38. Diabetes tipo 1 de inĂcio na terceira idade
38. Diabetes tipo 1 de início na terceira idade NSF, 66 anos, feminino, branca, do lar. Seguimento no HC há 4 anos por hipotireoidismo e hipertensão arterial, usando LT4 125mcg/dia e losartana/hidroclorotiazida.
Há 6 meses teve ligeira perda de pelo. Quatro dias antes da internação teve polis
que pioraram muito rapidamente tendo sido internada com sinais de desidratação e glicemia de 438mg/dL.
Foi hidratada e, após correção da hiperglicemia, teve alta com NPH 40 unidades
antes do café e 25 ao deitar, além de glimepirida 8mg/d e metformina 2250mg/d. O controle foi muito difícil, tendo períodos de hiperglicemia com hipoglicemia. Mãe diabética faleceu por AVC; história paterna desconhecida. Alt:158cm. Peso: 82 kg. IMC:32,8Kg/m2. Exame clínico inespecífico. Glicemias capilares: Jejum: 110 – 140mg/dL; pós-jantar > 500mg/dL, HbA1c: 10,4 %. Glicemia: 220mg/dL; Peptídeo C = 0,1ng/mL (VR 1 a 5 ng/ml), ICA 512 = 21 U/mL (VR: < 1,0). Anti-GAD 15,0 U/mL (VR < 1.0).
DISCUSSÃO O quadro clínico desta paciente é muito surpreendente e um grande ensinamento. Ela tem inúmeras características de risco para diabetes tipo 2 tais como: idade, hipertensão arterial, obesidade, história familiar. No entanto, a apresentação foi atípica para este tipo de diabetes: instalação do quadro muito aguda, não ficou um dia sequer sem a necessidade de insulina, o controle era difícil, com grande variabilidade glicêmica intercalando hiper e hipoglicemias. Essas são características típicas de diabetes tipo 1.
A confirmação de que ela tem um diabetes insulino-dependente se faz pelo valor do peptídeo C, extremamente baixo, na vigência de glicemia alta, porém em nível que permite a interpretação deste exame.
O peptídeo C é parte da molécula da pró-insulina que é liberada das células β das ilhotas e
na circulação desmembrada em insulina e peptídeo conector (peptídeo C) figura. Esta proteína é, por isso, um marcador da capacidade da célula β melhor do que a dosagem de insulina, por vários motivos: 1) A dosagem de insulina na vigência do tratamento com este hormônio pode ser difícil de interpretar. 2) A insulina tem uma vida média muito mais curta que o peptídeo C e por isso este último é mais estável. Como se vê, a secreção de pancreática desta paciente é muitíssimo reduzida. Concentrações de Peptídeo C menores que 0,7ng/mL são compatíveis com o diagnóstico de diabetes tipo 1. E, de fato, a presença de anticorpos antipancreáticos, em títulos bastante significativos, foi confirmada pela medida de ICA (anticorpos anticélulas da ilhota) e antiGAD (antidescarboxilase do ácido glutâmico, componente das células da ilhota).
Figura: Insulina é sintetizada como pré-proinsulina, que é, então, clivada inicialmente a proinsulina e, depois novamente, em quantidades equimolares a insulina e peptídeo C.
Ver no site a aula Outros tipos de diabetes, aula da dra. Maria Elizabeth Rossi.