Edição 163 - Type 23 é possível?

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Divulgação

| ENTREVISTA |

Liderança em combate Entrevista com o general-de-divisão Ricardo Augusto Ferreira Costa Neves, comandante da MONUSCO, na República Democrática do Congo Kaiser David Konrad

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Missão de Estabilização das Nações Unidas na República Democrática do Congo (MONUSCO-RDC) é a maior e mais complexa operação de paz na atualidade. Um de seus objetivos é garantir a proteção da população civil constantemente ameaçada por ataques de grupos armados. Na zona central da África, o antigo Zaire, abriga uma riqueza mineral muito significativa, como diamantes, por exemplo, mas as pessoas lá, perto de 87 milhões originárias de mais de 200 etnias, convivem com um dos IDH mais baixos do mundo, pobreza, doenças e a violência dos conflitos. Desde a independência da Bélgica, em 1960, para se ater a tempos mais recentes, a RDC não sabe o que vem a ser uma fase de harmonia. Foram inúmeros golpes e contragolpes, massacres, assassinatos, rebeliões de províncias como a de Katanga que provocou a presença de tropas da ONU já naquela época e resgataram paras manchetes de jornais e revistas a figura dos “wild geese” (gansos selvagens) ou mercenários (anjos aventureiros, às vezes, demônios em outras), normalmente a soldo de um líder sedicioso financiado por interesses de grandes e poderosas corporações, tendo como pano de fundo a então chamada “Guerra Fria”. Essa tem se constituído na “rotina” do país, que enfrentou, ainda, duas devastadoras guerras civis entre 1996 e 2003. Entretanto, há quase 20 anos organizações e facções rivais mantêm uma interminável e sangrenta luta entre si ou contra o governo, pelo controle político e, é claro, das preciosidades do subsolo local. No final da década de 1990, através de Resolução do Conselho de Segurança, uma nova intervenção militar da ONU na RDC foi decidida com a ativação da MONUC. Em todo o período decorrido desde então, três dos “Force Commander” vieram do Exército Brasileiro; os generais-de-divisão Carlos Alberto dos Santos Cruz e Elias Rodrigues Martins Filho. Em 2020, foi escolhido o general-de-divisão Ricardo Augusto Ferreira Costa Neves, o qual concedeu a entrevista a seguir à revista. Como constatado e registrado em oportunidades distintas e em vários lugares o preparo e a competência dos oficiais-generais brasileiros têm mostrado efetividade seja qual for o tipo de situação enfrentada, até mesmo para fazer valer a máxima “Braço Forte, Mão Amiga”... Tecnologia & Defesa - Como é formada a MONUSCO? General Ricardo Augusto Ferreira Costa Neves - A atual MONUSCO é a evolução de uma estrutura anterior da ONU chamada MONUC. Tal evolução ocorreu em função da necessidade de


prover mais robustez, ou seja, maior capacidade de engajar os grupos armados que atuam principalmente na porção leste da República Democrática do Congo (RDC). Nesse sentido, a missão incorporou capacidades militares normalmente inexistentes em uma missão de paz tradicional, tais como aviação de ataque, Forças Especiais, drones de reconhecimento, inteligência humana e, em breve, teremos também unidades de inteligência de sinais. Nesse sentido, a força militar da MONUSCO (MONUSCO Force) possui um efetivo de aproximadamente 13.000 militares oriundos de quase 50 países diferentes. É composta por uma Brigada de Intervenção (Force Intervention Brigade – FIB) e por três Setores (cada um deles com equivalência a um comando de brigada). Esses Setores/Brigada contam no total com 12 batalhões de Infantaria, dos quais cinco são os chamdos Rapid Deployable Battalion (RDBs) e os sete outros são unidades convencionais da Arma. Além dessas, a Força contabiliza quatro companhias de Engenharia de construção, cinco unidades de aviação (com helicópteros utilitários e de ataque), duas companhias de Forças Especiais, duas companhias de polícia, 16 times de observadores militares, um time de instrução de selva (Jungle Warfare Mobile Trainning Team – JWMTT) composto por militares brasileiros especialistas em combate em ambiente operacional de selva, três hospitais militares e diversas clínicas hospitalares junto aos batalhões. T&D – Qual é o seu mandato e a sua importância para aquele país e a segurança regional? General Costa Neves - No que diz respeito ao mandato atuamos sob a resolução 2556 do Conselho de Conselho de Segurança da ONU, firmada no final de 2020. De maneira sintética, o mandato nos autoriza a ter um teto de tropas de 14.000 militares e 660 “military observers” (MILOB) e “military staff officers” (MSO). As prioridades estratégicas são a proteção de civis (PoC), apoio à estabilização e fortalecimento das instituições de estado na RDC e às reformas do setor de segurança. Também é importante ressaltar que o “Estado Final Desejado (EFD)” buscado pela MONUSCO é a obtenção de uma situação de paz e segurança interna que reflita um nível tal de ameaça imposto pelos grupos armados à população civil, que possa ser completamente enfrentado pelas forças de segurança locais. Quanto à importância da missão destaco que o país possui mais de 100 grupos armados que atuam segundo agenda própria, cometem violações constantes de Direitos Humanos e ata-

cam constantemente as forças de segurança locais e a população civil. Esses grupos são tanto autóctones como estrangeiros, contando com apoio velado de nações e organizações não congolesas. Na RDC também encontramos uma das maiores concentrações de refugiados e deslocados internos do mundo, sendo essas pessoas, infelizmente, alvos de ações violentas perpetradas pelos grupos já mencionados. As riquezas naturais, em particular as minerais, são abundantes e atraem a cobiça daqueles que as desejam explorar ilegalmente e que não se melindram em agir com violência extrema para controlar tais recursos. Dessa forma, posso afirmar que o papel desempenhado pela MONUSCO é essencial para a redução desses problemas, contribuindo decisivamente para que a RDC e a região dos Grande Lagos Africanos possam gozar da almejada paz social e desenvolvimento.  T&D - Como são realizadas as operações e os principais desafios encontrados? General Costa Neves - Todas as operações militares da MONUSCO são planejadas e executadas em conformidade com o Plano de Campanha da Força, onde encontram-se estabelecidos os objetivos que precisam ser atingidos. Esse plano contempla a condução de operações ofensivas e defensivas, de forma singular, coordenada ou conjunta. Tais operações são concebidas e desencadeadas tanto no nível Setorial (comandos e

estados-maiores dos Setores/Brigadas), quanto no nível do quartel-general da Força. Só no primeiro semestre de 2020, foram conduzidas nove operações conjuntas e 16 operações coordenadas, e outras singulares de menor envergadura. No nível tático o planejamento é feito, sempre que possível, de forma conjunta, ou seja, com a participação de representantes da Força, do componente civil da MONUSCO e das forças de segurança da RDC, notadamente as suas Forças Armadas (FARDC). Tal fato, junto a aumentar a sinergia entre os diversos “stakeholders”, facilita o atingimento dos efeitos desejados no terreno. O desencadeamento de operações militares em um ambiente multinacional e, portanto, multicultural, já é, por natureza, uma atividade complexa. As características inatas às Operações de Paz, relacionadas principalmente à diversidade cultural, doutrinária, de equipamentos e idiomas, são desafios comuns que se apresentam em todas as missões da ONU. No caso da MONUSCO em particular, a esses desafios intrínsecos somam-se outros obstáculos imporTECNOLOGIA & DEFESA 13


| MARINHA DO BRASIL |

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2021


Marinha do Brasil

Esquadras (ainda) não se improvisam Felipe Salles TECNOLOGIA & DEFESA 23


| AERONAVES |

A330 MRTT

Um novo transporte estratégico para o Brasil

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Fotos: Airbus

O Airbus A330 MRTT proporciona capacidades indispensáveis para uma Força Aérea. Desde o reabastecimento em voo de mais de uma dezena de caças e o transporte de grandes quantidades de cargas ou de pacientes, até o resgate de nacionais que estiveram em países situados a muitos fusos horários de distância João Paulo Moralez

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| BLINDADOS |

Vida nova para o

Cascavel Paulo Roberto Bastos Jr.

s viaturas blindadas de reconhecimento (VBR) Cascavel e de transporte de tropas, VBR Cascavel e VBTP) Urutu, respectivamente, foram totalmente projetadas e construídas no Brasil pela extinta Engesa Engenheiros Especializados S/A especificamente para atender ao Exército Brasileiro (EB), nos anos de 1970. Foram, ainda, um enorme sucesso de exportação e se constituíram na espinha dorsal da Cavalaria Mecanizada por cerca de meio século, demonstrando suas capacidades em garantir a operacionalidade da Força, cumprindo diversas missões dentro e fora do País, contribuindo na formação de gerações de militares. O Urutu está sendo substituído pelo Guarani mas o Cascavel, mesmo com uma concepção baseada nos requisitos de AMAN

mais de 50 anos, pode ter seu período de serviço ativo estendido por mais 15 anos.

ANTECEDENTES Pode-se afirmar que a VBR Cascavel resultou dos trabalhos do antigo Parque Regional de Motomecanização da 2ª Região Militar (PqRMM/2) que, em 1965, na época comandado pelo então tenente-coronel Pedro Cordeiro de Mello, iniciou estudos de modernização das VBR 6X6 M8 Greyhound, e de uma possível sucessora, a viatura blindada brasileira-1(VBB-1)), 4X4, em 1968. A VBB-1 foi exaustivamente testada nos dois anos seguintes. Contudo, o EB não demonstrou interesse utilizar com tração 4X4, o que levou ao desenvolvimento da viatura blindada de reconhe-

cimento (VBR-2), 6X6, em 1970, e que teve um “mockup” construído baseado nos M8, para que fossem introduzidas alterações de modo a enquadrá-lo dentro das necessidades do EB. Esse novo projeto aproveitou a estrutura do anterior, mantendo a torre e os pneus, com a Engesa atuando como responsável pela caixa de transferência e sistema de tração, para o qual apresentou seu famoso sistema de eixo traseiro “Bumerangue”. Foi testado com o motor Mercedes-Benz OM-321, todavia houve a opção pelo Perkins 6-357. Designado carro de reconhecimento médio (CRM), continuando a ser submetido a testes e modificações. Em junho de 1971, foi acordado entre a Diretoria de Pesquisa e Ensino Técnico (DPET) e a Engesa, o “Contrato de Desenvolvimento e Preparo de Protótipos”, pelo qual todos os estudos, projetos, desenhos industriais elaborados para o CRM e CTRA (o futuro EE-11 Urutu) até aquele momento, incluindo os protótipos, seriam repassados para a empresa para a produção de cinco veículos de pré-série (com mais três acrescentados depois), nas instalações da companhia, no bairro de Santo Amaro, em São Paulo (SP). Esses veículos tiveram sua denominação mudada para carro de reconhecimento sobre rodas (CRR). No ano seguinte a construção dos oito CRR teve seu princípio. Por outro lado,

O recebimento das primeiras VBR Cascavel na AMAN 16 TECNOLOGIA & DEFESA


EB

Antes da padronização do Projeto Fênix

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Operação Culminating A diplomacia militar entre o Brasil e os Estados Unidos Texto: Paulo Roberto Bastos Jr. Fotos: Exército e Força Aérea do Brasil

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Conjuntura políticoeconômica (perspectivas) para o segmento no Brasil

Divulgação

Visão Empresarial

Simon Jeannot

ma grave crise mundial marcou o ano de 2020 e ainda vai impor muitos desafios ao longo deste ano. Os impactos foram sem precedentes na economia do nosso País e na sociedade. As expectativas e projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) foram reduzidas, e a falta de matéria prima tem prejudicado a produção em vários setores da indústria. Mas a vacinação contra a Covid-19 começa a trazer otimismo ao mercado. A indústria de defesa, com muito esforço, conseguiu gerar alguns resultados positivos em 2020, apesar das dificuldades impostas pela pandemia. Segundo dados preliminares do Ministério da Defesa, o setor bateu a marca de US$ 1 bilhão em exportações no ano passado, uma cifra significativa para um momento tão complicado. Nada comparado a 2019, quando os números chegaram a US$ 3,6 bilhões. O ano de 2021 começa sinalizando que o mercado de defesa está, lentamente, se recuperando. Em fevereiro, o setor realizou o primeiro grande evento presencial desde o início da pandemia, a International Defence Exhibition And Conference (IDEX), em Abu Dhabi (Emirados Árabes Unidos). Cumprindo todos os protocolos sanitários exigidos, a IDEX reuniu mais de 62 mil participantes, 900 expositores de 59 países, 35 pavilhões internacionais e registrou US$ 5,7 bilhões em negócios. Em março último, outro grande evento na área aconteceu em Doha, o Milipol Qatar 2021. Temos agendado para agosto um dos mais importantes acontecimentos do segmento de defesa e segurança, a 6ª Mostra BID Brasil, que em sua última edição, em Brasília (DF), reuniu profissionais e autoridades de diversos setores e regiões. No âmbito interno, o Conselho Nacional de Política Fazendária (CONFAZ) anunciou, também em março, a prorrogação de benefícios fiscais que concedem redução

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da base de cálculo do ICMS. A medida beneficia vários segmentos, incluindo indústrias aeronáuticas e militares. Além de tudo isso, o setor de defesa conta com várias entidades que atuam nos mercados nacional e internacional em busca de novas oportunidades para a Base Industrial de Defesa e Segurança (BIDS). Podemos citar a Secretária de Produtos de Defesa (SeProd), do Ministério da Defesa, o Ministério de Relações Exteriores, a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) e a Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Defesa e Segurança (ABIMDE), que não medem esforços para promover e valorizar as empresas nacionais. Todos realizam trabalhos para impulsionar a área. São eventos, feiras, diálogos, ou seja, todo o apoio necessário para a manutenção de projetos estratégicos utilizados em prol do nosso País e da nação. Precisamos olhar para o futuro com esperança. Temos sinais de dias melhores. Precisamos expandir e utilizar o patrimônio técnico que temos - profissionais de excelente nível e pessoas detentoras de conhecimento da área ligadas aos campos da defesa e aeroespacial. Até aqui desenvolvemos pesquisa e tecnologia de última geração e conquistamos espaço em um mercado internacional extremamente exigente. Tais tecnologias impulsionam o crescimento econômico e geram incentivos. O setor é responsável pela geração de milhares de empregos e por isso é fundamental para a economia, além de estratégico.

N. da R.: Simon Jeannot é presidente do Conselho de Administração da Mac Jee


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