FACILITADORES E BARREIRAS À UTILIZAÇÃO DAS TELECONSULTORIAS OFFLINE: A EXPERIÊNCIA DOS MÉDICOS DA ATENÇÃO PRIMÁRIA DE BELO HORIZONTE Sandra Silva Mitraud Ruas – Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte – Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil Ada Ávila Assunção – Universidade Federal de Minas Gerais – Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil
OBJETIVO A telessaúde é uma inovação com potencial para induzir mutações nas práticas de trabalho e na organização dos serviços de saúde. Apesar do seu potencial, sua incorporação ao sistema de saúde representa um grande desafio. Estudo anterior registrou taxas de utilização inferiores a 10% no serviço de teleconsultoria offline implantado pela Prefeitura Municipal de Belo Horizonte. Este artigo buscou responder a seguinte questão: Quais são as barreiras encontradas pelos médicos no uso da teleconsultoria? METODOLGIA A construção metodológica assenta-se na perspectiva qualitativa. Utilizou-se a técnica de entrevista individual semidirigida com questões abertas. Os critérios de inclusão/exclusão dos sujeitos foram elaborados de acordo com os princípios da amostragem intencional por variedade de tipos. A Análise do discurso foi a estratégia adotada na interpretação dos resultados que foi orientada Modelo da Aceitação de Tecnologia. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa.
RESULTADOS E DISCUSSÃO O tratamento e interpretação das entrevistas indicam facilitadores, entraves e críticas relacionadas ao sistema BHTelessaúde, à organização dos serviços na Unidade Básica de Saúde e às características dos indivíduos. De acordo com os entrevistados, a teleconsultoria é de fácil utilização, promove o aperfeiçoamento e reforça o vínculo médico-paciente: [...] não tem muito segredo mexer no telessaúde (Médico4). Quando eu mando para ele – especialista - ele fica com o caso, ele não manda de volta, aí eu não aprendo nada com ele e com a tele eu aprendo (Médico1). Mantém o vínculo com o paciente, porque [...] quando eu mando o paciente para o especialista, [...] o caso fica [...] restrito lá (Médico4).
Entretanto, o uso da tecnologia não está contemplado no escopo de atividades da Unidade Básica e os discursos evidenciam apoio do gerente local insuficisnte: Na realidade eu não tenho um horário para a teleconsultoria não. Então, no dia que está muito corrido, eu deixo de fazer (Médico2). A gerente falou que eu poderia fazer só uma teleconsultoria por mês. O interesse maior é que a agente atenda as consultas (Médico5).
As divergências discursivas também indicam insatisfação com o uso: Eu já tive algumas respostas fantásticas que me ajudaram em vários outros casos [...] Algumas resposta não funcionam porque você pede uma dúvida e a pessoa te traz um milhão de referências (Médico4) Eu achei a resposta muito superficial (Médico5).
No grupo entrevistado, a maioria tem familiaridade com tecnologia e interesse pela educação continuada: A gente tem que ter a prioridade da educação continuada, porque se não a gente para no tempo e a gente fica velho (Médico1).
CONCLUSÃO Em Belo Horizonte a utilização espontânea da teleconsultoria é influenciada mais pelo grau de implicação do médico com os objetivos do modelo assistencial do que pela usabilidade da ferramenta. O paradoxo existente entre produção e resolutividade do serviço na atenção primária se transforma em barreira para o uso. Sabe-se que o sucesso da telemedicina requer reestruturação de procedimentos tradicionais dos serviços de saúde e que mudar a rotina implica ruptura das crenças tanto no plano individual quanto na gestão.
Sandra Silva Mitraud Ruas – sandramitraud@pbh.gov.br Ada Ávila Assunção – avilaufmg@gmail.com