2015 - Contos Crus - 8ºB

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O PROJETO A partir da leitura do livro “7x7 Contos Crus”, nasce um projeto interdisciplinar. Contos Crus aborda uma temática social, de difícil digestão em que realidade e ficção caminham juntas. Os alunos do 8º Ano fizeram um estudo do meio “City tour em Sorocaba”, atividade da disciplina de História e Geografia para ampliar o olhar em relação ao contexto histórico e o meio em que vivem. Fotografaram os locais visitados para, mais tarde, produzirem um conto. Mas a escrita dos Contos Crus, assim como em 7x7, deveria ter um olhar crítico em relação as agruras sociais. O texto literário tem a função de apresentar ao leitor, através do belo, toda a realidade que o cerca. Mostrando que apesar de muitas contrariedades e dificuldades, a esperança deve existir sempre. Assim, Contos Crus é um convite à boa leitura, escrito por mãos que estão descobrindo a arte de escrever.

Boa leitura! Professora Samira Cristina Figueiredo Dufner


SUMÁRIO A grande decisão Algum título

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A liberdade do amor

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A Menina que sonhava com o Novo Mundo A poluição da cidade

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A transformação de um jardineiro

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Baltazar Fernandes e a cidade de Sorocaba

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Bem do alto Bomba

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Casamento inaceitável

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Guerra do aprendizado .......................................................................

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Mais um dia nublado

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Fumaça dançante

Medo

Meu nome é JK

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Mudanças na vida de uma menina

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Não confie nas pessoas, elas podem te decepcionar O amor matador O bandeirante herói

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54

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O menino rico Os bandeirantes Ponto de paz

Simplesmente a vida Sonhar gera fama

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Uma sensação jamais esquecida Tropeiro vivo

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O caminho de um homem

O tropeiro

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Vamos ser feliz!

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A grande decisão Lá estava Maya, sentada na janela com os pés balançando livremente. A menina observava os morros que pareciam ser tão longe, mas na verdade estavam próximos à ela. Esses morros formavam uma grande figura que lembrava a forma de um dragão. A imaginação da garota ia longe quando se tratava de elementos da natureza. Em uma bela noite estrelada, Maya se levantou de sua cama e se sentou na janela para observar as estrelas. Foi neste momento que Laila, sua mãe, chegou à janela. Ela é uma mulher muito bonita e cheia de pensamentos questionadores. Ela perguntou à Maya: “Por que a mocinha está acordada essa hora e ainda chorando”? “Não consigo dormir mamãe, eu sempre tenho pesadelos, não aguento mais essa vida” — respondeu a menina com os olhos cheios de água”. “Filha, posso me sentar ao seu lado”? “Claro, mamãe, a hora que a senhora quiser”. “Sabe filha, eu também não conseguia dormir quando tinha sua idade, minhas memórias me assombravam”. “Memórias de que mãe”? “ Vou lhe contar uma história para esclarecer melhor tudo isso e ver se você dorme um pouco ...” “Minha mãe era uma mulher fascinante, olhos escuros de gato, cabelos lisos e compridos, um corpo de princesa e com uma mente rebelde. Ela se chamava Kátia e era uma mulher bastante irritada. Pois, então, certo dia ela simplesmente tirou a burca em nossa varanda, como símbolo de revolução porque estava cansada de ser tratada diferente dos homens e ter que se esconder atrás daqueles panos pretos. Porém, logo em seguida, os homens do Talibã chegaram e arrastaram-na para dentro de casa e a violentaram até a morte. Meu pai me contou isso em detalhes, ele ficava traumatizado com essa história, ele era um homem muito sensato que não se encaixava no estilo de vida de nossa sociedade, eu queria que você tivesse pais iguais aos meus, você é uma menina extremamente boa para ter essa vida”. “Nossa! Essa história é bem triste, mamãe. Mas a vovó parecia ser uma mulher forte, de muita honra”. “Agora meu amor, vá dormir, está bem tarde e amanhã temos que limpar toda a casa”.

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A família de Maya era bem complicada, seu pai batia toda hora em sua mulher e em seus filhos. Ele não era um homem de respeito, porém seu dinheiro foi um ponto forte para Laila ser obrigada a se casar com este homem. No Paquistão, onde Maya e Laila moravam, as mulheres não são tratadas com respeito. Elas sempre sofrem abusos e apanham de seus maridos. A mãe de Maya não era uma mulher qualquer, pois seus pais não eram do sistema paquistanês, então a menina teve aulas em casa e tinha um pequena noção do mundo em geral, tudo que a mulher desejava era que Maya tivesse a visão das coisas que ela tinha e não repetisse os mesmos erros que ela cometeu. Sem pensar, Laila ao acordar foi ao quarto de sua filha, que não havia nem se quer piscado o olho a noite inteira, pois ficou extremamente traumatizada com a história que foi contada por sua mãe. “Querida, o que houve? — indagou Laila”. “Estou cansada dessa vida, não quero ser igual a você, quero ter diretos, quero poder me expressar, quero estudar e, além de tudo, quero ter um marido que me respeite”. Maya subiu as escadas rapidamente, pegou a arma que seu pai escondera de baixo do sofá, fez suas malas e depois correu em direção aos morros que ela tanto amava observar para nunca mais retornar à sua casa. Ela cresceu nos morros e se alimentado da caça que seu amigo Kaled havia lhe ensinado. A menina com sua inteligência diferenciada, conseguiu se criar sozinha. Durante seu tempo de longas horas solitárias, a menina amava observar os pássaros e as árvores, sempre se imaginaria livre, iguais a eles, em seus sonhos. A partir disso, Maya começou a escrever algumas palavras em seu livrinho, que sua mãe havia lhe dado com um bilhete escrito assim: “Um dia este livro te salvará. Conheço teu potencial, filha”. A menina nunca entendera o porquê daquele bilhete e nem da enorme importância que levaria na sua vida. Ao passar o tempo, as poucas palavras viraram um livro, que contava toda a história de Maya e seus pensamentos, tudo que ela viu e sentiu tão pequena. Uma das frases de seu livro é: Eu dedico a base do meu pensamento nesta meditação que minha tão amada mãe me ensinou. Imagine seu espírito saindo do seu corpo, da sua casa, de sua cidade, do seu país, do planeta, como uma luz brilhante ampliando e crescendo, saindo do universo e depois daquele ponto, você olha e vê como somos extremamente pequenos diante de tudo isso. De acordo com Maya, essa é a coisa essencial para nós pensarmos todos os dias e, diante de tudo isso, ela começaria a escrever sua triste história. Maya, com pouco dinheiro que arrumou, a menina que não era mais menina, que já era uma mulher, se mudou para os Estados Unidos, tirou a burca 5


e, nesse lugar, achava que teria uma vida melhor, que tanto sonhava. Mudou-se para Nova York, publicou seu livro, que em poucos meses se tornou um bestseller. Maya se casou e teve dois filhos, como sempre quis.

LuĂ­sa Rocha Paes Geraldes

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Algum título

Meu nome é José, sou miserável, apesar dessa condição, gasto todo centavo que consigo em bebidas e nasci em um lugar que não é o pior para ser pobre, nem o melhor (não que exista um lugar adequado para não ter dinheiro), Sorocaba, interior de São Paulo, no Brasil. Todas essas características me dão o título de Miserável Bêbado de Sorocaba. No nosso prédio, vivem aproximadamente cinquenta pessoas, já que possuímos apenas três andares muito estreitos que se parecem com corredores e estão caindo aos pedaços, literalmente. Os mais variados tipos de miseráveis vivem aqui, sendo assim, ao total temos quarenta e quatro Miseráveis Bêbados de Sorocaba, o que até mesmo eu, que não tenho ideia do que seja matemática, sei que para cinquenta é bastante; os outros são simplesmente Miseráveis de Sorocaba, já que por algum milagre, não bebem. Não sou O Miserável Bêbado de Sorocaba, claro, como já falei, existem muitos de nós; mas se formos falar sobre minha aparência, as circunstâncias mudam e posso dizer que sou O Miserável Bêbado de Sorocaba mais Feio que existe, com razão, afinal, tenho cinquenta anos, com aparência de noventa, sem exageros, minha pele é enrugada como uma uva-passa, minha barba e meu cabelo estão gigantes (não uso o barbeador e a gilete coletiva que roubamos, por pura preguiça) e grisalhos, sou caolho. Como não tenho nada para esconder esse defeito, ele simplesmente me deixa com uma aparência péssima, meu nariz é adunco e sem forma, quase não tenho lábios, sou magro como um graveto e para completar a minha postura é de um completo bêbado, já que sou um, afinal. As pessoas caolhas não escolhem ser caolhas, existe uma história por trás, assim como tudo na vida e eu não sou exceção. Há um Miserável Bêbado que, aproximadamente, três meses atrás, ficou maluco e começou a esquartejar os outros e a comer a carne deles, como um canibal, (no meu caso foi o olho, por enquanto), levando alguns à morte, conhecido como Van Nibbal (quase ninguém sabe seu nome, só sabemos que se inicia com Van). Esses crimes são assuntos que a mídia não mostra para o mundo, nós não somos pessoas de quem valha a pena comentar, antes éramos 55. Qualquer um se perguntaria por que não fazemos nada a respeito? Acho que por causa do medo, simplesmente medo de abrir a boca e ser morto. Já faz uns cinco dias que Van tem se controlado...

Aquele dia seria mais um dia normal: sair com os farrapos de sempre, beber algo que roubamos mais cedo, procurar alimentos ou qualquer coisa útil no lixo, comer qualquer porcaria, mesmo que não possa ser considerada comida, beber mais, voltar para o prédio e dormir... Porém, como eu disse, seria um dia normal, mas aconteceu o seguinte: estava passando na praça do canhão (chamo-a assim, pois não sei seu verdadeiro nome) e como de costume, havia uma excursão de um colégio, com crianças de aproximadamente 9 anos, quando sentei no meu banco, percebi que uma menina do passeio escolar estava vindo em minha direção, em vez de se afastar como todas fazem, ela se aproximou, me entregou uma florzinha roxa e disse: 7


— O que acontece... – ela não conseguiu terminar a frase, pois a professora urrou. — Quantas mil vezes vou ter que falar para você não conversar com quem não conhece, principalmente tipos como ele, não vê que está bêbado?? A menininha saiu correndo, mas antes sussurrou: — Passe na igreja, é muito bonito lá! Ah e se cuide, há boatos que um canibal está a solta... - depois disso uns meninos gargalharam dela, por estar conversando comigo e arremessaram um boné que haviam retirado da estátua da praça minutos antes, a menina apenas ignorou-os e coloquei o boné na cabeça, era muito bonito, afinal. Sem palavras, apenas acenei com a cabeça.

Naquele dia, fiz algo que nunca tinha feito na vida: fui à igreja, não para orar ou falar com Deus, eu apenas desejava pensar, sentei o mais longe possível das duas pessoas ali presentes e refleti... Meus pensamentos estavam mais embaralhados do que nunca, a fala da menina não saía da minha cabeça, era a primeira vez que alguém não miserável falava realmente comigo. Mas afinal, sou miserável por que nasci assim, não é? O que eu fiz para mudar durante esse tempo todo? Van Nibbal precisa ser impedido!! Então, descobri quantos erros cometi na minha vida, como consegui conviver com alguém que na verdade é um canibal? Acabei apenas chegando à conclusão de que todos cometemos Igreja Matriz de Sorocaba, local sugerido pela menina para o erros, mas o que nos define é como mendigo. agimos em relação a eles, podemos ser aqueles acomodados que apenas esperam e deixam o erro passar sem fazer nada a respeito ou podemos ser aqueles que erram e consertam o erro. A partir daquele momento, eu ia ser outro tipo de pessoa, não aquela que resolve as coisas a partir da bebida ou aquela que simplesmente pede favores aos outros e não se importa com nada. Van Nibbal precisava ser impedido e seria eu quem tomaria uma atitude. Precisava mudar parar de ser um ninguém.

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A igrejinha começou a ficar mais cheia e já estava sendo fuzilado por olhares que me pediam para sair, como se eu fosse um verme, enfim, ninguém poderia dizer que eu não era. Cheguei a casa bem mais tarde do que o normal e, apesar disso, não havia ninguém lá, apenas muitas viaturas policiais. Me escondi atrás de uma árvore e consegui entender o ocorrido; Van Nibbal foi finalmente preso, ao que parece, alguém que passava pela rua, ouviu gritos e chamou a polícia. Fiquei muito aliviado, mas confesso que uma pontada de decepção me alcançou, afinal, era eu quem iria detê-lo. Escondido, fui até a janela do banheiro, que na verdade é só uma pia quebrada, peguei a tesoura e a gilete do batente, sai correndo. Corri de lá o mais rápido que pude, que não é muita coisa, por conta de como a falta de alimento havia me deixado. Cheguei ao ponto mais longe do rio Sorocaba e fiz o possível para parecer apresentável. Cortei a barba e o cabelo com a tesoura o máximo possível, molhei o rosto com a água suja e comecei a me barbear. Resolvi raspar todo o cabelo, assim pareceria menos sujo. Lavei os trapos e meu corpo. Como o calor estava escaldante e os trapos eram finíssimos, secaram rapidamente e já pude vesti-los. Arranquei um pedaço da minha blusa para usar como tapa olho; coloquei o boné e, finalmente, estava mais apresentável do que o esperado. Agora estou juntando todo o dinheiro que tenho, mas não é o suficiente para uma passagem de ônibus, então simplesmente vou andando. Para onde? Não faço ideia, só desejo sair da cidade o mais rápido possível, não espero que outros me sigam, não posso conviver com o fracasso. Estou simplesmente envergonhado, eu deixei pessoas sofrerem. Por que não queria tomar uma atitude por medo? Vou continuar sendo ninguém? Chego à conclusão de que a vida realmente é dos espertos e eu não sou um, se fosse, teria impedido Van de fazer tudo que já fez. Pego a tesoura que utilizei para fazer a barba e o cabelo e a enfio em meu peito. Dizem que finais são difíceis, até mesmo impossíveis, para mim, o final foi a atitude mais fácil da minha vida. Tudo está preto. Finalmente minha vida acabou e agora sou mais um corpo que, talvez, nem chegue ao necrotério. O único pensamento que tive antes de morrer foi: a maior mentira contada é aquela que diz que nunca é tarde demais para mudar, mas para mim foi. Estátua do Brigadeiro Tobias na praça do canhão com o boné que foi dado ao mendigo pelas crianças.

Lívia Trucharte Costa

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A liberdade do amor No século XVII, no Brasil era extraído o ouro com a mão, de tanto ouro que havia. Em uma fazenda no interior de Minas Gerais, duas famílias trabalhavam juntas na extração de ouro, em uma mina encontrada pelos avós das duas famílias ilegalmente. Uma das famílias possuía um pai, Jacarias Viator e sua filha Caritate. Já a outra, família possuía os pais Sr. e Sra. Signa e seu filho Stulte. As duas famílias, em um passado distante, eram uma só e ficavam isoladas em sua fazenda. Jacarias era um tropeiro, bandeirante e ele era o único que saía de lá para vender o ouro e trazer roupa, ferramentas, utensílios e escravos para trabalhar na lavra de ouro. Viator viajava muito e certo dia voltou de sua longa viagem com os novos escravos, quatro homens e duas mulheres. Os escravos dormiam em uma senzala trancada ao lado das lavras. Durante o dia, os escravos estavam a trabalhar e o Sr. Signa os vigiava quando deu uma chicotada em um deles por ir devagar, depois disso saiu para comer e chamou Caritate para dar a eles a comida. Ao chegar lá, ela distribuiu a todos a mistura pastosa e viu um dos escravos em um canto e o interrogou: “Você está bem?” “Suas costas estão machucadas.” “Permita-me ajudá-lo.” Ela foi em direção a ele com um algodão molhado e limpou as feridas, ele devolveu um olhar de agradecimento. No dia seguinte, Caritate foi colher as uvas do pomar, mas ao olhar para trás avista o Escravo do dia anterior e exclama: “Olá, você está melhor?” “O que está fazendo aqui?” Ele timidamente agradece. “Eu gostaria de te agradecer por ontem, meu nome é Dapper.” Eles conversaram por várias horas até escurecer, sem seu pai, Viator, não havia um supervisor. Durante seis meses, Caritate e Dapper continuaram a se falar, mas uma decisão brusca e repentina ocorreu entre os pais de Stulte e o pai de Caritate. Stulte e Caritate iriam se casar. Ao saber disso, Dapper saiu correndo e ao encontrar Caritate já no altar Gritou: “Parem o casamento!” Sr. Signa vociferou. "Como ousa vir aqui e atrapalhar o casamento?" Deu-lhe uma chicoteada e condenou-o à morte, preso na senzala. Na madrugada seguinte, Caritate foi até a senzala e libertou Dapper. Apesar de todo o ocorrido, ela ainda teve que casar com Stulte, vivendo infeliz enquanto seu pai estava a viajar. Certo dia, Jacarias acabou falecendo pela sua idade e isso aconteceu quando ele chegou de sua ultima viagem. Sem Jacarias, a venda dos produtos da fazenda teria que feita por outra pessoa, então foi decidido pelo fato de Stulte ser o novo herdeiro de Viator, virar o novo tropeiro da fazenda.

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Em uma de suas viagens, houve uma tempestade que fez Stulte se perder, morrendo ao cair do cavalo e batendo a cabeça em uma pedra. Assim, Caritate virou a dona da fazenda. Três anos depois, foi declarada a abolição da escravatura. Caritate libertou todos os seus escravos e mandou que ao saírem procurassem por Dapper e falassem para ele que ela estaria a espera dele em sua fazenda. Todo dia Caritate ficava em frente a estátua de seu pai esperando que Dapper voltasse para lá.

Lívia de Figueiredo Galante

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A Menina que sonhava com o Novo Mundo

Este era um dos canhões que havia nos navios dos descobridores pensava a jovem, que olhava pela janela na esperança de que seu pai voltaria. Ele era um dos descobridores do novo mundo. O pai quando chegava das longas viagens que duravam anos, contava das maravilhas do novo mundo à filha, das espécies não catalogadas, do ouro de aluvião, da diversidade de frutos e dos povos que viviam ali. Quando o pai estava fora (a maior parte do tempo) a filha, Inês, e Lúcia, a mãe, ficavam sozinhas na casa de dois andares, já que o irmão mais velho se entregara ao mundo dos comerciantes e prosperava nos negócios. A Filha de 11anos ficava sozinha em seu quarto, pintando seus inúmeros quadros ou lendo alguns livros sobre botânica e, às vezes, tinha aula de filosofia ou astronomia. Naquela época, não era comum que mulheres estudassem um pouco mais do que o básico, mas o pai de Inês insistia para que seus filhos cultivassem conhecimento, dizia que essa era a única coisa que as pessoas não poderiam tirar de você. Além disso, o estudo não era algo de fácil acesso, só membros da mais

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rica burguesia e a nobreza poderiam tê-lo ou custeá-lo, conhecimento é poder e poder não era para muitas pessoas. Certa noite, Inês e sua mãe foram jantar junto com algumas amigas de Lúcia, lá tomaram sopa e conversaram, porém Inês se manteve calada, nada daquilo de que as mulheres conversavam a interessava, seu conhecimento apesar de pouco abrira seus olhos para o mundo, as outras apenas conversavam sobre tarefas domésticas, casamentos e outras mulheres. Até que a conversa veio a calhar sobre seu pai: — Então, Lúcia, há previsão para o retorno de seu marido? - perguntou uma das mulheres. — Não ainda. – respondeu Lúcia com um olhar sério e fixo na parede, estava pensando sobre o isso. — O Novo Mundo e seus selvagens, ouvi falar que eles acreditam em vários deuses e realizam sacrifícios humanos, não sei como se arriscam lá. – alertou uma das mulheres. — Na verdade não são todos, só alguns e bem raramente e aqueles não são conhecidos quando descobertos não atacam. - disse Inês em sua inocência, não querendo defender, apenas deixar claro de que o que ela havia dito não era verdade. — E quem lhe disse isso? - perguntou a mesma mulher com um ar de arrogância. — Meu pai e as aulas de filosofia - respondeu a menina timidamente, porém bem educada. — Aulas! Achei que Lúcia já havia lhe tirado dessas aulas? - indagou Fernanda, já que tinha um grau de intimidade maior com Lúcia, ela era madrinha de Inês. Lúcia, ao ouvir essa frase, fez um sinal para Fernanda, que logo entendeu, enquanto Inês não entendia; adorava as aulas, era uma boa aluna e nunca havia reclamado de uma única aula se quer, por que haveria de parar as aulas? Na manhã do dia seguinte, em casa, Lúcia esclareceu o porquê dessa medida, ela explicou que as dívidas aumentavam cada vez mais e que o filho, apesar de rico, estava muito longe e não tinha notícias sobre ele. A previsão de retorno para seu marido estava muito atrasada, portanto havia uma possível chance de que seu marido nunca mais retornasse, estando então encurraladas em uma situação financeira ruim, assim sendo, a única saída era o corte de gastos.

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As lágrimas escorriam pelo rosto de Inês, que logo subiu as escadas com as pernas trêmulas, sem força pelo choque, talvez nunca mais veria seu pai, a única pessoa que a entendia, repetia seus provérbios inconscientemente em sua cabeça. E agora estava sozinha, pensava ela, não teria mais aulas e assim como todas as mulheres da época, não teria direito a trabalho e estudo, com o argumento de que era mulher e, assim, se conformaria como muitas delas a aceitar a sociedade.

Ana Paula Guzzela Maluf Dias

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A poluição da cidade Isabel já havia acordado fazia tempo, mas ainda estava deitada em sua cama, mergulhado em seus pensamentos, pensando em seus problemas e como faria para resolvê-los. Ela morava com sua família no centro da cidade, sua mãe era cozinheira de um humilde restaurante que ficava perto da casa deles e seu pai trabalhava em uma fábrica de tecidos, mas estava desempregado pois a fábrica havia demitido metade dos trabalhadores para cortar as despesas. Isabel sabia que seu pai estava triste, pois havia perdido o emprego. Queria ajudá-lo de alguma forma a conseguir um novo emprego, mas seria muito difícil, pois o pai não havia estudado e era muito complicado arranjar emprego naqueles dias. Então, ela decidiu levantar de sua cama porque já estava começando a ficar com fome, foi direto para a cozinha comer alguma coisa de café da manhã. Quando acabou de comer o café, achou estranho, pois a casa estava muito quieta, então chamou: — Mãe? Você está em casa? Ninguém respondeu, então ela chegou à conclusão de que sua mãe já teria saído para o trabalho, mas o pai estava desempregado, não tinha trabalho nenhum para ir, então onde estava ele? Então berrou pela casa: — Pai? Pai, você está em casa? Cadê você? E nada. Ela queria procurar pelo pai, mas olhou no relógio e viu que já estava na hora de ir para a escola, então pegou sua mala e foi a pé a escola, que ficava perto de sua casa, como a maioria das coisas, já que ela morava no centro da cidade. Ela saiu de casa e já deu de cara com a multidão nas ruas, se via gente de todos os tipos lá, também percebeu que era complicado respirar, por causa das grandes fábricas, da quantidade de carros e de poluição que se jogava no ar, então Isabel colocou a mão no nariz e passou a respirar pela boca para não sentir aquela sensação desagradável e aumentou o passo para chegar logo na escola. Chegando à escola, a primeira aula de Isabel era de Geografia, ela adorava as aulas de Geografia, mas naquele dia estava sendo diferente, Ela não prestou muita atenção na aula, não saia de sua cabeça em que lugar seu pai poderia estar. Se ele estivesse procurando por emprego, será que ele iria conseguir encontrar emprego? Era muito importante para a família dela a contribuição do trabalho do pai para sustentar a família, e Isabel sabia disso. 15


Quando todas as aulas acabaram, Isabel foi para casa rápido porque queria saber se o pai já estava em casa e para não sentir muito o ar da grande poluição. Chegou em casa e viu o seu pai e sua mãe conversando na sala: — O que vocês estão fazendo? E onde você estava hoje de manhã, pai? — Filha, senta aqui, precisamos conversar – seu pai disse fazendo um sinal para ela se aproximar. Isabel sabia que não era coisa boa. — Eu e a sua mãe já estamos conversando faz algum tempo sobre a possibilidade de eu trabalhar em outra cidade, porque aqui onde a gente mora não há muitas opções de emprego, então eu poderia tentar trabalhar em outra cidade vizinha. — Sim, e ele viria todo fim de semana para cá, para ficar com a gente! – a mãe falou — O quê? Mas ele não vai mais morar aqui? — Eu alugaria um apartamento bem pequeno para passar os dias da semana e no fim de semana voltaria para casa, o único jeito de eu continuar trabalhando é esse, Isabel. — Único jeito? Tem outro jeito sim, é só você procurar melhor algum emprego aqui! — Isabel, você sabe que as oportunidades de emprego estão ficando pequenas, em outras cidades vizinhas, as oportunidades são maiores e o salário bem melhor! Isabel sabia disso, mas ela não aguentaria a saudade que ficaria do pai, mas mesmo assim concordou, pois com o salário melhor do pai, ela sabia que seu futuro seria melhor.

Centro de Sorocaba

E o tempo passou, Isabel só via o pai nos fins de semana, e durante a semana ficava com muita saudade

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dele, mas um dia sua mãe veio e lhe falou: — Filha! Com o dinheiro que seu pai está ganhando, ele conseguiu economizar para comprar uma casa lá na cidade onde ele trabalha, o que você acha? Isabel nunca esteve mais feliz, ela teria que se separar da escola que tanto gostava e dos amigos, mas moraria com o pai para uma vida melhor.

Mariana Silva Caetano de Mello

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A transformação de um jardineiro

Pedro Luiz, um jardineiro de 43 anos, que trabalhava em uma casa de sítio com muitas árvores. Ele era pálido, magro, olhos azuis e usava roupas simples. A família que morava na casa em que Pedro trabalhava vivia vendendo produtos de plantação (milho, mandioca, trigo, alface e hortelã) e por isso eles precisavam de um grande terreno para plantar. Um dia, depois do trabalho Pedro estava muito cansado e por isso foi direto para sua casa, quando chegou seu filho João não estava lá, então o pai decidiu ligar para sua esposa Maria, uma mulher muito vaidosa, mas ela não atendia, Pedro começou a ficar preocupado, pois achava que seu filho tinha sido sequestrado e por isso continuou ligando para Maria até ela atender. Quando ela atendeu, ele perguntou o que tinha acontecido com João, a mãe falou que o filho tinha ido para uma festa com os amigos, com isso Pedro ficou bem mais tranquilo.

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No outro dia, quando Pedro chegou ao trabalho, a família o comunicou que ele precisava cortar algumas árvores para que o terreno aumentasse e eles pudessem plantar mais. Pedro então começou a cortar as árvores. Muitas pessoas ficaram olhando o jardineiro cortando as árvores e pareciam não gostar do que estavam vendo, pois o que o homem estava fazendo era desmatamento. Uma dessas pessoas conversou com Pedro e ensinou-lhe sobre o que é desmatar. Essa pessoa se chama Raquel, ela decidiu levar Pedro para o jardim botânico de Sorocaba, pois nesse lugar as pessoas aprendem porque não podem desmatar. Quando Raquel levou o pobre jardineiro para conhecer o jardim botânico, eles fizeram um tour com um guia e esse guia explicou para Pedro e para Raquel que nós não podemos desmatar, pois as árvores são recursos importantes para nós e para o meio ambiente. O homem de olhos azuis ensinou tudo que ele aprendeu no jardim botãnico de Sorocaba para os donos da casa de sítio e para todos os seus amigos, essas pessoas nunca mais cortaram nenhuma árvore. O jardineiro agradeceu muito à Raquel, pois ela fez com que ele mudasse a sua forma de pensar (antes ele pensava que não havia problema se ele cortasse as árvores, mas agora ele pensa que não podemos cortar NENHUMA árvore, pois elas são muito importantes) além disso, agora, ele planta muitas árvores, acompanha o seu ciclo e ensina para todas as pessoas que não podemos cortar as árvores. Muito guias do jardim botânico de Sorocaba ficaram sabendo que a visita de Pedro mudou a vida dele e que ele ensina para muitas pessoas coisas sobre árvores, com isso os guias falaram para o dono do jardim botânico e o dono pediu para que os guias contratassem Pedro para trabalhar como guia no jardim. Os guias então descobriram o número do celular de Pedro, ligaram para ele e o chamaram para ser guia do jardim, o jardineiro aceitou e no outro dia já começou a trabalhar no jardim botânico de Sorocaba. Pedro estava muito feliz trabalhando no jardim, pois ele estava ganhando mais, mas a família que morava na casa de sítio ficou sem nenhum jardineiro, por isso a família teve que começar a morar em um prédio, pois quando você mora em um prédio, você não precisa contratar um jardineiro. O homem que usava roupas simples, não usa mais, pois ele não é mais pobre, ele agora tem boas condições de vida e usa roupas mais chiques. Com o tempo muitas pessoas que visitavam o jardim foram elogiando Pedro, elas falavam que ele era o melhor guia e com isso o ex-jardineiro foi sendo promovido e acabou virando o gerente do jardim botânico, ganhando mais.

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Pedro foi ficando com condições melhores, construiu uma casa em um condomínio, começou a viajar, colocou o seu filho em uma escola melhor, deu presentes para a sua mulher e mais uma vez ele agradeceu à Raquel. O gerente do jardim botânico agora é bem mais feliz, continua sendo humilde e ainda fala para muitas pessoas que nós não podemos desmatar.

Carolina Patelli Ramos Dos Santos

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Baltazar Fernandes e a cidade de Sorocaba

Baltazar Fernandes fundou Sorocaba em 1654. Ele já estava bem velho, aos 75 anos, quando se mudou para esta terra com sua família e escravos. A primeira coisa que fez em Sorocaba foi erguer uma Igreja, a capela de Nossa Senhora da Ponte (local onde hoje é a Catedral, na praça Coronel Fernando Prestes). Ao redor dessa igreja, surgiram as primeiras ruas e as primeiras casas. Já naquela época, quando veio para Sorocaba, Baltazar estava envolvido em uma guerra na Europa, local de onde veio. Essa guerra era entre espanhóis e portugueses que lutavam por terras da América. O que ele não sabia é que junto com ele vieram outros homens da Europa, em navios diferentes para segui-lo. Chegando às terras, esses homens se "disfarçaram" dizendo que eram nativos do local. Baltazar, mesmo estando bem velho, parecia gente jovem explorando as terras dia a dia. Após a fundação da sua igreja, a cidade foi se tornado grande e a população aumentava a cada dia. Com o passar do tempo, Baltazar começou a receber ameaças de alguns europeus. As ameaças se tornaram frequentes, então Baltazar reforçou seu exército e foi em busca dos homens. Mas o que ele não sabia, é que os europeus já haviam ganhado sua confiança e tinham se juntado ao exército. Um dia, ele estava indo ao trabalho com seus "seguranças europeus", que na verdade eram falsos seguranças, pois eles eram soldados europeus que estavam à sua procura e levaram-no para um depósito no meio do mato e longe de tudo. Lá ficou dias sem saber onde estava e recebendo ameaças de morte. Mas, um dia, bem no meio de uma ameaça, ele avistou uma cobra. Arma na cabeça! Cobra no pescoço... Teve morte, mas do "segurança" e com a "aliança" de Baltazar com a cobra... Mesmo assim havia sobrado outro europeu e este havia fugido de medo de ser pego pela tal cobra. Naquela ocasião, o que a população mais fazia, era tentar achar o fundador de Sorocaba. Ele estava sendo procurado por todos da cidade, porém ainda ficou preso por mais alguns dias naquele depósito, se "alimentando" de poeira! Coitado! O velho, mesmo sendo idoso, era "forte", conseguiu sair do cativeiro e alcançar a mata cujo, surpreendentemente, havia um cavalo. 21


Rapidamente subiu no animal e por não saber onde estava, simplesmente sem rumo, foi apenas se levando pela luz do Sol para ver onde iria parar. Ele conseguiu! Baltazar chegou na cidade de Sorocaba exausto! Recebeu um ótimo tratamento dos moradores e ficou muito bem... Porém, os europeus ainda estavam lá e não o deixaram em paz. Continuaram os ataques, nos bairros, nas igrejas, casas e muito mais. Foi aí, que Baltazar Fernandes chamou o exército português para desfazer dos inimigos e vieram, mas um pouco tarde, pois até então Baltazar não estava mais lá... Partiu para uma melhor... A cidade seguiu crescendo cada vez mais e muitos monumentos importantes foram criados. Os espanhóis, que ali estavam, acabaram sendo expulsos e os filhos de Baltazar assumiram as forças e o poder do pai.

Gabriel Fernandes Martinez

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Bem do alto

Vejo tudo bem do alto, mas na verdade não queria ser isso, pois só o que eu vejo é morte, sangue, destruição. Às vezes, vejo crianças sorridentes, mas isso já acaba por causa do impiedoso homem, que só pensa em vitória. Mas quem sou eu? Eu sou um pássaro que gosto de voar alto para ver o que acontece por aí. O que eu mais observo é um menino que é meio solitário, ele não tem muitos amigos como eu, talvez porque somos diferentes, gostamos de fazer coisas que outras crianças (no meu caso, pássaros) não gostam de fazer. Mas eu gosto de ser diferente, sabiam que há uma frase que fala assim: ser diferente é normal. Esse menino gosta de fazer histórias sobre coisas diferentes, ele gosta de criar contos de fadas com histórias da realidade para parecer um pouco menos horrível, mas ele não cria só esse tipo de histórias, ele cria o que a imaginação dele quiser. Mas você deve estar se perguntando como eu sei disso, eu vejo tudo bem do alto. O nome desse garoto é muito difícil e como sou um passáro não sei falar todas as palavras que o homem inventa, então nessa história o chamarei de menino. Um certo dia, o menino acordou, tomou sua xícara de café e foi para a escola. Eu fiquei vendo todas as crianças acompanhadas de suas mães e ele caminhando sozinho e pensando como era ter uma mãe. O menino havia perdido sua mãe logo que nasceu e seu pai nunca parava em casa, pois tinha que sustentar sua casa e sua família e, logo depois do trabalho, ele ia para o bar beber (eu sendo um pássaro acredito que o pai deixava o menino sozinho, para esquecer dos problemas e também para esquecer que sua mulher morreu, embora isso não seja o certo, ele deixava o seu filho, mas ele o amava, só não conseguia demostrar isso). Ao chegar na escola o menino sentou em sua cadeira e pegou seu caderno de história e escreveu o que tinha visto nesta manhã. Ao final da escola, o menino não foi para a casa dele, foi ao parque para ter inspiração na suas histórias, ele escrevia baseando-se na realidade. Ele escreveu várias histórias sobre várias pessoas, vários acontecimentos, algumas de suas histórias eram de pessoas tristes tentando arranjar um lar, pois por causa da guerra suas casas foram destruídas. Mas outras histórias eram de crianças brincando no parque. Ao acabar de escrever suas histórias, foi para casa fazer suas tarefas. Ele estava sozinho em casa. Quando o pai chegou em casa, ele colocou o filho na cama sem tomar banho e comer. E antes de ir para cama, o pai olhou pela janela e viu uma fumaça escura bem

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longe, logo depois das montanhas, aquilo era a guerra. Ele agradeceu a Deus por não ser perto deles aquela coisa horrível. Ao acordar, como toda a sexta-feira de uma semana normal, o menino foi à escola, sozinho, mas olhando as pessoas e vendo o mundo. O menino, enquanto estava indo para a escola, viu uma fumaça, a mesma que seu pai viu na noite passada, ele ficou olhando para a fumaça, mas sem saber o que era, nem imaginava o que era, mas para ter lembranças daquela fumaça, ele a desenhou para pesquisar sobre ela. O menino fez tudo que faz em uma sexta-feira, após terminar a escola ele foi ao parque para escrever mais histórias e ao terminar voltou para casa para fazer suas tarefas, mas se surpreendeu, pois seu pai já estava de volta. Ele, desta vez, não foi ao bar, mas sim foi ficar com sua família. Ele deu um abraço em seu pai, pois ele também o amava. Eles conversaram, o menino mostrou suas histórias ao pai, ele adorou, o filho tinha muita criatividade, os dois conversaram e se divertiram à noite inteira. Em uma hora, enquanto o pai olhava o caderno de histórias do filho, chegou na página do desenho da fumaça e o pai perguntou: — O que é isso filho? – perguntou surpreso o pai. — Foi o que eu vi quando estava indo para a escola essa manhã. Não sei o que é por isso eu desenhei. O que é isso? — Nada. — Nada significa muita coisa, embora eu não tenha passado muito tempo com você, eu o conheço e sei que está mentindo e sei que sabe o que é aquela fumaça. — Filho. Isso é a guerra, com canhões. - respondeu o pai aflito. — Mas estamos seguros aqui? - perguntou o filho assustado. A conversa continuou, mas surgiram assuntos mais felizes. E o menino adormeceu, o pai o levou para a cama, mas desta vez já havia tomada banho e comido. Eles se divertiram e ficaram felizes e seguros. Mas a guerra chegou até eles. As escolas foram fechadas, as pessoas estavam assustadas e desesperadas, todos se refugiaram em um grande porão e ficaram lá vários dias. O mais curioso é que enquanto as outras crianças se divertiram, naquele lugar escuro e medonho, o menino escrevia uma história em que ele se mostrasse para as outras pessoas, as que tivessem coração se emocionariam. Vou resumir essa história para você, que deve estar curioso para saber. Ela desmostrava os sentimentos do menino de viver nessa situação de perigo. Era a história de um garoto, que se tivesse um superpoder, esse seria o de acabar com a guerra, de por a bondade e a compaixão no coração dos homens para que todos pudessem viver felizes e sem medo, de que a qualquer momento, uma bomba pudesse atingir aqueles que mais amamos. Quando eu li, eu senti que as crianças (iguais ao menino), podiam mostrar a esperança de um dia a guerra acabar. 24


No final dessa história estava escrito:``sei que um dia todos teremos a liberdade para sairmos livres em um parque e brincarmos sem medo de bombas, que nós mesmos fizermos, sempre há esperança, alguns podem mudar o mundo``. Foi uma das histórias mais lindas que eu já li. Duas semanas depois, todos sairam cansados, sujos e famintos daquele porão gigante. E foram tentar arrumar outra casa, pois a antiga já havia sido destruída. Na verdade, a cidade inteira já havia sido destruida. Seis meses depois, quase toda a cidade já tinha sido reconstruída, mas a guerra não tinha acabado ainda e a qualquer momento a guerra chegaria novamente ali e teriam que reconstruir tudo de novo. Vários tentaram fugir para outros países que não têm guerra, mas como eles estavam perdendo a guerra tiverem que convocar homens, e não tinham muitos, então convocaram alguns (os mais fortes) da cidade onde o menino morava, e um desses homens era o pai do menino que teve que ir se não tirariam tudo deles. O menino tinha ficado com a tia que tinha sete filhos (quatro meninas e três meninos) mal educados e que não gostavam do primo, e sempre queriam meter o menino em encrenca. Ele ficou lá três anos sem falar com seu pai, o menino enviou várias cartas para o pai, mas nunca foram respondidas e nunca voltaram. A tia nem ligava para o garoto nem para os filhos, ela quase nem ligava, a tia ficava fora a tarde toda em um salão de beleza, (eu não entendo porque ela ia tanto naquele salão, pois nunca melhoravam a beleza dela, dava até nojo de tanta feiura em uma pessoa só, não sei como o menino conseguia olhar e abraçá-la, coitado!). Ao passar esses três anos sem o pai, ele foi mandado de volta pelo exército, pois aqueles que não serviam mais, porque estavam feridos impossibilitados de lutar. O pai chegou em casa muito ferido, na beira da morte, ele havia perdido uma perna e estava com hemorragia cerebral. Os médicos deram a ele algumas horas de vida. Ele aproveitou essas horas para ir se despedir do querido filho. Quando o menino soube que seu pai estava ferido em casa foi direto para lá, mas o pobre menino não sabia que estava prestes a perder o pai, quando ele chegou em casa chorou um tempo e o pai disse: - Desculpe filho! Não fui forte o bastante, e não foi só isso também não fui um bom pai não estive ao seu lado grande parte de sua vida, mas eu só queria te proteger, não sabia ser um pai carinhoso igual a sua mãe, eu sinto muito, espero que você possa me perdoar. 25


- Não fale isso papai, embora você tenha cometido erros eu sempre te amei porque entendia as suas dificuldades e eu sabia que você também me amava. Não lamente, você morerá como um herói que ajudou a ganhar a guerra, eu sempre terei orgulho de ser seu filho. Eu sempre te amarei e você será e é a melhor pessoa que conheci na vida. Obrigado por estar na minha vida. Os dois choraram, o menino por saber que não teria o pai e o pai por ter que deixar o filho e não ter aproveitado o que tinha de mais precioso: sua família. O menino ficou lá horas perto do pai em seu enterro, mas agora sua nova família era a tia, mas o menino sabia que um dia ele poderia sair daquela vida e começar sua carreria de escritor em um novo lugar com novas pessoas E foi isso que aconteceu, o menino cresceu e se mudou para outro país menos violento e foi o escritor mais famoso de lá, também se apaixonou por outra escritora que pensava como ele, eles tiveram três filhos gêmeos e foram felizes. Essas últimas palavras foram com minhas últimas horas de vida, mas adorei, pois passar a minha vida olhando esse garoto me fez aprender uma coisa: que nunca é tarde para mudar. E agora eu sei que se não fosse pássaro não saberia, então agradeço por ter sido quem eu sou.

Maria Eduarda Duarte Rodrigues

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Bomba

Gragas era um homem, que morava numa vila chamada Vila das Sentinas. Em um dia, sua vila estava no meio de uma Guerra, era uma vila grande com mais ou menos 1 milhão de habitantes. Em volta da vila, havia uma fortaleza e na frente dessa fortaleza havia um lago para dificultar a entrada de inimigos. Nesse dia, sua vila foi atacada por outra vila que estava à 1000 Km de distância, os inimigos destruíram totalmente os muros com canhões e várias bombas, depois de destruírem os muros foram entrando na vila aos poucos e a população já estava em pânico. Depois de entrarem, eles não mataram ninguém, apenas entraram no quartel e pegaram as armas, depois disso foram embora.Com os muros todos destruídos e sem proteções ficaram desesperados. Se passaram duas semanas, e a vila de Gragas ainda não tinha sido reconstruída. Às duas horas da tarde, passavam aviões no céu que jogavam bombas na vila, depois disso foram entrando soldados na vila e matando as pessoas. A maioria das pessoas morreu, as pessoas que ficaram vivas a maioria virou prisioneiros, mas só algumas pessoas conseguiram fugir, uma delas foi Gragas, seus filhos e sua esposa morreram. Gragas, sem saber o que fazer, procurou ficar vivo. Então, passava em algumas cidades, conseguia comida e ia embora. Um dia chegou a uma cidade chamada Sorocaba e resolveu ficar, lá juntou um dinheiro e então comprou um apartamento bem ruim. Começou a ter uma vida normal, trabalhava numa empresa que vendia aço ganhava salário mínimo, mas servia para se sustentar. Teve muitos outros empregos, como flanelinha, motorista, garçom e trabalhou em outras empresas que forneciam madeira, plástico, papel, borracha, entre outras empresas. Um dia estava em casa e pensou que não conhecia a cidade, então resolveu ir ver a cidade inteira, saiu de casa e foi ver o que encontrava. Passou por várias lojas, estátuas, praças, prédios, ficou muito encantado com as coisas que tinha visto e naquele dia entrou numa loja e foi conversar com um dos atendentes: — Qual é seu nome? – perguntou Gragas. — Jarvan é meu nome senhor, Jarvan IV. — Sério? – perguntou assustado Gragas. — Sim, Por quê? — Nada. 27


— Agora fala, estou curioso. — Você não é daqui né? De onde você vem? — Sinto muito senhor, mas não gosto de falar sobre meu passado. — Eu vim de uma antiga vila chamada Vila das Sentinas.- disse Gragas. Ficou com cara de espanto Jarvan. — Sim eu sabia que te conhecia - Gragas afirmou. — Fique quieto! - exclamou Jarvan. — Por quê? — Você não sabe né? — Sabe o quê? — Me encontre na minha casa, prédio Alegria número 800, amanhã, às 3 horas da tarde. No dia seguinte, Gragas acordou, tomou café da manhã, tomou banho, pegou sua bicicleta e foi à casa de Jarvan. Chegando no prédio, Gragas não sabia o apartamento então perguntou para o porteiro, entrou no apartamento de Jarvan, sentou-se no sofá e começaram a conversar: — Então, o que eu não sabia que você disse? – perguntou Gragas. — Esta cidade não é a cidade que você pensa que é! – disse Jarvan. — Então que cidade é essa? – questionou assustado Gragas. — Essa cidade é a vila que nos atacou antigamente! Gragas, espantado, fez uma última pergunta: — Mas como você sabe disso? — Já está tarde, vá para sua casa e amanhã, volte aqui. Gragas foi para casa, quando acordou fez a mesma coisa que fazia toda manhã. Quando chegou à casa de Jarvan, logo saíram os dois e foram para uma praça. Na praça havia um canhão, disse Jarvan que aquele canhão tinha sido usado para destruir os muros da vila de Jarvan e Gragas. Daí eles perceberam que a mesma vila que destruíu a sua, também os acolheu num momento de reconstrução de suas vidas.

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Gustavo Sesoko Lemos

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Casamento inaceitável

Catedral Metropolitana de Sorocaba

Lá estava Melanie admirando a torre da igreja, sentada na fonte que havia em frente. Sempre se imaginava casando com um príncipe encantado e sendo feliz pelo resto de sua vida, mas infelizmente não era tão fácil assim, pois recentemente tinha se apaixonado por um rapaz muito dócil e gentil chamado Junior, que sentia a mesma coisa por ela, mas havia um problema: Francisco, seu pai, era contra o namoro, pois achava que sua filha era muito nova. Mas o maior problema era que ele era racista e o namorado dela era negro, mas o que ele não sabia era que o amor dos dois era muito forte para se desfazer e que teria uma longa luta pela frente. Passaram-se dois anos e Melanie ainda tinha 17 anos, mas como seu amor era muito grande, tomou a decisão de sair de sua casa e ir morar com Júnior. Seu pai, como sempre, discordou e disse que se ela fosse não precisava mais voltar, mas mesmo assim Mel sentiu que precisava fazer isso, então ao anoitecer ela esperou o pai dormir, pegou suas roupas e fugiu. O tempo passou e o amor do casal aumentava a cada dia, já estavam mais velhos e tomavam suas próprias decisões. Melanie não falava mais com seu pai desde aquela época, mesmo ele a procurando, mas sentia um pouco a falta dele porque, aliás, ele ainda era seu pai!

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Em um belo dia, Junior resolveu pedir sua amada em casamento, pois eles já estavam juntos há sete anos, então a levou em frente à igreja, que ela tanto amava e ao chegar viu que tinha esquecido o anel, então voltou correndo para buscar, enquanto isso Melanie apreciava a bela paisagem que a igreja tinha. Junior voltou, dessa vez com o anel e ela aceitou, começou a arrumar os preparativos para a grande e esperada data. Achou que convidar seu pai era uma maneira de reconciliação, mas pelo contrário, Francisco ficou muito mais furioso e inventou um plano para acabar com o casamento. Chegou o grande dia e todos estavam ansiosos. Melanie estava se arrumando, mas ao mesmo tempo pensava se seu pai iria comparecer. A cerimônia começou e as pessoas se levantaram para admirar a entrada da noiva, que estava belíssima. O padre começou a oração e quando estava prestes a declarar a união dos dois, Francisco entrou na igreja apontando uma arma a Júnior. Todos os convidados ficaram desesperados e nervoso ele atirou, mas para poupar a morte de seu amado, Mel entrou na frente da bala e caiu no chão. — Negro desgraçado fez com que minha filha morresse em vez de você! – vociferou o pai chorando com a arma na mão. — Quem se deixou levar pelo racismo a ponto de arruinar o casamento da própria filha, matando seu noivo foi você! - polemizou Junior com Melanie em seus braços. As pessoas tentaram chamar a ambulância, mas como o hospital da cidade não tinha boa estrutura e nem condições adequadas, Junior e Francisco tiveram que levá-la de carro até lá, mesmo se odiando tinham que salvá-la. Quando chegaram, o pronto socorro estava lotado, cheio de macas nos corredores e com falta de médicos, tentaram levá-la para a emergência, que por sinal também estava lotada, mas infelizmente Melanie não resistiu e acabou morrendo. Em seu enterro, a tristeza era visível no olhar de todos os presentes, aliás ela era uma das meninas mais dóceis e adoráveis que já tinha existido. No final de tudo, seu noivo e seu pai acabaram virando amigos e Francisco também acabou criando uma associação contra o racismo, porque no fundo somos todos iguais. Passaram-se alguns anos e Francisco quis virar o prefeito da cidade para fazer melhorias nas escolas, no hospital, construir muitos outros e contratar mais médicos para que não aconteça com mais ninguém o que aconteceu com sua amada filha. Laís Tamy Konno

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Fumaça dançante

Estava caminhando por aquelas ruas desertas, não havia ninguém ali. Eu sentia que deveria continuar andando, seguindo meu instinto. Eu sentia que tinha um objetivo definido, mas minha mente não via nenhum. Um vento forte começou a soprar pela cidade, fazendo minhas roupas, árvores e papéis voarem. Um jornal, por causa do vento, acabou batendo em minha face. Eu o tirei do meu rosto e li o título de uma manchete. “ESTADOS UNIDOS DECLARA GUERRA CONTRA A RÚSSIA” Forcei a vista para checar se realmente o que eu acabara de ler era verdade. Olhei para os papéis para ver se era jornal de brincadeiras ou notícia falsa, mas, infelizmente, não era. “Há 4 meses, terroristas atacaram a Estátua da Liberdade em Nova York, um grande símbolo para o país que foi brutalmente destruído com bombas. Após tudo isso, os responsáveis pelo ataque mandaram um recado dizendo que, se os Estados Unidos não entregassem grande parte de seu território mais lucrativo no país, a próxima bomba seria para acertar a população. Na época, e até hoje, a ação terrorista causou muito caos, medo e confusão por todo o país, então os Estados Unidos foi investigar mais a fundo o feito secretamente. Depois de 4 meses, anteontem foi confirmado pelo fim da investigação americana que a Rússia participou diretamente do ataque contratando os homens que explodiram o monumento para obterem as terras dos E.U.A. No mesmo dia, os representantes das respectivas nações se defenderam e se atacaram com palavras (em público) que, no fim, ambas ameaçaram de explodir-se por inteiro com bombas nucleares. Ontem, os E.U.A e a Rússia tiveram muitos países aliados em suas decisões. E, no mesmo dia, os Estados Unidos e seus países declaram guerra contra a nação soviética. Agora, só resta os americanos e os russos explodirem todo o mundo.” — Só pode ser brincadeira... – resmunguei espantado A voz que saiu de minha boca era mais grave que o habitual, o que me fez estranhar um pouco, mas, ao mesmo tempo, me fez sentir uma sensação familiar. Percebi então que eu estava próximo de um prédio feito de vidros espelhados e, quando olhei para um dos espelhos, vi uma pessoa me fitando. — Q-que... – tartamudeei Era um homem alto, de ombros largos, forte, olhos castanhos, era careca, mas tinha uma barba média e bem feita em seu rosto. A parte esquerda de seu corpo estava com uma cicatriz de queimadura da cabeça ao pescoço (o resto as vestimentas tapavam), mas parecia percorrer o corpo todo. Parecia ser uma pessoa normal e jovem, na casa dos 30 anos, mas seus olhos eram velhos. 32


Ele vira muita, muita tristeza e morte, coisa que só os mais velhos podem entender. Levantei a minha mão e o homem repetiu o gesto inacreditavelmente igual, como se fosse um reflexo... Um brilho de compreensão me atingiu, aquele era eu! Dei de ombros e, indiferentemente do que tinha acabado de acontecer, eu continuei a minha caminhada. Passou-se uma hora, pelas minhas contas, e então cheguei ao que estava procurando, pelo menos era o que meus instintos diziam. — Posso subir no cavalo, mãe? – perguntou umas das crianças — Eu já falei que não pode. – respondeu a mãe com firmeza — Ah, mãe! – teimou o garotinho A criancinha fez então uma birra porque queria subir no cavalo de metal. Eu havia chegado em uma praça e, logo após essa praça, havia um prédio com aparência antiga e havia uma estátua de metal de um homem montado em um cavalo. Havia uma família de 4 pessoas, a mãe, o pai e 2 filhos e todos estavam brincando pela praça e em volta do monumento. A outra criança que não estava chorando se virou e, de repente, eu a reconheci. Era bem gordinha, forte, com cabelos loiros e grandes, olhos castanhos, devia ter uns 7 anos e tinha uma expressão de divertimento e travessura em sua face... Aquele era eu. Não sabia como, mas eu sabia e tinha certeza que aquele garotinho era eu. Então, eu corri até ela e a abracei, era bem fofinha, mas pesada também. — Parece que você gosta de crianças. – ajuntou a mãe Soltei o garoto e ele foi brincar com o irmão. — Achei que todos estavam com medo de sair. – proferiu o pai - Só nós que decidimos sair e eu acho que tem que aproveitar o tempo que temos ao máximo, já que... – o homem hesitou e terminou de falar com um tom mais baixo para as crianças não ouvirem - É inevitável o que vai acontecer. — Como assim? – indaguei — Em uma guerra nuclear, ficar ou não dentro de sua casa não vai fazer a menor diferença. Assenti, o pai tinha razão. — Eu não entendo o porquê de eu estar aqui... — Como assim? – perguntaram os 2 adultos em uníssono. — Mãe, pai... Sou eu, o Leo... Eles fizeram uma expressão confusa e chegaram a mesma conclusão. 33


— Crianças, venham dar um abraço. — Abraço em família! – elas gritaram e vieram em nossa direção

Eu abracei a mim mesmo, meu irmão e meus pais. Sabia que tudo estava prestes a acabar. Aquela sensação de que “eu devia fazer alguma coisa” sumiu e percebi que tinha completado o meu objetivo. O míssil nuclear atingiu um local perto de nós e, em pouco tempo, estávamos todos abarcados. A explosão começou a queimar pelo meu lado esquerdo e fui jogado para cima.

Lucas Gallerani Trevizan

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Guerra do aprendizado

Na cidade de Sorocaba há muito tempo atrás quando uma guerra chegou na cidade muitas escolas e bibliotecas foram destruídas e como a cidade era pequena o governante da cidade não pode reconstruí-las. Mesmo naquela época as crianças não gostavam de estudar então elas não acharam muito ruim a ideia do governo não reconstruir as escolas e as bibliotecas, mas tinha uma criança diferente, uma criança que gostava de estudar e sabia as consequências de uma sociedade sem estudo. Ela começou a avisar as pessoas sobre as consequências, mas pouquíssimos acreditavam nela e ela era muito maltratada pelas outras crianças por querer a escola de volta, mas ela não desistiu e continuou avisando as pessoas e de pouco em pouco as pessoas começaram a entender o ponto de vista dela e começaram a exigir do governo a reconstrução das escolas, mas o governo não pôde pois não tinha dinheiro. Durante a guerra, o governo construiu uma escola, mas a escola era particular e como o povo estava em guerra poucos tinham condição de pagar uma escola particular. O povo ficou revoltado com a ideia da escola ser particular. A economia estava fraca e não tinha como a escola se sustentar se ela não fosse particular, então o povo juntou dinheiro por três meses e construíram uma biblioteca com estrutura de madeira e lona, só para as crianças menos beneficiadas poderem ter uma base razoável. Muitas crianças adoraram e, mesmo aquelas crianças que não gostaram, foram porque sabiam que era importante e mesmo sem a ajuda do governo era o melhor local da cidade para aprender e tirar dúvidas. Com o tempo passando a guerra acabou e o governo conseguiu fundos suficientes para reformar a biblioteca de madeira e lona. Refizeram-na com a maior tecnologia 35


possível daquela época e compraram os melhores livros para as crianças poderem ter uma ótima educação pública e colocaram o nome dela de: Biblioteca das Crianças. E a pequena criança ganhou um grande prestígio por incentivar a construção e a melhoria do ensino público. É por isso que, naquela época, Sorocaba era uma das melhores cidades, tudo por causa do ensino público. Com o passar do tempo Sorocaba foi melhorando a economia e com isso apareceram escolas particulares e a biblioteca pública começou a perder frequentadores e o governo parou de investir em escolas públicas e a Biblioteca das Crianças começou a ficar ultrapassada e velha então poucas pessoas passaram a ir lá. Ela só não foi esquecida por sua grande utilização no passado. Nos dias de hoje nós a vemos como um ponto turístico. A renda da sociedade começou a cair e como o governo não continuou a investir no ensino público a renda de Sorocaba caiu mais ainda tendo uma desigualdade social relativamente alta, causando uma revolta nos moradores e mesmo com os cidadãos protestando o governo continua sem fazer nada.

Victor Semmer Dilelio

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Mais um dia nublado Lábios brancos, rosto pálido, respirando em flocos de neve, apenas com suas roupas e luvas velhas, rasgadas e sujas, botas de galocha amarelas que pareciam ser feitas de plástico barato, usando jornais por baixo de suas meias, que seriam uma tentativa para mantê-la aquecida. Deitada no chão, olhando as estrelas, estava praticamente sendo enterrada por inteiro pela neve gelada, naquela grama fria em um longo dia de nevasca; parecia estar passando muito mal, quase desmaiando após aquele péssimo dia... Mais um dia como vários outros, sem comida fresca na mesa, na realidade, sem comida nenhuma na calçada de uma avenida muito conhecida e habitada de Buenos Aires, na Argentina, onde Coraline morava. Passar fome já havia virado rotina na vida da pobre adolescente, nascida em agosto de dois mil e quatro. Há dez anos, foi abandonada pela mãe, após a morte de seu pai, que foi assassinado pela polícia em um assalto, mesmo ele não sendo o ladrão. Seu lar, ou melhor dizendo, o pequeno estacionamento coberto de uma padaria falida, apenas com jornais velhos no chão onde a menina dormia, praticamente não esquentava, somente o suficiente para a sua sobrevivência. Já possuía um filho, pois, aos treze anos, foi levada para uma favela na cidade em que morava por um grupo de adultos com aproximadamente dez participantes e foi uma das quinze vítimas que sofreram de abuso infantil. Sua vida era complicada, a jovem já havia pensado várias vezes em desistir, mas são nesses momentos que ela se lembra de seu pai, pois queria honrá-lo e de sua mãe, pois tinha esperança de que ela iria voltar e se desculpar por tê-la deixado ainda pequena. A Avenida Brasil era uma das ruas mais movimentadas do Rio de Janeiro, com uma grande quantia de favelas e pouca de vegetação, apenas poucas árvores e pequenos arbustos. Três dias antes dela completar seus dezesseis anos, especificamente no dia dezenove de agosto, Joana foi coletar garrafas de plástico que procurava e, geralmente, encontrava em latas de lixo. Vendendo essas garrafas, conseguiria sustentar a ela e seu filho por aproximadamente uma semana, para na próxima semana continuar com o mesmo trabalho. No caminho de volta para a sua moradia, a garota encontrou uma pequena flor de cor amarelada, que era similar a uma margarida, a arrancou do chão, levou até a padaria abandonada e a plantou ao lado dos jornais onde dormia com seu filho, pois achava que ela era esperançosa e que ela poderia levá-la ao céu e se juntar ao seu querido pai. Naquela mesma noite, enquanto dormia, sonhou com uma pomba branca que voava sobre ela e que guiava sua idosa mãe até seus sonhos para pedir perdão por abandoná-la e explicar por que ela fez aquilo. A justificativa foi que ela era uma traficante de drogas e desviava dinheiro, então ela não queria que isso afetasse a pobre filha; além disso, ela estava bebendo muito para ocupar o vazio que sentia, após a morte de seu pai, já que ela o amava do fundo do coração e sentia sua falta. Joana entendeu a situação difícil que a mãe 37


passava e esperava que essa fosse a verdadeira explicação, especialmente fora do sonho. No dia seguinte, faltando apenas dois dias para seu aniversário, com aquela pequena quantia de moedas, que havia conseguido no dia anterior, resolveu comprar algo que nunca tinha comido na vida, uma sobremesa que os ricos poderiam achar bobagem querer comprar para seus aniversários, mas muito raro na alimentação dos pobres: um pequeno bolo de cenoura com uma doce e deliciosa cobertura de chocolate que ela dividiria com o seu filho. Passados dois dias, ou seja, no dia do seu aniversário, Joana resolveu ir até a padaria e comprar outro bolo de cenoura, pois tinha amado o anterior. Quando chegou, percebeu que não tinha dinheiro suficiente, então resolveu roubar, já que era algo que não traria muitos prejuízos para a padaria: pegou, colocou em uma sacola discretamente e saiu, tentando esconder a sacola atrás das suas costas. Infelizmente seu plano não deu certo, pois ela foi pega por dois policiais que estavam na frente da padaria; não sabia o que fazer, mas a primeira coisa que pensou em fazer foi sair correndo, tentar despistar a polícia, voltar para a sua moradia e dividir o bolo com seu filho. Ao chegar à sua casa, como achava que tinha despistado a polícia, tirou o bolo da sacola e começou a comer com seu filho. Cinco minutos depois, percebeu que estava errada, pois a polícia achou-a e tentou prendê-la. Sua primeira reação foi fugir. O único jeito da polícia conseguir pegá-la foi atirando nela... A garota não resistiu muito tempo e o frio não colaborou com a situação que ela estava passando. A única coisa positiva que ela conseguia pensar foi que ela iria se unir ao seu pai no céu e eles viveriam lá para todo o sempre. Ela realizou seu sonho... A flor era mesmo esperançosa.

Sofia Tiemi Ignacio Moro 38


Medo

Medo. Guerra. Nazismo. Era tudo o que se via na Alemanha entre 1933 e 1945. Era a mesma tensão todos os dias. O medo de ser bombardeado, medo de ser levado. Fuga era a única opção aos olhos de Hans, já que ele e sua esposa eram judeus. Porém, eles tinham medo. Medo de largar tudo. Medo de serem perseguidos. Medo de colocar a família em risco. Mas qual era a vantagem de ficar? Nenhuma, apenas correriam o risco de serem capturados. Não era uma decisão fácil a se fazer, principalmente quando você está esperando um bebê. Marion estava grávida de 7 meses, e tinha medo de perder a criança por conta de seu problema em engravidar. O casal tentou ter filhos durante 7 anos, mas eles não conseguiam. Quando descobriram que Marion estava grávida, não poderiam ter ficado mais felizes. Mas sua felicidade durou pouco tempo, pois logo depois disso, Adolf Hitler tomou o poder. 39


Hans queria dar ao seu filho uma boa condição de vida, mas isso não seria possível vivendo em um ambiente com guerra e perseguição. Grande parte de seus amigos e familiares foram levados, eles precisavam tomar uma decisão e rápido. Sem sombra de dúvidas, o casal percebeu que a melhor opção era fugir. Eles decidiram que iam levar apenas o necessário: algumas roupas, comida, água e alguns acessórios do dia a dia. Marion e seu marido fugiriam na madrugada. Enquanto jantavam, ouviram carros na rua. Não podia ser um carro da vizinhança, pois eles viviam em um bairro simples. Assim que ouviram gritos, não pensaram duas vezes: fugiram. A velocidade de seus passos aumentava conforme escutavam os gritos dos homens uniformizados: “ELES ESTÃO FUGINDO” “ESTÃO INDO EM DIREÇÃO AO RIO!! NÃO OS DEIXEM ATRAVESSAR!” “PAREM! SE VOCÊS FUGIREM SERÁ PIOR!” “HITLER IRÁ ATRÁS DE VOCÊS!” Depois de um tempo correndo, Marion começou a se sentir extremamente cansada. Ela pedia para parar, mas Hans não podia abrir mão de suas vidas. Ele então pegou a esposa no colo, e continuou correndo em uma velocidade mais baixa. Quando, finalmente, chegaram ao rio, Hans colocou a mulher no chão. Provavelmente os soldados desistiram de persegui-los, pois os gritos e passos não eram mais escutados. Após um tempo andando, Hans e Marion pararam em um pedaço da margem do rio para beber água. Foi quando se deram conta de que não tinham pegado nada que haviam separado. Sem dinheiro, sem comida, sem roupas limpas, sem nada, o casal continuou a andar, procurando por algum fazendeiro que vivia na imensidão do verde. Infelizmente, acabaram não encontrando ninguém. Eles decidiram dormir ao ar livre. Por uma hora um deles dormia e o outro vigiava, depois eles trocavam. No meio da madrugada, enquanto observava sua mulher, Hans caiu no sono. Em um sono tão profundo, que jamais acordou. Assim, ele, sua mulher e seu filho, entraram em um profundo sono, onde não tinha medo. Não tinha medo de deixar tudo para trás. Não tinha medo de ser levado. Não tinha medo de ser bombardeado. Não tinha medo de colocar a família em risco. Seu frio e último suspiro, levou todo o medo embora.

Giovanna Ivanov 40


Meu nome é JK

Era uma manhã chuvosa. Mamãe e Papai haviam saído para trabalhar, o que diziam ser uma benção. Eles me deixaram em casa com meu pequeno irmão e com vovó, que fora morar conosco, pois vovô havia falecido há muito tempo. Vovó decidiu nos fazer um bolo bem gostoso para comermos, enquanto ela nos contava sua história com vovô: — Seu avô era muito divertido e brincalhão, quando éramos jovens, éramos completamente apaixonados e vivíamos um sonho, ele me pediu em casamento depois de um ano que estávamos juntos, tivemos seu pai dois anos depois e quando ele tinha apenas cinco anos seu avô foi para a guerra. Ele nos mandava notícias todos os dias e cada dia era mais difícil para nós. Até que um dia, recebemos uma carta do quartel general dizendo que o vovô tinha se ferido seriamente, fomos no mesmo dia visitá-lo no hospital, ele perdeu suas pernas e seus braços, não conseguia se mexer de jeito nenhum e, quando chegamos lá, uma lágrima escorreu pelo seu rosto. Soube, nesse momento, que ele não ficaria muito tempo conosco. Ficamos por lá durante dois meses, mas nosso dinheiro estava acabando e tínhamos que voltar para trabalhar. Tivemos uma longa e triste despedida. Assim, quando cresci, decidi me tornar um médico, mas ainda não estava satisfeito. Em 1956, com cinquenta e quatro anos, decidi me tornar presidente da república. Fui conhecido como JK, mas meu nome é Juscelino Kubitschek. Fiz o melhor que pude para contribuir com nosso país e ainda faço. Tenho apenas mais um ano de Presidência, mas acho que agora, no ano de 1960, tenho a certeza de que fiz o melhor para nossa sociedade e ainda tenho esperança de que, no futuro, ainda existirão pessoas que se esforçarão o máximo possível para serem ótimas pessoas para si mesmas e para o país. Giulia Cintra Fernandes Giampietro

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Mudanças na vida de uma menina

Em uma cidade normal, vivia uma menina chamada Clara. Ela tinha apenas nove anos, morava com sua mãe e seu pai em uma boa casa. Um dia, por causa do trabalho de seu pai, a menina e sua família tiveram que se mudar para outra cidade, que também era normal. Clara não queria se mudar, mas como tinha apenas nove anos não teve escolha. A menina morria de medo porque, afinal de contas, ela já não estaria mais perto de suas amigas, que conhecia desde muito pequena. Ela teria que entrar em uma nova escola, e só o pensamento de entrar em uma escola nova, já era aterrorizador. Eu esqueci de comentar que Clara era uma menina que estava acima do peso, mas em sua antiga escola ela não sofria com isso, mas mal sabia ela que os seus novos colegas de escola não sabiam muito bem lidar com o diferente. Quando chegaram a nova cidade, a menina e sua família foram dar uma volta no centro da cidade, Clara se encantou com um cavalo que havia na praça, que na verdade era um monumento. No dia seguinte, a menina acordou cedo e se arrumou para ir à escola, a mãe da menina deixou-a na porta e lhe desejou sorte em seu primeiro dia de aula. O sinal tocou e Clara se dirigiu para a sala de aula e ao entrar na sala, todos os seus novos colegas de classe ficaram olhando para ela, a menina, que fingiu não se importar com os olhares, procurou uma cadeira vazia e se sentou. A professora, ao entrar na classe, falou para os alunos que Clara era uma aluna nova que tinha acabado de se mudar para aquela cidade. A menina, que estava morrendo por dentro, se encantou pela professora. Depois que a aula terminou, disse que a menina podia contar com ela para o que precisasse. O primeiro dia de Clara na escola não foi muito bom, ninguém foi conversar com ela e, além disso, ela ouviu algumas meninas comentando como ela estava gorda. A menina chegou em casa chorando, foi consolada pela mãe que disse a ela que isso era porque era nova na escola e, aos poucos, arrumaria várias amigas. Ao ouvir as palavras da mãe, Clara ficou um pouco mais tranquila. Os dias foram se passando e a mãe foi percebendo que a menina estava cada vez mais triste, ela não sabia o que fazer, mas odiava ver a filha desse modo. O pai de Clara estava muito ocupado com o trabalho e não ficava muito tempo em casa, por isso não percebeu que a filha estava triste. Depois de um mês, a mãe arrumou um emprego e parou de estar em casa todas as tardes. Na escola, Clara sofria cada vez mais, ela não tinha nenhum amigo para conversar ou brincar na hora do intervalo, por isso ficava lendo o tempo todo. A professora, que observava de longe a situação, estava preocupada com a menina, por isso decidiu conversar com ela. — Clara, por que você não vai brincar com os seus colegas? – perguntou a professora se sentando no chão ao lado da menina. — Porque eu estou lendo professora – respondeu a menina com um olhar triste. — Bom, então eu não vou te atrapalhar – falou a professora levantando-se. 42


Quando o sinal tocou, a menina pegou sua mochila e saiu. No caminho de volta para casa, se lembrou que sua mãe estava trabalhando e que ela ia ficar em casa sozinha, então ela resolveu ir à praça da cidade que tinha visitado com seus pais e que ela tinha gostado. Quando chegou lá, a menina se sentou perto do monumento do cavalo que ela tinha gostado e continuou lendo seu livro. Depois de um tempo se levantou e foi para sua casa. A menina gostou tanto da praça que passou a ir lá para ler todos os dias depois da escola. Naquele lugar, ela se sentia bem.

Um dia após a escola, como de costume, ela foi à praça para ler, a professora que estava passando pela praça, por coincidência, naquela hora, viu a menina sentada lendo e disse para si mesma que tinha que fazer alguma coisa, pois a menina estava sofrendo muito e ela, que era uma professora, não gostava de ver seus alunos sofrerem. No dia seguinte, a professora, antes de começar a dar aula, resolveu conversar com os alunos sobre o que estava acontecendo, a professora sabia que o caso de Clara não era um caso isolado, ela sabia que muitas outras crianças da escola e de outras escolas também sofriam por serem discriminadas por seus colegas de sala e não só por serem novas na escola ou por serem gordinhas, como era o caso de Clara, mas por muitos outros motivos. A conversa com os alunos transcorreu tranquilamente, eles pediram desculpas para a menina alegando que não estavam percebendo que ela estava chateada e que eles só estavam brincando com ela. A professora explicou aos alunos que brincadeira tem limite e que sempre teriam que respeitar os limites uns dos outros. A professora ficou feliz em saber que tinha ajudado a menina, mas ela sabia que muitas outras pessoas continuavam sofrendo discriminações todos os dias. Mariana Zanotto Tardelli

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Não confie nas pessoas, elas podem te decepcionar

Palavras machucam, enganam e iludem. Atitudes, o dobro. Mas tudo isso é feito pelas pessoas. Algumas só pensam em si mesmas, outras pensam nos outros antes de si. E é isso o que nos torna diferentes. Lembro-me de quando era bem pequena, vivíamos eu, meus pais e meu irmão, numa casa em Okinawa. Meu pai era agricultor e minha mãe não trabalhava, de modo que me arrumava todos os dias para ir à escola enquanto meu irmão ia treinar para o exército japonês. Admirava muito meus pais, batalharam pelo amor deles e para conquistar tudo o que tinham hoje. Um menino de uma família pobre, sem muitas condições financeiras, e uma menina, que nasceu em berço de ouro, de uma família rica e poderosa. Certo dia, estava a garota caminhando distraidamente pelas ruas da cidade para ir comprar alguns suprimentos no mercado para cozinhar. Isso era o que adorava fazer em seu tempo livre e sempre aprendia novas receitas com sua cozinheira. Quando foi atravessar a rua, estava tão distraída observando o que devia comprar para a nova receita que não viu um carro vindo em sua direção, até ouvir uma buzina e o impacto, não da batida do carro, mas sim de outro corpo e logo sentiu seu próprio corpo colidindo com o chão. Ao abrir os olhos, deparou-se com um garoto aparentando ter sua idade, mas com roupas desgastada e velhas ajudando-a a se levantar, o mesmo havia salvado sua vida. Ela tentou agradecer-lhe, mas as palavras se entalaram na garganta e ficou sem reação. Um ficou olhando nos olhos do outro sem dizer uma única palavra, quase que hipnotizados. Ela pigarreou e agradeceu ao menino, num fio de voz. Ele disse que da próxima vez, era para prestar mais atenção ao atravessar a rua, e que ela poderia ter sofrido um acidente grave e até ter morrido. A garota continuou sua caminhada até o mercado, comprou o 44


necessário e voltou para casa, tomando o máximo de cuidado possível. Ao chegar em casa, contou o ocorrido para a mãe. A menina estava entusiasmada e pensou que poderia ter se apaixonado por seu herói, mas sua mãe fica indignada ao saber que um garoto pobre tinha tocado na filha e manda a menina tomar um banho muito bem tomado. Isso tudo para tirar o toque sujo e, possivelmente, contaminado do menino. E o menino, ao voltar para casa, não parou de pensar na garota que acabou de salvar, que nem conhecia, mas sentiu-se no dever de salvá-la. Depois de anos, eles se encontraram numa praça por acaso e começaram a conversar sobre suas vidas, sobre o acontecido naquele dia. Até que eles deram o primeiro beijo. Depois de um tempo, ele pediu a menina em namoro, ela aceitou, mas não contou aos pais, porque no dia em que ele havia salvado a vida dela, a mãe ficou uma fera, imagine então o que a mãe faria se soubesse do namoro. Eles passaram uns três anos namorando, até que ele pediu a menina em casamento. Ela estava tão apaixonada, que aceitou, mas casamento é algo sério então resolveram ir conversar com o pai da garota. Ele foi até a casa da moça, pediu para seu futuro sogro conceder a mão de sua filha em casamento, mas o pai pediu ao garoto que saísse de sua casa e não voltasse mais. A garota ficou arrasada e sussurrou que depois ela conversava com ele. Ele saiu da casa e foi dar umas voltas no parque. Ao sair, o pai fez um interrogatório à filha sobre o ocorrido, perguntas para saber há quanto tempo se conhecem, se namoram e coisas do gênero. A menina respondeu tudo com sinceridade e seu pai fez um sermão enorme. Falou que ela devia procurar um homem melhor para se casar e que tivesse condições de sustentá-la. A garota discutiu com a família e ficaram brigados. Ela correu atrás do namorado, contou-lhe o ocorrido e eles resolveram se casar mesmo assim. Depois de um tempo, eles compraram uma casa, tiveram dois filhos. Sim, esse menino e essa menina são meu pai e minha mãe, e seus filhos, eu e meu irmão. Nós crescemos todos juntos, como uma família feliz, acreditando no amor e que assim poderíamos ser felizes por muitos e muitos anos, todos juntos. Por volta dos meus onze anos, algo totalmente inesperado e inusitado aconteceu, sem nenhuma explicação. Meu pai deixou um bilhete dizendo que viajaria para o Brasil com outra mulher, para tentar uma vida melhor, longe da guerra que havia começado e distante de nós. Ficamos arrasados, eu e meu irmão tentamos consolar minha mãe, que não parava de chorar, pensando o que havia feito de errado, sentindo-se como se o seu mundo tivesse desabando. A pessoa que tinha confiado e jurado lealdade havia traído a sua confiança. Ficou sozinha, com dois filhos, sabendo que estava brigada com a família e sem dinheiro para sustentar a todos.

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Lembro-me com dor no coração, da época em que me levava à praia, caminhávamos à beira mar, as ondas indo e vindo, e seu olhar sob o horizonte, um olhar perdido, sem brilho, sem sentido, pensando em suicídio. Depois de um tempo, a falta de vontade de viver fez com que minha mãe adoecesse. A guerra já havia começado e não tínhamos muitos recursos. Meses depois ela faleceu. Eu e meu irmão permanecemos unidos até hoje. Thaís Ayumi Birque

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O Amor Matador

Em uma tarde fria e escura de sábado, um jovem conhecido como Lucian foi dar um passeio pela cidade. Ele estava andando sozinho pelas ruas desertas, sem aparentar ter nenhuma alma viva andando por aquelas redondezas. Era quase noite, ele continuava andando pelas ruas nebulosas e frias da sua cidade. Estava começando a chover, enquanto ele estava andando do mesmo modo por quase três horas. Faltava pouco tempo para ele conseguir chegar ao seu destino. Ao chegar ao seu destino, tirou o capuz e cumprimentou todos os que estavam no salão. Lucian estava ansioso para este compromisso, pois todos os seus amigos estavam lá. Passava o tempo, aquela “reunião” continuava e todos estavam observando o tempo do lado de fora, um tempo nebuloso, frio e totalmente vazias as ruas. Os que estavam em volta da mesa estavam conversando sobre uma nova mulher que tinha chegado à cidade. Diziam que ela era linda e esperava conhecer alguém para ter novas pessoas, diziam que ela é uma pessoa muito importante. Lucian tinha desenvolvido um certo afeto por essa dama, embora nunca tivesse chegado perto dela, apenas por ter visto fotos e por algumas entrevistas. Finalmente chegou o dia em que ela viria para a cidade, todos iriam vê-la pessoalmente. Lucian estava cheio de expectativa em vê-la pela primeira vez, ele queria realmente conversar e se aproximar dela. Muitos não aprovavam isso, pois Lucian era negro e existia muito preconceito por causa disso. Então no fim do dia, em uma tarde mais ensolarada, ela chegou à cidade. Todos a rodearam e começaram a enchê-la de perguntas. Nesse meio todo, Lucian estava tentado a falar com a Ashe (a dama que estávamos falando antes).

Não deixavam-no chegar próximo a ela, pois era muita gente aglomerada em cima dela para entrevistá-la. Quando ela finalmente conseguiu ficar mais sozinha, Lucian se aproximou dela e começou a conversar com Ashe. Eles foram numa praça da cidade, conhecida como a Praça do Canhão, todos os observavam, pois era uma coisa estranha ver alguém negro como Lucian ao lado de alguém tão pura como Ashe. 47


Eles sentaram e começaram a conversar, porém alguém que não aceitava ver Lucian ao lado de Ashe viu isso. Esse homem decidiu acabar com o que estava vendo, só que não era distanciar os dois apenas. Essa pessoa que não queria ver os dois juntos, apenas sacou uma arma e atirou em Lucian. E foi assim que Twisted Fate acabou com Lucian por Ashe.

Igor Guitte Concato Carneiro Farhat

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O bandeirante herói

Em 1603, 25 anos antes do ocorrido, Diego, um garoto de 8 anos, que vivia em uma cidade perto de Sorocaba (que ainda não havia sido fundada), era apaixonado por Sara, uma colega de classe. O sonho do menino sempre fora ser um líder bandeirante, explorar novas terras em busca de riquezas e índios e ser um aventureiro a serviço da Coroa. Seu melhor amigo era Baltazar Fernandes e, desde pequenos, eles brincavam de explorador. Diego começou a namorar Sara, 15 anos antes do acontecimento, eles eram muito felizes juntos, pareciam ser feitos uma para o outro, então resolveram se casar. Diego era um bandeirante do mesmo grupo de Baltazar Fernandes, Sara o apoiava sempre, mas ela se sentia só porque ele sempre estava trabalhando nas bandeiras. O homem se esforçava muito para virar o líder delas, ele queria fazer algo grande para ser sempre lembrado. Um ano antes da terrível e inesquecível noite, Sara conheceu Renato, um homem que se mudara para perto da casa do casal, eles conversavam muito e se viam diariamente. No dia em que Baltazar foi escolhido como líder, Diego deveria estar feliz pelo amigo, mas em vez disso, ele só pensava na injustiça, pois ele merecia ser o líder e merecia muito mais. Após ter visto o melhor amigo ocupando o lugar em que ele sempre sonhava em ter, Diego foi para casa, para fazer uma surpresa para a esposa que não via há muito tempo e esperava que ela pudesse o alegrar, mas pelo contrário, ele apenas se magoou ainda mais, pois quando ele entrou pela porta da sala, deu de cara com Sara beijando Renato. Confuso, pois achava que sua mulher nunca seria capaz de fazer algo tão horrível dessa maneira, perguntou: — O que está acontecendo? Por que você está beijando esse homem? Não sou bom o suficiente para você? — Eu só beijei ele porque eu estava muito sozinha, pois você nunca estava aqui presente e Renato foi o único que me fizera companhia nesse tempo. - explicou a esposa envergonhada. — Então, você agora está dizendo que eu sou o culpado por ser traído? — Bem, se você estivesse aqui, nada disso teria acontecido! — Quando você iria me contar sobre isso? - questionou o marido. — Eu não iria, eu apenas terminaria com você quando você voltasse, pois não aguento mais você!

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No momento em que Sara terminou de falar, consumido pelos ciúmes que sentia melhor amigo, que se tornara líder, e pela raiva da traição da mulher, sem pensar duas vezes, Diego tirou uma arma e matou a mulher e o amante dela, estava tão fora de si, que saiu pelas ruas e atirou para todos os lados, matou um monte de pessoas, ninguém conseguia o deter, até que com um tiro na cabeça, Baltazar o matou. Diego ficou conhecido como o louco que fora traído, Sara como a traidora que causou um grande risco para a população, Renato como o amante e Baltazar como o grande herói de todos, pois matou o melhor amigo para salvar o resto das pessoas.

Ana Carolina Brand

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O caminho de um homem

Em uma tarde chuvosa, em 1668, Sara estava prestes a ter um filho, no caminho para o hospital, sua bolsa estourou. Victor, seu marido, que estava guiando a charrete, chicoteou o cavalo para ele correr. Chegaram ao hospital e Sara correu para sua sala. Alguns minutos depois, Luiz, filho de Sara e Victor nasceu, os dois ficaram muito felizes, pois o bebê nasceu saudável. O tempo foi passando e Luiz aprendia coisas novas, surpreendia cada vez mais os pais. Passaram-se seis anos e, no seu aniversário de sete anos, Luiz pediu aos seus pais para o colocarem no escoteiro, pois gostava de aventuras e de conhecer pessoas novas. Ele começou no escoteiro para saber como iria ser a experiência. Passaram-se anos e anos, Luiz ainda continuava bem no escoteiro, mas passava por dificuldades, por exemplo, uma vez foi picado por uma aranha supervenenosa. Ficou no hospital por três dias e, como na época não tinham vacinas, foi difícil ajudar Luiz. Quando tinha dez anos, pediu aos seus pais para ir acampar com o grupo de escoteiros, mas seus pais não deixaram. Luiz insistiu e disse: — Por favor, eu faço qualquer coisa, só me deixem ir acampar. — Eu deixo você ir, mas quero que você obedeça a mim e à sua mãe para o resto de sua vida. – Respondeu seu pai. Luiz arrumou a mala, despediu-se dos seus pais e partiu. No acampamento, conheceu Felipe, que virou seu melhor amigo, os dois só andavam juntos. Quando Luiz foi fazer xixi no mato, ele viu uma trilha, chamou Felipe para seguirem a trilha e verem o que tinha no final. No meio da trilha, Felipe começou a ficar com fome e voltou, Luiz continuou a trilha, pois era muito curioso. Quando estava chegando quase no fim da trilha, encontrou um filhote de onça, mas como não tinha medo, continuou, mas a onça o atacou e mordeu seu braço, ele correu como nunca tinha corrido antes para o acampamento. Chegou lá com o braço pingando de sangue, todo mundo queria saber o que tinha acontecido, mas ele queria logo um curativo. Depois que enfaixaram Luiz, ele contou o que havia acontecido, o chefe deu uma bronca nele, deixou os escoteiros com um supervisor e o levou até sua casa. Ao chegar em sua casa, seus pais o levaram direto para o hospital, eles ficaram muito bravos, pois falaram para tomar cuidado e para ficar reunido com o grupo. Ficou proibido de sair de casa por três semanas, pois tinha desobedecido seus pais e só podia ir para a escola. As três semanas se passaram, Luiz não podia mais ir ao escoteiro.

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Passaram anos e anos e quando tinha dezoito anos, estava servindo o exército, uma nova guerra surgiu, por causa de alimento, então Luiz teve que ir para a guerra para ajudar seu país. Enquanto estava na guerra, caiu um míssil em seu bairro e matou todo mundo, inclusive seus pais. Luiz só pensava em sua família, mas ainda não sabia que seus pais também morreram. Os que não morreram, ficaram contaminados. O seu país, que era o Brasil, estava em guerra contra Afeganistão, Afeganistão estava ganhando, pois tinham mais armas e bombas. Passaram-se cinco anos, quando Brasil decidiu mandar toda a sua tropa, aí ganhou. Quando voltou para casa, viu sua casa destruída e ossos lá dentro, que eram dos seus pais. Começou a chorar, pois agora não tinha ninguém, seus avós já haviam morrido e o resto da família morava em outro estado. Luiz mudou seu pensamento, comprou um apartamento perto do centro da cidade e começou a estudar política, pois queria ser o presidente do Brasil. O tempo foi passando e ele foi crescendo cada vez mais, mas não conseguia virar presidente, então começou a fazer umas propagandas políticas que falavam que iria acabar com as guerras, faria o Brasil crescer e ninguém passaria fome, mas o povo não acreditava que iria acontecer isso. Então, Luiz, com a ajuda do governo e de seu partido que é o PCFB, comprou bastante alimento e deu para os pobres, filmou e colocou em sua propaganda política e todo mundo começou a votar nele. Luiz conseguiu virar presidente, mas depois de um ano e pouquinho, o governo estava em crise, pois tinha gastado todo o dinheiro em comida e urbanização, então, decidiu ir atrás de dinheiro, chamou seu amigo Felipe e voltou naquela trilha, que foi acampar quando era escoteiro. Colocaram suas botas e chapéus, levaram armas e facas, para enfrentar qualquer obstáculo, depois de duas horas caminhando, eles conseguiram achar uma cachoeira e atrás dela tinha uma caverna. Eles entraram, mas quando entraram, tinha um urso enorme, eles mataram o urso e como estavam morrendo de fome, decidiram comer o urso, fizeram uma fogueira e enquanto estavam cortando a carne do urso, encontraram um pedaço de papel dentro dele, mas não dava para ver nada, pois estava encharcado de sangue, 52


limparam o papel e viram um mapa. Viram que o tesouro estava dentro da caverna, atrás de uma parede. Quebraram a parede e viram um baú aberto, e dentro estava um monte de pedras valiosas. Ao pegar o baú, a caverna começou a desmoronar, só Luiz conseguiu escapar, infelizmente Felipe não conseguiu, havia caído uma pedra em sua cabeça. Quando chegou na cidade, todo mundo começou a comemorar, pois tinha salvado a vida dos pobres. Decidiram fazer uma festa para honrar o Luiz, que conseguiu todo o dinheiro, mas o mérito não foi todo para ele não, pois Felipe ajudou e fizeram uma oração para ele. No fim da festa, enquanto Luiz estava cumprimentando todo mundo, veio uma bala perdida e o matou. Eles prenderam o cara que o matou e fizeram uma estátua de Luiz no centro da cidade como forma de agradecimento. Felipe Casare Pereira Nunes

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O menino rico

Em uma cidade existia um menino, o nome dele era Roberto, tinha 14 anos, a família dele era rica, muito rica. O menino sempre estava com roupas novas, celular novo e cabelo arrumado. Ele não gastava muito dinheiro com compras, mas ao contrário dele, a mãe gastava muito, mas ela se separou do pai dele, que na verdade era quem bancava tudo. A partir desse fato, ela ficou depressiva e passou a gastar o triplo do que ela gastava quando ela era casada. O menino estudava em uma escola particular, nunca teve um bom aproveitamento escolar, sempre tirava acima de cinco, mas nunca acima de seis e meio e, às vezes, tirava um quatro, porém era bem difícil, mas não era impossível. Ele tinha muita dificuldade no aprendizado. Ele era muito religioso e, portanto, todos os dias depois da escola ele passava na igreja, que ficava ao lado de sua escola. Lá ele rezava, também conversava com o padre e pedia a Deus para ajudar com as notas e que ele não repetisse de ano. Queria entrar em uma boa faculdade, conseguir um bom trabalho e ter seu próprio dinheiro. Rezava também para conseguir ajudar sua mãe a parar de gastar, pois como ele era novo a mãe nunca lhe dava ouvidos. Apesar de tudo, todos os dias eram iguais, ele saía da escola e passava na igreja, depois seguia para sua casa, almoçava sozinho porque a mãe nunca estava em casa. Ela estava fazendo compras para esquecer dos seus problemas, ela chegava por volta das oito da noite cheia de sacolas e sempre mais um cartão bloqueado. Um determinado dia, a mãe chegou chorando sem nenhuma sacola e falou para o filho: — Meu querido você não poderá mais ver seus amigos - falou a mãe cheia de lágrimas nos olhos. — Por que mãe? O que eu fiz de errado? – perguntou Roberto sem entender a situação. — Meu filho, você não fez nada de errado, fui eu que fiz, eu não te ouvi, gastei tudo que tínhamos, vamos ter que mudar de casa, de escola e padrão de vida - respondeu a mãe chateada. Quando o menino escutou o que a mãe falou, ele saiu de casa chorando e foi direto para a igreja falar com o padre, foi pedir para que ele o ajudasse a mudar a situação em que se encontrava a sua mãe. No dia seguinte, a mãe fez um bazar e colocou a casa para vender. Como as coisas eram de primeira qualidade, tudo foi comprado bem rápido. Como ela estava sem casa e sem nada, somente com os bens pessoais dela, aproveitou o dinheiro que conseguiu e se mudou para uma kitnet e colocou seu filho em uma escola pública. Mas, infelizmente, como isso aconteceu no mês de abril e não havia vaga na escola para Rodrigo, só iria para a escola em agosto. Então, nos meses de férias, ele aproveitou para conhecer o bairro para ver o que tinha por perto, enquanto a mãe ficou na kitnet arrumando suas coisas.

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Ele procurou tudo o que tinha direito, inclusive arranjou um trabalho no pet shop para lavar o canil dos cachorros, mas a única coisa que ele não procurou foi uma igreja para rezar, continuou indo naquela igreja perto da sua escola antiga, mesmo que fosse longe, todos os dias ele ia caminhando até lá para falar com o padre, que aliás conhecia mais ele que sua própria mãe. As suas 'férias' estavam passando muito rápido, tão rápido que faltava somente uma semana para começar as aulas. Ele ficou curioso e foi para a escola para conhecer sua professora, pegou o papel que estava com a lista de material e foi para casa falar com a mãe: — Mãe peguei a minha lista de material e preciso que você me dê o dinheiro para eu ir comprar - pediu Roberto a sua mãe. — Filho quanto você acha que vai precisar? - questionou a mãe. — Ah, não sei mãe, mas sei que vai ser menos do que gastava no meu material da outra escola - respondeu o filho. — Está bem, como gastávamos trezentos reais vou te dar cem reais - falou a mãe com uma voz de que queria chorar. Depois da conversa o menino saiu de casa e foi para a papelaria mais próxima, comprou tudo de terceira qualidade, um caderno, um estojo que já continha os lápis e alguns livros didáticos que pediram, também comprou uma mochila, a mais barata que havia e foi ver quanto daria tudo, quando chegou no caixa a moça falou que tudo tinha dado cem reais e a que à vista tinha cinco por cento de desconto, então ele pagou e foi direto para a sua casa. Quando chegou a mãe perguntou: — Filho quanto deu tudo? - a mãe perguntou. — Mãe tudo deu noventa e cinco reais - o filho respondeu. A mãe ficou surpresa, pois sempre comprava tudo do bom e do melhor e nunca havia pago no material de seu filho um preço baixo. Havia passado a última semana de férias. No dia seguinte, iria começar as aulas. Ele acordou cedinho, se arrumou e foi direto para a escola, tudo que ele fazia era caminhando. Sua mãe ficava na kitnet sem fazer nada tentando arrumar um marido para que pagasse suas contas e para que tivesse mais filhos para terem a bolsa família. Quando ele chegou à escola, levou um susto, pois na escola particular só havia pessoas bem arrumadas e de pele clara, nunca na sua escola havia visto uma pessoa de pele escura, mas na escola pública não havia pessoas de pele clara, mas somente pessoas de pele escura. Todo mundo ficou olhando estranho para ele, nunca tinham tido um colega de classe com pele branca. No começo, ele ficou assustado, mas depois os seus colegas começaram a falar com ele e ele começou a se socializar. 55


Já haviam-se passado várias semanas, na verdade passou muito rápido, então eles começaram a ter testes, ou seja, provas. No seu primeiro dia de teste, ele estranhou como eles aplicavam as provas, pois em sua escola antiga, os professores não saíam da sala, não deixavam ninguém conversar e não podiam olhar para o lado, ao contrário na escola pública, os professores davam as provas, saíam da sala deixando os alunos colarem um dos outros sem nenhuma supervisão. A semana de testes havia passado, só faltavam as notas, quando elas saíram, o menino ficou superfeliz porque em todas as provas ele havia tirado dez, mas ele não foi para casa, ele foi para igreja que ele costumava ir quando saiu da sua escola particular, mas depois ele foi para casa e a mãe dele ficou superfeliz com ele, mas não saíram para jantar como costumavam fazer antes, ela simplesmente comprou um bolo para ele comemorar suas notas.

Rebeca Comenala Azevedo Fuzetti

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Os bandeirantes Há muito tempo atrás, houve uma guerra entre os bandeirantes e os índios, na qual os indígenas usavam arcos e flechas e os bandeirantes, armas de fogo. Foi uma luta injusta, mesmo os indígenas estando em maior número. A guerra durou anos e anos e nenhum vencedor à vista. Foi então que apareceu Baltazar Fernandes, que lutou bravamente em quase todas as batalhas, ganhando quase todas elas e matando muitos dos indígenas. Mas os indígenas mataram muitos bandeirantes e ganharam muitas batalhas também. As lutas eram acirradas, os indígenas faziam armadilhas, emboscadas e ataques a flechadas. Já os bandeirantes usavam armas de fogo e os atacavam pelo mar com seus potentes barcos. Até que chegou o dia da batalha final, que decidiria quem ganharia e quem perdia. O dia amanheceu nublado, com previsão de chuva, e os tropeiros já se preparando, arrumando as armas preparando as estratégias para a batalha e os índios confiantes que iriam ganhar só dormiam para poder lutar com toda a energia. Quando chegou o dia da batalha final, os bandeirantes foram com toda a força usando tudo o que tinham para vencer, mas o que não sabiam era onde estavam os índios, pois eles estavam escondidos, prontos para atacar quando vissem os bandeirantes se aproximando. Alguns deles se perguntavam: — Onde será que estão aqueles malditos índios, será que estão nas árvores? — perguntavam olhando para cima na copa das árvores, procurando algum sinal deles, mas nada. Os índios conseguiram surpreender os bandeirantes se escondendo entre as moitas e aguardando na espreita. Quando os bandeirantes apareceram, os índios os surpreenderam e conseguiram matar muitos deles, mas como os bandeirantes tinham melhor poder de fogo e armamento foram logo contraatacando, revidando e matando muitos dos indígenas em troca. Os índios percebendo que iriam perder, recuaram para recuperar as forças e recomeçar com o estoque de energia e tropas cheio. Depois disso, eles voltaram com tudo e, mesmo assim, não conseguiram fazer um estrago maior nos bandeirantes. Depois da batalha vencida pelos bandeirantes, os indígenas massacrados e praticamente extintos, ficaram convencidos de que não eram bons em batalha. Depois disso, os indígenas ajudaram os bandeirantes em seus transportes de ouro e metais preciosos em mulas ou cavalos.

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Muito tempo depois, construíram em homenagem aos bandeirantes, uma praça com uma eståtua representando um deles em cima de um cavalo, em frente a umas de suas rotas de passagem.

Lucas Perez Bernal

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O tropeiro No Brasil, existia um tropeiro muito famoso chamado Juca da Paraíba. Ele era o maior e o mais conhecido da região por suas longas jornadas. Em um dia, foi chamado para levar mulas até Sorocaba, onde iria vendê-las e voltar com dinheiro ao seu chefe. Então lá foi ele, partiu da Paraíba até Sorocaba. Seria uma longa jornada até Sorocaba. No quinto dia, em uma estradinha de terra, apareceu um bando de pessoas com cavalos querendo roubar a mercadoria que estava com Juca. Mas Juca não viajava sozinho, também tinha seu bando fortemente armado, coisa que os ladrões não sabiam. O conflito só foi acabar depois que todos os ladrões foram mortos. Então, Juca seguiu sua viagem tranquilamente ou não, pois no dia 5 de julho, o ladrão mais conhecido de roubos de mulas, que se chamava Jailson Mendes, era conhecido por ser muito esperto, ficava dias e dias observando o alvo para, então, roubar. Iria ser a carga mais valiosa para ele, pois tinham 55 mulas e 7 cavalos. Juca não era burro, por sinal era bastante esperto e já tinha previsto que Jailson iria aparecer, por isso convocou seus melhores atiradores de cima de um cavalo para seguir a jornada com ele. Então, o dia foi passando e chegando a hora para o golpe. Foi então que aconteceu um negócio que não foi previsto, apareceu um bando de coiotes cercando o Jailson, falando a posição dele. Então, os coiotes foram a salvação de Juca, que apressou seus cavalos e seguiu sua jornada para Sorocaba. Quase chegando ao seu destino, Juca teria que passar por uma ponte muito íngreme, mas conseguiu sem matar nenhuma mula e nenhum cavalo, já vendo a cidade de Sorocaba por cima. Jailson não tinha desistido, mesmo perdendo a maioria de seus homens, ele tentou de novo dando um tiro no cavalo de Juca, mas o outro revidou e já que eram maioria, meteram bala em Jailson. Juca matou todos os homens 59


de Jailson, mas por infelicidade Jaison tinha escapado com um tiro na perna e prometeu que mataria Juca. Quando Juca chegou a Sorocaba, entregou as mulas e os cavalos para o comerciante e foi para sua habitação em Sorocaba. Quando entregou as mulas ficou mais famoso. Então, Jailson conseguiu matar Juca e depois se matou.

Luca Henrique Vasconcelos Antunes

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Ponto de paz

Ali era o meu ponto de paz. Ponto de paz? Como assim? Simplesmente era o único lugar que me fazia sentir tranquila. Para alguns esse ponto de paz é o abraço da mãe, do pai, do namorado, sei lá. Para mim era aquele cantinho. Talvez seja porque lá ninguém me perturba ou simplesmente porque aquela área nunca foi atacada. Aí você me pergunta “Atacada?” Sim, queridos, atacada. Nesse mundo de guerras, anda sendo difícil encontrar um lugar que ninguém nunca tentou explodir. Brasil em guerra? Você deve estar se perguntando o que perdeu, quanto tempo passou ou algo do tipo, porque provavelmente na sua atualidade o Brasil nunca tenha entrado em guerra. Bom, isso na sua atualidade. A minha atualidade é bem diferente, como devem ter percebido. Sou uma adolescente como outra qualquer, a única diferença é que vivo em um país, na verdade, em um mundo, que está em constante guerra. Mas qual é a causa de tudo isso? Falta de água. Tudo começou na atualidade de vocês, se formos pensar. Quando finalmente começaram a se dar conta de que a água não era infinita e tentaram economizá-la. Pelo menos alguns. A minoria, na verdade. A grande maioria achava tudo isso conversa para boi dormir, que simplesmente a água não ia acabar nunca, que estavam fazendo tempestade em copo de água. O governo fazia inúmeras campanhas para tentar conscientizar as pessoas do grande problema que estaria por vir. Davam ouvidos? Agora eu tenho a certeza de que não. Se tivessem dado ouvidos, provavelmente o mundo não estaria em guerra por causa de água, milhares de pessoas não teriam morrido, minha família não teria morrido. É, minha família morreu no meio de tudo isso. A causa? Nem foi por causa da guerra em si, mas sim da desidratação. Às vezes, eu penso que meu fim também está chegando, se parar para analisar os fatos. Mas aí eu noto, não só o meu fim está chegando, mas sim o de todos. Muitos de vocês dirão: — Está sendo dramática, é só água! “Só” água? Acho que não entendem que o nosso corpo precisa de água para sobreviver. Acho que mudariam de opinião se viessem para o futuro e vissem o que estamos passando. Acho não, eu tenho certeza. Ouvi minha irmã me chamando: — Natália, está na hora! Minha irmã foi a única pessoa que me restou depois de tudo, ela é mais velha e acho que cuida de mim como se fosse um dever, uma missão a cumprir. 61


Só ela sabia do meu cantinho, na verdade o resto das pessoas também sabiam, mas ninguém nunca ia até lá porque achavam que aquela área também tinha, algum dia, sido atacada. Descobri o cantinho um dia, andando por aí, tentando achar pelo menos uma árvore, uma planta, algo do tipo. E foi andando que achei essa árvore, provavelmente uma das únicas que continua em pé hoje em dia. Mas Natália, as árvores precisam de água para sobreviver, e se vocês estão com falta de água, como ela sobreviveu?” Já ouviram falar em milagres? Acredito que sim, assim como acredito que essa árvore seja um. Ela nunca foi atacada e, às vezes, até parece que não precisa de água para continuar sobrevivendo! Vamos combinar, é um milagre sim. Acho que esse é outro motivo pelo qual eu gosto tanto dela. É como se ela me desse forças para continuar nesse mundo cruel.

— Natália, vamos! — Minha irmã chamou novamente. — Estou indo! — gritei para que pudesse ouvir.

Único momento do dia em que podemos beber água… Todos aguardavam tão ansiosamente esse momento, que passava tão rápido, mas ao mesmo tempo renovava nossas energias.

Fico pensando se tudo teria sido diferente se aí, no tempo de vocês, tivessem atuado de maneira diferente. Será que ainda existiriam flores? Será que poderíamos ter cabelo? Minha mãe sempre falava o quanto sentia saudades de seu longo e sedoso cabelo. Nunca tive um, sempre que começava a crescer, raspavam. Será que isso teria sido diferente também? Será que se o mundo tivesse tido mais atenção nos pequenos detalhes, como deixar uma torneira aberta, minha atualidade seria diferente?

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Todos estamos condenados a um destino e, no meu caso, não tenho muita escolha, tenho 99% de chances de morrer desidratada. Ou morro assim ou em um dos ataques de outros países. Mas e você? Será que poderia, pelo menos, tentar mudá-lo? — Pode voltar para árvore, Natália. — declarou minha irmã. E assim voltei para o meu cantinho, onde me sentia segura, como se o mundo não estivesse piorando cada dia mais. O meu ponto de paz.

Valentina Ferro Antunes de Oliveira

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Simplesmente a vida

Sou uma flor, uma flor que mora na cidade, no quarto de um garoto tem 14 anos, que acorda cedo, vai para a escola e passa o resto do dia estudando ou vendo vídeos na internet para se divertir. Amigos? Ele tem poucos sabe, não se dá muito bem com o pessoal da escola, eles não vão com a cara dele, em compensação tem várias amigas e uma ótima família que o ama incondicionalmente. Seu nome? Ele se chama Daniel, ele é muito educado, tem um coração enorme e cuida muito bem de mim me rega todas as manhãs. Nossa quase me esqueci da história! Bem, por onde eu começo? Bom, tudo começou há um ano quando ele teve seu primeiro namoro, os dois se conheceram pela internet e descobriram que moravam na mesma cidade bem perto um dos outro, se amavam muito, porém seus pais descobriram e não aceitaram, disseram que não haviam criado seu filho para isso e que ele deveria estudar, Daniel ficou muito triste, não queria se separar da pessoa que amava. Resolveu namorar escondido de seus pais, às vezes dizia que iria ao cinema com um grupo de pessoa quando na verdade somente o casal ia, todos os olhavam estranho e eles pensavam ser pela idade, mas nem se importvam, pois se amavam demais parar se importarem com o que os outros pensavam. O namoro durou seis meses até que, um de seus colegas de sala, avistou o casal passeando pelo shopping. Desde então, sua vida se tornou um inferno, era zoado por todos em sua escola e fora dela também, não demorou muito para os pais descobrirem sobre tudo, o menino ficou de castigo por um mês Daniel, extremamente chateado com tudo, começou a comer menos e estudar muito em seu quarto, pois não queria nem mesmo olhar na cara de 64


sua família, seus pais percberam que o garoto estava triste, mas não se importaram muito, até o dia em que o garoto voltou da escola antes do fim da aula, com a cara vermelha de tanto chorar. Preocupados os pais perguntaram o que havia acontecido, o garoto simplesmente os abraçou e começou a chorar novamente, tiveram uma longa conversa e os pais perceberam que tinham agido sem pensar e resolveram ver o lado do filho. A partir desse momento, sua vida começou a melhorar se dava bem com sua familia, voltou com o antigo namoro, mas ainda tinha um problema, ele continuava sofrendo com a “zoação” de seus colegas na escola, tentava ignorar mas não conseguia era muito para sua cabeça. Resolveu então tentar conversar mais com as meninas, pois eram as únicas que não o xingavam em sua escola. Passaram-se alguns meses e já tinha incontáveis amigas e sempre que precisasse, tinha amigas em quem confiar. Tinha uma amizade muito forte com todas e sempre as ajudava quando podia e elas sempre o defendiam com garras e dentes de todos que o irritavam. Daniel nunca esteve tão feliz, sua família o amava, tinha amigas que o amavam como um irmão e estava num relacionamento firme, não podia pedir mais nada de bom em sua vida, pois não precisava de mais nada. O bullying que sofria dos garotos já tinha sido mais ou menos resolvido quando as meninas foram contar à diretora do colégio o que estava contecendo. Brava, a diretora advertiu todos os alunos citados pelas garotas. Porém, não satisfeitos, continuaram a tirar sarro de Dani que, muito bravo, foi falar com seus pais. Indignados, conversaram com a dona do colégio que suspendeu todos os alunos que irritaram, xingaram e ameaçaram o pobre garoto. Hoje em dia, ele é extramente feliz, vive tranquilamente seguindo sua rotina e indo ao shopping e ao cinema com suas amigas e amigos que fez durante o tempo e sem se importar com o que os outros pensam, pois ele tem pessoas que o amam demais para se importar com o resto.

Enrico Oliveira Demarchi

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Sonhar gera fama

Vivia em uma cidade chamada Sorocaba, que fica no interior de São Paulo, uma mulher, Stephany e os dois filhos, Charles e Louis. Stephany era da Inglaterra, morava em Manchester com seu marido e seus filhos, mas teve que sair de lá, pois seu marido morreu e não tinha mais como viver lá, já que era o homem quem sustentava a família. Stephany era muito bonita, magra, alta, carinhosa, medrosa, não gostava de animais, sensível e inteligente. Charles era feio, gordo, baixo, não era muito inteligente, gostava de animais, nem um pouco sensível, inteligente, não gostava de usar perfume nem desodorante e era muito egoísta. Já Louis era o contrário disso, ele era bonito, magro, alto, meigo, esperto, odiava animais, cheiroso, sensível e bondoso. Stephany e os meninos iam todo domingo para a Igreja que tinha no centro de Sorocaba, Catedral Metropolitana de Sorocaba, e acreditavam que se não fossem, Deus os castigaria. Um belo dia, Charles deu a ideia de irem visitar um safári que ficava numa cidade vizinha. Stephany e Louis aceitaram a ideia e no sábado foram. Nesse safári podia entrar de carro, então lá foram eles. Viram girafas, elefantes, leopardos, rinocerontes, búfalos e quando estavam vendo os leões, o carro bateu numa árvore, capotou e começou a pegar fogo, Stephany, Charles e Louis conseguiram sair ilesos do carro. Mas tinha um problema, os leões estavam soltos, mas o fogo ia afastá-los por um tempo, mas não seria para sempre. Stephany olhou para os meninos e comentou: — Acho que não conseguiremos ir para Igreja amanhã.

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Os três ficaram com medo de não conseguirem ir para a Igreja e de serem comidos pelos leões. Stephany olhou novamente para os meninos e mandou: — Vamos dormir e amanhã pensamos no que vamos fazer. Os meninos fizeram que sim com a cabeça, então os três foram dormir. Acordaram no dia seguinte assustados, pois foram acordados pelo barulho de três leões. Quando viram os leões, ficaram com muito mais medo, então saíram correndo, conseguiram escapar dos leões e fugir do safári, mas não ia dar tempo de chegar à Igreja. Então, Louis acordou de verdade e tudo aquilo que aconteceu não passou de um sonho que ele compartilhou com todos os amigos e parentes. Quando ele contou para a mãe e para o irmão, eles deram risada Louis ficou muito ansioso para as aulas voltarem para ele poder contar seu sonho para seu melhor amigo Dave. Voltou às aulas, Louis contou seu sonho para Dave, e Dave achou o sonho muito legal e contou para outro amigo, que contou para outro, que contou para outro, que contou para outro, até que chegou num escritor, que fez um livro de contos e nesse livro colocou o sonho de Louis, e o livro ficou mundialmente famoso e foi traduzido para mais de quarenta línguas diferentes para que todos pudessem ler. Louis sonhou mais várias vezes com isso e sempre que sonhava acordava com a mesma reação, pois sempre parecia muito real e sempre que sonhava, olhava para a mãe e comentava: — Mãe, tive aquele sonho de novo. E a mãe respondia: — Que legal, filho! Um dia, no seu aniversário, Louis ganhou o livro que contava a história do seu sonho e ficou muito feliz, pois agora sabia que um escritor muito famoso gostou da história do seu sonho e deixou o livro de herança para o filho e todo dia, lia para ele a história que contava sobre o sonho. Charles não gostou nem um pouco do sucesso do sonho do seu irmão, já que era muito egoísta e quando ganhou o livro de aniversário, queimou o livro sem dó. Louis quando cresceu teve três filhos Mary, Paul e John, com sua mulher Daisy. Louis se tornou programador de jogos e ganhava muito dinheiro. Já Charles viveu com a mãe até ela morrer e quando ela morreu, teve que 67


procurar um emprego e acabou se tornando garçom de um restaurante e morreu sem ter filhos. Stephany morreu de câncer de pele aos oitenta e cinco anos, Charles morreu atropelado aos cinquenta e cinco anos e Louis morreu por causa da idade, aos cento e dois anos de idade. Luis Henrique Segamarchi Pereira

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Uma sensação jamais esquecida

Era uma tarde de domingo, Dona Rosa estava se preparando para ir à igreja no centro da cidade. Terminava de prender o cabelo e colocava o casaco. Não estava frio, mas não queria arriscar a pegar um resfriado. Saiu da sua casa, um sobrado com um grande pé de goiaba na frente e começou a caminhar pelas ruas movimentadas. Olhou seu relógio e viu que ainda eram 10h15min. Como ainda era cedo, resolveu ir à padaria tomar um café e aproveitar para comprar pão e frios. Distraiu-se na padaria com o movimento das pessoas apressadas. Quando olhou do relógio de novo já eram 10h45mim. Dona Rosa se assustou e saiu correndo da padaria à igreja. 69


Chegando lá, avistou o prédio de cor amarelada já gasta, com suas colunas enormes. Entrou pela sua porta principal. Sentou-se em seu lugar de sempre, colocou as sacolas com o seu pão ao seu lado e começou a rezar pelas suas duas filhas e seu marido falecido, como fazia sempre. Estava concentrada rezando quando sentiu uma presença do seu lado e um “vento”. Abriu os olhos e viu que sua sacola tinha sido roubada!!!! Olhou para trás e viu algumas crianças correndo e rindo. Sentiu muita raiva. Levantou-se e foi atrás delas. Quando as viu comendo o pão, nesse momento, seu sentimento de raiva passou e começou a sentir pena. Andou até as crianças e levantou as mãos mostrando que não queria brigar. Falou calmamente com o garoto que estava segurando a sacola. — Sabia que o que vocês fizeram é errado? – indagou sorrindo As crianças se assustaram e se viraram para a senhora. — Me desculpa senhora. – declarou o garoto – Aqui está. – disse ele estendendo a mão com a sacola de pães pela metade. — Estou brincando criança. Pode ficar com eles, até mais! – despediuse deles e voltou caminhando para sua casa. Quando chegou em casa, tomou banho e sentou-se em sua poltrona de leitura. Lembrou-se de como foi boa a sensação de ver aquele brilho nos olhos das crianças quando ficaram com o pão. Sorriu consigo mesma. Nunca tinha tido uma sensação tão gostosa quanto aquela, de ajudar o próximo... Foi muito boa e pura. E quando viu aqueles meninos com as roupas rasgadas, sujas e com cara de que não comiam há dias, sentiu uma dor no peito. No dia seguinte, Dona Rosa acordou com um pulo da cama, se arrumou e foi direto para a padaria. Saiu de lá carregando sacolas cheias de pães, docinhos e frios e foi correndo para a praça da igreja. Assim que avistou os meninos, gritou: — Garotos! Venham aqui! Os meninos reconheceram a senhora do dia anterior e correram até ela. — Olha o que trouxe para vocês! – entregou todas aquelas delícias para eles. — Ai, Meu Deus! Muito obrigado! Que Deus abençoe a senhora! – exclamou um dos meninos – Ah, e a propósito meu nome é João e esses são meus irmãos – disse apontando para os outros – Pedro, Paulo, Jadison, Jefferson e Adson.

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— Olá meninos! Meu nome é Rosa e não precisa me chamar de “senhora”, já que já somos amigos! — Ok, Dona Rosa, mas antes deixa eu te apresentar a minha família! – João a puxou pela mão e levou Dona Rosa para conhecer sua família. E, assim, foi pelos restos dos dias, semanas, meses e anos. Dona Rosa foi visitando centros de caridades, fazendo trabalho comunitário e ajudando os necessitados, para que aquela sensação que ela experimentou naquele dia, nunca mais se vá. Parabéns Dona Rosa, um exemplo de pessoa!!! Gabriela Ishida Igarashi

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Tropeiro vivo

Como sabemos, todo tropeiro possui sua tropa. Bom, comigo não é diferente. Sou um tropeiro muito antigo e perdi meus companheiros de conduta durante uma jornada e agora estou sozinho com meu cavalo tentando recuperálos. Mas como? Durante o dia, desde o nascer do sol até ele se pôr, sou uma mera estátua que fica em uma bela praça. Mas, quando chega à noite, saio com meu cavalo a procura de minha tropa para voltarmos aos velhos costumes, expedições de comércio. Sou um peão e tenho um papel importante na economia, além da minha importância cultural, pois sou um transmissor de ideias e notícias entre as minhas aldeias e comunidades, no periodo em que não existiam estradas aqui no nosso Brasil. Antes das estradas de ferro e muito antes dos automóveis de hoje, o comércio de mercadorias era feito por tropeiros como eu, nas regiões onde não havia navegação marítima ou fluvial. As regiões distantes do litoral, dependeram 72


durante muito tempo, do meio de transporte por mulas. Assim, nós tropeiros, passamos a ser fundamentais no comércio de inúmeras mercadorias. Eu comprava e vendia de tudo um pouco escravos, ferramentas, vestimentas, entre outras coisas. A minha existência estava relacionada ao ir e vir pelos caminhos e estradas.O constante movimento, o ir e vir das tropas, não só aumentou o comércio como também se tornou elemento chave na reprodução econômica do tropeirismo. Era tudo o que eu mais amava. Era tudo o que eu queria. Até me transformar em mais um monumento histórico da minha cidade. Bem, vamos parar de falar do passado e começar a olhar o presente. Estou com problemas. Já que sou uma estátua no centro de uma praça, não posso ficar muito tempo fora e, especialmente, não posso ser visto por ninguém, isso, com certeza, dificulta as minhas saídas a procura por meus companheiros de estrada. Não faço a menor ideia por onde começar ou para aonde ir. Já se passaram dezesseis dias desde que eu comecei minha busca e nenhuma pista até agora. Só estou vagando por aí procurando algo para continuar minha busca. Meu grande medo é que meus colegas não estejam por aqui, o que eu particularmente acho difícil, já que viemos juntos a Sorocaba, até nos separarmos e eu virar essa estátua. Olha só! No meio de tanta conversa já escureceu! Significa que está na minha hora de vagar por aí procurando meus parceiros. Parece que hoje estou com sorte, encontrei dois velhos amigos meus. Dois grandes parceiros! Quem sabe eles saibam onde estão os outros de nossa tropa, não? Bom, a conversa foi boa, mas tenho que ir conversar com meus velhos amigos, mas obrigado pela companhia de hoje.

Luana Cavalcanti Aguiar

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Vamos ser feliz! Hoje, o dia amanhecia tranquilo. A noite também foi muito tranquila. Só que tinha que acordar para ir à escola, infelizmente, mas pelo outro lado era sexta-feira, não iria ver mais meus colegas de classes, pois era fim de semana. Nunca entendi por que meus colegas não gostam de mim. Será que sou feia? Será que é porque não sou magra que nem as outras meninas... Sempre quando eu tento brincar, tomar lanche, conversar com meus colegas, tento ser amiga deles, mas as meninas e os meninos sempre cochicham quando chego perto, param de falar, riem de mim, entre várias coisas do tipo. Eu lancho no banheiro, pois não deixam eu sentar na rodinha, então me tranco em um box do banheiro, minha mãe não sabe disso, ela pensa que tenho várias amigas que nem minhas colegas, ela sempre fala para eu convidar algumas meninas para dormirem em casa, mas sempre dou uma desculpa para não chamar, porque sei que se chamar nenhuma vai vir em casa. Isso acaba comigo, pois sou criança e quero dar risada, não chorar em silêncio, quero me divertir, não ficar dentro de casa, quero dormir na casa das outras meninas e conversar a noite inteira... Enfim, quero ser feliz. Esses dias entrou uma menina nova na minha classe, as meninas, que já eram da minha classe, foram recebê-la. Falei bem baixinho para ninguém ouvir: — Mais uma para dar risada de mim!!! A menina se chamava L, era loira, de olhos bem azuis, bem morena e bem, bem alta. A maior da turma, quando olhei para as outras meninas já vi que falavam da L e davam risada. Vi a menina com muita vergonha, ficou sozinha e no canto, até parecia comigo no dia a dia. Fui falar com ela: — Oi – falei chegando perto dela. — Oi – respondeu ela olhando para baixo com muita vergonha. Nem tinha conversado com a menina direito e já escutei os outros gritando: — Olha lá, a gorda e a magra juntas!!! E todos davam risada e gritavam coisas mais ofensivas para mim e para ela. Era o primeiro dia dela e já estava sofrendo que nem eu. Falei baixinho para ela:

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— Não liga para esses tolos, hoje eles lançam as palavras, amanhã eles sentem o efeito delas! Ela adorou o que eu falei, disse que foi muito bonito, conversamos e na hora da saída, falei tchau para ela e fui embora. Senti que estava fazendo uma amiga, fiquei superfeliz, até contei para minha mãe. Todos os dias as meninas e os meninos tiravam sarro da gente estar juntas e dando risada, se divertindo. Um dia os meninos chegaram perto da gente e falaram: — Por que vocês não ligam mais para o que a gente fala? — Porque percebemos que o silêncio é o maior remédio, então resolvemos não falar, nem ligar para o que vocês falam, porque todos somos diferentes e o que importa de verdade não é ser perfeita e maravilhosa, o importante na vida é ser feliz! Todos se olharam, ficaram quietos, até que o chefinho da Tuma resolveu pedir desculpas para nós duas. Aceitamos as desculpas e todos fomos tomar lanche juntos e vi que estava cheia de novos amigos. Maria Eduarda de Barros Martins

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REALIZAÇÃO Alunos do 8º Ano do Ensino Fundamental II

Coordenadora Geral Maura Maria Moraes de Oliveira Bolfer

Coordenadoras do Ensino Fundamental II Flávia Juliana Frasseto Siqueira de Proença Patrícia Carneiro Olmedo

Professora Responsável Professora de Português Samira Cristina Figueiredo Dufner

Coordenadora de Tecnologia Educacional Luciane Pakrauskas Vellozo

Auxiliares de Tecnologia Educacional Camila Mattos dos Santos Edna Renata Proença




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