Fotografia: Gabriela Dias Damasio de Oliveira
Por trás daquela foto
A
partir da leitura do livro "Por trás daquela foto", nasce um projeto interdisciplinar. Em por trás daquela foto, um time de oito autores brasileiros dedica-se a ler as linhas e entrelinhas de fotografias que eles mesmos escolheram, e a partir delas contam a história do país, fazem relatos pessoais e até enveredam pela ficção. Partindo da ideia que a fotografia desperta memórias, provoca paixões, registra fatos, conta, explica, revela, constrói e desconstrói surge o projeto com o objetivo de trabalhar com fotos digitais e provocar nos alunos novos olhares e a produção de textos a partir de imagens coletadas e selecionadas no estudo do meio “City tour em Sorocaba”, atividade das disciplinas de História e Geografia. Nesse estudo do meio, os alunos tiraram fotos dos lugares visitados para, mais tarde, produzir o livro: "Por trás daquela foto: um olhar sobre Sorocaba".
A Casinha
A fonte do amor A Fuga do Amor A GRANDE HISTÓRIA A Maldição de Baltazar Fernandes A Rosa do Amor Assassinato na praça Ato Oculto Baltazar e Iara Baltazar e Meredith CARLÃO E SOROCABA Construção inesquecível Fora da igreja Flores Gaya e o fósforo
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Joaquim o tropeiro
Missão Cumprida Na mente de um bêbado
Não Passou De Um Sonho Nunca Desista
O Anjo da Guarda O ASSASSINO FRACASSADO
O escritor solitário O Herdeiro do Diabo
O Jardim O Maravilhoso Sonho de Ana
O monstro do Jardim Botânico O PERFUME DE UM AMOR
Os tão sonhados quinze anos Para sempre
Para sempre Um Lago
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Casinha no Jardim Bot창nico de Sorocaba
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No dia 21 de agosto de 1972, no Jardim Botânico de Sorocaba, João da Silva Ribeiro foi preso em uma casinha onde escondia suas armas para o tráfico. Tudo começou em um dia chuvoso, quando a polícia tentava achar vestígios de onde João morava. Por volta das 13h49, o delegado recebeu uma ligação que falava a respeito de um homem que estava assaltando uma joalheria no centro de Sorocaba. Mas o que o delegado não sabia é que isso era só uma distração para que João pudesse fugir para o Paraguai para buscar mais armas. João entrou no avião normalmente. Chegando a Assunção, o homem alugou um quarto de hotel e sussurrou lentamente no ouvido de sua mulher Gisele: — Fique aqui e não saia do quarto por nada, porque a polícia brasileira está atrás de nós. Então o homem pegou as armas e voltou para o hotel. Os dois pegaram um táxi, voltaram para o Brasil com uma mala cheia de armas de fogo e mataram o motorista para não deixar pistas. Repassaram as armas para grandes bandidos que começaram a roubar tudo da cidade. O delegado, indignado com a situação de sua cidade, começou a fazer patrulhas noturnas para prender o traficante João. Passado um mês, o delegado recebeu outra ligação anônima em que um homem berrou com medo: — Eu vi o João, ele estava no centro comprando um tênis. Logo o delegado Fabio chamou suas viaturas para cercarem o local onde João estava.
A perícia viu que havia caído, no banco da loja Danderi, um papel onde estava escrito claramente: “Venha e me traga armas logo ou eu queimo a sua casinha nojenta onde você esconde suas armas. Assinado Leonardo.” Então o delegado Fabio chamou seu melhor policial, o Sr. André, para ir ver a tal casinha e o bandido Leonardo. O Sr. André checou todas as pessoas que tinham passagem pela polícia e achou Leonardo nos arquivos. Já o delegado foi até a casinha que o papel mencionava. André logo foi procurar vestígios de Leonardo. Achou-o em sua casa e prendeu-o por volta das 15h31min. O delegado logo pensou na casinha do Jardim Botânico de Sorocaba, pois o local estava abandonado. Chegando lá, o delegado entrou na casinha para revistar e achou João arrumando as malas para ir embora. O delegado Fabio deu um grito assustador: — Você está preso em nome da lei 18.6 do ART-9 da Constituição Brasileira! Então João retrucou com clareza: — Mas o senhor não tem provas contra mim! O delegado afirmou rapidamente: — Eu não iria prender você sem provas, não é? Eu tenho este bilhete que caiu do seu bolso e as armas apreendidas em seu quarto. E essa foi a história de João da Silva Ribeiro, que morreu depois de três meses, preso na penitenciária de Sorocaba. 5
A fonte do amor
Jardim Botânico de Sorocaba
G
abriella, uma garota de doze anos, foi com a sua escola visitar o Jardim Botânico de Sorocaba. Quando chegaram lá, uma monitora apresentou o local para os alunos e deixou-os livres para explorar o lugar. A menina foi direto ao Palacete de Cristal, ele era bem bonito: grandes vidros, vários tipos de biomas, uma fonte localizada no
centro, com passarelas no andar superior, um elevador para pessoas que não podem subir as escadas e uma fonte localizada perto das escadas. Perto dessa fonte, havia uma senhora que estava admirando-a. Quando Gabi se aproximou e ficou ao lado da senhora, ela perguntou: — A senhorita conhece a história desta fonte? — Infelizmente, não. Mas gostaria — respondeu-lhe.
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— Pois então, vou te contar. Se você tiver tempo para ouvir uma velha como eu, é claro! — argumentou a senhora, com uma vontade imensa de contar—lhe sobre a fonte. — Eu adoraria. — Reza a lenda que o Jardim foi construído sobre uma antiga nascente de águas mágicas... — Como assim, mágicas? — Exatamente, minha filha! Oitenta anos atrás, uma jovem moça, assim como você, chamada Juliana, vivia numa vila perto daqui. Um belo dia estava indo à cidade e ouviu um barulho de águas que nunca ouvira antes, nas tantas vezes que passara por lá. Curiosa como era, decidiu procurar de onde vinha aquele som de águas que batiam nas rochas e provocavam um barulho muito agradável. Afastou algumas plantas e logo viu o riacho de águas cristalinas e geladas. Com o calor que estava fazendo, bebeu um pouco, sem saber o que aquelas águas iriam fazer com ela. — Desculpe interromper, mas como exatamente as águas funcionavam? — Somente as pessoas de um coração puro e bondoso conseguem escutar o ruído das águas e chegar até o riacho. Se outra pessoa que também bebeu da água gostar de você e você a vir, vão se apaixonar perdidamente um
pelo outro e ninguém conseguirá destruir o amor de vocês. — Ah... Entendi! — Continuando... Ela foi até a cidade, comprou os alimentos que sua mãe pedira e voltou ao vilarejo. Já estava anoitecendo e ia ocorrer um baile para a festa de aniversário de sua melhor amiga, Antonieta. Correu se aprontar e ficou mais bonita do que já era. Acho que me esqueci de falar que Juliana era a moça mais bonita do reino e da sua vila. Todos os jovens príncipes queriam-na como esposa, só que ela os recusava, pois queria se casar com alguém que realmente a amasse e a quem ela amasse também. Chegando ao baile, todos os príncipes do reino estavam lá e pararam para olhá-la, mas ela só tinha olhos para Augusto, um camponês muito bonito, e só tinha olhos para ela. Eles se apaixonaram instantaneamente! — Só um minutinho... Então ele bebeu a água do riacho e ele gostava dela? Porque é o único jeito de eles se apaixonarem. — Você é realmente muito esperta para uma garota de apenas doze anos. — Obrigada. E o que aconteceu? Eles ficaram juntos? Não se gostaram? Estou muito curiosa!! — Eles dançaram juntos e conversaram durante o baile inteiro, tanto que a Antonieta até ficou brava com a Juliana por não passar 7
nenhum momento com ela em seu aniversário. No dia seguinte, ele foi até a casa dela e pediu a permissão ao seu pai, Marcus, para namorá-la. Seu pai era um dos chefes da vila, mas não ligava para as classes sociais, portanto, deu a permissão. Depois de alguns meses, ele pediu a mão dela em casamento, novamente aos pais, como costume da época, e eles concordaram. Tiveram um casamento lindo ao pôr-do-sol e três filhos. — Que história maravilhosa! Muito obrigada por me contar. Esqueci-me de perguntar, qual é o nome da senhora?
Isabella Reis Martin
— Meu nome é Antonieta. — Assim como a melhor amiga da Juliana? — Sua escola está indo embora! Tchau, minha querida! — Melhor eu ir, tchau!
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Praça Largo do São Bento Sorocaba-SP
— “E lá estávamos nós, sem ter para onde ir, perdidos no meio do nada. Onde estou? O que faço? Essas perguntas apenas se repetiam em minha cabeça, sob aquele ardente sol de verão. E em meio àquele silêncio, as palavras perdiam-se em minha mente, meu subconsciente ocupado com meus loucos pensamentos, eu estava lá, e mesmo assim, não estava. Apenas não sabia o que fazer, eu e mais quatro homens, em algum lugar desconhecido. Quando, de repente, me veio à cabeça: se não se sabe onde está, crie um novo lugar. E foi assim que eu, Baltazar Fernandes, fundei a cidade de Sorocaba.” — leu a professora, em voz alta, para a classe — Esse, crianças, é um dos trechos do diário do nosso grande capitão, fundador de Sorocaba, Baltazar Fernandes.
— Professora, esse tal de Baltazar Fernandes era bonito? — perguntou Júlia, interessada. — Não posso lhe dizer, Júlia, talvez para a época ele fosse, mas nosso padrão de beleza mudou muito nos últimos anos — respondeu a professora, pegando o diário para continuar a leitura. — Professora, antes de continuar, será que pode me explicar algo? Eu gostaria de saber se Baltazar foi casado ou teve alguma namorada. Ele teve? — indagou João. — Sim, João, Baltazar teve várias namoradas, muito bonitas, por sinal. Pelo que se sabe, foram apenas duas esposas, Maria e Isabel. — Baltazar era pegador? — gritou a sala em coro, já muito agitada. 9
— Crianças, deixem de bobagem, vamos continuar com a leitura — afirmou a professora. Ao dizer essas palavras, o sinal tocou, livrando as crianças do sofrimento da aula de literatura. Assim, cada uma foi para a sua casa, de carro, ou a pé. Pedro e Letícia, amigos, foram andando até suas casas, que eram uma do lado da outra. Durante o caminho, os dois amigos foram conversando. — Pedro, será que algum dia eu irei encontrar o amor? Assim como Baltazar? Casar-me, ou ao menos, ter um namorado? — perguntou Letícia, um pouco chateada. — Ah, nunca se sabe… Talvez o amor da sua vida esteja exatamente do seu lado, mas você não é capaz de perceber isso — explicou Pedro, com ar de apaixonado. Ao chegar à casa de Letícia, Pedro se despediu da amiga, e foi para sua casa, pensando em como fazer Letícia perceber que ele era apaixonado por ela, sem estragar a amizade. Seu coração dizia para contar a ela sobre seu amor, já seu cérebro dizia que iria estragar tudo. Pedro, confuso, chegou em casa, deitou e dormiu, acordando apenas com o barulho da mensagem enviada por Letícia. A mensagem dizia “ESTOU NAMORANDO”. E naquele momento, exatamente naquele momento, Pedro perdeu a cabeça, já não sabia mais de nada. O que um garoto faz quando se apaixona por uma garota que está
apaixonada por outro? Pedro, sem pensar duas vezes, pegou suas coisas, deixou um bilhete para sua mãe, e partiu só Deus sabe para onde. Letícia, na manhã do dia seguinte, bateu na porta de Pedro, esperando o amigo para ir à escola. Ao invés disso, foi recebida pela mãe do garoto, que, num gesto desesperado, a puxou para dentro da casa, e começou a falar. — Meu filho! Meu filho fugiu! — gritava a mãe, desesperada. — Acalme-se, aconteceu?
o
que
— Meu filho fugiu de casa! Deixou apenas um bilhete e desapareceu! — E o que dizia esse tal bilhete? — Leia você mesma, é para você. Letícia, assustada, pegou o bilhete da mão da mãe de Pedro, e começou a ler. Quando terminou, em apenas um gesto, Letícia levantou-se do sofá e foi correndo para sua casa, sem nem cumprimentar a mãe de Pedro. Chegando em sua casa, pegou suas coisas, despediu-se de seus pais, e foi correndo para a estação. Letícia sabia que o único lugar no mundo em que Pedro estaria era lá. — Pedro! O que está fazendo? — perguntou Letícia, ao avistar o amigo. — Estou fugindo, Letícia. Fugindo de casa. Vou para bem 10
longe. Qual a razão de viver, quando a minha vida não passa apenas de uma grande mentira? Você é a única que ainda não percebeu! E eu não sei mais o que fazer para que descubra — declarou Pedro. — Descubra o quê? Já não estou entendendo mais nada! — disse Letícia. — Descubra que sou apaixonado por você, sua boba! Acha que me importo tanto com você por nada? Acha que passo todas as noites de minha vida acordado, pensado em você, por nada? Acha que fugi no mesmo momento em que recebi uma mensagem sua, dizendo que estava namorando, por nada? Eu te amo, Letícia! Eu sou completamente, perdidamente e loucamente apaixonado por você! Mas, até agora, você não percebeu isso! — admitiu Pedro, quase chorando. — Meu Deus, Pedro! Por que nunca me disse isso? — indagou Letícia, indignada. — Eu simplesmente não achava palavras para lhe contar isso, não queria acabar com a nossa amizade… — explicou Pedro. — Bom, também preciso lhe confessar algo… Sobre aquela mensagem que te mandei mais cedo. Era mentira. Eu não estou namorando, só queria um pouco da sua atenção. Não achei que fosse fugir. Desculpe-me... — confessou Letícia.
— Você não está namorando? — perguntou Pedro, entusiasmado. — Não, queria apenas causar ciúmes, para ver se você se importaria comigo… Acho que deu certo — falou Letícia, deixando escapar uma leve risada. — Se deu certo? Eu estava fugindo de casa por você! Não conseguiria aguentar o sofrimento de te ver com outro alguém. Nunca mais faça isso comigo, entendeu? Nunca! Promete-me? — perguntou Pedro. — Sim, Pedro, eu te prometo! E, novamente, me desculpe. — disse Letícia. — Eu te desculpo… Mas, e agora? O que fazemos? — indagou Pedro. — Agora é a hora que você me beija — explicou Letícia, puxando o menino para perto. E então, ocorreu o tão esperado beijo. Pedro, naquele exato momento, sabia que havia encontrado a garota de seus sonhos, e Letícia, o seu grande amor. Os dois voltaram para casa juntos, explicaram tudo aos seus pais e assumiram o namoro. No dia seguinte, na escola, todos já sabiam da grande novidade, um novo casal havia se formado e um eterno amor nascido.
Maria Luiza Camargo 11
A GRANDE HISTÓRIA
Mosteiro São Bento - Baltazar Fernandes
John era apaixonado pela história de Baltazar Fernandes. Um dia, cansado de ver o neto Gabriel de quatro anos, dentro de casa, jogando videogames, decidiu levá-lo ao Mosteiro de São Bento, onde havia uma estátua de Baltazar. Chegando ao Mosteiro, o garoto ficou encantado com o homem, com sua roupa, com a estátua.
— Interessante, vovô, mas quem foi esse Baltazar?
— perguntou
Gabriel. 12
— Você jura mesmo que não sabe quem foi esse grande homem, Gabriel? – indagou o velho. — Não... — sussurrou envergonhado o menino. — Baltazar Fernandes era um capitão. — Mas o que é um capitão, vovô? — questionou o neto. — Capitão é como se fosse um chefe. — E o que seria um chefe? — Chefe é a pessoa que comanda alguma coisa. — Tipo, um comandante de tropas, igual tem no meu jogo de videogame? — perguntou Gabriel. — Sim, é mais ou menos isso. Baltazar Fernandes comandava a tropa que fundou a cidade de Sorocaba — afirmou o avô. — Ah, agora eu entendi! — exclamou com curiosidade o garoto — Sorocaba? Não é a cidade em que moramos? — continuou o neto. — Sim, é isso mesmo — concluiu John. — Mas quando isso aconteceu? Faz muito tempo? — Há muito e muito tempo, meu querido! Lá em 1654, Baltazar cavalgava pelos campos na companhia de seus quatro genros em busca de aventuras. — Aventuras? Eu adoro aventuras! E esses campos, como eram? — Os campos de que eu estou falando eram estradas rodeadas de grandes árvores. Você sabia que quando ele tinha sua idade morava em Santana do Parnaíba? — continuou John. — Ah, que legal vovô! Essa roupa dele é muito diferente da nossa. Por quê? – perguntou interessado o menino. — Porque era a roupa da época, Gabriel. Baltazar se defendia com um instrumento também. — Qual instrumento? Uma arma igual a do meu jogo? — Isso mesmo, meu neto, e com uma espada também, igualzinha essa aí da estátua. — Que legal, vovô. Esse Baltazar foi um homem muito importante. 13
A partir daquele dia, John passou a contar muitas e muitas outras histórias para seu neto. Depois de muitos anos, Gabriel transcreveu todas as histórias que seu avô John lhe contou quando era criança e publicou. O livro publicado foi um sucesso e Gabriel ficou famoso.
Letícia Lima de Araújo 14
A Maldição de Baltazar Fernandes
Muito tempo atrás, havia um nobre chamado Baltazar Fernandes, que possuía muito poder e uma linda família. Certo dia, estava cavalgando com um de seus nobres cavaleiros, Johnatan, um jovem forte que estava sempre a disposição de seu rei. Durante a viagem, o nobre percebeu algo muito estranho em um gato preto. O animal o seguiu durante um curto período de tempo e depois começou a miar de forma agressiva, mas Baltazar ignorou o fato e foi embora. Na verdade, esse gato era uma bruxa disfarçada que estava observando-o fazia tempo. Quando chegaram ao Lago São José, algo muito estranho aconteceu: o céu começou a ficar escuro e cheio de nuvens pretas. Começou a chover fortemente, a água do lago começou a ficar verde e, em seguida, começou a borbulhar. O rei e Johnatan ficaram impressionados com o estranho acontecimento, mas antes que pudessem falar alguma palavra, uma terrível mulher saiu da água e começou a voar. Sem mais nem menos, ela disse: — Você!! Baltazar Fernandes! Você me fez muito mal no passado! — Baltazar, sem entender nada, ignorou-a. Baltazar continuou andando e a bruxa continuou falando: — Eu amaldiçoo todas as suas esposas Fernandes! Eternamente!! O rapaz ansioso perguntou ao seu rei: — Meu senhor, ouviu o que aquela mulher disse? — Ouvi, Johnatan... Devemos apressar o passo. E sem mais delongas, o jovem abriu caminho de volta à mansão. Quando chegaram, o casarão estava praticamente todo destruído e a rainha não estava mais lá. Então, o rei percebeu que era uma guerra pela sua esposa, uma guerra mágica. Baltazar logo recorreu ao seu velho amigo Merlin, um homem velho, mas um forte feiticeiro, que possuía um grande domínio sobre as coisas e as pessoas.
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Merlin perguntou como era a bruxa, e Fernandes conseguiu descrever a mulher em somente uma palavra: vermelha. Somente com essa palavra, o feiticeiro conseguiu saber de que bruxa se tratava. Era a famosa bruxa chamada Arlequina, uma das mais malévolas que já existiu. Ela foi criada por Syntamura, uma feiticeira muito poderosa que acabou deixando o mal tomar conta de sua mente. Ficou velha e doida, por isso precisava de uma herdeira. Então deu vida a uma filha, uma garota tão malvada que até as caveiras do inferno circundavam-na. Baltazar teve sorte, pois Merlin sabia o desejo mais profundo de Arlequina, a Pedra da Imortalidade, mas também sabia que se essa pedra caísse em mãos erradas, isso levaria à destruição da Terra. Porém, Merlin tinha o plano perfeito para trazer a mulher de Fernandes de volta sem dar a Pedra da Imortalidade para Arlequina. O plano era o seguinte: Baltazar teria que dar a pedra para a bruxa, mas então, algum nobre cavaleiro do grupo de Baltazar estaria a postos para matar a bruxa com o arco de Euclidys. Este era um feiticeiro amigo de Merlin que já morrera, mas é considerado o maior e mais forte feiticeiro que já existiu. O grande feiticeiro fez um arco que pode matar o mais forte dos dragões e a mais terrível das bruxas, mas toda flecha deste arco deve ser mergulhada no Lago Aragon para assim ter seu verdadeiro poder de morte. Nisso, Fernandes recebeu de Merlin a Pedra da Imortalidade e voltou ao seu castelo para recrutar Johnatan para ser o cavaleiro que iria matar a sequestradora da rainha. O cavaleiro e o rei foram, seguindo as instruções de Merlin, para a “cabana’’ de Lúcia, a qual foi escolhida por Euclidys e Merlin como protetora do arco. Chegando lá, Lúcia já os esperava, então ela disse: — Baltazar Fernandes, Merlin me contou sua história, e é por isso que lhe entrego o arco de Euclidys e suas flechas, que devem ser mergulhadas no Lago Aragon — disse com lágrimas nos olhos. — Obrigado, madame Lúcia — e saiu andando. Quando chegaram à toca de Arlequina, Fernandes ordenou ao jovem Johnatan que se escondesse entre as árvores, caso a bruxa aparecesse. Quando ela chegou, ordenou que ele saísse, senão ela mataria os dois. Mas antes que ela pudesse falar mais alguma coisa, Baltazar interrompeu: — Espere! Eu tenho algo de grande valor para você — disse com a voz meio trêmula e sacudindo as mãos rapidamente. — O quê, seu tolo!? 16
— Isso! – e tirou da sacola a Pedra da Imortalidade. — Mas o quê?? Me dê isto agora! — Eu te dou a pedra se você deixar a mim e minha família em paz! — ordenou, enquanto ajudava a rainha a se sentar. — Feito! Então, quando o homem deu a pedra à bruxa, imediatamente o jovem acertou uma flecha bem na cabeça da malévola, que caiu no chão, deixando a pedra ao alcance de Johnatan, que por sua vez entregou-a ao seu rei, que disse: — Aleluia! Estamos salvos! Viva Johnatan, nosso salvador! E assim foram traçando o rumo de volta pra casa. No exato momento em que chegaram, todos fizeram uma grande festa, e viveram felizes por um tempo. Um dia qualquer, inesperadamente, um feiticeiro chamado Ulisses chegou sem avisar e ameaçou guerra contra o reino de Baltazar se eles não dessem a Pedra da Imortalidade. Fernandes e Johnatan não aguentavam mais esses feiticeiros e bruxos, então decidiram de vez virarem caçadores de bruxos. Fizeram isso com a maior facilidade, pois Merlin havia lhes dado equipamentos especiais contra as bruxas. Mataram Ulisses e resolveram continuar com a atividade pelo resto de suas vidas, matar bruxas para salvar a população, e aí sim viveram felizes para sempre.
João Pedro Falcão de Moura Gierlich 17
A Rosa do Amor
Jardim Botânico
Em 15 de março de 2014, no dia da inauguração do Jardim Botânico de Sorocaba, uma linda flor nasceu e o amor entre Barbara e Henrique floresceu. Assim eles se conheceram, foi amor à primeira vista. Na frente dessa mesma flor, um mês depois da inauguração do Jardim, Henrique pediu Barbara em namoro. A moça pediu alguns dias para pensar no assunto, pois aquele pedido fora inesperado, já que ela tinha uma grande amizade por Henrique e nunca pensara em namorá-lo. Barbara notou que Henrique ficara desapontado com a resposta, e ambos decidiram ir para casa. Apesar de se passar apenas quinze minutos, o retorno parecia uma eternidade. Após deixá-la em sua casa, Henrique saiu em alta velocidade, mostrando que não gostara da situação. A garota passou a noite inteira pensando no pedido de Henrique e relembrando os momentos que passara junto ao amigo. No dia seguinte, Barbara acordou ansiosa para encontrá-lo. Ao chegar à escola, Barbara avistou Henrique conversando de mãos dadas com outra garota. Aquilo deixou-a chocada e no fim da tarde, o garoto foi ao encontro de Barbara: — Barbara, qual é a sua resposta? - indagou Henrique com ansiedade. — Por que você quer uma resposta? Te vi essa manhã conversando com outra garota! — vociferou a moça desapontada com o amigo.
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— Aquela garota era minha irmã... desculpa, não tinha te visto — murmurou o menino um pouco envergonhado. — Eu não sabia que você tinha uma irmã, desculpa! — afirmou a garota abraçando-o. — Tudo bem... então, você aceita namorar comigo? — questionou o menino intrigado. — Vamos fazer assim: me encontre daqui a uma hora no Jardim Botânico, no mesmo lugar em que eu te encontrei pela primeira vez, e você saberá a resposta — respondeu Barbara apressadamente. Ao chegar ao Jardim, Henrique viu Barbara esperando em frente da rosa. Ela finalmente respondeu com entusiasmo: — Sim, aceito namorar com você! — Amor, nunca te deixarei! — gritou Henrique abraçando-a. Em 2020, eles se casaram no Jardim Botânico. Barbara usou um perfume com cheiro de sua flor preferida, rosa, pois ele também a fazia lembrar do dia em que conhecera Henrique. Dois anos depois, tiveram uma filha. Ela era ruiva e tinha os olhos tão verdes que fizeram Barbara se lembrar de seu lugar predileto, o Jardim Botânico, então resolveu dar à menininha o nome de Flora. Um dia, enquanto a família estava passeando, Barbara começou a passar mal. Ela foi levada para o hospital e foi descoberto que tinha câncer. Ela passou por vários procedimentos, foi uma verdadeira guerreira, lutou contra o câncer até o quando ela pôde, mas não resistiu e faleceu em 2030. Henrique e Flora foram ao Jardim Botânico — a primeira vez de Flora no lugar — e a menina questionava animada: — Onde nós estamos? Por que você me trouxe aqui? — Estamos no Jardim Botânico de Sorocaba — respondeu o pai com lágrimas caindo dos olhos — Ele foi inaugurado no dia 15 de março de 2014. Aqui era o lugar favorito da sua mãe, foi aqui que nós dois nos conhecemos, e seu nome foi uma homenagem a esse lugar, por isso que te trouxe aqui! — Esse lugar é muito bonito, adoro flores, especialmente rosas! — exclamou a menina ao pai, que lembrou de Barbara. — Sua mãe também adorava rosas — disse o pai, contendo-se para não chorar. 19
— Eu tenho tantas saudades dela... por que ela foi embora? — perguntou a filha chorosa. — Está vendo aquela rosa ali? — questionou o pai emocionado, tentando animar a filha. — Sim, o que tem ela? — perguntou a menina intrigada. — É a flor de que sua mãe mais gostava, pois na frente dela nosso amor floresceu... — explicou o homem até ser interrompido pela filha. — É a Rosa do Amor! — afirmou a menina quase chorando. Os dois pegaram a rosa e levaram ao túmulo de Barbara, onde foi plantada pela filha. Tempos depois, já crescida, a menina foi visitar o túmulo de sua mãe e teve uma grande surpresa ao ver que a rosa que ela deixara no local se transformara em uma grande roseira. Flora diz que a rosa é mágica, ela diz também que a rosa mostra o amor entre sua mãe e seu pai, ou seja, a rosa irá durar para sempre! E foi isso mesmo que aconteceu: o amor entre Barbara e Henrique durou para sempre como a rosa.
Livia Biazzi Reis 20
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Assassinato na praça ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Praça do Canhão, Foto: Enrico Costa Um homem muito rico e dono de uma grande marca de relógios internacionais vivia em uma mansão em Sorocaba, com seus dois filhos, chamados Thiago e Camilo. Seu filho Thiago preocupava-se muito com dinheiro, já Camilo não. Os dois irmãos sempre conviveram muito bem, pois faziam tudo juntos. Thiago se formou em engenharia e seu irmão Camilo, em administração. Logo após a faculdade, Camilo conseguiu um emprego na loja de seu pai. Thiago demorou um
pouco mais até arrumar um emprego, mas conseguiu um em uma empresa de meio ambiente. Quando os dois irmãos já tinham mais ou menos uns 30 anos de idade, Camilo era bem melhor sucedido que Thiago, pois ele era bem mais empenhado que seu irmão. Thiago faltava ao trabalho ou, quando ia, chegava atrasado. Ele só não era demitido, pois seu pai era muito conhecido e tinha grande influência no mercado nacional e internacional.
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Os dois tinham namoradas e, por coincidência, elas também eram irmãs, as duas muito bonitas e legais. Como Camilo trabalhava na empresa de seu pai, ele era muito mais querido por ele. Então, Thiago começou a sentir um pouco de ciúmes dos dois. Após dois anos, foi descoberto que o pai tinha uma doença muito séria e que ele poderia morrer a qualquer momento. Então o pai resolveu fazer o seu testamento, que determinava que as lojas de relógios iriam ficar com seu filho Camilo, pois ele conhecia mais sobre o negócio. Apenas 35% do lucro iria ficar com o Thiago. Quando algum dos irmãos morresse, o outro ficaria com tudo. Após alguns dias, Thiago, muito insatisfeito, começou a sentir raiva de seu irmão, pois ele pensava que ele estava querendo ficar com todo dinheiro. Ele começou a ficar louco, pois achava que o irmão estava querendo roubar tudo dele. Semanas depois, seu pai morreu e a família ficou muito triste. Todos foram ao enterro dar os pêsames aos filhos do falecido. Após o enterro, Thiago, muito perturbado, seguiu seu irmão, que estava a pé, e o matou na Praça Arthur Fajardo.
Nessa praça, há os canhões que foram fundidos na Real Fábrica de Ferro de São João de Ipanema, a primeira siderúrgica brasileira. Os canhões que estão na Praça Arthur Fajardo foram colocados lá, pois Rafael Tobias de Aguiar pediu na época da Revolução Liberal de 1842. Thiago matou o irmão e fugiu. No dia seguinte, arrumou suas malas e tentou escapar, mas a polícia já sabia que tinha sido ele pelas câmeras de segurança e estava em sua porta para prendê-lo. Na hora de seu julgamento, ele confessou que fizera aquilo, pois estava com ciúmes de seu pai, e porque seu irmão iria ficar com toda herança. Por isso, ele o matou. Thiago foi condenado a vinte e três anos de cadeia. Enquanto ele estava preso, seu tio que morava no Acre foi para Sorocaba e ficou com toda herança. O tio foi morar no Caribe e nunca mais foi encontrado. Quando Thiago saiu da cadeia e ficou sabendo o que tinha acontecido, ele aceitou e resolveu voltar ao seu trabalho de engenheiro, mas conviveu até o fim da vida com aquele peso na consciência.
Enrico Venturini Costa
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Ato Oculto 20 de dezembro de 2012. O governo do país entrou em desespero após receber uma mensagem do grupo terrorista QUABUM, conhecido mundialmente por seus atos planejados e impecáveis de repercussão mundial, mensagem foi entregue diretamente ao celular do presidente com número de origem impossível de ser identificado ou até mesmo rastreado o que preocupou até os maiores cientistas: “Enterramos uma bomba com potência para explodir uma cidade inteira. Sua tarefa é achá-la e encontrar um meio de impedi-la de explodir. A partir deste momento, ela está acionada e explodirá em trinta dias.” QUABUM Na minha opinião foi um erro não contar aos habitantes do país para não causar pânico, já que seriam de grande ajuda na busca pelo objeto enterrado. No entanto foi o início de um aumento enorme de revistas policiais e patrulhas para localizar o dispositivo o mais rápido o possível, mas esta história começa muito antes desta mensagem ser enviada. Sorocaba, 14 de agosto de 2012, em uma região remota sem casas a um raio de 10 km havia uma fazenda cujo proprietário era Eduardo, com o apelido de Edd estava dormindo como num dia qualquer, e ouviu um som, metálico e abafado, juntamente com o ruído de máquinas, um pouco distante mas o som do seu cachorro latindo era mais claro e o que mais o convidava a acordar: - O que foi, Tody? - acordou Edd com o latido desesperado e perturbador do seu cachorro Tody em plena madrugada. Levantou saiu do quarto caminhou lentamente na direção do cachorro pesando que se tratasse de um gato ou uma raposa, pediu a sua mulher para se acalmar e voltar a dormir já que não pensou que o barulho fosse o que era mas quando chegou a casa do cachorro não o viu, só o viu a distancia, correndo, ficou frustrado suspirou, e foi atrás dele, andou cinquenta passos seu cachorro parou de latir, sentou e observou e o que viu, nem um dos dois esperava ter visto. Não era um gato ou uma raposa, mas uma massa de homens com uma furadeira, colocando um objeto estranho e enorme embaixo da terra com a marca QUABU. Ele não disse nada, apenas recolheu seu cachorro e voltou a 23
dormir. No dia seguinte, ele acordou, sua mulher acordou, os dois se sentaram para tomar café juntos quando ela perguntou o que ocorrera na noite anterior, ele apenas disse que viu homens enterrando um objeto com uma marca de QUABUM, sua mulher ficou perplexa, deixou o café na mesa e já que era mais informada, logo percebeu o que havia ocorrido e disse para que dissesse ao governo mas ele se recusou e os dois brigaram. A gritaria para desabafo continuou até o entardecer. Assim eles jantaram sem conversar, até que a ficha caiu para o velho fazendeiro, ele sabia onde estava a bomba e sabia o que fazer. Também sacou que não conseguiria cavar sozinho até a bomba, então optou pelo plano B, “Se não pode sumir com uma coisa, cubra-a”. Começou a gastar todo o seu dinheiro em terra, terra, terra, terra, terra e mais terra. Ao longo de um mês, criou uma montanha de terra exatamente onde os QUABUM enterraram a bomba, sem nunca contar a ninguém para que tudo aquilo. Se perguntavam, a resposta era um sonoro, forte e inquestionável: - Não é da sua conta!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Acabou o tempo! O prazo de um mês foi expirado, a montanha estava enorme, Edd estava falido com todos os gastos em terra, Henrique estava desesperado por ainda não ter achado a bomba após 27 pegadinhas de policiais dizendo tê-la achado. Henrique, Edd e os policiais deitaram no chão e esperaram o momento, o grande momento, o momento da bomba... BUM!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! A terra da montanha planejada por Edd conseguiu absorver o impacto da explosão, causando um pequeno terremoto imperceptível. Anos depois, o fazendeiro morreu falido e, em seu testamento lido pelo próprio Henrique (seu primo governador de Sorocaba), esclareceu: “Quero que meu primo saiba que fui eu que detive a bomba e quero que faça uma homenagem a mim” Henrique fez o melhor que pôde: construiu um jardim em cima da montanha de terra de seu primo, porém ninguém nunca soube sobre seu ato oculto.
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Quando um de seus capangas, chamado de Antônio, foi pegar Iara, ela revidou dando um tapa na cara dele. O capanga, no mesmo momento, levou a garota para uma das ocas que estava ao seu redor. Baltazar, quando a viu com seu capanga entrando nessa oca, foi atrás, puxando o seu revolver do cinto. Quando chegou, puxou o gatilho, dando um tiro no peito de Antônio. Baltazar saiu da oca imediatamente, levando os indígenas já capturados. No dia seguinte, ficou refletindo sobre o ato de matar seu melhor capanga por causa de uma mera índia. Maria estranhou-o, pois ele não estava agindo normalmente, e perguntou a ele várias vezes: — Baltazar, por que você voltou tão estranho da caça que fez aos animais? — resmungou sua mulher com tom de desconfiança. — Não é nada, só estou pensando em negócios! — Baltazar argumentou para sua esposa. No mesmo momento, Maria desceu para a cozinha de sua mansão e foi ao lugar em que o capanga de seu marido morava. Quando ela chegou lá, não viu ninguém e ficou intrigada. Foto da estátua do Baltazar Fernandes, em Sorocaba
Baltazar Fernandes, um dos primeiros povoadores de Sorocaba, era casado com Maria de Zunega. Quando Baltazar adentrou as florestas em busca de índios, ele encontrou uma índia que aparentava ter uns 18 anos. Ela era a índia mais bonita de sua aldeia, por isso, Baltazar logo se apaixonou. Iara não gostou dele, porque os seus capangas estavam levando os parentes dela e amigos da tribo para trabalhar em lavouras.
Subiu ao seu quarto e perguntou a Baltazar onde estava Antônio: — Eu o matei! — vociferou Baltazar. No mesmo momento, ela foi ao banheiro e, quando chegou lá, trancou a porta, começando a chorar. Quando Baltazar ouviu sua mulher chorando, deduziu que ela tinha certos relacionamentos com seu melhor capanga, Antônio. Baltazar logo ficou enfurecido e, quando chegou à noite, ele pegou sua espada e fincou com todo o ódio possível no coração de sua esposa. 26
No dia seguinte, Baltazar voltou sozinho para a tribo onde encontrou a índia mais bela de todas as índias. No caminho até lá, ele se perdeu umas três ou quatro vezes e chegou lá uma hora depois do que chegaria se tivesse ido com um de seus capangas. Quando chegou lá, um dos índios que estavam por perto atirou uma flecha em sua coxa, deixando Baltazar vulnerável a qualquer ataque. O índio estava avisando todos da tribo a quem ele rendera, todos foram para fazê-lo pagar pelos seus crimes. Quando Iara ficou sabendo disso, ela e seu pai foram averiguar, porque eles não tinham entendido direito. Ao chegar lá, Iara se lembrou do rosto do homem que não a levara para ser escrava e não deixara seus capangas estuprarem-na e, por isso, foi ajudá-lo. Seu pai tentou impedir a filha, mas ela foi mais forte e passou no meio da multidão que estava vendo o seu maior inimigo. Levou Baltazar para a sua oca para tratá-lo. Ele, sem pensar duas vezes, perguntou o seu nome e por que ela estava fazendo aquilo. — Eu sou Iara, acredito que em você exista bondade e não esse homem que você tenta ser — Iara respondeu firmemente.
Baltazar e Iara fugiram da tribo e foram para a sua casa. Iara nunca tinha saído da sua tribo, não tinha força física nem outras habilidades, por isso eles sofreram muitas dificuldades. Quando eles chegaram à mansão de Baltazar, Iara ficou admirada com a casa. A primeira coisa que lhe encantou foi à vista que a casa dele tinha para o maior rio da região. Passaram-se vinte e seis anos, eles já tinham dois filhos, uma chamada Jurema, de sete anos, e outro chamado Raoni, de três anos. Quando seu último filho nasceu, o médico da família foi ver se estava tudo bem com a mãe e o bebê. A criança estava bem, mas descobriu-se que Iara estava com tuberculose e que ela tinha pouco tempo de vida. Depois de alguns meses, Iara faleceu na varanda de sua casa, olhando o seu rio favorito, que ela chamava de “o rio mais belo de todos os rios”. Baltazar, desde então, passou horas de seu dia olhando para o rio e pensando em Iara. Aos sessenta e seis anos, Baltazar morreu, olhando para o rio que chamava de rio Iara.
Nesse momento, Baltazar desmaiou. No dia seguinte, Iara disse que em uma semana ele ficaria curado, porém seus amigos da tribo lhe deram cinco horas para ele deixar a aldeia e não voltar nunca mais. Baltazar chamou Iara para fugir com ele e ter uma vida com muito luxo. Sem deixar Iara pensar sobre a proposta, ele deu um beijo nela.
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Baltazar e Meredith
Estátua Baltazar Fernandes
— Quem é este, mãe? — Baltazar Fernandes — explicou a mãe — Leia a placa, filho.
baixo, para ‘enxergar’ a cidade inteira.”
Luan e sua mãe estavam a caminho de um banco no centro da cidade de Sorocaba, quando o menino se deparou com a estátua de Baltazar Fernandes.
— Mãe, mas aqui não explica por que ele virou estátua! — exclamou Luan, meio confuso.
A placa que o menino lia estava a alguns metros da estátua, e nela estavam as seguintes informações:
“O bandeirante Baltazar Fernandes foi fundador e um dos primeiros moradores da cidade de Sorocaba. Nasceu em São Paulo. Aqui chegou em 1654. Sua estátua está com o olhar para a diagonal de
— Bom, meu filho, Baltazar chegou em Sorocaba onde ficou até o final de sua vida, na verdade um final antecipado, pois foi transformado em pedra. — Por que isso, mãe? — Quando chegou aqui, conheceu uma bela moça, Meredith, por quem se apaixonou logo de cara. Porém, Meredith tinha um defeito, ou melhor, um grande 28
defeito: odiava ser contrariada, e quando isso acontecia, a raiva a dominava, e apenas seu olhar maldoso transformava tudo que sua raiva era capaz em pedra. Em um belo dia, não ensolarado, mas com muitas nuvens cinzas pelo céu, estavam Baltazar e Meredith, o casal, passando no centro da cidade, descendo a rua, em breve avenida, para tomar um sorvete em uma padaria nova. Parecia que tudo ia bem, mas de repente, um forte vento bateu e foi seguido pela chuva. Baltazar explicou para Meredith que teriam que voltar outro dia, para não ficarem resfriados, mas a mulher falou que ele estava cada vez mais adiando o encontro e que queria naquele dia. O coitado
do homem implorou para irem embora, mas Meredith ficou tão irritada, mas tão irritada, que lançou um olhar frio para o bandeirante, e acabou transformando-o em pedra no mesmo dia, ali mesmo no meio da rua. — Mas como a estátua veio parar aqui? — indagou o menino. — Alguns meses depois, pedreiros perceberam que ali não era um bom lugar para um monumento, e o trouxeram até aqui. — Mas e Meredith, qual o fim dela? — Ai, meu filho, ninguem soube. Muitos a procuraram, mas ela nunca apareceu.
Maria Fernanda Cury Camis Sisternas Fiorenzo
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Carlão e Sorocaba
Era uma vez um menino chamado Carlos de Souza. Esse menino gostava muito de conhecer outras cidades. Ele morava em Itapetininga. Certo dia, quis ir a Sorocaba ver seus pontos turísticos, então pediu a seu pai levá-lo nas férias e seu pai respondeu:
Baltazar Fernandes, Sorocaba. Foto tirada por João Luiz.
— Carlão, existem cidades melhores que Sorocaba para conhecer, vamos a Nova Iorque. — Não. Eu quero ir a Sorocaba — disse Carlos, bravo.
— Certeza? – perguntou seu pai. — Sim, papai — respondeu rapidamente. — Tudo bem, filhão, vamos nas suas férias para Sorocaba. — Obrigado, papai. Dois meses depois... — Carlão, vamos jogar futebol? – perguntou seu pai. — Não — negou Carlos. — Mas, filho, você ama jogar bola, por que você não quer? — perguntou o pai assustado. — Sim, mas você disse que ia me levar a Sorocaba. — respondeu. — Já tinha me esquecido, desculpe, filho, vamos jogar bola e amanhã nós iremos, combinado? 30
— Sim, papai, já tô indo! — exclamou o garoto. No dia seguinte, eles foram para Sorocaba. Seu pai levou um guia de Sorocaba para se localizar e explicar os pontos turísticos, pois nesse mapa havia informações desses lugares. Chegando à cidade dos sonhos de Carlos, seu pai disse: — Vamos começar aqui, por Baltazar Fernandes. Ele nasceu em São Paulo e cresceu em Santana do Parnaíba. Era um notável bandeirante, que passava muitas vezes pelos campos de Sorocaba em suas viagens ao sertão. Buscava índios no Rio Grande do Sul e no Paraguai para trabalhar nas lavouras. Casou com Maria de Zunega, do Paraguai, filha de Bartolomeu de Torales, e depois de enviuvar, casou com Isabel de Proença, filha de João de Abreu. Naquele tempo, chamavam os paraguaios de castelhanos. Quatro genros de Baltazar Fernandes eram castelhanos. Foi com estes que ele veio fundar a cidade de Sorocaba no ano de 1654. Esse monumento foi feito em bronze, construído por Ernesto Biancalana e inaugurado em 15/08/1954. — Que legal, pai, tem outro ponto turístico? — perguntou. — Sim, agora vamos à catedral de Sorocaba. Chegando à catedral, seu pai contou: — Aqui é a catedral de Sorocaba, e vou contar um pouco de sua história: em 1767, o Visitador Diocesano, padre Antônio José de Morais, mandou construir uma nova igreja matriz. Recomendou-se que o edifício fosse de barroco limpo, sem traços de rococó, foi construído em taipa grossa de pilão com pedregulho, madeirante do Mato Dentro. Por volta de 1770, veio de Portugal a imagem de Nossa Senhora da Ponte, a única existente no Brasil, disposta na nave principal. Posteriormente vieram da Bahia as imagens de Nosso Senhor do Bom Fim, do Senhor dos Passos e Senhora das Dores, e, já no século XIX, de São José. A igreja ficou sem torre até 1819. A primeira missa na Matriz de Nossa Senhora da Ponte foi rezada em 1783. No interior do edifício há pinturas de Ernesto Tomazzini e de Bruno Giusti. Seu gigantesco sino foi fundido em Sorocaba pelos irmãos Samassa, que utilizaram 50 quilos de ouro visando à qualidade sonora. Infelizmente, o sino ficou mudo por vários anos. 31
Pronto filho, quer conhecer outro ponto turístico? — perguntou. — Sim, papai – disse o menino contente. — Filho...!!! Hoje é aniversário da sua mãe, precisamos ir! — disse assustado – Próximas férias a gente volta, tudo bem? – perguntou. — Tudo bem, e que tal nós comprarmos o presente dela aqui em Sorocaba? – perguntou. — Claro...! Vamos ao Iguatemi Esplanada, falaram que esse shopping é muito bom, vamos!
Catedral de Sorocaba Foto: João Luiz
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João Luiz Florio de Barros Monteiro Dias Rocha ++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++ 32
Construção inesquecível
Jardim Botânico Sorocaba
José Medeiros e Manuela da Silva se conheceram no Colégio Dom Aguirre de Itu e eram melhores amigos. Tinham tudo em comum, menos o “tamanho”, ou seja, ela era tão magra que até parecia modelo, já ele era gordinho. Manuela tinha um namorado chamado Sérgio, que era muito forte. Manuela e José se encontravam sempre para conversar um pouco e decidir o que iriam fazer, principalmente quando estava perto do aniversário de um dos dois. Nessa época, estava perto do aniversário de José: — José, esse ano iremos fazer uma grande festa para todos, pois você vai completar quatorze anos — exclamou Manuela com um belo sorriso no rosto. — Podemos até fazer uma grande festa, mas onde iremos conseguir dinheiro? — sussurrou José desanimado. — Vamos pedir para seus pais. Manuela foi correndo para a casa de seu amigo para falar com os pais dele. Quando ela se referiu à palavra “festa”, os pais de José falaram que daria muito trabalho para montar, só que Manuela teve uma grande ideia:
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— Vocês pagam todas as coisas para a festa e a gente monta, não vai dar nenhum trabalho para vocês! — exclamou a garota com empenho para a festa. — Está bem, se vocês organizarem, nós aceitamos — afirmaram os pais. Depois de duas semanas, acabaram os preparos para a festa e faltava apenas um dia para o aniversário. Todos os colegas já tinham confirmado a presença e seria em salão próprio para festas com comida à vontade para todos. Estava anoitecendo e José não conseguia parar de pensar no dia seguinte, pois ele amava muito sua melhor amiga e nunca tivera coragem de falar isso para ela, pois estava com o namorado ou estava falando sobre ele. O dia chegou e estava quase na hora do aniversário quando Manuela ligou avisando que não poderia comparecer à festa porque o namorado estava com ciúmes. Se ela fosse, eles iriam terminar o namoro. José não queria ir mais a seu próprio aniversário, mas foi com tristeza no coração. Chegando lá, Manuela estava na porta do salão com um lindo vestido: — Eu terminei com o Sérgio, ele não queria que eu viesse, só que eu prefiro ter um amigo como você a ter um namorado que nem ele — elucidou Manuela, percebendo que estava fazendo a coisa certa. A festa começou e estava tudo ocorrendo como planejado, então José criou coragem de chamar Manuela para dançar e ela aceitou. Os dois dançaram por um bom tempo, até que ele pediu-a em namoro e falou que fazia muito tempo que gostava dela, mas não tinha coragem de falar. — Eu aceito! Como eu nunca tinha percebido isso? Somos amigos há tanto tempo! – segredou ela bem perto do ouvido esquerdo. — Eu consegui disfarçar bem — comentou ele com vergonha. Então, quando a festa acabou, todos foram embora e Manuela e José combinaram que o namoro deles seria secreto por mais uma semana, se não iriam falar que Manuela estava ficando com ele para esquecer o seu exnamorado, o que não era verdade. Passando exatamente uma semana, começaram a namorar. Uma coisa que eles não esperavam era que iam fazer piadinhas com eles: — Olha lá quem está namorando agora, Manuela e o gordo do José — gritavam os colegas de classe, dando risada. Depois que José ouviu o que estavam falando dele, foi até a academia e ficou malhando por mais ou menos dois meses seguidos. O resultado foi que ele ganhou um “tanquinho” e pararam de zombar dele. 34
Quando terminaram o colégio, decidiram que faculdade fazer. Por coincidência, a faculdade dos dois era em Sorocaba. Então, quando completaram dezoito anos, foram morar sozinhos na cidade. Moraram em casas separadas até decidirem casar, dois anos depois de terminar a faculdade. José fez o pedido de casamento no dia 10 de outubro, data que ficou marcada na vida dos dois. Após escolherem tudo que era preciso para a cerimônia, tinha passado exatamente um ano, então eles casaram no dia 10 de outubro do ano seguinte. No casamento, veio toda a família da parte dele e da parte dela. Quando a cerimônia acabou, foram todos para casa descansar, menos os noivos, que foram diretamente para a lua de mel. Deu tudo certo na lua de mel e Manuela adorou a sua casa nova que era do lado de uma área bem grande. José comprou essa área e construiu o Jardim Botânico, que é uma área ótima para as pessoas verem como a natureza é bela. Todos gostaram da ideia, e para a homenagem de sua esposa, ele inaugurou o Jardim no dia 10 de outubro.
Giovana Alves Cabral
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Estamos em 1942. As guerras na Europa trazem milhares de europeus à América, cada um com sua história, mas vou contar apenas uma. John Cliefer, inglês, não tinha família nem amigos, trabalhava nas docas de Londres, mas em 1942 veio para ao Brasil, pois fugia da guerra. Foi a São Paulo e viu semelhanças com a capital inglesa como indústrias, criminosos e construções. Catedral de Sorocaba
Certo dia, um padeiro com sotaque italiano contou-lhe de uma cidade pequena chamada Sorocaba. John se interessou, já que não queria estresse. No outro dia, pegou o trem e, horas depois, viu a pequena cidade, já se sentia relaxado. Grande parte da população trabalhava em fábricas de algodão e tecidos, coisa que John não apreciava. Tentou trabalhar em várias áreas, como padeiro, comerciante de sapatos, engraxate, todas resultando em falha. Naquela época, o prefeito estava promovendo a moradia temporária de imigrantes na catedral, mas havia um grande problema: ele era ateu e tinha quase certeza que o barrariam na entrada. Chegando lá, uma velhinha chegou dizendo: — Conhece essa igreja? É a catedral, foi fundada em 1771 e o nome daqui é Praça Coronel Fernando Prestes. John perguntou: — E eu posso entrar lá? — Você é católico, não é? — inquiriu a senhora. — Na verdade, sou ateu — confessou John. — Mas então como você quer entrar numa igreja?!? — questionou a mulher, indignada.
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— Preciso de moradia — argumentou John — não consegui pagar o aluguel, pois vim da Inglaterra e ainda estou sem trabalho. — Não sei, veja com o padre Paulo — orientou a mulher, afastando-se. O padre era educado e gentil, e disse-lhe que poderia entrar na igreja. Conversaram por muito tempo e ficaram amigos. Tão amigos que o padre resolveu construir junto com John um quarto para ele em cima da catedral. Entretanto, havia um problema: John não poderia fazer nenhum barulho durante as missas ou casamentos. O rapaz aceitou e até que deu certo, durante um tempo. Só que um dia ele decidiu dormir à tarde, esquecendo-se do trato. A missa começou e os roncos também. Dias depois, o padre decidiu ter uma conversa com John pelo ocorrido dias atrás. — Lembra-se do nosso trato, John? Pois é, você não cumpriu o que você dizia respeito — afirmou o padre. — Tive que vir ao Brasil por causa da guerra, não consigo trabalho nenhum e ainda não posso dormir!!! — vociferou John, irritado. — Saia daqui já! Isto não pertence a você mais — bradou o padre indignado, apontando para o quarto. John ficou sem emprego, casa ou dinheiro. Todos souberam do ocorrido, e apenas aquela velhinha que o encontrara na catedral quis ajudá-lo, já que era uma antiga conhecida da infância que John nem se lembrava. Depois de três anos no Brasil, a guerra acabou e John voltou para seu país, onde sua rotina voltou ao normal.
Leonardo Bueno Cattani
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Flores
Em uma bela cidade do interior de São Paulo chamada Sorocaba havia um garoto solitário, Carlos Junior, que todos os dias saía para caminhar sem destino, somente pensando na vida. Um dia, ele decidiu visitar o Jardim Botânico. Carlos passou o dia lá, mas nada o interessou muito até o momento em que ele decidiu voltar para sua casa. Carlos estava saindo do Jardim Botânico quando, de repente, viu um pequeno jardim de rosas onde havia uma rosa diferente, ela tinha tons de azul no centro. Carlos ficou encantado com
Jardim Botânico Sorocaba
aquela flor e não conseguia parar de pensar nela. Então, no dia seguinte, voltou para lá e passou o dia somente observando aquela maravilhosa e diferente flor. Isso virou uma rotina para Carlos, pois todos os dias após a escola, ele ia direto para o Jardim Botânico e ficava sentado em meio às flores, somente observando aquela rosa. Em mais um dia comum, Carlos estava ali brincando com as abelhas e observando a linda flor diferente, que ele havia nomeado de Maria Clara, quando, de repente, uma sombra com o formato de uma mulher surgiu sobre ele. Com muita 38
insegurança, Carlos olhou para a pessoa que ali estava fazendo sombra e tomou um susto enorme. Simplesmente ficou sem palavras, olhando para aquela linda garota que ali estava parada com um sorriso perfeito e um olhar doce. Após um tempo sem falar nada, ela se sentou ao lado de Carlos e disse que já o tinha visto há alguns dias ali naquele mesmo lugar. Então Carlos, sem perder mais tempo, se apresentou e perguntou o nome da linda garota. O rapaz levou o maior susto de toda sua vida quando ela disse “meu nome é Maria Clara”. Novamente ele ficou sem palavras e simplesmente levantou-se e foi embora para sua casa. Carlos não parava de pensar naquela garota de olhos azuis e bochechas rosadas, cujo nome era o mesmo que ele tinha dado para aquela rosa diferente. Ele sentia que algo tinha mudado, pois toda vez que pensava naquela garota, sentia algo bom e estranho ao mesmo tempo em seu coração. Então, decidiu que iria lá novamente, no mesmo horário, para encontrar Maria Clara. O rapaz encheu-se de coragem e foi, sentou-se em meio às flores, ao lado de sua flor favorita, como sempre, e ficou à espera de Maria Clara. Entretanto, ela não apareceu. Após horas e horas, Carlos percebeu que ela não viria e, de cabeça baixa, voltou para sua casa.
Todos os dias, durante um ano, ele foi até o Jardim Botânico com esperanças de encontrá-la novamente, até o dia em que suas esperanças morreram juntamente de sua alegria. Carlos virou uma pessoa completamente diferente, ele ficou depressivo e não saía de seu quarto para nada, nem mesmo para ir para a escola. Um dia, sua mãe insistiu tanto para que ele saísse um pouco de dentro de casa, que ele decidiu sair novamente para ver se aquela maravilhosa flor ainda estava viva. Ao chegar ao Jardim Botânico, uma lágrima escorreu em seu rosto, pois ali ele viu que sua flor favorita tinha sido arrancada. Carlos caiu de joelhos no chão, chorando como uma criança, perguntando-se quem seria o monstro que havia arrancado aquela flor perfeita. Em meio a todo aquele choro desesperado, uma sombra em forma de mulher surgiu novamente sobre ele e Carlos, sem saber o que fazer, levantou-se secando as lágrimas e viu que ali estava aquela garota que havia falado com ele um ano atrás. Ela não só estava ali novamente, como estava com a flor em suas mãos. Carlos ficou paralisado vendo aquela cena. De repente, Maria Clara se aproximou dele e falou baixinho em seu ouvido: “você não precisa mais dessa flor, agora você tem a mim” e em um único movimento, ela deixou a flor cair no chão e beijou Carlos.
MURILO OSÉAS CRISP 39
Gaya e o fósforo
Catedral de Sorocaba
Na região de Sorocaba, interior de São Paulo, havia uma menina chamada Gaya. Ela tinha nove anos, era órfã e morava com seus tios.
— Porque deves rezar e agradecer a sua mãe todos os dias, por ter te trazido à Terra. Gaya respondeu lentamente com lágrimas escorrendo de seus olhos:
A tia de Gaya a levava todos os dias à igreja. Certo dia, Gaya decidiu perguntar:
— E meu pai? Por que nunca rezei por ele? Por que não lhe agradeço por me trazer à Terra?
— Por que a senhora me traz todos os dias para a igreja?
— Porque seu pai não é digno de amor. Ele levou a sua mãe para longe de nós e ela não lhe devia nada.
Sua tia respirou fundo e lhe respondeu com uma voz que soava grossa:
Por ela ter apenas nove anos, não fazia a mínima ideia do que seu pai poderia ter feito com a sua mãe. Ela chorava todos os dias 40
em seu quarto, não tinha vontade de ir à escola e implorava cada dia mais para seus tios lhe contarem o que tinha acontecido com a sua mãe. Ela simplesmente não entendia o porquê de ela não ter pais iguais os seus amigos de escola: — Por que eu não tenho pais iguais aos meus amigos? — perguntou Gaya ansiosa pela resposta. — Nós somos os seus pais! — exclamou sua tia. — Não, quero dizer, pais de verdade! — Gaya, você ainda é muito nova para saber o verdadeiro motivo. — Tia, eu posso até ser nova, mas eu tenho sentimentos, não sou mais um bebê e eu quero sim saber o que aconteceu com os meus pais. — Nós somos os seus pais, nós cuidamos de você a sua vida toda, nós te demos leite, carinho, comida e abrigo.
— Tia, a senhora acendeu minha vela? — perguntou Gaya. — Não, mas eu dei o fósforo a você. Agora deve riscá-lo e acender a si mesma. Gaya nunca se sentiu tão bem ao ouvir poucas palavras. No dia seguinte, Gaya acordou cedo, colocou seu uniforme, tomou café da manhã na mesa, junto aos seus tios e exclamou: — Me sinto bem, me sinto leve e hoje vai ser tudo diferente. Não sou apenas uma menina de nove anos, eu sou A menina de nove anos. Antes de sair, Gaya deu um abraço apertado em seus tios e disse que os amava. Com uma resposta imediata e com o coração vazio de qualquer mágoa, seus tios responderam: — Também amamos você, princesa. Horas depois, aproximadamente 10h13, a escola ligou na casa dos tios de Gaya:
Gaya ficou muito assustada com o jeito que sua tia falava com ela. Mas levantou a cabeça bravamente e falou:
falo?
— Acho que jamais vou saber o que é amor.
— A senhora que é tia da Gaya de Moraes?
— Eu e seu tio te damos todo o amor do mundo. Os humanos são como velas — explicou sua tia — A sua tarefa é acendê-las.
— Sim sou eu, aconteceu alguma coisa?
— Boa tarde, com quem eu — Boa tarde, Angélica.
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— Por favor, pedimos para que a senhora mantenha a calma e compareça ao colégio o mais rápido possível. Angélica ficou preocupada e, assim que desligou o telefone, foi rapidamente à escola. Angélica chegou à escola e ela parecia deserta, sem nenhuma criança e muitos policiais na escola: — Olá, eu sou a tia da Gaya, pode me informar onde é a diretoria? Os policiais tiveram uma reação estranha ao ver Angélica e, sem resposta, somente apontaram a direção da sala da diretora. — Olá, eu sou a Angélica, tia da Gaya.
“Oi, tia, eu sei que te chamariam depois de toda essa ‘festa’ que eu fiz aqui na escola. Tia, eu sempre quis saber o que é amor entre pais, eu sempre quis conhecer os meus pais. Quando a senhora me disse que eu já tinha o fósforo, eu percebi que o que deixaria a minha vela acesa seria o amor mais forte e o amor que nunca será correspondido por qualquer outra pessoa, a não ser meus pais. Me desculpe se te fizer sofrer ou se você sentir a minha falta, mas foi isso que eu pensei que seria a solução para esse aperto no coração, ficar bem pertinho de meus pais. Beijos, com todo o amor do mundo. Gaya.”
— Eu nunca estive em uma situação parecida, então não sei como lhe falar isso. Tome, achamos isso na bolsa de Gaya — exclamou a diretora gaguejando.
Angélica se derramou em lágrimas e pediu para ver Gaya. A garota foi encontrada morta em sua sala de aula.
Angélica estava começando a ficar preocupada. Ela pegou o papel e nele estava escrito:
Talvez as pessoas só precisem de explicações para se sentir seguras sem se lembrar da primeira pessoa que as amou.
Isabela Sofia Lima Felippe
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Joaquim, o tropeiro
Praça do Canhão
Joaquim Pedreira da Silva era um tropeiro que cruzava o estado de São Paulo para levar suprimentos para as minas de Minas Gerais. Um dia, ele e seus companheiros levavam uma carga de pão para uma mina de prata da cidade Vila Rica, quando passaram por uma cidade muito pequena chamada Sorocaba. Cruzaram pela ponte e pagaram a alta taxa de imposto para passar para o outro lado do rio. Passaram-se cinco anos de viagens e aventuras selva adentro: Joaquim matou uma onça perto de São Vicente, encontrou ouro nas proximidades do rio 43
Piracicaba, enriqueceu e passou a morar em Sorocaba que já era uma vila grande, com postos da coroa portuguesa. Aos 35 anos, ele foi convocado pela coroa para seguir rumo ao interior da colônia, em busca de metais nobres. No meio de sua expedição, ele matou e dizimou várias tribos indígenas para fixar lá plantações de cana-de-açúcar. Além disso, caçou animais silvestres e encontrou metais preciosos, como ouro, prata e cobre. Depois de encontrar muitas pedras preciosas, abrir vários caminhos, expulsar mais indígenas de suas terras, voltou a Sorocaba para ganhar a sua recompensa e título de nobreza. Com 40 anos de idade, ele já tinha família e começou a liderar tropas ao interior de novo. No primeiro dia, ele estava esperançoso de enriquecer mais e ficar mais famoso, pois ele não era muito. Como ele abasteceu várias minas e recuperou muitos escravos fugidos, ajudou fazendeiros no abastecimento de milho e pão, ficou cada vez mais famoso e mais rico por causa de suas aventuras nas proximidades de Vila Rica e São Vicente. Acabou por ser descobridor de plantas, drogas e iguarias, que seriam muito caras na Europa, por isso, virou o homem mais rico de Sorocaba. Seu filho Luís Felipe começou a seguir os passos de seu pai, desbravou o sertão junto com ele, já que o pai não tinha o mesmo condicionamento físico de antes, quando era jovem. Quando entraram no pantanal, viram um de seus tropeiros ser engolido por uma cobra muito grande e verde. Joaquim atirou na cobra, que morreu na hora. Na segunda hora do dia, tiveram de enfrentar uma tribo indígena que vivia nas redondezas. Eles eram muito fortes e sábios, mataram metade dos tropeiros que mutilaram seus prisioneiros sem dó nem piedade. Joaquim deixou alguns prisioneiros viverem para aprofundar-se mais nas províncias portuguesas e ficar cada vez mais famoso. Quando Joaquim morreu aos 70 anos, seu filho assumiu o comando de várias expedições que desbravaram o sertão nordestino, acabando com igrejas jesuítas espanholas em busca de escravos. Luís acabou por seguir os passos do pai e fazer mais coisas. Encontrou esmeraldas, ametistas e ouro, escravizou indígenas e ganhou o título de bandeirante. 44
Como meio de ganhar dinheiro, acabou por mandar construírem um monumento aos tropeiros, que apenas foi construído no início do século XX.
LUCAS BITTAR DE MORAIS
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Missão Cumprida
GABRIELA DIAS DAMÁSIO DE OLIVEIRA Lá estavam todas aquelas dificuldades por que passei, agora tudo não passa do passado, pois lá estava a razão de tudo. Minha esposa. — Querido, querido, ah, mas que saudades! Pensei que nunca mais te veria — disse ela correndo e enxugando as lágrimas. Eu estava lá, em cima de meu cavalo, ela estava lá, nós estávamos juntos, e eu não me lembro de nada mais. Quando acordei, não sabia onde eu estava. Eu me encontrava em um quarto todo branco, vestido de branco, deitado em uma cama também branca. Após observar cada detalhe, um senhor entrou em meu quarto, mostrando-se feliz por me ver. — Que bom que você acordou, sua chegada nos deixou
muito felizes! — exclamou ele com um enorme sorriso, ajeitando-se na cadeira de uma madeira clara muito bonita. — Desculpe-me, mas quem é você? — questionei, sentando-me na cama. — Eu sou seu avô. “Meu avô?”, pensei comigo, “mas ele morrera quando eu tinha sete anos!” — Sim, sou seu avô, lembrase disso? — perguntou ele, mostrando-me um ‘broche’ que eu fiz quando era menor, eu o havia dado para meu avô, mas ele estava morto. — Se você é mesmo meu avô, onde estamos? — perguntei, tentando segurar as lágrimas. 46
— Você não sabe mesmo? — perguntou ele, parecendo desapontado. Respondi balançando a cabeça em discordância. — Nós estamos na vila ‘Tropeiros do norte’, você morreu ontem, caiu do cavalo e bateu a cabeça! — exclamou ele. “Vila dos Tropeiros do norte”, pensei comigo, “Mas é claro! Assim como ele, eu sou um tropeiro!” — Vamos dar uma volta — disse ele, dirigindo-se à porta. — Claro seguindo-o.
—
disse
eu,
A tal Vila dos Tropeiros do norte é linda, toda cheia de cores. Chegamos à praça principal e logo avistei a peça da qual eu mais gostei: era um tropeiro em seu cavalo, a peça brilhava à luz do sol, que lá brilhava mais forte. Logo reconheci o rosto do tropeiro:
— Vô, é o exclamei espantado.
senhor!
—
— Sim, sou eu — disse ele, acariciando o cavalo. Ele havia fundado a vila e me esperava para que eu assumisse o lugar dele e ele pudesse reencarnar, agora como meu neto. Alguns meses depois, despedi-me dele e recebi a notícia de que alguém estava chegando: minha esposa, uma veia havia estourado em seu cérebro e ela morrera. Cada momento foi e está sendo maravilhoso com ela, que me contara que nosso filho se casara e sua mulher estava grávida de um garoto. Então por mais uma vez eu estava lá, ela estava lá e nós estávamos juntos. Graças a Deus, assim estamos até hoje. Agora me lembro de tudo e sei que nunca mais quero me esquecer de tudo que passei.
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Praça do Canhão
Em uma bela noite, um bêbado chamado Joelmo saiu do bar para dar uma volta por Sorocaba. Mesmo sabendo que no dia seguinte teria prova de história, ele ficou bebendo em vez de estudar. Joelmo ficou triste, pois sabia que ia tirar uma nota ruim e, por isso, gritou para o céu: — Oh, Deus, por que eu sou assim? Por que eu não sei nada sobre o Rafael Tobias de Aguiar? — indagou Joelmo — Vou me dar mal nessa prova e minha mãe não vai gostar nada disso, eu não vou conseguir passar nessa droga de faculdade de novo.
Depois de gritar e acordar a vizinhança inteira, Joelmo escutou uma voz, dizendo: — Se você não sabe nada sobre mim, venha mais perto e eu lhe explicarei ! – exclamou Rafael Tobias de Aguiar. —“Maisi” eu não sei quem é “ocê”, e não sei onde “ocê” “tá” — disse Joelmo, extremamente embriagado. — Bom, então olhe para a estátua do seu lado. — Oxe, ela criou vida !!! — exclamou Joelmo surpreso. — Olá, meu nome é Rafael Tobias de Aguiar, e agora vou lhe contar a minha história: No desenrolar dos acontecimentos, eu fugi de São Paulo para Itu, onde membros da Câmara de Sorocaba me buscaram a fim de me proclamar Presidente da Província de São Paulo. Organizou-se então a ‘‘Coluna Libertadora’’ com voluntários de Itu, Sorocaba e arredores, para depor o presidente da província. Mas, na ponte do rio Pinheiros, apesar dos três canhões de ferro da fábrica Ipanema, 48
sucumbiram frente aos Periquitos (como eram chamados os Caçadores, soldados de farda verde) comandados pelo então Barão de Caxias. A ‘‘Coluna Libertadora’’ foi recuando até Sorocaba, onde Caxias pernoitou na minha casa. Eu fugi para o sul, onde fui mandado prender por Caxias e levado para a Corte. — Nossa, “véi”, agora que eu entendi tudo. Valeu, estátua! No dia seguinte, Joelmo chegou na faculdade e perguntou para seu amigo: — José, você estudou a história do Rafael Tobias de Aguiar? Eu estava ontem a noite no bar tomando umas e só me lembro de acordar sabendo a história dele inteira. Que bom, né, porque ela vai cair na prova. — Nossa, cara, você tá louco, o que vai cair na prova é a história do Baltazar Fernandes! — Sério? Nossa! E agora, o que eu faço? Já era! Vou me dar mal nessa prova! — Calma, eu te passo cola! —Tá bom, mas cuidado para o aplicador não nos ver. Na hora da prova, Joelmo começou pelos testes, e logo viu que estava difícil. Ficou na sala pensando, pensando, e não conseguia responder. Depois de responder os testes no chute, Joelmo partiu para as perguntas e percebeu que elas, na verdade, eram sobre a história do Rafael Tobias de Aguiar. Por isso, avisou seu amigo João: — João, as perguntas são sobre o Rafael Tobias de Aguiar — sussurrou Joelmo. — Mas que droga, não sei nada sobre ele. — Eu te passo, olha a número 1 é que ele fugiu da São Paulo para Itu. Nesse momento, o professor aplicador os viu colando e bradou: — O que é que vocês dois estão fazendo? — Nada não, professor — amedrontado disse Joelmo. — Já para o gabinete, os dois! — vociferou o professor. No final, os dois ficaram com um zero bem redondo no boletim.
Ingrid Bernecker
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Não Passou De Um Sonho Ana Luiza Ohata
E
m um dia de sol em Sorocaba, uma menina, Alice, caminhava apressadamente pelo centro. Como estava muito cansada, parou para descansar um pouco na Praça Arthur Fajardo, mais conhecida como Praça do Canhão. Sentou-se no chão, encostada ao muro. — Ei! — sussurrou uma voz. — Quem disse isso? — perguntou assustada. — Sou eu, Rafael. — Rafael? Onde você
Praça Arthur Fajardo – Estátua de Baltazar Fernandes
está? — A me salvar deles. — Aqui em cima do pedestal — Alice gritou muito alto, pois constatou que “Rafael” era, na verdade, Rafael Tobias de Aguiar, o homem cuja estátua ela observara um pouco antes. — Não se assuste eu apenas achei que você poderia me ajudar... – murmurou ele.
— Deles quem? — Os homens querem me levar preso! — Desculpe, mas acho que não posso fazer nada. — Por favor! — Então me diga o que eu tenho que fazer.
— Ajudar em quê? 50
— Muito obrigado. — Sem enrolar, vamos! — Alice era muito impaciente para tudo, e a única coisa que ela queria agora era ir para casa – Eu ainda tenho que voltar para casa fazer um trabalho de história. — Tudo bem... Eu vou procurar outra pessoa para me ajudar – triste Rafael saiu andando vagarosamente. — Ei! Espere! Você é um personagem famoso da história de Sorocaba, não é? — Eu sou? Não sei. Acho que sim. — Tenho uma ideia! Então ela propôs ajudá-lo se ele contasse toda sua história para ela fazer o seu trabalho, que coincidentemente era sobre a história de Sorocaba. — Trato? — Trato — alegremente o homem.
afirmou
— Bom, comece, vou anotar aqui no meu caderno. — Hum – pigarreou — Minha história começa assim: primeiramente, na minha vida política, eu trabalhei em Itu. Depois de um tempo, eu fui eleito em mais de dez legislaturas em São Paulo. Uma vez, fui eleito presidente da província. Eu também participei de revoltas com meu amigo, Padre Feijó. Depois eu fugi para o Rio
Grande do Sul, tentando fugir das perseguições, mas fui pego e me levaram para o Rio de Janeiro, onde me prenderam. Sua história não terminou ali. Depois que foi libertado da prisão, ele ficou louco. Não estava mais em bom estado mental, e continuou achando que fugira da prisão. Por isso pediu ajuda a Alice, pois acreditava que os policiais queriam prendê-lo novamente e que o achariam lá. — Então, sua parte do acordo. Vai me ajudar a me esconder? — Sim... — Alice estava nervosa, pois não tinha a menor ideia de como ajudar Rafael. — Vou pensar em um lugar para te esconder. — Obrigado. Alice pensou e pensou, mas não conseguiu achar uma boa desculpa, ou algum lugar para escondê-lo. Além do mais, ela tinha consciência de que ele não passava de uma estátua que ela não tinha noção de como estava lá, ainda por cima falando com ela, pedindo ajuda. “Meu Deus, o que eu vou fazer agora?”, pensou consigo mesma. — Hum. Eu não tenho muito tempo, criança. — Acalme-se, senhor.
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— Eu estou muito calmo! — gritou – Estou muitíssimo calmo! — dessa vez ele estava vociferando. Alice acordou assustada, olhou para a estátua à sua frente e sussurrou apenas para ter certeza: — Oi? Nenhuma resposta. — Ufa. Achei que estava louca, mas juro que ouvi esta
estátua falando comigo. Preciso descansar melhor! Levantou e saiu andando rumo à sua casa, enquanto lembrava a história em seu sonho para colocá-la no trabalho. Mas como isso seria verdade se fora apenas um sonho? Não sabemos. Mas é possível saber que Rafael Tobias de Aguiar está muito seguro, pois até hoje, os “guardas” ainda não o acharam.
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Anastácia era uma menina linda, loira, de olhos azuis. Desde que nasceu, aprendeu sobre flores e suas classificações. Sua avó, Lucia, ensinavalhe tudo sobre flores, pois era apaixonada por elas. Quando Anastácia fez seis anos, descobriu que seu sonho era visitar um Jardim Botânico, porém não havia um na sua cidade. Sua avó sempre dizia: — Anastácia, um dia eu irei te levar para visitar um Jardim Botânico, querida. — Mas, vovó, eu quero ir agora! — Se acalme, querida, tudo no seu tempo. Desde aquele dia, Anastácia contava os dias que passavam, esperando seu sonho se realizar. Ela sempre plantava flores no seu quintal junto com sua avó, elas ficavam o dia inteiro plantando, era o que Anastácia adorava fazer. 53
Passaram-se quatro anos e sua avó veio a falecer, foi uma grande tristeza para toda família, mas principalmente para a pequena Anastácia, seu sonho tinha acabado de ser destruído. Depois disso, ela nunca mais plantou flores em seu jardim e desistiu de tudo. Depois de algumas semanas, Anastácia, muito magoada, foi até o cemitério onde sua avó estava e levou as flores de que sua avó mais gostava. Ficou ali por um tempo e saiu. Quando ela estava saindo, lembrou que esquecera sua bolsa e voltou. Quando ela voltou, suas flores haviam sumido e tinha um bilhete escrito “Nunca desista!”. Ela se assustou, pegou sua bolsa e voltou para casa. Passaram-se cinco anos, Anastácia estava comprando umas flores para enfeitar seu quarto e ouviu duas mulheres conversando sobre a abertura de um Jardim Botânico em Sorocaba. Ela foi para sua casa e já foi pesquisar em seu computador sobre o assunto. Anastácia entrou em vários sites e encontrou um dizendo que o Jardim Botânico tinha sido aberto no Jardim Dois Corações, próximo ao Parque das Águas, no dia quinze de março. Ela ficou muito feliz e disse: — Finalmente, hoje é o dia mais esperado da minha vida, depois de nove anos de espera! No dia seguinte, Anastácia acordou bem cedo e já foi direto ao Jardim Botânico de Sorocaba. Quando chegou lá, ficou encantada com o Jardim, ela se emocionou e começou a chorar. — Como eu queria que minha avó estivesse aqui agora... Na entrada, ela encontrou vários panfletos falando sobre o Jardim, dizendo que foram investidos cinco milhões de reais nele e que ele foi criado para o lazer, pesquisas e preservação do meio ambiente. Aquele dia foi o melhor de toda sua vida, ela passou o dia inteiro lá e disse que se ela pudesse, não iria embora nunca mais. Ela tirou várias fotos e chorou algumas vezes, pois tudo lembrava sua avó. Depois daquele dia, Anastácia se ofereceu para trabalhar nesse Jardim, ela passou sua vida inteira trabalhando nele e se sentia feliz, pois ela fazia o que mais gostava de fazer.
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Ela imaginava que ela não estava sozinha naquele lugar, pois sua avó estava ali presente do lado dela, não na carne, mas na alma, ajudando-a e sorrindo sempre com orgulho de sua neta. Depois daquele dia, ela aprendeu que nunca se deve desistir de seus sonhos e que as pessoas podem estar mais próximas de você do que você imagina, não é porque a pessoa morreu que você deve excluí-la totalmente da sua vida. Um dia, naquele mesmo Jardim, Anastácia, com 74 anos, teve um infarto e morreu sentada em um banco, vendo a estufa do Jardim Botânico com sua neta, que iria seguir com o mesmo sonho que a sua avó.
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O Anjo da Guarda
O Anjo da Guarda Jardim Botânico Foto de Raíssa B. Borges
No centro da cidade, lá estava Pedro, sozinho, naquele frio de rachar os dentes, só com a mantinha que levou depois de fugir do orfanato. Foi abandonado pelos pais com três anos de idade… Hoje, ele tem sete anos e já se cuida como um mocinho e com a ajuda de Fred, enfrenta o mundo. Andava o dia todo pelas ruas de Sorocaba para conseguir pelo menos algum alimento para matar sua fome. Sua vida era dura, mas sempre tinha a companhia de Fred para tudo, o que lhe confortava. Na maior parte do tempo, ficava brincando com seu amigo, que sempre o protegia de possíveis encrencas. Sempre que possível, ele dormia na estufa do Jardim Botânico. Chegava bem tarde da noite, depois da hora de fechar, já com o guarda no sétimo sono. Entrava por uma frestinha de vidro que estava quebrada e ficava lá até o amanhecer, quando abriam as portas e o pobre coitado era expulso sem o menor cuidado. Fred dizia gostar muito de ficar andando por lá, gostava de ficar sozinho com seus pensamentos, observando uma majestosa rosa vermelha, mas nunca ficava por muito tempo longe de seu amigo. 56
Pedro levava uma vida sofrida, mas via as coisas sempre do melhor modo possível, pensando sempre que no dia seguinte as coisas iriam melhorar. Fred era muito esperto. Um dia, teve a ideia de levar Pedro para conversar com o dono de uma grande padaria, seu Carlos: — Olá, seu Carlos, meu nome é Pedro, como está o senhor? — Olá, Pedro, eu estou muito bem! Por que você anda sozinho pelas ruas de Sorocaba? Onde estão seus pais? — Não estou sozinho, estou com meu amigo Fred. Então Pedro contou sua história e o modo que vivia. Sendo um garoto muito simpático, seu Carlos prometeu que daria todos os dias, pela manhã, um pedaço quentinho de pão e ainda lhe deu um casaco novo para não sentir frio. A partir desse dia, as coisas começaram a melhorar na vida de Pedro. Com a ajuda de seu Carlos, tinha algo para comer todos os dias e um casaco quentinho para os dias mais gelados. Um dia, Fred teve a ideia de brincar de caça ao tesouro com Pedro por toda a cidade, com o mapa feito por ele. No mesmo momento, começou a brincadeira: — Tudo bem, vamos começar pela primeira pista — disse o menino. — Vá para a biblioteca da cidade e encontre o livro O Príncipe Azul — disse Fred. Após encontrar o livro: — Essa foi fácil, vamos para segunda pista — pediu empolgado. — Vá para a Rua das Lembranças e encontre um casaco azul e um cachecol, lá estará a próxima pista — continuou Fred. — Achei! Foi um pouco mais difícil… Me conte a terceira pista agora! Estou muito curioso para saber o que mais tenho que encontrar! — exclamou ansioso. — Encontre uma majestosa rosa vermelha no Jardim Botânico, essa é a última e mais importante pista de todas! Você ficará muito feliz ao encontrá-la — completou Fred. Chegando ao Jardim Botânico, Pedro saiu em disparada para encontrar o último tesouro da brincadeira, essa foi a mais difícil de encontrar. Quando achou, deu pulos de alegria! Mas quando virou para mostrar a rosa para seu amigo, ele não estava mais lá! O garoto entrou em desespero, e sem saber o que fazer, decidiu sentar e desabou em lágrimas, quando um casal se aproximou com dó do pobre coitado, querendo saber o que havia acontecido.
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— Com licença, por que você está chorando, onde você conseguiu essas coisas?— Indagou Júlia. — Passei todo o dia brincando com meu amigo de caça ao tesouro, mas quando consegui o último objeto, ele sumiu, não estava mais lá! Não sei o que fazer! — choramingou Pedro. — Mas onde você conseguiu esse casaco, esse cachecol, o livro do Príncipe Azul, e… a rosa ?— perguntou a moça um pouco nervosa. — Esses eram os objetos que eu tinha que encontrar, os objetos que meu amigo falou para encontrar — contou um pouco chateado. — E como é esse amigo? — indagou preocupada. — Ele é loiro, tem olhos castanhos, tem dez anos e adora ficar aqui nesse Jardim. — Meu Deus! Como é o nome dele? — indagou mais nervosa do que já estava. — O nome dele é Fred — respondeu o garoto. — Fred! Esse é o nome do meu filho, e essas são as coisas de que ele mais gostava! — exclamou a moça de um modo meio grosseiro. — Como? Ele sempre ficou comigo, sempre me traz aqui, ele adora esse lugar! — respondeu curioso. — Meu filho, quando tinha 10 anos, morreu saindo da escola quando um carro o atropelou, e você descreveu perfeitamente o jeito que ele era — choramingou a mulher antes de desabar em choro. — É por isso que só eu conseguia vê-lo? Ele sempre me ajudava — disse confuso. — Ele foi seu anjo da guarda e acho que te trouxe até nós, não está aqui por acaso — respondeu um pouco mais calma. — Você quer viver com a gente? Ser nosso filho? — Adoraria ser parte de uma família novamente! Lá de cima, Fred os observava, estava finalmente livre, muito feliz depois de conquistar seu grande objetivo, dar um filho para seus pais e dar pais para seu amigo. Boa parte dessa história se passou no Jardim Botânico de Sorocaba, um dos lugares mais bonitos da cidade para visitar, que foi aberto em março de 2014, recebendo o nome de Irmãos Villas Bôas. O Jardim é uma ferramenta fundamental para salvar espécies nativas, sendo um local preservado, tendo em exposição diversas espécies de plantas. Raíssa Bornia Borges 58
O ASSASSINO FRACASSADO
Catedral
Tudo começou quando uma turma de um colégio de Sorocaba foi visitar a igreja no da cidade. Eles foram pra lá em uma excursão, mas não se deram conta de que tinha um homem vigiando a todos. Eles entraram na igreja, tiraram as fotos e foram embora, e esse homem, chamado Felipe, foi seguindo o ônibus. Quando chegaram ao colégio, o homem seguiu a rua e foi embora, pois já tinha avistado sua vítima. Uma semana depois, ele voltou para as redondezas do colégio e avistou a garota escolhida, Maria. Ele estacionou o carro um pouco longe do colégio para que ninguém, nem os seguranças disfarçados (os quais ele descobrira, pois era um ótimo observador) soubessem que ele estava ali. Ele estava de olho na garota já fazia uns quinze minutos, quando um homem veio buscá-la. O assassino supôs que era o pai, esperou-a entrar no carro e ir embora. O carro passou na frente de onde ele estava estacionado, e Felipe seguiu-os até chegarem em um condomínio na Rodovia Raposo Tavares. Passaram-se dois dias e Felipe foi até uma imobiliária para comprar uma casa naquele condomínio em que Maria morava com seu pai, mãe e irmão (Felipe descobrira isso com um de seus contatos). O corretor argumentou que só tinha uma casa à venda naquele condomínio, e que custava 1 milhão e meio de reais. Felipe respondeu ao rapaz que voltaria mais tarde. Ele, então, foi até sua casa, uma cobertura não muito longe do colégio em que a menina estudava, e pensou se tudo aquilo que ele estava fazendo valia mesmo a pena, só para trazer um pouco de prazer pra si mesmo. Cansado de pensar, Felipe se deitou e caiu no sono. Depois de um tempo, ele acordou, viu que já eram quatro e meia da tarde, e a imobiliária fechava às cinco. Ficou parado na cama por um instante, 59
refletindo e, por um espaço de segundo, ele pensou em parar, mas aquela vontade sanguinária voltava, e ele disse a si mesmo: — Esse não sou eu, não tenho dó nem temor, amanhã mesmo eu mato aquela garota. Felipe foi para a imobiliária e comprou a casa. No dia seguinte, mandou colocarem móveis e mandou uma faxineira para limpar o local. Quando eram por volta de seis horas da tarde, já estava tudo certo, limpo, e arrumado. Quando deram onze horas da noite, Felipe saiu de sua casa e foi em direção a de Maria. Felipe sabia que os pais dela não estavam em casa, porque toda sexta à noite eles saíam para se divertir, apenas os dois, ele então chegou em frente à casa e entrou pela lateral. Foi andando corredor por corredor, até que ele se deu conta que não tinha ninguém em casa. Felipe saiu da casa da Maria e voltou para a sua. Chegou em casa, foi direto para a hidromassagem. Ele acordou bem cedo no outro dia, eram dez para cinco da manhã e Felipe já estava de pé, arrumando suas coisas para dar um susto nos amiguinhos do colégio de Maria. Cinco e meia da manhã, lá estava ele, na escola da garota, pendurado em uma janela, jogando álcool em tudo, em todas as janelas da parte da frente da escola. Dez para as seis da manhã, já havia pessoas no colégio, então decidiu escapar devagarzinho. Foi embora para casa, deixou o carro na garagem e foi a uma concessionária mais perto, andando. Comprou um carro preto com vidros escuros, levou-o até a garagem de sua cobertura e modificou a placa com fita adesiva preta. Colocou uma máscara, pegou o carro e foi até em frente à escola, abriu o vidro do carro e soltou uma espécie de bombinha em uma das janelas, fechou o vidro do carro e saiu cantando o pneu. Cinco segundos depois, houve uma explosão em umas das salas, e o fogo se espalhou para as janelas do outro lado, fazendo a outra sala tremer e ficar em chamas. Nessa altura do campeonato, muitos alunos saíram correndo para fora do prédio, e outros ajudando quem estava ferido por causa da explosão. Maria não se feriu, pois ficava do outro lado da sala, longe da janela. Quando Maria escutou o estrondo e sentiu o calor atravessando sua pele, saiu correndo para fora do colégio. Quinze minutos depois, os bombeiros chegaram para apagar o fogo, muitos pais tinham chegado desesperados, perguntando o que tinha acontecido com seus filhos. Maria ligou para seu pai e disse a ele o que tinha acontecido, o pai dela logo desligou o celular e foi para a escola, demorou um pouco, pois o consultório dele era meio longe de escola, mas logo chegou. Maria entrou no carro, chorando desesperada, e contou tudo com detalhes, enquanto iam embora. Chegando em casa, pediu para a empregada 60
fazer um hambúrguer triplo (quando fica nervosa, Maria come demais, mas mesmo assim não deixa de ser magra), foi para seu quarto e ficou mexendo no celular, mandando mensagem para todos os amigos, perguntando se tinham novidades, mas ninguém respondia. Bloqueou o celular, colocou na cômoda e dormiu. Acordou às três e meia da tarde, viu um bilhete de seu pai na cômoda, escrito: “Melhoras, filha. Queria ficar, mas tenho que trabalhar. Um beijo! P.S.: Volto mais cedo hoje.”
Ela olhou o pé da cama e lá estava seu super sanduíche já frio, levantou-se e foi tomar um banho, saiu do banho, trocou-se e foi para a cozinha comer. Ninguém estava em casa, sua mãe e seu irmão estavam na academia, o pai trabalhando e a empregada tinha ido embora mais cedo, pois tinha recebido uma mensagem de seu “patrão” que estava liberada. Boba nem nada, foi para casa. Lá estava ela sozinha, comendo na bancada da cozinha um salgado, quando, de repente, ela escutou um barulho. “Vem lá de fora”, pensou ela, e estava certa: era o assassino tentando entrar na casa, mas estava tudo trancado. Maria subiu correndo para a sala de música de sua casa, pois lá tinha um lugar ideal para se esconder, mas antes entrou em seu quarto para pegar seu celular. Quando virou-se, tinha um homem de jaqueta preta e uma máscara da mesma cor, com um machado nas mãos. Ela gritou, e ele veio correndo em sua direção. Ela tropeçou na cama e ele não conseguiu acertá-la. Ela então pegou um quadro de vidro estava em sua cômoda e atirou na direção dele, fazendo-o cair no chão. Pegou o machado dele e acertou-lhe os dois braços, depois ligou para a polícia e para seus pais. A polícia chegou, e logo depois seus pais chegaram também. Por mais que seja surpreendente, ela não estava chorando, estava orgulhosa de si mesma por ter feito aquilo, e um pouco nervosa, é claro. Depois que o assassino foi para a cirurgia e ficou em recuperação por três meses, ele foi interrogado pela polícia, confessou tudo e contou que isso tinha começado quando viu aquela turma daquele colégio indo fazer uma excursão no centro da cidade em uma igreja.
João Victor Vieira Medeiros 61
O escritor solitário
U
m escritor chamado Jorge estava andando no centro da cidade, quando passou pelo mosteiro de São Bento. Ele estava buscando inspiração para seu novo livro e ficou curioso para saber mais sobre o mosteiro e Baltazar Fernandes.
Baltazar Fernandes
Ele entrou no mosteiro para buscar mais informações e o guia explicou: — Em 1654, Baltazar Fernandes chegou à vila de São Paulo, depois se mudou com a família para o rio Sorocaba e lá construiu uma fazenda, uma casa e uma capela para Nossa Senhora da Ponte. Sorocaba começou a crescer graças à capela, que hoje faz parte do nosso mosteiro. Esse edifício é feito de taipa com paredes irregulares e o altar da igreja é feito de ouro com os despojos de seu fundador. A estátua que temos lá fora é feita de bronze e foi feita por Ernesto Biancalana, em 15/08/1954. Depois dessa explicação, Jorge foi correndo pra casa começar a fazer os primeiros rascunhos de seu livro. Passou a noite tentando começar a escrever, mas não conseguiu. No dia seguinte, voltou ao mosteiro para mais uma explicação do guia que, quando o viu, surpreendeu-se. — Ora, eu não te vi ontem aqui na visita das duas e meia? — perguntou o guia com um ar de interesse. — Sim, estou procurando inspiração para meu livro, mas ainda não consegui nada — respondeu Jorge desanimado. 62
— Acho muito legal pessoas com interesse nos monumentos históricos de nossa cidade — declarou o guia com orgulho. — Passei essa noite inteira olhando para a tela do computador sem conseguir escrever nada — explicou Jorge, já quase indo embora. — Não desanime, você não precisa de inspiração, você precisa de transpiração, como minha professora de português da escola sempre me dizia quando ela pedia uma produção de texto para a classe! — afirmou o guia, querendo motivar o escritor. — Obrigado, era exatamente disso que eu precisava: de esforço, eu preciso pensar e ler mais um pouco — proclamou Jorge pulando de alegria. O escritor voltou pra casa e passou outra noite em claro, estudando mais sobre o mosteiro e sobre Baltazar Fernandes. Finalmente conseguiu começar a escrever sua história. Começou e não parou mais. No final seu livro, estava com 527 páginas e contava sobre uma família que se mudara pra Sorocaba em sua fundação. Ao total, ele ligou pra dez editoras, mas nenhuma aprovou sua proposta e disseram que era desinteressante e muito vaga. Jorge não desistiu, continuou reescrevendo seus textos e dinamizou muito mais sua história. Depois de um ano, sua história finalmente foi publicada e seu nome era As aventuras de Josh Ferguson. O livro não contava mais a história de uma família que viera morar em Sorocaba, mas de um garoto órfão que veio para cá com outras crianças e morava em um orfanato. Os livros foram publicados pela Editora Abril e, em menos de duas semanas, já tinham sido vendidas mais de meio milhão de cópias. Um mês depois do lançamento de seu livro, Jorge deu uma coletiva de imprensa e disse que foi inspirado pelo guia do mosteiro de São Bento, que o motivou a não desistir. Algum tempo depois, foi ao mosteiro novamente para falar com o guia, mas recebeu uma péssima notícia. 63
— Com licença, eu gostaria de falar com o Ricardo? — pediu Jorge, animado para visitar seu amigo. — Desculpe-me, senhor, mas o Ricardo faleceu há duas semanas — esclareceu a atendente do mosteiro. Nesse momento, houve um choque em sua mente. Jorge ficou muito abalado, não acreditava que seu amigo estava morto. Voltou pra casa na mesma hora e ficou pensativo por um tempo. Quando recuperou a compostura percebeu que estava sozinho novamente.
FILIPPO FERRARI
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O Herdeiro do Diabo Em uma casa muito humilde, vivia uma família pobre, muito pobre. Na residência, moravam duas crianças, e sua mãe, uma mulher viúva cujo marido morrera de uma morte violenta. As crianças se chamavam Molly e Sam, e eram meio-irmãos.
FloresFlores do Jardim Botânico
Jardim Botânico Molly era filha de sua mãe, Mary, com seu falecido pai. Já Sam era filho de Mary com o demônio. E por isso o garoto vivia trancado no porão da casa, para não matar ninguém, assim como o fez com o pai de sua meia-irmã.
Enquanto a casa era moradia do filho do demônio, Deus olhava pela segurança das almas puras de Mary e Molly. Os anjos divinos também oravam pelas duas. Por ser filho de um ser diferente dos humanos, com uma mulher normal, Sam tinha um pouco de amor, um pouco, mas tinha. Esse amor era por Molly. Sua meia-irmã era a única pessoa que o tratara como gente e não como animal. Toda vez que a mãe das crianças saía de casa, a garotinha abria os cadeados que trancavam Sam no porão e a porta, para falar com o meio-irmão: — Você está feliz hoje? — Não... Nunca estou. Não gaste suas palavras para perguntar isso mais uma vez. Você sempre sabe a resposta. No fundo, Molly sentia pena do pobre monstrinho. Afinal, ela era tão pura, mas tão pura, que não conseguia enxergar maldade em ninguém, muito menos no próprio irmão. A casa da família era longe de tudo. Mary não queria que a pequena fera machucasse ninguém. Ela lembrava sempre de seu querido marido, humano. Ah, como o amava! Mas não pôde desfrutar de sua companhia para sempre. A mulher culpava o menino pela morte de sua maior paixão, e, realmente, foi ele quem matou seu marido violentamente. Para alimentar o prisioneiro, Mary dava-lhe os restos da comida do jantar. Mais precisamente, carne. Ela abria a porta do porão e jogava tudo no chão. Odiava o menino, raiva era o sentimento que a dominava quando Molly dizia seu nome: 65
— Mamãe, por favor! Ele não merece isso, no fundo sei que tem um bom coração. — Bom coração? O único coração que ele tem dentro de si é o de seu pai, Molly! Ele o devorou vivo, não se atreva a chegar perto dele, não posso perder você também! A garota ficou chocada ao ouvir aquelas palavras da mãe. Não demorou muito e já desabou a chorar. Pensou em ir conversar com Sam, mas lembrouse rapidamente do que o garoto fizera a seu pai. No dia seguinte, Mary foi à igreja. A pura menina Molly foi falar com o meio-irmão, enquanto sua mãe estava fora. Novamente tirou os cadeados e abriu a porta. Estava muito enraivecida, precisava de uma explicação, então, vociferou: — Seu monstro! Você comeu meu pai vivo! Nunca pensei que você... Eu não posso acreditar. — Não fui eu, Molly! Foram meus instintos que tomaram conta de mim, por favor, não tenha ódio de mim, todos que me odeiam, sofrem, e eu não quero que você sofra, minha irmã! — Tarde demais... Eu te odeio, tenho raiva de você como minha mãe, assim como nunca tive antes. — Pare, Molly! Vou me transformar em um monstro se você não parar! Por favor! Já era tarde. Quando Mary chegou do culto, viu a terrível cena de seu filho devorando sua filha. Sam, pela primeira vez na vida, chorou. Foi apenas uma lágrima, mas essa mesma lágrima juntou-se com o sangue de Molly no chão do quintal, e fez com que do chão nascessem rosas, lindas rosas que Deus e os anjos do céu fizeram em homenagem à pura alma da garota.
Izabel Cristina Dionisio Galvão
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O Jardim
D
De alguma forma, muitas pessoas podem olhar para essa foto e pensar “o que tem de tão importante na foto? É apenas uma foto como outra qualquer”. Mas, na verdade, essa foto não é como outra qualquer. Acontece que ela foi cenário de um grande acontecimento há muitos, muitos anos.
Em 1963, havia uma poderosa família que morava na cidade de Sorocaba, a família Frell. Embora a família fosse Jardim Botânico muito poderosa e se achasse muito melhor do que todos, a filha caçula de Hobert, o mais rico da família, era uma gentil e adorável menina. Ela se chamava Ella de Frell. Ella adorava escutar o canto dos pássaros ao amanhecer. Fazia questão de, todos os sábados, acordar antes do amanhecer para poder sentar-se em sua janela e esperar pelos passarinhos. Por ser uma menina doce, que não se importava para como a pessoa se vestia ou para quanto dinheiro a pessoa tinha, seu pai não se orgulhava muito dela. Hobert achava que pessoas com dinheiro deviam ser rudes, arrogantes, malvadas. Por isso, Ella de Frell não saía muito de casa e não conhecia muito as pessoas importantes. Ella apenas ficava em casa conversando com os pássaros, o que muitas pessoas achavam solitário, e cuidando da casa. Por passar muito tempo cuidando da casa e, quando não estava cuidando da casa, ajudando as outras pessoas mesmo que não as conhecesse, a linda menina não cuidava muito de si. Ela acreditava que era egoísta ficar se olhando no espelho ou cuidando da aparência. Apenas se olhava no espelho de três em três meses para cortar o cabelo e mantê-lo sempre no tamanho que desejava. Apesar de seu pai e de o resto da família acharem que ela era uma vergonha para a sociedade, sua mãe, Perrie, a apoiava em tudo o que fazia. 67
Sua mãe achava muito bonito ter uma filha que preferia cuidar dos outros e ajudar os mais pobres com seus trabalhos a passar horas se arrumando em frente a um espelho. Sua mãe contava que as pessoas deviam ter sempre um pouco de conto de fadas em suas vidas. O conto de fadas preferido de Perrie era Cinderela. Um dia, enquanto Ella se perdia em seus pensamentos, pensou “por que é que Cinderela é o conto favorito de minha mãe? Talvez eu devesse saber mais coisas sobre ela, afinal, ela é minha mãe” e decidiu perguntar na próxima vez que a visse: — Mãe? — Sim, filha? — Quando eu era pequena, você, depois de me contar uma linda história que criara, me disse que seu conto favorito era Cinderela, por quê? — Bem, filha. Eu gosto de Cinderela, pois a história conta que não importa o que aconteça em nossas vidas, sempre podemos escolher o bem, a gentileza e sermos sempre felizes, alegres, bons e gentis. E sabe por que mais? — Por quê? — Porque me lembra você! — Eu? — Sim, você! — Por quê? — Você mesmo tendo mais dinheiro do que quase todas as pessoas dessa cidade, ainda prefere sempre ser gentil com todos e ajudar todos. É feliz todos os dias, não importa o que aconteça. E esse é um dos motivos pelos quais eu amo você! — Ow! Obrigada, mamãe. — De nada, filha linda. Tenho muito orgulho de ser sua mãe. Ella adorou saber que se parecia com Cinderela, pois achava uma linda história e desde pequena, tentava ser parecida com ela. Um dia, todas as meninas ricas de São Paulo foram convidadas para uma festa. O filho do homem mais rico do mundo tinha ido para Portugal para fazer Medicina e, depois de oito anos fora, estava voltando. Para comemorar, seu pai planejou a festa com a intenção de achar uma pretendente rica para seu filho, pois acreditava que um homem que preste, tem que ter uma mulher ao lado. 68
Hobert disse que, querendo ou não, Ella teria, com certeza, que ir para a festa. A garota, mesmo odiando a ideia de ir para uma festa onde todas as meninas só ligavam para a aparência, decidiu obedecê-lo, pois era seu pai. Sua mãe preparou tudo para a filha e tudo o que teria que fazer seria colocar o que sua mãe mandasse e ir à festa. O dia chegou e ela colocou um vestido, deixou sua mãe arrumar seu cabelo e foi. Ao chegar lá, Ella entrou no salão com sua família toda, pois sua família era muito amiga do pai do estudante. Quando entrou, todos olharam para ela, pois era a mais bela de todas e não costumava se arrumar. Mesmo ela estando muito bela naquela noite, ainda achavam-na feia e estranha. Como ela descobriu que todas as pessoas a achavam estranha, ela decidiu investir em seus estudos, em vez de esperar para ser sustentada pelo próprio marido. Ela estudou até o colegial, mas não fez faculdade. Decidiu escrever um livro para passar o tempo, pois se deu conta de que seu pai não a deixaria fazer faculdade. Ela sempre foi fascinada pela psicologia, então decidiu escrever um livro como se fosse para outras pessoas, mesmo sabendo que ninguém leria. Ella de Frell, depois de 11 meses, terminou de escrever seu livro e guardou-o embaixo da cama. Continuou vivendo como sempre e não contou para ninguém sobre o livro, nem mesmo para sua mãe. Depois de mais ou menos um ano, descobriram que Hobert estava roubando a cidade e, por isso, perderam tudo o que tinham. A única coisa que Ella conseguiu salvar foi seu livro. Como seu livro era uma coisa que ninguém sabia e ela esperava que ficasse assim, a menina decidiu enterrar seu precioso livro em um terreno bem longe do centro da cidade, onde a maioria das pessoas morava. Neste terreno, não havia nada construído desde que nascera e pensou que continuaria assim por muito tempo. Depois disso, Ella se mudou para São Paulo, casou-se e teve três filhos. Continuou tendo uma vida altruísta, mas começou a pensar em si mesma também. Quando estava com mais ou menos 57 anos, um homem bateu à porta. Ela abriu e ele procurava por Ella de Frell. Ella achou estranho alguém procurando por seu nome de solteira, mas disse que era ela. Então o homem respondeu surpreso: — Ella de Frell? Sou Martin, um psicólogo famoso. Vim aqui, pois achei seu livro. Ele é muito interessante e fico surpreso de saber que escreveu-o com apenas 15 anos de idade! — Meu livro? COMO? Nem me lembrava dele! — Pois é. Estamos construindo um Jardim Botânico no terreno onde ficava seu livro. E… bem, eu li seu livro e ele é muito bom. Quero publicá-lo. 69
— Como? Não sou escritora. Terminei o colegial e nunca mais estudei. Não posso publicar um livro! — Na verdade, pode sim! Falei com um amigo meu e ele adorou seu livro e quer publicá-lo. — Publicar? Meu livro? Isso não é possível! Deve estar havendo algum engano. Claro, eu escrevi um livro quando era mais nova, mas eu enterrei-o muito bem. E enterrei-o em um terreno o qual não tinha dono. Ele era muito afastado do centro da cidade e não era do lado longe, onde existiam coisas! Era do lado onde muitas pessoas nem sabiam que existia! — Realmente, você escondeu seu livro bem escondido, mas é evidente que faz anos que você não vai a Sorocaba, não é mesmo? — exclamou o psicólogo. — Bem — suspirou Ella — desde que saí de lá, por meu pai ter roubado a cidade, nunca mais a vi, pois sempre achei que não seria recebida com felicidade. Mesmo eu sendo minha vida toda contra o que meu pai fazia, de se achar melhor do que todos e se sentir bem quando humilhava as pessoas, eu acho que ainda assim existem pessoas lá que pensam que eu fazia parte deste roubo de meu pai e, por esse motivo, depois de sair de lá, nunca mais voltei. Lembranças me fazem, muitas vezes, ter raiva de tudo o que meu pai e minha família fizeram! E, por alguns instantes, duvidar da humanidade! — Ella… — começou Martin, que foi interrompido por Ella: — Mas tem uma coisa que eu ainda não entendi. Como você sabe que quem escreveu esse livro fui eu? Quero dizer, eu até assinei o livro, mas eu desisti de assinar e arranquei a folha logo em seguida, retirando então todos os vestígios de que fui eu quem o escreveu. — Olha só, querida, eu achei o livro e pensei que você não me perguntaria isso, mas, vamos lá… Eu achei seu livro lá enterrado quando estava mandando os operários operarem as máquinas corretamente. O homem que estava com a escavadeira tirou o seu livro debaixo da terra e, como eu pensei que pudesse pertencer a alguém do passado, que provavelmente já tivesse morrido, peguei-o e guardei. Quando cheguei em casa, abri—o com muitíssimo cuidado para não rasgar, pois as folhas já estão bem velhas. Quando abri, caiu uma carta. Uma carta para uma tal de Dirce. — Dirce era minha querida avó — cortou a menina novamente. — A carta era para Dirce e ela começava com “Querida vovó” e estava assinada como “sua neta, Lela d’ Frell”. Fui procurar quem era Dirce, pois imaginei que, como a carta era para ela, a moça devia ter recebido a carta, colocado-a dentro do livro e enterrando-o. Eu procurei como Dirce d’ Frell mas não havia nenhuma Dirce d’ Frell. Como não achei, decidi procurar Lela d’ Frell, mas a verdade é que não havia nenhuma pessoa com o sobrenome d’ Frell. 70
— É porque o certo é “de Frell” e não “d’ Frell”, entendeu? — resmungou a moça. — Bem, eu sei disso, agora! — disse ele brincando — Como não achei ninguém registrado com esses nomes, voltei para casa para ler o livro e ver se achava alguma pista. Depois que terminei de lê-lo, me senti na obrigação de achar quem escrevera o livro, pois ele era exatamente o que eu pensava, mas que obviamente, é o que a minoria das pessoas pensa! Eu olhei a carta novamente e descobri que havia um endereço para o qual a carta deveria ter sido enviada! Fui até o lugar e achei uma senhora muito velha, que parecia ter 70 anos mais ou menos. Perguntei qual era seu nome e ela me disse “Dirce Franques Barros”. Eu pensei que era apenas uma coincidência ela se chamar Dirce, mas decidi perguntar mesmo assim. Ela me disse que Lela d’ Frell era como ela chamava sua neta favorita, Ella de Frell. Ela me contou tudo o que havia acontecido e que sentia a sua falta. Ela foi muito simpática e me perguntou o que queria com você. Eu contei que era psicólogo e ela logo me perguntou sobre o livro. Mas… eu já estou demorando muito e tenho outras coisas para fazer! Enfim, quero publicar seu livro. Quero colocá-lo em jornais, revistas, falando sobre o livro que foi encontrado onde hoje é o Jardim Botânico de Sorocaba. — Onde é? — retrucou Ella — achei que você me disse que ainda iam construir o Jardim! — Não! Eu disse que quando estava construindo o Jardim achei seu livro, mas eu não disse que ele ainda não está pronto! Faz anos que eu a procuro para publicar seu livro. Então… posso? — Pode! Mas eu quero ver algumas fotos desse Jardim! Nem acredito que a cidade cresceu tanto a ponto de construírem coisas para aquele lado da cidade! O tempo passou mesmo! E ela decidiu escrever mais um livro, mas dessa vez um pouco diferente. Dessa vez o livro falaria sobre o Jardim Botânico. Ella de Frell voltou para Sorocaba, viu o Jardim Botânico, lançou seu livro, e a foto que estava na capa foi a primeira foto que Ella viu do lugar, que agora é seu lugar favorito, o Jardim Botânico.
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Maria Eduarda Franques Barros Garcia
O Maravilhoso Sonho de Ana
Mariana Yuraki Shimao
Rosa, Jardim Botânico Sorocaba
Dantas
Lá no passado, há muito, muito tempo, existia uma garotinha chamada Ana Paula de olhos azuis, iguais ao mar, e cabelo loiro, como os da sua querida avó, uma senhora simpática chamada Helena. Essa menina morava com sua avó desde quando era pequena, pois sua mãe havia falecido no parto e seu pai fora morto em uma das guerras. A menina morava na Inglaterra e veio para o Brasil com cinco anos de idade. Sua avó queria morar em Sorocaba, pois boa parte de sua família morava lá, e ficaram na cidade por sete anos. Quando a menina tinha 13 anos, pediu para sua avó: — Vovó, realiza meu sonho? Agora que fizeram um Jardim Botânico aqui em Sorocaba, me leva para ver as árvores, as plantas, o gramado, o jardim e o mais importante, as flores? A senhora sabe como amo as flores — explicou a menina com um sorriso no rosto, entusiasmada no sofá. — Oh, meu amor! Claro que levo você, amanhã pode ser? Porque agora já está tarde e a vovó já está muito cansada — respondeu a avó contente. — Hahaha, pode sim, a senhora sempre está comigo realizando meus melhores sonhos, obrigada, amo você — respondeu a menina com um sorriso no rosto, indo em direção da sua avó para abraçá-la. 72
Logo depois, a menina foi trocar-se e colocou seu despertador às 9 horas da manhã, pois tinha recebido informações de seus colegas que o Jardim não abria muito cedo. Logo então ela se deitou e sua avó foi lhe cobrir e dar um beijo de boa noite. No dia seguinte, Ana acordou com o barulho do seu despertador e logo foi acordando seu cachorrinho chamado Bob e sua avó, que estava toda descabelada e com o rostinho de quem tinha acabado de acordar. A menina logo pulou em sua cama e disse: — Vovó! Vovó! Vovó! Está na hora de acordar, vamos, se não chegaremos lá muito tarde, acorde e se arrume, vou fazer café da manhã para nós duas — gritou a menina toda alegre. — Calma, Ana! O jardim fecha apenas às 19h, temos todo o tempo do mundo, vou me arrumar e depois saímos, fique calma para não se machucar — explicou sua avó, ainda deitada na sua cama. Ana desceu correndo para fazer o seu café da manhã, pegou pães dali, pegou leite daqui, pegou margarina ali, derrubou açúcar no chão até conseguir deixar todas as coisas em ordem e fazer um café bem gostoso, afinal, aquele era um dia muito especial para ela. — Vovó, anda, vamos rápido, já está na hora — gritou a menina entusiasmada. — Estou descendo, netinha, muita calma, a senhorinha aqui não sabe descer a escada igual a vocês, jovens — respondeu Helena dando risada. Após tomarem café, saíram de casa para ir ao Jardim Botânico. Ao chegarem lá, Ana viu uma flor linda e resolveu tirar foto e tocá-la. Quando se aproximou, percebeu que a flor falava e ainda conversou com ela: — Como é o nome de vocês duas? — perguntou a flor. — Como assim?! Uma flor fala?! Vovó, olha que sensacional! — espantada a menina se afastou da flor. — Meu nome é Helena e da minha neta, Ana Paula, mais conhecida como Ana, e o seu?— perguntou Helena. — Meu nome é Rosa — respondeu a flor, alegre por ter encontrado amigas. Logo depois, Ana ficou mais solta e quis conversar com a Rosa.
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— Rosa, meu sonho era poder vir aqui, conhecer sobre tudo, saber toda a história, você está aqui faz tempo? Poderia me contar? — alegre Ana questionou Rosa. — Claro! Vou te contar tudo sobre esse Jardim! Sentem aqui no gramado para te contar tudo — falou ela — Bom, vamos lá! Um jardim Botânico é proposta ao cultivo, manutenção, conservação e divulgação de vegetação. Nesses espaços, numerosas espécies e variedades de plantas selvagens e hortícolas são cultivadas. Quase sempre, os Jardins Botânicos dispõem de instalações adequadas para a conservação de espécies exóticas que não se adaptam bem ao clima local. As estufas protegem as plantas que não aguentam climas frios. — explicou Rosa super animada. A avó e a neta estavam com um sorriso enorme, só escutando e sempre aprendendo mais. — Quais foram os primeiros Jardins Botânicos? Quem foi que criou esse mundo lindo? — questionou novamente Ana. — O Jardim mais antigo de que se conhece é o Royal Garden of Thotmes III, que foi idealizado por Nekht, chefe-jardineiro do Jardins ligados ao templo de Karnak. Apesar da beleza desses Jardins, falaram que a sua importância se deve a motivos econômicos. No entanto, pode-se considerar que os Chineses foram os verdadeiros inventores do conceito de Jardim Botânico, uma vez que se comprova que os coletores de plantas eram enviados para partes longínquas e as plantas que traziam eram cultivadas pelo seu valor econômico e medicinal — explicou ela. Depois que Rosa contou para as duas, elas foram andar pelo Jardim, tirar foto das flores, deitar no gramado, beber água e fazer um piquenique. Ficaram lá até o final da tarde, voltaram para casa, cansadas, mas super felizes. Ao chegar em casa, Ana agradeceu muito a sua vovó por mais um sonho realizado e que aquele sonho ela gostaria de contar para os filhos, netos e para toda a família, pois foi um dos sonhos mais legais e mais loucos também, pois ela falara com uma flor.
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Foto: www.skyscrapercity.com/ showthread.php?t=1664708 Acesso: 25/08/14
Jardim Botânico de Sorocaba - SP
Em uma noite calorosa de sábado, eu e meus amigos fomos ao Jardim Botânico de Sorocaba em uma excursão. Todos estavam bem alegres. Quando chegamos lá, o guia do parque nos deu algumas instruções e assim seguimos em frente, passamos por vários lugares, como canteiro de flores, pequenos lagos e outras coisas. Depois, quando o guia terminou de explicar cada coisa do parque, fomos fazer uma trilha. Nessa trilha, as coisas não pareciam tão legais quanto o parque, era tudo escuro e não havia ninguém, a não ser a turma da escola e alguns bichos. Na trilha, havia morcegos e outros bichos tenebrosos. No caminho, havia também galhos e pedras grandes, que às vezes
dificultavam nossa passagem. O guia que estava conosco se enroscou em um galho e se machucou. Enquanto isso, o grupo da frente continuou andando, deixando-nos para trás. Quando nosso guia se levantou, nós já estávamos perdidos, não sabíamos o caminho para sair daquele lugar. O guia, como se nada estivesse acontecendo, disse: — Vamos andando. Ninguém disse nada e todos continuaram andando. Depois de algum tempo andando, o guia disse que estávamos perdidos. Todos entraram em desespero, ele tentou nos acalmar, mas não deu nada certo.
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Começamos a gritar por socorro, mas ninguém aparecia. Então escutamos um barulho meio estranho e, ao mesmo tempo, familiar. Esse barulho foi se aproximando cada vez mais. De repente, o barulho se extinguiu, e começamos ouvir passos em nossa direção. Julio, o mais corajoso do grupo, deu um grito de espanto, olhamos para trás e vimos um homem alto com uma serra elétrica. Todos nós entramos em pânico e corremos. De repente, todos se dispersaram. Fiquei parado com muito medo, vi o homem se aproximando. Corri e entrei em uma pequena casa na qual havia vários machados, facas e outras ferramentas. Havia sangue espalhado no chão e o local cheirava a podre. Eu notei que o homem ainda se aproximava, então entrei em um pequeno porão e me apavorei ao me deparar com vários corpos jogados no chão. O homem havia entrado na casa, então me escondi atrás de uma prateleira. Ele desceu para o porão e ficou furioso por não ter me encontrado.
O homem começou a cheirar o lugar como se tivesse sentindo o cheiro de alguma coisa. Ele foi chegando cada vez mais perto, olhei para o lado e vi um machado com o cabo virado para mim. Peguei o machado e, quando o homem chegou bem perto, acertei-o na cabeça, tentei correr, mas ele segurou meu pé. — Me larga! — gritei. — Sua peste! Você não vai embora! - exclamou o homem com uma voz assustadora. De repente, o homem começou a se transformar em uma criatura com pelos, muitos pelos! Suas mãos se transformaram em garras que puxaram um dos meus sapatos. Consegui me soltar, mas a porta não se abria. Chutei a porta com toda a minha força e escapei da criatura medonha. Escondi-me detrás de uma árvore, mas quando a criatura saiu da casa, começou a virar pó e foi levada pelo vento. Depois daquele dia, sonhei com relato de pessoas que foram atacadas pelo “monstro do Jardim Botânico”.
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Matheus Henrique Zocca da Silva ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- --
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[“— QUEM É VOCÊ?
O PERFURME DE UM AMOR
— PEDRO. — QUEM SOU EU? — UMA MENINA QUE EU AMEI, QUE EU AMO, E QUE OU SEMPRE VOU AMAR.”
]
Jardim Botânico Sorocaba
Há seis anos, namorava com uma garota chamada Ana. Ela tinha apenas 16 anos de idade quando foi diagnosticada com câncer no pulmão. Eu morava em São Paulo e ela em Sorocaba, só que, depois de um tempo, achei melhor me mudar para Sorocaba para cuidar dela. Ela ficou muito feliz quando cheguei, só que ela sempre dizia: — Pedro, você está perdendo o seu tempo aqui comigo. Você e todos sabem que eu não vou sobreviver! Odiava quando ela dizia isto, parecia que ela não acreditava em si mesma, mas mesmo assim continuei dando força para ela... Sempre tentava animá-la, só que não adiantava, ela sempre achava que nada ia mudar. — Ana, sabe o que eu acho? — perguntei para ela — Que você não acredita em si mesma, que você não se acha forte o bastante para vencer esta batalha. — Você tem razão, eu não acredito em mim mesma, sabe por quê? Porque eu sei que a qualquer momento eu posso morrer. E eu tenho medo de morrer. Nada fazia com que ela se sentisse melhor... — Anna, já sei! Que tal passearmos enquanto você tem tempo? — Pode ser. Amava Ana, não suportava o fato de saber que a qualquer momento ela podia simplesmente morrer. Toda vez que pensava nisso, começava a chorar e fazê-la chorar. Então nós dois decidimos ir ao shopping e assistir a um filme. O nosso passeio estava muito bom, até o momento em que Ana começou a passar mal, então decidi levá-la ao hospital. 77
Enquanto ela estava lá sendo examinada pelo médico, estava sentado, na frente de seu quarto vendo as nossas fotos. Ela era tão feliz, tão sorridente, tão animada, só que aí, o câncer apareceu, comecei a chorar novamente, não aguentava ver aquelas fotos, aqueles vídeos mais... Então decidi escrever uma história de minha vida com Ana. Já havia passado uma hora e nenhuma notícia de Ana, comecei a me desesperar, suar e pensar no que havia ocorrido. Então o médico apareceu. — Pedro? — Oi, a Ana está bem? — É sobre isso que quero te falar, o câncer de Ana está muito forte, provavelmente vai começar a cair o cabelo dela, então se isso acontecer, não se preocupe, são os efeitos colaterais do câncer. — Doutor, a Ana pode morrer? — Todos que estão com câncer têm chances maiores de morrer. Já o caso da Ana... — O que tem? É mais grave? — já tinha entrado em desespero — O dela é o mais grave com o qual eu já trabalhei, então, provavelmente, ela tenha apenas um mês de vida... Entrei em pânico, fiquei com dor de cabeça, a pior coisa que poderia acontecer, aconteceu, como vou dar essa notícia para a família de Ana? Como será que a Ana está se sentindo? Será que ela já sabe? E como eu vou ficar sem ela? Como vai ser olhar para a pessoa que você mais ama e saber que ela pode morrer no seu colo? Respirei fundo, contei até 10 e liguei para família de Ana, não dava para escutar a voz de ninguém, só estava escutando choro. — Pedro? Está tudo bem? — Ana estava atrás de mim. — Ana, seu cabelo? — Ana estava careca. — Eu sei, o médico disse que isso iria acontecer... — Ana, posso te perguntar uma coisa? — Pode. — Você acredita que vai superar o câncer? — Não. — Você acredita no nosso amor? — Claro. — Então você promete para mim que vai ter esperanças que vai vencer essa batalha? — Pedro.... — Olha, se você acredita no nosso amor, você também vai acreditar que vai vencer essa batalha, porque não é só você tentando vencer isso, eu também sempre vou estar aqui para te ajudar. Depois que falei isso, vi um sorriso enorme em seu rosto, um sorriso que não tinha visto desde quando ela foi diagnosticada, um sorriso que me fez sorrir. — Ana, você quer ir amanhã ao Jardim Botânico que abriu ontem? 78
— Vamos. Fomos conhecer o Jardim Botânico. O lugar era imenso, não tanto quanto o da minha cidade, mas era grande. Eu e Ana tiramos muitas fotos, fizemos um piquenique, corremos, brincamos, rimos... Só que então aconteceu um incidente, Ana desmaiou. A ambulância chegou e a levou, fiquei lá esperando notícias. — Pedro? — Doutor? Ana está bem? — Ana quer falar com você. Entrei com um aperto no meu coração, senti que tudo ia mudar para pior. — Ana, porque você me chamou? — Pai? É você? — Não, aqui é o Pedro, seu namorado. — Pedro? — Sim. — Pedro, tenho que te falar uma coisa. — Fale. — Você foi a pessoa que mais me fez feliz em todo esse tempo, durante essa batalha. Só que toda a batalha tem um vencedor, e dessa vez não fui eu quem ganhei... — Não fale isso. — Pedro, me escute, esta é a verdade, sei que você não quer ouvi-la, mas dessa vez você vai ter... Dessa vez, eu não consegui ser “recuperada”, está na hora de eu ir, o médico falou que só tenho poucas horas... — Ana, às vezes o médico não sabe o que diz... — não conseguia parar de chorar. — Quem é você? — Pedro. — Quem sou eu? — Uma garota que eu sempre amei, que eu amo, e que sempre vou amar. — Te amo. Essas foram as últimas palavras de Ana. Ela havia morrido. Não conseguia entender isso. “Pedro, a Ana morreu”, falei para mim. Não sabia o que ia fazer. Decidi então ir ao Jardim Botânico terminar minha história de amor que estava fazendo, minha e dela. Terminei a história, peguei meu casaco, e fui embora em busca de felicidade em minha vida.
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NATÁLIA DE ANDRADE RIBEIRO
Os tão sonhados quinze anos
— Oi, Lau, ansiosa para amanhã? Eu estou ainda mais para a festa sexta, vai ser demais — exclamou Isabella, entusiasmada. — Estou muito ansiosa, mas preocupada com os preparativos para sexta — disse Laura. Laura era uma menina de quatorze anos, à beira de completar seus tão sonhados quinze anos. Quem esperava que esse sonho iria se tornar pesadelo. O despertador tocou, era hora de ir para escola, mas escola não era o que Laura estava mesmo se importando naquele momento. Agora ela tinha oficialmente quinze anos. Quando ela chegou à escola, uns três amigos vieram correndo ao seu redor e começaram a cantar parabéns. Quando Laura percebeu, a escola inteira já estava lá e ela estava bem no meio da roda, envergonhada. O sinal bateu e todos do corredor sumiram, ficando lá apenas Laura e Isabella, sua melhor amiga, que a abraçou forte e disse: — Como quinze anos?
se
sente
com
— Muito bem, muito, muito, muito bem! — falou Laura alegre. Na saída da escola, seu namorado João estava lá, então ele
Catedral de Sorocaba
saiu correndo, deu-lhe os parabéns e disse: — Seu presente vai ser nossa dança na sua festa sexta, brincadeira, está aqui. João tirou uma caixinha dourada do bolso e entregou nas mãos de Laura, era um colar com um pingente de trevo Ela disse feliz: — Muito obrigada, é lindo! Voltando para casa, seus pais estavam esperando-a na porta com um incrível presente: uma viagem para o Canadá. — Meu Deus, não acredito, esse é o melhor presente de todos os tempos! – gritou Laura, que mal estava acreditando. Quando ela olhou a data de ida da viagem, era no dia quatorze de junho, o dia que sua festa estava 80
marcada. Laura não sabia o que fazer. — Pai, mãe, essa viagem está marcada para o dia da minha festa — gaguejou ela. — Eu sei filha, é que esse era o único dia que nós podemos te levar para o aeroporto, agora já compramos suas passagens, uma viagem é bem mais legal que uma festinha – disse tranquilamente a mãe de Laura. Laura subiu correndo para seu quarto, fechou a porta e ligou para Isabella: — Me ajuda, por favor, esse é o pior aniversário de quinze anos do mundo. — O que aconteceu? — perguntou Isabela preocupada. — Meus pais compraram uma viagem para mim, eu vou para o Canadá — disse Laura. — Que demais! Mas, espera aí, por que isso é ruim? — perguntou Isabella. — A viagem está marcada para sexta, o dia da minha festa! — exclamou a aniversariante. — Não acredito, ai meu Deus! — gritou Isa, chocada. — O que perguntou Laura.
eu
faço?
—
— Na minha opinião, você deveria fazer a festa, quinze anos só se faz uma vez na vida, viagens sempre estão vindo — disse Isabella.
Laura concordou, mas o que ela iria falar para seus pais, o que ela iria fazer com as passagens? Ela falou com seus pais, eles entenderam e aconselharam a filha a colocar as passagens à venda em um site. Dez minutos depois que ela colocou o anúncio no site, entraram em contato com ela em uma mensagem que dizia: “Me encontre na Catedral de Sorocaba, aquela cheia de ouro, com uma arquitetura barroca, estarei te esperando às 15h dessa tarde para negociarmos melhor, leve as passagens. Felipe” Ela achou estranho o local em que ele queria que eles se encontrassem, mas resolveu ir. Faltavam dez minutos para as três, a menina se trocou, escovou os dentes, pegou as passagens e desceu as escadas velozmente. Por sorte, Laura morava bem perto da Catedral. Ela entrou na imensa e linda Catedral de Sorocaba, não tinha ninguém lá dentro, a não ser um homem todo vestido de preto, então Laura disse: — Oi, você deve ser o Felipe, sente-se aqui, eu trouxe as passagens. — Sim, sou eu, aliás, parabéns, Laura — disse o estranho homem, tirando algo do bolso. A garota achou muito esquisito, dando um passo para 81
trás, Felipe tirou um isqueiro e disse: — Como você não vai sobreviver até sua festa, vamos comemorar aqui mesmo. Então ele acendeu uma vela, Laura estava morrendo de medo e percebeu que ele não ia negociar passagem nenhuma.
castanhos de Isabella, a “melhor amiga” que tentou tirar a vida de Laura, pois Isabella, ou Felipe, sofria de dupla personalidade, o transtorno dissociativo de identidade. As pessoas nem sempre são quem você pensa.
A vela logo se apagou com o vento e a menina saiu correndo, o homem foi atrás dela, tirou uma faca do bolso e deu a primeira facada em sua barriga. Com cara de assustado, o homem saiu correndo, e seu capuz caiu. Surpresa maior não podia haver: lá estavam os grandes olhos
LUANA CHAVES MARTINEZ
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Para Sempre
Jardim Botânico
Pedro era apenas uma criança, mas já era apaixonado pela sua vizinha e colega de escola, Manoela, que também sentia algo por ele, mas nunca havia contado para ninguém. Ele sempre queria contar-he sobre o que sentia, mas era muito tímido, então preferia apenas continuar na amizade de sempre. Seu sentimento, porém, nunca mudou.
Passaram anos e agora crescidos, já adolescentes, muitas coisas mudaram. Ambos namoravam, Manoela com um rapaz do time de basquete do colégio chamado Rodrigo, e Pedro namorava a melhor amiga de Manoela, Larissa. Mesmo namorando, Pedro ainda sentia algo por Manoela, mas nunca tinha coragem de dizer. Ele odiava isso, sentir esse medo de contar a verdade e acabar estragando a amizade deles. Pedro e seu melhor amigo, Guilherme estavam conversando, no pátio, sobre como Pedro poderia confessar seu amor por Manoela de um jeito que não estragasse a amizade se ele não fosse correspondido: — Cara, você não pode mais esperar! Desde os sete anos você está esperando para falar com ela! Aproveita a chance que você ainda tem, porque se você não tentar, você nunca vai conseguir realizar seu sonho! — exclamou Guilherme, em uma tentativa de convencer o amigo a tomar uma atitude. — Não dá! Ela namora o Rodrigo! E mais, ela nunca reparou em mim de outro jeito que não fosse como o amigo de infância que cresceu ao lado dela! Você acha que eu não tentei chamar a atenção dela? Mas ela nunca reparou em mim! — disse Pedro triste. — Já sei! Tenta ir falar com ela no próximo intervalo, o Rodrigo vai embora mais cedo porque tem jogo daqui a pouco, então ela vai estar sozinha! — sugeriu Guilherme, esperançoso. — Boa ideia! — concordou Pedro. O sinal tocou e todos subiram para as salas.
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A aula de álgebra havia começado e a professora passava matéria nova, mas Pedro parecia não estar ali, só imaginava o que iria falar para Manoela no intervalo. Suas mãos suavam de nervosismo, mas algo o trouxe de volta a realidade, a professora o havia chamado para ir fazer o exercício novo na lousa. Ele aceitou e foi resolver, mas havia um problema: ele não sabia como resolver, afinal não prestara atenção na explicação da professora. A professora percebeu que ele não sabia o que fazia e que não sabia nem começar o exercício, então resolveu mandá-lo sentar mesmo sem fazer, mas retirou dele 3 pontos por não prestar atenção na aula. Quando finalmente Pedro havia se concentrado na aula, o sinal bateu, seu coração acelerou, suas mãos ficaram suadas novamente e ele começou a tremer. Quando era pequeno, ele apresentara um trabalho para a sala, mas todos riram e apontaram para ele, isso o traumatizou e o deixou com muita vergonha, tal que essa vergonha o impedia de realizar seu sonho, namorar a Manu. Quando finalmente resolveu ir falar com ela, Pedro tropeçou em seu próprio pé e caiu de cara no chão, novamente todos riram, Pedro saiu correndo, entrou no banheiro e disse para si mesmo: "droga, deu tudo errado", mas então pensou em um jeito mais romântico de declarar seu amor para ela. No passeio com a escola, o City Tour, Pedro iria pedir Manoela em namoro durante a parada no novo Jardim Botânico de Sorocaba. Depois da aula, Pedro passou na floricultura, comprou um belo buquê de tulipas para ela e depois comprou uma caixa de bombons. Pronto, estava tudo certo para o dia seguinte, o dia do city tour e o grande dia de seu pedido! Pedro acordou às seis horas da manhã, tomou banho, lavou e penteou o cabelo, trocou-se, pensou no que iria falar e foi para a escola. Chegara a hora de ir para o City Tour. Todo tenso, entrou no ônibus, sentou-se e após o ônibus dar a partida, ele ficou angustiado e com medo. Já estavam voltando ao ônibus de partida do segundo ponto turístico, onde Pedro treinara o que iria falar. Quando anunciaram que já iriam ir para o Jardim Botânico, ele começou a tremer, mas aguentou ficar de pé até sentar no seu lugar. Quando sentou, verificou se na mala havia o buquê e os bombons, tudo certo! Agora só esperar a hora certa! No Jardim Botânico, Pedro procurou Manoela, mas não a achou, até que a viu sozinha tirando foto de uma flor. Criou coragem, foi em sua direção e disse: — Muito lindo aqui, né? — Sim, adorei aqui! Foi lançado agora mesmo, faz só um mês que abriu! 84
— Sério? Nossa, que legal! Sabe, Manu, eu tenho algo pra te dizer há muito tempo... — O que houve? — Eu não posso mais esconder isso! Manoela, eu estou completamente apaixonado por você! — Sério, Pedro? Por que você nunca me disse antes? — Porque eu tinha vergonha. — Ah, Pedro! Eu também estou apaixonada por você, mas como você namora a Larissa, achei que não ligasse para mim! — E eu achei que por você namorar o Rodrigo, você não gostaria de mim! Eu namoro a Larissa, mas meu coração é e sempre será seu. — Obrigada, o meu também sempre será seu! — Olha, eu comprei isso para você, espero que você goste — Muito obrigada, Pedro, que flores lindas! E eu amo essa marca de chocolate! — Que bom que gostou! — Manoela, você aceita namorar comigo? — Bem...Sim! Claro que sim! — Juro te amar para sempre! — Eu também te amarei para sempre! Os dois se beijaram bem ali, na frente de todos, no belo Jardim Botânico de Sorocaba. Voltando para a escola, os dois terminaram seus antigos relacionamentos e assumiram a todos o namoro! Pedro ficou muito feliz porque, além de realizar seu sonho, enfrentou sua vergonha e não tem mais medo de assumir o que sente.
Isabela Proença Cunha 85
Jardim Botânico
Melanie, uma garota de dezessete anos estava sentada no banco da praça do jardim botânico em Sorocaba aos prantos tentando esquecer o que acabara de acontecer. De repente Melanie, olha para o lado e vê um garoto lindo, com cabelos loiros e olhos castanhos claros. A menina ficou olhando-o até que o menino disse: 86
— Oi. — Oi — respondeu Melanie com voz de choro. — Como se chama? — perguntou o garoto. — Melanie, mas pode me chamar de Mel. E você? — perguntou — Me chamo Dylan, desculpa perguntar, mas por que uma pessoa tão linda como você está chorando? — NÃO TE INTERESSA, EU MAL TE CONHEÇO E NÃO LHE DEVO NEM UMA SATISFAÇÃO, E VOCÊ PODE SAIR DAQUI, EU QUERO FICAR SOZINHA! — Exclamou Mel em um tom grosso. Dylan apenas afirmou com a cabeça e saiu, e Mel voltou a chorar e lembrar o que há uma hora atrás tinha descoberto. Melanie pegou seu namorado, Nicolas, beijando Daniella, sua melhor amiga, ela ficou com tanta raiva que quase bateu em Dani porém Nicolas a segurou. Depois de uma tarde inteira no jardim botânico, Mel resolveu passar no Starbucks comprar um Frapuccino de chocolate... Quando Melanie estava indo embora da cafeteria esbarrou em um cara que derrubou seu café todo em sua roupa, envergonhada a menina disse: — Meu deus! Me desculpe, não foi de propósito, eu pago outro para você. Espera aí eu te conheço, você é o garoto do jardim de hoje com quem eu havia gritado, como se chama mesmo? — Me chamo Dylan e você é a Melanie não é? — Relembrou ele. — Sou sim, vamos nos sentar só vou comprar seu café — Informou Mel. — Imagina, você não precisa pagar um café pra mim por eu ser desastrado e ter derrubado ele em toda minha roupa — falou. — Claro que precisa e afinal foi eu que esbarrei em você, agora me fala, como você quer o café. Depois que Dylan explicou o café que queria, Melanie foi para a fila e ficou pensando que deveria esquecer Nicolas e seguir em frente. Após pegar o café, a garota sentou e começou a conversar com ele... Depois de uma longa conversa entre os dois Mel criou coragem e resolveu desculpar-se: — Desculpa por hoje, por tudo, por eu ter gritado com você, e depois ter derrubado todo seu café na sua roupa, eu não queria ter sido tão grossa é que a raiva me subiu a cabeça — Falou em um tom rápido e um tanto nervoso. 87
— Tudo bem não precisa ficar assim, relaxa eu entendo mesmo não tendo a mínima ideia do que aconteceu — respondeu em um tom doce. —Tudo bem eu conto para você o que houve! — disse — Não precisa, eu não quero lhe forçar a nada — falou Dylan — Mas eu quero te contar só que vai ter que ser outro dia pois já está tarde. — Que tal irmos jantar amanhã? Conheço uma hamburgueria muito boa e acho que vai gostar. — Eu mal te conheço, mas você não pode ser pior que os caras que eu conheço então eu topo. — Ok, então que tal umas 19:00? — Pode ser, então até amanhã Dy, você tem meu número então qualquer coisa liga. — Beleza,até amanhã. Os dois se despediram com um beijo na bochecha e foram rumo as suas casas. Melanie ficou a noite inteira pensando em Dylan, o seu jeito fofo, sua voz rouca deixava-a encantada. Um dia inteiro passara e era a hora do jantar. Dylan iria buscar Mel em sua casa. Estava chovendo muito forte. Ela estava esperando o garoto chegar até ouvir a campainha, ela abriu a porta e viu Dylan todo molhado. —O seu jardim é enorme! Do meu carro até aqui já me molhei inteiro.— Dylan gritou por causa do barulho forte da chuva. — Dy, é melhor jantarmos aqui em casa mesmo a chuva está muito forte e você está todo molhado. Entra e fecha a porta que vou pegar uma toalha para você e colocar uma roupa mais confortável. Depois de Mel descer os dois ficaram comendo pipoca e conversando sobre o que havia acontecido aquele dia do jardim botânico até de Dy ir chegando mais perto de Mel, e mais perto,suas bocas já estavam se encostando até que o telefone toca.Mel atende, era um número bloqueado, era o Nicolas dizendo:
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— Melanie, volta comigo a culpa não foi minha, eu te amo quero você por favor volta!!Exclamou com uma voz estranha, ele não estava bem, parecia que ele tinha bebido. — EU JAMAIS IREI VOLTAR COM VOCÊ, POIS VOCÊ ME TRAIU, EU NUNCA VOU GOSTAR DE VOCÊ COMO EU GOSTEI ANTES, AGORA TCHAU!! — Ela gritou ao telefone já com os olhos lacrimejados. —Não chore por quem não te merece, você não precisa dele para ser feliz, você é linda, simpática, segue em frente mostra pra ele que você não precisa disso — Consolou Dylan Os dois ficaram conversando até 4 da manhã quando Dylan resolveu ir embora. Quando ele foi dar um beijo na bochecha de Melanie para se despedir ela virou o rosto e eles se beijaram tranquilamente. Depois que pararam o beijo Mel ficou com vergonha e disse um simples tchau, mas Dylan a pegou pela cintura iniciando novamente um outro beijo. Dois meses haviam passado e realmente os dois estavam se gostando, eles ainda não estavam namorando mas estavam ficando. Hoje Melanie e suas amigas, Lauren e Amanda iriam sair porém não era bem assim, na verdade Dylan iria fazer uma surpresa para Mel mas precisou da ajuda de Lauren e Amanda para enrolar a garota. A onde nós estamos indo? — perguntou Mel desentendida do que ‘estava acontecendo. — Você vai ver — responderam as duas em coro. Chegando no jardim botânico, as meninas colocaram uma venda nos olhos de Melanie. — Já chegamos?— Ela perguntava de cinco em cinco minutos. — Pronto Mel pode tirar a venda Quando Mel tirou a venda estava tudo perfeito, Dylan estava sentado em cima de uma toalha de piquenique toda xadrez. Depois dos dois comerem, Dylan levou a garota para o banco onde se conheceram. Em cima do banco tinha uma rosa cor de rosa linda, Dylan pegou a rosa e ajoelhou e apenas perguntou:
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Rosa
— Melanie, quer namorar comigo? — Sim — respondeu Mel em um tom feliz. Dez anos haviam se passado o namoro deles já tinha acabado porque agora eles já eram casados e tinham uma linda filha chamada Alasca, viveram felizes até o fim de suas vidas.
Vitória Maria Camargo Fernandes
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Jardim Botânico Sorocaba
—T
io, já tenho uma ideia para o que fazer naquele espaço vazio no terraço! — exclamou o garoto animado. — Qual? entusiasmado.
—
perguntou
o
tio
— Vamos fazer um jardim!
escola! — gritou o porteiro Carlos, surpreso em ver o amigo de escola. — Nossa! Há quanto tempo que eu não te vejo! — exclamou Victor, assim que reconheceu o amigo — Você está trabalhando aqui? — Sim, sou porteiro! O que você está fazendo aqui?
— Nossa, que boa ideia! Mas você sabe como fazer um?
— Eu e meu sobrinho queremos fazer um jardim, então viemos ver como é um!
— Na verdade, não! Mas eu ia pedir para você me levar ao Jardim Botânico para me mostrar!
— Nossa, que legal! Onde vocês querem fazer esse jardim?
— Ótima ideia! Então vamos! E Victor e seu sobrinho Fernando foram para o Jardim Botânico para ter ideias de como montar seu novo jardim. — Ahh, meu Deus! Não pode ser Victor Lopes! Sou eu, o Carlos Rodrigues, da
— Temos um espaço livre no terraço, então pensamos em fazer lá, já que é uma coisa bonita e que tem contribuição para o meio ambiente! — Uau! Essa ideia é ótima! Quem a teve? — Eu! — disse o menino, meio baixo, ainda com vergonha do conhecido de seu tio. 91
— Victor, você pode se orgulhar de seu sobrinho pensar em uma coisa tão brilhante que irá ajudar o meio ambiente! – relatou o porteiro, encantado com a inteligência e criatividade do menino. — Muito obrigado, Carlos! — disse o tio, orgulhoso de seu sobrinho. — Ah, se quiserem, posso apresentar tudo para vocês — ofereceu Carlos, com a melhor das intenções. — Claro que queremos! — exclamaram os dois, muito entusiasmados com a ideia. E os três foram em direção à estufa. — Bom, o nome deste jardim é “Irmãos Villas Bôas", e aqui temos mais de 30 espécies de plantas. Estão vendo aquela casinha lá no fundo atrás da ponte? Então, não sabemos o que é ou de quem é, apenas sabemos que ela parece ser de indígenas ou coisa parecida! — explicava o porteiro mostrando seu conhecimento sobre o jardim
à ordem Asparagales, uma das maiores famílias de plantas existentes. — Nossa, uma das maiores famílias de plantas que existem! Poxa vida, cada coisa que se descobre quando se vem para o Jardim Botânico — exclamou o tio, maravilhado com o que estava descobrindo. — Calma, isso não é tudo. Ainda temos vários outros tipos de plantas encantadores, mas antes quero mostrar um lindo lago que foi construído aqui, que eu acho que seria uma ótima ideia para vocês colocarem no terraço! — Isso seria ótimo, já que viemos aqui para ter ideias e saber como montar um jardim, hahahaha! — disse Victor rindo. — Este é o lago! Não é lindo? — exclamou com certeza Carlos, mostrando o pequeno laguinho com uma pequena cachoeira, O menino abriu um sorriso, virou-se para o tio e implorou:
— Nossa, eu não sabia de nada disso! — disse o menino admirado.
— Tio, por favor, podemos fazer um lago como este? Por favor! Por favor!
— Eu também não! — segredou o tio, surpreso ao saber daquelas informações intrigantes sobre o jardim.
— Eu não sei, vai dar muito trabalho e deve ser caro demais!
— E agora vamos conhecer os tipos de plantas que temos aqui! — propôs o guia, entusiasmado com a nova função. — Então vamos! — exclamou o garoto com tanta emoção e felicidade, que podia se ver do outro lado do jardim. — Essa é uma samambaia! As samambaias são plantas vasculares que não produzem sementes e se reproduzem por esporos. Já essa é uma orquídea, as orquídeas são todas as plantas que compõem a família Orchidaceae, pertencente
— Eu posso ajudar, e tenho alguns amigos que podem vender as coisas mais baratas para vocês! — ofereceu entusiasmado Carlos. — Então não há nada que nos impeça de fazer um! — concordou o tio. E foram para casa preparar o local para construir o novo lago.
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