Boletim Informativo - Ensino Médio

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ABRA O BICO

Boletim do Ensino Médio

Boletim Informativo – maio/2014

O PROJETO O objetivo do boletim é transmitir à Comunidade Uirapuru a função social que a leitura e a escrita exercem em cada sujeito, oferecendo chances reais de exposição de diferentes pontos de vista. Espera-se que os estudantes entendam que produzir um texto vai muito além de conhecer estruturas de gênero ou que, para isso, seja preciso um professor que exija a produção escrita. Escrever pode ser libertador, pode dar asas a novos universos e pode despertar, nos diversos leitores, novos pensamentos e futuras atitudes.

Equipe de Português Ensino Médio



EDITORIAL DE ABERTURA

A arte de escrever O título deste editorial não veio ao acaso; nele, há uma menção direta à obra de Arthur Schopenhauer (1788-1860), um dos mais importantes filósofos alemães. Ele achava que o mundo nada mais era do que uma representação formada pelo indivíduo. Influenciou Freud, Nietzsche e Bergson com seu pessimismo. Nesta obra, o leitor vai encontrar textos que trazem as mais ferinas, entusiasmadas e cômicas reflexões acerca do ofício do próprio escritor, isto é, o ato de pensar a escrita, a leitura, a avaliação de obras de outras pessoas, o mundo erudito como um todo, integradamente. Obrigada, Schopenhauer! É exatamente isso que se presta este boletim: pensar a escrita e a leitura numa relação direta entre escritor, leitor e sociedade. A arte de escrever transpassa a história, atravessa os tempos, rompe barreiras. Arte porque supera a estrutura cartesiana, que une letras, forma sílabas, monta palavras; arte que reconstrói momentos, transmite mensagens, salva vidas. Arte porque tira da inércia, movimenta o outro, ativa leitores, transpassa obstáculos. A arte, aqui, manifestada em formato de boletim bimestral, que se pretende, pretensiosamente, como um mediador para o ato de escrever, que não implica, necessariamente, vínculo escolar, exigência, nota. E caso ela esteja vinculada à escola, que seja feita com o desejo de comunicar, de se fazer compreensível. Infelizmente, a escrita, hoje, especialmente dentro da Educação Básica, é promovida com finalidade formalista, ou seja, direciona-se a produção textual para o mercado de trabalho e/ou para o vestibular. Porém, muito além de um objetivo marcado, um norte, um produto final, deve-se PENSAR no processo, na trajetória, no percurso – e para isso, uma palavra-chave: TRABALHO. Escrever exige planejamento, mas não permite modelos. Os gêneros apresentam formatos, mas a subjetividade do estudante, as escolhas lexicais, a duração dos períodos, a pontuação, o percurso lógico singular de cada sujeito não tem manual ou formato – ele é advindo de muito treinamento e dedicação. Alguns dizem que escrever é inspiração. Eu digo, no entanto, que escrever é transpiração. Ajudame a ancorar esta ideia, meu amigo Fernando Sabino. Para ele, o ato de escrever é muito difícil e penoso, pois sempre que redige textos, escreve e reescrever várias vezes, num processo antropofágico. O escritor mencionou este pensamento após datilografar 1100 páginas, entre produções e refacções, e aproveitar apenas 300 num dado romance. Assim nasce um boletim, concebido a partir da união de pensamentos lógicos físicos a outros romantizados e menos concretos. A genialidade dos nossos alunos clama por oportunidades reais de exposição, para que todos, leitores e escritores, entendam que um texto exige um locutor, que produz e demarca seu espaço no mundo, e um interlocutor, que recebe uma informação textual e não passa ilesa por ela. Sim, o vestibular e o mercado de trabalho são demandas reconhecidas e consagradas, porém, menores que a habilidade de escrever qualquer tipo de texto, em qualquer contexto, sobre qualquer assunto. E este é o nosso objetivo: transpor o produto final e valorizar o processo. Venham, venham todos que assim quiserem mostrar ao mundo que a escrita é uma arte: a arte de criar e recriar realidades; a arte de se fazer representar pelas palavras; a arte de persistir num caminho infinito, cujo bônus é a liberdade de ser, imaginar e existir em mundos e contextos diversos. Viva a arte de escrever e suas múltiplas manifestações!!

Mônica Miliani Martinez


Página 03 Texto 1 – Produção espontânea, como parte de seus estudos para o vestibular. A motivação nasceu a partir da proposta do vestibular da UNESP/2012, cujo tema era “Escrever: o trabalho e a motivação”. A produção metalinguística trouxe a escrita com muita sensibilidade. Texto argumentativo/dissertativo.

Texto 2 – Produção espontânea, na qual o estudante da Terceira Série, em meio a uma avalanche de estilos musicais, olha para a Internet como um catalisador das grandes mudanças na indústria fonográfica. Além disso, apresenta suas degustações musicais e encanta pela diferença. A juventude sempre surpreendendo! Texto argumentativo/crítico

Escrever para viver “Palavra, palavra, se me desafias, aceito o combate”. Ao se sentir desafiado, Carlos Drummond de Andrade apresenta a grande importância da escrita em uma simples metáfora. A escrita iniciou a História, sendo a ponte entre o passado e o presente, e entre este e o futuro. Porém, escrever vai além dos registros históricos, é o meio pelo qual as pessoas se expressam e criam fantasias. Deslizar o lápis pelo papel ultrapassa a habilidade e se torna uma necessidade. O homem é um ser social e encontrou na escrita uma nova maneira de se comunicar. Não é à toa que é o marco entre a Pré-História e a História. Foi a partir dela que o mundo passou a ser documentado, superando os limites da oralidade. Surgiu com os hieróglifos do Egito, passou pelo alfabeto grego e se difundiu pelo mundo todo. Atingiu uma importância a ponto de existir uma linguagem para cegos, a escrita Braille. A humanidade se conecta com códigos, sejam eles formados por números, letras ou quaisquer outros símbolos. Assim, criou-se a literatura, em que a escrita passou da pena para a caneta e se transformou ao longo do tempo. Durante essa metamorfose, não perdeu seu sentido, o de transmitir ideias. Olavo Bilac comparou o ato de escrever ao de esculpir uma obra prima em seu poema “Profissão de fé”. Definiu a escrita como arte e, consequentemente, o escritor como artista. Já Clarice Lispector afirmou: “Minha liberdade é escrever. A palavra é meu domínio sobre o mundo”. Dessa forma, fica fácil compreender a paixão pelo ato de escrever e o poder que possui: o de viajar, seduzir e influenciar aqueles que leem. Brincar com as palavras pode parecer difícil, uma aventura para se enfrentar. Há quem goste de ficar com os pés no chão, e há também os que gostem de passear por outros mundos. Mas o fato é que palavras expressam sentimentos e a escrita fixa aquilo que a memória não pode guardar.

A Nova Geração Musical Brasileira (e como ninguém a conhece) Provavelmente, você nunca ouviu falar de uma banda chamada “Apanhador Só”. Ou de outra banda chamada Maglore, ou de artistas como Wado, Castello Branco ou Marcelo Jeneci. Porém, esses nomes são associados ao que tem de melhor na música brasileira atual. Até dizem por aí (me refiro a Internet) que essa geração de artistas pode ser comparada com a geração de 60, onde nomes como Chico, Caetano e Gilberto eram a sensação. Uma comparação exagerada, pois o contexto histórico é totalmente diferente, porém é certeiro em um ponto: os artistas de hoje são ousados, e fazem da sua arte um espaço para experimentos sonoros, e que muitas vezes causa estranhamento, mas sempre interessante. Porém, algo nisso tudo é estranho: você provavelmente nunca (percebam o negrito e o sublinhado) ouviu falar de tais nomes listados no começo desse texto na TV ou ouviu uma de suas músicas na rádio. É um cenário, no mínimo, curioso. Para começar entender essa situação, devemos analisar primeiramente a indústria fonográfica, não só brasileira como a mundial. A gloriosa vinda da Internet e as novas maneiras de se ouvir música fizeram com que tal indústria perdesse influência quase que totalmente. A mídia digital tomou o lugar da mídia física, aniquilando-a completamente. Além de ser muito mais fácil baixar um cd do que comprá-lo, é possível achá-lo de graça na Internet. Adicione a isto o fato que a indústria brasileira é controlada por um seleto grupo de executivos, que pouco liga para a arte, e se preocupa apenas com o lucro. É por isso que seus maiores “artistas” (aqueles que lhe trazem mais lucro) são cantores de pagode, sertanejo, e música gospel. Sem desmerecer nenhum desses gêneros, as músicas que fazem sucesso nas rádios são produzidas da mesma forma que qualquer outro produto industrial. Os verdadeiros artistas,


Página 04 aqueles que realmente querem se expressar por meio da arte, não têm a mínima chance de serem produzidos.

Vamos Pra Rua- Maglore

E aí que entra o herói da história, que ironicamente foi a origem dessa mudança de hábito relacionado à música: a Internet. Nossos artistas viram nela um meio de propagação poderoso, por vezes até mais do que os meios de comunicação tradicional. E por meio de uma produção independente, discos que marcarão a história da música brasileira foram feitos. Perceberam também que deter o download ilegal era impossível, e assim tornaram esse processo mais fácil aos ouvintes: download grátis do álbum inteiro, ou a possibilidade de ouvi-lo inteiro via streaming. Pessoalmente, acho genial.

Bixiga 70-Bixiga 70

Além de difundir de forma mais ampla seu trabalho, a produção independente torna a liberdade criativa muito maior ao comparar com uma grande produtora. E as mais diversas formas de embolsar investimento são utilizadas, desde o apoio de empresas que não tem nenhuma relação com a música (o novo disco do artista Marcelo Jeneci, por exemplo), ao apoio do próprio Governo Federal, e até mesmo o sistema de crowfunding. Para quem não sabe, o crowfunding, ou financiamento coletivo, é a arrecadação de capital para iniciativas de interesse coletivo, por meio de pessoas que estão interessadas em tal projeto. É feito, principalmente, por meio da Internet. Foi dessa maneira que a banda “Apanhador Só” produziu seu segundo álbum "Antes Que Tu Conte Outra", um dos trabalhos mais elogiados do ano passado. Enfim, vivemos um momento de transição para a música. Não há dúvidas de que nossos artistas fazem das tripas ao coração para conseguirem produzir seu trabalho, porém o resultado é fantástico. Numa época em que a indústria cultural tem cada vez mais comando na nossa produção artística, tais pontos fora da curva trazem consigo uma brisa fresca de criatividade, ousadia e inovação. Algumas bandas e discos para entender sobre o que eu escrevi: Antes Que Tu Conte Outra- Apanhador Só O Mais Feliz Da Vida- A Banda Mais Bonita Da Cidade

De Graça-Marcelo Jeneci

Vazio Tropical- Wado Serviço- Castello Branco Quebra Azul- Baleia Muito Mais Que Amor- Vanguart

Texto 3 – Produção espontânea, na qual a escritora procurou demonstrar a mente de um vestibulando em dúvida sobre qual caminho profissional encarar. Poema reflexivo.

Cata Vento Se o vento passa Deixo-me levar Se a vida passa Faço-a parar.

Não é sobre esquecer Tampouco entender Na real, O que incomoda mesmo é escolher. Me ajude nessa, Criatividade. Como é que alguém decide o futuro Com dezessete anos de idade? Não é medo É ansiedade E se não der certo? Maldita Teoria da Relatividade. E se ela não existisse? Se o tempo não passasse? Do que que eu tô falando? Não é tempo o meu impasse. Quer saber? Finge que é ele sim É melhor o problema estar nele Do que em mim


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Texto 4 – A primeira proposta de produção de texto dos Primeiros Anos pediu uma reflexão sobre como os estudantes se veem em termos pessoais, de leitura e produção de texto. Olhar para si parece ser sempre uma atividade complexa, porém, produções como esta mostram que, felizmente, nossos jovens escritores já começaram um processo autorreflexivo de alta relevância social. Texto reflexivo/crítico.

À vitória Finais felizes são, para mim, o sucesso evolutivo de um livro agradável. Envolvo-me com os personagens de modo a associar suas esperanças com as minhas e, por isso, espero algo positivo para eles. O gosto pela leitura está comigo desde a infância, sendo fã de Ruth Rocha, continuei na pré-adolescência, instigada pela fantasia de Stephanie Meyer e, hoje, aprecio quase todos os gêneros. Esse processo como leitora, eu acredito, tornou-me uma melhor escritora. Gostaria de ser mais assídua nas leituras diversas, porém acabo mantendo-me nos livros escolares. O heroísmo de “O Guarani”, de José de Alencar, não me atrai mais, enquanto a realidade de “Capitães da Areia”, de Jorge Amado, vem se tornando meu estilo preferido. Sei que, dessa maneira, será difícil deparar-me com os tais finais de sucesso absoluto e que, acostumar-se com isso, faz parte do amadurecimento pessoal. “Nem o ódio, nem a bondade. Só a luta”. Essa frase de Jorge Amado ilustra a garra que trago dentro de mim e espero aprimorar nesses três anos de Ensino Médio, assim como ao longo de toda minha vida. Textos argumentativos são, juntamente com os poéticos, um desafio que espero conquistar. No entanto, o próximo passo de minha luta é o vestibular. Em termos de redação, é nele que se encontra o meu foco. Espero, para essa importante etapa de vida, nada mais do que um final feliz.

Textos 5 e 6 – A primeira proposta de produção de texto dos Segundos Anos solicitou a elaboração de uma crônica argumentativa, a partir de uma notícia da atualidade que despertasse no escritor e nos leitores diferentes sensações argumentativas. Como o gênero em questão pede que o escritor olhe para um dado tema a partir de seu olhar singular, produções altamente reflexivas trouxeram à tona ângulos temáticos sensacionais. As notícias escolhidas pelos escritores dos textos A e B foram retiradas de um jornal de alta circulação no território nacional, cujas temáticas estão centradas, respectivamente, na problemática do assunto ‘homossexualidade’ na Rússia e no mundo, e as atitudes preconceituosas nos campos de futebol. Crônica argumentativa.

É amor. Ponto! Há alguns dias, em um site de notícias, encontrei um vídeo de uma campanha escandinava no qual atletas demonstram suas habilidades para impressionar uma mulher. Esta, com um andar confiante, dirige-se a sua namorada, cumprimentandoa com um beijo. O anúncio, feito como protesto às medidas tomadas pelo presidente russo, Vladimir Putin, tornou-se viral e abriu muito espaço para reflexões sobre homofobia. Venho de uma família grande, com oito tias e, ao menos, o dobro de primos. Além de numerosos, os Friedrich de Maringá são extremamente conservadores. Apesar disso, a sétima tia, de 19 anos, cruzou as barreiras impostas e se assumiu como homossexual. Como acontece muitas vezes a outros em situações parecidas, minha tia tornou-se alvo de críticas do meu avô e família. Alguns disseram ser apenas uma fase. Outros, uma decisão inconsequente de quem deseja atenção. De repente, todos passaram a julgar se o amor que ela sente é válido ou não. Decisão não tomada quando, 20 anos atrás, outra tia minha, na época com 17 anos, fugiu para se casar. Pergunto-me: o que faz do sentimento exposto no segundo caso mais verdadeiro que o do primeiro? O fato de ser “natural”? Ou será a necessidade de uma evolução mental implícita no primeiro? Atualmente, minha tia mora em Curitiba, ama uma moça que a ama também e é feliz assim. Para mim, isso basta. Ao governo russo, aos Friedrich e a todos que não enxergam o amor presente, sugiro uma reavaliação do seu conceito desse sentimento. À minha tia Ashley, lembre-se: o Amor é sempre maior.


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Um sonho possível?

E que se abram as portas de um novo sonho

Martin Luther King Jr. um dia disse: “Eu tenho um sonho no qual minhas pequenas crianças vão um dia viver em um mundo, em uma nação onde elas não sejam discriminadas, julgadas pela cor da pele (...)”. Com esse poderoso discurso (I have a dream), Martin lutava por um mundo sem racismo, onde negros e brancos viveriam em harmonia, sem julgamentos raciais.

Estava eu em casa, em mais um dia comum, quando um balão de conversa surgiu em meu celular, nele a seguinte mensagem: "Ei, Bruna? Dá uma olhada no site, saiu o resultado do Ismart!". Minhas mãos começaram a tremer, o suor foi ficando frio e quando a janela abriu, as quatro palavras brilharam na tela do computador: APROVADO NO PROCESSO SELETIVO.

Talvez, hoje, em pleno século XXI, esse sonho esteja perto de se tornar realidade. Porém, alguns ridículos episódios de racismo, que ainda acontecem, vêm retardando esse sonho e fazem-nos pensar se ele realmente é possível. Como citado no jornal Folha de S. Paulo (“Time do Peru deve ser punido por racismo de torcedores” – 14/02/2014), na última quarta-feira em uma partida entre Cruzeiro- MG e Real Garcilaso, do Peru, o jogador brasileiro Tinga foi hostilizado pela torcida peruana. Todas as vezes que ele tocava na bola, gritos imitando macaco ecoavam por todo estádio. Com esse novo e ridículo episódio sobre o persistente racismo, esse mundo que King e eu sonhamos dá um passo para trás em pleno século XXI, mais uma vez. Um século em que um negro é o homem mais poderoso do mundo (Barack Obama), a nação insiste em julgar a cor da pele. O presidente da CONMEBOL, Eugenio Figueiredo, prometeu a Aldo Rebello, ministro do esporte, uma punição ao clube dessa torcida “ultrapassada”. Uma punição que seria inédita e, pessoalmente, um enorme passo para um mundo sem julgamentos raciais. Será possível? As atitudes que respondam!!

Texto 7 – A cada início de ano letivo, novos alunos do projeto Ismart começam seus ciclos de estudo no Colégio Uirapuru. Para os professores, cada um dos selecionados torna-se um presente, pois não há maior satisfação do que ver (e sentir) a gratidão que sentem a cada aula lecionada. Pensando nisso, a equipe de Língua Portuguesa solicitou para um desses estudantes/escritores que manifestasse suas impressões iniciais frente ao novo desafio educacional que enfrentam. Este texto mostra muito além de letras; ele indica a ponta do iceberg que simboliza o todo de um sonho realizado. Relato pessoal.

Depois de dois meses, eu estava na porta da escola, o Colégio Uirapuru. Subo a rampa, passo pelas catracas e, ainda meio perdida, sigo as orientações para ir até o 2º andar, correspondente ao Ensino Médio. Encontro os outros candidatos aprovados e procuro pelo meu nome em alguma das listas de chamada. Na porta da sala 24 encontro: Bruna Bonás Schmidt Rohde, 1º ano D. Entro e deparo-me com aquele sonho de ambiente. Ainda não acreditava que aquilo poderia ser verdade. Sentei na primeira carteira da parede, ansiosa demais para me manter quieta, apenas esperando por todo aquele universo novo a ser descoberto. Ali se iniciaria a realização de um sonho e o início de muitos outros. Fui tão bem recepcionada pelos professores e colegas de sala, que meus olhos brilhavam cada vez mais quando cada professor novo entrava na sala, como uma criança que ganhou o presente que pediu de Natal. Para melhorar ainda mais, era chegada a hora da gincana. Ganhei uma família e, definitivamente, integrei-me aos demais, transformando ansiedade em realidade; sonho em realidade; medo em amizade. Nunca imaginei que poderia estar tão feliz tendo uma jornada tão cansativa pela frente. Situações como chegar em casa e passar horas estudando? Bobagem, eu tinha chegado até ali e cada matéria nova me lembrava daquela conquista. Gostaria de deixar aqui meu agradecimento a toda equipe do Colégio Uirapuru e ao Projeto Ismart, que juntos estão me proporcionando uma experiência inovadora e cada dia mais interessante. Quem diria que aquela jornada ao longo das provas de seleção me faria tão feliz? Tudo isso ainda parece um grande sonho e se for, por favor, não me acordem!


Página 07 Texto 8 – Produção espontânea, manifestando a bonita comparação entre a guerra de um idoso e de um jovem. Reflexão crítica em formato narrativo revela, a cada palavra, como o termo ‘guerra’ pode se associar ao passado e ao presente, ao concreto e ao abstrato. Com atraente jogo lexical, o escritor se mostra em interessante estado de reflexão enunciativa. Narração reflexivo/crítica

Texto 9 – Produção espontânea do poema narrativo/reflexivo sobre os movimentos de manifestação, que acometeram o Brasil em julho de 2013. Muitas vezes, pode-se pensar que a juventude não reflete sobre a política do país. Mais do que refletir, a crítica aparece em formato de poesia. O escritor faz parte do Projeto Ismart e demonstra clara apreciação pelos processos de leitura e escrita. Poema reflexivo.

Horatius mentitus A respiração ofegante do velho era indício da batalha que estava travando. Por toda a velha casa, ecoavam velhos suspiros e velhas agitações, velhas respirações e velhas súplicas. Nunca nenhum ser humano havia visto batalha tão épica, comparável à coragem dos gregos em Troia ou ao heroísmo dos russos. Noite e dia, a batalha se propagava por todos os lugares, em dois fronts diferentes. No outro front, havia um adolescente, destemido e corajoso, como um guerreiro indígena, atrevido como um colonizador europeu. Sua cabeça explodia de ver tanto sangue ser derramado. Os jovens e os velhos, definitivamente, não foram feitos para guerrear. No meio a uma das mais cruéis realizações humanas, o poder de fogo é equilibrado às baixas, foi assim na maioria dos casos, foi assim com o meu velho, foi assim com o meu jovem. Guerra desgastante, guerra maldita, guerra. Meu pai foi à guerra e nunca mais voltou, saiu um dia com um celular, verdadeira arma do século XXI, algum casaco e o cansaço de sempre para ir trabalhar e, num cruzamento, viu o mundo girar. Meu avô morreu quando a cama parecia mais distante e o céu mais próximo.

Despertar do Colosso Libertei-me da mordaça, Acordei-me do sono, Ergui-me dos escombros, Não temo as ameaças.

Deparei-me com todos A bradar pelo justo, Pela vida do povo. De repente, um susto.

Gargantas ecoando. Braços levantados Sob olhares embevecidos, Os dizeres, clamando.

Era a diversidade. Os passos ribombando,

Guerra sem medalhas e guerra desgastante. No meio do espalhar sangue, o jovem se vê mais propenso à derrota, o velho vê as pessoas com olhar de reprovação. Quem diria que a vida é uma guerra? Combate sem honra é a vida dos que nascem, vivem, reproduzem-se e morrem. No fatídico dia em que o velho se vê no meio da cozinha sem forças para continuar, a cabeça se torna leve e o coração aperta. Com o jovem, a situação foi diferente: viu-se obrigado a sair. Do velho, os vermes herdaram a carne. Do jovem, nada foi herdado. A corda o poupou dessas regalias, assim como evitou novos combates. Harmonia, eterna harmonia.

Todas as idades Por justiça, lutando.

Texto 10 – Produção espontânea de poema narrativo/reflexivo, no qual o escritor apresenta suas aflições frente ao amor, que parece entorpecer e encantar. Falar sobre o amor pode parecer piegas ou comum; com as letras a seguir, esta equivocada noção amplia-se e demonstra-se delicada e visceral. Poema narrativo/crítico.


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Em casa estou Vou, não vou Vou não, vou

Duvidoso pensamento Que se formou Enquanto no seu apê estou E na porta a espero Como da última vez, Mas sem choro nem berro Estou aqui para te entregar

Talvez Me entregar de vez? Melhor não Já há muito chão Separando seu coração Na verdade, é melhor voltar Tenho hora para chegar Será?

Ah, tanta coisa para falar Espera, deixa-se anotar Te amo e com você quero me casar...

O espetáculo da vida As luzes se acendem, o sino desperta e as cortinas se abrem. Naquele momento, nada passa por minha cabeça. Pra falar bem a verdade, tudo passa por minha cabeça. O espetáculo começa e o nervosismo toma conta de mim. E se a música falhar? E se eu esquecer a coreografia? Eu entro no palco e aí sim tudo some. A única coisa que vejo é a luz vermelha da saída de emergência e, é a partir daí, que tudo acontece: os passos saem com leveza e precisão, o tempo passa tão depressa que nem percebemos. No final, são os aplausos que soam, os aplausos daquele que achou sua apresentação um máximo, os aplausos daquele que recebeu a verdadeira mensagem, os aplausos daquele que odiou, os aplausos daquele que nem prestou atenção. A vida é como um espetáculo, primeiro vem o nervosismo e a insegurança, depois vem a garra, o trabalho e, pra terminar, a gratificação com os aplausos, que sendo de coração ou não, nos dão a certeza de missão cumprida.

Textos 12 e 13 – Num segundo momento, ainda dentro do gênero crônica, o tema selecionado para a reflexão foi “DEFICIÊNCIAS”. Inicialmente, a aluna Bruna trouxe sua experiência no Japão e, na sequência, o aluno Luiz Fernando observou a temática dentro de uma perspectiva familiar. Crônica argumentativa.

Melhor ação

Texto 11 – Produção espontânea de cena narrativa, que mostra uma das paixões da escritora: a dança. A motivação da produção foi uma atividade desenvolvida ao longo das dinâmicas de grupo do projeto Ismart. .

Esses dias, eu estava navegando pela internet, quando me deparei com um vídeo muito emocionante da empresa Saatchi & Saatchi sobre a síndrome de Down. Neste vídeo a questão levantada era: que vida uma pessoa portadora da síndrome poderia levar? A resposta muito fácil: Uma vida normal. Eu fiz o primário em uma escola japonesa. Lá havia uma sala para alunos especiais. Uma vez ou outra, um dos alunos passavam algumas breves semanas estudando na mesma sala que os demais alunos. Tinha uma garota em especial, Mirai, que ficava bastante conosco. Os professores avisavam para termos mais cuidado com ela e ajudá-la. Enquanto os outros falavam devagar e escolhiam as palavras para usar, eu, na minha inocência infantil, não concordava em tratalá de forma diferente e agia normalmente.


Página 09 Situação oposta da qual eu, já na sétima serie, vivi aqui no Brasil. Diferente do Japão, ninguém sabia que ele tinha problemas mentais e, obviamente, ninguém tinha preparação alguma, muito menos o professo, para lidar com aquela situação. O garoto era constantemente agredido verbalmente na escola. Mas, curiosamente, isso acontecia por ninguém tratálo de forma especial. Ele simplesmente provocava os colegas, que por sua vez, respondia a altura. Talvez a resposta do vídeo não seja tão fácil de ser respondida assim. Será possível uma vida normal em um mundo tão despreparado? E, por fim, quem é o certo ou o errado? Aquele que os tratam de forma igual ou aquele que os tratam com cuidados especiais? Provavelmente não há resposta certa para essa pergunta. Enquanto Mirai não tinha uma vida “normal” por viver superprotegida, o garoto brasileiro sofria por não ter proteção alguma.

Ao começar a escrever sobre o assunto, resolvi perguntar para minha mãe se ela já ouviu falar em reclamações dos deficientes quando alguém nega ajuda. De maneira triste, ela afirmou que isso ocorre por conta do preconceito e que existem, sim, diversas reclamações sobre o descaso frente ao cego e demais especiais. Atualmente, perdi contato com Alisson, já que mudei de cidade. Ele mora em Boituva, com sua família, que ajuda e dá força para que ele continue a viver bem em sociedade. Cada vez mais, os deficientes vão ganhando mais direito e sendo tratados como eles merecem. Mesmo com o preconceito e a falta de respeito (como aqueles indivíduos que ocupam a vaga de deficientes em shoppings e supermercados, por exemplo), eles devem dar a volta por cima, assim como aqueles com problemas visuais citados na propaganda da CocaCola. Eles não podem, e não devem, desistir dos seus sonhos, provando que são capazes de conquistar o que desejam.

Um dia livre de discriminação Hoje, na televisão, encontrei uma propaganda da Coca-Cola sobre deficientes visuais: eles desejam ser jogadores de futebol. No caminho desses atletas, houve não apenas uma barreira, mas o muro de Berlin, já que muitos falaram que era impossível seguir na carreira esportiva com tal deficiência. Assim como o muro de Berlin caiu, a dificuldade desses deficientes visuais também e eles viraram jogadores de futebol. Como apresentado nessa propaganda, há muitos que não acreditam na capacidade dos especiais, prejudicando-os. Assim como a falta de incentivo, também há preconceito e pouca ajuda da população.

Venho de uma família sem preconceito algum com deficientes, já que tenho duas gerações que trabalham na APAE (Associação de pais e amigos dos excepcionais). Com isso, convivo com muitos deficientes. Fui até amigo de um, seu nome é Alisson. Cheguei a ver pessoas olhando feio para ele e eu ficava mal com isso.

Texto 14 – Ao encontrar o Primeiro ano do Ensino Médio, os escritores se deparam com a cena narrativa; nela, eles devem transmitir a emoção de um enredo único, capaz de transmitir o equilíbrio inicial, a complicação, o clímax e o desfecho. Sem nenhum tipo de recurso midiático, como imagens ou trilha sonora, a cena narrativa impressiona pela capacidade de entreter com o uso das palavras, o chamado jogo lexical. Cena narrativa/Narrador onisciente. .

Fechando os olhos para observar Como de costume, Joke senta-se no pátio de sua escola após a aula para escrever. Escrever? Crônicas, romances, textos de todos os tipos. Isto é o que sempre lhe trouxe mais prazer: contemplar o mundo e gravar suas interpretações no papel. Todos os dias essa mesma rotina repetia-se no mesmo lugar, no mesmo canto, do mesmo jeito, com o mesmo sentimento de empolgação. Porém, hoje há um elemento na cena que lhe enche os olhos, atingindo até sua alma. A bela imagem dos perfeitos traços da menina levava-o ao nível máximo de inspiração para criar sua próxima obra


Página 10 criar sua próxima obra prima. Não necessariamente Jude trouxe os desejos amorosos de Joke à tona. Perfeita fonte de inspiração. É isso que nosso escritor faz; observa e escreve. A pena maior é que Sólon mantém-se em relacionado com a menina. Tudo isso faz o ciúme do namorado tornar-se crescente. Amigos dele diziam para que ele tomasse providências. Ele, então, decide adotar as ideias. As tarefas escolares dos alunos devem ser cumpridas. Caso contrário, será obrigatória a presença dos jovens em uma reunião com a orientação após a aula. A forma como Sólon usa essa regra é fatal: ele rouba a tarefa de Joke e esconde-a. A professora o chama. Onde está? A tarefa não foi feita? Ah, pobre menino solitário. Obrigado a ficar na reunião, seus olhos incessantemente se fixavam no relógio, carregando a angústia da espera. O fim da eternidade parecia estar mais perto que o término da aula. Esse tipo de atitude também dá inspiração para que um escritor produza uma crônica de ridicularização e a publique no jornal da escola. E assim foi feito por Joke, ao descobrir quem o fizera mal. Uma série de intrigas levou ao momento do novo rumo na vida de nosso escritor. Durante a aula de laboratório dos meninos, Sólon não se conteve e, num movimento convulsivo, jogou o produto nos olhos do escritor. Joke torna-se cego. Lá estava, um escritor sem poder escrever. As atitudes vingativas os levaram a um ponto sem volta. A rotina de escrita e a observação mudaram para um dia-a-dia de lamentações e arrependimentos, onde cada abrir e fechar de olhos ganha um novo significado. Agora, a nova tarefa de Joke é observar muito mais do que com os olhos e escrever além das letras.

3ºEM.A Um passarinho me contou

1º lugar LOGO

2ºEM.B A voz literária

1ºEM.B Abra o bico

lugar NOME

1ºEM.C

Produções para concurso do logo e do nome para o Boletim do Ensino Médio 1ºEM.D Uirapuru informa


AQUI TODO MUNDO TEM NOME

Av. Professor Arthur Fonseca, 633 Jardim Panorama – Sorocaba (SP) www.colegiouirapuru.com.br (15) 2102. 6600


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