja, e fomos nos sentar. Fiquei olhando a minha mãe e vi que ela fechava os olhos e pedia algo que deveria ser importante, então decidi fazer o mesmo e orei: — Deus, eu sei que você está em algum lugar aí em cima, e está me vendo nesse exato momento. Acho que nunca lhe pedi algo, então eu vim aqui lhe pedir uma coisa de extrema importância. Gostaria que você me desse força para eu enfrentar essa batalha que apareceu de repente na minha vida, e que me dê forca para passar pelos tratamentos desse obstáculo, amém. Quando eu abri os olhos, minha mãe estava me encarando e sorrindo com um aspecto de orgulhosa. 11


Quando comecei meu tratamento, todos os dias depois das seções, eu vinha até a igreja e orava. Passei por momentos baixos e altos, mas eu consegui ultrapassar esse obstáculo! Minha história de vida resumidamente é: diagnosticada com câncer no sangue com 13 anos, e agora com 16 anos estou livre dessa doença. Não digo que a doença foi uma coisa boa, pois teve meses que eu tive que ficar internada no hospital com dor e foi uma coisa horrível, mas essa doença me ajudou a ter um sentido na minha vida, pois eu era só uma menina mimada que tinha tudo, não fazia nenhum esforço. Mas agora, eu sei que posso me chamar de guerreira por tudo o que eu consegui passar.

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Estátua de Baltazar Fernandes, em Sorocaba

Olá, eu me chamo Luiz Augusto Pereira, tenho 63 anos, sou casado e pai de dois filhos, mas moro com minha neta. Tenho uma casa na zona norte de Sorocaba e sou aposentado, porém trabalho na mercearia de que minha mulher, Heloisa, é dona. Eu trabalho como

caixa. Hoje eu contarei a história de Baltazar Fernandes. Há cerca de dois anos, eu estava passeando pelo centro de Sorocaba com minha neta Elisa e, depois de sair da catedral, nós fomos até o mosteiro de São Bento, para eu mostrá-lo a ela. Na frente do Mosteiro, ela me perguntou 13


quem era aquele homem que estava representado na estátua, pois ela está na época de fazer muitas perguntas. — Este é Baltazar Fernandes — respondi, olhando aquelas inscrições. Ela me perguntou o que ele tinha feito de tão importante para estar ali, mas eu não sabia responder-lhe. Quando eu e Elisa voltamos para casa, nós pesquisamos juntos quem era Baltazar Fernandes e o que ele tinha feito de importante para estar naquela estátua. Lá dizia que Baltazar Fernandes fora o fundador e um dos primeiros povoadores de Sorocaba. Era irmão do fundador de Itu, Domingos Fernandes, e do fundador de Parnaíba, André Fernandes. Ele nasceu em São Paulo e cresceu em Santana de Parnaíba. Era um notável bandeirante, que passava muitas vezes pelos campos de Sorocaba em suas viagens ao sertão. Buscava índios no Rio Grande do Sul e no Paraguai, para que trabalhassem nas lavouras. Baltazar foi segundotenente na bandeira chefiada por seu irmão, André Fernandes, em 1613, até o sertão do rio Paraupava. Ele também participou da bandeira de Francisco Bueno, servindo na divisão chefiada por seu irmão. Ainda teve terras no Rio Grande do Sul, de 1637 a 1639, tendo a seu serviço mais de quatrocentos índios.

Por volta de 1654, Baltazar Fernandes edificou a sua casa à beira do Rio Sorocaba. Posteriormente houve a fundação do Mosteiro de São Bento. — É o lugar que a gente tava indo visitar, não é vovô? — inquiriu Elisa curiosa. — É sim. A atitude aparentemente positiva de Baltazar Fernandes em relação à Igreja Católica certamente é devido a ele precisar mascarar sua origem judaica. Baltazar Fernandes, assim como muitos outros bandeirantes, era judeu. — Quer dizer que ele não acreditava em Deus, vovô? — Não — respondeu o avô — ele acreditava em Deus, porém ele pensava em Deus de outra forma. Em 1661, Baltazar Fernandes foi para São Paulo falar com o governador geral Corrêa de Sá e Benevides. Baltazar queria que Sorocaba deixasse de ser um povoado e virasse uma vila. O Governador atendeu ao seu pedido e, no dia 3 de março de 1661, Sorocaba foi elevada à categoria de vila. Tornou-se então a Vila da Nossa Senhora da Ponte de Sorocaba. — Agora vá dormir, Elisa, pois amanhã você acordará cedo para ir a aula. — pediu o avô, com sono. — Tudo bem, vovô. Na manhã do dia seguinte, Elisa estava na escola e contou aos seus amigos o que tinha aprendido 14


no dia anterior, mas os colegas a desprezaram e a chamaram de boba. Elisa ficou muito chateada naquele momento e decidiu que pediria ao seu avô que a tirasse de sua escola, pois sofria bullying constantemente. Quando o seu avô a pegou na escola, ela contou que seus colegas tiravam sarro dela por ser interessada na história de sua cidade e queria que ele a tirasse da escola. Mas o avô resolveu que não a tiraria de sua escola, porém conversaria com a diretora a respeito do bullying praticado com sua neta. Na tarde do mesmo dia, o avô conversou com a diretora: — Minha neta estuda aqui, é perseguida pelos outros alunos e chamada de boba. — Vou ver o que posso fazer a respeito — afirmou a diretora.

alunos praticantes de bullying com a menina e os pais deram broncas severas nos filhos. Porém, mesmo após essas broncas, alguns poucos alunos continuaram a praticar bullying com a menina, ela ficou novamente muito chateada e resolveu que conversaria com a diretora: — Eu sei que meu avô conversou com a senhora a respeito de mim, mas alguns alunos da escola ainda estão praticando bullying comigo e eu estou me sentindo muito incomodada com isso. — Tudo conversarei com eles.

bem

eu

A diretora conversou com os alunos responsáveis pela tristeza de Elisa e declarou a eles que se continuassem a praticar na escola dela, ela os expulsaria. Elisa nunca mais sofreu bullying de seus colegas.

Após algum tempo, a diretora ligou para os pais dos

Arthur Afférri Fernandes Pinto

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A rosa “mágica”

Jardim botânico, “Irmãos Villas Bôas” Sorocaba. Foto cedida por: Gabriela Damasio

Em um belo dia de sol, um grupo de alunos decidiu dar um passeio pela cidade em um roteiro histórico. Rodaram por todos os pontos históricos da cidade, só faltava um, o Jardim Botânico. Ao chegarem ao Jardim Botânico, uma linda moça veio ao encontro deles. Ela iria acompanhá-los por todo o trajeto. Assim que entraram na estufa, depararam-se com uma bela rosa dentro de uma cúpula de vidro. Uma das alunas curiosas perguntou: — Por que todas as rosas estão no chão, e

somente essa está dentro dessa cúpula? — Somente essa rosa possui uma história fascinante, que nenhuma das outras possui! Se vocês quiserem, eu conto sua história! Vocês querem? – perguntou a atendente em um tom de alegria. — Sim! — respondeu toda a turma em coro e com interesse de conhecer a história. — Aahh, mas antes eu vou explicar um pouco sobre o Jardim Botânico, ok? — Sim! — gritaram todos em um único som. 16


— Este Jardim Botânico se chama “Irmãos Villas Bôas” e foi inaugurado em 15 de março deste ano. Fica localizado entre as ruas Pedro Wursching e Miguel Montoro Lozano, no Jardim Dois Corações, próximo ao Parque das Águas. Aqui é um lugar onde as pessoas podem fazer pesquisas e conhecer melhor a nossa fauna, o objetivo é proteger e conservar nossa preciosa flora. Também reutilizam a água da chuva, melhoram a qualidade do ar, do solo, e reduzem a poluição. O espaço daqui é de aproximadamente 70 mil m2, e os espaços são todos bem divididos. O Palacete de Cristal abriga as coleções de plantas, e também serve como local de exposições e eventos. O orquidário é adequado para as orquídeas (é óbvio!). O roseiral tem um formato de sol, com 12 raios e 27 espécies de rosas. O bosque do arranha-gato é um lugar mais calmo, mas é ótimo para ações educativas. Por fim, temos os mirantes, que são perfeitos para contemplar a beleza do jardim, as florestas, e proporcionam uma visão da cidade inteira. Lembrando que aqui funciona

de terça a domingo, das 9h às 17h e a entrada é gratuita. — Mas agora podemos ouvir a história? — perguntou interessadíssima uma garota que adorava histórias. — Ok, então, vou começar a história. Ela se chama: A rosa mágica. Muito

tempo

atrás

havia um castelo, o castelo do rei Clarkson e de sua filha América.

O

reino

sempre

estava em festa, e um dia América decidiu que queria ir até o bosque, para ler um pouco sozinha, pois já estava farta de tentar ler e alguém sempre a atrapalhando. Ela gostou tanto daquele bosque que todo dia, naquele mesmo horário, ela ia até lá para ler um pouco em paz...

— Aaaahh, que história chata, tem que ter mais drama! — gritou um menino de longe. — Calma, você nem me deixou falar, a história nem está no meio! – retrucou ela, um pouco confusa — Então, onde estava mesmo? Ah, lembrei... Ela ia todo dia naquele bosque, até que, uma vez, ela 17


chegou um pouco mais cedo e

faria América ficar noiva de

se deparou com um camponês

algum príncipe...

dando

uma

cavalo,

que

maçã

a

um

Os

dois

namoravam,

aparentemente

mas tinham vergonha de se

não parecia ser dele. Ela se

beijar. Um dia, Maxon estava

abaixou

um

determinado a lhe dar um

pouco mais e, quando piscou,

beijo, ou não poderiam ser

viu que ele não estava mais

namorados, já que namorados

lá. Ao olhar para trás, deu

se

um pulo de susto e caiu no

nunca haviam beijado antes,

colo

eles

do

para

espiar

camponês.

Os

dois

beijavam.

Como

fecharam

os

os

dois

olhos

e

começaram a conversar, e ao

shmuch! Beijaram-se. No dia

invés de ela ir ler, ela agora ia

seguinte,

para conversar com Maxon...

encontraram,

quando

se

estranharam,

pois exatamente no lugar em

— Essa amizade deles tem que se tornar um romance, ou não tem graça! — interrompeu uma menina extremamente romântica. — Calma, gente, vocês ficam me interrompendo, desse jeito não vou conseguir acabar a história a tempo! – reclamou ela, um pouco preocupada com o tempo. Muito bem, o tempo foi passando e eles começaram a se gostar. Pouco tempo depois, começaram

a

namorar.

Entretanto, o pai da garota não poderia nem sonhar que a menina

estava

namorando,

muito menos, um camponês. Se

ele

descobrisse,

provavelmente os separaria e

que eles tinham se beijado, nascera uma rosa. A menina guardou a rosa consigo, pois era um jeito de se lembrar de seu

amado

quando

não

estivessem juntos....

— Ah, eu tô cansado desse mimimi, eu quero é ação! — polemizou um menino bastante irritado. — Gente, me desculpa, mas se vocês continuarem a me atrapalhar, eu não conto mais sobre a história – rebateu um pouco irritada a moça — Então como eu estava dizendo... Os

dois

namorados

tiveram um problema. O pai de América havia desconfiado 18


de a menina ter levado uma

uma boa desculpa para aquele

rosa para casa, já que ela lia

vermelhão!

em um lugar em que não

Os

dois,

ficaram

se

havia nenhum tipo de flor.

encarando, ate que a princesa

Além disso, ele reparou que

decidiu falar:

ela

se

— O que você pensa que está

lembrando de levar o livro.

fazendo? Eu sou uma dama!

Então, Clarkson mandou um

Não se trata uma dama dessa

de seus soldados a vigiar em

maneira! Que diabos você está

segredo, para descobrir o que

fazendo aqui? Como descobriu

ela estava aprontando.

que eu estava aqui e neste

não

estava

mais

Clarkson pediu para que

horário?

Quem

te

mandou

o soldado Leger chegasse uns

aqui? Foi meu pai? Se foi ele,

cinco minutos antes ao local

pedirei que da próxima vez

em que a menina costumava

me avise! Se você tivesse me

ler, para se esconder e ter

machucado,

ia

uma visão melhor da princesa

bradou

nem

e seu mistério, e depois poder

tempo para respirar.

contar-lhe o segredo de sua

ela,

ver se

Calma,

só!!!

dando

América!

filha. Mas havia um porém:

Tantas perguntas pra quê?

América e o soldado Leger já

Hahahaha – murmurou ele

haviam

em

namorado

em

segredo, e ele não suportava a ideia

de

terem

um

tom

irônico

e

provocante.

terminado,

— Calma, nada, seu ogro!

apesar de ter sido ele mesmo

E aliás, está rindo do quê? –

quem terminara tudo.

respondeu

Ele ficou furioso ao ver

ela

indignada,

sendo curta e grossa.

que a princesa e o camponês

— Parece que está de

estavam namorando. Quando

TPM!!! – reagiu ele surpreso,

o camponês foi embora e a

levantando um pouco a voz.

princesa

os

— Isso não tem graça, eu

amassados do vestido, Aspen

ordeno que pare! E você não

se aproximou e segurou seu

vai me responder, não? —

braço com tanta força, que

questionou ela em um tom

ficou

interrogativo.

até

estava

tirando

vermelho

quando

soltou. Ela teria que arranjar

Ok,

ok,

vou

lhe

responder cada pergunta, é só 19


ter calma!!! ok? — esclareceu em um tom meio brincalhão.

deixe de vir aqui para ver seu

— Ok! – berrou ela. —

namorado

sempre!

declarou ele em um tom firme

começar, ah, já sei, eu estou

para demonstrar que estava

aqui a mando de seu pai, ele

falando sério.

pareceu um pouco desconfiado

essas

por

para

onde

com

Bem,

— Eu quero que você

suas

ultimamente

e,

sabe,

o

ele

é

exatamente horário

onde

você

saídas

Você está brincando, né?

você

Está com CIÚMES!!! -—

e

sabe

ela realmente surpresa,

e

que

surpreende-o

Ele

pergunta.

como rei

estaria.

também estranhou você não com

ele

estou

mandou

vir

e

me

esconder para descobrir seu

com

essa

— Posso até estar

sair mais com seu livro. Bem, me

Hahahaha!!!

ciúmes,

mas

não

brincando

proferiu seriamente.

segredo. E pelo visto, que belo

Não

po..posso

segredo, hein? — surpreendeu

n..nem lhe dizer u..um

ele, em um tom malicioso e

ade..adeus?

com um sorriso no rosto.

tartamelou ela triste.

— E você vai contar pra ele

o

que

murmurou

você ela

viu?

um

Nem

pensar,

quero que o coração dele

pouco

se parta ao meio, e que

triste. —

nunca mais queira lhe Aaaaaahhhmmm!

NÃO! – respondeu ele.

ver

novamente!!!

polemizou friamente.

— Ufaaa... – suspirou ela

Mas

isso

aliviada, mas mal teve tempo

crueldade

de terminar a frase, e ele já a

replicou irritada.

cortou. — condição!

— Mas

com

declarou

demais!

Pode

até

é — ser

uma

maldade, mas é isso ou

ele

eu conto para o rei o seu

calmamente. — Aaaaahh, estava bom demais pra ser verdade, fala aí, o que você quer em troca? – interrogou ela desconfiada.

caso com o camponês! – afirmou ele, em um tom de suborno. — O nome dele é Maxon! E para não lhe 20


prejudicar, eu farei tudo o que você me pedir! – bradou ela irritada, mas seriamente magoada. —

Ok,

então,

vamos! – elucidou ele em

vocês me deixarem terminar de contar a história, então, por favor, todos de bico calado! – impôs a moça calmamente em um tom de superioridade — Vou tentar pela última vez... Os dois voltaram para o

um tom decidido.

castelo,

— Mas o final vai ser triste? Não têm graça finais tristes! Se for um final triste, nem quero mais ouvir a história! – disse a mesma menina apaixonada que havia lhe interrompido outrora. — Cala a boca! As coisas nem sempre acabam bem, sabia? Se não tiver drama, a história fica chata! A vida é assim, tem altos e baixos, e as histórias também – rebateu um rapaz, um pouco grosseiro, fazendo todos rirem. — Gente, por favor, não quero ninguém mandando calar a boca de ninguém! E quero que vocês parem de me interromper, é muito chato isso! Se tiver alguma dúvida, levante a mão e espere eu chamar. O João tem um pouco de razão, Luana, para as histórias ficarem mais emocionantes, elas têm que ter altos e baixos. E também, vocês só vão saber se o final vai ser feliz ou triste, quando

e

o

soldado

Leger

inventou que a princesa havia encontrado um cavalo, e que todo dia ela ia levar comida a ele,

para

que

o

rei

não

desconfiasse. Uns dias se passaram, e a princesa não conseguia mais ficar

longe

de

seu

amado.

Então, ela fugiu até o bosque, com

esperança

estar

de

caminhando

Maxon por

lá.

Quando ela chegou, espiou o lugar para ter certeza de que não

havia

depois

ninguém

observou

ali,

todos

e os

possíveis lugares onde alguém, até

mesmo

pudesse

se

uma

criança,

esconder.

Não

havia ninguém ali, somente Maxon, que treinava algum tipo de discurso. Então, antes de falar com ele, ela decidiu ouvir um pouco do que se tratava

aquele

bendito

discurso. —

Bom

dia,

senhor

Clarkson, meu nome é Maxon e eu sou um camponês. Bem, eu gosto muito, muito da sua 21


filha... Não, assim está muito

sussurrou

ruim, que tal… Bem, para ser

triste.

sincero, eu não gosto de sua

ela

em

um

tom

— Por que, América, por

filha... eu a AMO! E queria

quê?

perguntou

ele,

saber se poderia pedir a mão

preocupado com o que ela

dela em casamento... Não está

havia dito.

sendo muito direto, tenho que

— Bem, sabe o soldado

amolar mais o seu coração

Leger, aquele com quem eu já

antes de fazer o pedido... Bem,

tinha namorado antes?

eu

gostaria

de

dizer

ultimamente

que andei

encontrando

sua

ficamos

filha,

— Sim, eu sei, o que tem ele?

e

conversando.

— Então, ele viu a gente junto,

e

me

Percebemos que temos muitas

falando

coisas em comum, e queria

separar de você, ou então ele

que você me desse a honra de

contava para meu pai o nosso

ter a mão dela em casamento!

caso! — lágrimas brotaram

Caramba, como vou enfrentar

dos seus olhos, mas ao mesmo

o rei? Está na cara que ele

tempo, estava muito irritada

não vai deixar sua filha se

com o soldado.

casar

com

um

simples

camponês! Mas nos amamos

Nessa

hora,

surgiu

detrás

correu

para

berrando

da

me

isso? – assustou-se ele. —

Pois

está

com

moita

e

braços,

— Aaaaaaahh, entendi agora! — E agora, eu terei que

não

me afastar de você, tenho

importava a decisão de seu

medo que meu pai descubra e

pai, ela

o

muito,

também

gritou.

o

amava

que

que

CIÚMES!!! — ela praticamente

América

seus

tinha

— Mas por que ele faria

de verdade, e vale a pena tentar salvar nosso am...

que

chantageou,

e

que

estaria disposta

a

machuque!

fugir com ele, se seu pai não

MATE!

aprovasse o casamento.

falhou

Oh,

Maxon,

fiquei

com tanto medo de nunca mais

te

encontrar!

— ao

Ou

sua citar

pior... voz a

o

quase

palavra

morte. — Não, não posso ficar longe de você, não me importo com o que aconteça comigo, 22


faço o que você pedir, só não

— Pode entrar — uma

me peça para ficar longe de

voz grossa veio de trás da

você,

porta.

pois

terei

que

te

desobedecer! – afirmou com um tom determinado.

vim lhe trazer notícias de sua

— Tudo bem, mas não poderemos

nos

— Com licença, senhor, filha.

encontrar

— Oh! Sim, claro, pode

todos os dias. Faça o seguinte,

entrar — feliz com a notícia,

como não sei quando poderei

um sorriso abriu em seu rosto.

escapar, venha aqui todos os

— Bem, tenho notícias

dias neste mesmo horário e

muito picantes, se é que posso

fique por mais ou menos uma

lhe garantir — em um tom

meia

malicioso, ele abriu um leve

hora.

Se

eu

não

aparecer, pode ir embora. —

Ok,

descobrirem,

mas

se

lutarei

sorriso no canto da boca. nos

até

a

me

diga

questionou ele com ansiedade.

morte por você!

— Que lindo! Mas agora

Então,

Deixe-me

ver

por

onde eu posso começar? Ah, já

tenho que voltar, se não vão

sei!

descobrir novamente que eu

América, anda ultimamente

escapei!

indo

América voltou para o castelo

e

descansar.

deitou-se Mal

que Aspen andara observando

filha,

para

os

senhorita

bosques,

não

somente para ler!

para

imaginava

Sua

Como

assim?

interrogou ele, curioso com a resposta.

cada passo seu, ou seja, ele

— Bem, antes ela até ia

descobrira que América havia

para ler seu livro, mas no

quebrado a promessa! E com o

momento,

trato

encontrando

desfeito,

imediatamente

ele contar

foi o

ela

anda com

se certo

camponês e, pelo o que eu vi,

segredo de América para o

eles

rei.

namorando! — Toc! Toc! — ecoou o

parecem

estar

— O QUÊ??? — seu rosto

som da batida por todo o

ficou

transfigurado

escritório do rei.

furioso.

de

tão

— É isso mesmo, também fiquei

espantado

quando 23


percebi a situação, mas é a verdade,

eles

encontrando Quando

estavam

todos

percebeu

se

os

dias.

que

você

estava desconfiado, ela deixou de se encontrar com ele por uns três dias, mas acho que não aguentou e voltou para vê-lo. — E você descobriu o seu nome?

Clarkson

queria

saber o máximo sobre o que estava acontecendo.

— Nossa! Já estava preparada para ter uma interrupção, mas pelo visto vocês aprenderam a ficar quietos! – exclamou a contadora de histórias. — Não interrompa a história! — exclamaram todos juntos em um tom brincalhão. — Hahaha, entendi, acho que o feitiço virou contra o feiticeiro! Ok, vou continuar...

— Sim, o nome dele é Maxon! — Maxon! – “Até que se parece com um nome de rei”, pensou – Ah, que besteira a minha, o que estou falando, ele é um CAMPONÊS! — Pois não? – perguntou Aspen, confuso com o que o rei havia dito. — Ah, nada, é que eu pensei em um absurdo, mas deixe

para

lá,

eu

vou

localizar esse tal de Maxon, vou

mandar

prendê-lo

e

depois ver a reação de minha

O

rei

mandou

dois

guardas na casa de Maxon para prendê-lo, mas viu que realmente ele gostava de sua filha e não estava interessado na

coroa.

Sabia

que

se

o

prendesse, sua filha nunca o perdoaria,

então

livre,

teria

mas

deixou-o que

fazer

alguma coisa com América. No

meio

pensamentos,

de

lembrou-se

seus do

castelo invisível e decidiu que iria deixá-la morar lá por um tempo,

até

que

eles

tomarei

esquecessem um do outro e ela

— Mais alguma coisa,

no castelo. Ele foi até o quarto

filha,

e

então

providências! senhor Clarkson? – perguntou Aspen, satisfeito com o que fizera. —

Não,

então pudesse voltar a morar da

filha,

aproximou-se

da

porta e bateu levemente na madeira.

obrigado,

qualquer coisa eu o chamo. 24


— Pode entrar! — uma

Mas

eu

descobri

linda voz fina e suave soou

primeiro! — com orgulho de

por detrás da porta.

ter descoberto primeiro, sua

Com

licença,

filha,

voz soou meio grosseira.

será que posso falar com você?

— Me desculpe mesmo,

— Claro, papai, sempre

mas você não vai fazer nada

que quiser! — ela realmente

de mal para ele, vai?

estava feliz e estava pronta

— NÃO!

para

— Que bom, papai, que

contar

para

seu

pai

sobre Maxon.

bom! — ela realmente estava

— Bem, quando você ia me contar sobre o Maxon?

tinha coração e que não ia

— O quê? – ela quase cuspiu

a

água

que

estava

bebendo na cara de seu pai, tremendo susto que ela levou. —

É

isso

mesmo,

feliz ao saber que seu pai

fazer nada de mal para seu amor. — Mas terei que tomar providências,

pois

você

mentiu pra mim e namorou

descobri tudo sobre você e o

escondido.

tal camponês, não tente me

CAMPONÊS! — quando falou

enganar — ele já esperava que

camponês, sua voz saiu com

ela fosse mentir.

um tom de desprezo.

— Ah, tá bom, pai, eu

E

com

um

— E o que tem ele ser um

menti! — como não era de

camponês?

costume

sua

irritadíssima com o desprezo

como um

de seu pai, só por Maxon ser

mentir

família, isso era

em

terrível pecado.

ela

estava

um camponês.

— EU SABIA!!! — sua

— Quer dizer que ele não

voz soou tão alta que o reino

tem uma postura de rei, que

inteiro escutou.

ele não foi educado para ser

— Me desculpe, eu ia te

um digno rei, que ele não tem

contar, mas não sabia como,

altura

sabia

namorado, que...

que

você

nunca

aceitaria nosso namoro! — ela

para Que

ser

seu

você

tem

realmente não sabia como ele

preconceito de ele ser de uma

descobrira,

classe social mais baixa que a

eles

tomaram cuidado.

sempre

nossa, esse é o seu problema! VOCÊ TEM PRECONCEITO! 25


— Não tenho, não!

tirou Maxon da cabeça. Só

— Tem sim!

pensava no que iria acontecer

— Olha, eu não tenho

com

ele,

se

iria

vê-lo

que dar satisfações pra você,

novamente, se ficariam juntos

eu sou seu pai, e você deve me

de verdade. Quando chegaram

respeitar! E ponto! — como ele

no local, América não gostou

viu que ia perder, decidiu

muito do castelo invisível, pois

botar ordens.

era muito assustador, tinha

— Mas...

morcegos,

cavernas,

— Nada de “mas”, aliás,

montanhas,

espinhos,

bichos

arrume suas malas que você

ferozes, e muitas outras coisas

vai passar uma temporada

assustadoras.

morando no castelo invisível! —

O

quê?

não

Durante a tarde inteira, América

ficou

lendo.

acreditava no que seu pai

Aproveitou que lá era calmo e

estava dizendo, se separaria

que fazia um bom tempo que

para sempre de Maxon.

ela não pegava seu livro para

— Sim, este vai ser o seu castigo!!!

ler. Quando começou a ler, sentiu

— Ok! — como não podia

um

incomodar

sua

leitura,

somente concordou.

tanto sono se fecharam e ela

as

de

dormiu a tarde inteirinha. O

malas,

que aconteceu à noite? Ela

América jogou-se na cama e

não tinha nenhum tiquinho de

olhou para o lado, dando de

sono. E novamente pegou seu

cara com a rosa do seu beijo.

livro, mas antes de abri-lo, ela

Olhou

ficou

por

suas

pesados

até

que

arrumar

olhos

sono

falar não para seu pai, ela Assim que terminou de

seus

breve

um

bom

tempo

pensando,

“agora

em

para ela e então levantou-a,

diante, minha vida será só

colocou-a dentro de uma bola

assim! Ler e dormir!”. Então

de

levá-la

abriu o livro, mas não podia

para o castelo, já que nunca

acender a luz, ou suas criadas

mais veria o seu amor. Pelo

iam

menos,

estava acordada! Não sabia se

vidro

e

teria

decidiu

algo

para

se

lembrar dele... Durante todo o percurso até o castelo, América não

saber

tinha decidiu

uma

que

ela

lanterna, mesmo

ainda mas assim

procurar naquela escuridão. 26


De repente, algo em sua mala

começou

a

brilhar.

castelo ficaria lindo com todas as flores e borboletas.

Quando ela abriu, era sua rosa

que

linda,

América pulou da cama e foi

irradiando luz não tão forte,

em direção àqueles espinhos

mas que dava para ler seu

assustadores. Decidiu que iria

livro e ninguém desconfiar.

começar

Então, ela pegou sua rosa,

podou, colocou adubo e cortou

enfiou-se debaixo da coberta e

os espinhos. O tempo voou e,

abriu seu livro. América leu a

quando ela viu, já era noite.

noite inteira até amanhecer.

Ainda faltavam nove rosas

Quando

ela

para regar e adubar, e ela

o

não sairia de lá sem cuidar

decidiu

percebeu livro

estava

Assim que o sol nasceu,

que

parar,

havia

inteirinho,

lido

teria

que

pedir para seu pai comprar

delas.

por

Mas

eles.

como

Regou,

ela

iria

cuidar das rosas no escuro?

outro!

Então

lembrou-se

da

Como não tinha livro e

rosa que brilhava no escuro.

só via seu pai nos fins de

Correu até seu quarto, pegou

semana, ela decidiu então que

a

iria

correu de novo até o jardim

arrumar

Limpou,

o

lavou,

castelo.

tirou

pó,

rosa

dentro

imaginava

brilhando.

dali,

no

dia

seguinte, já havia se decidido

do

que,

bem

Maxon

perto estava

Havia três ou quatro dias que ele estava tentando

Limpou todo o lado de fora

e

caminhando.

que iria limpar o lado de fora do castelo.

vidro

para cuidar das rosas. Só não

passou pano, e o castelo ficou Então,

do

castelo.

então

escondera. Bem ali naquela

pensou, “aquela rosa nasceu

escuridão, ele via algo brilhar.

por

Como ali era muito assustador

causa

E

achar o castelo onde o rei a

do

amor

verdadeiro. E se eu cuidar

e

com

dessas

histórias de gente que fora

plantas, será que elas também

morta por bichos terríveis, ele

vão

decidiu

muito ficar

amor bonitas

assim?”.

Então novamente dormiu com a

imaginação

pensando

em

solta, como

sempre

havia

deixar

escutado

para

investigar melhor na manhã.

No dia seguinte, como

aquele

havia dito, Maxon foi até a 27


floresta

novamente.

Ao

Enquanto isso, Maxon pegou

chegar, hesitou um pouco por

sua

causa da grande névoa que

corda, entre outros, e correu

caía por lá, mas continuou.

em direção à névoa. Ficou no

Conforme passeava, percebia

canto agachado, esperando a

que

flores,

luz por mais uns 10 minutos,

orquídeas,

até que a luz acendeu. Ele foi

peônias e muitos outros tipos

bem devagar, com medo de

de flores, até que se deparou

ser

com um castelo. No início,

prisioneiro! Quando chegou lá,

estranhou, mas se deu conta

a emoção foi tanta que não

de que era o tal do castelo

conseguia tirar o sorriso do

invisível sobre o qual já havia

rosto.

escutado

encontraram

havia

girassóis,

lindas

rosas,

alguns

Começou

caminhar

um

com

lanternas,

guarda

Seus

ou

olhos e

não

um

se se

pelo

mexiam, ficavam um olhando

jardim e se lembrou de que

para o outro, até que ele teve

aquela luz brilhava somente à

coragem de se aproximar e

noite, então se preparou para

começaram a sussurrar.

voltar

a

boatos.

bolsa

ali

mais

tarde

e

descobrir que luz era aquela. Enquanto

isso,

a

princesa se encontrou com seu pai e, como tinha pensado, pediu um novo livro. O pai parecia ter-lhe adivinhado os pensamentos, abraçá-la,

pois,

pediu

após

que

um

segurança trouxesse algo que estava na carruagem.

O que

era? Cinco livros! Ela amou e decidiu que iria ficar lendo a tarde inteirinha. Quando não dava mais para

enxergar

América quarto, “mágica”

as

correu pegou e

letras,

até sua

voltou

seu rosa

a

— Muito bem, pessoal, acabou o tempo! Peguem suas coisas e entrem no ônibus — ecoou a voz da diretora pelo corredor do Jardim. — Aaaaaahh, mas já? — todos reclamaram em voz alta. — Gente, façam o seguinte, meu nome é Celeste e eu estou todos os dias aqui. Se vocês quiserem saber o final da história, venham aqui com seus amigos ou pais, e me procurem, que eu termino de contar! Pode ser? – falou Celeste delicadamente, enquanto todos se levantavam

ler. 28


e pegavam suas coisas do chão lentamente. — OK — finalmente conseguiram dizer, mas com a voz bem fraca. Todos voltaram para o ônibus e, em 20 minutos, já estavam de volta são e salvos à escola. Antes de todos saírem do ônibus, a professora de português Marlee decidiu passar uma tarefa: — Gente, como vocês se interessaram bastante pelo passeio, eu tive uma ideia: cada um pode escrever uma história, contando sobre algum monumento! Novamente todos estavam pulando, sorrindo e cochichando várias ideias de histórias para os outros. Depois de se acalmarem, eles finalmente fizeram um gesto com a cabeça que significava um sim. Assim que todos saíram do ônibus, a professora começou a arrumar suas coisas para também ir embora. Lucy, então, aproximou-se da professora e perguntou algo sobre a tarefa para ela: — Oi, professora! — Oi, Lucy, como vai? — Bem e você?

— Bem, também, obrigada. — Ahn, Marlee, será que na tarefa de casa, ao invés de contar uma história sobre algum dos lugares onde fomos, posso falar sobre a rosa dentro da cúpula? — Sim, claro, querida, só tem um problema! — Qual? — A rosa não faz parte de nenhum monumento que visitamos. — Humm... Já sei! E se em um parágrafo eu contar que ela fica no Jardim Botânico? Eu faço um parágrafo só falando sobre ele. E o resto terminando de contar a história do jeito que eu imaginar! E depois eu volto lá para saber se eu cheguei perto do final ou se eu viajei totalmente nas minhas imaginações. — Perfeito, Lucy! Vou só esperar para ver como vai ficar esse final! Bem, mas agora tenho que ir, tchau! — Tchau, professora! Lucy foi correndo até sua casa, pois era perto da escola. Assim que chegou em seu quarto, abriu seu laptop e começou a digitar as primeiras

29


palavras história.

do

final

de

sua

fugiriam, só não sabiam pra onde. Maxon foi embora assim

Assim

que

os

dois

se

que

América

disse

sim

ao

abraçaram, eles começaram a

plano de fugir. No momento,

cochichar para ninguém os

América estava arrumando

ouvir.

como

suas malas às escondidas. O

que ele a havia encontrado, e

tempo pareceu passar muito,

ele explicou toda a história da

mas muito lento, e como não

luz, mas isso não importava, o

teria o que fazer ao anoitecer,

importante agora era que eles

ela abriu sua mala, e colocou

novamente estavam juntos.

os cinco livros que seu pai lhe

Ela

perguntou

dera. Também se lembrou de

— Caramba, que difícil! Não sei como posso terminar a história! — sozinha Lucy lamentava com ela mesma — mas vou continuar, porque quero logo acabar. Eles só se abraçavam, não

falavam

absolutamente

nada. Queriam aproveitar ao máximo aquele momento que nenhum dos dois sabia quando ia acabar. Como Maxon sabia que não poderia ficar ali por muito

tempo,

começou

falando que não poderia ficar longe dela e que queria fugir com ela. No começo, América hesitou,

mas

decidiram seguinte, anoitecesse, para

no

que

fim,

no

dia

assim ele

buscá-la

que

passaria e

então

colocar sua rosa, pois era algo muito sentimental para ela. Sentia-se

culpada

em

sair sem avisar seu pai, não poder lhe dar tchau, sendo que talvez nunca mais o visse. Depois de refletir muito, ela enfim fez uma carta e passou no

escritório

de

seu

pai.

Quando chegou lá para lhe dar talvez seu último abraço, ela

lembrou-se

de

que

era

domingo e que seu pai não estaria lá. Então, colocou a carta delicadamente em cima de sua mesa, presa por uma pedra, e saiu quase chorando. Havia

se arrependido, não

queria mais fugir, só queria poder ficar com seu pai e Maxon ao mesmo tempo. Segundos

depois

de

chegar ao seu quarto, ouviu um barulho, debruçou-se na 30


janela e viu que era Maxon. Na

hora

que

o

viu,

seu

arrependimento foi embora e, naquele momento, o que ela mais queria era correr para seus braços e fugir com ele. Seu pai, porém, decidiu que ia passar mais tempo com sua filha

e

iria

fazer

uma

surpresa, indo de noite até o castelo

invisível,

passar

a

semana toda com ela, fazendo o que ela quisesse. América

desceu

as

escadas com cuidado para que ninguém a visse. No momento que encontrou Maxon, lançouse em seus braços. Enquanto isso, sem América saber, seu pai chegava e ia para seu escritório, pois pensava que sua filha já estava dormindo. Quando entrou, encontrou a carta.

“Querido papai, Mil desculpas. Infelizmente por causa do seu preconceito, eu tive que fazer isso. Eu te amo muito mesmo, e não queria fazer, mas meu coração dizia que era o certo a fazer, por mim, por você e

pelo Maxon. Você já deve saber mais ou menos do que eu devo estar falando. No momento que comecei a escrever, senti meu coração se despedaçar. Neste momento, sinto lágrimas correrem pela minha bochecha, e uma voz dentro de mim fala para não fazer isso, mas é preciso. Por algum milagre, Maxon conseguiu me achar, e neste tempo que ficamos longe um do outro, percebemos que nós realmente nos amamos e que não podemos ficar longe um do outro. Por isso, enfim eu decidi fugir com ele! É isso mesmo, papai, a minha única escolha para conseguir ficar com meu verdadeiro amor foi essa: ter que fugir com ele. Pra onde? Eu também não sei, vou 31


sair por aí, mundo afora, e viver minha vida ao lado de meu amor; talvez até possamos nos casar. Se depender de mim, amanhã seria ótimo. É claro que gostaria muito que você me levasse ao altar, mas se meu casamento fosse somente com Maxon e não com um príncipe qualquer, que eu nem sequer conheço. Eu realmente não queria me despedir assim, queria lhe dar um abraço e lhe pedir desculpa na sua frente, mas só te vejo aos fins de semana e já não aguentava mais ficar presa aqui, minha vida era somente ler e dormir. Se você tivesse me dado mais atenção, não estaria passando por isso e, principalmente, se não fosse

preconceituoso, eu ainda estaria feliz, e fugir nunca passaria pela minha cabeça. Eu sei que Maxon podia aprender e se tornar um grande, ou melhor, um ótimo rei. Mas como ainda não podemos voltar no tempo, agora já é tarde demais. Já devo estar muito longe, só quero que um dia você se lembre de mim! Porque eu sempre vou me lembrar de você, papai, e de nossas lembranças felizes, mas vou fazer questão de me esquecer de tudo que eu sofri por sua causa. Mesmo assim, papai, saiba que eu te amo do fundo do meu coração! Beijos de sua filha querida, América.” Quando terminou de ler, Clarkson quase caiu pra trás, 32


não conseguia imaginar que

até a sala de jantar e poderem

aquilo

conversar a sós. Quando todos

era

verdade,

mas

queria muito que fosse um

se

sonho. Ele correu até o quarto

conseguia parar de olhar para

de América, mas não havia

Maxon.

ninguém, além de algumas de

para

suas roupas. Não sabia o que

acontecera, como eles tinham

fazer, estava ficando sem ar,

se

ou

começaram

talvez

até

tendo

um

sentaram,

o

rei

América

seu

pai

não

explicou

como

tudo

conhecido, a

como

namorar,

e

ataque cardíaco! Então, foi

então Maxon contou sobre a

até a janela de sua filha para

rosa e sobre a luz que ela

tomar ar e ver se conseguia

emitia.

avistar algum guarda para ajudá-lo.

Depois que terminaram de falar, o rei ficou parado

Assim

que

conseguiu

sem

dizer

nada,

mas

sua

chegar à janela, avistou bem

aparência dizia que ele estava

ao

pensando.

longe

andando

duas

pessoas

apressadamente.

falar,

Quando

ele

decidiu

disse

que

se

Pegou o binóculo que estava

realmente os dois se amavam,

na cama de América e olhou

ele aceitaria o namoro, mas

novamente

duas

também falou que Maxon não

pessoas. Quase perdeu o ar

poderia de jeito algum partir

novamente.

o

América

e

para Era

as ela,

Maxon

e,

era

coração

de

sua

filha,

e

pelo

também disse que quando leu

visto, tinham acabado de sair

a carta, seu coração pareceu

daqui.

ter saído pela boca, pois ele já

Na hora, ele correu até o primeiro

segurança

que

avistou e mandou segui-los.

havia perdido Amberly, sua esposa,

e

não

aguentaria

perder sua filha também.

Assim que os encontrassem,

Então

alguns

meses

avisasse para ele poder falar

depois, América e Maxon se

com ela. Não foi tão difícil.

casaram e tiveram gêmeos,

Cinco

Nick

minutos

segurança aproximou

depois,

Avery do

rei

o

e

Maeve.

No

fim,

se

Clarkson ensinou tudo o que

com

sabia para Maxon, que se

América e Maxon ao seu lado.

tornou

um

ótimo

rei

e

O rei pediu para todos irem

também adorado por todos do 33


reino. América contou toda a verdade sobre Aspen e sobre sua chantagem. O rei ficou furioso,

mandou-o

de

volta

para casa e decretou que ele nunca mais poderia voltar. Seu novo soldado de confiança era Avery. E no final eles viveram felizes para todo o sempre.

Lucy terminou a história no mesmo dia, levou para a escola no dia seguinte e todos a amaram de paixão. Ela, claro, tirou um 10. Todos da turma decidiram que a história dela fora a melhor, então a Marlee imprimiu as páginas e publicou no site da escola. Uma ideia surgiu na cabeça de Lucy: ela iria pedir para sua mãe a levar ao Jardim Botânico, para mostrar sua história a Celeste e também descobrir o final verdadeiro. Sua mãe a levou assim que ela chegou, com a impressão da historia na mão. Quando ela chegou ao Jardim Botânico, foi correndo até o roseiral para ver se achava Celeste por lá. Depois de dar algumas voltas e perguntar para outros funcionários se eles tinham visto Celeste, ela a encontrou no arranha-gato,

lendo um livro. Quando chegou perto, Celeste a reconheceu na hora, então se levantou e cumprimentou a menina: — Olá, Lucy, como vai? — Bem, obrigada e você? — Bem também! E então, o que veio fazer aqui? — Vim aqui por duas coisas. Uma, porque quero muito, muito mesmo saber o fim da história. E segundo, porque a professora passou tarefa, e eu escrevi o final da história do meu jeito, e a minha história foi nomeada a melhor! Então, eu a trouxe impressa aqui para você ler e saber se era parecida ou não com a verdadeira. — Que ótimo, querida, mas é claro que eu vou querer ler! Ela está aí? — Sim, está aqui – disse, estendendo a mão e entregando um pacote com mais ou menos 20 folhas. Celeste leu em pouco tempo, e disse que tinha amado mesmo. — E então, você acha que tá parecida com a verdadeira? — Oh, sim, parecidíssima! — Sério? 34


— Sim, por que mentiria? — Ah, não sei! — Hahaha! Mas olha, querida, parece que você é adivinha, pois foi exatamente desse jeito que a história acabou. E ela não mentia, a história era exatamente desse jeito, palavra por palavra, como se Lucy tivesse escrito o

final. Anos depois, Lucy virou escritora e publicou um livro contando essa historia, só que do seu jeito. O final ela fez questão de escrever palavra por palavra que ela escrevera quando era pequena. De geração em geração essa história foi passada e, aos poucos, todos sabiam sobre a rosa “mágica”.

EMILLY RABANO

FORNEL

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Amor renascente Um dia, a historiadora Maria Almeida decidiu ir até o centro de Sorocaba para estudar um pouco mais a história da cidade. Quando ela chegou, foi direto à estátua de Baltazar Fernandes, um bandeirante que estava à procura de índios quando ganhou a região em forma de sesmarias. Ela descobriu que a primeira igreja em Sorocaba foi construída às ordens de Baltazar, em 1661.

Baltazar Fernandez

Perto da estátua, ela avistou um homem que parecia estar bêbado e em péssimas condições. O rosto daquele homem parecia muito familiar para ela, então ela decidiu se aproximar-se dele. Quando chegou perto, percebeu que era o seu ex-namorado, Vinicius, a quem ela não via há mais de seis anos. Ela estranhou a situação dele, pois ele era um homem bem sucedido e que tinha ótimas condições.

Ela aproximou-se e decidiu conversar com ele. Imediatamente, ele a reconheceu, e ela perguntou o que havia acontecido. — O que houve com você? — interrogou ela, sentando ao lado dele.

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Ele mal conseguia falar de tão bêbado que estava, ela então decidiu levá-lo para sua casa. Quando eles chegaram lá, ela fez café para ele e colocou-o para dormir. No dia seguinte, ele acordou bem melhor, a ressaca já havia passado, então eles começaram a conversar: — Agora você pode me contar o que aconteceu? — indagou ela, tentando conversar com ele. — Eu não tenho mais nenhum motivo para viver, já estou à beira da morte — afirmou ele, tomando seu café. — Como assim, está à beira da morte? — questionou. — Eu estou com câncer — esclareceu ele, olhando para ela entristecido. — Que tipo de câncer? — inquiriu ela assustada. — Melanoma — declarou ele. — Mas você não pode desistir da vida assim, o fato de esse câncer ser raro não significa que você não irá sobreviver, você tem que lutar até onde você puder — argumentou ela, assustada com a notícia. — Para quê? Eu não tenho mais nada mesmo, não tenho casa, não tenho família, NADA! — proferiu ele. — Você ainda tem a mim, e você pode ficar quanto tempo quiser aqui, eu só te peço uma coisa: não desista. Bom, agora tenho que trabalhar, você pode ficar à vontade aqui — firmou ela, deixando a casa. Depois de um certo tempo, Vinícius se levantou do sofá onde estava e começou a andar pela casa. Viu algumas fotos do avô de Maria, seu João, que havia passado pela mesma situação que ele, e percebeu que ele havia aproveitado a vida até o último momento dela e que ele deveria fazer o mesmo.

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— Por que passar os últimos momentos da minha vida desperdiçando-a com bobagens enquanto posso fazer o que realmente importa? — sussurrou ele, olhando a foto. Assim que Maria chegou em casa, ele contou que não iria desistir e que devia tudo a ela e à foto de seu avô. Porém Vinícius não quis fazer tratamento nenhum, ele queria aproveitar a vida, realizando seus sonhos. Para ajudar Vinicius a realizar seu maior sonho, que era conhecer a cidade de Machu Picchu, Maria resolveu levá-lo. Os dois aproveitaram muito a viagem, fizeram coisas que Vinícius nunca imaginou que iria fazer, ele estava muito feliz. Com o passar do tempo, os dois foram se aproximando cada vez mais, e a cada dia que se passava estavam mais felizes e novamente mais apaixonados. Um dia, eles estavam passeando na praça e Vinicius pediu para voltar a namorar Maria. Ela aceitou, e os dois ficaram ainda mais felizes do que já estavam. Depois de dois meses, Vinicius faleceu, deixando apenas uma linda lembrança na memória de Maria, sobre um amor que havia morrido, porém que renascera novamente.

Victoria Yamanaka Agnelo

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Amor sem fim

Praça do canhão. Foto tirada por Sofia Ventrice Ricci

Acordei com uma vontade de ir para escola, o que normalmente não acontece. Me sentia diferente, alegre, mas não sabia o porquê. Me troquei, tomei um leite, escovei meus dentes e fui para a escola. Todos os dias vou a pé, batendo de casa em casa, chamando a galera. Comecei a ficar meio desanimado porque, quando cheguei à escola, lembrei que tinha aula de matemática. A aula estava um tédio. De repente, a porta se abriu e uma menina maravilhosa entrou, pedindo licença. Era uma aluna nova, de cabelos louros, magra, olhos azuis e, literalmente, a coisa mais bonita que já vi em toda a minha vida. Será que era por isso que eu estava feliz? Sei lá. Foi tipo amor à primeira vista. Fiquei a aula inteira olhando para ela. Não sabia mais o x da equação. Eu só pensava nela. O sinal tocou, e comecei a tomar coragem de ir falar com ela. Cheguei perto de sua mesa, toquei em seu ombro e disse “oi”. Mas ela não ouviu. Deve ser porque eu falei praticamente para dentro. Então tomei a coragem de dentro de mim e perguntei:

— Oi! Como é seu nome? 39


— Oi! Meu nome é Camila — ela se virou e respodeu tímida — E o seu?

— Ricardo — afirmei meio sem jeito. Convidei-a para tomar lanche comigo e ela aceitou. Eu apenas exclamei “legal!”, mas no fundo eu estava vibrando. Camila ficou calada até chegarmos ao pátio. De repente, ela desabafou que achava que ao chegar nessa escola não faria nenhuma amizade. Mas sussurrou que eu era bem legal. Depois daquela frase, percebi que nossa amizade ia durar para sempre. Muito tempo se passou, mas a amizade permaneceu forte. Naquele dia em que a conheci, descobri que ela havia se mudado para uma casa a duas quadras da minha. Nossas mães se conheceram, ficaram amigas; eu ia na casa dela, ela vinha na minha, e tudo era natural. Uma amizade ótima. E ainda não acredito que escondi meu amor por ela há quase cinco anos. Exatamente, nos conhecemos quando eu tinha doze anos, e agora já tenho dezessete. Eu quero muito que ela seja mais que minha melhor amiga.O pior é criar coragem para pedi-la em namoro. Pensei em pedi-la na Praça do Canhão, pois quando fui com minha mãe lá, me lembro da estátua do coronel Antônio Francisco de Aguiar, que foi prefeito municipal e liberalista; e sua estátua foi em homenagem ao seu filho, Raphael Tobias de Aguiar. A Revolução Liberal aconteceu aqui em Sorocaba, em que dois partidos disputavam o poder: Partido Liberal e Partido Conservador. Se eles tiveram coragem de disputar o poder, eu também a terei de pedir Camila em namoro. Por isso, escolhi a Praça do Canhão. Daqui a uma semana fará cinco anos que conheço Camila. E é nesse dia que irei pedir sua mão em namoro. Já estou planejando tudo. Vou chamá-la para fazer um piquenique na praça que relatei no parágrafo anterior e, junto aos pães, colocarei uma aliança (assim que comprar, é claro), então farei o pedido. Espero que ela goste. Depois de uma semana, eu estava pronto. Convidei-a para vir até minha casa e irmos até a Praça do Canhão juntos. Então ela perguntou:

— Posso ver o que você está levando de gostoso para comer, nesta cesta?

— Não! — respondi meio bravo, mas acho que ela não ligou. Quando chegamos na praça, comecei a passar mal de tanto nervosismo. Meu estômago começou a embrulhar, fiquei pálido e, de repente, apaguei. Comecei a sonhar. Sonhei que estava em uma montanha-russa e gritava cada vez mais forte, mas quando o brinquedo parou, me senti aliviado. E aí, acordei. 40


Abri os olhos, diferentemente de quando acordo para ir à escola, pois desta vez a menina por quem fui apaixonado por muito tempo agora encostava seus lábios contra os meus. Depois do beijo, ela admitiu:

— Sempre fui apaixonada por você! Só que não sabia se você sentia o mesmo por mim, mas quando vi o anel entre os pães, eu tive certeza! — desta vez, a minha coragem veio de dentro das veias e eu pude afirmar para ela:

— Eu te amo.

Sofia ventrice ricci

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Ataque a Sorocaba

Ataque a Sorocaba

Praça do Canhão

Em 1842, uma tropa armada foi organizada pelo Barão de Caxias, com o intuito de atacar a cidade de Sorocaba, pela via fluvial do rio Sorocaba. Como forma de defesa, Brigadeiro Tobias organizou a cidade para combater a tropa: mandou construir canhões de frente ao rio, trouxe bravos guerreiros de Minas Gerais e Rio de Janeiro e conseguiu juntar uma tropa de 4.000 homens. Todos sabiam que seria uma grande batalha, e aguardaram um longo período, esperando as tropas do estado chegaram a cidade. Alguns estavam ansiosos, outros temiam a batalha. Seu líder, Tobias, reuniu os guerreiros para tentar acalmá-los, e declarou que não havia o que temer, pois estavam em maior número e os canhões dariam cobertura. Depois de quatro meses esperando, sem notícias sobre o ataque, soou no ar um barulho de uma trombeta, anunciando o início da guerra. — Preparem os canhões! Eles chegaram! — anunciou o soberano líder. — Canhões preparados, senhor! — exclamou um dos guerreiros. — Atirem! — ordenou Tobias.

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Havia um grande número de tropas e o tiro do canhão destruiu sete barcos. As tropas desceram dos barcos e foram pela terra. Barão de Caxias gritou: — Vocês querem que eles dominem nosso país? — Não! — Então vamos dominar essa cidade! — propôs o líder — atacaremos ao meu sinal! Dado o sinal, as tropas de Caxias correram e começaram a atirar. — Preparem-se, pois a guerra começou, protejam-se. Ala norte, preparar, apontar, fogo!!! — ordenou Tobias. As tropas de Caxias dominavam a batalha e tudo parecia perdido para os defensores de Sorocaba. O exército adentrava cada vez mais em Sorocaba, destruindo tudo por onde passavam. Tobias exclamou que suas tropas deveriam recuar para a igreja da cidade, onde suas mulheres e crianças estavam refugiadas. Eles pegaram uma tora de madeira e prensaram na porta, para bloqueála, e esperaram a porta ser rompida. — Se esta porta se romper, não teremos onde nos refugiar, será nossa morte! Eu quero todos vocês segurando essa porta! Ainda não acabou esta batalha! Nós podemos vencê-la. Precisamos acreditar! Protegeremos nossas mulheres! — declarou o grande líder, com toda a sinceridade possível ao seus guerreiros. — Se lutarmos unidos, conquistaremos até as fortalezas de Roma!!! — retrucaram os guerreiros. Passaram um dia trancados naquela igreja, defendendo a grande porta na entrada do salão. As tropas haviam cercado a igreja e tentavam arrombar a porta, quando o inesperado aconteceu. O som de uma trombeta expandiu-se no ar, confundindo os guerreiros de Barão de Caxias. — O que foi esse barulho? — gaguejou Caxias. — Senhor, são tropas de Minas Gerais. São inimigos, senhor! — respondeu um dos homens. Todas as tropas se prepararam para lutar contra os mineiros, e se esqueceram dos homens presos nas igrejas. Tobias, sabiamente, percebeu essa falha e planejou atacar Caxias por trás. Sendo assim, sem como se defenderem, Caxias e seus guerreiros foram mortos e alguns torturados. 43


Ambas as tropas, tanto de Brigadeiro Tobias, quanto as tropas mineiras, festejaram por um bom tempo e seguiram com a Revolução Liberal, agora na capital do Rio de Janeiro...

Gustavo Peres de Vasconcellos

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Baltazar, O grande... O grande Baltazar Fernandes

Estátua de Baltazar Fernandes, em Sorocaba

— Pai, pai, quem é este? É um cowboy? — perguntou Leonardo para o seu pai, olhando para o monumento de Baltazar. — Não! Por que você acha que é um cowboy? — questionou seu pai. — Ah, ele tem armas, botas, e chapéu... igual a um cowboy! — explicou Leonardo. — Hahaha, oh, filho, esse é o grande Baltazar Fernandes! — Declarou seu pai. — Quem? — Olhou para seu pai Leonardo confuso.

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— Baltazar! Baltazar Fernandes! Ele foi fundador e um dos primeiros povoadores de Sorocaba, assim como seu filho, Manuel Fernandes de Abreu. Ele nasceu em São Paulo. Era um notável bandeirante, que passava muitas vezes pelos campos de Sorocaba em suas viagens ao sertão. Buscava índios no sertão e trazia-os para serem vendidos. Ele veio fundar a cidade de Sorocaba no ano de 1654. Ele tinha mais de quatrocentos índios a seu serviço. Baltazar Fernandes, assim como muitos outros bandeirantes, era judeu, um "cristão-novo". Ele matou com um tiro na cabeça o padre Diogo de Alfaro, porque ele era pago para investigar paulistas. Baltazar queria que Sorocaba deixasse de ser um povoado e virasse uma vila, denominação dada às cidades naquela época. O governador atendeu a seu pedido e, no dia 3 de março de 1661, Sorocaba foi elevada à categoria de Vila. Tornou-se então, a Vila de Nossa Senhora da Ponte de Sorocaba. — exclareceu o pai de Leonardo. — Uau, então ele foi bem importante... — disse o menino com uma cara surpresa, porém não tão animada. — O que foi? Não gostou da história, meu filho? — perguntou seu pai. — Não, pai, não é isso, eu adorei a história... Mas é que, será que um dia eu farei uma coisa importante com o ele? — murmurou Leonardo. — Claro, se você quiser de verdade e der duro para conseguir, você será e fará o que quiser — declarou seu pai, envolvendo-o em um forte abraço.

Ana Carolina Bobato de Paula 46


Monumentos de Sorocaba

Monumento Tropeiro localizado na Praça do Tropeiro em Sorocaba.

Passava na frente deste monumento todos os dias voltando da escola para minha casa. Sabia que conhecia aquela estátua, mas não lembrava de onde, até que nessa segunda-feira, passando pela frente dela, lembrei que meu avô contava a história desse homem para eu dormir quando era bem pequena, mas nunca conseguia ouvir a história inteira, pegava logo no sono e capotava. Enfim, até onde sei, o tropeiro é como um soldado desconhecido, um anônimo, que representa todos aqueles personagens históricos que sucederam aos bandeirantes na história do Brasil e que a Praça do Tropeiro homenageia o Tropeirismo, um dos principais ciclos econômicos da história da cidade, e a estátua é esculpida em bronze. Gosto muito desse negócio de tropeiro, porque com ele agregou muita coisa boa pra nossa cultura como, por exemplo, as provas de muares e equinos, as delícias da culinária, a dança, a vestimenta, etc. Acho isso tudo muito legal. A minha mãe também tem uma história muito legal de quando ela era criança. O avô dela a levava para passear no centro da cidade de Sorocaba para ver os monumentos da cidade e contar as histórias que elas traziam com ela. A estátua preferida da minha mãe era do Baltazar Fernandes, porque era parecido com seu avô. O Monumento do Baltazar Fernandes está localizado no Largo do São Bento. Como Sorocaba tem história... *Foto por Ana Laura Buzzo Brandão

Letícia Lini Gonzales 47


O BURACO Eu estava no colégio, na aula de matemática, estava mesmo muito insuportável, mas eu tentava prestar atenção ao mesmo tempo em que alguns meninos jogavam bolinhas de papel na minha cabeça. Eu não podia me irritar ou dizer algumas palavras, algo ruim podia acontecer comigo. Logo depois que finalmente acabou a aula de matemática e eu estava desacorrentando a minha bicicleta para ir embora, os meninos que jogaram bolinhas de papel em mim começaram a me seguir, comecei a ir para um caminho estranho, era lugar diferente, para ver se eles paravam de me seguir — eles me dão muito medo. Eles me pararam:

— Oi, seu idiota, por que não respondeu as nossas bolas de papel? Jardim Botânico

Eu ia responder e logo fui cortado:

— Você sabe que não gostamos de intelectuais, não sabe? — Eu logo respondi, gaguejando um pouco, mas colocando um ar de sarro: — Como o seu vocabulário é amplo para alguém tão intolerante. — Você está brincando com a gente? Você não tem medo não? Não tem amor à vida? Eu comecei a me assustar, larguei minha bicicleta e minha mochila no chão e saí correndo, eles correram atrás de mim. Logo me alcançaram e mesmo, quase sem fôlego, me bateram tanto, como se estivessem usando máscaras de oxigênio. Me bateram tanto, com tanta força que me deixaram 48


desacordado e talvez em estado de coma, pois não tinha controle sobre meu corpo. Eles pensaram que eu estava morto, pegaram meu corpo e jogaram em um buraco, atrás do Jardim Botânico. Era um lugar macabro à noite e como era inverno, não tinha visitas. Quando eu acordei, voltei para a casa, quando cheguei, minha mãe estava no escritório, como sempre trabalhando. Fui falar com ela e dar explicações do porquê cheguei tão tarde, ela estava chorando muito, falando com alguém no telefone e dizendo que estava preocupada comigo e dizendo que eu tinha desaparecido. Logo falei: — Oi mãe, eu cheguei, desculpa a demora, uns meninos me seguiram e eu tive que despistá-los, por isso eu cheguei tão tarde. Ela não me respondeu. — Mãe, me responde! Ela parecia não me ouvir, acho que estava brava. Fui para meu quarto, tomei banho e apesar de ser tarde, fui para a casa de Lorenzo, não era muito longe e ele era meu melhor amigo, precisava avisá-lo do que aconteceu e de que ele seria o próximo. Cheguei à casa de Lorenzo, ele estava no quarto, com a mesma cueca roxa e verde de sempre e com a blusa preta da Marvel. — Oi, seu nerd psicopata, preciso te contar o que aconteceu. Ele também não me respondeu. — Você também está bravo comigo? Continuou em silêncio lendo o seu gibi do Homem Aranha. Ele não estava bravo comigo, eu tinha certeza que não, porque quando ele está bravo comigo, ele coloca uma música estranha dos anos 80 que ninguém conhece e começa a dançar, olhando para a minha cara e fingindo que não me escuta. Tinha algo de errado, as pessoas não estavam me ouvindo, eu não sabia o que estava acontecendo. Peguei o carro e fui até o Jardim Botânico procurar o meu celular. — Mas que droga, onde está o meu celular? Fui até o buraco e eu descobri o que tinha de errado, descobri porque ninguém me escutava. Eu estava morto. Eu vi o meu corpo, enfiado naquele buraco e sabia que o próximo seria o Lorenzo.

Giovanna Mascarenhas Prado 49


ANA LAURA ESTEVES PASSOS FRACAROLI

O casamento

Catedral de Sorocaba

Um dia eu estava andando pela rua, sem nada na cabeça, só ouvindo minha música tranquila... vi um lugar grande, bonito, uma igreja. Quis ver por dentro, mas como eu sou só um pouquinho desastrada, quando fui entrar, dei uma braçada na coluna e caiu um tijolo bem no meu pé! Para ninguém perceber, discretamente, peguei-o e coloquei de volta, mas não encaixou completamente. Tirei e achei lá dentro da coluna um papel velho e desgastado, tirei de lá e comecei a ler. Era uma carta de amor, de uma escrava chamada Joana para um homem branco e duque chamado Gabriel de Moraes. Era sobre o amor impossível que eles viveram. Eles iriam fugir no mesmo dia, mas por que será que a carta não chegara em mãos? Ele a havia abandonado? Não... acho que ele não seria capaz, pela carta eles estavam muito apaixonados para desistirem assim, do nada. Quando cheguei em casa, resolvi procurar mais sobre a tal igreja, conhecida como Nossa Senhora da Ponte, e descobri que ela fora fundada em 50


1771, quando chegou de Portugal a imagem de Nossa Senhora da Ponte, atualmente localizada no altar principal em estilo barroco. Depois de três horas procurando na internet algum caso de desaparecimento, morte, execução, que era muito comum naquela época, não encontrei nada! Nem sinal... Então peguei a lista telefônica e fui procurando pelo sobrenome “de Morais”. Acabou aparecendo uma lista enorme. Depois de ligar para quase todos os números da lista e com a esperança por um fio, virei a página e na última linha tinha um Felipe de Moraes. Aquele nome chamou minha atenção, então resolvi ligar: — Alô? Quem fala? — Aqui é o Gabriel, com quem deseja falar? — Com o senhor mesmo! Meu nome é Barbara, e eu achei uma carta esses dias com destino a um tal de Gabriel de Morais que foi um duque, você sabe quem é? Algum grau de parentesco? — Sim, foi meu bisavô, por quê? — Quantos anos você tem? Desculpe perguntar... — Muitos, pode acreditar. — e em seguida deu uma leve risadinha. — Quando posso te encontrar? Preciso muito falar sobre essa carta o quanto antes. — Pode ser hoje mesmo, no final da tarde, na praça? — Claro! Obrigada e até mais tarde. Quando eram seis horas da tarde, fui até a praça, mas tinha um pequeno detalhe... como eu acharia aquele senhor se eu nem perguntei como ele era, o que iria vestir? Graças a Deus, eu o vi chamando meu nome e fui até ele: — Oi! Prazer em conhecer você pessoalmente. — O prazer é todo meu. Aqui está a carta – disse entregando a carta a ele – preciso que me ajude a encontrar a moça que a escreveu ou pelo menos algum parente. Posso contar com você? — Pode sim, mas como iremos procurar sem nem ao menos um sobrenome? — Hum... não sei! Mas eu tenho uma foto, podemos imprimir cartazes e colar nas ruas para quem reconhecer uma avó ou coisa parecida nos ligar.

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— Pode ser. Então tá, amanhã te encontro para distribuirmos as fotos e colarmos cartazes. — Ok! Até amanhã. No dia seguinte, entregamos todos os mil cartazes que havíamos feito, e nada. Esperamos dois meses e de novo nossas esperanças estavam se esgotando. Quando ouvi o telefone tocar, nem imaginava que era sobre esse assunto, mas assim que atendi o telefone: — Alô? Meu nome é Lucinda e este número estava em um cartaz com a foto da minha bisavó. Quem é você e como conseguiu essa foto? — Oi, meu nome é Barbara e eu encontrei uma carta de sua bisavó. Ela a escreveu faz muitos anos, mas nunca foi entregue, ela está viva? Posso entregar para ela? — Não, ela morreu faz mais de 90 anos. Mas posso deixar essa carta no caixão, dela se você quiser. — Eu e um amigo meu podemos ir também? — Claro! Vamos nos encontrar daqui a uma hora em frente ao cemitério municipal. — Tá bom! Até mais. — Até! Liguei para o Felipe e disse tudo o que havia acontecido. Logo nos encontramos em frente ao caixão de Joana e eu mesma agachei e disse baixinho: “entregarei esta carta te explicando o que aconteceu, mas sua carta estará com seu amado.” E coloquei uma carta ‘falsa’ sob o caixão. Depois que Lucinda foi para casa, eu e Felipe fomos até o caixão de seu bisavô e deixamos a verdadeira carta lá... Tenho certeza de que fiz a coisa certa, mesmo que eles nunca lessem aquelas cartas, naquela noite pude descansar melhor sem nenhum peso na consciência.

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O destino ou Coincidência O destino ou coincidência

Catedral de Sorocaba No dia 13 de novembro, o céu estava ensolarado, os pássaros cantavam e, em frente de uma igreja maravilhosa, duas pessoas se conheceram. O nome dela era Victória e o dele era Pedro. Ela estava fazendo um tour pela cidade, e ele havia ido à igreja para a missa. Os dois chegaram à frente da igreja na mesma hora, no mesmo minuto, olharam-se bem nos olhos e era como se o planeta houvesse parado de girar. Ficaram com os olhares penetrados um no outro durante uns três minutos... Até que Pedro teve que entrar para a missa, mas ficou o tempo todo se perguntando qual era o nome daquela garota, e Victória ficou se perguntado o mesmo. No dia seguinte, a menina foi à cafeteria antes de ir à faculdade, e então se deparou com o mesmo garoto do dia anterior. Ele veio andando em sua direção e disse: — Desculpe incomodar, mas é que não consegui evitar, sua beleza é incomparável, você gostaria de tomar um café? 53


— Que gentileza a sua, eu adoraria! Sentaram-se e conversaram! Estava tão boa a conversa que Victoria havia se esquecido do horário e que iria se atrasar! Quando olhou no relógio ela falou agoniada: — Desculpe, mas vou ter que ir, não quero me atrasar! E saiu correndo, mas Pedro ficou tão interessado em conhecê-la que havia se esquecido de fazer a pergunta mais importante... o nome dela. Ele saiu correndo para alcançá-la, mas estava chovendo. Quando a viu, segurou-a e murmurou: — Esqueci-me de lhe perguntar uma coisa. . . Qual é seu nome? — Meu nome é Victória, e o seu é...? — disse a menina encantada. — O meu é Pedro, posso te pedir uma coisa? — perguntou o menino com um ar de apaixonado. — Pode — disse Victória — Você gostaria de sair comigo para jantar? — perguntou Pedro. — Eu adoraria — falou Victória muito contente. Ela lhe deu seu número de celular, O que eles não haviam percebido é que estavam bem na frente da igreja onde se encontraram pela primeira vez. No dia seguinte, Victória foi à cafeteria de manhã e Pedro estava lá, foi até ela e resolveu fazer o lance dos três passos. Primeiro passo: ele a fez rir. Segundo passo: disse que seu sorriso era lindo. Terceiro passo: convidou-a para sair antes que ela pensasse que ele era feio. E a menina adorou mesmo, porque ela não conhecia esse lance e aceitou sair com ele. À noite, ele a levou a um restaurante, conversaram e se divertiram muito. Saíram mais vezes, até que um dia ele a levou à praça onde eles haviam se conhecido, em frente à igreja. Quando ela percebeu que ele a levara para o mesmo lugar onde se conheceram, ficou emocionada e começou a chorar de alegria. Então ele pediu-lhe para namorar sério. Ela, então emocionada, disse:

— Você é o melhor namorado que alguém pode ter! Eu te amo! — Eu também te amo! — disse Pedro apaixonado. E foi assim que, por causa dessa igreja, houve a união dessas duas pessoas.

Tainá Rodrigues Duarte

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O dia em que eu morri Guilherme de Sá Proença

Quando eu acordei, percebi que estava em um lugar que eu nunca tinha visto antes. Era um lugar bonito, claro e pacífico. A última coisa de que eu lembrava era de estar em um lugar cheio de canhões que já não funcionavam mais. Onde eu estava não tinha ninguém, andei, andei e andei, mas não achei ninguém. Após andar umas duas horas seguidas, eu achei um homem idoso que me era familiar, mas eu não sabia quem era à primeira vista. Quanto mais eu tentava chegar perto dele, mais ele se distanciava, eu comecei a correr atrás do homem e gritar: — Ei, venha aqui! Onde estamos? Quem é você? Parecia que ele era apenas uma ilusão, mas como eu não sabia onde, por que e quando eu estava eu apenas corri atrás do velho como se não houvesse amanhã. Era engraçado que eu não me cansava e corria cada vez mais rápido, até que percebi uma coisa: a cada cinco passos que eu dava, eu voltava para onde eu comecei a andar, era como se eu estivesse em um “looping” infinito. Então logo que eu percebi isso, parei e gritei as mesmas palavras: — Ei, venha aqui! Onde estamos? Quem é você? Então uma voz grossa ressoou na minha cabeça: — Dê quatro passos, depois pule e repita isso até chegar ao homem. Foi o que fiz, pois eu não sabia se eu estava vivo ou morto mesmo, e estava dando certo até o homem se virar e falar com a mesma voz: — Bem vindo ao purgatório, aqui é onde as pessoas se redimem pelas coisas ruins que fizeram em sua vida. Você gostaria de saber como você morreu? — perguntou o homem em um tom sério. — Claro que eu gostaria de saber como foi que eu morri — respondi entusiasmado, mas ao mesmo tempo um pouco curioso — Mas como você sabe que eu não sei como eu morri? E por que eu deveria acreditar em você? — Primeiramente todos que morrem esquecem como morreram. E se você não morreu e está com medo que eu te mate você terminaria morto de todo jeito. 55


— Você me convenceu, conte-me como eu morri. — Era um dia de verão chuvoso e lá estava você passeando em uma praça cheia de canhões, pois do lado da estátua de Brigadeiro Tobias vinha muita chuva. Como você sabe, chuva é o seu fenômeno da natureza, então você viu um carro muito bonito estacionado do outro lado da rua e foi correr em direção a ele para vê-lo melhor. Entretanto, você não viu que tinha uma pedra no meio do caminho, você tropeçou na rocha e caiu de cabeça em um caco de vidro. — Hummm... Interessante, eu sei que fiz várias coisas ruins em minha vida. O que eu tenho que fazer para me redimir? — Você terá três chances para me ajudar a matar o demônio que vive a três quilômetros daqui ao norte. — Tá bom. Como eu me equipo? — Se você der três passos para trás, olhando para mim, você chegará em meu armazém, onde há os melhores equipamentos já vistos na face da Terra. — Quando eu começo? — O mais rápido possível.

Fonte da foto: http://www.panoramio.com/photo/979107 Data de acesso: 30/05/2014

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O dia em que saí de casa

Monumento ao Tropeiro - Sorocaba

Queria sair de casa, pois ninguém me ouvia, parecia até que todo mundo havia morrido, até que resolvi bater na porta: — Tem alguém aí? — falei ao bater na porta. E nada ! O silêncio persistiu e resolvi bater mais uma vez: — Alguém me reponde? — sussurrei no fecho da porta. E nada! Não aguentava mais ninguém me responder, então abri a porta da sala e saí para dar uma volta na cidade. Passei por vários lugares, pela padaria de seu João, pelo pet-shop de Dona Rosa, pela banquinha onde eu adorava comprar gibi, pelo ponto de ônibus etc. Cheguei a uma praça. Ela era bonita, tinha flores, árvores, vários pássaros e também encontrei um homem que estava sentado ao lado de uma linda estátua de um cavaleiro que eu não sabia quem era. Cheguei perto do moço: — Oi, qual é o seu nome? — afirmei, após olhar o rosto do homem. 57


— Eu sou Ronaldo, e você? — Eu sou Juliana. O que o senhor faz aqui? — Bom, eu fico aqui todo dia, pois adoro apreciar essa estátua desse tropeiro que relembra a minha infância. — Tropeiro? Como assim? — Você não sabia que essa estátua era de um tropeiro? — Não. — Nossa, então vou te contar um pouquinho daqui! O tropeiro era como um soldado desconhecido, que representava muitos personagens históricos que sucederam aos bandeirantes na história do Brasil. Sorocaba foi escolhida para ser a cidade desse monumento histórico, pois aqui foi a sede dos tropeiros e da feira de muares. Aqui tem esse tropeiro montado para representar um uma montaria de antigamente. — Nossa, que legal! Mas por que essa praça relembra a sua infância? — Porque foi aqui que eu e meus melhores amigos aproveitávamos as nossas tardes para brincar. — Que demais! Que brincadeira vocês faziam? — Nos adorávamos brincar de pula-pula do cavalo, que era uma brincadeira na qual todo mundo subia no tropeiro montado e quem caísse primeiro perdia. — Mas não machucava quando alguém caía? — Na verdade, não sei te dizer, pois eu sempre era o primeiro a subir, então eu pegava o melhor lugar e nunca caía. Não deu nem tempo de responder o Ronaldo, meu celular tocou. Atendi o telefonema. Era minha mãe, perguntando onde eu estava, pois já era a hora do jantar. Falei “tchau” para o homem e lá fui eu, voltando por todo aquele caminho escuro. Abri a porta de casa e vi minha mãe e meu pai com caras de bravos, olhando para mim: — Onde estava, garotinha? — Eu estava lá na Praça do Tropeiro, ali do lado da banca onde eu comprava gibi.

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— Por que saiu sem nos avisar? — berrou o pai, indo para perto da menina. — Eu bati um monte na porta do seu quarto e ninguém me respondeu. Estava o maior silêncio. — Por que você não abriu a porta para ver se nos estávamos dormindo? — Não sei! Desculpa, não faço mais isso. Saí andando devagar em direção ao meu quarto: — Volta aqui — clamou minha mãe. — Pode falar estou ouvindo. — Você não vai jantar? — Não, estou com fome. — Ok, então vá dormir porque já está tarde. — Tá bom. Abri a porta do meu quarto com o maior desânimo, arrumei a minha cama para eu dormir, fui ao banheiro para escovar os dentes e deitei, pois já estava na hora de tirar uma sonequinha.

Giulia Panetto Marques Soares

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O massacre do Jardim Botânico

Jardim Botânico de Sorocaba

Um dia chuvoso no inverno, o detetive Sérgio recebeu uma ligação informando o desaparecimento de um funcionário do futuro Jardim Botânico de Batang. Beuhaus, o funcionário que iria cuidar das plantas quando o Jardim Botânico inaugurasse, não era visto desde que fora para o bar na semana retrasada. — Onde ele trabalhava normalmente? — interrogou o detetive, preocupado. — Ele plantava as sementes das plantas logo ali — informou Ariel, uma das funcionárias da limpeza, apontando para um lugar atrás do prédio do jardim. Sérgio procurou pistas em todos os canteiros de flores que Beuhaus plantava. No final da tarde, quando o detetive estava prestes a sair, ele viu, com o canto dos olhos, uma pequena placa quase enterrada em um canteiro. A placa dizia: “cave neste local”. O oficial da lei logo chamou todos os funcionários para cavar naquele local. Depois de duas horas, eles finalmente desenterraram o corpo de Beuhaus. No corpo do falecido funcionário estava escrito, escavado com uma faca: “não inaugurem o Jardim Botânico”. Todos ficaram pasmos com a mensagem. — O que faremos agora detetive? — perguntou Joel, desesperado. — Continuaremos com tudo — declarou Sérgio, bravo.

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Na semana seguinte, foi notificado o desaparecimento de Joel e o detetive foi chamado de novo. Achou Joel do mesmo jeito que achou Beuhaus, por meio de uma placa. Nela estava escrito: “olhe para cima”. No exato momento que o oficial da lei olhou para cima, a cabeça do podador de árvores Joel caiu da copa da árvore. Sérgio subiu na copa da árvore e achou o corpo do antigo funcionário decapitado por uma tesoura de poda. O detetive, já muito nervoso, perguntou para Ariel: — Alguém viu aquela placa? — Que placa? — perguntou Ariel, intrigada. — Não brinque comigo isso é sério! — vociferou Sérgio, muito bravo. Enquanto apontava para a direção da placa, percebeu que ela não estava mais lá, foi como se alguém quisesse que o detetive visse o corpo. No lugar da placa, estava um escrito de sangue: “não inaugurem o Jardim Botânico”. — A placa... ela sumiu — balbuciou Sérgio, envergonhado – desculpe, Ariel. No momento que o detetive virou, Ariel não estava mais lá. Havia sumido num piscar de olhos. Uma semana depois, Ariel foi encontrada morta, afogada em um balde com produtos de limpeza, achada de novo pelo detetive Sérgio por uma placa que ninguém tinha visto. No dia da inauguração do Jardim Botânico, tudo corria bem, até que granadas de fumaça começaram a voar e a explodir. Acontece que havia um atirador de elite em um morro, de onde ele tinha a visão periférica de todo o Jardim Botânico, ele podia ver os dois prédios e a entrada do jardim. Depois das granadas, o atirador começou a matar todos com sua mira infravermelha. Nesse momento, o prefeito de Batang estava entrando, por isso, no meio da fumaça, o detetive achou que aquele vulto era o assassino, sacou sua arma e atirou no prefeito. No final da matança, todos, menos Sérgio, estavam mortos. A polícia chegou e não acreditou no que via. Sérgio, seu melhor detetive era considerado o culpado e o prenderam na hora, não quiseram nem checar a balística. Na prisão, Sérgio encontrou o seu irmão policial Bernard.

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— Oi, Sérgio, gostou da minha surpresa para te colocar aqui? — questionou o policial em um tom sádico. — Foi você! — gritou o detetive mais bravo que nunca. — Foi. Eu disse para você que te colocaria nesse lugar onde você colocou nosso pai, que era inocente. Agora, até nunca mais! Você ficará aqui para sempre — declarou Bernard e foi embora. De fato, Sérgio ficou preso para toda a sua vida. Quando tentou dizer que fora seu irmão, ele foi marcado como psicopata louco, pois na realidade Bernard nunca existira. O detetive matara todos, ele era o atirador e sua imaginação o colocou no meio do tiroteio.

Marcelo Hun Archer

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O tiro do Sino Corro, corro, vejo pessoas, empurro, paro, olho para trás, corro novamente. Lá estava eu fugindo de ladrões. Não devia ter sido tão idiota. Uns quinze minutos atrás, estava no banco pegando dinheiro. Para quê? Agora não me lembro, mas quando saí, vi três ladrões. Estou no centro de Sorocaba, onde eu nasci e cresci. Sou inocente, nunca fiz nada de errado, mas como sempre foi a vida, os inocentes que pagam. Ai, meu Deus! Tenho que correr mais rápido, estão chegando mais Catedral - Praça Coronel Fernando Preste perto. Estão todos parando para olhar, mas ninguém chama a polícia, né... Inúteis. Estou vendo uma rua pequena ali na frente, se eu correr mais rápido, consigo entrar lá. Mas, pera, por que estou correndo mesmo? Ah, é! Quando saí do banco com o dinheiro guardado na carteira, fui assaltado, quase assaltado. Os três ladrões puxaram meu braço e me mandaram “passar” a carteira. E eu? Saí correndo, não vou dar o meu precioso dinheiro pra quem rouba. Agora estou aqui. A rua está a uns vinte passos, vou conseguir, eles estão longe. Um, dois, virei. Nossa, nunca corri tanto na minha vida, mas não posso parar. Onde será que essa rua vai dar? Vou mais rápido então. Estou vendo algo ali no fundo, vou mais rápido ainda. É a Catedral Metropolitana de Nossa Senhora da Ponte, faz tempo que não venho aqui. Também, com esse monte de trabalho que tenho, mas me lembro dela como se tivesse vindo ontem aqui, lembro-me dos trabalhos de escola em que tinha que falar sobre essa Igreja, lembro-me de um texto que fiquei quatro dias decorando, era assim: “A catedral é derivada da segunda igreja matriz da cidade, fundada em 1771, quando chegou de Portugal a imagem de Nossa Senhora da Ponte, que atualmente encontra-se no altar principal em estilo barroco de 1771. A primeira 63


igreja matriz foi a Igreja de Sant'anna, atual Mosteiro de São Bento. Essa curiosa invocação de Nossa Senhora, comum em Portugal, é única no Brasil” Acho que vou entrar e rezar um pouco, porque a minha situação agora não está muito boa. Entrei, não está tendo missa, mas tem algumas pessoas. Estão olhando para mim, acho que porque estou suando e suspirando. Não vou pedir ajuda, não quero estragar o dia de ninguém, até porque não gostaria que chegassem e falassem para mim que há ladrões ali. Rezei, pedi para que esses caras me perseguindo parassem, pedi para que eles esquecessem, e se não, que não tivessem uma arma, se não... Uma velhinha veio falar comigo: — Oi, meu filho, está tudo bem com você? — ela perguntou, passando a mão no meu braço. — Está tudo bem, estava correndo porque tenho que chegar na hora no meu trabalho, então vim correndo para que tivesse tempo para ver a igreja. — Entendo. Que Deus te abençoe! — Amém. Era do que eu precisava, que ele cuidasse de mim. Vou sair daqui, estou assustando as pessoas. Saí. Nossa, olha a torre, olha aquele sino! Não me lembro muito desse sino aí, acho que quando eu era menor não olhava muito para cima, é bem alto. Será que faz barulho? Vou ficar olhando-o. É bem bonito. Meu Deus! Está tocando! Esse som faz doer minha cabeça, faz doer muito. Agora todas as pessoas estão tremendo, estão todas olhando para mim, está ficando tudo preto, mas ainda consigo ver as pessoas em cima de mim, espera! Estou no chão? O que estou fazendo no chão? Tenho que sair daqui. Continuam olhando para a minha cara, eles estão desesperados. Está ficando tudo preto, estou vendo imagens da minha vida, olha, eu criança ali, meus avós que eu não vejo faz tempo, que saudades! Estou vendo uma luz branca agora, o que eu faço? Ela está se espalhando, agora está tudo branco. Acho que o som do sino não era do sino, era de uma bala, bem na minha cabeça. Acho também que eu estava no chão porque eu caí, caí porque morri.

Mariana Puccini Corsini 64


PRECONCEITO Rafael Perroud Sampaio

Baltazar Fernandes

J

á estava ficando de saco cheio. Todo o dia a mesma coisa: chegava à escola já sem ânimo, pois logo chegavam uns meninos e me zoavam porque era judeu.

No começo não ligava, mas faz mais de cinco meses que eu entrei na escola e até agora não pararam! Já cansei do bullying! Já sem esperança, falei para meu pai que queria parar de ser judeu. — POR QUÊ? — perguntou surpreso. — Ninguém gosta — rapidamente afirmei. — Claro que não! Quem disse para você que ser judeu é ruim? — Uns meninos da escola. — Mas só porque eles acham, não significa que é verdade. Na verdade, só falam isso, pois não conhecem essa religião que é diferente da deles. Você sabe quantos judeus existem no mundo? — Mil? — Mais de 13 milhões. — NOOOOOOOOOOOOOOOOOOOSSSSSSSA! — Deixe-me mostrar-lhe. Você conhece Baltazar Fernandes? — QUEM? — O fundador de Sorocaba. Ele era judeu, só que em sua época, não era permitido ser judeu, então fingiu ser cristão, construindo a capela Nossa Senhora da Ponte. Ele era um bandeirante, um homem que desbrava terras atrás de área inexploradas e de minérios e até atrás de índios. 65


— Que história chata! — OK. Vou te contar uma mais legal. — Eeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee! — Pois é. Hoje vou te contar a história sobre Davi e Golias. “Estava havendo uma guerra entre o povo de Israel e Filisteus, e um homem chamado Davi foi levar comida aos seus três irmãos mais velhos...” — Três irmãos! Eu não tenho nenhum! — Como eu ia dizendo... “Quando foi procurar seus irmãos, viu um gigante chamado Golias que zoava os Israelitas. Ele foi todas as tardes e manhãs zoar o povo com que guerreava durante 40 dias. — Quem lutar contra mim e perder do seu povo faz vocês virarem nossos escravos. Mas se alguém lutar contra mim e ganhar, meu povo vira seu escravo. Todos estavam com medo de Golias menos Davi. — Se você ganhar de Golias, te darei dinheiro e poderá casar com minha filha — disse o rei — Mas como você vai ganhar? — Com ajuda de Jeová...” — Jeová? — É o Deus. — Então que Jeová esteja com você. Então partiu Davi a caminho de Golias. No caminho, pegou cinco pedras e guardou no bolso...” — Pedras? Por que não uma espada? — Você já vai ver. “E o Israelita foi chegando perto de Golias e viu seu tamanho de 3 metros. —HÁ HÁ HÁ! — riu Golias — Você? Você vai me derrotar? — Não. Jeová te entregou em minha mãos. Agora eu vou derrotá-lo. 66


Então pegou seu estilingue e acertou em cheio na cabeça do gigante, que caiu duro no chão, morto.” — Que tosco! — Há há há há — riu meu pai — Isso não te passou nenhuma lição? — Hummmmmmm. — Não julgue o livro pela capa. — Mas não é uma capa. É um menino. — É que o gigante subestimou o pequeno homem. — Ahhhh. — Viu? Então não deixem que subestimem algo que não conheçam como o judaísmo. Mesmo que não tenha gostado das histórias, elas tinham morais, que acabaram me fazendo refletir e tomando uma decisão sobre o problema: fazer os moleques aprenderem sobre o judaísmo e mostrar-lhes que é uma religião tão boa quanto a deles, contando essas histórias que meu pai começou a contar frequentemente e falando sobre grandes homens judeus, como Baltazar Fernandes ou sobre Raposo Tavares, outro bandeirante importante.

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Pedro e o passeio no parque Baltazar Fernandes

Catedral de Sorocaba

Pedro, um menino de 11 anos, morava em São Paulo num bairro muito pobre com seus avós, Carlos e Maria, pois seus pais morreram quando ele tinha três anos em um acidente de carro. Ele era muito grudado com seu avô, que lhe ensinava coisas maravilhosas sobre sua cidade e às vezes até sobre o Brasil. Pedro ficava contente em passar os dias com seu avô. Ele dizia que já aprendia tudo que tinha que saber para seguir sua vida em frente com seu avô. Dona Maria às vezes ficava brava, pois Pedro e Carlos demoravam demais para chegar, eles ficavam batendo tanto papo que acabavam esquecendo de que dona Maria estava esperando por eles para o jantar. Em um domingo, no qual o dia estava lindo e eles todos estavam só vendo televisão, seu Carlos teve uma ideia genial para alegrar o dia de todos. — Vamos passear, está um dia muito lindo! — perguntou seu Carlos todo feliz. 68


Pedro e sua avó, cansados de ficar dentro de casa, aceitaram o convite, porém Maria disse que não poderiam chegar tarde em casa, pois tinham que jantar cedo para dormir cedo. No dia seguinte, ela e seu Carlos iam ter que trabalhar bem cedo e Pedro teria que estudar. Eles estavam indo para o parque brincar um pouco, tomar um sorvete e aproveitar um pouco a tarde maravilhosa que estava, até que Pedro viu um monumento enorme, mas não sabia o que era, então resolveu perguntar para seu avô. Ele disse que era a Catedral Metropolitana, derivada da segunda igreja matriz da cidade, fundada em 1771, quando chegou de Portugal a imagem de Nossa Senhora da Ponte. Depois de andar mais um pouco, Pedro encontrou uma estátua e disse que era um velho todo barbudo que se achava o gostosão: — Não, Pedro, esse é um homem muito importante, é o Baltazar Fernandes, o fundador e um dos primeiros povoadores de Sorocaba, assim como seu filho, Manuel Fernandes de Abreu, o Caiacanga, seus genros castelhanos André de Zúnega e Bartolomeu de Zúnega e Contreras, mais D. Diogo do Rego e Mendonça, D. Gabriel Ponce de León, e mais centenas, como se dizia então dos índios aprisionados. Era irmão do fundador de Itu, Domingos Fernandes, e do fundador de Parnaíba, André Fernandes. Ele nasceu em São Paulo e cresceu em Santana do Parnaíba. Ele veio fundar a cidade de Sorocaba no ano de 1654. — Nossa, vô, não sabia que uma estátua velha podia ter sido um homem tão importante quanto foi o Baltazar — disse o menino todo contente. Dona Clara estava impressionada, ela não tinha ideia de como seu marido sabia tanto das coisas. Depois de muito passear, eles resolveram ir para a casa, chegaram muito tarde, Pedro e seu Carlos já estavam esperando dona Clara brigar com eles, mas ela achou o passeio tão legal que nem se importou de terem chegado tarde em casa, foi um dia muito animado. No dia seguinte, Pedro sempre chegava na escola e contava as coisas para sua professora e seus colegas, poucas coisas eles achavam interessante, mas o menino mesmo assim falava. Mas dessa vez foi bem diferente: — Gente, ontem de tarde, eu, meu avô e minha avó fomos passear, pois estava uma tarde muito linda. Vimos a Catedral Metropolitana que fica no centro de Sorocaba, ela é um monumento histórico muito bonito, desde 1771. Foi dita Padroeira em 1º de julho de 1960 pelo Papa João XXIII. E o interessante dela é que a Nossa Senhora da Ponte é a única invocação no Brasil. Além disso, estávamos passeando mais um pouco e eu vi uma estátua

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muito estranha de um velho barbudo, mas meu avô me explicou que aquele era o Baltazar Fernandes, um homem muito importante... Depois de explicar tudo, viu que a classe começou a bater palmas para ele. Todos adoraram tudo que ele contou, então a professora resolveu fazer uma excursão, só para que todo mundo fosse ver Baltazar Fernandes e a Catedral Metropolitana. Depois que visitassem os monumentos, todos teriam que fazer um trabalho falando da Catedral ou de Baltazar. Quando a aula acabou, seu Carlos foi buscar Pedro para irem pra casa. Todos os amigos de Pedro foram pedir para que seu Carlos os levasse um dia desses para passear e lhes mostrasse e explicasse coisas novas para eles. Pedro ficou feliz em saber que todos gostaram muito do que ele tinha contado na aula.

Isabella N. Bédia Isabella Narvaes

Bédia

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“Primeiro encontro” . Quando eu era jovem, sofri um acidente de carro, então toda vez que durmo, Amemaioria esqueço das de toda minha memória saco para pessoas que merecente. lembroDeve de ser terumconhecido minha família ternão que me contar minha vidaexiste. todos os dias. Ao mesmo provavelmente saibam nem sobre que essa praça tempo, deve ser triste, pois não vou me lembrar deles sempre. A coisa que me Sempre me pergunto o porquêencontro”, de ser nessa praça eacontece não acho deixa mais agoniada é meu “primeiro que sempre no nenhum motivo lógico para isso, então decidi perguntar ao meu mesmo lugar. Todos os dias, ele acontece em um lugar que eu acho que não é “namorado”, qual eu nem seiencontro, o nomea direito. Então finalmente ele muito normal deouma pessoa ter um Praça dos Canhões. começou a me explicar a história da praça, da qual ele alega gostar muito, A maioria por sua história.das pessoas que me lembro de ter conhecido provavelmente não saiba nem que essa praça existe. Ele me disse que a história de Sorocaba começou em 1654, quando Sempre me pergunto o porquê de ser nessa e não acho nenhum Baltazar Fernandes chegou a Sorocaba, que praça em tupi significa terra motivo lógico para isso, ao que meucorta “namorado”, qual eu rasgada. Sorocaba tementão esse decidi nome perguntar pelo seu rio a cidadeo inteira. nem sei o para nomeincentivar direito. Então finalmente eledeu começou me aexplicar a história Baltazar, o povoamento, terras apara construção de da praça, daequal ele alega muito, por sua história. conventos escolas paragostar o povo. Ele meo disse que a históriapela de Sorocaba começou em 1654, quando Com tempo, Sorocaba, sua posição estratégica, passou a Baltazar Fernandes chegou a Sorocaba, que em tupi significa terra rasgada. ser um marco obrigatório para os tropeiros, que se reuniam aqui para Sorocaba tem esse pelo seu rio que corta a cidade inteira. Baltazar, para trocar, vender seu nome gado e alimentá-lo para seguir a viagem. incentivar o povoamento, deu terras para a construção de conventos e escolas Na praça, há canhões que haviam sido tomados de rebeldes e para o povo. colocados lá. Os primeiros canhões foram fundidos na primeira Com odo tempo, Sorocaba, pela suao posição a ser um siderúrgica Brasil, comemorando primeiroestratégica, aniversáriopassou da maioridade marco os tropeiros, o que se reuniam para trocar, vender seu de D. obrigatório Pedro II e para homenageando presidente daaqui província de São Paulo, gado e Tobias alimentá-lo para seguir a viagem. Rafael de Aguiar, em 1841. Napraça praça,foi háconstruída canhões que haviam sidootomados rebeldes e colocados A virada para rio, paradeque quando fossem lá. Os primeiros canhões ver foram fundidoschegando na primeira siderúrgica atacados, conseguissem o inimigo através do rio. do E deBrasil, sua comemorando primeiro aniversário da maioridade D. redor, Pedro pelo II e igreja, que se olocaliza no alto, consegue-se ver tudo de ao seu homenageando o presidente da província de São Paulo, Rafael Tobias de seu ponto estratégico e sua maior segurança. Aguiar, em 1841. Após a história acabar, agradeci a ele, mesmo sabendo que iria A praça construída virada para Após o rio,chegar para que quando esquecer dissofoi quando eu fosse dormir. em casa, fui fossem para a atacados, conseguissem ver o inimigo chegando através do rio. E de sua igreja, cama e peguei no somo, mas o que realmente me surpreendeu foi que se localiza no alto, consegue-se ver tudo ao seu redor, pelo seu ponto esquecer de tudo, menos da história que ouvira naquele dia. estratégico e sua maior segurança. Após a história acabar, agradeci a ele, mesmo sabendo que iria esquecer disso quando eu fosse dormir. Após chegar em casa, fui para a cama e peguei no sono, mas o que realmente me surpreendeu foi esquecer de tudo, menos da história que ouvira naquele dia.

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Agora já estou adulta, mas me lembro todos os dias dessa história, que foi a única que eu não esqueci depois de meu acidente. Sempre a conto para meus filhos e amigos deles, para que a história da Praça do Canhão não se apague da memória de ninguém. Agora, depois de muito tempo, entendo porque meus “primeiros encontros” eram sempre lá.

Agora já estou adulta, mas me lembro todos os dias dessa história, que foi a única que eu não esqueci depois de meu acidente. Sempre a conto para meus filhos e amigos deles, para que a história da Praça do Canhão não se apague da memória de ninguém. Agora, depois de muito tempo, entendo porque meus “primeiros encontros” eram sempre lá.

Rafael Tobias de Aguiar Foto de Gabriela Damásio

Maria Teresa Barcelos Coutinho Suguiama 72


Quem disse que vida de bandeirante é fácil

Olá, eu sou Baltazar e hoje vou contar um pouco da minha jornada até chegar aqui. Vim de muito distante, andei muitos e muitos quilômetros em busca de aventuras e de novas terras. Minha vida não foi nada fácil, lutei contra as onças, combati vários inimigos e obstáculos perigosos na selva. Para quem não sabe essa tal vida de bandeirante não é nem um pouco fácil, você tem que enfrentar muitos perigos.

Estátua de Baltazar Fernandes

Tudo começou em uma cabana lá em Salvador, onde morávamos logo que viemos para o Brasil. Era uma cabana pequenininha, porém morávamos eu e mais seis amigos. Destes seis amigos, só um está vivo até hoje. Ele mora aqui perto, em uma tal de Praça dos Tropeiros. Nós somos os melhores amigos e junto desbravamos muitas cidades, tesouros e etc. Junto com a gente, vieram centenas de indígenas que nos ajudaram a povoar esta imensa terra. Hoje Sorocaba não tem nada a ver com o que era antes de chegarmos aqui e depois de ser invadidas pelas casas e indústrias. Quando cheguei aqui, deparei-me com uma grande quantidade de mato, floresta e animais, porém logo depois, já encomendei as primeiras cargas de materiais para construir este Mosteiro bem atrás de mim. Hoje, ele é meu esconderijo nos dias de chuva, e me protege dos constantes ataques de maníacos que querem roubar um pedaço de mim, pensando que sou ouro, para eles trocarem por bebidas e drogas. Vocês não sabem o que eu passo aqui todos os dias! É uma tal de bebedeira, um povo esquisito que vem aqui para consumir drogas, sem contar o tanto de prostitutas que vêm aqui à procura de serviço. A vida aqui é muito difícil, mas o que mais me irrita não são esses problemas, tão comuns na sociedade de hoje. O que mais me irrita é a hipocrisia do governo em pensar que uma estátua de uma tonelada vai conseguir andar para chegar ao banheiro! Sem contar que o banheiro mais próximo daqui fica a meia hora! Até eu conseguir pegar transporte público, vou urinar nas calças, então isso me irrita muito. 73


Se você soubesse o quanto eu sofri para aprender a escrever essa meia dúzia de palavras... Escola, hoje em dia, é difícil de se encontrar e, quando se encontra, o preço está lá em cima, por isso eu e meu amigo estamos organizando uma bandeira até o Distrito Federal, para reclamar com a Presidente da República. Tomara que adiante alguma coisa, pois eu já consegui o meu direito ao voto. Se ninguém tomar providências, o povo vai ter que tomar. Então, vem pra rua, junte-se à gente nesta jornada e vamos mudar essa hipocrisia que chamam de governo. Hoje, finalmente, chegou o grande dia da nossa bandeira. Eu e meu amigo estamos muito entusiasmados com a viagem. Esperamos que o resultado seja favorável e que o governo tome as atitudes necessárias para um Brasil melhor. Dias depois... Chegando em Brasília, me assustei com a cidade, pois nas proximidades do Planalto Central é tudo maravilhoso, todos muito ricos. Mais distante, porém, existe uma cidade nojenta e obscura, cercada de pobreza e lixo. — Boa tarde, Vossa Excelência, hoje estou aqui com meu amigo para pedir melhorias em nossas moradias. — Espera um pouco, estou no meio do meu jogo. — Mas, Vossa Excelência, a gente está vivendo em condições deploráveis! — Já mandei esperar, seus panacas, ou querem que os mande prender? — Me desculpe o incômodo, Vossa Excelência, mas onde eu vivo é cercado de lixo, pobreza, prostituição e etc. — Tá, ok, eu vou mudar, mas só se votarem em mim nas próximas eleições. — Tudo bem, faremos tudo por um lar melhor, muito obrigada por nos receber. Um ano depois... A presidente foi reeleita, porém as mudanças pedidas não foram feitas e eu continuo aqui em minha praça. #vemprarua#Brasilmelhor#Baltazar

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Rodrigo Diana Miguel


SEU LUGAR É JUNTO AO SEU AMOR

VERDADEIRO

Catedral Metropolitana de Nossa Senhora da Ponte

Carol era uma linda mulher de vinte e oito anos, que aparentava uns vinte e dois, e tinha um namorado que se chamava Pedro. Eles estavam juntos fazia seis anos, será que alguém iria conseguir separar esse casal tão apaixonado? Pois é, essa era a pergunta que Pedro se questionava todos os dias. Ele tinha medo, muito medo de perder sua tão amada namorada. Os dias foram se passando, os dois cada dia mais apaixonados, então o homem decidiu tomar uma atitude que mudaria a vida dos dois para sempre. Carol ganhou uma caixinha dourada e quando a abriu, era uma aliança e um bilhete, onde estavam escritas as seguintes palavras: — Quer casar comigo? — Sim, eu quero — respondeu a mulher entusiasmada. 75


Os dois se beijaram e foram jantar em uma lanchonete, por conta do futuro marido, é claro. No dia seguinte, Carol foi ao shopping, trocar uma blusa que tinha ganhado de sua irmã. Passou reto em frente ao um café, mas decidiu voltar, alguém o atraiu, mas não foi o café não, era um homem alto, bem vestido, de olhos claros. A mulher sentou-se em uma mesa bem ao lado daquele lindo homem, mas não foi só ela que se interessou, ele logo já puxou assunto com ela: — Olá, você me parece familiar, qual é o seu nome? — Meu nome é Carolina, mas pode me chamar de Carol — suspirou a mulher — E você, como se chama? — Prazer, Carol, eu sou Guilherme — indagou o homem. Os dois conversaram bastante, pegaram o celular um do outro e Carol logo se esqueceu de ir trocar sua blusa. Quando a moça estava entrando no seu carro, recebeu uma mensagem, obviamente de Guilherme, a mensagem dizia: “Me encontre no restaurante La Doc às 20h.” Carol nem pensou duas vezes, foi para sua casa, se arrumou e foi até o restaurante super chique, aproveitando que o marido estava de plantão. Carolina e Guilherme tiveram um jantar bem romântico, considerando o fato de os dois terem o mesmo gosto para filmes, para música. Cada vez mais o homem surpreendia a moça, mas acho que ela nunca teve surpresa maior do que quando Guilherme se levantou no restaurante, ajoelhou, pegou sua mão e disse claramente: — Quer namorar comigo? — Sim — respondeu Carolina. Ela voltou para sua casa, mas não dormiu, ficou acordada esperando o futuro marido chegar, para ela terminar com ele. 76


— Então Pedro, eu conheci um belo moço, ele se chama Guilherme, me apaixonei, inevitavelmente, vamos ter que desmarcar o casamento, pois estou com o Gui agora — suspirou a mulher, aliviada, tirando o peso da consciência. Sem dúvidas, Carol se sentiu feliz ao falar aquelas palavras, mas Pedro... Pedro ficou arrasado, sem rumo, estava perdido. Dois meses de namoro entre Guilherme e Carol se completaram, então ele decidiu pedi-la em casamento e claro, ela aceitou. Na Catedral de Sorocaba, a maravilhosa igreja feita inspirada na arte barroca, o padre disse: — Tem alguém contra esse casamento? — Sim, eu sou contra esse casamento, só podemos ficar juntos de quem amamos de verdade. Carolina, eu te amo, você sabe que seu lugar é junto a mim — declarou Pedro, levantando-se do banco onde estivera sentado desde o início da cerimônia. Era verdade, Carol se deixara levar pela aparência e a inteligência de Guilherme, mas seu lugar era junto a Pedro. Passaram-se cinco meses e Pedro e Carolina já estavam casados, vivendo muito bem e com uma surpresa: Carol estava grávida. Eles formaram uma linda família, todos muito felizes e assim, Carolina nunca mais se deixou levar por aparência.

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Júlia Mayumi Sagawa


Sorte dupla Eu estava em casa, quando vi um portaretratos com uma foto de um tipo de uma estátua de um homem com um chapéu. Achei meio estranho aquilo estar na minha sala, afinal, qual a relação daquele homem comigo? Fui perguntar para o meu pai quem que era e o porquê de ter uma foto dele ali. Meu pai me disse que ele se chamava Baltazar Fernandes, que foi ele quem fundou Sorocaba: — Baltazar chegou à cidade em 1654, ele era um bandeirante nascido em São Paulo. Assim que Baltazar mudou-se para Sorocaba, mandou construir uma igreja, em honra de Nossa Senhora da Ponte. Para incentivar a povoação, ele doou algumas coisas à igreja. A cidade só é como é por causa dele. — Ahh, agora eu sei quem ele é, já ouvi falar dele, só não entendi por que tem uma foto da estátua dele em um porta-retratos na nossa sala! — exclamei, enquanto pegava a foto. Baltazar Fernandes

— Longa história... — respondeu meu pai, enquanto olhava para a foto. — Me conta, pai, hoje é domingo, temos tempo — pedi curioso.

Ele só me olhou e fez que sim com a cabeça, pegou o porta-retratos da minha mão e foi falar com a minha mãe, não sei bem o que eles falaram, mas assim que desceu as escadas de volta para a sala, me falou que sairíamos, então eu disse: — Mas você ainda não me contou... — Eu vou te levar lá — explicou. Então eu concordei e fomos embora. No caminho, ele foi me contando: — Quando eu tinha 14 anos, seu avô me levou na praça onde estou te levando, que é onde está o Baltazar, e lá naquela praça tinha uma menina com a mãe, elas também tinham ido para fazer isso. A mãe, que se chamava Marilene, era uma amiga de meu pai, então eles começaram a conversar. Como não tinha mais o que fazer, eu e a garota também começamos a conversar. Primeiramente falamos daquele lugar, depois fomos nos conhecendo melhor, perguntei o nome dela, ela perguntou o meu e assim foi. John (chamo meu pai assim às vezes) começou a procurar um lugar para estacionar e parou de falar. — Continue! — resmunguei curioso. 78


Fez um sinal para eu esperar, então achei melhor obedecê-lo. Quando ele finalmente achou um lugar, parou o carro, descemos e fomos andando em direção ao fundador da nossa cidade. Lá na frente, ele disse: — A partir da hora em que nos encontramos, andamos juntos, e eu acabei ficando apaixonado pela garota. Ela tinha acabado de mudar pra cidade e ia estudar na mesma escola que eu. No momento em que ela disse isso, eu pensei: “a partir de agora, meus dias serão muito mais interessantes”, e era verdade, eu não só passei a ter diversão, como passei a ir melhor nas provas. Estudávamos juntos, fazíamos trabalhos juntos, íamos ao shopping juntos, já deve ter chegado a conclusão de que viramos namorados. Namoramos até o final do ensino médio, foi muito difícil me separar dela, mas isso tinha que ser feito, pois cada um faria uma faculdade, isso era inevitável. Fizemos um combinado, estaríamos livres para fazer o que quiséssemos durante a faculdade, ou seja, havíamos terminado, continuamos nos encontrando no primeiro ano, mas achamos melhor diminuir a frequência desses encontros, caso contrário, nenhum dos dois iria se livrar, e assim foi. — Você parou de gostar dela fácil? Vocês namoraram por quanto tempo? Você a amava mesmo? E o que aconteceu depois? Vocês não se viram mesmo, nenhuma vez? Pai, isso não justifica a foto, a mamãe não fica brava? – interroguei, cada vez mais interessado no assunto, porém, não pude deixar de reparar que ali a praça tinha uma linda menina, e também não pude deixar de pensar como seria bom se aquela mãe fosse uma amiga do meu pai, e tudo aquilo acontecesse. Parei de viajar um pouco e voltei a prestar atenção no meu pai, que ainda não tinha respondido minhas perguntas... — Pai! — insisti. — Claro que não, eu continuei gostando dela, filho, nunca gostei de ninguém como ela e nunca vou gostar... Naquele momento, comecei a pensar na minha mãe, será que aquilo a incluía? Coitada, casada com um homem que é apaixonado por outra mulher. Ele deve ter lido meus pensamentos, pois continuou: — Filho, quando nossas faculdades acabaram, nós voltamos a nos ver, e voltamos a namorar, ignorando o fato da faculdade, aliás aquilo serviu para fortalecer a nossa relação. Não aguentei, tive que perguntar: — Vocês continuam se vendo? Ele deu risada e respondeu: — Claro que sim, todos os dias. Cheguei a me assustar com a resposta, como assim todo dia? E a mamãe? Nesse momento que comecei a pensar na possibilidade de aquela mulher ser a minha mãe, aí sim ia ser uma grande história de amor, muito melhor assim do que se ele estivesse traindo minha mãe. Tomei coragem: — Pai, essa mulher é a minha mãe, não é? — Lógico que é – ele até deu risada, deve ter achaco ridículo esse meu pensamento de traição, aquilo me deu um alívio.

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— Nossa, pai, que sorte a de vocês, esse lugar realmente é muito especial, o começo de tudo — eu passei a ficar tão entretido com aquilo que até me esqueci da menina. Para minha surpresa, quando olhei para frente, quem estava lá? Exatamente, a linda garota de olhos claros falando comigo: — Desculpa incomodar, acabei de me mudar para Sorocaba, você sabe se tem uma sorveteria aqui perto? Não aguentei, eu não podia perder essa oportunidade, então exclamei com alegria: — Sei sim, se vocês quiserem, nós podemos acompanhar vocês até lá, sabe para não se perderem no caminho, nós já íamos tomar sorvete mesmo, não é pai? Nesse momento, torci para o meu pai entender o recado, e ele entendeu: — Sim, tem uma aqui pertinho, vamos? E se vocês quiserem, meu filho pode explicar algumas coisinhas sobre essa praça para vocês, e espero que um dia ela seja tão importante para vocês quanto para nós, não é mesmo, filhão? — Com certeza! No caminho para a sorveteria, aproveitei para descobrir o nome dela e a escola, para ver se eu teria a mesma sorte que meu pai. Fiquei muito feliz com a resposta, ela iria estudar na minha escola. Acho que no fim, mesmo a história dos meus pais sendo impressionante, eu tinha uma chance de superá-la, lógico, se ela quisesse participar da minha história... Aí sim seria sorte, uma sorte que seria “herança”, seria uma sorte dupla. E foi. Hoje completamos um ano, espero poder contar a nossa história aos nossos filhos, quando eles me perguntarem por que tem um quadro com o Baltazar Fernandes na sala, porque, se a nossa história acontecer do jeito que estou planejando, ficaremos juntos para sempre.

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BEATRIZ FUSCO MARTINS


Suspense no centro da cidade de Sorocaba Baltazar Fernandes

Um dia, acordo no hospital e vejo meu pai, minha mãe e meu irmão me olhando preocupadamente, então resolvi interroga-los: — Por que todos vocês estão aqui me olhando? Minha mãe respondeu: — Porque te encontraram caído ontem, no meio da praça onde fica a estátua de Baltazar Fernandes, no centro da cidade de Sorocaba. Eu não me lembrava de nada, então questionei-os: — Caído? Por que eu estava caído? Meu pai me respondeu provavelmente eu tinha desmaiado.

que

Logo depois que meu pai me respondeu, chegou uma enfermeira que perguntou: — Está tudo bem? E eu respondi que sim. A enfermeira saiu e em instantes entrou o médico Dr. Leonardo, e falou que tinha uma notícia boa para me dar. E eu ansioso questionei: — Qual é a notícia boa? O Dr. Leonardo exclamou: — Você já pode ir para sua casa, você já se recuperou bem e não era nada grave.

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No sábado, às 21h, saí do hospital e fui para casa. Lá eu encontrei um ambiente bom, tudo tranquilo, limpo, organizado, e a primeira coisa que eu fiz foi dormir. No domingo, acordei, tomei café, escovei meus dentes, troquei de roupa e propus para minha mãe que saíssemos para almoçar naquela churrascaria que fica no centro da cidade. — Veja com seu pai, por mim tudo bem — disse ela. E lá fui eu perguntar a mesma coisa para meu pai. Ele respondeu que podíamos ir. Paramos em um farol, na frente da estátua de Baltazar Fernandes e eu expliquei para minha família quem era ele: — Baltazar Fernandes era filho de um fidalgo português, Manoel Fernandes Ramos, e de Suzane Dias. Baltazar nasceu aproximadamente em 1580, em São Paulo. Veio para São Paulo e fixou-se com sua segunda esposa, Isabel Proença, seus filhos, genros, parentes e cerca de 400 escravos. Baltazar fazia parte da primeira câmara municipal de Sorocaba. Morreu aproximadamente em 1667 e seu corpo foi sepultado junto ao altar principal da sua capela, hoje Sant’ana, do Mosteiro. Meu irmão ficou surpreendido. Fui me lembrando do que tinha acontecido. Me lembrei de que quando eu estava observando a estátua de Baltazar Fernandes, um moço me pediu dinheiro, e eu falei que não tinha dinheiro, então ele me deu um soco na cabeça e roubou minha carteira, que caiu no chão, foi por isso que desmaiei.

Guilherme Queiroz Barberato

Webgrafia: http://www.mubevirtual.com.br/pt_br?Dados&area=ver&id=258 Data de acesso: 27/05/2014

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UM FINAL DE AMOR Monumento ao Tropeiro

Certo dia, uma menina de 11 anos de idade chamada Fernanda, que havia se mudado para Sorocaba há dois meses, quis conhecer um pouco mais sobre sua nova cidade. Ela passou por vários pontos turísticos e o que ela mais se interessou foi o Monumento aos Tropeiros. Encantada com a beleza da estátua, ela começou a tentar subir nela. Enquanto subia, muitas pessoas ficaram olhando, provavelmente se perguntando o que ela estava fazendo. Até que em uma determinada hora, um menino que estava de passagem pela rua a viu e foi direto falar com ela. Ao chegar mais perto de Fernanda, ficou encantado com sua beleza, então ele gritou: — Menina, desça já daí! — Espera, garoto, estou quase conseguindo — retrucou Fernanda. — Você vai se machucar se não descer. Enquanto o menino falava com Fernanda, ela começou a se desequilibrar. Então, após quinze minutos de discussão dos dois, Fernanda caiu da estátua, batendo a cabeça muito forte. Depois disso, o menino ligou para ambulância, dizendo tudo o que havia acontecido. Quando a ambulância chegou, o garoto fugiu... No dia seguinte, Fernanda estava no hospital com 12 pontos na cabeça. O garoto misterioso, que até esse momento não havia mencionado seu nome, foi visita-la. Quando entrou em seu quarto no hospital, viu a pobre garotinha apagada. Ficou sentado junto a ela em sua cama até ela acordar. Depois que Fernanda acordou, ele se apresentou para ela. Seu nome era Guilherme. Os dois começaram a conversar, a se conhecer. Até que uma hora, Fernanda perguntou qual era o motivo de estar no hospital, pois não se lembrava de nada. 83


Guilherme foi contando para ela tudo que havia acontecido, que ela subira na estátua do Tropeiro e tudo mais, mas que ele não sabia o motivo de ela estar fazendo isso. Com uma cara curiosa, Fernanda perguntou: — O que os tropeiros eram e o que eles faziam? — Bom, tropeiro é o nome dado aos condutores de tropas, eram viajantes, desbravadores de trilhas e vendedores de mercadorias que vinham do sul do país. Eles também compravam tropas de animais para revende-las. Um dos marcos iniciais do tropeirismo foi quando a Coroa Portuguesa instalou, em 1695, na Vila de Taubaté, a Casa de Fundição de Taubaté, também chamada de Oficina Real dos Quintos. A partir de então, todo o ouro extraído das Minas Gerais deveria ser levado a essa Vila e de lá seguia para o porto de Parati, de onde era encaminhado para o reino, via cidade do Rio de Janeiro. — Nossa, incrível! — exclamou Fernanda. — É mesmo, não é? — Com certeza. Os dois continuaram a discutir sobre esse assunto por horas e horas. Guilherme visitou-a todos os dias, durante uma semana. Certo dia, Fernanda ganhou alta e saiu do hospital. Na porta de seu quarto, havia um buquê de rosas e um cartão que dizia “Quer sair para jantar comigo?” Ela leu isso em voz alta e do meio do corredor do hospital, Guilherme saiu e veio correndo dar um abraço nela. Ela aceitou seu pedido. Eles foram jantar em um restaurante super chique e, no final do jantar, Guilherme arrancou um beijo de Fernanda e a pediu em namoro. Os dois começaram a namorar e ficaram felizes para sempre.

Foto: Gabriela Damasio

Ana Laura Pereira Cosiello

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Uma história de heróis

Valter era um homem de 48 anos e tinha uma filha de 10 anos chamada Luana. Certo dia, Luana pediu para que seu pai lhe contasse uma história para que ela pudesse dormir. Animado com o pedido, Valter exclamou: — É claro que sim, minha filha! Quando Valter foi lhe contar a história, ele olhou no relógio e triste reclamou:

— Luana, não posso te contar a história agora, já são onze horas e eu tenho que acordar às cinco amanhã para trabalhar. Luana, também triste, olhou nos olhos do pai, deu-lhe um beijo de boa noite, virou-se e dormiu. No dia seguinte, com o coração ferido por não ter contado a história para sua filha, Valter resolveu escrever uma carta: Querida Luana,

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Hoje de manhã acordei cedo, pois me esqueci de desligar o despertador que me acordou às três da manhã, então resolvi te contar uma história para “acordar”, e ela é assim... Era uma vez uma princesa chamada Vitória, ela tinha cinco anos, adorava ler e morava em um castelo chamado Reino dos Canhões. O castelo tinha esse nome em homenagem ao avô da princesa, que se chamava Brigadeiro Tobias. Brigadeiro Tobias foi o presidente de São Paulo durante a Revolução Liberal em 1842 e foi homenageado com a Praça dos Canhões. O nome foi escolhido por conta dos canhões que foram fundidos na primeira siderúrgica do país, a Real Fábrica de Ipanema. Um dia, o rei Christopher V entrou no quarto da filha e sutilmente desabafou: — Minha querida filha Vitória, você já tem doze anos e precisa de um pretendente para se casar. Como seu pai, dou—lhe liberdade de escolher um pretendente a seu gosto, porém eu e o Conselho vamos avalia-lo para vermos se ele é bom o suficiente para comandar o Reino dos Canhões.

Xavier era um menino pobre que morava em uma choupana próxima ao castelo. Vitória já o observava fazia tempo e, mesmo ele sendo pobre, a princesa sabia que ele tinha um coração puro e que ele havia estudado por um tempo, quando fora rico. Animada com seu pretendente, Vitória lhe fez o pedido e ele aceitou. O rei e o Conselho concordaram com a ideia, pois mesmo tendo poucos estudos, Xavier era um excelente pensador. Seu pai sabia tudo sobre guerra e lhe havia ensinado várias táticas sobre derrotar o inimigo. O casamento de Vitória e Xavier foi na Praça dos Canhões. Foi uma festa linda, todos do reino compareceram, desde os mais pobres até os mais ricos. Vitória e Xavier tiveram um casal de gêmeos e, durante seu reinado, o mais longo de todos os tempos, transformaram o reino com muitas conquistas. Logo após ter lido a carta, Luana deixou cair uma foto da Praça dos Canhões, onde estavam Vitória e Xavier se casando. Brigadeiro Tobias havia sido o bisavô de Valter, então uma lágrima escorreu por seu rosto enquanto sussurrou: — Minha família é de heróis.

Vitória concordou com a ideia e disse que já tinha um pretendente em mente. Depois de suas aulas, foi à Praça dos Canhões e ficou observando os meninos mais ricos de todo o reino jogarem pólo. Logo que acabou a partida, Vitória se aproximou de Xavier, um garoto lindo de olhos verdes, pele clara e cabelos cor de mel.

Fabilli Fernanda Silva

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Uma tarde de descoberta

Catedral de Sorocaba

Em uma terça-feira, às quatro horas da tarde, Carlota estava na sua casa, com seu pai e sua mãe, eles estavam recordando dos seus momentos bons, vendo seus álbuns de fotos antigos. Estavam todos muito felizes, até que Carlota parou de mexer e resolveu ir para o seu quarto mexer no seu computador. Quando ela entrou em um site, apareceu a foto de um homem barbudo todo estranho:

— Mãe, pai, venham aqui, por favor! Olha o que eu achei! — gritou Carlota assustada. O pai e a mãe saíram correndo para ver o que era. — Calma, filha, esse aqui é o Baltazar Fernandes. No ano de 1654, ele se mudou para a região onde hoje se situa Sorocaba e ali mandou construir a primeira igreja, em honra de Nossa Senhora da Ponte. Para incentivar a povoação, Baltazar Fernandes doou à igreja uma grande gleba de terra, oferecida aos monges beneditinos de Santana do Parnaíba, com a condição de que construíssem um mosteiro e abrissem uma escola. E assim foi feito: os monges construíram o mosteiro e cuidaram da instrução dos moradores do povoado. Em 1661, estando o Governador Salvador Correa de Sá e Benevides em São Paulo, Baltazar Fernandes requereu-lhe a elevação de Sorocaba à condição de Vila. A elevação foi requerida dia dois de março e dia três de março foi concedida por despacho do governador. Assim, o Pelourinho, que se encontrava na localidade de Itavuvu (hoje distrito de Sorocaba), foi transferido para a nova Vila. Carlota ficou impressionada de ver como sua mãe sabia tanto sobre um homem velho e barbudo. — Mãe, como você sabe tanto dele? — perguntou Carlota. 87


— Filha, ele foi uma pessoa muito importante — explicou a mãe. — Mas você estava viva quando aconteceu tudo isso?? — Não, filha, mas eu aprendi na escola, logo, logo, você também vai aprender sobre ele — respondeu a mãe, contente em ver que sua filha estava interessada na história de sua cidade. A mãe e o pai então voltaram para a sala ver as fotos velhas que eles adoravam. Até que eles ouviram Carlota chamar de novo: — Pai, mãe, venham aqui de novo, por favor — gritou Carlota. A mãe e o pai perguntaram o que era daquela vez, a menina mostrou uma foto de uma igreja e perguntou a seus pais se ela também era algo muito importante de nossa cidade: — Ela é sim, filha, essa aí é a Catedral Metropolitana de Sorocaba, aquela que Baltazar mandou construir em honra de Nossa Senhora da Ponte. A Catedral Metropolitana de Sorocaba foi construída em 1771, ano em que a imagem de Nossa Senhora da Ponte chegou de Portugal. Padroeira da cidade e da Arquidiocese de Sorocaba, Nossa Senhora da Ponte é invocação única no Brasil, ou seja, nenhuma outra cidade tem a santa como padroeira — explicou o pai para sua filha. Carlota ficou de boca aberta, e acabou percebendo que na sua cidade há histórias muito maravilhosas e monumentos que podem ser visitados.

Caio Freire Seabra Caio Seabra

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