O PROJETO A partir da leitura do livro “7x7 Contos Crus”, nasce um projeto interdisciplinar. Contos Crus aborda uma temática social, de difícil digestão em que realidade e ficção caminham juntas. Os alunos do 8º Ano fizeram um estudo do meio “City tour em Sorocaba”, atividade da disciplina de História e Geografia para ampliar o olhar em relação ao contexto histórico e o meio em que vivem. Fotografaram os locais visitados para, mais tarde, produzirem um conto. Mas a escrita dos Contos Crus, assim como em 7x7, deveria ter um olhar crítico em relação as agruras sociais. O texto literário tem a função de apresentar ao leitor, através do belo, toda a realidade que o cerca. Mostrando que apesar de muitas contrariedades e dificuldades, a esperança deve existir sempre. Assim, Contos Crus é um convite à boa leitura, escrito por mãos que estão descobrindo a arte de escrever.
Boa leitura! Professora Samira Cristina Figueiredo Dufner
SUMÁRIO Algum dia
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A guerra
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A menina dos trilhos A menina órfã
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08
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A palestra sobre desigualdade A última flor
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A vida de um soldado na guerra
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Caminho para a felicidade
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Conto: O mistério da igreja
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Em busca da paz
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Filha das drogas
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José Antônio, o motorista
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Minha bela cidade Missão
Na praça dos Tropeiros
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O herói de Botucatu O jardim O livro azul
O menino curioso O monumento
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O reencontro menos esperado de todos
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O sinaleiro
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Os canhões
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Por pouco
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Praça do canhão Rolf e Rosa
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São Joaquim da Catedral Tudo pode mudar
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Algum dia
Algum dia vou achar alguém que realmente goste de mim. Era um dia lindo como todos, minha mãe estava ansiosa com o meu casamento, mas eu só pensava na liberdade. Sou Sarah, tenho 23 anos e via a bondade em tudo e todos. Minha mãe Karine escolheu o noivo, não sei por que se eu é que ia me casar não ela. O moço se chamava Gustavo e tinha 25 anos, ele parecia ser muito simpático. O casamento tinha começado tudo muito bonito e lá estava eu, caminhando no tapete vermelho da igreja indo para o altar, estava muito nervosa, então comecei a olhar para o teto, vi os detalhes, as pinturas, amei aquela igreja, por fora e por dentro. Tudo ocorreu muito bem. Depois da cerimônia, todos nós fomos para uma festa, dancei com minha mãe, com minhas amigas e com meu marido, é claro. Despedi-me de todos e fomos para a casa que meus pais haviam nos dado de presente de casamento. Meus pais eram muitos ricos, mas só porque eram ricos não quer dizer que minha vida era perfeita. Estava cansada e fui tomar um banho. Quando sai do banheiro, não queria acreditar no que tinha visto, minha bolsa, minhas joias, tudo tinha desaparecido e percebi que Gustavo não estava em casa nem suas coisas, liguei imediatamente para a polícia e para os meus pais:
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— Vai ficar tudo bem filha, eu e seu pai vamos cuidar de você – disse minha mãe, fazendo tranças em meu cabelo, será que ela pensa que ainda sou criança? Mas não estava preocupada com as coisas que sumiram, fiquei assustada com a atitude de Gustavo, ele parecia ser tão gentil... Três anos se passaram e adivinha, minha mãe achou outro noivo para mim, Antônio. Mas como tinha medo de que a mesma coisa acontecesse como aconteceu com Gustavo, fui falar com ela: — Mãe, gostaria que cancelasse o casamento, por favor. — Por que Sarah? Antônio está muito feliz – disse minha mãe. — Tenho medo que aconteça algo. — Filha, Gustavo era muito sem vergonha, já Antônio é tão educado. — Está bem mamãe, vou me casar com ele. — Muito bem, filha! Não queria me casar com Antônio, mas minha mãe estava tão feliz, que não tinha como dizer não. E lá estava eu mais uma vez, subindo ao altar e dizendo sim para o homem que eu nem conhecia nem amava. Dessa vez, não fui tomar banho, mas Antônio me assustou. Estava na cozinha quando ele apareceu com uma arma e com malas: — Se você falar para alguém eu vou atrás de você e te mato! — Antônio, o que está fazendo? – perguntei quase chorando. — Não é óbvio? Estou levando tudo de valor embora! – e saiu correndo de casa. Liguei apenas para minha mãe, pois se ligasse para a polícia ele viria atrás de mim. Minha mãe não arranjou outro marido para mim, graças a Deus. Mas tenho a certeza de que algum dia, vou achar alguém que goste de mim e que não queira apenas o meu dinheiro.
Vitória Parron Martins
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A guerra Em um dia chuvoso um rapaz chama Ronaldo, um grande líder de guerra declarou uma guerra contra seu primo Reginaldo, também um líder de guerra. Os dois sempre foram líderes de diferentes países, Ronaldo era do Brasil e Reginaldo era de Portugal. A guerra começou com um simples acordo que não foi cumprido como o esperado, Ronaldo se estabeleceu em uma cidade chamada Sorocaba, que tinha todos os aspectos para uma grande guerra, e Reginaldo na cidade de Lisboa. Todos eles reuniram as suas tropas, treinaram-as e, enfim, chegou o dia do conflito, mais de 1000 pessoas para cada equipe. Soldados de Reginaldo começaram a invadir Sorocaba pela sua entrada principal, soldados de Ronaldo tinham a estratégia de defender seu território não atacar a equipe oponente, mais infelizmente a equipe de Ronaldo tinha 50 soldados a menos, que faz muita diferença em uma guerra, soldados de Ronaldo e de Reginaldo foram acabando vagarosamente até que só sobraram 78 para a equipe de Reginaldo e 47 para a equipe de Ronaldo. As duas equipes combinaram de cessar a guerra naquele dia e no dia seguinte iriam se encontrar no parque Dr Arthur Farjado. O tempo estava ensolarado e, antes de começar o confronto, combinaram que os dois líderes iam ter uma disputa braçal, sem a ajuda de soldados e armas de fogo. Reginaldo era um homem que nasceu já trapaceando e mandou suas tropas construírem um canhão, caso ele estivesse perdendo atacariam Ronaldo com um ataque de canhão pelas costas para que Reginaldo não perdesse a batalha de jeito nenhum, mas Ronaldo conhecia seu primo e armou uma para ele também. Ronaldo falou para as suas tropas pedirem reforços enquanto os dois lutavam. Reginaldo estava perdendo para Ronaldo e ele acenou com a mão para um de seus soldados atirarem no oponente e assim um líder de guerra chamado Ronaldo morreu em uma cilada que seu primo armou para ele com uma bala de canhão em suas costas. Imediatamente o exército de Ronaldo avançou com seus mais de 100 homens, chamados durante a luta braçal, e conseguiu massacrar o oponente dando-lhe uma moral que não adianta roubar de algum jeito um dia alguém irá vingá-lo. Logo após a guerra os soldados de Ronaldo voltaram para suas casas, suas mulheres entristecidas e raivosas ao mesmo tempo, mas Ronaldo havia deixado um herdeiro na barriga de sua mulher que Ronaldo falou antes de ir para guerra que seu filho se chamaria Pedro, 5 meses depois, Pedro nasceu, foi batizado em uma igreja, e depois, foi contemplar o orquidário que seu pai ia todos os dias às 4 horas da tarde, uma tradição que a esposa de Ronaldo ensinara Pedro. 6
Pedro cresceu, acompanhou o sofrimento de sua mãe sem seu marido. Pedro tinha muita vontade de conhecer seu pai, mas infelizmente nunca mais iria ter essa oportunidade. Pedro ia para a escola todos os dias a pé e via a população das ruas como mendigo, pedinte, entre outros, aumentarem cada vez mais, por causa da falta de Emprego no mundo. Ele tinha problemas na escola mas escondia da mãe. Ele tinha um nariz muito grande e era chamado de senhor nariz de batata e, ainda, era um garoto que não sabia se defender muito bem ainda e recorria para o professor, mas o professor achava isso uma tremenda bobagem e não ligava, até que um dia Pedro resolveu tentar ser igual a seu pai, um grande guerreiro que sabia lidar com as coisas muito bem. Ele começou a tentar descobrir como seu pai era antes de morrer, folheou álbuns e mais álbuns até que descobriu que seu pai fazia uma aula com um cara chamava Wasabi, ensinava a lutar para o bem, e fez essa luta durante 1 ano, ninguém mais zoava o garoto a partir do momento que ele começou a fazer aulas, Pedro se tornou o líder de grandes tropas da América do Sul, como seu pai.
Gabriel Sanchez Pecoraro 7
A menina dos trilhos O sol transpassava as cortinas finas do quarto de Elizabeth, acordando de forma lenta e agradável a todos que no quarto se encontravam. Cresceu em meio de pensadores. Sua mãe e seu pai não eram pessoas fáceis de se convencer, deve ser esse o motivo de toda sua rebeldia e mente barulhenta. Beth não saia muito do quarto, não se sentia parte de turmas em escola. Muitos pensavam que ela se achava inferior às garotas embelezadas e aos garotos bem vestidos, mas muito pelo contrário, ela sabia de muitas coisas, sua mente muito mais desenvolvida, sabia do mal e do bem, e conhecia profundamente a dor do mundo. Mesmo não saindo de casa, a menina tinha uma rotina. Todos os dias ela acordava e ia à estação de trem mais próxima de sua casa. Seus pais a educavam em casa, tendo assim muito tempo livre. Todos os dias a menina sentava no banco para esperar o trem em que ela nunca entrava. Conhecia a todos que estavam na estação esse horário. Ela simplesmente abria sua caderneta e começava a escrever. Alguns dizem que era trabalho de escola, outros que era seu diário. Mas poucos sabem o que se passava na mente da pobre, porém tão rica menina. A verdade é que ela escrevia sobre rotinas, de todos ali…Como Mr. John, um médico bem sucedido que mesmo com todo seu dinheiro, insistia em pegar o trem, talvez ele fosse como Beth, gostasse do contato com diferentes. Posso dizer isso, pois já li aquele caderninho várias e várias vezes. Conheci Beth…Tive a sorte de conhecer e desfrutar de uma mente brilhante. Chamei sua atenção, de certo, e ela chamou a minha. Era jovem quando aconteceu. Atrasado para o trabalho, eu cheguei ofegante na estação. Havia acabado de me mudar para aquela área. Vi uma menina de aproximadamente 14 anos sentada do outro lado do trilho, onde só havia uma árvore e um banquinho miserável onde ninguém ousava sentar. Ela estava lá numa cara de tranquilidade. Atravessei os trilhos correndo, já que nenhum trem passaria lá nos próximos 5 minutos. Sentei-me ao seu lado. O que mais me intrigou naquela garota era sua cara de criança, mas seus olhos de adulto. Uma olhada profunda naqueles grandes olhos cor de mel, e você sentia a dor do desentendimento neles. Ficamos lá sentados, nos encarando, até que o trem chegou. Ah, nesse ponto já não dava mais a mínima para o meu horário. Eu era professor na escola South England. Não me levantei, e essa foi a primeira vez que escutei uma palavra sair de sua boca. 8
— Não tem horários para cumprir? Ou é só mais um desocupado como eu?- E deu uma risadinha. Ela me lembrava muito a minha irmã mais nova. — Tenho sim mocinha, mas para falar a verdade, sua caderneta e anotações me chamaram a atenção. — Venho aqui todos os dias, e ninguém nunca deu a mínima, gostava mais assim. No dia seguinte, voltei mais cedo na estação para poder conversar com ela. E assim foi, dia após dia. Descobri sobre seus problemas dentro de casa, de sua paixão pelo desconhecido e de sua discórdia com o mundo atual. Ela se parecia muito comigo, mesmo tendo apenas 14 anos. Um dia ela me deixou ler seu caderno, e aí que entendi. Só pelo olhar ela deduzia a vida das pessoas, montava histórias. Todas muito intrigantes. Passaram-se três meses com a mesma rotina. Decidi começar a escrever sobre ela secretamente, até que em uma madrugada ordinária, estava pronto para dar um fim no capítulo inicial, quando escutei sirenes. Minha esposa e eu corremos ao porão mais próximo. Bombardeios. Durou pouco, mas a destruição foi grande. As sirenes não funcionaram em parte da cidade e isso causou muitas mortes. Corpos deitados mostravam a frieza do ser humano. Me deixando mais desconcertado com a maldade existente no mundo. Depois de andar, me deparei com minha casa, parte em chamas. O livro estava perdido em meio as labaredas. Nunca tive a oportunidade de terminá-lo. Mesmo sabendo que era a coisa mais justa a se fazer. Depois disso, nunca mais vi Beth. Os dias passaram a ser incompletos e eu passei a me sentir como ela. Corrompido pelos absurdos que poucos olhos enxergavam. Sede por guerra, por vingança para o país inimigo, esse era o pensamento da maioria. Já eu entendia que a guerra era dos grandes, mas a dor era de todos.
Aimeé Chaves Aranha
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A menina órfã O nome dessa menina, bem não importa o seu nome. Essa garota é órfã e mora perto de um jardim. Seu pai morreu quando tinha três anos e sua mãe quando estava nascendo essa menina. Hoje em dia ela tem seis anos e não foi adotada ainda. O seu sonho é ser adotada por uma família que a ame, pois ela já havia sido adotada duas vezes e ela foi devolvida, pois o casal conseguira ter um filho. Ela adorava andar pelo jardim perto de sua casa, lá ela se sentia segura de seus problemas e não se sentia solitária. Uma manhã ela estava passeando e resolveu caminhar até a ponte onde dava para ver o jardim inteiro e resolveu marcar aquele lugar como sendo seu favorito. Ela começou a ir para lá todo dia, a menina ia todo dia à espera de alguém para adotá-la. Um casal ia todo dia também para o lugar, pois achavam essa menina interessante, pois ela ia todo dia ao mesmo lugar. Depois de um ano observando essa menina, o casal foi conversar com ela para saber o porquê dela estar ali todos os dias. Ela explicou que ela adora esse jardim, pois ali se sente menos sozinha. Quando a menina voltou no dia seguinte, ela descobriu que o jardim receberia o seu nome: Alice. Passaram-se doze anos e Alice fez dezoito anos. Mesmo depois de todo esse tempo, ela ia todo dia ao jardim olhar pela ponte. Passaram-se os anos e Alice completou vinte oito anos. Ela se casou e teve filhos. Não visitava mais o jardim e o lugar ficou abandonado. Quando já estava idosa resolveu retornar ao jardim, mas haviam construído um prédio comercial no lugar. Ela perguntou ao porteiro do prédio o que havia acontecido com o aquele bonito jardim que existia ali. Ele disse que ninguém frequentava mais o jardim, e que naquele lugar construíram um residencial que recebeu o nome de residencial Alice. Isabella Krieger Monteiro 10
A palestra sobre a desigualdade
Eram três horas da tarde quando Joaquim começou a palestra sobre a desigualdade. A praça estava cheia. “Em pleno século 21 encontramos grandes problemas na sociedade, entre eles, a desigualdade. Às vezes eu penso: quem deu valor a um pedaço de papel com animais e números desenhados, não pensou no problema que iria criar. Quem diria que pessoas iriam sofrer, brigar ou até mesmo roubar por dinheiro? O público sem dinheiro acaba por causar mais problemas ainda na sociedade e acham comum roubar. Contando uma história de experiência própria com o roubo, posso começar dizendo que eu estava viajando de férias à Itália. Como se fosse um dia normal, eu e meus pais saímos para mais um dia cansativo sob o sol, insuportavelmente quente de Roma. Estávamos a caminho de uma praça da qual não me lembro o nome. No meio do caminho, paramos em uma loja para comprar mais um pequeno acessório para o meu bracelete. Foi nessa hora, finalizando a compra, minha mãe descobriu que não tinha levado sua carteira com ela. Agora a questão é: roubaram no metrô? Esquecemos em algum lugar? Ou no hotel? Ai começou a correria. Refizemos todo nosso trajeto do dia, enquanto minha mãe voltava para o hotel. O desespero começou quando ela entrou e viu que já haviam limpado o quarto. Ela revirou as malas, as cobertas, deixou o quarto de pernas para o ar. Perguntamos se as mulheres que limpavam o hotel tinham visto, mas é claro que NINGUÉM viu uma carteira com 700 euros! E foi com essa pequena experiência, que durou pouco mais de um dia, mas que 11
rendeu o resto da viagem. Com o coração machucado, eu conto para vocês que a desigualdade, a necessidade do dinheiro sempre, mas sempre grita mais alto do que a sinceridade, que atualmente tem sussurrado mais baixo que algumas pessoas em sala de aula. O que as pessoas não fazem por dinheiro? Porém, existe o outro lado em que você pode olhar, afinal essas pessoas podem estar passando fome, serem moradores de rua etc... Mas, por que roubar? Será que a sinceridade e a bondade não valem mais do que o roubo? “Um homem bem de vida dá um resto de pizza com apenas dois pedaços para um mendigo. O mendigo agradece. Então, o homem pede um pedaço e o mendigo diz que não vai dar porque estava com fome e afirma que o homem tinha dinheiro para comprar outra pizza. O Mesmo homem faz a mesma coisa com outro mendigo, só que desta vez o mendigo dá para o homem o pedaço de pizza. Com esse ato de bondade o homem dá na mão do mendigo R$ 500,00 e o agradece por ser bom, mesmo sabendo que ele era rico.” Essa foi uma situação descrita por um jornal. A desigualdade existe no mundo inteiro, como vocês puderam ver em minha história, mas em alguns países ela grita mais alto, como em algumas regiões da China, Índia, o Brasil, entre outros. Na mesma cidade há construções enormes e maravilhosas e do lado favelas. Na rua, uma mulher com um Rolex e roupa de marca, do seu lado um homem dormindo no chão. Ou até em menor escala como no avião, algumas pessoas na classe econômica e outras na chamada primeira classe. Nas escolas, alunos que viajam as férias inteiras e alguns que nunca saíram do seu estado natal. Mas vocês já pararam para pensar que nós provocamos esse problema? E que é tudo nossa culpa? Nós provocamos a sociedade e a tornamos desse jeito, cada vez pior para se viver e com mais problemas. Nós criamos os problemas e depois queremos desfazê-los. Mas não podemos, pois o que uma vez foi criado jamais poderá ser apagado. Vivemos em um mundo cheio de problemas, uns maiores do que os outros, outros quase imperceptíveis e a desigualdade, bem eu diria que ela está entre as piores situações. Pense que você está com muita fome e vê R$ 150,00 cair da carteira de um homem. O que você faz? Pega ou devolve? O certo seria devolver, mas aposto que nessa situação você iria simplesmente pegar e sair correndo, com apenas um pensamento em sua mente: “é hoje que vou ter uma refeição decente e, se possível, até novas vestimentas”. Pensando por esse lado, a desigualdade parece ser algo ruim e o roubo algo necessário, realmente deve ser difícil viver 12
nessas condições, ainda mais sendo responsável pela sua família. Mas pelo menos uma gota, uma única gota de sinceridade nos seus atos... seria o suficiente para melhorar essas condições. O pior da desigualdade é que não tem como evitá-la, afinal o dinheiro já foi criado e é disputado por todos. Essa história se repetirá sempre, talvez cada vez pior, talvez melhore com o tempo, talvez não mude nunca, pois para acontecer uma grande mudança será necessário que uns pensem nos outros com mais amor e carinho”. Quando Joaquim acabou, todos se levantaram e aplaudiram e saíram da praça, cada um seguindo seu rumo.
Sofia Bertolli Oliveira
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A última flor
Todo dia, toda hora observo as mesmas cenas nesta cidade: choro, morte, grito, desespero, ferimentos e tristeza. Vejo guerra que gera infelicidade a todos, mas nem sempre a cidade de Sorocaba foi assim, já tiveram dias de festas, alegria, felicidade, brincadeiras de crianças, correria, nunca de desespero de ser morto, mas de ser pego no “pega-pega”. O que acontece é que o Brasil, meu país entrou em guerra com os Estados Unidos da América, por causa de terras. Não entendo nada, mas não sei quando isso irá acabar. Será quando um declarar a paz? Ou será quando não houver mais nada para destruir? Olho ao redor da minha cidade e vejo prédios caídos, jardins destruídos, até mesmo o que eu moro. Sim, moro em um jardim. Acho que falei demais e esqueci de me apresentar. Eu sou Jorge, um morador de rua. Moro onde já foi um jardim lindo e o mais importante de Sorocaba, o jardim Botânico. Naquela época, este jardim era todo florido, lindo e maravilhoso. Bom, como eu disse, meu país está em guerra e isso destruiu toda a beleza e felicidade. Vou explicar melhor o porquê disso. Em 24 de dezembro de 2003, Brasil e os Estados Unidos tiveram uma reunião de negociação, a reunião não saiu como o esperado, tiveram um desacordo e, assim, foi dado início à guerra. A cidade virou uma confusão, todos 14
estavam preocupados e com razão. Ninguém sabia quando a guerra iria começar, mas todos estavam preparados, ninguém mais se arriscava a sair na rua. Em 30 de dezembro de 2003, foi anunciado a todo o mundo que a primeira bomba seria lançada às 10 horas da manhã. No dia e no horário marcados, todos se recolheram e não havia um baralho. Então, às 10 horas só ouviam bombas, gritos, choros. Bombas, mortes, ferimentos. Bombas, prédios derrubados. Bombas e metade de Sorocaba arrasada. Algumas horas se passaram e algumas pessoas que haviam sobrevivido se arriscaram a sair e ver a desgraça que havia ocorrido. Mas, esse dia só foi o primeiro de muitos dias de bombas e tristeza. O tempo foi se passando e a cada dia um pedaço de Sorocaba era destruído. Em 15 de Janeiro de 2004, uma segunda reunião foi feita entre os Estados Unidos e o Brasil para ver se entravam em acordo. Para a felicidade de todos os habitantes, um acordo foi feito, mas Sorocaba estava detonada e era preciso se recuperar. Muitas pessoas tristes, feridas, tiveram que recomeçar e seguir em frente. Muitas pessoas sem casa, sem parentes, sem rumo e direção. Todos estavam se ajudando como podiam. Mal tinham se recuperado e, para a infelicidade de todos, os países que pareciam ter se acertado brigaram de novo. No dia 09 de fevereiro de 2004, foi dado início à segunda guerra. Dessa vez, as bombas vieram de surpresa, tinham várias pessoas na rua e, quando menos esperavam, tudo começou de novo. Muitas mortes e destruição! Você deve estar se perguntando. Como o jardim que você mora nunca foi atingido? Bom, o jardim onde moro é um pouco afastado de Sorocaba, pois a intenção do jardim era deixar as pessoas mais afastadas da cidade, mesmo assim a tristeza de Sorocaba chegava até o meu jardim. Mas, o jardim não ficou assim por muito tempo. Sorocaba já estava totalmente destruída, só faltava o meu jardim. Os Estados Unidos jogaram uma bomba para acabar com Sorocaba de vez, a bomba pegou o jardim inteiro e eu não sabia o que iria acontecer depois disso, não sabia se estaria vivo, se morreria, o que aconteceria com o jardim. Depois que a fumaça da bomba passou, consegui ver alguma coisa, minha vista ainda estava meio ruim, eu não havia morrido, mas quando olhei em minha volta e até onde minha vista alcançava eu não conseguia ver nada. Mas por que só eu fiquei vivo? Talvez para poder contar essa história. Só sei que tive sorte, na verdade não sei se tive sorte, pois não tinha mais nada ao meu redor só os estragos que a bomba tinha causado, mas minha vista começou a melhorar e vi somente uma flor que teve a mesma sorte que eu. Com isso posso dizer que achei a última flor de Sorocaba. Ana Flávia Santos Alexandrino 15
A vida de um soldado na guerra
Muitos soldados foram obrigados a sair de suas casas, deixarem suas famílias e tudo que amam para trás, para poderem servir o país na Segunda Guerra Mundial e o soldado da história que vou contar não é uma exceção. Seu nome era Marcos, um jovem de vinte e sete anos que deixou sua esposa para trás. Foi convocado à guerra depois que a Alemanha afundou submarinos brasileiros e Getúlio Vargas fez um acordo com o presidente dos Estados Unidos para se tornarem aliados na guerra. Durante sua jornada, Marcos escreveu todo dia em seu diário, para que quando ele morresse ou a guerra acabasse alguém pudesse ver como foi a experiência de um soldado em meio ao caos e destruição. Hoje em dia Marcos é muito conhecido, pois salvou muitas pessoas durante a guerra, e em recentes pesquisas, seu diário foi achado. Ele escrevia muito para sua esposa. Minha experiência na guerra está me afetando dia após dia, vejo bombas explodindo, pessoas morrendo, crianças gritando sem suas mães, pessoas desalojadas que não encontram suas famílias, casas bombardeadas, essa guerra não tem fim. Todo dia eu acordo agradecendo a Deus por mais um dia vivo na guerra e peço para que a guerra acabe e eu volte para a minha esposa. Ontem conseguimos invadir uma pequena parte do território de Berlim, onde estou agora, porém a Alemanha também consegue expandir seus territórios de conquista, ontem mais um submarino com soldados aliados a nós e muitos morreram. Hoje perdi um grande amigo, morto no campo de guerra, deixou sua esposa e três filhos para trás, não sei como vou contar à ela que seu marido nunca vai voltar para a casa, porém, antes de partir, ele me disse uma coisa “diga aos meus filhos que eles não precisam sentir inveja dos meninos que têm pai, porque o de vocês morreu protegendo vocês e todos os seus amiguinhos, digam à mamãe que eu a amo e que ela não precisa ficar triste com a minha partida.” Hoje vi um casal lamentando a morte de seu filho, ele estava nos braços da mãe e ela chorava inconsolada, penso como seria se fosse eu e minha esposa nessa situação, espero que ela esteja bem e que não esteja triste por
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causa da minha jornada nessa guerra, eu vim aqui por nosso país e pelo futuro dele, e não vou parar de lutar até que essa guerra acabe. Aqui é o tenente Leonardo, hoje perdemos um grande soldado de uma forma nobre e honrosa, Marcos lutou até o fim e morreu com dignidade, quando essa guerra acabar, iremos construir um monumento em homenagem a ele em sua cidade natal, Sorocaba. Era de madrugada quando as sirenes tocaram, todos os moradores acordaram assustados e evacuaram suas casas, pois sabiam que aconteceria mais m bombardeio, todos correram para o abrigo antibombas e o trabalho de Marcos era garantir que ninguém havia ficado para trás. Uma senhora de idade havia ficado presa em sua casa, pois a porta estava emperrada. Marcos voltou e a ajudou levando-a para o abrigo antibombas, mas, já era tarde, quando ele estava quase entrando, a primeira bomba explodiu e Marcos acabou falecendo devido ao desabamento de escombros. Foi um dia triste para a população brasileira, mas todos entenderam que ele fez seu papel, não deixou nenhum civil para trás. Sua esposa ficou arrasada, mas sabia que o marido era um herói e tinha orgulho dele. Esse é o cenário da guerra, dor, destruição, mas também esperança, de que a cada dia que passa um dia a menos de guerra e um dia mais próximo do fim e da paz.
Luiza Ferreira Machado
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Caminho para a felicidade Em uma cidade antiga, tudo era simples e fechado, ninguém podia entrar nem sair, não havia energia, eletricidade, automóveis, ao redor dela havia um muro alto e extenso. A única saída que a cidade tinha protegida por soldados e armadilhas pelo caminho era seguir por esse caminho, no entanto nesse lugar tinha regras, e a principal delas era que tudo tinha que ser igual, nada podia ser diferente, ninguém sabia o porquê, muito menos qual era o sentido disso. Naquela cidade morava uma família como as outras, mas nessa família havia um menino de dezessete anos que se chamava Roberto, ele sim era diferente, ele sabia que por fora tudo tinha que ser controlado pelos outros, tudo tinha de ser igual, mas sabia também que ninguém podia controlar o que ele pensava e nem obrigá-lo a pensar igual aos outros. Todos os dias passava uma tropa de cavaleiros armados que vigiavam uma passagem, uma trilha no meio do mato, saía barulho estranho de lá. Roberto, assim como os outros, sabia que era proibido entrar naquele lugar, mas ele tinha uma pequena curiosidade que era descobrir os mistérios de lá. Ficava pensativo, pois queria saber onde essa trilha acabava. Havia boatos sobre um homem que entrou escondido e nunca mais voltou. Todos tinham medo, mas Roberto pensava diferente; ele não achava que o homem tivesse morrido ali e sim encontrado uma saída para fugir daquela cidade. Sem sono, levantou -se da cama, sentou-se ao lado da janela de seu quarto, ficou olhando a chuva, abriu a janela e sentiu aquele cheirinho de chuva, logo ele teve uma ideia maluca, pegou uma mochila, colocou tudo que precisava, saiu de casa e deixou um bilhete para seus pais: “Queridos pais, Estou escrevendo para entenderem que algo me chamou atenção, por isso vou sair de casa, mas tentarei voltar logo. Não sei exatamente a hora nem o dia, nem sei se vou voltar realmente, mas tenho esperanças. Se eu encontrar o que procuro, irei voltar e levá-los até esse lugar. Pai, peguei seu cavalo emprestado.
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Beijos, vejo vocês em breve” Montou em seu cavalo, estava chovendo, nem todos os cavaleiros iriam, apenas um cavaleiro corajoso enfrentaria o caminho. Roberto queria acompanhá-lo, pois não havia nada melhor do que seguir com alguém que conhecia o lugar e também era mais experiente do que ele. — O que o senhor está fazendo? Está chovendo, volte para sua moradia. — exclamou o soldado, trêmulo de frio por causa da chuva. — Eu vim para lhe contar sobre algo muito importante – comentou Roberto se aproximando do soldado. — Qual é o seu nome? – perguntou com um olhar desconfiado. — Meu nome é Roberto, e o seu eu já sei, é Pedro - informou apressadamente. Estou sem tempo e vou explicar rápido, eu sempre fui curioso para saber o que tem nessa trilha, perigoso ou não, tudo é melhor que esse lugar, então quero sua ajuda. – esclareceu Roberto com um pouco de esperança. — Rapaz, você sabe os perigos desse lugar, é loucura ir, mas sabe de uma coisa, também sou curioso e quero sair daqui, vamos - declarou Pedro se arrumando no cavalo. Roberto e Pedro foram cavalgando por horas, só havia mato ao redor da trilha, eles continuaram. De repente, ouviram um barulho de um animal desconhecido, pararam e ficaram olhando, quando avistaram um animal enorme de quatro patas, Pedro pegou sua espada e Roberto seu facão, Pedro de primeira cortou o pescoço daquele animal desconhecido e percebeu que ele parou de se mexer. — Está morto, vamos, deve ter mais desses animais desconhecidos, fique de olho. — disse Pedro desconfiado, montando em seu cavalo e arrumando sua espada. Por horas caminharam, passaram por muitas armadilhas, já cansados, achando que não haveria mais armadilhas, ouviram um monte de barulho estranho, e quando olharam, seus olhos se arregalaram, viram mais de 19
dez espécies de animais que eles nunca tinham visto na vida, os dois saíram dos cavalos e começaram a matar os animais sem pena. Depois de um tempo, todos os animais estavam mortos, havia sangue por todo lado. Famintos, abriram a mochila e se alimentaram, montaram em seus cavalos, pensando em desistir, entretanto avistaram uma luz, essa luz era tão forte que chamou a atenção deles. Animados e cheios de esperança, olharam um para o outro e saíram cavalgando o mais depressa possível. Chegando perto da luz, viram um lugar lindo, havia campos enormes, vacas, bois e cavalos soltos por todos os lados. Ao redor, havia casas diferentes umas das outras, pessoas alegres e livres para fazerem o que quisessem, havia um sol lindo. Cavalgando mais longe ainda, viram montanhas, sabiam que mais além, havia muito mais a descobrir. Voltaram o mais rápido possível, chegando lá convenceram todos, até os soldados e foram para o paraíso.
Andressa Ramos Borsatto
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Conto: o mistério da igreja
Há muitos anos um padre morreu na catedral de Sorocaba e até hoje ninguém mais quer entrar lá... Raquel, Rafael e Matheus ficaram muito curiosos com esta história e os três alunos do sexto ano foram perguntar ao professor Umberto mais detalhes sobre ela. Porém, o professor lamentou muito, pois ele tinha que sair e já estava atrasado para um compromisso, mas disse que as crianças poderiam achar mais sobre a história na biblioteca de Sorocaba. Os meninos então, naquele mesmo dia, foram à biblioteca de Sorocaba, mas não conseguiram achar nenhum livro com mais fatos sobre o padre, que havia morrido na catedral de Sorocaba. Chegaram em casa desapontados. Depois de algumas semanas, quando essa história já não era mais tão importante, Raquel resolveu procurar na internet, só para ver se não tinha nenhuma outra loja ou biblioteca, onde eles pudessem encontrar algum livro que revelasse os detalhes sobre a história. Foi aí que ela gritou que tinha achado uma loja de livros que ficava na rua Evaltor de Diagus número 13. Os três pediram um táxi e foram até a loja onde encontraram o livro. Porém, eles se lembraram que não tinham levado nenhum centavo para comprá-lo. Foi aí que uma mulher bem velha e feia apareceu e perguntou se eles gostariam que ela contasse a história. As crianças adoraram a ideia. Pois bem, foi em um sábado de missa, 13 de junho de 1900 na catedral de Sorocaba. O padre Pedro Túlio estava rezando uma missa como fazia todos os sábados. Quando o padre mandou todos se ajoelharem e fecharem os olhos para orar, de repente entrou alguém na catedral. Todos escutaram o barulho de dois tiros. As pessoas se levantaram e abriram os olhos, o padre Pedro não estava mais lá. Muitas pessoas acham que ele morreu, mas eu acredito que ele ainda está vivo e ainda mora na catedral, só não gosta de aparecer. Com essas palavras, a misteriosa mulher explicou a história para as crianças. As três crianças se olharam muito assustadas, mas ao mesmo tempo muito curiosas. O dia seguinte era um domingo, as crianças foram até a catedral e estavam certos de que iam descobrir algo a mais sobre aquela misteriosa história. Entraram na catedral com muito medo, procuraram em toda parte, mas não acharam nada. Foi aí que descobriram que tinha um buraco que levava a um andar embaixo, mas não era um andar como os outros, era um espaço gigante, onde tinha muita comida, um homem e uma pata. As crianças entraram nesse andar e nunca mais subiram.
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Vocês devem estar se perguntando como eu, uma pata? Sei de toda essa história. Vou explicar: como eu estava dizendo, as crianças entraram no misterioso andar e nunca mais subiram. Mas na verdade, era apenas um imenso buraco, onde eu e meu dono nos escondíamos e tinha muita comida porque todo dia ele roubava do supermercado, mas o buraco era muito fundo, o único que conseguia sair dele era o meu dono. Uma noite, ele trouxe muita comida que dava para sustentar uma família inteira por uns 10 anos. Não entendi o motivo dessa atitude, mas descobri quando acordei que ele não estava mais lá. Então, ficamos eu e as três crianças presas no buraco por anos. Até que elas cresceram e descobriram como sair do buraco e me tiraram de lá também. Na realidade, aquele padre do começo da história era o meu dono, que havia se escondido, pois já estava cansado de ser padre. Ao fugir, deixou um bilhete falando que havia ido embora em busca da felicidade, aonde quer que fosse. Quando saímos do buraco pudemos contar a verdade a todos, que voltaram a ir assistir à missa na catedral de Sorocaba como nos dias de antes.
Isabella Furtado Cavalcante Vecina
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Em busca da paz
Eram dois territórios inimigos divididos por um único muro, há muito tempo não havia uma guerra ou disputa por lá. Durante muitos anos houve muitas guerras e mortes, muitas famílias e crianças morreram, porém havia uma menina em especial, chamada Elena, que desejava mais do que tudo a paz e a união dos dois inimigos. O sonho dessa menina era conquistar isso. Certo dia, quando menos esperava, uma bomba foi lançada e caiu muito perto da casa de Elena, ela se assustou e percebeu que a paz já não existia mais. O alarme tocou alertando a todos que alguma coisa de ruim havia acontecido, todos se levantaram e foram ver o que estava acontecendo e perceberam que o território inimigo havia lançado uma bomba, porém essa bomba havia sido diferente, ela atingiu o muro e o derrubou deixando os dois territórios expostos um ao outro. Quando Elena viu o que estava acontecendo ficou muito preocupada, pois percebeu que a paz estava muito distante. Bem em frente do muro havia vários canhões que eram usados apenas em situações de emergência e essa era uma. A guerra foi crescendo e Elena, com apenas 14 anos, não aguentava mais ver tantas mortes de pessoas inocentes, então decidiu que precisava fazer alguma coisa para mudar esse cenário. Começou a pensar em como poderia 23
acabar com esse conflito, porém havia um problema, ela tinha apenas 14 anos, como poderia mudar isso, como poderia mudar a guerra? Com o tempo ela foi procurando várias formas de conseguir o que mais queria, mas parecia não ter solução. Havia um período de guerra e um período de paz, mas a guerra sempre voltava. A única coisa que ela poderia fazer era ajudar os feridos e os que estavam sem casa e sem comida, mesmo já sendo uma grande coisa não era o suficiente para acabar com essa guerra e trazer a paz. Não conseguia achar uma forma de acabar com isso, se fosse fazer algo precisaria de ajuda, mas de quem? Ninguém queria se arriscar pela paz, então decidiu fazer tudo sozinha. Ao pensar muito, percebeu que a única forma de acabar com isso tudo que estava acontecendo era descobrindo o início disso e poder reverter para tentar unir esses dois territórios. Procurou em todos os lugares, perguntou para várias pessoas, tentou de tudo até que chegou ao único lugar onde não havia procurado ainda, uma biblioteca pouco conhecida. Ao entrar foi falar com a bibliotecária e perguntou: — Onde ficam os livros sobre o passado ou sobre guerras? E ela respondeu: — Eles estão na prateleira do meio, a número 10. E Elena disse: — Muito obrigada! Foi andando e procurando sobre guerras, pegou todos que achou sobre o assunto, porém nenhum falava sobre essa guerra em especial. Sem conseguir nada foi falar com a bibliotecária e perguntou para ela: — Vocês têm algum livro que fale a respeito do início de toda essa guerra ou algo assim? E ela respondeu furiosa: — Isso não é da sua conta, esse arquivo é confidencial! Elena foi embora muito triste e decidiu não desistir, voltou várias vezes e fez a mesma pergunta, até que certo dia a bibliotecária decidiu ajudar e deu à menina um livro secreto que não podia ser liberado. Ao levar o livro foi até um lugar em que ninguém poderia achá-la e começou a ler e leu o seguinte:
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“O início de tudo isso foi muito triste e, por incrível que pareça, muito simples. Tudo começou quando José e Gabriela, filhos de governantes que eram inimigos se conheceram e sem perceber se apaixonaram, porém os pais descobriram que os filhos estavam se encontrando em segredo e os separaram na hora. Cada um dos governantes percebeu que o único jeito disso nunca mais acontecer era conquistando o território do outro e, desde então, nunca pararam de brigar, pois essa briga era algo que passava de geração em geração sem nunca acabar ”. Ao terminar de ler percebeu que essa guerra não tinha mais sentido atualmente e decidiu que iria até a parte mais alta de muro, a parte que ainda não tinha sido destruída e iria anunciar a todos essa história e levaria o livro junto para ter provas disso. Saiu correndo da biblioteca levando o livro e de longe avistou o lugar onde subiria, quando de repente, sem perceber, uma bomba foi lançada do território inimigo e atingiu o lugar onde Elena estava. Ela e o livro viraram pó e uma distante lembrança. A única fonte da verdade foi destruída, esse livro era único, não tinha nenhuma cópia. Elena, a imagem da paz se foi, levando junto a esperança do fim dessa guerra entre as famílias.
Isadora Vernaglia Rossi
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Filha das drogas
Brenda era uma linda menina, nasceu em 1996 e em 1997 foi deixada em um orfanato pela sua avó materna que tentou criá-la, mas não teve condições devido às circunstâncias de uma vida complicada tendo sua filha, mãe de Brenda, como usuária de droga. A avó sofreu muito com isso. Quando bebê viveu em meio às drogas e por mais que sua avó tentasse evitar isso, sua filha era usuária, era inevitável. Nos seus primeiros meses de vida não era saudável, graças ao uso constante de drogas que usou durante a gravidez. No primeiro ano no orfanato a avó de Brenda até ia visitá-la, mas não aguentava ver a neta naquele tipo de situação, então logo as visitas foram tonando-se menos frequentes e, por fim, inexistentes. Aos poucos ela foi crescendo e se criando praticamente sozinha. No orfanato tinha pessoas com quem ela poderia contar, mas preferiu levar a vida por conta própria. Entrou na escola, tentou simplesmente levar uma vida normal, sem saber o paradeiro de seus pais e muito menos o seu. Na escola, ela não tinha amigas porque tinha medo de ser abandonada novamente por pessoas que amasse e embora não se lembrasse de sua família, ela os amava. Seu único amparo eram as rosas que ficavam atrás do orfanato, em um jardim, ela mesma fazia questão de cuidar de suas rosas, pois eram suas únicas amigas e sabia que não poderia ser abandona por elas. Ela contava tudo às rosas, incluindo como se sentia e o que ela nunca fazia. Brenda sabia que quando precisasse, as rosas estariam ali de prontidão a ouvi-la, sem dar suas opiniões, e era apenas disso que precisava. Ela não ia muito bem nos estudos, mas era muito esperta, inteligente e habilidosa para lidar com diferentes situações e embora ninguém a conhecesse, ela tinha uma personalidade ímpar e forte. Ela era bem incomum. Embora soubesse sobre sua família e de toda a história de seu abandono, ela sempre teve esperanças de que sua avó voltaria para buscá-la. Pensava em sua mãe recuperada, mas essas esperanças eram boas para ela, pois sua vida se tornou uma espera constante, sobre algo que não aconteceria. Tentaram adotá-la algumas vezes, mas sua esperança era tão grande que preferia viver sua vida inteira naquele orfanato esperando a mãe, do que ter uma família que não fosse a dela, as únicas que sabiam disso, eram as rosas. Infelizmente, ela tinha perdido a esperança de algo possível, uma vida melhor. Ela tinha muitas poucas oportunidades, estudava em uma escola bem ruim e, além disso, sua relação ruim com os colegas a atrapalhava mais ainda. 26
Ela não tinha mais motivos para continuar vivendo solitariamente e sendo infeliz, então ela apenas vivia um dia de cada vez, esperando que o tempo passasse rápido para que sua mãe chegasse logo, o que nunca aconteceu. Assim Brenda continuou a crescer com suas rosas e, provavelmente, ver as rosas, a deixava mais triste, mas era um bom lugar para pensar e ela sempre se imaginava sendo normal. Vivendo em uma casa normal, tendo família e amigos para ajudá-la em momentos difíceis e compartilhar os bons. Até que um dia, ela notou que imaginar outras vidas não mudaria a sua própria vida, ela notou também que era sua oportunidade de mudar e torna-se uma pessoa melhor. As rosas pararam de ser a sua única esperança e ela começou a acreditar em si mesma. Ela resolveu se dar uma chance e foi adotada, sua nova família era muito boa com ela, e realmente se sentia acolhida pelo pai, mãe, dois irmãos e um cachorrinho. Ela tinha uma ótima casa e estava realmente feliz em relação a isso. Também começou a frequentar uma nova escola e parou de ter medo de se relacionar com pessoas, começou a ter amigos, tirava notas boas, começou a expor suas opiniões e esperanças, mas o reencontro com sua família biológica não era mais uma esperança. Brenda ficou feliz, começou a viver uma vida alegre, ainda ia visitar suas rosas, mas apenas para lembrá-la de o quanto estava feliz com sua vida nova.
Nicole de Palma Gomes
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José Antônio, o motorista
Ainda são 5h da manhã em Sorocaba e José Antônio já está pronto para mais um dia de trabalho. Coloca suas roupas, toma café, dá um beijo na testa de sua mulher e filhos, ainda adormecidos, e no caminho para o trabalho gosta de observar o comportamento e a rotina das pessoas. Nessa jornada até o terminal, percebeu como a violência e a criminalidade está tomando conta das ruas do Brasil e do mundo. Sempre vê o senhor Roberto abrindo sua padaria com medo de que ela seja assaltada mais uma vez, sempre vê as pessoas passando perto de moradores de rua com uma cara assustada, pois pensam que serão assaltados, mas Antônio não julga as pessoas por isso, pois ele sabe que hoje em dia tudo e todos podem ser perigosos. Quando chega ao trabalho, pega o seu ônibus e começa a conduzi-lo e levar as pessoas para seus destinos. O motorista trabalha o dia inteiro e quando acaba seu expediente, vai a pé para o jardim botânico encontrar seu amigo Carlos, o vigia do lugar. Eles ficam lá vendo o pôr do sol até umas 19h. Todos os dias é a mesma coisa! Ele vai para o trabalho e depois para o jardim botânico, logo em seguida vai para casa. Sua esposa é empregada doméstica e Paulo, seu filho mais velho, é marceneiro, Eduardo, o filho do meio, trabalha no mercado, e Josefa, sua filha mais nova, está no ensino médio e trabalha como manicure. Todos têm uma vida feliz, porém o medo é constante. Em uma quarta-feira normal, estava indo para o trabalho, quando percebeu que algo estava diferente, ele não viu o Sr. Roberto abrindo sua padaria de manhã, achou muito estranho, pois a padaria ficava aberta a semana toda, nunca deixaram de abri-la um dia sequer.
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Quando estava em seu ônibus ouviu várias histórias do que poderia ter acontecido com o homem. Uma mulher falou que ele tinha ido viajar ver sua família que fazia 20 anos que não se viam, dona Maria disse que ele se cansou de trabalhar. Junior disse que o filho do padeiro sofrera um acidente de moto. Mas José não acreditou em nenhuma história, pois o padeiro não tinha família, o filho dele estava trabalhando na marcenaria com seu filho e ele amava trabalhar. No final do expediente foi para o jardim como sempre. Carlos estava à sua espera, como seu amigo era muito próximo do padeiro, José perguntou o que aconteceu com o homem. Carlos disse que Roberto estava lá na entrada do jardim, quando dois meninos o abordaram e o esfaquearam para pegar seu relógio, ele tentou ajudá-lo, mas já era tarde demais, ligou para a ambulância e o pobre padeiro já estava morto quando chegaram. Quando estava voltando para casa, José Antônio ficou se perguntando como aquilo era possível, um homem tão bom e trabalhador morrer por causa de um simples relógio?! Ao chegar em casa, contou para a sua família sobre o acidente, todos ficaram tristes, pois o padeiro era uma pessoa muito querida por todo mundo da região. Ao ligar a televisão só via cenas de mortes e tragédias, pessoas morrendo por causa de drogas, guerras, manifestações, corrupção, preconceito. Percebeu que o mundo está acabando aos poucos. Abraçou seus filhos, deitouse na cama ao lado de sua esposa, deu um abraço apertado, um beijo molhado, olhou para ela e disse: — Eu te amo!!! Marizete achou estranho o comportamento do marido, mas ele achou melhor expressar todo o seu amor pela sua família naquela hora, pois não sabia o que podia acontecer no dia seguinte. José Antônio se ajeitou na cama, olhou para o teto e agradeceu a Deus por mais um dia vivo e dormiu, pois sabia que no dia seguinte tentaria sobreviver mais um pouco.
Beatriz Fernandes de Camargo
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Minha bela cidade
Mais um dia me preparava em frente à praça de minha cidade, mais um dia pediria pelo dinheiro tão esperado pela minha família. Morava no Rio de Janeiro, ou melhor, morava nas favelas do Rio, vamos dizer que não tive muita sorte em nascer na família da qual tive, meu pai era bêbado e esquizofrênico e batia em mim e em meus irmãos, já minha mãe, não tive a chance de conhecer. Meu pai se chamava José e, minha mãe, seu nome nunca foi mencionado pelo meu pai, eu e meus irmãos não frequentávamos a escola, já que precisávamos de dinheiro e meu velho não trabalhava. Então, começo minha vida sem mãe, com pai esquizofrênico, irmãos viciados e sem escola, porém é fácil aos olhos dos outros eu conseguir um emprego e me sustentar na vida. Em meu bairro, se considerado bairro, vivem pessoas honestas e carentes iguais a mim, porém traficantes também, os que não facilitam as coisas. Estava sol e iria mais um dia procurar por emprego ao redor da praça, me vestira bem, comparado aos trapos que possuía e iria à minha primeira entrevista de emprego. Viro a esquina e me dirijo ao supermercado, talvez o lugar do meu futuro emprego. Na frente via um homem deitado na sarjeta, talvez não possuísse casa nem emprego. E ao lado, um homem com um Rolex cercado por dois seguranças se dirigia ao seu Maserati. Engraçado a desigualdade já marcada em minha sociedade. Entro e inicio uma entrevista com o meu talvez, futuro patrão. Nome? Respondo: Luís. Idade? Vinte e dois. Escola? Bom, respondi que não havia me formado em uma escola, porém me esforçava para recuperar o tempo perdido. O homem então olha para mim e fala que o único emprego que teria para me oferecer seria o de faxineiro. Olho para ele e respondo que tudo bem, apesar de sentir que ele estava sendo irônico, então ele se levanta e fala para eu começar no dia seguinte às sete. Ao caminho de casa paro para comprar um salgado em um bar, já que não tomara café da manhã. Na saída do bar avisto um menino dormindo da rua, era cedo, me abaixei e perguntei se ele estava com fome, ele me respondeu com 30
os olhos grandes e carentes que sim, imediatamente dei o meu salgado para o menino e pensei como era engraçado pensar em que os que mais possuem são os que menos partilham. Volto então ao caminho de casa, observando a miséria de meu bairro e de minha cidade, todos julgados por muitos. Quase todos dariam sua vida por um emprego do qual era difícil de conseguir. Minha cidade, ou melhor, meu país não possui desastres, possui uma beleza imensa, porém tem duas coisas que o destroem, a desigualdade e os políticos. Chego mais um dia em casa, se é que pode ser chamado de casa o barraco no qual moro, meus filhos voltavam da creche e eu contava à minha esposa sobre o emprego que havia conseguido. Amanha terei que acordar cedo, tomara que eu não precise acordar à noite por sons de balas perdidas trocadas entre os traficantes e a polícia, a qual também não era das melhores, às vezes entrava atirando e às vezes saia com malotes de dinheiro, dos quais traficantes e eles, policiais corruptos, trocavam. Descia a caminho do meu emprego, quando senti esquentar as minhas costas, bom, a polícia devia ter me confundido com algum traficante, caio sangrando no chão e morro ali mesmo, talvez nem mesmo minha mulher e meus filhos saibam o que aconteceu e nem meu patrão. Lucas Marques Seixas
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Missão
Fico curioso em saber sobre o que aquelas pessoas estão pensando, não se ouve nada, se quer uma palavra. Uns apenas suspiram, outros, num estado um pouco pior, gemem de dor. O sentimento que toma conta de minha alma é pena, sinto pena misturada a uma ponta de dúvida: Por que Deus? O que fizeram para merecer tamanho castigo? Que lição quer nos ensinar? Castigo Divino? Será? Por que essa peste, diferente das guerras, não se iniciou pela ação do ser humano? Será? Minha mente está confusa. É claro que a humanidade tem sua parcela de responsabilidade quando faz isolar esses pobres países (os denominados menos desenvolvidos) simplesmente fingindo que eles não existem. Porém, para a maioria o culpado é Deus, Alá ou qualquer coisa sobrenatural em que se acredita. Todos se revoltam, rezam e perguntam: Por quê? Por que está fazendo isso com a gente? Em nossa tenda, rodeado de meus colegas de trabalho, percebo que não estou só nessa indagação. Em meio aos meus colegas de diferentes nacionalidades, crenças, na difícil tarefa de exercer a medicina num país precário, percebo que quando estão frente a frente de um paciente num estado terminal, a tristeza enfraquece a todos e a pergunta vem a mente: “Quantos dias mais esse paciente tem pela frente? Um, dois? Todos os dias vemos famílias reunidas, na porta do acampamento, chorando pela morte de seu ente querido, lamentando por não poder ver o tal corpo sem vida. Os dias são longos, as noites são solitárias. Deitado em minha cama, num dos quartos do alojamento, me lembrei do dia em que perdi meu pai, pobre camponês, já faz tantos anos. Eu ainda morava em minha cidade natal, Sorocaba. Naquele dia, visitamos a barbearia do Sr. Jeremias em frente a "praça do canhão". Dia lindo de sol e céu azul. Que dia feliz! Quem poderia imaginar que na manhã seguinte despertaria com a pior notícia de minha vida, seria eu quem teria um ente querido morto. Talvez a morte dele tenha despertado em mim o interesse nessa profissão. De certa forma faço aos outros aquilo que não pude fazer a ele, sem a chance de ser socorrido, morreu dormindo meu pobre pai.
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Mesmo fazendo esse trabalho considerado por muitos um tanto heroico não me sinto um herói. Heróis salvam vidas, e nós apenas damos um pouco de dignidade àqueles que irão, injustamente, morrer. Não pensem que eu estou sendo modesto, é somente o que eu realmente acho, nada demais. Utilizamos roupas especiais para não corrermos riscos, eu não gostava daquilo, não queria ter privilégios só por que não sou africano, nem negro, mas era assim que muitos me viam. No meu ponto de vista todos somos iguais e não mereço tratamento diferente dos outros médicos, mesmo sendo a meu favor. E por falar em título de herói, ahhh se todos soubessem!!! Não somos tão valentes, passamos o dia com medo de sermos infectados. Todos os dias nos sentimos indiferentes e inúteis diante da devastação dessa doença. Me sinto um falso, um mentiroso, como se estivesse mentindo para os meus amigos e para a minha família. Sim, diferente de muitos voluntários para esse trabalho. Eu tenho família, minha esposa Isabela, minhas filhas Rebeca de 6 e Jade de 4 anos e nosso cachorro Bob (o caçula da família). Por conta do meu trabalho, perco momentos da infância das minhas filhas que não voltarão, como a primeira palavra, os primeiros passos sem cair etc. Eu escolhi esse trabalho num momento não muito oportuno, minha mulher estava grávida da minha primeira filha e, então, eu recebi um chamado para ir para a África, onde estou até hoje. Aqui eu adotei, infelizmente não por meios legais, a minha pequena pérola negra Jade. Jade era uma menina sorridente e encantadora. Tratei do pai biológico de Jade por 2 meses e durante todos esses longos 60 dias, a única frase que esse senhor repetia em seu idioma era: “Cuide de Jade pra mim.” Jade era órfã de mãe e, em dois meses, ficaria órfã de pai também. Quando ele morreu eu já estava encantado pela menina e decidi adotá-la. Ambas as nossa filhas são criadas iguais, com muito amor e sem preconceito. Sorte que a minha mulher tem o mesmo pensamento que eu e me apoia em todos os sentidos. Talvez eu fique aqui longe delas por muito tempo ainda, essa é uma possibilidade. Esse é um trabalho em que o emocional não pode te atrapalhar. Por isso, a maioria dos meus colegas não tem família. Fica “mais fácil”, pois você 33
corre os riscos, paga o preço por si mesmo e não pelos outros e não tem ninguém chorando de saudade do outro lado do oceano. Agora voltando para o meu trabalho, já estava quase na hora do meu turno terminar. Eu cobria o turno da madrugada (o mais silencioso dos turnos). Voltei para o alojamento, não conseguia dormir. Como todas as noites eu pensava se amanhã mais alguém morreria e se eu teria que dizer a mais uma família que um ente querido partiu. Adormeci abraçado a fotografia das “minhas meninas”, minha família. Foi aí que algo aconteceu. Sonhei com meu pai. Fui ao encontro dele num lugar lindo, um campo coberto de margaridas brancas. Nos abraçamos, sorrimos, cantamos, pescamos e aquecidos pelo calor do sol de um final de tarde, pousando minha cabeça em seu colo, ele me disse: “Filho, o sofrimento faz parte do aprendizado. Siga em paz, com o coração alegre e a certeza de que está cumprindo sua linda missão”. Adormeci. Na manhã seguinte, quando acordei ainda estava tomado de felicidade por aquele encontro, por aquelas palavras. Ergui-me depressa e disposto a dar o melhor de mim. A resistir mais um dia diante de toda a dor e sofrimento. Que eu traga a esperança e a fé para essa população devastada por esse vírus letal.
Giovanna Mazuqui Lourenço 34
Na praça dos Tropeiros
A caminho de casa, Anne passou pela praça onde gostava de pegar flores e identificar qual era o seu tipo no livro que o vovô tinha lhe dado. A praça ficava sempre vazia, apenas com pessoas passando por ela, mas nesse dia havia uma menina sentada no banco apreciando as grama e algumas flores. Anne seguiu para casa, e depois de almoçar arroz com panquecas de carne, purê de batata, feijão e uma salada muito variada, decidiu ir de tarde à praça. Será que ela ainda vai estar lá? Pediu ao Tom que a levasse para a praça e que voltasse quando ela ligasse. Procurou pela menina que vira mais cedo e não demorou a descobrir que ela não estava mais lá. Sentou-se onde costumava sentar, pegou seus cadernos, canetinhas bem coloridas e começou a desenhar o ambiente, já sabia desenhar muito bem, pois já estava com 12 anos e sua mãe já havia a colocado em um curso de pintura. Estava desenhando um monumento, já havia se passado uns dez minutos, quando uma sombra atrapalhou sua visão. Ao levantar a cabeça para olhar o que estava acontecendo, não demorou a reconhecer quem era: — Oi. Qual o seu nome? - perguntou a menina que mais cedo estava na praça sozinha.
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— Oi. Eu sou Anne. - respondeu um pouco tímida - E qual é o seu nome? — Sou Emily, você tem alguma coisa para comer? Não almocei e minha mãe me mandou voltar para casa só quando o sol se por. — Você não almoçou até agora? Mas já são 3 horas da tarde! Anne tinha por sorte trazido um sanduíche que comeria mais tarde, mas sua mãe tinha ensinado que é importante dividir com os outros, até mesmo com os mais sujos e esquálidos, como aquela menina. A menina comeu o sanduíche com uma voracidade que deixou Anne mais assustada do que nunca, ela nunca tinha se encontrado com uma pessoa assim, esfarrapada e de aparência muito sofrida. Achou essa garota muito estranha. — Então onde você mora? — Moro no Paineiras, você devia ir lá um dia. Poderia me visitar um dia. E você onde mora? — Moro no Santa Maria, nunca ouvi falar desse condomínio Paineiras. — Não é um condomínio! É um bairro, condomínio é coisa de gente rica! — Ah, tá... - disfarçou a menina rica. Tentou mudar de assunto, por algum motivo não queria que a pobre garota que acabara de conhecer soubesse de sua condição financeira, achava que poderia mudar a amizade que acabara de fazer. Perguntou em qual escola ela estudava, Emily falou com a maior naturalidade do mundo que não estudava, mas que trabalhava com seu pai, que era catador de recicláveis. Ela ajudava a separá-los, também disse que o estudo não tinha importância, pois não ganhava nada com ele. Anne congelou e pensou ser um absurdo o que sua nova amiga acabara de dizer. — O estudo é muito importante! - exclamou sem querer - Como você pretende ter um bom emprego no futuro, ter uma boa casa, um bom carro, se você não tem uma boa formação? — Como assim, uma boa formação? — É ter sabedoria, que você aprende na escola. — Minha mãe disse que o importante é trabalhar para sobreviverEmily exaltou bem o ‘sobreviver’.
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Anne manteve a calma, perguntou à ela como era sua casa, seu pai, sua mãe, seus irmãos (se tivesse) e como eram seus vizinhos. Emily começou a explicar que seu pai verdadeiro deixou sua mãe quando ela nasceu, todos diziam que ele fora embora para o Rio de Janeiro, vendia drogas por lá. Desde então teve três pais, todos foram embora também e deixaram sua mãe com seus cinco filhos. Todos eram mais novos do que ela, eles se davam bem por serem pequenos, sua mãe era faxineira em uma escola. Emily foi interrompida por uma pergunta que Anne lhe fez com um berro assustado. — Que escola? — Uirapuru. - replicou assustada. A menina parou de pintar as árvores de seu desenho e olhou espantada para a segunda declarando que era lá que estudava. Ambas ficaram em silencio por um longo período de tempo. Emily continuou a explicação da sua vida como se nada tivesse acontecido: — Mas hoje minha mãe é casada com outro pai que eu tenho, o catador sabe? A gente mora em uma casa de tijolos que ficam aparecendo, não temos dinheiro para comprar a tinta, dorme todo mundo junto, também tem um banheiro, um canto onde a gente vê TV, e outro onde tem um fogão, mas ninguém cozinha lá, só no final de semana. Anne perguntou onde seus irmãos ficavam enquanto ela, sua mãe e seu pai trabalhavam, ela retrucou que eles ficavam na casa da vizinha ou mesmo na rua com as outras crianças. Anne deu, então, seu desenho semiterminado à sua nova amiga e combinaram de todas as terças se encontrarem na Praça do Tropeiro para brincarem no monumento de Conde Francisco Matarazzo.
Gabriela Garcia Blanco
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O herói de Botucatu
Este é José Santos Lima, um homem com um só sonho: deixar sua história marcada no tempo, na sua querida cidade chamada Sorocaba. Ele conseguiu realizar seu sonho, veja como tudo aconteceu. Desde criança José sonhava em ser uma grande pessoa, reconhecida por todos. Ele gostava de andar a cavalo; seu primeiro e único cavalo foi o Pé de Pano, um lindo “Lippizzano” branco. José sempre saía com Pé de Pano pela floresta, pelo mato, enfim, em qualquer lugar que ia, montava em Pé de Pano, lhe dava três cenouras e ia embora. José tinha muitos amigos, a maioria deles com o mesmo sonho: marcar história, que por sinal um menino querer marcar história naquela época de 1800, era a mesma coisa que encontrar um menino de hoje em dia querendo ser jogador de futebol. Quase todos sabiam andar a cavalo e saíam por aí, pelo meio do mato e José liderava o grupo. Mas andavam por aí fazendo o quê? A resposta é simples, fazendo boas e pequenas ações, como cuidar da natureza, dos animais, se alguém precisasse de ajuda, eles estavam sempre dispostos a ajudar. E eles foram crescendo, crescendo em tamanho e número de sócios e com isso eles iam ajudando cada vez mais e em ações maiores. Até que um dia, de tantas pessoas que o grupo reuniu, (aliás, não eram só pessoas de Sorocaba, e sim de todo o estado de SP) foi criado o primeiro grupo de escoteirismo do estado de SP, o grupo corajoso, forte, leal, de nome “1º grupo escoteiro da cidade de Sorocaba” no qual o símbolo era o olho de uma águia. Eles estavam prontos para o que viesse, faziam até mesmo o mais difícil de se fazer. Ficaram tão famosos, que tomaram o lugar da polícia ambiental do Estado de SP. A cada dia iam fazer uma patrulha em uma cidade do Estado de SP, todo dia uma diferente, e agora vocês conhecerão uma história inédita do “1º grupo escoteiro da cidade de Sorocaba”.
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Certo dia, um dia normal como os de hoje, os escoteiros estavam fazendo a patrulha diária na cidade de Botucatu, que se localiza no interior do estado de SP. Estavam indo, cada um montado em seu cavalo, mas sempre atrás do chefe, José Santos Lima, o único que podia ali dar as ordens. Chegaram à mata principal da cidade de Botucatu, José estendeu sua mão para o alto e a fechou (sinal de que todos deveriam parar, pois naquele momento o chefe daria as ordens). — Chegamos à mata mais perigosa do Estado de SP (chegaram e não tinha ninguém nas ruas e sabe o porquê disso? Pois a cidade de Botucatu sofria há um ano uma crise de jacarés, após o governo de Itatinga ter despejado 30 jacarés-açus em Botucatu), se preparem para usar as suas técnicas de sobrevivência. Entendido? – perguntou José. — Sim, senhor! — Vocês estão prontos? — Sim, senhor! — Então, podem me seguir! Começaram a segui-lo, igual a todos os dias de patrulha. Logo que entraram, se depararam com um jacaré-açu bem em sua frente e o que fizeram? Pegaram fita isolante e fecharam a boca do animal e chamaram o resgate de animais, que chegou em pouco tempo e já resgatou o animal. Quando estava indo embora, José disse que era para chamar todos os homens do resgate de animais, pois havia muitos jacarés na mata. E enfim, já estava no final do dia, quando os moradores de Botucatu souberam do acontecido e ficaram muito mais aliviados em saber que agora, poderiam sair pelas ruas tranquilamente, sem se depararem com um grande bicho em sua frente. Esse foi um dos mais inéditos episódios do “1º grupo escoteiro da cidade de Sorocaba”.
Cauê dos Reis Thiesen
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O Jardim
Meia noite, eu estava sozinha sentada na estufa dentro do jardim botânico. Triste e com medo. Nunca gostei de mudanças e nunca vou me acostumar com essa. Era uma coisa completamente nova para mim, nem mesmo parecia real. Eu simplesmente não entendia. Minha vida já era uma bagunça e agora tudo parecia piorar. Eu sou uma garota normal. Mas me disseram que eu não poderia me intitular assim, já que sou uma bruxa. Diferente das dos contos de fadas eu não vou envenenar uma maçã e fazer você mordê-la e cair em um sono profundo, também não vou te transformar em um sapo, não vou tirar sua vida, eu só quero ser aceita, será que ninguém percebe isso? E como ninguém, eu estou me referindo às “pessoas que vão querer arrancar sua cabeça e te fazer queimar em poste,” como diz Cordélia, minha tutora. Estranho? Sim. Surreal? Sim. Impossível? Era isso que eu achava até a noite passada. Perdi meu namorado, minha casa, minha família, meu cachorro, meu quarto, meus amigos, perdi tudo que eu tinha para começar uma nova vida do outro lado do país. Isso era mesmo necessário? 40
Controlar meus poderes era algo um pouco difícil, mas pelo menos eu não estava sozinha nessa. Na academia para onde me mandaram, tinham outras bruxas, mas elas já eram bem mais experientes que eu, então eu era uma novata na frente delas. Faz mais de 300 anos que muitas bruxas de Salém foram julgadas e essas pessoas ainda acreditam na existência delas? Bom, elas têm razão, porém as bruxas estão em extinção e não querem dominar o mundo. Minha mãe não é uma bruxa, nem meus parentes próximos e essa maldição tinha que cair sobre mim? Tudo bem, talvez eu estivesse exagerando, ser uma bruxa tem lá seus defeitos, como não poder sair da academia sem uma responsável legal pela sua guarda, a qual é concedia a Cordélia assim que você põe os pés na academia, sem namorado ou pessoas que possam suspeitar que você tem algum poder sobrenatural estranho, mas esses poderes não são tão maus assim, eles são bem úteis e podem te livrar de muita encrenca. Todos os sete poderes podem pertencer a uma bruxa em particular, a Suprema. Ser uma Suprema é o objetivo de vida de algumas bruxas e o que todos desejam ser, mas não podemos escolher a quem esse dom será concedido. Ela é a mais forte e a representante das outras bruxas que ainda restam. Quando uma Suprema vai ficando fraca e envelhecendo significa que outra Suprema está florescendo e está quase pronta para tomar seu lugar. O lado bom de ter pessoas mais experientes ao seu lado e dividir seu quarto com uma delas é que você fica de tudo em menos de uma noite. Literalmente, tudo. Madison era minha colega de quarto e mesmo sendo um pouco mimada e fresca demais, por ser uma ex-estrela de cinema, ela era legal. Nada de caldeirões, ser possuída pelo demônio ou ser velha e ter um corvo de estimação, nós éramos adolescentes normais com algumas habilidades especiais, podemos dizer assim. Mas as pessoas meio que não acreditavam quando dizíamos que “somos do bem”, então, logo elas aparecem na frente de sua casa com tochas e armas, e isso não é muito agradável. Quando alguma pessoa descobria sobre alguém da academia ser uma bruxa ou se nós falássemos para alguém, teríamos que usar os poderes nas mesmas, o que não me agradava muito, mas Cordelia sempre dizia que era necessário e se não o fizéssemos isso poderia acabar com uma espécie extraordinária, como dizia ela, então nós a obedecíamos. A pressão estabelecida por Cordelia e Fiona, a atual Suprema e mãe de Cordelia, era muito grande, mas elas estavam divididas, Cordelia acreditava que deveríamos nos esconder e fugir, esconder nossos poderes e parecer o mais normal possível e Fiona achava que devíamos mostrá-los e usá-los como aliados para nossa própria sobrevivência. Na verdade todas estávamos divididas, 41
Madison e Quennie se não estavam discutindo estavam usando seus poderes para machucar uma a outra, Nan era a que tentava ser o mais comum possível e se enturmar com a vizinhança. Mas tentar ser normal não dá muito certo quando seu suposto namorado, Kyle é um Frankenstein que você mesma criou. Quando seu mordomo corta a própria língua para proteger a amada, Fiona, de descobrirem que ela matou a antiga Suprema, o que a levaria à uma dolorosa morte. Quando você nunca sai de casa e não vai à escola. Ou quando você tem Delphine Lalaurie como empregada, depois de ser desenterrada e chantageada por Fiona, que queria saber seus truques de beleza. Por que tudo na minha vida tem que ser tão confuso? Eu não pedi para ser uma bruxa. Não pedi para ter poderes. E não pedi para ter que ficar escondida em uma casa, com bruxas que só sabiam querer matar umas as outras, para não ser morta por uma rainha do vodu. E não pedi para ser caçada pelo marido da minha própria tutora, o qual fazia parte de uma associação caçadora de bruxas comandada por seu pai, Cordelia teve que ficar cega para finalmente enxergar o que o marido fazia. Ela sacrificou a visão para salvar o clã e ela, com certeza, era uma “guerreira muito forte”, como dizia Nan. Então quando se tem esses obstáculos no seu caminho é bem difícil viver uma vida tranquila e fazer amizades, ou só ser você mesma. “Vá ler a bíblia” ou “Melhor levar essa menina ao padre” eram algumas das coisas que as pessoas nos diziam quando sem querer a sua casa pegava fogo ou algum objeto se movia sem explicação. Essas coisas costumavam acontecer antes de eu aprender a controlar meus poderes e, quando isso acontecia, eu simplesmente não sabia o que fazer, me sentia culpada por tudo, então me escondia no jardim botânico ao lado da academia. Aquele era o meu lugar e o lugar onde eu mantinha meu maiores medos e decepções. Lá era tudo que a vida nas ruas não era, era tranquilo e eu me sentia segura. Eu odiava aquilo, odiava que as pessoas pensassem que eu preciso de uma bíblia ou um médico, porque eu não preciso, eu só preciso que as pessoas me entendam e achem que o que eu sou é uma coisa legal, que não vou destruir suas vidas. Todo dia eu me perguntava até quando teria que esconder quem realmente sou, e pelo caminho que as coisas estavam indo, demoraria. Mas como eu era somente uma novata teria que esperar até alguém mais importante decidir fazer algo a respeito, e esse dia parecia mais distante a cada momento.
Ana Laura Gimenez Rebello dos Santos
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O livro azul Ontem havia sido o dia de ir à igreja, Paula, seus pais e três irmãos chegaram, sentaram, prestaram atenção nas palavras do padre e foram para casa. Toda noite de domingo, após ouvir o padre, a menina, escondida, escrevia em seu diário o que questionava sobre as orações e sobre o mundo. “Por que há guerras por causa de diferentes religiões se devemos aceitar todos pelo que acreditam?”. “Por que a Igreja pune quem erra se todos nós erramos? perguntava curiosa em seu caderninho azul que havia ganhado de sua tia, esperando que alguém algum dia a respondesse. A família de Paula era muito vigorosa com as crenças, então a garota nem pensava em fazer as perguntas aos pais. Ela tinha como exemplo desse vigor o irmão mais velho, que havia namorado uma garota que não frequentava a igreja e, após terminar o relacionamento à força, teve que estudar em casa por seis meses para que não visse a menina de novo. A garota não queria que isso acontecesse com ela. Os amigos de Paula também eram católicos, pois ela estudava em uma escola religiosa. Então, a garota não tinha com quem conversar e esclarecer suas dúvidas. Por muito tempo, a garota não tinha coragem de se expressar nem por meio da escrita, mas percebeu que em sua vida não havia ninguém com quem ela pudesse conversar, por issso começou seu diário. No domingo seguinte, após irem à igreja, os pais de Paula foram à casa de uns amigos com o irmão mais velho e ela ficou com os dois mais novos em sua casa. Sem nada para fazer, a garota resolveu escrever mais no caderno azul. Ela estava muito concentrada e não percebeu que seus irmãos estavam lendo o que ela escrevia. Quando seus pais chegaram já era tarde da noite, a menina escondeu as suas anotações e foi dormir. Pouco tempo após Paula ter apagado as luzes de seu quarto, seus irmãos entraram e disseram que haviam contado aos pais sobre o caderninho. Como seus pais não vieram falar com ela aquela noite, Paula presumiu que seus irmãos estavam mentindo. A manhã passou normalmente e, após comer pão e tomar leite, foi à escola. Quando voltou, percebeu que sua mãe e seu pai a esperavam na porta de casa e não demorou muito para a garota perceber que eles estavam insatisfeitos. — Mostre-nos as suas anotações. - disseram os pais e a menina logo correu para seu quarto, com medo do que aconteceria se ela não obedecesse. Pegou o caderninho azul, entregou na mão de seu pai e voltou para seu quarto. Após um tempo, seus pais entraram e surpreendendo a garota, com um sorriso no rosto, disseram que iriam ajudá-la a tirar suas dúvidas, mas que ela deveria continuar frequentando a igreja e que não deveria questionar perto de seus amigos e família. Paula ficou feliz com a compreensão de seus pais. Por mais que eles sempre defendessem suas crenças, ela entendia que eles estavam tentando 43
ajudá-la. A menina continuou indo à igreja aos domingos e quando escrevia em seu caderno, deixava na cama de seus pais para que eles pudessem ler e ajudála.
Ana Sofia Toscano
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O menino curioso
Matheus era um menino muito curioso, qualquer coisa que via queria saber sobre a história daquilo que observava. Aos domingos, o menino e sua mãe acordavam e iam tomar café da manhã na praça. Ao chegarem à praça, havia muitas coisas lá e Matheus perguntava uma por uma: — Mãe qual é a história do pão, da árvore, do chão, da roupa, do banco e da geleia... A mãe cansada de perguntas falou: — Filho, pare de fazer perguntas e vá com seus amigos brincar. — Mas posso fazer só mais uma pergunta, por favor? — Então, só mais uma. Matheus girou todo o parque tentando achar algo para perguntar e viu os canhões da praça e perguntou para a sua mãe sobre a história daquele lugar. Ela iniciou a narrativa: — Estes canhões não estão aqui apenas por enfeite. Há 700 anos, corsários encontraram terras que significavam muita riqueza para eles e 45
transformaram aqueles lugares em colônias. No Brasil, havia muita riqueza e era disputada por muitos corsários, que ao longo da história se tornaram colonizadores dessas terras. Um menino passou por onde a mãe e o filho estavam sentados, se interessou pela história, chamou outros meninos para sentarem-se e começaram a ouvi-la. A mãe, atenciosamente, esperou todos se sentarem para prosseguir com a narrativa. — Mas não sabiam ainda que o centro da riqueza brasileira não era o litoral, mas sim onde hoje se encontra a cidade de Sorocaba. Quando descobriram, muitos colonizadores inimigos queriam aquela parte do continente, muitos corsários ofereceram dinheiro e muitos foram à guerra. Com os perigos de roubo do ouro conquistado, os colonizadores portugueses tiveram que reforçar a zona de extrativismo. Os inimigos, vendo o arsenal de proteção português, pensaram que para roubar a riqueza precisariam não apenas de soldados, mas também de soldados que já estivessem dentro da zona. Espanhóis e ingleses foram até trabalhadores e perguntaram. — Vocês trabalham? — Sim. — Vocês pagam impostos? — Sim. — Então, por que vocês não se juntam a nós e vamos fazer uma guerra com os seus patrões? Conosco vocês não pagam impostos apenas ganham. Portugal era forte e tinha um general chamado Brigadeiro Tobias. Ele era alto, forte e, acima de tudo, um bom guerreiro e por causa dele Portugal ganhou a guerra. Depois de um tempo, fundiram uma estátua com dois canhões e por isso a praça recebe esse nome. No final, quase todo o parque estava ouvindo a história e, a partir desse dia, o filho parou de fazer muitas perguntas, mas a mãe não parou de contar histórias, pois se tornou uma contadora de histórias.
Bruno Brito Oliveira Camis
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O monumento
Olímpio e Maria, um casal jovem e apaixonado, que se conheceram na faculdade e que dividiam os mesmos sonhos, queriam ser médicos para ajudarem o país onde moravam. A saúde está vivendo uma calamidade pública, sem hospitais, médicos, sem bons tratamentos e o número de óbitos cada vez maior. As crianças mal conseguiam estudar, isso quando, não se aliciavam ao terrorismo, procurando um futuro mais digno, pois naquele lugar o único futuro que lhes reservava era a miséria. Olímpio teve genial ideia de unir todos os moradores da região para formarem um mutirão de saúde, pois se dependessem do Estado ficariam a ver navios. Maria adorou a ideia e foi correndo atrás de pessoas que pudessem ajudar. Ela conseguiu juntar um grande número de pessoas e, conforme a ideia ia se espalhando, foram conseguindo juntar remédios, vacinas, curativos etc. Em apenas dois meses, aquele pequeno mutirão criado pela comunidade se tornou o melhor centro hospitalar da região, o que não significava muita coisa, mas ele ia bem. Já havia ajudado milhares de pessoas, que sofriam com a essa terrível guerra social que nunca tem fim. O amor de Olímpio e Maria nunca esteve tão forte, eles se apaixonavam cada vez mais e pensavam que nada poderia separá-los, porém, o pior aconteceu. Numa manhã normal como qualquer outra, Olímpio estava a caminho do mutirão quando, de repente, ele avistou um carteiro. Ao chegar mais observou que o carteiro estendeu-lhe a mão para entregar-lhe uma carta do Governo. Olímpio abriu-a e viu que era uma convocação do exército, que precisava de reforços no combate ao inimigo. Quando ele chegou a casa, Maria já estava lá. Ele pediu à ela que se sentasse, em seguida lhe contou da carta que havia recebido do Governo e de que teria que ir como soldado para a guerra. Isso aconteceria imediatamente. Aquela noite foi terrível, Maria chorou aos berros enquanto ele tentava consolála. Uma semana depois, ele já estava como soldado da guerra, enquanto Maria voltava ao mutirão seguindo com o antigo sonho do casal. Anos se passaram e Olímpio foi ganhando prestígio no cargo e Maria ia conseguindo fazer aquele pequeno e humilde mutirão se transformar em uma grande instalação hospitalar, que recebia milhares de feridos e necessitados todos os dias.
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Dez anos se passaram, desde que Olímpio havia ido ao exército para servir no combate aos inimigos e desse tempo para cá ele se tornou um dos maiores generais do exército, totalmente condecorado e fizeram um monumento para homenageá-lo. Maria se tornou a médica mais famosa e prestigiada do país e ganhou um Prémio Nobel pelo seu esforço e auxílio à saúde pública nesse longo tempo de guerra. Ambos eram prestigiados e famosos nos cargos que exerciam, porém a guerra acabou os afastando e sumindo com aquele grande amor que parecia imortal. Sempre que Maria passava perto daquele monumento que havia sido feito para Olímpio, ela, em vez de vê-lo como um salvador e um herói, assim como todos aqueles que passavam o viam, ela enxergava aquele eterno amor que a guerra evaporou e ele, sempre que via notícias sobre ela deixava uma lágrima escorrer de seus olhos.
Rafael Soares Simoneti
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O reencontro menos esperado de todos
Era mais um dia da vida de Pedro, ele era pobre, religioso e não conhecia os pais, porém morava na praça em frente à igreja com o tio. A vida do menino era difícil, mas ele conseguia se virar durante o dia. E à noite, a igreja dava comida para os mendigos. Seu tio dizia que seu pai teve que abandoná-lo, pois corria perigo de vida, dizia também que seu pai era rico e que um dia ele voltaria, quando tudo estivesse aparentemente bem. Certa vez, o jornal Sorocaba Em Dia, famoso na cidade, tentou levar o menino para um orfanato, mas seu tio não deixou e ele também não queria. Dizia que seu pai iria voltar, então, eles tiveram que fugir da polícia para que ele não fosse para o orfanato. Faziam isso todos os dias, eram de fugir e depois voltar à noite para comer na igreja. O tio de Pedro era Jailson. Jailson tinha uma bolsa em que guardava fotos do pai do menino, mas nunca deixava o menino ver, pois deixaria o menino triste. Ele dizia que o menino só poderia ver quando fosse maior. Um dia quando o tio estava dormindo, o menino viu as fotos do pai e guardou uma para ele. Alguns meses depois um homem passou a ir de máscara todos os dias para dar dinheiro ao menino e ao tio, depois de dar dinheiro ele brincava com o menino e conversava a sós com o tio. Um dia o menino pediu para o homem tirar a máscara, o homem não tirou, pois disse que era perigoso, o menino insistiu e, então, o homem disse que na outra semana o levaria para ver sua casa e lá tiraria a máscara. Passado uma semana, o homem levou o menino para sua casa, quando ele mostrou o rosto o menino e ele começaram a chorar, pois ele era o 49
pai de Pedro. Mas uma tragédia aconteceu, um tiro que não se sabe de onde veio, acertou o pai de Pedro e também o menino. A notícia saiu no jornal, a cidade inteira se emocionou e até fizeram uma linda homenagem para o menino com uma estátua na frente da igreja.
Ricardo Rodrigues Bovo
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O sinaleiro
Soava a buzina do trem e acordava o pobre senhor, que morava ao lado de uma ferrovia, pois seu trabalho era operar os trilhos daquela área. Sua casa era minúscula, tinha apenas um banheiro, uma cozinha e um quarto. Tirava todo o seu sustento de sua plantação e de uma mina não muito grande embaixo do trilho. Sua vida era difícil, tinha muitas doenças por causa da falta de higiene no local onde vivia. Quando era época de chuva quase morria de fome, pois sua plantação não resistia às fortes tempestades. Em época de seca quase morria de sede. Para conseguir beber água, tinha que pegá-la de um pequeno lago perto de sua casa e esquentá-la para ficar quase potável. Depois de uma época de seca, toda a água do lago e de seu banheiro começou a ficar muito escura e a plantação começou a secar por motivos que ele não conhecia. Sabia que não podia deixar de beber a água, mesmo naquele estado. Após alguns dias, algumas manchas apareceram em sua pele e ele estava ficando cada dia mais indisposto, mas não podia deixar de ir trabalhar. Quando acordasse, teria que trabalhar e ir para a mina de novo para poder sobreviver. Trabalhava pesado e voltava apenas ao soar o barulho do trem. Meses se passaram e um belo dia ele acordou mais cedo, disposto, as manchas na sua pele já estavam menores, a época de seca havia acabado, a água estava voltando ao normal. Naquele mesmo dia, ele foi à mina, ficou lá até o sol se por, já estava achando estranho não ouvir o barulho do trem. Na hora em que foi sair da mina, viu uma luz enorme vindo em sua direção, mas agora não ouvia mais o barulho do trem, não passava mais as épocas de seca e chuva, pelo menos não para ele.
Gabriel Narcizo Marchioli
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Os Canhões
No dia 26 de março de 1760, tropeiros encontraram uma cidade abandonada cheia de construções estranhas e sem nenhuma pessoa. Nessa cidade existiam casas quase inteiras com móveis e tudo. Era como se tivessem sido abandonadas rapidamente, como se tivesse acontecido um ataque. Depois que os tropeiros organizaram as coisas para se fixarem na cidade, eles encontraram pegadas grandes e deformadas e decidiram seguir essas pegadas. Quando acabaram as pegadas, eles perceberam que estas levavam para uma caverna e essa caverna tinha vários túneis que levavam para um lugar que abrigava algo como uma espécie de um ovo gigante, de um animal bem grande. Depois disso, eles ficaram bem assustados com o que viram e começaram a investigar para descobrirem o que estava acontecendo. Passaram-se alguns dias e eles descobriram que alguém de outro lugar havia deixado esses ovos para que no futuro eles ficassem maiores e dentro dele saíssem seres que lutassem para dominar o mundo. Foi então que um tropeiro teve a ideia de construir canhões para se prepararem para o dia em que esses seres sairiam desses ovos gigantes. Mas para que eles construíssem canhões, eles precisavam de material, como ferro, pólvora, etc. Enquanto eles estavam procurando materiais para fazer os canhões perceberam que a cidade não tinha nada disso, então tiveram a ideia de sair da cidade e ir passando de cidade em cidade em busca de material e ir avisando as pessoas sobre o ocorrido nas cavernas. Quando eles contavam, todo mundo ficava espantado. Uns duvidavam, outros diziam que uma tragédia aconteceria no mundo, cada um falava uma coisa e a história ia se espalhando. Depois de passarem em muitas cidades avisando as pessoas a respeito do que eles tinham encontrado, voltaram para a cidade de onde vieram para construírem os canhões para a “guerra”.
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Muitos anos se passaram e em 2015 a cidade está com muitas pessoas morando e ninguém sabe ao certo a história dos canhões. Alguns foram tirados porque estavam muito velhos e enferrujados, mas apenas dois foram deixados para marcar um momento histórico. Acredita-se que os ovos irão botar no dia 1 de dezembro de 2015 e que a cidade será abandonada de novo.
Matheus Nogueira Barbosa
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Por Pouco
E no meio da segunda guerra mundial, foi lançado o canhão mais forte da época, capaz de destruir um prédio com apenas um disparo, de fazer um buraco no chão de aproximadamente oito metros e, infelizmente, ele estava do lado dos nazistas na guerra. Neste momento o mundo se apavorou, todos ficaram aflitos com a notícia. Cientistas e engenheiros ficaram loucos à procura de algo melhor, mas não encontraram, pois não possuíam uma tecnologia tão avançada em relação à época. Pensavam que os nazistas iriam ganhar a guerra, pensaram errado. Porque lá no interior do estado, em uma cidade muito pequena existia um garoto que iria mudar toda essa história. Ele tinha 15 anos e seu nome era comum, não preciso dizê-lo, mas começava com L. L queria muito ajudar na guerra, mas de uma outra maneira. Gostaria de ajudar os feridos no meio do campo de batalha, não importava a “classe” que eles estavam: podia ser um soldado, uma criança, uma mulher e todos que estivessem ali. Anos se passaram e ele pronto para servir seu país, já estava no campo de batalha atirando, matando, lutando (mesmo não sendo seu desejo). Até que viu uma mulher ferida, baleada com aquele forte canhão nazista. Ele não sabia como ela tinha sobrevivido, mas estava à beira da morte. Foi então que aconteceu que ele pensou em algo que poderia mudar sua vida, saiu de sua posição e foi ajudá-la. L a carregou até um local seguro e prestou os primeiros socorros. Ficou ali esperando os médicos. Neste momento, percebeu como ela era linda e acabou se apaixonando em meio a todo aquele desastre. Quando os médicos chegaram, ele voltou para o campo de batalha, pois sentia enorme raiva do que acontecera com a moça. Enquanto L matava os nazistas, teve a brilhante ideia de tentar roubar o tão poderoso canhão dos nazistas. Pediu autorização ao seu capitão e organizou uma pequena tropa para tentar roubar e ganhar a guerra. No caminho até ele, muitos aliados foram mortos, muitos inimigos também, mas conseguiram pegar o canhão e ganhar a guerra. Logo após a vitória, foi em busca de sua outra missão, encontrar aquela mulher que ele tinha resgatado. Ficou sabendo que ela tinha ido a um hospital que ficava a cerca de 50 quilômetros de onde ele estava. Foi de carro 54
apressadamente até lá em busca de sua amada e quando chegou ao hospital, ela não estava nada bem. L entrou em desespero, pois os médicos não disseram se ela sobreviveria ou não. Após alguns meses no hospital ela teve alta, mas ainda precisava de cuidados em sua casa, porém ela não tinha ninguém de sua família e L se ofereceu para cuidar da amada. Foram para casa de L, lá passaram a ficar mais íntimos, acabaram se casando e tendo um filho chamado L Júnior. L, porém ainda servia o exército e teve que ir a outras batalhas. Em uma delas, quando ia resgatar uma garotinha de apenas 4 anos, acabou sendo baleado e não resistiu. Sua família ao receber a notícia ficou muito abalada, mas teve que seguir a vida. A história da esposa de L e seu filho L Júnior fica para a próxima vez.
Felipe Ribeiro Ayres Magalhães
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Praça do canhão
Hoje, o dia havia começado tranquilo. Tudo estava calmo, sem explosões, perseguições ou até barulho das sirenes. Detlef não perdeu a paciência, às 5 horas da manhã levantou-se sem reclamações. Arrumou-se para sair, tomou seu leite e foi para o trabalho. Foi até a garagem, pegou a bicicleta e começou a pedalar a caminho de fazer seus ofícios. Passou pela avenida que ficava ao lado de sua casa e pela praça do canhão. Passaram-se algumas horas e ele estava no consultório, cumprimentou Edburga, uma das enfermeiras que trabalhava junto com o jovem, logo em seguida já foi ver seus pacientes que tinham passado a noite no hospital, depois de uma bomba que caiu sobre a Rua do Sol. Primeiro foi ver Aaron, um dos meninos que infelizmente sofreu um acidente, ele teve uma sorte no momento em que a bomba foi lançada. Ele estava no porão de sua casa e nenhuma sirene alertou sobre a explosão que iria acontecer. Detlef pegou sua prancheta e fez algumas perguntas para o garoto: — Oi, tudo bem? Então você já se sente melhor, mais disposto? – perguntou seriamente para o menino. — Sim, estou muito melhor – disse Aaron com uma cara de quem já havia melhorado. — Minha tia pode vir me buscar hoje mesmo. — Ok, depois iremos falar com ela. O jovem médico passou horas e horas cuidando de várias pessoas afetadas pela guerra, com doença, fome, machucados, entre outras coisas. Às 18 horas seu trabalho já havia sido feito, então pegou sua bicicleta que estava estacionada do lado de fora do hospital, embaixo de uma árvore que estava completamente seca e foi embora para sua casa. Enquanto passava pela praça do canhão, tinha visto um bando de crianças brincando de pega-pega e brincadeiras do tipo e lembrou-se de sua infância, parou a bicicleta a encostou num dos postes que rodeavam a praça e foi na direção das crianças perguntar se podia brincar também. Todos estavam correndo, rindo, brincando como se qualquer problema existente tivesse desaparecido. 56
Às 19 horas, a brincadeira havia acabado cada um foi para sua casa, já estava escurecendo e, no dia seguinte, todos iriam acordar cedo, por isso precisavam se organizar. Enquanto saiam do parque, ouviram zumbidos e barulhos fortes e o pior foi que as sirenes não tocaram, pois os mísseis estavam em baixa altitude. Em determinado momento, as pessoas começaram a perceber que a bomba iria cair naquele lugar. Todos enlouqueceram, começaram a correr e procurar um abrigo para se protegerem. Foi naquele instante que uma velhinha, Agna, que morava perto do lugar onde a bomba estava prestes a cair, havia dito para que as pessoas entrassem na casa dela para se protegerem. Alguns conseguiram chegar antes da explosão, outros não. Detlef sentiu falta de algumas crianças, elas não mereciam acabar daquele jeito. Depois do acidente ninguém mais pensou em entrar naquela praça. E foi assim a explosão na praça do canhão.
Sophia Castagnet Redis
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Rolf e Rosa
Havia uma menina, de apenas 8 anos de idade, chamada Rosa. Ela adorava ir ao jardim botânico com sua mãe, iam todo final de semana e observavam as flores que ali pairavam. Gostava muito de seu nome, pois era o nome de uma flor também, fazendo com que ela se sentisse elogiada. Seu pai morrera quando tinha apenas dois anos de idade e sua mãe, a partir de então, não o esquecera, indo sempre com sua filha ao jardim botânico. Eles sempre iam antes de Rosa nascer e antes de ele morrer, sendo uma atividade que fazia a esposa lembrar-se do marido. A menina cresceu e está agora com 19 anos e órfã. Sofrera muito com a morte de sua amada mãe, porém não deixava de ir todo final de semana ao jardim botânico. Era uma forma de lembrar-se dos pais. Um determinado dia, ela encontrou um homem que se chamava Rolf. Achou-o um cavalheiro. Um fator se agravava nisso tudo: os dois se conheceram no jardim botânico, ou seja, ambos gostam e apreciam flores, isto fez com que se aproximassem ainda mais. Então, Rolf decidiu chamá-la para jantar, levando-a para um restaurante muito aconchegante, porém longe do adorado jardim. Lá, Rosa contou toda sua história para o amigo e o amigo decidiu contar-lhe a dele. Desde pequeno, o menino ia ao jardim botânico com seus pais. Eles adoravam observar as flores, o ambiente, a mata e, por isso, quando Rolf nasceu, decidiram chamá-lo assim, pois significa flor ao contrário. Hoje, ele tem 22 anos e se apaixonou por Rosa. Namoraram durante três anos, decidiram se casar e consideram o jardim botânico como uma casa, visitando-o quase todos os dias. Durante este período, o governo estava passando por crises de espaço, estava acontecendo o êxodo rural e superlotação nas cidades. Então tomaram a decisão de desmatar algumas regiões, plantações e, até mesmo, o amado jardim. Quando o povo descobriu sobre esta tragédia, foram até o atual lugar onde queriam derrubá-lo e começaram a protestar. Eles gostavam muito de lá, arriscariam suas vidas para protegê-lo. Não desejavam que o jardim tivesse seu fim, pois era um lugar muito bonito e especial para todos, principalmente, para Rolf e Rosa. Certo dia, o governo decidiu acabar com esta confusão, que atormentava a população com barulhos, ataques e destruição. Começaram a 58
derrubada e quem ficasse na frente iria morrer. Precisavam muito do espaço para a construção de prédios e casas, que serviria como moradia para a população crescente. Após verem que o Estado não iria parar, mas derrubar todo o jardim, saíram da frente e ficaram muito tristes com o acontecido. No seu antigo espaço foi construído um hospital. Sabendo disso, resolveram visitar os pacientes todo final de semana, como habitualmente faziam no jardim. Levavam flores, ajudando-os e alegrando-os, fazendo com que o hospital não deixasse de ser um “mini” jardim botânico.
Flores no jardim botânico de Sorocaba
Daniela Annuziata Masaro
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São Joaquim da Catedral
Fonte da fotografia: http://www.fotografodigital.com.br/fotografia/catedral-sorocaba86035.html - Acesso em 04/08/2015 às 15:25
Olá. Meu nome é Joaquim de Souza, nasci em 17 de novembro de 1751, em Luanda, Angola. Quando eu tinha 5 meses, fui vendido para a família Fernandes, residente no Brasil, deixando-me afastado de minha mãe e meu pai. Fui criado sob trabalho duro, penoso e desumano, nas lavouras de meu mestre, até quando eu fiz 20 anos, quando fui mandado para construir a Catedral de Nossa Senhora da Ponte, no centro da vila de Sorocaba. Chegando pela primeira vez lá, encontrei-me com muitos outros escravos, muitos angolanos como eu, que também tinham sido mandados por seus mestres a trabalharem na construção da Catedral. Em 1771, a construção finalmente começou, e éramos açoitados toda hora pelos malvados e cruéis capatazes que nos vigiavam durante nosso trabalho.
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A pequena senzala onde dormíamos ficava a duas léguas de distância do local de construção, e imagine que isso se somava a mais de 18 horas de trabalho por dia e uma minúscula e desprezível quantidade de comida. E você aí, do século XXI, dizendo que a sua vida é difícil! No fim de 1771, já tínhamos feito grande quantidade da enorme parede que circunda a igreja, mas, incrivelmente, fazíamos isso de bom grado, pois sabíamos que estávamos construindo uma casa de Deus. E observe como isso é irônico, considerando que, se eu ficasse em Angola, acabaria adepto a alguma religião local, que seria a minha sina! Por volta de junho de 1774, toda a estrutura do local já estava preparada, mas uma grande dose de trabalho ainda nos esperava. No começo de 1783, nós trabalhávamos nas decorações do domo da catedral quando um capataz, parecendo neurótico, apareceu, lá embaixo, e berrou: — Oh, suas lesmas estúpidas, se vocês fossem um tantinho mais rápidos com isto, eu não seria despedido. Para a sua informação, a imagem da Nossa Senhora da Ponte acaba de chegar do Rio de Janeiro e estará aqui dentro de dez minutos! E vocês aí em cima, parecendo os macacos que vocês são, envergonhando toda a cidade, a colônia e até mesmo o rei! Agora, se vocês não acabarem até a Imagem Sacra chegar, mando-lhes de volta para a África com um pontapé! Aquele discurso gerou um grande tumulto entre nós. Alguns não queriam fazer, porque diziam que o tempo já tinha acabado para eles, e ainda havia alguns que acreditaram na história do capataz de mandá-los para a África. E havia outros que corriam para terminar, pois não queriam ser mais castigados nem mortos. E então, ao passo de oito minutos, o bispo responsável aparece, juntamente com a imagem de Nossa Senhora da Ponte. Eu identifiquei o meu antigo mestre ali, entre os convidados. No meio dessa estranha cena, com um cortejo passando pelo corredor embaixo, a imagem de Nossa Senhora da Ponte na frente, os convidados saudando-a, e oitocentos negros escravos pendurados no domo, acabando de decorá-lo, comecei a me sentir mal. Comecei a ficar zonzo, com náuseas, dor de cabeça, nos braços e nas pernas. Fechei os olhos e me senti perdendo a consciência. Na minha cabeça, vi uma mulher à minha frente, dizendo: “Levantate”. 61
Levantei-me, tentando focalizar os olhos na mulher à minha frente. Prestei atenção em seu rosto e não acreditei no que vi. Era Nossa Senhora da Ponte. Falei: “Nossa Senhora, o que trouxe sua divina glória a um homem tão desprezível como eu? ”. Ela abriu um sorriso e respondeu: “Caro Joaquim. Nenhum homem é tão desprezível como, por exemplo, os capatazes que te controlavam. Vocês, escravos, são a parte mais importante dessa sociedade em que vocês vivem”. “Agora, feche os olhos, por favor”. Eu fiz o que foi pedido. E acordei no chão da igreja, com uma dúzia de homens olhando para mim, incluindo o bispo. Perguntei em voz alta: “Que aconteceu? ”. O bispo sentenciou: “Acabamos de presenciar um milagre”. “Agora, filho, viste algo enquanto estavas desmaiado? Narrei-lhe toda a história que aconteceu em minha mente. O bispo, cheio de emoção, declarou: “Filho, tens a bênção de Nossa Senhora da Ponte”. Depois da cerimônia, houve uma enorme festa pública na praça em frente à igreja. Eu era convidado especial, pois era o testemunho que Nossa Senhora da Ponte estava abençoando a Vila de Sorocaba.
Henrique Grunewald Marangon
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Tudo pode mudar
Desde que eu nasci, estamos em guerra, nunca entendi o porquê, na escola evitam falar disso, apesar de eu achar que deveriam explicar melhor o momento em que estamos passando. Meu pai é um soldado, passei pouco tempo com ele até hoje, já que eu só tenho doze anos e ele luta desde que eu tenho três. Algumas vezes ele veio para casa, mas sempre ficava pouco tempo e a maior parte dele com a minha mãe ou com amigos. Dessa vez foi diferente, houve a troca de soldados para que os que fossem pais pudessem acompanhar o começo do treinamento de seus filhos. Meu treinamento começou ontem, preciso admitir que fiquei um tanto assustado com os exercícios e com o fato de que eu realmente poderia ter que lutar na guerra daqui alguns anos. Meu pai me ajudou e me acalmou um pouco, dizendo que ele está lutando há nove anos e continua bem, tirando o fato de ter ganhado algumas ou muitas cicatrizes novas. O segundo dia de treinamento foi pior, parece que dobraram a quantidade de exercícios e a dificuldade deles. Apesar de os exercícios estarem complicados, tiveram partes divertidas durante o dia, conheci alguns garotos que queriam ir para a guerra e outros que quase nem conseguiam andar de tanto medo, havia alguns que estavam neutros, mais ou menos como eu. Dentre todos os garotos, um em especial me chamou a atenção, ele se recusava a fazer os exercícios dizendo que seu pai era rico e o tiraria de lá assim que conseguisse contatar o presidente o que, pela minha visão, seria bem improvável de acontecer. Um dos exercícios era em dupla e eu caí justamente com esse garoto e nós começamos a conversar: — Qual é o seu nome? - eu perguntei. — Felipe e o seu? - disse ele com uma voz rouca. — O meu nome é Rafael. Por que você não faz os exercícios da maneira que deveria ao invés de ficar falando que o seu pai vai te tirar daqui? — Eu venho de uma família rica que nunca lutou em nenhuma guerra por ter muito dinheiro e conseguir fazer acordos com os presidentes de cada época, mas meu pai não consegue contatar o presidente, pois ele está dizendo que a era de acordos acabou e eu devo lutar na guerra. — Então, o seu pai não luta? Felipe me respondeu que não e me contou também que seu pai era um dos poucos advogados que sobraram depois que o país inimigo matou todos 63
que conseguiram há dez anos e os que sobraram procuraram se proteger ao máximo, incluindo o seu pai, que usou grande parte do seu dinheiro para construir uma casa quase impenetrável e com os melhores seguranças para protegê-los. Eu fiquei impressionado quando ele comentou sobre isso e perguntei como seu pai tinha conseguido achar seguranças em época de guerra. Continuamos conversando e ele me convidou para conhecer sua casa e sua família, eu aceitei e depois de um tempo o treinamento acabou e eu voltei pra casa. Chegando em casa, o dia estava calmo, sem muitas bombas e, então, eu fui para o jardim, pela segunda vez na minha vida. Ao chegar lá me deparei com uma casa gigante depois da cerca, cheia de seguranças por todos os lados, e me perguntei se aquela não poderia ser a casa de Felipe. Fiquei observandoa por um tempo e tinha quase a certeza de que era a casa que descrevera. No dia seguinte, o treinamento foi com as mesmas duplas do dia anterior e eu perguntei qual era o endereço da casa dele e ele me disse. Eu contei que ele era meu vizinho. Neste dia fui até a casa dele e conheci toda a família. Foi bem interessante, seu pai é um homem de classe e muito preocupado, o resto de sua família foi gentil e eu acho que gostaram de mim. Continuei indo à casa de Felipe pelo menos duas vezes por semana e nós começamos a conversar bastante sobre a guerra, o pai do meu amigo comentou uma vez que faria de tudo para essa guerra acabar e ele e sua família terem paz novamente. Outro dia nós estávamos conversando sobre o assunto, eu dei a ideia para o pai do Felipe. Que tal ele tentar fazer um acordo de paz com o inimigo, já que era advogado e poderia achar a melhor maneira de fazer isso? Ele começou a pensar sobre o assunto e sempre me contava as ideias sobre o que poderia fazer, mas em todas elas sempre havia um defeito que poderia arruinar tudo. Alguns anos se passaram e o meu vizinho continuava tentando montar um acordo de paz viável e eu e Felipe continuávamos o treinamento. Quando estávamos em nosso último ano de treinamento, o pai de Felipe finalmente conseguiu chegar a um acordo de paz para apresentar aos inimigos que, pelas suas contas, não teria nenhum defeito. Ele contatou o presidente, o apresentou o acordo e conseguiu convencê-lo a apresentar para o país inimigo. Passaram-se seis meses até o acordo chegar ao nosso rival, porém não demorou para ser aceito. A guerra tinha finalmente acabado, nós poderíamos viver sem nos preocupar com bombas destruindo nossas casas. Em homenagem ao pai de Felipe, já que foi ele o responsável pelo final da guerra, construíram uma estátua
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dele na principal praรงa da cidade e Felipe, finalmente, atingiu o seu objetivo inicial, que era sair do treinamento para guerra.
Bruna Freddo Leonotti
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REALIZAÇÃO Alunos do 8º Ano do Ensino Fundamental II
Coordenadora Geral Maura Maria Moraes de Oliveira Bolfer
Coordenadoras do Ensino Fundamental II Flávia Juliana Frasseto Siqueira de Proença Patrícia Carneiro Olmedo
Professora Responsável Professora de Português Samira Cristina Figueiredo Dufner
Coordenadora de Tecnologia Educacional Luciane Pakrauskas Vellozo
Auxiliares de Tecnologia Educacional Camila Mattos dos Santos Edna Renata Proença